Capítulo 4

Fleur não precisava de alguém que lhe lembrasse o tempo todo que ela havia deixado para trás a tia e a irmã para se aventurar em um mundo desconhecido. E Bill sabia exatamente o que era isso. Ele tinha feito a mesma escolha há algum tempo, por motivos diferentes, mas sabia o quanto era doído largar a família. Por isso, ele optou por não fazer perguntas. Ele a levou para conhecer a praia ali perto. E depois que Fleur molhou os pés na água fria do mar, ela se sentou na areia. E chorou.

Bill se sentou ao lado dela e a acalentou. Deixou que ela chorasse tanto quanto fosse necessário. Pelo princípio de saudades que sentiria da tia e da irmã. Pelo desespero de não saber o que fazer dali em diante. E, ao mesmo tempo, com a convicção de que, apesar de tudo, tinha feito a melhor escolha. Para ela mesma. E para Gabrielle e Apolline.

Quando Fleur conseguiu se acalmar um pouco, Bill a levou para o carro. Ele se sentou atrás do volante e deu partida.

- Me desculpe por isso, Bill. – sussurrou.

- Não precisa se desculpar. – disse ele, sorrindo brevemente e voltando a atenção para a estrada.

- Como você soube que eu estava aqui? – questionou, curiosa.

- Gabrielle. – disse Bill, simplesmente, como se explicasse tudo. – Aliás, ela pediu que você ligasse para o celular da Minerva. – acrescentou, rapidamente. – Se quiser, o meu está aí no porta-luvas.

Fleur pegou o celular com as mãos trêmulas.

- Será que é suficiente mandar uma mensagem?

Bill não respondeu. Sabia que era uma pergunta retórica. No caminho de volta para Hogsmeade, com o canto do olho, viu a moça digitar duas ou três palavras e enviar a mensagem. Ficaram em silêncio até Bill parar o carro em frente à própria casa.

- Eu moro aqui. – comentou ele, ao ver Fleur olhar para a casa, curiosa. – Se quiser, você pode morar comigo até as coisas se acalmarem.

- Bill, eu não...

- Fleur, você não precisa aceitar se não quiser. – interrompeu ele, fitando-a com intensidade. – Só estou oferecendo um teto porque não gosto de ideia de ver você morando na rua.

Fleur hesitou por um instante, pensativa.

- Você não vai entrar? – perguntou, ao ver que o ruivo ainda não tinha feito menção de abrir a porta do carro.

- Não agora. Tenho um ensaio da banda na casa do Sirius. – explicou. – Quer ir comigo?

- Por que não? Minha agenda não está tão cheia, sabe. – comentou Fleur, despretensiosamente, fazendo-o sorrir.

Com cuidado, Bill arrancou o carro e de lá seguiram para a casa de Sirius, um pouco depois dos limites da cidade. A porta da garagem estava entreaberta, e era possível ouvir os risos que vinham lá de dentro. Bill apertou a mão de Fleur brevemente, encorajando-a. Ela lhe sorriu fracamente e ambos saíram de dentro do carro, caminhando até a garagem.

- Oi a todos. – disse Bill, seguido por uma Fleur meio sem-graça.

- Ah, finalmente, Bill! – disse Sirius, revirando os olhos.

Bill observou os amigos com atenção. Sirius estava sentado no chão, afinando a guitarra. Remus estava mais ao fundo, pensativo, com o olhar fixo em Tonks, que conversava com Marlene a um canto. Frank estava perto de Sirius, com cara de quem tinha passado a noite em claro.

- Gostaria que conhecessem a Fleur. – adiantou-se o ruivo, puxando a moça para o seu lado com cuidado, antes que alguém perguntasse qualquer coisa.

Todos voltaram as atenções para ela no mesmo instante.

- Fleur, é? – um sorriso maroto apareceu no rosto de Sirius, enquanto ele se levantava. – Agora é oficial, vocês dois estão juntos? – em resposta, Fleur corou.

- Não, Sirius, não estamos juntos. – respondeu Bill, na mesma hora.

- Ótimo. – disse Sirius, pegando a mão de Fleur com cuidado e depositando um beijo nela. – Prazer, Sirius Black. Guitarrista, vocalista e escravo das mulheres. – Bill sorriu e balançou a cabeça. Sabia que Sirius fazia aquilo para provocar Marlene.

Fleur sorriu, tímida. Nunca ouvira nenhuma cantada. Frank se aproximou também.

- Frank Longbottom, baixista, professor de química e casado com a Alice. – apresentou-se, apertando a mão de Fleur, educadamente.

- Aliás, cadê a Alice? – quis saber Bill, dando falta dela.

- A mãe dela veio visitá-la. Ajudar a comprar as coisas para o bebê. – explicou.

Tonks e Marlene também se aproximaram.

- Tonks, vocalista da banda, prima desse traste que se chama Sirius Black.

- Não é Tonks, é Ninfadora. – interveio Remus, fazendo ela revirar os olhos, irritada. – E eu sou o Remus. Professor de música e baterista.

- Abandonado pela noiva esquisita. – acrescentou Tonks, azeda. Remus lhe lançou um olhar fulminante.

- Caramba, QUAL É o problema de vocês? – disse Sirius, aparentemente cansado.

Enquanto os dois ouviam uma bronca de ninguém mais ninguém menos do que Sirius Black, Marlene se aproximou de Fleur e Bill:

- Não ligue para o Sirius, Fleur. Nem para a Tonks e o Remus, eles não tem muita noção das coisas...

- Percebi. – disse Fleur, um pouco sem graça.

- Vocês já se conhecem? – perguntou Bill, curioso.

- Já, sim. Às vezes eu dou aula de balé para as meninas do convento. Fleur foi minha aluna lá. Apolline foi a primeira pessoa que me deu essa oportunidade, sabe? De ser professora. – explicou Marlene.

- Tia Apolline gosta que as meninas aprendam balé. Pela postura e pela disciplina. Ela diz que evita muitos problemas de coluna no futuro. – disse Fleur, respondendo à pergunta muda de Bill.

- E o que você faz aqui, Lene? Achei que odiasse o Sirius. – comentou Bill, surpreso.

Marlene corou.

- Bem... Tonks está participando das aulas de balé de verão. E pediu que eu viesse aqui dar uma ajuda para ela sobre postura e tal em um palco. – explicou, sem rodeios. – E vocês? Já vão ensaiar?

- Vamos, sim. – respondeu Bill. – E aí, Sirius, nós vamos ensaiar ou você vai ficar o resto da noite brigando com o Remus e a Tonks?

Remus parecia envergonhado e saiu, de cabeça meio baixa, para se sentar atrás da bateria. Tonks, por sua vez, empinou o nariz e se aproximou do microfone, assumindo uma postura de quem não ligava. Sirius, aliviado, respondeu:

- Ok, podemos começar o ensaio.

Marlene, dizendo que faria companhia a Fleur, ficou para assistir ao ensaio. Satisfeita, Tonks percebia os olhares da bailarina para Sirius. Fleur, por sua vez, parecia um peixinho fora d’água, sem saber o que fazer.

Quando o ensaio com Tonks terminou, Marlene deu um jeito de ir embora, dizendo que tinha que acordar cedo no dia seguinte. Os rapazes ficaram na garagem, terminando de ensaiar as músicas que cantavam sem a moça. Ela decidiu ir até a cozinha preparar algo para os esfomeados de plantão. E chamou Fleur para acompanhá-la. A loira atendeu prontamente, de bom grado.

- Me desculpe a curiosidade, mas o que você pretende fazer? – quis saber Fleur, ao ver Tonks remexendo os armários da cozinha.

- Não sei. Geralmente tenho a ideia na hora. – respondeu, puxando um pacote de macarrão. – Macarrão é fácil.

- Se a gente puser na panela de pressão, é rápido.

- Oi? – fez Tonks, confusa.

Fleur se aproximou, sorrindo. Ensinou Tonks a fazer macarrão em panela de pressão. Quando acabaram de juntar os ingredientes e jogá-los dentro da panela, sentaram-se à mesa para conversar.

- O Bill arrumou uma namorada prendada. – comentou Tonks. – O cheiro está ótimo.

Fleur riu, baixinho.

- Eu não sou namorada dele.

- Por enquanto. – emendou Tonks. – É só uma questão de tempo. – Fleur apenas mordeu o lábio, nervosa. – Ei, Fleur, relaxa. O Bill é um cara legal. E gosta de você. – acrescentou, ao perceber a insegurança da outra.

- Será? – quis saber, insegura.

- Olha, eu não conheço o Bill há tanto tempo assim, mas o Sirius disse que nunca viu ele agir com mulher nenhuma da forma que ele age com você. Sirius disse que o Bill não te vê como mais uma. – explicou, calmamente.

- E você gosta do Remus. – comentou Fleur. Tinha se afeiçoado a Tonks. Embora achasse estranho alguém pintar o cabelo de rosa, mas cada um tinha suas manias. – Eu vi você olhando para ele. 

- Babaca. – Tonks disse, simplesmente, olhando para as próprias unhas, pintadas de preto. – A noivinha dele se cansou e foi embora e ele fica aí amargurado pelos cantos e me ignorando totalmente. Isso quando não contradiz absolutamente tudo o que eu falo.

- Você já pensou que ele pode gostar de você também?

- Não gosta, Fleur. – disse Tonks, na mesma hora. – Nem me olha. Não me dirige a palavra. E quando fala comigo é só para desfazer de mim.

Fleur viu os olhos de Tonks marejarem com as lágrimas. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, porém, foi interrompida pelo barulho dos rapazes entrando em casa. Tonks se virou de costas na mesma hora e se afastou.

- E aí, garotas, o que temos para comer até estufarmos? – quis saber Sirius, sorrindo, galanteador.

- Macarrão. – respondeu Tonks, aproximando-se com seis pratos nas mãos. Fleur se levantou para ajudar a pegar talheres.

Depois de colocarem a mesa, todos se sentaram e começaram a se servir. Remus foi o primeiro a se manifestar:

- Está ótimo. Nunca comi nada tão bom. – comentou, a boca cheia de macarrão.

- Que bom que gostou, Remus. Foi a Tonks quem fez. – disse Fleur, despretensiosamente. Todos pararam para observar a reação dele.

- Foi a Tonks quem fez? – repetiu Remus, depois de engolir todo o macarrão que colocara na boca.

- Na verdade, eu... – começou Tonks.

- Fez tudo, não foi, Tonks? Eu só dei uma ajudinha aqui, outra ali. – interrompeu Fleur, olhando para Tonks significativamente.

- Hm. É verdade. Percebe que acabou de me elogiar, Remus? – perguntou Tonks, percebendo o jogo de Fleur, sorrindo presunçosamente para Remus. Sirius abafou um risinho com as costas da mão.

- Percebi. – disse Remus, simplesmente, voltando-se para o prato.

Depois que jantaram, Sirius, Bill, Remus e Frank arrumaram a cozinha e se despediram, ansiosos pelo final de semana. Fariam o primeiro show com Tonks ali mesmo, em Hogsmeade e, no domingo, partiriam para a Escócia, para participar da abertura de um festival de rock.

Bill, no entanto, estava mais preocupado com Fleur do que com o show em si. Precisava conversar com ela. Mas ainda não sabia se era o momento mais adequado.

Foram para a casa de Bill e ele levou a mala de Fleur até um dos dois quartos de hóspedes, que tinha duas camas de solteiro e um guarda-roupas. Este quarto tinha sido decorado por Gina, e estava cheio de frufrus e enfeites da menina.

- Você pode dormir aqui, Fleur. Tem algumas roupas da minha irmã aqui – disse, indicando o guarda-roupas – e se você precisar, pode usar. Gina vem aqui poucas vezes, mas deixou essas roupas aí e está sempre fazendo outras, então não acho que ela vai se importar.

- Certo. – disse Fleur, pensativa.

- Tem um banheiro no fim do corredor, ele vai ser só seu enquanto estiver aqui. Meu quarto é uma suíte. Se precisar de qualquer coisa, pode me chamar. Lá embaixo tem a cozinha, a sala de televisão e um escritoriozinho. Tem um computador lá, pode ligar se precisar. E um telefone fixo também. – Fleur assentiu. Bill se aproximou e lhe deu um beijo na testa. – Boa noite.

Ao chegar no próprio quarto, Bill pegou o celular e ligou para Gina. Como a irmã estava de férias, talvez estivesse com Harry, que também estava de folga dos treinos, para poder voltar à pré-temporada na outra semana. Mas ele precisava ligar para ela. Gina, apesar da pouca idade, era quem o entendia melhor que todos os seus irmãos.

Ansioso, Bill ouviu o sinal de que o celular da irmã estava chamando. Ela atendeu no terceiro toque.

- Bill, que surpresa! – disse Gina.

- Oi, maninha. Como você está? – questionou, deitando-se na cama.

- Bem, e você?

- Precisando do ouvido da minha irmã preferida. Você está ocupada, Gina? – acrescentou, preocupado, ouvindo um barulho ao fundo.

Bill ouviu Gina dar um risinho antes de responder:

- Não estou ocupada. Estou em um churrasco com os colegas de time de Harry e Ron, mas como eles estão jogando sinuca agora, Mione e eu estamos entediadas. – explicou. Bill ouviu gritos que pareciam ser de Ron. – Não sei como eles conseguem fazer tanta bagunça com um jogo de sinuca, por Deus. Você ouviu o Ron berrando? Mas não importa, pode falar. – acrescentou a moça, parecendo curiosa.

Bill contou tudo para Gina, desde o dia em que conhecera Fleur até a hora em que ele a deixou no quarto.

- Bill, você sabe, afinal, por que essa garota saiu do convento? Sabe se tem a ver com você? – quis saber Gina.

- Não sei, Gina.

- E você não perguntou? – ela parecia chocada.

- Olha, Gina, talvez pareça loucura, mas eu acho que ela precisa de um tempo. Ela largou a vida que ela conhecia para ir para um lugar completamente diferente e... – ele hesitou por um momento. Nunca tinha realmente falado sobre sua partida de Londres. – Eu sei o quanto isso pode ser difícil.

Gina ficou uns momentos em silêncio antes de dizer:

- Eu imagino. – comentou, em um tom que dizia claramente que ela nunca acreditara na história furada de Bill de que precisava ir morar em um lugar mais tranquilo. – Mas ela está na sua casa, Bill. É apenas justo que ela te dê alguma satisfação. Converse com ela amanhã.

Bill suspirou. Gina tinha apenas confirmado o que ele já planejava fazer. Então, era o que devia ser feito.

- Gina, eu agradeceria se você deixasse esse assunto só entre a gente, por enquanto. – pediu o ruivo.

- Sem problemas.

- Eu amo você, pirralha.

- Eu amo você também, fofucho. E, Bill... talvez você finalmente tenha sido fisgado.

- Eu... o quê?

- Beijo, me liga. – falou Gina, rapidamente, desligando o celular.

~ * ~

Bill acordou de madrugada, com sede. Esfregando os olhos, arrastou-se para fora da cama. Ao caminhar pelo corredor, viu que a porta do quarto de Fleur estava entreaberta. Colocou a cabeça para dentro e constatou, com o quarto iluminado pela luz do luar que entrava pela janela, que a moça não estava ali.

Virou-se para as escadas, preocupado.

- Fleur? – chamou, baixinho.

- Estou aqui, Bill. – respondeu ela, entre a escuridão do andar de baixo.

Bill desceu as escadas, ainda no escuro, seguindo na direção de que viera a voz da moça. Ao chegar à sala, tateou a procura do abajur e o acendeu, iluminando fracamente o local. Fleur estava sentada no sofá mais próximo à janela, fitando a luz do luar. Tinha os cabelos loiro-platinados presos em um coque frouxo e usava um pijama de blusa de alcinhas.

- Está tudo bem? – quis saber o ruivo, preocupado, sentando-se ao lado dela.

- Está, sim. Só não consigo dormir. – murmurou, abraçando os joelhos. Bill não pôde deixar de reparar nas pernas delas, longas e atraentes. Forçou-se a afastar tais pensamentos. Por enquanto. Afinal, Fleur acabara de sair de um convento e não seria bom se atirar em cima dela na primeira oportunidade.

- Você... se arrepende de ter saído de lá? – perguntou ele, baixinho.

Fleur meneou a cabeça, negativamente.

- Não. Eu sei que foi a escolha certa. Mas...

- Você se sente culpada por ter deixado para trás tudo o que conhecia. – completou Bill. Ele sabia bem como era aquilo. – E já começa a sentir saudades de todos que você conhece. E está com medo, porque vai se aventurar por um mundo que não conhece. E, ao mesmo tempo, tem certeza de que fez o certo para você e para a sua família.

Fleur encarou Bill fixamente.

- É exatamente isso, Bill. Como você...?

- Uma vez, eu te contei que toda a minha família mora em Londres, você se lembra? Passei pelo mesmo que você está passando. Sete anos atrás. – Bill hesitou antes de prosseguir. Nunca contara aquilo para ninguém, mas por uma razão que nem ele mesmo compreendia, sabia que podia confiar em Fleur. – Eu... tinha acabado há pouco tempo a faculdade de Administração. Vendia cachorros-quentes em um carrinho e, juntando dinheiro, consegui abrir uma sanduicharia. Tinha até comprado o ponto e tudo. Mas minha família sofreu uma ameaça.

- Como assim? – questionou Fleur. Ela o escutava atentamente.

- O ponto que eu comprei para montar a sanduicharia foi bem barato. Isso porque as pessoas tinham medo de ir lá. Diziam que Lucius Malfoy negociava drogas e outras coisas naquela região, mas ele tinha acabado de ser preso e eu comprei mesmo assim. Achei que não teria problema. Mas aí ele fugiu e mandou um capanga atrás de mim, dizendo que era para eu dar o fora dali ou eles pegariam minha família. Um por um. Começando pelos meus pais. Eu não tive escolha. Vim embora no mesmo dia.

- E eles sabiam quem eram seus pais, seus irmãos?

- Sabiam, Fleur. Me disseram. Sabiam onde cada um deles trabalhava. No caso do Fred, do George, do Ron e da Gina, sabiam onde eles estudavam na época. Eu fiquei apavorado. E sumi dali, vendi o ponto, demiti todos os funcionários que eu tinha contratado. Preferi ficar bem longe, para não dar motivos para que fizessem nada com nenhum deles. E, graças a Deus, ninguém nunca foi incomodado. – acrescentou Bill, com alívio.

- Você sente saudades deles, Bill?

- Muita. Todos os dias. Mas a gente acaba se acostumando, sabe? A gente aprende a conviver com isso. Mas eles vêm aqui sempre que conseguem uma folga. Não gosto muito de ir a Londres, então sempre evito. Vai que eles pensam que eu resolvi voltar e pôr a boca no trombone. – explicou-se. – Conheci o Sirius e o Remus no dia em que cheguei. Eles não me fizeram muitas perguntas, e ficaram satisfeitos quando eu disse que queria morar em um lugar mais tranquilo. Depois disso, nos tornamos amigos, entrei para a Dumbledore’s, para a banda... e fui reconstruindo minha vida.

Bill e Fleur ficaram alguns momentos em silêncio, ouvindo o vento farfalhar, de leve, as folhas das árvores na rua.

- Imagino que ninguém na sua família nunca soube disso. – sussurrou Fleur, esticando as pernas.

- Ninguém, Fleur. Você é a primeira. – disse o ruivo, encarando-a com firmeza.

Fleur sorriu de leve e se acomodou na poltrona.

- Sabe, Bill... eu nunca quis ser freira. – começou, hesitante. Bill nada disse. Sabia que conseguira um pouquinho da confiança dela, e queria que a moça se sentisse à vontade para contar as coisas no tempo dela. – E eu me sinto tão leve de ter saído do convento. – ela mordeu o lábio inferior, voltando o olhar para Bill. – Mas eu sinto tanto por ficar longe da Gabrielle. Da Lilá e da Parvati, sempre brincalhonas. Da Minerva, que sempre foi como uma mãe para mim.

- E Apolline? Quero dizer, ela é sua tia. – apressou-se a dizer.

- Às vezes, quando eu era menor, me sentia culpada por isso. Por gostar mais de Minerva do que de tia Apolline. Mas Minerva sempre me escutou e conversou comigo. Claro que ralhava comigo quando eu descumpria meus afazeres no orfanato. Mas nunca me impôs nada, como tia Apolline sempre tentou fazer. Ela sempre quis que Gabrielle e eu nos tornássemos freiras. Sempre disse que os homens não valem a pena, e é bobagem querermos casar com eles. – contou, o olhar azul fixo aos olhos castanhos de Bill.

- E seus pais, Fleur? – perguntou, baixinho.

- Tia Apolline diz que mamãe morreu quando Gabrielle nasceu. Ela contou que nosso pai nunca quis nada com a gente, e é por isso que nós só temos Delacour como sobrenome. Eu ficava no convento com tia Apolline, e passava as férias da escola de lá com mamãe. Depois que mamãe morreu, fomos para o orfanato do convento de tia Apolline em definitivo. Porque ela é a nossa única parente viva. Ela era irmã de mamãe. Mas eu não me lembro da mamãe. Por mais que eu tente, eu simplesmente não consigo. – desabafou. – É frustrante, Bill, eu sempre quis... sabe... ter uma ideia de como seria se Gabrielle e eu a tivéssemos conosco, e não a tia Apolline.

- E você fez faculdade? Gabrielle comentou que muitas das freiras faziam faculdade em universidades católicas.

- Fiz, sim. Estudei na Universidade Católica da Itália. Minerva foi comigo. Ela estudou Teologia e eu, Letras e pedagogia.

- Fleur... como você decidiu que queria sair do convento? – questionou Bill, curioso.

- Para ser sincera, eu sempre tive vontade de casar. – admitiu, corando. – Desde criança, sempre gostei de histórias de princesa e romances. A minha preferida é a da Branca de Neve. Mas nunca disse nada a tia Apolline, para a gente não ficar discutindo. Mas com dezessete anos, fui para a faculdade. Quando voltei e tia Apolline começou o meu processo de ordenação, eu sabia que não era o certo. Eu me sentia que não me encaixava naquele lugar, e sempre tive vontade de conhecer outras cidades, outras culturas, outras pessoas. E a gente sempre discutia por isso. Eu dizia que não queria me tornar freira, ela dizia que os homens não valiam a pena e que era um sacrilégio eu virar as costas para o convento, que foi a instituição que apoiou a mim e à Gabrielle. Que eu era uma tonta de acreditar que um homem pudesse me amar de verdade. E Minerva sempre me disse que eu tinha que ser sincera com Deus e comigo mesma. Que de nada adiantaria eu virar freira e servir à Igreja se não fizesse isso de coração. Ela sempre me dizia para ler a Bíblia com bastante atenção. Porque a vontade de Deus era que seus filhos fossem felizes, dentro dos preceitos dele, sabe? De não matar, não roubar, não adorar outros deuses... essas coisas. Mas eu nunca tive realmente coragem de sair do convento. Apesar de tudo, eu gosto de tia Apolline. E da Gabrielle, da Minerva, de todo mundo lá. E aí você apareceu, Bill. – finalizou, como se explicasse tudo.

Bill ficou em silêncio, absorvendo as palavras dela. Por fim, resolveu pedir:

- Pode me explicar direito, por favor?

- Não pense que eu sou louca.

- Acho que você já me disse isso uma vez. – comentou, sorrindo. Ela sorriu em resposta, um pouco envergonhada, e continuou:

- Eu gostei de você. Muito. Não sei explicar, mas eu gostei. – respondeu, sincera. – E aí a Gabrielle me sugeriu que saísse com você. E foi o que a gente fez. E eu realmente me encantei com você, Bill. Não sei ainda dizer se estou apaixonada ou algo do tipo, porque nunca tive nada assim com ninguém. Mas a sua companhia me faz bem. Eu me sinto realmente feliz de estar com você. E espero que não me ache uma boba por dizer isso, mas foi conhecer você que me realmente me deu forças para juntar minhas coisas e sair de lá.

- Eu não acho você boba, Fleur. – comentou, na mesma hora. – Nem um pouco. – ele se sentou ao lado dela e colocou alguns dos fios loiros do cabelo dela atrás das orelhas, admirando-a. – Também não sei o que aconteceu comigo quando te conheci, mas você é diferente de todas as mulheres com quem eu já fiquei. Você é realmente especial. E me cativou, de verdade.

Ficaram em silêncio por alguns segundos. Bill, depois de ouvir tudo aquilo, não mais conseguia afastar o olhar dos lábios de Fleur. Com cuidado, aproximou-se dela, cedendo ao desejo que tomara conta dele desde que a vira pela primeira vez.

- Bill... eu nunca beijei ninguém. – sussurrou Fleur, insegura, mas sem se afastar.

Bill fixou os olhos castanhos nos olhos azuis dela e sorriu.

- Tudo tem sua primeira vez. – e ele se aproximou, roçando os lábios dele nos dela. Ele podia sentir a insegurança dela. Mas não ia desistir. Os lábios de Fleur tinham um gosto realmente bom. Beijou-a de novo, com mais firmeza. Apenas um selinho. Fleur se afastou, devagar.

- Bill... me desculpa, mas... eu tenho medo de fazer tudo errado e te decepcionar, eu não... – disse ela, levantando-se do sofá.

Bill se levantou também e a puxou pelo braço, delicadamente.

- Fleur... eu realmente gosto de você. Você não vai me decepcionar, pode ter certeza.

Fleur mordeu o lábio inferior, ainda insegura. Bill a abraçou com cuidado. Depois de alguns segundos, Fleur se afastou dele e, respirando profundamente, o beijou.

Bill se surpreendeu, mas correspondeu. Pediu passagem entre os lábios dela com a língua, e ela concedeu. O rapaz “guiava” os movimentos do beijo, por assim dizer, com os braços fixos na cintura de Fleur, que passara os braços pelos ombros dele. Fleur despertava em Bill, com um simples beijo, sentimentos até então desconhecidos por ele. Não era apenas o desejo que o movia. E mesmo o desejo que ele sentia era diferente. Não era nada puramente carnal. Ele sabia, no íntimo, que começara a trilhar um caminho sem volta. Mas não lhe importava. Estava com Fleur, e isso faria tudo valer a pena. 

~ * ~

N/A.: Olá, pessoal! Senti falta daqui. Espero que todo mundo esteja bem, e me desculpem pela demora. Mas tivemos festas de fim de ano, estágio voltando (com muitas mudanças - incluindo aí supervisor novo, novas áreas para estudar  para saber fazer o serviço, né?) e as aulas de autoescola. Aliás, quase bati o carro esses dias. Não na rua, dentro da garagem. Loucura, mesmo. Esqueci a embreagem, para variar. mhuahauahuahauaha
Enfim. Vamos responder ao ÚNICO comentário lindo e fofo que eu recebi:
willi santana: fico realmente muito feliz que esteja gostando da história. Mas o suspense, mesmo, só começa nos próximos capítulos, aí poderemos avaliar melhor como as coisas vão ficar. Percy, James e Lily devem dar o ar da graça em Hogsmeade. ;) Espero que goste desse capítulo de transição, por assim dizer.

Bem, pessoal, por hoje é só. Comentem, viu? Aliás, tenho duas leitoras perdidas, se alguém tiver informações sobre Neuzimar de Faria e Sabrina.L.Lupin, favor entrar em contato. Até o próximo capítulo!
Beijos,
Luna 

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