Capítulo 2



Bill sabia que se Apolline o encontrasse vagando pelo convento, ficaria furiosa. Ela evitava, a todo custo, que ele e Sirius entrassem lá justamente por conhecer a fama de conquistador de ambos. Mais de Sirius do que de Bill, porque ela conhecia o moreno bem melhor.


Mas Bill não se importava de ser pego ali. Afinal, o dinheiro que ele havia doado há alguns anos, quando vendera o ponto da sanduicharia, tinha sido uma quantidade bastante considerável para que o convento parecesse estar em abandono.


À medida que foi se aproximando da construção, ele pôde ouvir o barulho de crianças risonhas. Curioso, aproximou-se do prédio do orfanato, e viu que, nos fundos, várias garotinhas entre quatro e doze anos cuidavam de uma grande horta.


- O que você está fazendo aqui? – perguntou, curiosa, uma mocinha que parecia ter não mais de quinze anos. Tinha cabelos loiro-platinados e olhos muito azuis. – A tia Apolline não deixa homens que não sejam padres entrarem aqui. E você não tem cara de ser um deles.


- De onde você saiu? – perguntou Bill, assustado.


Ela sorriu docemente.


- Eu estava supervisionando as meninas mais novas a cuidarem da horta. – explicou. – Mas você é distraído, mesmo. Achei que tinha me visto aqui.


- Não prestei atenção, estava olhando a horta. Alface, tomate, salsa... puxa, tem bastante coisa. – comentou, surpreso.


- É com a horta que fazemos os legumes para as meninas do orfanato e para a gente, lá no convento. – disse a loirinha.


- Você não tem cara de freira. – comentou Bill, olhando com atenção a roupa que ela usava. Era uma espécie de uniforme, com saia e camisa de manga comprida, igual ao das outras meninas.


- Porque eu não sou freira. Mas moro lá, porque Apolline é minha tia. Pretendo me ordenar quando tiver 18 anos. – respondeu.


- Tem certeza? Quero dizer, não que não seja um trabalho admirável – apressou-se a dizer Bill – Servir a Deus, ajudar a quem precisa e tudo. Mas não acha que é preciso renunciar a muita coisa? E a pessoa precisa ter vocação, sabe. E sempre se pode ajudar a Igreja Católica sem necessariamente ser freira. Não sou católico, mas acho que é possível, não é?


A menina mordeu o lábio inferior, pensativa.


- Não tenho muito a perder. – comentou, dando de ombros. – Minha família se resume à minha tia e à minha irmã, e as duas estão aqui. Mesmo que minha irmã ache que precisa conhecer o mundo antes de se decidir pela vida de freira definitivamente.


- Como você se chama? – quis saber Bill, curioso. Tinha simpatizado com a garota.


- Gabrielle Delacour. E você? – emendou, na mesma hora.


- Bill Weasley.


- Você não é o tal William a que tia Apolline sempre se refere? – perguntou Gabrielle, olhando-o astutamente. – Um dos herdeiros de Dumbledore? Jardineiro? Que doou dinheiro para o convento?


- Eu mesmo. – disse o ruivo, confuso. – Como sabe de tudo isso?


- Não leve tia Apolline a mal, mas ela sempre fala de você e do Sirius. De você, como o cara que, apesar dos defeitos, já ajudou bastante a gente com a doação que fez. Foi mais do que suficiente para reformar geral o orfanato e a parte de dentro do convento, apesar de não ter sobrado muito para a pintura dele. Porque o orfanato e o convento estavam completamente aos pedaços. E Sirius... – Gabrielle parou a meio caminho.


- Pode falar. Prometo guardar segredo. – garantiu Bill, já imaginando o que seria e, ao mesmo tempo, satisfeito em saber o que tinha sido feito com a doação que fizera.


- Para tia Apolline, Sirius Black é “um conquistador barato de meia tigela” – contou a menina, corando, voltando o olhar para o chão.


Bill caiu na gargalhada e fez uma nota mental para contar a Sirius, Remus e Frank assim que os visse no ensaio da banda, mais tarde.


- Bem, Gabrielle, eu preciso ir embora. Já podei o jardim, mas preciso devolver essa jarra e o copo para Apolline. E não posso ir embora sem falar com ela. – comentou, recuperando-se do acesso de risadas.


- Ah, claro, eu te levo até ela. – ofereceu-se, andando em direção ao convento e fazendo sinal para que ele o acompanhasse.


- Você acha que ela vai ficar muito brava ou extremamente brava se me vir aqui? Porque ela marcou de se encontrar comigo para me pagar e pegar a jarra e o copo, mas ela já está trinta minutos atrasada, e isso é meio esquisito porque ela nunca se atrasou. – contava Bill, enquanto acompanhava Gabrielle até a entrada do prédio do convento.


- No mínimo, tia Apolline deve estar discutindo com a minha irmã. – contou ela, despretensiosamente, enquanto abria a porta e seguia pelo hall de entrada. Subiu uma escada imponente, com Bill logo atrás, observando os mínimos detalhes.


O convento estaria até em boas condições se a pintura das paredes internas também não estivesse descascando. Mas, em geral, estava bem cuidado. Era um prédio de tamanho considerável.


- O orfanato não está com a pintura descascando, está? – perguntou o ruivo, aproximando-se da parede quando Gabrielle parou de caminhar no fim de um corredor.


- Não. Ele está novinho em folha. Posso levar você lá depois para ver. Tia Apolline o priorizou por causa das crianças. Muitas não são adotadas e ficam aí até os dezoito anos. – contou. – Mas por favor, fique em silêncio agora. – pediu a loira, abaixando a voz e se aproximando do que deveria ter sido uma imponente porta de madeira (que estava completamente sem verniz).


- O que foi? – quis saber Bill, confuso, observando a mocinha encostar o ouvido à porta, levando o dedo aos lábios para que ele fizesse silêncio. Ele nada mais disse. Segundos depois, Gabrielle se afastou da porta, fazendo sinal para que o rapaz a seguisse.


- O que foi aquilo? – perguntou Bill, enquanto andavam pelos corredores vazios.


- Verificando se tia Apolline estava lá, no escritório do convento.


- E estava?


- Estava. Discutindo com minha irmã, como presumi. Nunca é uma boa hora interrompê-las, então você terá que esperar um pouco mais para falar com ela. – disse Gabrielle, descendo as escadas para o hall e se encaminhando para as portas duplas ao fundo.


Entraram em uma ampla cozinha, e ela pegou a jarra e o copo da mão de Bill e os levou para a pia.


- Gabrielle, você acha que Apolline aceitaria que eu fizesse outra doação para o convento? – perguntou, sentando-se em um banco de madeira, enquanto observava ela lavar a jarra e o copo.


- Ela vai amar se tiver certeza de que você não está se endividando para nos ajudar. – respondeu, colocando jarra e copo em um escorredor de louças.


- Não estou. Minha família não precisa de ajuda financeira, e como não tenho mulher nem filhos... – Bill parou a meio caminho, observando Gabrielle secar as mãos em um pano de prato. De repente, estava curioso. – Você pode me explicar por que eu estou dentro de um convento há uns dez minutos e ainda não vi nenhuma freira?


- Hoje é sexta-feira. As freiras daqui tem um ritual de se reunir na sala de piano para ensaiar as músicas que elas gostam de cantar nas missas de domingo. Todas devem estar lá.


- Sala de piano?


- É. Ouvi falar que você e Sirius têm uma banda. Você toca piano?


- Não, só o Remus. Eu só toco violão e guitarra.


- Quem é Remus?


- O professor de música da cidade. Ele toca com a gente. – explicou Bill, tendo uma ideia que considerou genial. Sirius iria morrer de inveja quando soubesse. – Gabrielle, eu posso ir até a sala de piano?


A menina estreitou os olhos.


- Sei não, Bill... se a tia Apolline descobrir, pode me esganar só de saber que eu te levei lá.


- Mas você pode me deixar lá e voltar para o orfanato. Eu digo para Apolline que entrei lá sem querer, procurando por ela. – sugeriu o ruivo.


- O nome disso é mentir. E isso é errado. – comentou Gabrielle, fitando Bill com atenção, por baixo dos cílios muito loiros.


- Gabrielle, você não precisa mentir se ninguém te perguntar nada, ok? – falou o rapaz. – De qualquer forma, eu posso ir até a sala de piano?


Ela suspirou pesadamente.


- Tudo bem, eu te levo até lá. Tia Apolline ainda deve demorar bastante. Mas eu não posso ficar com você. Tenho lições de casa para fazer e outras atividades do convento. – explicou, saindo da cozinha, com Bill em seu encalço.


- Lições de casa? – repetiu, curioso.


- É, as irmãs são nossas professoras. Tem uma escola no convento. Temos aulas das matérias que todo mundo tem na escola. E também de ensino religioso, francês, espanhol, latim... – ia explicando. – Muitas delas têm faculdade. Geralmente estudaram nas universidades católicas que têm mundo afora.


Gabrielle parou em frente a uma porta e disse:


- Chegamos. Pode entrar.


- Você realmente não vem? – quis saber Bill, sentindo-se um pouco nervoso. Com exceção de Alice, Marlene e Rosmerta, ele não passava muito tempo perto de mulheres sem dar em cima delas. Parecia algo que Sirius falaria, mas combinava perfeitamente com ele.


- Não posso, já te expliquei. – disse Gabrielle, sorrindo para ele e se afastando. – Boa sorte, Bill.


~ * ~


Finalmente, ela estava em Hogsmeade. A pequenina cidade onde moravam Bill, Sirius, Frank e Remus – The Marauders. Ah, Remus. Encantador, Tonks tinha que admitir. Exceto pelo fato de estar ignorando-a completamente e, ainda por cima, votando contra ela entrar na banda.


- Isso não é justo com a gente! – argumentava Remus, jogando as baquetas da bateria no chão e se levantando. – Nós estamos batalhando com nossas músicas há sete anos, desde que o Bill chegou aqui, e me aparece uma garota de vinte anos dizendo que gostou do nosso show em Carnlough e achando que isso é suficiente para se juntar a nós?


Tonks piscou, surpresa. Tinha saído de Carnlough e largado para trás a única coisa que tinha – um emprego de garçonete – atrás de um sonho, ansiosa em se juntar àqueles rapazes tão talentosos que nunca tinha visto antes, mesmo sabendo apenas o primeiro nome deles. Tinha ensaiado tanto para aquele momento. Cantara trocentas vezes “My Immortal”, do Evanescence, durante a viagem para Hogsmeade. Achando que seria boa o suficiente para ser aceita. Achara sozinha a garagem onde os rapazes ensaiavam. Seguindo as instruções de Madame Rosmerta, obviamente, mas a casa de Sirius não era exatamente fácil de ser encontrada por alguém que nunca fora lá. Ficava mais próxima da floresta de Hogsmeade do que da cidade propriamente dita.


- Cara, eu não vejo problema. Ela pode muito bem tocar qualquer coisa que ela souber, sei lá. Fazer backvocal. – disse Sirius, jogando a própria guitarra em canto qualquer.


- Mas eu queria cantar, se fosse possível. – disse Tonks.


- Algumas músicas de rock ficariam interessantes se uma mulher cantasse. – disse Frank, sentando-se no chão. – E a Tonks canta superbem, Remus, você tem que admitir.


- Seríamos uma espécie de Paramore? – questionou Remus. – A gente só faz o instrumental para uma mulher cantar?


- Qual é, o Paramore faz sucesso. – interveio Tonks.


- Não pedi sua opinião, Ninfadora. – retrucou Remus.


- Caramba, é tão difícil assim me chamar pelo sobrenome? – disse ela, com raiva. 


- O que está acontecendo aqui? – perguntou Alice, saindo de dentro da casa de Sirius.


- Essa garota, Ninfadora... – começou Remus.


- Tonks, se não se importa. – interveio a moça.


- Ninfadora apareceu aqui há pouco tempo – continuou Remus, fazendo Tonks revirar os olhos – dizendo que esteve em nosso show em Carnlough, na Irlanda do Norte, e que gostou tanto de nós que quer se juntar à banda.


- E o que tem de mais nisso? – questionou Alice.


- Sirius e Frank aceitam que talvez eu entre na banda, dependendo da opinião do Bill, mas Remus não quer nem saber. – contou Tonks.


- Cara, como você pintou seus cabelos de rosa, Tonks? – perguntou Sirius, distraído.


- A Ninfadora é só uma garota mimada que quer realizar um sonho a nossas custas! – esbravejou Remus.


- Garotas mimadas trabalham de garçonetes? – rebateu Tonks. – Porque é isso que eu fazia em Carnlough, sabia?


- Remus, você não precisa descontar sua raiva na Tonks só porque a Meadowes te largou. – comentou Alice. – Por que não esperam o Bill chegar e conversam com ele?


- O QUÊ? – fez Sirius, tirando o olhar do corpo de Tonks. – A esquisitinha te largou, Aluado?


Remus corou.


- Não precisava entregar, Alice. – murmurou.


- Uma hora eles iam desconfiar dessa viagem que já tem quase seis meses, né, Remus? Tenha dó! E além do mais, a Meadowes é completamente irresponsável. Ela simplesmente largou os alunos e não me avisou nada. E até hoje não consegui nenhuma professora decente para substituí-la, e estou ficando sem paciência, ok? Porque agora, além de dar conta da direção da escola, ainda tenho que dar aula! – respondeu, levemente irritada.


- Por que você não contou para a gente, cara? Pensei que fôssemos amigos! – disse Frank, parecendo chocado.


- E somos. – disse Remus, sentando-se atrás da bateria novamente, com ar triste. – Mas tá sendo difícil superar. Eu achei que Dorcas me amasse, mas... – a voz dele foi morrendo. Ele balançou a cabeça e pegou as baquetas novamente.


- Ei, Aluado, pode contar com a gente sempre. – falou Sirius. – E que tal uma música para distrair? – sugeriu, pegando a guitarra de novo.


- Só se for agora! – aderiu Frank, entusiasmado.


Alice se sentou para assistir, os braços cruzados. Tonks se aproximou do microfone.


- Não, senhora. – disse Sirius, pegando o microfone para ele. – Senta com a Alice ali e daqui a pouco, quando o Bill chegar, a gente se resolve contigo.


Tonks não discutiu e fez o que ele pediu. Se pudesse escolher, na verdade, gostaria de poder abraçar Remus e dizer que ia ficar tudo bem.


~ * ~


Bill se surpreendeu com as freiras. De um jeito bom. Como Gabrielle, nenhuma delas o julgou por ter cabelos compridos ou usar um brinco de canino. Ninguém se importou com as roupas de roqueiro que ele vestia, ou o olhou torto. Elas apenas ficaram curiosas quando o viram ali, e queriam saber quem ele era e como chegara até ali.


- Bill Weasley. – respondera ele, alegre.


- O amigo de Sirius? – perguntou uma mulher que devia ter uns cinquenta anos.


- Eu mesmo. Vim podar o jardim, e como Apolline demorou, resolvi entrar e procurá-la, mas acabei vindo parar aqui.


Uma das mulheres se aproximou. Devia ter quase uns oitenta anos, mas parecia bem disposta.


- Ah, gostaria de agradecer pela doação que nos fez. Não sabe o orgulho que sinto sempre que vejo o orfanato novo em folha. E as melhorias do convento.


- Não precisa agradecer... ah...


- Irmã Maria. – completou, sorrindo. – Ou Minerva McGonagall, como preferir. As meninas do orfanato me chamam de prof.ª McGonagall.


- Eu gostaria de ajudá-las de novo, se fosse possível. Posso contratar uns pintores para dar um trato no convento. – ofereceu o ruivo, contente com a recepção. Tinha se tornado o centro das atenções, e todas as outras freiras estavam escutando a conversa.


- Que garoto gentil. – comentou Minerva, encantada. – Aposto que sua esposa deve ser uma mulher muito feliz.


- Não, senhora... eu... não sou casado. – respondeu, sentindo-se subitamente envergonhado.


- Por quê? – questionou uma moça que estava ao lado do piano, visivelmente curiosa.


- Lilá, isso não é pergunta que se faça! – ralhou Minerva.


- Mas... é só que ele é tão bonito...


- LILÁ! – disse Minerva, em tom de advertência.


- Tudo bem, não falo mais. – resmungou.


- Talvez ele simplesmente seja um daqueles garotos que não acreditam em casamento, Lilá, como quase todos os que existem hoje. – fungou uma delas, que deveria ter uns quarenta anos. – Que viva em pecado com outra mulher, sem se casar.


- Petúnia, nós já conversamos sobre isso. – disse Minerva, irritada. – Como vamos ensinar às crianças que não podemos julgar as pessoas sendo as primeiras a agir assim?


- O Bill não tem cara de ser assim, Petúnia. – interveio Lilá, os olhinhos brilhando. – Não é, Bill?


- Eu acredito no casamento, sabe. Minha família é anglicana. E meus pais são casados há trinta e cinco anos. Justamente porque acredito que o casamento é algo sagrado que não me casei ainda. – respondeu o ruivo, sincero. Como sustentar um casamento sem saber se daria conta de administrá-lo?


Petúnia deixou escapar um som esquisito pelo nariz.


- Você e o Black devem ser da mesma laia. Uma mulher diferente na cama a cada semana. – resmungou.


- PETÚNIA! – disse Minerva, entredentes.


- Com todo o respeito, Petúnia, mas acho melhor um cara ser igual ao Sirius do que se casar simplesmente por casar e viver traindo a mulher. – rebateu Bill, levemente irritado com a visão que aquela mulher tinha das coisas. Ela tinha cara de quem chupava limão todo dia.


Minerva sorriu, satisfeita.


- Bill, você já se apaixonou? – questionou Lilá, ao ver a satisfação estampada nas faces de Minerva.


- Bem... para ser sincero, não. – respondeu. Minerva ergueu uma sobrancelha, levemente curiosa.


- Mas você acredita no amor, não acredita? – questionou.


- Acredito no amor que meus pais sentem um pelo outro. No amor que sinto pela minha família. Pela minha irmãzinha. Mas, sinceramente, eu não sei o que é amar uma mulher. – confessou Bill.


Todas o encararam, espantadas.


- Eu não disse? – falou Petúnia.


- Não confunda as coisas, Petúnia. – disse uma mulher que usava óculos enormes.


- Você acha que ainda vai achar sua alma gêmea? – quis saber Lilá, fazendo todos os olhares caírem sobre Bill mais uma vez.


- Lilá, eu... bem... para falar a verdade, eu não acho que existam almas gêmeas. – olhares espantados. – Vejam bem, eu acredito em amor. Meus pais são o melhor exemplo que eu tenho e... justamente por isso, sei o quanto amar alguém pode ser difícil e dolorido. Um casamento, em si, já é complicado. Mas almas gêmeas... é como se já estivéssemos predestinados a ficar com alguém. E eu não acho que as coisas sejam assim. Porque Deus criou o homem, mas nos deu livre-arbítrio, correto? – Bill não sabia de onde tinham saído aquelas palavras. Nunca pensara as coisas por aquele ângulo. Mas lhe parecia verdade. Não era?    


Minerva ergueu uma sobrancelha, pensativa. Parecia levemente impressionada.


- De fato. – concordou. – Suas observações fazem sentido.


- E filhos? Você pretende ter filhos algum dia? – questionou Lilá, ainda mais curiosa.


Bill sorriu, pensativo.


- Gosto de crianças. Tenho seis irmãos mais novos. – contou, relembrando alguns momentos da infância. – Mas não sei quanto a ter filhos. Só se eu me casasse. Não quero ter uma família pela metade. Quero ter uma família por completo, como a dos meus pais.


- Bill, já que você faz parte de uma banda, por que não canta uma música com a gente? – disse uma moça morena, sentada no banquinho do piano. – Seria divertido.


- Bem...


- Parvati. – apresentou-se ela, com um sorriso no rosto.


- Bem, Parvati, que música você sugere? Porque eu não conheço tantas músicas assim. – disse Bill, gostando cada vez mais de ter ido ali.


- Ultimamente a gente tem treinado as meninas do orfanato para uma apresentação com “Imagine”, do John Lennon.


- Ah, conheço demais! Amo essa música! – respondeu, entusiasmado, aproximando-se do piano.


- Eu toco e você canta, pode ser? – sugeriu Parvati, procurando uma partitura.


- Pode, sim.


Parvati começou a tocar o piano. Depois da breve introdução, Bill passou a acompanhá-la, com todas as freiras em silêncio, observando, atentas:


Imagine there’s no countries


It isn’t hard to do


Nothing to kill or die for


And no religion too


Imagine all the people


Living life in peace


You may say, I’m a dreamer


But I’m not the only one


I hope someday you’ll join us


And the world will be as one


A porta da sala foi aberta bruscamente.


- William? O que está acontecendo aqui? – era Apolline.


- Ah... me desculpe, madre. Como a senhora demorou para aparecer e o portão estava aberto, resolvi entrar para procurá-la, mas acabei vindo parar aqui. – explicou, apressadamente, pensando em Gabrielle. Não podia dedurá-la.


Apolline lhe lançou um olhar desconfiado.


- É verdade, madre. – manifestou-se Minerva. – O rapaz veio parar aqui sem querer. E foi nossa culpa não levá-lo até a senhora. Ficamos algum tempo conversando com ele, o que o impediu de continuar procurando a senhora.


- E ele tava ajudando a gente com a música da apresentação das meninas. – acrescentou Parvati.


- Certo. – disse Apolline, lentamente, olhando para o relógio pendurado em uma das paredes. – William, me espere aqui. Vou verificar o jardim e depois converso com você. – falou, bruscamente, dando as costas e saindo da sala.


Bill voltou o olhar para Lilá, que lhe sorriu, encorajando-o.


- Bill, vamos continuar com a música? Agora podemos fazer um coro, não sei. – sugeriu Parvati, dedilhando o piano. As outras freiras começaram a conversar entre si, animadas com a ideia, dando sugestões.


Um movimento na porta desviou a atenção de Bill. Era mais uma freira. Uma moça, que não parecia ter mais de 23 ou 25 anos. Ela tinha a pele muito clara, feito porcelana. Olhos muito azuis, parecendo duas safiras. Por causa do hábito, não havia como saber de que cor era o seu cabelo. Via-se apenas o rostinho dela pela porta.


O olhar azul dela encontrou o olhar castanho de Bill e ela corou, fechando a porta com força e saindo dali.


- O que você acha, Bill? – questionou Lilá, tirando-o dos devaneios.


- É uma boa ideia. – respondeu, mesmo sem saber de que se tratava, ainda com os olhos fixos à porta.


Minerva se aproximou dele com um sorriso torto no rosto, enquanto as outras voltavam a conversar entre si.


- Sabe, Bill, Deus acabou de te mostrar mais um caminho. E você tem o livre-arbítrio para escolher o que melhor lhe convier. 


- Como? – perguntou ele, confuso, voltando o olhar para a mulher.


Ela simplesmente abriu ainda mais o sorriso.


~ * ~


Bill estava sentado no escritório da empresa de jardinagem, sozinho. Sirius tinha acabado de sair para podar o jardim do estúdio de balé de Marlene, mesmo que ela tivesse feito o ruivo garanti-la de que era ele quem iria, e não o “cachorro irritante do Black”.


A única pessoa que ocupava a cabeça de Bill desde o dia em que ele fora ao convento – e já tinha se passado uma semana – era aquela mocinha de olhos azuis. Ele nem sabia quem ela era, ou o nome dela. Mas ela lhe chamara a atenção, por algum motivo. Seria a cor dos olhos? A pele alva? Ou o fato de ela ter corado feito um pimentão ao vê-lo?


Isso tinha rendido piadas de Frank e Sirius. Este dizia que, se soubesse o efeito devastador que uma freira poderia ter sobre o amigo, já o teria convencido a ir ao convento antes. Frank estava convencido de que Bill tinha se apaixonado “à primeira vista”. Remus nada disse, porque estava muito ocupado ruminando a raiva de Bill não se opor à entrada de Tonks na banda e o fato de ter sido abandonado por Dorcas de repente. Ela lhe deixara apenas um bilhete, em que escrevera: “Remus, me desculpe, mas eu nunca te amei. Preciso seguir em frente”.


Tonks, além de participar dos ensaios da banda, agora trabalhava com Madame Rosmerta, que tinha se surpreendido com a capacidade da moça de servir mesas, ajudar na cozinha e, ainda, fazer drinques. Isso quando não ajudava a limpar o bar antes do horário de abri-lo.


Tonks morava com Sirius, que a via como uma irmã. Depois do primeiro ensaio dela com The Marauders, Alice fizera um macarrão e, durante as conversas que permearam a refeição, Sirius descobrira que Tonks era filha de Andrômeda Black, prima preferida dele (se não a única de quem gostava), que se casara com Ted Tonks. Andrômeda e Ted haviam sido assassinados há sete anos, quando denunciaram o esquema mafioso em que a família Black se envolvera com os Malfoy, e que tinha culminado na primeira prisão de Lucius, recentemente sucedido por Draco. Sirius, por sua vez, fugira de casa com apenas onze anos, e tinha ido para um abrigo de menores custeado pelo governo em uma cidade próxima a Hogsmeade. Depois disso, Tonks e Sirius se afeiçoaram na mesma hora, embora tenham preferido conversar melhor um com o outro nos dias que se seguissem.


Bill passava as páginas da agenda em que anotava os horários marcados com os clientes, aleatoriamente. Se tivesse tido um tiquinho que fosse de inteligência, teria se lembrado de perguntar a Minerva o nome daquela moça. Isso se Apolline não tivesse sido tão rápida na vistoria do jardim, ou se Parvati e Lilá não tivessem recomeçado a cantoria assim que a mulher saiu da sala. E Bill não tinha mais desculpas para voltar ao convento. Apolline lhe dissera que a aplicação do dinheiro da nova doação que ele queria fazer poderia, sim, ser fiscalizada – desde que fosse por uma mulher em que ele confiasse. Talvez Tonks o ajudasse, afinal. Porque Apolline às vezes fazia exigências desnecessárias, na opinião do ruivo. Não era como se ele fosse ao convento para transar com cada uma das freiras.


O telefone tocou, estridente, tirando Bill dos devaneios. Ele deixou que o aparelho tocasse por mais três vezes antes de atender:


- Dumbledore Jardinagem, Bill Weasley, boa tarde.


- Bill? – perguntou uma voz feminina, trêmula. – Aqui é a Fleur.


- Em que posso ajudá-la? – questionou o ruivo, contendo o vontade de perguntar quem era ela e que raios de nome era aquele.


- Eu... bem... para falar a verdade... – “fala logo, ou ele desliga o telefone”, disse uma voz conhecida ao fundo, embora Bill não conseguisse identificar de quem era. – Ok. – ela suspirou. – Eu gostaria de sair com você. Se fosse possível. – acrescentou, rapidamente.


Bill franziu a testa, pensativo. Já fazia algum tempo que não saía com mulher alguma. Mas como sair com alguém que nem se sabe quem é?


- Pode ser. Se você me disser quem é você e de onde me conhece. Não me leve a mal, mas não conheço ninguém que se chame Fleur. – disse ele, temendo uma resposta desagradável.


- Eu te vi no convento. – respondeu. Houve uma pausa. Fleur continuou – Mas eu não estava junto com as outras irmãs na sala de canto. Eu apareci depois e fui embora.


O coração de Bill disparou. Era ela. A mocinha dos olhos azuis. Fleur.


Mas ela não era freira? Como sair com uma moça assim?


- Fleur... tem certeza de que quer sair comigo? Quero dizer, você é freira. Isso é certo? E se Apolline souber?


- Bill, eu... não me importo. – acrescentou, baixinho. – E não se preocupe. Eu me viro por aqui.


- Tem certeza? – insistiu Bill. – Não quero causar problemas a você.


- Absoluta. – afirmou a moça, imprimindo à voz uma convicção que até então não tinha demonstrado. Foi o suficiente para convencer o rapaz, que, em seguida, combinou hora e local com Fleur.


Ele não sabia por que estava fazendo aquilo. Se parasse para refletir, talvez chegasse à conclusão de que era loucura. Mas não importava. Bill não estava pensando muito naquele dia.

~ * ~

N/A.: Olá, pessoas lindas! :) Antes de mais nada, quero agradecer a Neuzimar de Faria e a Sabrina.L.Lupin pelos comentários fofos que me deixaram sorrindo de orelha a orelha. Obrigada, mesmo, pelo carinho. E quero fazer uma observação: eu sei que na Grã-Bretanha a maioria da população é anglicana e não católica, mas depois de muito pesquisar sobre o anglicanismo, achei a religiãp bem complicadinha (mistura catolicismo e protestantismo), então optei por escrever a história em um convento católico, mesmo. Desde já, peço desculpas a eventuais erros que eu possa cometer em relação a religião (uma de minhas avós era católica, mas tem muita coisa que eu não sei). Agora, vamos responder aos comentários:

Neuzimar de Faria: FÃ? Nossa, assim eu fico convencida! :P  De qualquer forma, fico felicíssima por você estar gostando da história e tô, sim, apoiando a campanha - achei uma ideia brillhante! *_*

Sabrina.L.Lupin: fico feliz de saber que gostou da história e que gosta de Bill e Fleur. Também gosto muito, e sempre quis ler uma fic com eles, mas nunca achei nenhuma completa. :( 

E por hoje é só. Espero que vocês continuem comentando, que novos leitores também apareçam e comentem, e que gostem da história. E, se possível, opinem sobre o tamanho dos capítulos, elogiem, critiquem, xinguem, votem, ou como diria o Dick Vigarista, "FAÇA ALGUMA COISA!". ;)

Beijos, Luhna 

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Comentários (1)

  • Neuzimar de Faria

    Que capítulo! Estou gostando, mesmo, da história e muito cuiriosa: A Fleur é freira ? Será ?! Bom, seja como for, vou torcer para dar tudo certo com o Bill. E o Remo, tomara que não demore muito para perceber que a Tonks existe! Até o próximo!

    2013-11-24
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