Gotta be 34 & 35



Capítulo 34

Cada palavra daquela maldita cara da Miriam Rezende estava bem marcada em minha mente, era meio impossível esquecer as palavras “proposta” e “uma ótima experiência”. Só que eu não queria aceitar essa proposta porque eu já estava em uma ótima experiência. E a aula de hoje com a Olivia não estava ajudando em nada; aprender em doze passos como é lidar com crianças em um estúdio fotográfico era o ápice da minha tortura, já que a Miriam Rezende é conhecida pelo seu ótimo trabalho como fotógrafa infantil. Merda.

- A arte de fotografar crianças é totalmente inspiradora, um desafio gostoso e divertido de brincar enquanto trabalha. Afinal, é impossível não se contagiar com a alegria dessas criaturinhas maravilhosas. Mas também vamos concordar: não é nada fácil fotografar uma criança! E por não ser uma tarefa assim tão fácil, montei uma lista com 12 dicas práticas para fotografar os pequenos. Formulei essas dicas por experiência própria, já que entre tantas áreas da fotografia, fotografar a criançada tem sido uma das minhas preferidas – Olivia parecia animada, que bom pra ela.

Eu não comia direito há três dias, e Ana já estava me olhando torto. Não era, dessa vez, por minha culpa, mas com tudo isso eu não estava sentindo a mínima fome. Estávamos entrando na terceira semana de novembro, as provas se aproximavam, eu tive que agradecer ao Simon pelo telefone pela chance de fazer o photoshoot dos meninos, porém dizer que não ia poder fazer, já que a escola não me liberou por quatro dias. Tinha a entrevista pra Teen Vogue e a sessão de fotos – coisa que eu não gostava de pensar – ia fotografar os meninos no fim de semana para os outdoors da turnê Take Me Home e divulgação do CD, tinha essa carta e ainda eu precisava lidar com minha mãe em outro continente. Sério, qualquer coisa que eu lesse sobre mim mesma eu não ia dar a mínima essa semana.

Rhanna? Rhanna Penalva?
- Mmmmm.... – murmurei, me dei conta que estava de olhos fechados – Aninha?
- Você tá dormindo? – ela meio que ria – Tá que eu também não curto aulas com slides e esse escurinho tá me dando sono, mas você dormindo?
- Qual o problema? – limpei uma pequena babinha que ameaçava descer da minha boca – Eu to cansada.
- Eu percebi que você não está dormindo direito e fala demais enquanto dorme. Tá acontecendo alguma coisa?
- Está! – ia adiantar alguma coisa eu falar “não, não está?” – Mas não quero falar sobre isso, especialmente com você.
- Por que especialmente comigo?
- Você é mais surtada que eu, a última coisa que eu preciso agora é alguém dando piriri mais do que a minha própria pessoa – eu ri. Senti minha barriga roncar. Ai, caceta.
- Comida pra que, não é? – ela parecia brava – Se você está assim, sem comer, por culpa do photoshoot na Vogue, olha...
- Não é por isso, Ana – se bem que, olhando por esse lado... – Eu só estou com muita coisa na cabeça e não sinto fome.
- Não sei o que é pior – ela se virou, procurando alguma coisa na mochila – Quando você come e coloca pra fora ou quando não come.
- Eu parei com isso, sabia? Fui ao nutricionista, como você e a Dra. Violeta pediram, voltei nela umas três vezes e tô me cuidando.
- Mas está sem comer – ela apareceu com um cupcake dentro de uma caixinha plástica rosa – Pra você.
- Não quero.
- E eu perguntei se você quer? Estou te dando, e é pra comer – ela deu uma olhada rápida no relógio – Quinze minutos e a aula termina, vamos direto pra alguma padaria comprar algo decente pra colocar no seu estômago. Enquanto isso, coma esse cupcake.
- Já disse que não quero, Ana.
- Deixa de ser teimosa? – ela abriu a caixinha, arrancou um pedaço do cupcake com as mãos e apontou pra minha boca – Vai abrir por bem ou por mal?
- Você vai me enfiar esse pedaço goela abaixo, a força?
- Se for preciso...
- Maluca! Você é maluca! – e nessa minha abertura enquanto eu falava, Ana enfiou esse pedaço de cupcake na minha boca e a fechou, esperando eu mastigar e engolir. Me senti uma criança de cinco anos.
- Melhor assim – ela lambeu os dedos – Se não quiser que eu faça isso com ele todo, coma por conta própria.
- Puta merda – peguei o cupcake e o fechei de novo na caixinha, ela me olhou brava – Hã? É pra eu comer agora?
- Óbvio.
- Estamos no meio da aula.
- Você estava dormindo cinco minutos atrás – ela sorriu vitoriosa – Come, antes que eu ligue pro Harry e fale que você não está se cuidando, de novo.
- Saco, saco, que saco! – peguei um pequeno pedaço do cupcake e coloquei na boca. Estava delicioso, e meu estômago agradeceu, mas eu não estava com fome.
- Dica número quatro: Bokeh – Olivia sorriu, ela estava empolgadinha demais hoje. Ou eu que estava mal humorada? - Eu costumo chamar o efeito bokeh de "estrelinhas". Trata-se do efeito que ocorre nas áreas desfocadas da fotografia, produzido por lentes de com grandes aberturas. Escolha lentes claras para fotografar crianças. Além desse tipo de lente tornar a focagem mais fácil (no AF), elas produzem lindos bokehs. Recomendo duas lentes em especial: a de 85mm e a 50mm.
E lá vamos nós discutir a dica cinco, seis, sete... Será que Olivia conhecia Miriam Rezende? Ela podia me dar uma luz a respeito do assunto. 
- Dica número nove: Fotografar em preto e branco – ai, Deus! Eu tô começando a ver tudo em preto e branco, Olivia - Apesar de ser uma grande defensora da fotografia colorida para crianças, não posso negar que um belo retrato preto e branco envolve uma expressividade maior. E juntando com os olhos carregados de sentimentos, o preto e branco é uma grande cartada para um retrato de impacto.
- Alguém me explica o motivo pra essa mulher estar tão empolgada hoje? Dormiu com alguém importante?
- Danny Jones que não foi... – falei, rindo com uma piada muito infame. Lambi os dedos, terminando de comer o cupcake e olhei rindo pra Aninha – Acabei, mamãe.
- Começa a brincar com coisa séria... – ela riu – Ótimo, saindo daqui vamos passar em uma padaria.
- O fato de eu ter acabado de comer um cupcake já não está bom?
- Pra mim que não está – ela riu – Olha, acabou! – ela apontou para Olivia, que desligava os slides e falava as suas considerações finais – Pronta pra ir embora? As bichas também acabaram de acordar – ela apontou para Sam e Lucas que limpavam as babas e sorriam com culpa para Olivia.
- Pelo menos eles dormiram – suspirei.
- Hey, te acordei porque te amo e ainda te dei comida – Aninha riu – Vamos?
- Escuta, eu preciso trocar umas duas palavrinhas com a professora antes de irmos, pode me esperar lá embaixo.
- Vai dar uma de espertinha pra não querer ir na padaria?
- Claro que não – me levantei e guardei meus livros e cadernos na mochila – Eu juro que tenho que conversar uma coisa séria com ela, mas é rápido.
- Ok – Aninha suspirou, óbvio não acreditava em mim – Te espero na portaria com o Lucas e o Sam.
- Obrigada – sorri e dei um beijo em seu rosto – E sim, obrigada pelo cupcake.
- Não há de quê.

Esperei todo mundo sair da aula, alguns alunos também foram até Olivia tirar algumas dúvidas, então a espera foi um pouco mais longa do que o previsto. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Harry, perguntando a que horas iríamos nos encontrar hoje para falarmos do photoshoot e da entrevista. Eu sentia que essas últimas três semanas de novembro seriam para acabar com qualquer resquício de sanidade que eu ainda possuía. Aproveitando que estava com o celular em mãos, dei uma olhada em minha agenda para os próximos vinte e um dias. Nada agradável, nada fácil.

- Entrevista Teen Vogue com Harry.
- Sessão de fotos Teen Vogue com Harry.
- Primeira semana com apresentação dos Seminários (Aninha, Sam e Lucas).
- Fim de semana para os shoots da turnê.
- Pocket show no Hyde Park (eu vou?).
- Início das duas semanas de provas.
- Estudar os atrasos.
- Meninos embarcam para NYC.
- Madison Square Garden (e você estudando).


Isso porque eu não adicionei a carta, minha conversa com Harry – porque eu vou ter que falar com ele sobre isso – nem com Aninha e nem com minha mãe. E eu tinha me esquecido do pocket no Hyde Park... Meu Deus! Eu nem sei se vai dar pra eu ir nesse show, e eu esqueci que dia vai ser. É sexta ou sábado? Olhei novamente pra agenda e risquei de leve as duas últimas anotações, odiava a sensação deles indo novamente para os Estados Unidos e eu não estando lá. Madison Square Garden, e eu não ia ver absolutamente nada.

Rhanna? – ouvi a voz de Olivia – Está querendo falar comigo?
- Ah, sim – pulei da cadeira – Eu sei que você deve estar querendo ir embora, mas eu juro que não vou demorar.
- Sem problemas, a classe de vocês foi a última de hoje – ela sorriu – Então?
- Bom...
- Ai, não sei como começar isso.
- Pelo começo?! – ela parecia irônica. Sério, quem comeu essa mulher ontem?
- É, boa ideia – eu ri, sarcástica – Eu recebi uma proposta, no Brasil. Minha mãe me ligou avisando que a fotógrafa Miriam Rezende, que eu não sei se você está familiarizada com o trabalho dela, gostou do que eu ando fazendo por aqui e me ofereceu uma oportunidade de trabalhar diretamente com ela.
- Miriam Rezende, infantil?
- Aham.
- Já ouvi falar, não conheço muito o trabalho dela, mas sei que é boa – ela sorriu – E então, o que você está pensando?
- Eu não sei, estou completamente perdida. É uma chance e tanta, mas pra isso eu preciso trancar o curso, voltar pro Brasil, abandonar tudo o que eu já conquistei por aqui...
- E isso inclui um rapaz que está em uma boyband... – ela sorriu – Está pensando no Harry, não está?
- Também – suspirei – Na verdade, ele é o motivo pra eu estar toda insegura desse jeito.
- É claro que é, e nem precisava me dizer – ela sorriu – Bom, vamos falar primeiro do seu lado profissional – Olivia sentou-se em cima da mesa e me olhou – Suas conquistas esse ano aqui em Londres.
- Na verdade tudo começou com a bolsa – eu sorri – Então veio: a bolsa, aquela primeira sessão com a banda One Direction, eu venci o desafio, então as fotos foram pra SugarScape – respirei, foi aí que tudo começou – As fotos com a Tyra, conhecer o Leishman, as fotos do McFly, as fotos do show do McFly que foram parar no site oficial deles, Paris... Sem falar das fotos em rádios com os meninos.
- Muita coisa pra um tempo tão curto – Olivia parecia orgulhosa.
- É, e eu ouço muita merda por isso.
- Como assim?
- Tem gente que fala que eu sempre ganho tudo, que nada dá errado pra mim e que chega até ser chato querer saber da minha vida.
- Uau, que argumento mais babaca – ela gargalhou – Se você é boa no que faz e as pessoas te admiram e te chamam pra participar de novos trabalhos, isso é um problema? Você estuda, se dedica, é claro que as coisas dão certo pra você. E se dessem errado? Iam te falar que você não é boa o bastante – ela suspirou – Não liga pra isso, a única definição que eu vejo pra isso é inveja e medo dessas pessoas não conseguirem construir uma história tão boa como a sua.
- É, pode ser... – dei de ombros – Mas enfim, foi isso o que eu consegui em menos de trezentos e sessenta e cinco dias.
- O curso tem quinhentos dias, ainda tem muita coisa pra acontecer.
- Eu sei, mas se eu aceitar essa proposta eu não vou curtir o que me resta aqui em Londres – suspirei – Não sei o que fazer.
- Que tal começar conversando com Harry ou Ana sobre isso?
- Que tal eu pensar sobre o assunto e falar com eles só depois que eu tiver tomado uma decisão? – perguntei querendo parecer legal, Olivia me olhou sério.
Rhanna, eu acho que eles, acima de qualquer outra pessoa, poderiam te ajudar a tomar uma decisão.
- Minha mãe já está querendo fazer isso por mim – bufei – E eu já sei o que eles vão falar.
- E o que seria?
- Os dois vão me mandar de volta ao Brasil, eu tenho certeza.
- Hm... – ela pareceu surpresa – Você acha isso?
- Acho, ainda mais o Harry, que tem toda essa coisa de ‘vai fazer o que você ama’ e tal.
- Ele é mais maduro do que eu imaginei.
- Ele é ótimo, Olivia – suspirei – Demais.
- Se ele é ótimo e tudo isso que você está me falando, ele vai entender e vai te dar todo o apoio que precisa. E tenho certeza que você vai tomar a decisão certa, como sempre – ela sorriu – Vai ser uma pena perder você.
- E quem disse que eu vou embora?
- É uma hipótese – ela ria enquanto pegava sua bolsa e seus livros – Tem alguém te esperando na porta.
- Hã? – perdida, olhei onde Olivia apontava. Era Sam, Lucas e, claro, Ana – Me esqueci deles.
- Vai lá, me deixe atualizada de suas decisões, tudo bem?
- Sim.
- E não se esqueça das provas. Você ainda não terminou o trimestre.
- Eu seeeeeeei... – emburrada, coloquei minha mochila nas costas e fui até meu trio favorito de pessoas comuns na Inglaterra.

Como previsto, Ana me levou até uma padaria perto da escola e me fez comer pelo menos dois pedaços de pães com muita manteiga e geleia. Não nego que estava gostoso, mas precisava desse exagero todo? E eu me sentia uma criança sendo forçada a comer, porque enquanto eu não engolia, ela e os meninos não paravam de me olhar, o que me fez perder mais ainda o apetite. 

Saímos de lá e voltamos direto pro nosso apartamento, onde, para minha total surpresa, meu namorado e o ex de Ana – também conhecido como Zayn e que, eu sei, não era mais “tão ex”, estavam lá. Harry dava atenção para algumas meninas e Zayn tirava foto com três fãs ao mesmo tempo. Elas sabiam que nós morávamos lá e que eles iam nos visitar de vez em quando, o que se tornou normal com o passar dos meses. Assim que as meninas nos viram, chamaram a atenção dos dois, que sorriram ao nos ver. Elas terminaram de bater as fotos, pegar autógrafos e foram embora, apenas nos dando um educado “tchau” e depois já olhando para as câmeras, checando se as fotos haviam ficado boas. Eu sabia que ia chegar em Harry e lhe dar um beijo nos lábios, mas e a garota ao meu lado com o garoto ao lado do meu namorado, iam fazer o que?

Harry Styles – sorri, indo até ele e o beijando – Café?
- Fiquei sabendo que teve gente que não comeu, hoje de manhã – ele sorriu e deu uma piscada pra Ana – Quer?
- Que eu saiba, eu fui forçada a comer um cupcake e dois pães em uma padaria, como assim “não comi”? – olhei praAninha enquanto pegava o café das mãos de Harry, ela era só sorrisos – Amiga do inferno.
- Nunca prometi que não ia ligar pro seu namorado – ela deu de ombros.
- Enfim... – abracei Harry e olhei para os outros dois – Sério, pombinhos. Já deu essa coisa de vocês ficarem separados, né?
- Quê? Que foi? – Zayn se fez de perdido – Não fiz nada.
- Esse é o problema – Harry falou – Não estão fazendo nada.
- Ah, me desculpa se eu fico mais que 48h brigada com meu namorado, diferente de vocês que brigam e se amam quase no mesmo dia – Aninha bufou, mas acho que ela nem se deu conta do que tinha acabado de falar.
- É impressão minha ou você acabou de chamar o Zayn de “namorado”? – Harry perguntou, eu já estava rindo – E com respeito ao limite de 48h, qual o problema?
- Muda de assunto não, Harry – eu falei – Vamos nos focar na parte onde a Aninha chama o Zayn de namorado de novo.
- Eu nem lembro de ter falado isso – ela parecia envergonhada.
- Pois eu lembro – Zayn riu – Ana Gordon...
- Ele vai se declarar, né? Agora?
- Vai – Harry riu – Cara, vamos lá pra cima, vai chamar muita atenção aqui.
- Você não tá entendendo, Styles – Zayn ergueu a mão pro amigo, pedindo educadamente que ele parasse de falar – Eu quero chegar ao andar de cima como namorado da Aninha, só depende dela.
- Como assim? – eu e Aninha perguntamos juntas.
- Eu to te pedindo de volta em namoro – Zayn disse. Eu vou chorar – Só depende de você aceitar.
- Ela vai aceitar! – falei e ela me olhou, brava – Ah, claro! Eu posso ser forçada a comer um cupcake, mas não posso te “forçar” a voltar com seu namorado.
- O cupcake te fez bem.
- E o Zayn, não? – cruzei os braços e beberiquei o café, que já estava meio frio.
- Quer parar de dar opinião no meu namoro? – Zayn me pediu – Ou sei lá o que é isso que nós temos agora.
- Quem traiu, cala a boca – eu falei e vi Zayn ficar vermelho. Harry me abraçou e riu abafado nas minhas costas – Ana, você vai voltar com o Zayn.
- Não vou, não! – ela parecia ofendida, Zayn, então...
- Vai, sim, porque se eu ouvir mais uma vez Kelly Clarkson, e olha que eu AMO aquela mulher, mas se eu acordar de novo com Never Again, eu acho que jogo seu celular pela janela e nem vou me arrepender disso.
- Quando você e o Harry brigam e ficam cheios de “mimimi”, eu não fico ameaçando jogar seu celular pela janela cada vez que você ouve Too Close for Comfort.
- Essa é sua música quando brigamos? – Harry me encarou – Nossa.
- Cala a boca, eu também ouço Moments.
- Ah, Moments! – Zayn suspirou.
- Pelo menos o Harry aparece no dia seguinte com muffins e café quente me pedindo desculpas, e eu aceito de bom grado.
- BOM GRADO? Eu tenho que te puxar pelos pés pra você atender a porta.
- Sério? – agora Zayn e Harry davam risada.

Vale falar, de novo, que estamos tendo essa conversa toda na entrada do apartamento, com alunos entrando e saindo. Com FÃS aparecendo, virou um circo.

- E olha – Aninha apontou pro Harry – Da última vez ela só abriu a porta mais rápido porque ela sabia que a vadia da porta da frente ia aparecer de sutiã e calcinha na porta.
- HEEEEEEEEEEEEEEY!
- To mentindo, Rhanna Penalva?
- Não... – abaixei a cabeça. Harry e Zayn só gargalhavam.
- Calem a boca, vocês! O assunto era a Aninha e o Zayn, como que de repente virou pra mim?
- O assunto sempre sobra pra você, paixão – Harry me beijou no rosto – Então, você não abre a porta de bom grado?
- Já mandei você pra merda hoje? – bufei.
- Lindiiiiiinha – ele mordeu minha bochecha e gargalhou.
- Vamos voltar ao assunto principal – saí de perto do Harry e fui até Zayn – Vai, se declara, caralho.
- Oi, educação.
- Não, me chamo Rhanna – sorri, sarcástica – Vai logo, senão eu me declaro pra Ana no seu nome.
- Tá, tá... – ele suspirou, tava até bonitinho todo vermelho – Ana Gordon.
- Puta que PARIU! – ela suspirou, passando as mãos nos cabelos.
- Eu te amo, eu sempre te amei – Zayn se ajoelhou, ALI na frente de todo mundo.
- Tem gente tirando foto – apontei pra umas seis meninas ali perto – Vamos deixar?
- Deixa, deixa – Harry riu.
- O que eu fiz foi imperdoável, mas você estava me deixando doido com toda sua crise de ciúme e essa sua loucura de achar que eu tô olhando pra toda menina que passa na minha frente.
- Não é pra toda – ela rolou os olhos – Era só pra Lorelai, e ACHO que, em vista do que aconteceu, eu estou certa.
- Estava! – ele disse – A Lary tá com o Liam de novo e eu tô aqui sem você.
- Awwwnnn! – eu suspirei, Aninha olhou pra mim e fez careta.
- Por favor, por favor, me aceita de volta.
- Eu tô quase aceitando no seu nome – Harry falou – Não é todo mundo que se humilha desse jeito, não.
- Eu fui um burro, um idiota e aceitei meu tempo como punição. Mas agora não dá mais! Eu quero você na minha vida de novo, fazendo carinho no meu cabelo até você dormir, porque é sempre você quem dorme primeiro – ele riu, Aninha também sorriu e estava querendo chorar, o nariz dela estava ficando vermelho na pontinha – Me dando uns tapas quando eu preciso, mandando eu ficar quieto. Até acho que parte da sua falta de educação você aprendeu com aRhanna.
- HEY!
- Mas eu não me importo – Zayn continuou. Vou ignorar só porque estou achando tudo muito fofo – Você sempre diz que me amava primeiro porque era nossa fã, mas eu aprendi a amar com você, então acho que estamos juntos nessa – ele sorriu de um jeito tão meigo, tão simples. Até minhas pernas ficaram bambas – Me aceita de volta, por favor.
- ACEITAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! – ouvimos as meninas que tiravam as fotos gritarem ao fundo, começamos a rir.
- Ai, Zayn... – Aninha fungou e foi até ele – Levanta daí, homem!
- Não, só levanto quando você me responder – ele suspirou – E então?
Zayn Malik!
Ana Gordon, falar meu nome completo não quer dizer sim ou não!
- Tá bom – ela bufou, mas depois sorriu – É claro que eu te aceito, seu babaca que adora chamar uma atenção desnecessária – ela ria.

Zayn olhou pra nós, depois olhou pra Aninha e se levantou, a pegou no colo e a beijou. Limpei as lágrimas e encostei minha cabeça no ombro de Harry, que beijou meus cabelos e começou a gritar uns ‘uhuuuul’ e ‘aeeeeee’. Me deu um certo alívio no coração, finalmente tudo tinha voltado ao normal. Enquanto eu via Zayn e Aninha se beijando bem ali na nossa frente, percebi que não ia conseguir ficar longe deles. Em quase um ano conquistei amigos que vou levar pra vida inteira, bônus eles serem da boyband mais foda atualmente, e mais um bônus estrelinha um deles ser meu namorado. Como que eu ia poder jogar tudo isso pro alto por uma promoção no trabalho? Aproveitei que já estava chorando e me permiti chorar por essas duas coisas: a volta de Aninha e Zayn e a carta da Miriam.



Passei a noite com Harry, ensaiando algumas possíveis perguntas que poderiam me fazer na entrevista da Teen Vogue. Os outros meninos saíram para comemorar que Zayn e Aninha tinham voltado, mas eu e Harry ficamos em casa. Ele me mostrou algumas entrevistas que ele já havia feito no passado – confesso que nunca presto muita atenção em suas entrevistas, geralmente as perguntas são as mesmas – e o que seria diferente nessa específica, amanhã. Me debrucei em sua cama, vestindo uma de suas camisas, acho que era a que ele usava em I Want – sim, nós transamos, virou rotina e agora era meio difícil passar a noite com ele e não rolar nada – e dei novamente uma olhada nas útlimas revistas. Heat, SugarScape, The Sun, BOP, OK Magazine... Ah!

- Por que os jornalistas sempre perguntam as mesmas coisas? – me virei pra cima, encostando os pés na parede atrás da cama – Se sabem que você tá namorando, pra que perguntar de novo? E sempre perguntam da mesma forma “As fãs querem saber, quem está solteiro na banda?”, ah, chega a ser irritante. As suas meninas sempre sabem quem está solteiro e quem está namorando.
- Você acabou de chamar as fãs de “suas meninas”? – Harry apareceu de cueca na porta do banheiro – Olha, que evolução.
- Às vezes, Styles, você duvida da minha capacidade de ser legal – respondi, o vendo de ponta-cabeça, já que eu estava assim. Pé pra cima encostado na parede e o tronco deitado na cama.
- Só é bom ouvir isso – ele sorriu, e eu o vi se aproximar de mim.
- Apesar de quase ter levado...
- Uma garrafada na cabeça! – falamos juntos e começamos a rir.
- Sim, apesar disso, eu gosto muito das suas meninas – sorri – Mas vamos ao que interessa.
- Segundo round? – ele se jogou ao meu lado na cama e começou a beijar meus ombros, puxando de leve sua camisa pra baixo – Já tem uns vinte minutos, Rhanninha.
- Nã-ão! – puxei de volta a camisa e lhe mostrei a língua – Sério, eu tô bem nervosa com essa entrevista amanhã.
- E, sendo clichê e sacana, eu conheço um jeito ótimo de te ajudar – ele veio se encostando em mim, desabotoando a parte debaixo da camisa e passando os dedos bem de leve na minha barriga. Me contorci de cócegas e com aquele formigamento gostoso que eu já era acostumada – E então?
Harry – suspirei – Por mais que a oferta seja tentadora – suspirei de novo, ele estava começando a beijar minha barriga – Eu de verdade preciso de ajuda.
- Sei disso – metade da minha barriga estava aparecendo, e ele a beijava. Peguei a revista em mãos e comecei a me abanar – Mas não tem como eu te ajudar daqui a pouco?
- Daqui a pouco? Vai ser tão rápido assim? – não resisti em fazer uma piadinha. Senti ele gargalhar com os lábios um pouco acima do meu umbigo – Harry Styles, quer parar? Eles não vão perguntar qual a frequência que nós dois vamos pra cama!
- É uma possibilidade – ele parou de me beijar e colocou a cabeça em meu tronco, sorrindo com os lábios fechados – Nunca viu Sr. & Sra. Smith? O terapeuta pergunta qual a quantidade de sexo.
- Qual a qualidade, o que é diferente – falei enquanto fazia carinho em seus cabelos e o via abrir e fechar os olhos como um gatinho ronronando – E nós não vamos pra uma terapia, nós vamos a uma entrevista! E mesmo se perguntarem, eu não vou responder.
- Eu vou! – ele sorriu, sapeca, arregalei meus olhos – Estou brincando.
- Não coloco minha mão no fogo por você, Styles.
- E em outro lugar, você coloca? – ele mexeu as sobrancelhas pra cima e para baixo enquanto ria.
- Por Deus, garoto! Se controla!
- Nega fogo agora, vai! Vou passar um bom tempo em Nova Iorque, quero ver como vai se virar sem mim.
- Masturbação – respondi de forma calma e controlada. Me lembrei de quando o Blaine dá a mesma resposta para Kurt em Glee, comecei a rir igual uma besta.
- O QUÊ? – e agora Harry estava em cima de mim – Rhanna, você anda lendo algum livro pornô ou vendo coisas que eu não estou sabendo?
- Que horror, Harry! – eu batia em seus ombros, mas ele segurou meus braços acima de minha cabeça – Tá doido, moleque?
- Desde quando você sabe dessas coisas?
- Desde que um carinha aí resolveu me ensinar essas coisas... Não a parte da masturbação, claro, eu digo... Outras... – mordi os lábios – Coisas.
- Odeio quando você morde os lábios e faz essa cara de que não sabe do que eu tô falando – ele riu enquanto se aproximava de mim.
- Por quê? – perguntei. Meu corpo já dava sinais de que Harry não ia mais poder sair de cima de mim tão cedo – Te deixo bravo?
- Muito... – ele se abaixou até mim e encostou os lábios nos meus – Bravo.

É, segundo round.

Quando Love is Easy, do McFly, começou a tocar ao meu lado, sabia que era hora de acordar. Olhei pro visor do meu celular e constatei que estava muito cedo! Seis horas não é um bom horário, ainda mais em um sábado. Mas as fotos na Vogue começavam às nove, e eu nem sabia onde íamos fotografar e nem que horas ia ser nossa entrevista.

Olhei ao meu lado e vi Harry dormindo de bruços, com a cara enfiada no travesseiro, nada romântico. Aquela cena fofa de eu ficar vendo ele dormir porque ele “dorme igual um anjo” não existe entre nós dois. Harry dorme com a cara enfiada ou no colchão, ou no travesseiro, ou no lençol, e RONCA! E eu... durmo de bruços, o máximo que acontece é entrelaçarmos nossos pés a noite, e só. Mas quando ele resolve dormir de barriga pra cima e de ladinho, é fofo, não posso negar. Sabendo que ele não ia acordar tão cedo – embora ele devesse acordar cedo – me levantei e fui ao banheiro fazer o que todo mundo faz de manhã. Como estava na casa de Harry, não me importei em ir pra cozinha com a camisa dele, era a única coisa que consegui achar no chão, nem me dei ao trabalho de procurar um short. Eu só dei graças a Deus que me lembrei de tampar os países baixos, porque nós não estávamos sozinhos. CLARO que tinha que ter alguém na cozinha, e CLARO que tinha que ser Louis Tomlison. Seis da manhã de uma porra de sábado e esse menino acordado.

- Bom dia, Rhanna! – ele falou rindo e com uma voz bem arrastada, enquanto metade do seu rosto sumia atrás da xícara – Bela roupa.
- Que mal lhe pergunte, o que você está fazendo aqui? – cocei os olhos pra ter certeza que não estava alucinando.
- Desde que você começou a vir pra cá com mais regularidade, Harry guarda uma boa dose de comida pro café da manhã – aquele olhar desgraçado sacana, TODOS os meninos da banda possuem esse mesmo olhar – Então eu venho aqui tomar café da manhã.
- Todo dia você faz isso?
- Aham – ele riu – Mas hoje, em especial, algo me chamou a atenção – Louis lambeu os lábios e colocou a xícara sobre a pia – Sabe, eu gosto de acordar, tomar um café, colocar na VH1 e assistir os clipes matinais, são sempre os melhores.
- Anda logo, Tomlison – eu puxava a camisa pra baixo, não estava bem acostumada a ficar assim na frente de nenhum outro garoto.
- Então – ele riu, tenho certeza que se divertia com essa torturinha maldita – Eu fiz meu café, peguei as torradas e fui pro sofá. Quando, de repente...
- O QUE?
- Aqui, ó – ele tirou do bolso do seu roupão meu sutiã. MEU SUTIÃ! Na mão do Louis, na mão de Louis Fucking Tomlison! Alguém me ajuda – Seus peitos são tão grandes assim? – ele colocou o sutiã nele mesmo. Cavem um buraco pra mim.
- ME DÁ ISSO AQUI! – eu fui até ele, mas Louis era mais alto e ergueu o braço, SEGURANDO AINDA o treco – Louis, me devolve.
- Cara, você e o Harry se pegam em todo lugar, é isso mesmo? – ele gargalhava.
- Isso não é da sua conta – e eu pulava tentando pegar meu sutiã – Louis!
- Bom dia? – Harry apareceu na cozinha. O fato de ele estar de cueca não ajudava muita coisa – Heeeey, é seu sutiã! Você estava procurando ele ontem.
- Dá pra ajudar, Styles? – perguntei, mais envergonhada do que brava.
- Vai, Louis! – ele ria, pior que o Tomlison – Devolve pra ela.
- Eu ia brincar – Louis fez bico. Mas... O QUÊ?
Louis! – gritei – Me dá a porra do sutiã.
- Ah, tá bom, tá bom – ele me entregou – Sem graça.
- Babaca, você é um babaca! – comecei a bater nele, mas nem adiantava porque tanto meu namorado como esse moleque estava rindo da minha cara – Quer saber, eu vou tomar um banho e me arrumar.
- É o hoje que vocês vão lá pagar de casal legal pra Teen Vogue? – Louis sorriu abertamente – Boa sorte.
- Vou me lembrar de falar que você brincou com meu sutiã pela manhã – mostrei o dedo pra ele e os dois começaram a rir.
- APROVEITA E FALA QUE O SUTIÃ ERA DO SEU NAMORADO! – o ouvi gritar, mas fechei a porta do quarto.

QUE VERGONHA!

Louis ficou me mandando mensagens a manhã toda até chegarmos na Vogue, e isso também inclui Liam, Niall e Zayn – junto com a amiga da onça, Ana. Harry nem se importava, quanto mais eu reclamava, mais ele se divertia.

Pelo que nos foi passado, hoje pela manhã faríamos a entrevista no próprio escritório da Vogue no centro de Londres e, no período da tarde e noite, iríamos tirar as fotos em alguma mansão localizada por aqui perto também. Com respeito às fotos eu posso falar que não estava tão nervosa, o que mais me incomodava no momento era a entrevista. O que iam perguntar? Porque, querendo ou não, eu não estava muito na mídia e sei lá, toda essa coisa de aparecer não é comigo.

Enquanto esperávamos no saguão da Vogue, eu folheava as últimas edições. As modelos magérrimas com suas poses maravilhosas me davam calafrios. Eu nunca ia ficar bem em qualquer roupa que me colocassem, ainda mais agora que “estou no peso ideal”. Essas meninas aqui não estão no peso ideal, devem estar uns dez quilos mais magra do que devem. Será que ainda dava tempo pra eu fazer alguma coisa? Suspirei, olhei ao meu redor e constatei que lá perto havia pelo menos uns três banheiros... Se eu corresse, eu ia conseguir. Mas o que eu ia dizer pro Harry? Ele estava no telefone, falando com um dos empresários, anotando algumas coisas na agenda e escrevendo rápido demais. Ele nem ia perceber minha ausência. Olhei para os lados e vi que não tinha ninguém por ali, a não ser pela moça linda – e magra – da recepção... Eu tinha minha chance. Era por uma boa causa, claro que sim. Dei mais uma olhada pra Harry, que nem notava minha presença ali, respirei fundo e me levantei.

Dez passos, doze passos... Vinte passos. A porta do banheiro já estava perto, e eu apertava meu estômago com o intuito de ficar um pouco mais enjoada e facilitar o meu serviço. Prendia a respiração o máximo que podia, porque isso também sempre me ajudou. Escutei um barulho em minha barriga, era fome! Eu não havia comido nada desde aquela manhã, a conversa com Louis também não foi de grande ajuda já que, quanto com mais vergonha fico, menos fome me dá. Já ia prendendo meu cabelo em um rabo de cavalo alto e apertando minha garganta quando dei de topa com alguém. Era uma mulher, mais velha, mas muito bem conservada. Sorri apenas para ser educada e respirei fundo, querendo que ela desaparecesse de vista, mas ela não o fez. Sorriu de volta e puxou assunto; caralho!
- Olá, querida, tudo bem?
- Aham – respondi meio rápido, acho que pareci meio mal educada – Digo, tudo bem, sim.
- Você deve ser a namorada do mocinho que vai tirar as fotos hoje? One Direction?
- Sou a namorada dele – ok, agora eu ia ter que pagar de simpática – Me chamo Rhanna e meu namorado, Harry.
- Ah, sim! Harry Styles e Rhanna Penalva – ela deu uma olhada em seu celular – Estudante de fotografia, acertei?
- Sim – eu sorri.
- Vi suas fotos de Paris com as meninas da clínica. Excelente trabalho, Rhanna!
- Você viu? – fiquei assustada – Sério? Pensei que as fotos fossem ficar apenas com o hospital.
- Como Tyra Banks era uma das pessoas envolvidas, tivemos acesso ao portofólio dos fotógrafos. Aidan e Bellatrix são velhos conhecidos nossos da Vogue, então já sabíamos que eles fariam um excelente trabalho. Nos animou saber que quatro estudantes do primeiro período da escola de Londres fizeram um trabalho tão bom quanto os veteranos – ela sorria, foi impossível eu não sorrir também.
- Obrigada – foi a única coisa que me veio em mente – Me desculpe perguntar, mas qual o seu nome?
- Oh, me desculpe! Sou Kirsty Williamson – ela me estendeu a mão – Redação Chefe da revista – puta merda!
- Nossa – acabei rindo de nervoso e apertando sua mão – É um prazer enorme te conhecer.
- O prazer é todo meu, acredite – ela agradeceu – Escuta, eu acho que te interrompi de estar indo a algum lugar, estou errada?
- Estava indo ao banheiro – respondi, mas agora não tinha vontade de fazer mais nada.
- Hm... – ela suspirou. Olhou pra mim e olhou para o banheiro – Sabe uma das coisas que eu mais reclamo com as modelos aqui? – Kirsty me perguntou e eu neguei com a cabeça – Curvas! Por Deus, o que uma mulher precisa fazer para ter curvas? Cintura, busto, quadril – ela ria – Adoro as brasileiras, elas possuem curvas. Você é brasileira, não é?
- So-sou – limpei a garganta. Eu estava dando na cara, assim? – Sou, sim.
- Percebi – ela riu – Nenhuma modelo de Vogue Britânica tem esse quadril. NENHUMA! Já sabe o que vai vestir no ensaio de hoje?
- Ainda não, eu nem sei da entrevista – sorri – Na verdade, eu... – cocei a cabeça. Por que eu deveria me abrir com ela? – A senhora não acha que eu estou um pouco cheinha para as roupas de hoje?
- Cheinha? – ela parecia ofendida – Querida, que manequim você usa? Trinta e oito?
- Quarenta – lamentei – Quadris largos – bati de leve nos meus quadris.
- Lindos, você quer dizer? Qual a graça de ser reta? Uma tábua?
- Eu entraria em qualquer roupa... 
- E você não está vestindo uma roupa agora? – ela me olhou de cima a baixo – Por Deus, querida! Não se prenda a esses esteriótipos. Pensei que seu trabalho em Paris com as meninas do hospital seria de algum auxílio...
- E foi! – respondi – É que, chegando aqui e vendo as fotos nas revistas, eu... Como posso me explicar?
- É muito mais fácil vestir um cabide do que um corpo humano – Kirsty me respondeu, cruzando os braços – Como desenhar e desenvolver designs para corpos variados femininos? Com cada uma tendo um tamanho diferente? Tom de pele, quadril, coxa, nem vou começar a falar do tamanho dos bustos – ela sorriu – Desenha uma roupa que caiba em uma menina que não come nada, por mais que elas falem que comem de tudo, elas não comem, que não tem uma curvinha se quer no corpo e pronto! Modelos são como telas em branco, aceitam qualquer coisa porque são iguais a qualquer coisa. Mulheres de verdade, do dia a dia, não são assim, e nem precisam ser assim! – eu mantinha minha respiração pesada – Você é linda, desse jeitinho.
- Tá... – empurrei minha camiseta pra baixo, de alguma forma eu queria esconder o meu corpo.
- E pare de puxar essa camiseta – ela riu – Tem alguém entrando nesse corredor.

Não entendi o que ela disse, até olhar pra trás e ver Harry com uma cara um pouco brava, mas ao mesmo tempo aliviada. Eu fiz careta e depois me lembrei... Não tinha falado pra ele que ia ao banheiro. E, na verdade, nem era pra eu estar demorando tanto assim, meu tempo fora saiu um pouco do controle. Sorri pra ele meio com culpa e ouvi Kirsty ao meu lado soltar uma risadinha. Ia receber bronca dele na frente dela? Pelo amor de Deus, se controla, Styles.

- Interrompo? – ele perguntou, parando na minha frente com os braços cruzados e mordendo o lábio inferior.
- Não – respondi quase que num soluço – Eu estava, bom, eu ia...
- Por que não me avisou que ia sair? Na verdade, onde você tava indo ou onde você já foi?
- Me desculpe – Kirsty cortou o interrogatório, tendo agora a atenção de Harry e também a minha – Permita me apresentar, sou Kirsty Williamson, Redação Chefe da Revista Vogue – ela estendeu a mão para ele.
Harry Styles – ele a cumprimentou de volta.
- É um grande prazer finalmente conhecê-lo – ela respondeu, e antes mesmo de Harry abrir a boca, Kirsty continuou – Perdoe-me por ter roubado a atenção de sua namorada por tanto tempo, Rhanna é, de verdade, uma menina encantadora.
- Hã... É sim, sim – ele coçou a nunca e me encarou – Vocês já se conheciam?
- Não, não. Ela me ajudou a sair do banheiro, eu estava gritando por ajuda há um bom tempo e ninguém ouvia, até que ela apareceu e simplesmente girou o trinco para o outro lado. O que não acontece numa hora de desespero? – ela sorriu para mim... O que estava acontecendo?
- Pedindo ajuda? Não ouvi nada.
- Você estava no telefone, lembra? – eu falei e Harry concordou.
- Se não fosse por ela, acho que ia estar trancada até agora. Mas, bom, foi um prazer finalmente conhecê-lo, Harry. Grande parte da nossa conversa foi sobre você.
- É mesmo? – ele sorriu de ladinho, agora ele parecia acreditar na conversa.
- Você tem uma namorada encantadora, parabéns.
- Obrigado – ele suspirou e sorriu – Na verdade, eu vim chamar a minha namorada encantadora para a entrevista, estão nos esperando.
- Já?
- Pois então, vão logo. Nos falamos depois, tudo bem? – ela me encarou.
- Claro, claro – preciso dizer que estava atordoada com essa conversa?

Me despedi de Kirsty e Harry me pegou pela cintura e fomos andando por um outro corredor. Antes de abrirmos a porta de vidro da Vogue que dava entrada aos escritórios, ele me parou e me deu um olhar meio suspeito. Percebi que ia falar alguma coisa, mas parece que se arrependeu do que tinha pensado e resolveu parar o pensamento no meio do caminho e não falar nada. Respirou fundo e se virou, aí foi a minha vez de puxá-lo.

- Hey!
- Eu ia te fazer uma pergunta, mas deixa quieto.
Styles, sem essa! Que foi?
- Não foi nada, sério.
- Sem esse papo pra cima de mim, que você tá pensando?
Rhanninha... – ele colocou a mão em meus ombros – Você foi mesmo ajudar essa tal de Kirsty no banheiro? – SABIA!
- Como assim?
- Eu vi você dando uma olhada nas revistas e eu vi a sua cara – ele fez carinho em meu rosto – Não mente pra mim, você não levantou pra ir ajudar aquela senhora, levantou?
Harry... – gemi e fiz careta, ele sorriu – Eu só, é que eu não ia... Na verdade, eu ia...
- Ok! – Harry sorriu e me beijou de leve – Mas você... Fez?
- NÃO! – eu gritei sem querer – Não fiz, na verdade eu encontrei a Kirsty no meio do caminho e acabei não fazendo.
- E se você não a encontrasse?
- Provavelmente eu ia – suspirei – Me desculpa.
- Não tem motivo pra você se desculpar, ok? – ele me abraçou e depois encostou a testa na minha – É difícil, ainda?
- Sempre é... – suspirei, roçando meu nariz no seu – Ainda mais nesse tipo de situação.
- Tá com fome?
- Sim, mas não quero comer – consegui dizer. Eu estava com fome – Eu não quero ficar estranha nas fotos.
- Então vamos fazer o seguinte? – ele me beijou de novo – Tem uma mesa cheia de frutas lá dentro que eu sei. Antes da entrevista vamos lá, te faço um prato com frutas leves e você come, pode ser? – Harry me olhou com tanta ternura e carinho que às vezes eu questionava se ele era real.
- Pode ser – respondi – Não tem problema comer durante a entrevista?
- Ah, se tiver, elas esperam você terminar – ele sorriu – O que importa é minha namorada não passando mal. Aí, sim, eles teriam um sério problema.
- Eu amo você – eu sorri.
- Também te amo – Harry piscou pra mim – Bem pouco, mas amo.
- Sei disso – e assim, nós atravessamos a porta de vidro da Teen Vogue Magazine.

Harry colocou em um prato uma porção de uvas, maçãs, morangos, dois pedaços de melão, um de mamão, não colocou bananas, kiwi, cereja, frutas secas e me trouxe um copo de suco de laranja sem açúcar. Eu já estava sentada de frente para duas jornalistas batendo um papo leve, esperando-o voltar. Quando ele voltou com tudo isso, as meninas ficaram boquiabertas. Primeiro que ele entrou sorrindo e piscando pra metade das meninas da sala e modelos, todas ficaram de queixo caído; segundo porque todo aquele mimo era pra mim, e quando ele se sentou ao meu lado e me beijou – ali na frente de todo mundo – as modelos ficaram mais abismadas ainda. Harry era, de verdade, o típico namorado fofo que todo mundo gostaria de ter. Só de ver a cara das jornalistas, eu já podia sentir que a entrevista seria, no mínimo, interessante.

- Bom – uma delas tossiu – Podemos começar, então?
- Claro – nós dois respondemos.
- Então vamos lá...

O prato com as frutas estava em cima da mesa, e eu não conseguia pensar em comê-las. Peguei a mão de Harry e a coloquei em meu colo, entrelaçando com força nossos dedos. Que a tortura comece... Nossa primeira entrevista como casal.

Capítulo 35

Com o passar dos minutos eu fui ficando mais calma. A entrevista não era tão tensa como eu pensava, e as duas eram simpáticas até demais, perguntaram não apenas as coisas óbvias, e não editavam nossas respostas. Pelo menos eu gostava de achar que elas não seriam editadas. Um prato e meio de frutas depois e alguns copos de suco pra mim e café pra Harry, nós finalmente chegávamos aos minutos finais.

- Eu sei que vocês já responderam essa pergunta algumas vezes, em especial o Harry, mas o jeito que vocês se conheceram é, de verdade, muito peculiar. Alguém já fez algum comentário a respeito? 
- Eu escuto comentários disso o tempo todo – Harry riu – Falam que foi combinado, forçado, algo como ‘ah tá, ele estava do nada na praça e resolveu fazer gracinhas pra menina e eles se apaixonaram’ e similares.
- E não foi assim que aconteceu?
- Foi e não foi – eu sorri – One Direction ainda não era muito conhecido no Brasil no começo do ano, então eu não conhecia os meninos. Quando eu vi o Harry fazendo gracinha pra minha câmera, eu achei diferente. Tem um lugar em São Paulo, chama-se Praça da Sé. Lá, se você resolver tirar foto, vai passar muita gente na sua frente fazendo graça igual ao Harry; então quando ele começou a fazer isso eu achei o máximo, me senti em casa.
- Só a parte da paixão que gostam de florear um pouco mais do que devem... – Harry olhou pra mim e piscou.
- Por quê? Como aconteceu?
- Gosto de responder essa pergunta citando um casal conhecido: Jack e Rose – por um momento pensei que Harry fosse citar alguém de verdade – Aquela cena que ele a vê pela primeira vez é muito bonita. E consegue convencer todo o público de que ele se apaixonou por ela naquele instante, naquele segundo. Parece ser clichê, mas aconteceu. Por que, quando isso acontece na vida real, as pessoas possuem tanta dificuldade em aceitar? Eu me apaixonei pela Rhanninha no instante em que a vi, assim como aconteceu com Jack e Rose, Romeu e Julieta... 
- Quem nunca amou, quem nunca sentiu isso, tem esse certo preconceito – eu falei.
- O fato de vocês serem jovens não é ruim para a aceitação?
- Romeu e Julieta viveram um romance ao extremo com treze anos – falei, sorrindo, as duas abriram o maior sorrisão do mundo.
- Ela é incrível, Harry.
- Sei disso – ele sorriu, feliz – E isso também é algo que incomoda um pouco algumas pessoas.
- O fato de ela ser incrível?
- De ela ser boa em tudo que faz.
- Como assim?
- Bom... – segurei na mão de Harry, pedindo autorização para eu falar – Quando a bolsa de estudos saiu, eu sabia que seria uma oportunidade única de mostrar meu trabalho e minhas qualificações. Repetia pra mim mesma que eu vim pra Londres com um propósito, de ser a número um em tudo e nunca falhar. Consegui grande parte do que eu queria, e isso parece incomodar porque ninguém nunca é cem por cento bom no que faz. Quando as coisas começam a dar certo, o efeito imediato é de alimentar suspeitas, as pessoas ficarem intrigadas e, em alguns casos, com inveja.
- Uau – ela desligou o gravador – Desculpa, eu pensei que os comentários maldosos eram por culpa do seu namoro com o Harry.
- Não vou dizer que aprendi a lidar com isso, de vez em quando ainda leio alguma coisa que me machuca, mas é mais fácil administrar essa parte. Agora, quando começam a falar do meu trabalho e de como eu conquistei as coisas, eu viro uma leoa e não penso muito nas consequências. Lutei muito pra chegar até aqui, não permito que falem mal do que eu amo.
- Caramba – uma delas sorriu pra mim e pra Harry – Quantos anos você tem, mesmo?
- Dezoito.
- Tenho certeza que tudo o que você conquistou foi de grande merecimento. Parabéns!
- Obrigada – sorri.
- Enfim, podemos continuar? – ela ligou novamente o gravador – Harry e Rhanninha, qual a frequência de brigas?
- Nossa Senhora! – ele passou as mãos nos cabelos e começou a rir – Briga feia ou briga tonta?
- Tanto faz, briga é sempre briga – as duas riram.
- Gênio? – ele olhou pra mim e eu já estava rindo – Tá, eu respondo. Nossas brigas nunca duram mais que quarenta e oito horas.
- Como assim?
- É muito raro eu passar um mês inteiro com a Rhanninha, às vezes ficamos semanas longe. Então não gostamos de perder tempo brigados; já não nos vemos direito, se for pra ficar afastado um do outro, então nem compensa.
- Nosso tempo juntos é muito curto pra ser desperdiçado brigando, eu não vejo necessidade nisso – acrescentei.
- Vocês são dois fofos – a moça falou e nós dois sorrimos um para o outro.
- E quando há uma briga, como vocês se reconciliam?
- Starbucks e muffin pela manhã – Harry respondeu e nós rimos – Mas às vezes a amiga dela precisa dar uma força, aRhanninha é muito orgulhosa.
- Sou mesmo!
Harry Styles te trazendo café da manhã depois de uma briga e você ainda consegue ser orgulhosa?
- Tem que fazer um charme, pra dar mais certo – sorri, vendo a cara de sapeca de Harry ao meu lado – E pelo visto, tá dando.
- Bom, eu vou fazer mais uma pergunta que eu vi algumas fãs comentando. Você, Rhanna, foi vista no começo como uma menina que não se interessava nem por One Direction e nem pelo próprio Harry. Algumas criticavam o seu comportamento como namorada, parecia que você não queria estar fazendo parte disso. Como você se sentiu ao ler essas coisas a seu respeito?
- Então... – sorri, nervosa, e estralei meus dedos, olhando para Harry – Eu não conhecia One Direction, não sabia nada sobre eles. Assim sendo, eu não conhecia o Harry e, pra ser sincera, acho que isso ajudou no nosso relacionamento. Eu gostei dele, me apaixonei por ele, e não pela bagagem que vinha junto. Não precisava saber da banda ou da música pra eu ser mais ou menos apaixonada por ele, não via necessidade disso. Assim como ele não soube tudo da minha vida quando me conheceu, foi algo que fomos conquistando e conhecendo aos poucos. Assim é um relacionamento, você não fica sabendo tudo da vida da pessoa no primeiro mês, você descobre. 
- E nunca te passou pela cabeça procurar alguma coisa dele no google? Dar uma de stalker e saber do Harry ou da banda?
- Ah, não? – eu cocei a cabeça e ri – Sei lá, confesso que algumas vezes eu entrei no sites feitos por fãs pra ler coisas sobre os meninos, mas tudo eu acabei descobrindo depois. Algumas vezes, entrei mais pra saber o que falavam de mim do que do próprio Harry.
- Sério? – ele me encarou com um sorriso de lado – Estão vendo? Disso eu não fazia ideia.
- Se decepcionou com alguma coisa?
- Ah, várias – eu sorri – Mas passou, depois de um tempo. Mostrei pro Harry e pros meninos, tudo virou uma grande piada depois.
- E vocês conhecem fanfics? As fãs costumam escrever muito sobre como elas imaginam um relacionamento com vocês ou até “entre vocês”.
- Cara, tem muita fic gay que as fãs escrevem! – Harry bateu a mão na testa e nós começamos a gargalhar – Não sei de onde surge tanta criatividade pra escrever tanto absurdo, dá até medo. Será que os pais dessas meninas sabem o que elas estão fazendo?
- Muita coisa absurda?
- Olha, demais! Tem umas coisas muito absurdas, meio impossíveis – eu estava ficando constrangida só de imaginar, comecei a rir ao vê-lo ficar vermelho de vergonha.
- Dá pra contar alguma coisa pra gente?
- De jeito nenhum, eu passo os links depois dos que eu lembro, mas contar aqui, agora? Nem pensar!

Ao final da entrevista, as perguntas mais clichês e normais voltaram a aparecer. Coisas como: o novo CD, quando começa a turnê, se ele e os meninos estavam ansiosos para o Madison Square Garden, se eu ia – coisa que não vai dar –, planos pro ano que vem, planos pra nós dois e essas coisas. Confesso que eu gostei muito de poder falar um pouco sobre assuntos que pouca gente tem noção. De certa forma fiquei aliviada e uma parte meio insana está bem curiosa pra ver qual vai ser a reação das fãs ao lerem a entrevista. Foi-me perguntado sobre os rumores de eu estar passando por uma crise, porque eu visivelmente tinha emagrecido muito desde o começo do namoro até agora... Minha resposta foi vaga e, em off, eu disse que não queria falar muito do assunto para menos boatos surgirem. Me respeitaram, e a única coisa que elas me asseguraram que será publicado, será que eu passei por uma crise e algumas dificuldades, mas que no momento eu estava bem.

Bem, uma parte já estava pronta, agora vinha a segunda. Photoshoot!


- Você disse tudo isso, mesmo?
- Aham – fechei os olhos, uma das maquiadoras estava tentando grudar alguma coisa junto com a maquiagem, nem sei o que era – Nem quero imaginar qual vai ser o título da entrevista.
- “O recalque bate na minha bússola e volta na cara das vadia" – Aninha falou e nós duas começamos a gargalhar, tive que pedir desculpas pra moça que cuidava de mim.
- Porra, genial! Posso dar essa ideia pra elas?
Certeza! Aproveita e tira uma foto mostrando essa bússola Tiffany LINDA e ainda faz cara de malvada, as fãs vão te detestar.
- Mais?
- Acredite, é possível. Ainda mais depois dessa entrevista, vai chover ameaça de morte, corre pras colinas e se benze, amiga.
- Você tem um dom de me deixar tão tranquila, Ana – eu sorri – Desculpe, posso levantar rapidinho?
- Tá falando comigo?
- Não, com a moça que tá me maquiando.
- TEM ALGUÉM TE MAQUIANDO?
- Aham, eu vou fazer as fotos daqui a pouco com o Harry.
- Eu to chorando sangue de inveja – a ouvi suspirar e sorrir – Tá sozinha agora?
- Sim, sim – respondi, me olhando no espelho e quase não me reconhecendo – Pai Amado, eu estou outra pessoa.
- Gata?
- PERUA!
- Tá valendo – nós rimos – Já sabe se vai vestir algum estilista famoso? Morro de vontade de fazer aquela cena de “Uma Linda Mulher”.
- Ainda não – dei uma olhada em volta – Estou vendo várias roupas aqui, mas não sei se são pra mim e nem sei de quem são. São descoladas, pelo menos eu curti.
- Detalhes, Rhanninha, detalhes!
- Ai, tá... – me levantei e fui dar uma olhada nas peças de roupas que estavam nas araras – Calças jeans, camisetas, casaquinhos, hm... Sapatos...
- DE QUEM?
- Ah, estilista?
- Claro, ou você achou que esse “de quem” era, sei lá... – a ouvi gargalhar – Não consigo pensar numa resposta engraçada agora.
- Que seja! – eu ri – Diesel, Coca, Dolce...
- DOLCE? Fala sério, você vai usar Dolce?
- Channel...
- Filha da puta sortuda do caralho.
- Oi, linguajar peculiar de Bolton! – eu comecei a rir, sempre me divertia quando Aninha soltava mil palavrões de uma só vez.
- Me deixa colocar pra fora toda a minha inveja, por favor. É tudo o que me resta nesse mundo sombrio.
- Que drama, sabia que estão querendo fazer um photoshoot com toda banda? E isso inclui eu e você nos bastidores?
- Bastidores? Eu quero estar na frente – ela riu – Mas já fico feliz em ser lembrada.
- Drama, drama, drama.
- Faço mesmo – a ouvi bufar – Enquanto você tá no seu dia de princesa, eu vou com os meninos pra um ensaio em um “lugar secreto”, pelo menos foi isso o que eles postaram no twitter oficial.
- Vai tirar fotos?
- Não, só como acompanhante do Zayn mesmo, hoje é meu dia de folga e quero mimar meu namorado, e não ficar trabalhando.
- Ahá, muito bem. Acho fofo vocês dois juntos de novo, não aguentava mais seus choros na madrugada.
- Eu nunca chorei pelo Zayn!
- Ah, não?
- Tá... Esquece – ela fazia careta, eu tenho certeza.

Antes de eu formular novamente alguma frase, vi Harry entrar no camarim onde eu estava. Simplesmente lindo, e ele mal usava maquiagem e nem precisava de muita roupa! SÉRIO! Uma calça jeans, tênis qualquer, camiseta que me parece ser familiar e uma camisa azul jogada por cima. Abriu um sorriso quando me viu ali, e só foi então que percebi que eu estava de roupão branco, pantufas, cabelo pra cima e uma maquiagem ainda não finalizada.

Ana, meu namorado acabou de entrar – falei com um sorriso nos lábios, Harry riu.
- Ai, sendo trocada pelo Harry, de novo!
- Tá, quando chegar em casa te conto como foi o dia.
- Ok, se cuidem e me mandem fotos de forma clandestina, não vou aguentar esperar a revista sair pra eu morrer de inveja, mais ainda.
- Farei o possível.
- Obrigada – ela riu – Beijos, divirtam-se.
- Você também – desliguei o celular e o encarei – Tá gatinho, Styles.
- Curtiu? – ele abriu a camisa e deu uma rodadinha sexy – Saint Kidd.
- SABIIIIA! Conheço os trabalhos de Dougie Poynter – eu ri, indo até ele e vendo a camiseta mais de perto – É linda, to doida pra comprar uma.
- Comprar? Só pedir pro Dougie.
- É estranho eu “só pedir pro Dougie” – imitei a voz dele de um jeito babaca, o fazendo rir e dar um beijo de leve em meus lábios.
- Entããããoo... Não vou nem perguntar se você está pronta, porque...
- Acho que elas precisam arrumar meu cabelo, terminar a maquiagem e colocar uma roupa em mim – apontei pro roupão.
- Você está usando só isso? – ele mexeu nas pontinhas do roupão – Tipo, Rose Dawnson?
- Que você tem hoje com essa coisa de Titanic, hein?
- Nada, só uma comparação – ele me mostrou a língua – Mas você ainda não respondeu a minha pergunta, Rhanninha.
- É, to sim – dei dois passos pra trás – Agora, vaza daqui que eu vou escolher a roupa, ou pelo menos dar uma olhada nas minhas opções.
- Não posso nem ficar pra ajudar?
- Não, Styles – eu ria, empurrando ele pra fora – Me espera lá fora.
- Ok...

Antes de ir, ele parou na soleira da porta, com uma mão em cada extremidade, me encarando daquele jeito brincalhão e mordendo os lábios. Tentei fazer careta de quem não estava gostando nada daquilo e que, de verdade, ele atrapalhava o andamento da minha produção, mas foi tudo em vão. Ele se aproximou um pouco mais, encostando de leve o nariz dele ao meu e, aos poucos, nossos lábios. Começou apenas roçando de um jeito brincalhão, me fazendo rir, depois passou a mão pela lateral do meu rosto até meu queixo, puxando-o pra cima e encaixando nossos lábios, me beijando. Coloquei minhas mãos no bolso traseiro de sua calça jeans, apertando de leve sua bunda e fazendo, sem querer, nós dois rirmos durante o beijo, quebrando-o ao fim. Tirei minhas mãos dali e as coloquei ao redor do seu pescoço, brincando com seu cabelo ali e dando selinhos que, por mim, poderiam ser intermináveis.

- Se eu te contar uma coisa bem tosca, você promete que não fica brava?
- Vixi! – eu ri – Conta.
- Sonhei com uma coisa estranha noite passada.
- Sonhou? Hm, você nunca me conta dos seus sonhos.
- Geralmente são babacas, mas ontem... Fiquei me sentindo estranho, porque, se isso acontecesse com você, aquela seria uma reação que eu nunca teria. Não entendi o motivo do sonho.
- Você tá me assustando.
- Desculpa! – mais um selinho – Eu sonhei que você voltava pro Brasil.
- Hã? – é, mas um “hã” digno de cara de psicopata – Como assim?
- Na verdade, você não voltava. Você recebia uma proposta pra voltar, e quando vinha contar pra mim eu te proibia de ir e... – ele fez careta – Me deixar. Tá, eu sei, foi bem egoísta e eu nunca faria isso.
Harry...
- Nunca tinha sonhado nada do tipo, e fiquei mais chateado com a minha reação do que com o sonho em si.
- Por quê? Você me deixaria ir embora? – falei, sentindo um leve aperto no coração, como se nesse momento eu estivesse contando pra ele sobre a proposta da Miriam.
- Se isso fosse pra te fazer feliz e você crescer profissionalmente, não vejo motivos pra te prender aqui – Harry passou a mão em meu rosto, me segurei pra não abrir a boca nesse momento – Não há nada que me deixaria mais frustrado do que saber que você perdeu uma oportunidade de crescer por minha causa.
- Você não abriria mão de nada, por mim? – perguntei baixo, mesmo já tendo alucinações de como ele responderia.
- Essa é a vida que eu tenho, Rhanninha, é quem eu sou. Você já faz parte dela, querendo ou não. Não tem como eu crescer mais, entende? Claro, vou continuar com a música, viajando e conhecendo nossos países, mas é isso – ele sorriu – Você, não! Sua vida não se limita a Londres e nem a um curso que vai acabar daqui uns meses, ainda existe muita coisa a ser conquistada. Eu quero estar com você, mas se não der, o que vamos fazer?
- Vamos ficar juntos, é isso o que vamos fazer.
- E eu volto a perguntar – ele suspirou fundo – E se não der?

É isso, eu vou falar agora. Vou falar da proposta da Miriam e de como eu não quero voltar pro Brasil, e dane-se, Harry não pode simplesmente comprar uma passagem pra mim e me obrigar a ir, ou pode? Soltei minhas mãos de sua nuca e me afastei um pouco, coçando o queixo e o encarando. É como se ele soubesse de alguma coisa e não quisesse me contar, estivesse me testando e esperando que eu falasse. Será que ele viu a carta? IMPOSSÍVEL, ela está grudada comigo o tempo todo, eu não mostrei pra ninguém, nem pra Aninha. E essa história agora de “E se não der?”; ele vai terminar comigo. É claro que vai, ele terminaria comigo por uma oportunidade estúpida que pode aparecer de novo pra mim daqui um tempo. Não, isso eu me nego a aceitar. Eu não vou perder o curso, nem o que conquistei e, muito menosele.

- Vai dar! – eu disse ao fim – Porque eu não vou perder tudo o que eu amo por uma oportunidade idiota.
- Hey, calma – ele veio até mim. Merda, eu estava chorando? – Rhanninha, foi um sonho! E, ah, esquece isso o que eu falei, tudo bem? – o senti me abraçar – Você tá bem?
- Aham – funguei – Eu só não gosto de pensar na possibilidade de te perder.
- Mas você não vai – Harry me olhou sorrindo – Cara, esse é um dos momentos onde eu não consigo ler seus olhos. Odeio isso.
- Como assim?
- Eu ainda não consigo te ler – havia um lamento em sua voz – Como se metade sua ainda fosse uma neblina pra mim.
- Hã? – minha respiração aumentou um pouco – Você não me acha sincera? Não vê verdade nos meus olhos?
- Eu te vejo, mas não por inteira – ele segurava meu rosto com suas duas mãos e parecia querer capturar cada movimento do meu olhar – Você é um enigma que me fascina, mas tenho medo de você ocultar de novo algo de mim,Rhanninha.
- Não confia em mim?
Você confia em mim?
- É claro que sim!
- E se... – ele lambeu os lábios – Se algum dia você recebesse uma proposta assim, você iria me contar, certo?
- Do que você tá falando? Não foi apenas um sonho? – segurei em seus braços. Por favor, me diz que foi só um sonho.

Ele demorou a me responder. Abaixou a cabeça e fez “não” umas duas vezes, voltando a me encarar com uma tristeza no olhar.

- Foi só um sonho – e me beijou na testa.

Ele sabia.

Rhanna, minha flor, podemos continuar com a maquiagem? – uma das meninas da produção apareceu, dando uma olhada de cima a baixo para mim e para Harry – Eu atrapalhei alguma coisa?
- Não, de maneira alguma – respondi, escorregando minha mão pelo braço de Harry e apertando sua mão – Tá tudo bem, não está?
- Sempre esteve – ele me respondeu, beijando minha mão e sorrindo de forma preocupada – Estou te esperando no estúdio.
- Ok – suspirei e o vi ir embora.
- Nossa, que climããããããão! – a loira de cabelos curtos e espetados riu e me empurrou para dentro do camarim – Credo, se eu soubesse que vocês estavam brigando...
- Nós não estávamos brigando.
- ... Eu teria aparecido depois. Mas pode deixar que eu não vou comentar absolutamente nada com ninguém, nem posso falar nada...
- Escuta – me virei pra essa tagarela idiota – Você vai terminar de me maquiar ou não? Na verdade, eu já estou pronta, só preciso de uma roupa. Seu trabalho envolve ficar fazendo especulações da vida alheia, também?

Queria vomitar. Me sentia enjoada, indisposta... Cadê o banheiro?

- Me desculpe, eu só queria conversar.
- Se quisesse conversar, você deveria ter perguntado como eu estou, e não começado a falar igual uma arara – suspirei – Cadê as roupas?
- Estão ali - apontando para os cabides – Qual seu número? Trinta e oito?
- Quarenta – respondi, sentindo a garganta fechar. A tal loira deu uma boa olhada em minha cintura e depois revirou os olhos.
- Vou ter que dar uma olhada em outras roupas, trouxemos apenas manequim trinta e oito pra baixo, são os que estamos habituados a usar – ela mordeu os lábios e continuava a encarar minha barriga, cintura, quadris – Volto logo.

Ótimo, excelente, era tudo o que precisava no momento. Fui até a porta e a tranquei, quase fazendo aquela cena de ‘escorregando na parede e chorando’, só que em vez de ser uma parede, seria uma porta. Dei dois socos nela, com vontade de socar a mim mesma ou socar meu estômago e barriga por ainda serem tão gigantes para não caberem em uma porra de manequim trinta e oito. Eu fui em toda consulta com a nutricionista, segui certo a dieta que ela me passou, mas não foi bom o bastante; ainda estou acima do peso, ainda não estou boa nem para entrar em uma merda de roupa. 

Segurando a vontade de gritar, fiz o que estava ao meu alcance. Tirei o roupão, ficando apenas de calcinha e sutiã no camarim. Fui até o espelho das maquiagens e procurei por demaquilantes, precisava tirar essa máscara de mim, essa camada grossa de pó, base e rímel e tudo o que escondia quem eu realmente era. Quando achei, molhei em um pedaço de algodão e comecei a esfregar com violência em minhas bochechas e olhos, estes ao fim ficando um pouco mais vermelhos do que deviam. Podia ser pelas lágrimas, ou pelo líquido que acabou entrando dentro deles sem querer. Esfreguei meus lábios, tirando o gosto amargo que estava começando a aparecer... Eu não ia fazer isso, não ia vomitar, não ia me sujeitar a essa humilhação pessoal DE NOVO! Lembra do hospital, Rhanna, lembra o hospital.

Diga! Quem você é, me diga
Me fale sobre a sua estrada
Me conte sobre a sua vida

Tira!
A máscara que cobre o seu rosto
Se mostre e eu descubro se eu gosto
Do seu verdadeiro, jeito de ser

Passei uma leve camada de base e pó, apenas para esconder as olheiras e marcas de espinhas. Ficou uniforme e quase não dava pra perceber que eu estava com maquiagem. Ouvi claramente batidas na porta, talvez a maldita loira estivesse ali com roupas “manequim quarenta”. Pensei em abrir a porta e mandar ela à merda, mas iria fazer melhor... Eu ia mostrar pra ela que uma garota manequim quarenta foi feita para roupas trinta e oito. Ia demorar e me dar um pouco de trabalho, mas valeria a pena.

Ninguém merece ser só mais um bonitinho
Nem permanecer, consciente e inconsequente
Sem se preocupar em ser
Adulto ou criança

O importante é ser VOCÊ!

Um bom lápis escuro marcando meus olhos, uma boa dose de rímel nos cílios superiores e inferiores. Blush apenas para dar um tom de viva e não ficar tão pálida, e um gloss rosa claro para molhar os lábios. O rosto estava pronto, agora só faltava a roupa, minha própria identificação.

Rhanna, abre essa porta!
- O QUE VOCÊ ACHA QUE TÁ FAZENDO AÍ DENTRO, SUA MALUCA?
- Você está encrencada, mocinha, muito encrencada.
- CANCELA ESSE PHOTOSHOOT, CANCELA!

Ah, mas vocês não vão cancelar. Nem por um decreto, nem se a Rainha aparecer aqui agora mandando cancelar, isso não vai acontecer. Eu estou a mais de uma hora sendo julgada por essas parasitas, desde que tom de roupa fica bom pra mim, maquiagem e ‘eu acho que seu braço podia ser um pouco mais fino’. Vai todo mundo tomar no rabo e me deixem! E, além disso, essa menina olhou de forma bem interesseira para Harry, e na minha frente. Isso eu não vou deixar barato!

Mesmo que seja, estranho
Seja você!
Mesmo que seja bizarro, bizarro, bizarro

Mesmo que seja, estranho
Seja você!
Mesmo que seja... Uh!

Cortei a cintura alta de uma das calças, porque com aquela cintura daquele tamanho eu NUNCA ia mesmo entrar! Desfiei com a ajuda de duas tesouras, cada um com um corte diferente. Rasguei um pouco nas coxas dando uma abertura maior, sabia que assim minhas pernas iriam entrar ali; fiz o mesmo com a barra e com mais três calças, cada uma de um jeito, estilo e cor. Com as blusinhas e camisetas não foi tão diferente. Cortar, dobrar, prender com alfinetes... Obrigada Sam e Lucas pelas horas vendo Project Runaway! Procurei por sapatos e achei todos de salto alto, mas não era aquilo o que eu queria. Finalmente vi dois pares de tênis, um Vans e uma bota cano alto de couro preta. Absolutamente LINDA, e era aquilo o que eu ia vestir.

Coloquei a calça jeans que ficou um dedo abaixo do meu umbigo, prendi as laterais com alfinetes prateados, a camiseta de caveira segurando uma Polaroid deu todo o ar rock que eu estava procurando. A bota de couro pareceu deixar o look pesado demais, porém não me importei. Escovei os cabelos, passei uma chapinha rápida, deixando-os lisos, mas um pouco armados e rebeldes e, finalmente, abri a porta.

Kirsty estava ali, bem como três possíveis assistentes que deveria estar tomando conta de mim. Assim que me viu, Kirsty abriu um sorriso que mais parecia assustador do que de orgulho, mas depois começou a rir e bater palmas de forma discreta. As outras três entortaram o nariz e uma delas quase se jogou no chão quando viu o que eu tinha feito com as tais ‘roupas de marca’. Não fazia ideia de como seria o photoshoot, mas eles iam me fotografar assim, querendo ou não! Porque eu não ia colocar uma roupa fofa e fingir ser algo que não sou.

- Você fez isso com uma DIESEL?
- Que blusa é essa? Ai meu Deus, é a Channel.
- É doida? Retardada? Idiota?
- Achei fantástico – Kirsty disse, ao final – Deu um toque de rock. Único! Vejo meninas querendo imitar esse estilo, perguntando como ela fez isso, destruindo suas próprias roupas.
- E você acha isso LEGAL?
- Original é a palavra certa... – ela sorriu – Rhanna, querida, está pronta?
- Sim – sorri igual uma babaca, passando pelas magrelas que não cuidaram de mim e indo com Kirsty até o tal estúdio onde Harry estava me esperando.

A cada passo eu me sentia mais confiante e mais nervosa. Eu não sei nem por que tomei essa decisão, por que acabei fazendo isso. Parece que deu um estalo em minha mente depois do que conversei com Harry e depois daquela magrela olhar pra mim como se eu fosse gorda demais pra entrar em qualquer roupa de grife. Tinhas duas certezas: que eu nunca mais me sentiria tão humilhada a respeito do meu peso em minha vida, não iria me sujeitar a qualquer outra loucura apenas para parecer mais bonita aos padrões de alguém, ou uma revista, ou uma estúpida sociedade. Não estou acima do peso, e mesmo se estivesse, qual o problema nisso? Mesmo assim, conquistei a pessoa mais incrível desse mundo, e é por ele que eu também estou fazendo isso. Precisava contar para Harry sobre a carta, sobre a proposta... Se eu me escondi dele uma vez, eu não faria isso novamente. Assim como não estou me escondendo atrás de uma máscara ou roupas largas... Serei sincera, totalmente sincera. E isso já começou.

Assim que entramos ao estúdio, Harry estava num canto conversando com duas das fotógrafas que iriam participar do ensaio de hoje. Uma delas, muito bonita, devo acrescentar, estava dando risada, e era o tipo de pessoa que a cada riso passava a mão no rosto, braço ou peitoral dele. Fiz careta quando eu vi isso, mas essa logo sumiu quando meu olhar encontrou com o dele – porque, pra mim, agora só existia Harry no estúdio. Literalmente ficou de queixo caído e começou a rir como um idiota, parecendo eu aquele dia no carro, voltando do Ritz. Quem estava perto me olhou, julgando cada pedaço da minha roupa, mas Harry não estava fazendo isso, ele gostou do que viu, e isso, pra mim, era mais do que suficiente.

- Uau! – ele sorria, chegando até mim e colocando as mãos em minha cintura – Então os boatos estavam certos. A namorada do Harry Styles deu uma de doida e fez a sua própria roupa.
- Bom, a “namorada do Harry Styles” estava meio cansada de ser julgada por vestir um manequim dois números a mais do que elas estão acostumadas – eu ri – Decidi fazer umas pequenas mudanças nas roupas, mas eu juro que elas continuam de marca e blábláblá.
- Você está incrível, Rhanninha – ele riu – Eu estava te imaginando de outra forma, mas essa roupa é bem mais a sua cara – ele puxou a camiseta que eu usava – Essa caveira com uma polaroid, genial!
- Obrigada – dei um selinho nele – E então, vamos começar?

De repente, eu parecia animada.

Apesar dos olhares estranhos para mim, aos poucos as meninas foram se acostumando ao meu visual, na verdade, elas tiveram que fazer isso. E com o passar do tempo, as fotos foram ficando mais naturais e mais animadas. 

Na primeira parte da sessão, nós não posamos exatamente com um casal, fizemos poses de formas separadas. Harry pousou uma grande maioria das fotos com um microfone em mãos e eu com uma câmera na outra, fingindo que tirava fotos. Colocaram um ventilador na nossa frente, então eu achei uma graça o tanto que o Harry se mexia de um lado pro outro, abrindo e fechando a camisa social que usava e todo sorriso. Fazia muito tempo que eu não o via em um photoshoot, então comecei a achar muito engraçado. Eu brincava jogando meu cabelo de um lado pro outro e mudando de pose a cada clique, não precisamos de muito guia para as poses, tudo estava saindo de uma forma harmoniosa e casual. Uma parte minha estava louca de vontade de pegar aquela câmera e fotografar um pouco, depois de um tempo é meio chato ficar sorrindo e fazendo poses, por mais que seja com seu namorado. Eu queria a câmera... E minha boca grande acabou pedindo.

- Por favor? – perguntei para Ethan, o fotógrafo bonzinho – Só uns shoots?
- Algum problema, Harry? – ele perguntou, óbvio que ele não se importou.
- Faz um tempo que ela não me fotografa, mas só se eu puder fazer o mesmo depois.
- Quê? Você vai querer me fotografar?
- E por que não?
- Ok... – eu ri.
- Câmeras para o casal, por favor! – Ethan me chamou e deu a profissional que ele estava usando.

COISA MAIS LINDA!

- Vai, Harry, se concentra – falei, pegando a câmera e indo até ele para os primeiros shoots – Faça o que eu mando.
- Não tem muita diferença entre você fotógrafa e namorada, continua mandando em mim do mesmo jeito – ele me mostrou a língua, e eu bati uma foto, rindo.
- Tá lindo – gargalhei.

Ele fazia todas as poses mais toscas possíveis, e o pessoal no estúdio se divertia com nós dois. Fui bem pra perto dele e tirei algumas bem perto do seu rosto, depois me afastei e comecei a bater algumas de corpo inteiro. Ele fazia piadas e começava a rir, deixando a sessão de fotos muito mais fofa do que já estava; a cada flash era uma gargalhada por alguma coisa estúpida que ele tinha falado e eu, com certeza, concordado. Algumas meninas da produção foram até ele para arrumar cabelo e dar uma geral na maquiagem, e eu via as caretas que ele fazia cada vez que elas iam com o pincel pra passar pó em seu rosto. Enquanto isso acontecia, eu ia até os computadores ao fundo ver como as fotos estavam ficando... Gostei muito do resultado, tanto das que foram batidas anteriormente como as que estavam sendo tiradas por mim. Quando as meninas avisaram que ele estava pronto, lá vou eu novamente para o meu trabalho.

Me ajoelhei na sua frente, enquanto ele brincava com o microfone e fingia estar cantando. Sorriu pra mim quando eu avisei que essa foto merecia destaque por ter ficado tão linda e espontânea. Então, o pessoal da produção pediu para que eu fosse até ele e batesse algumas fotos de nós dois juntos; concordei de imediato. Lembro-me da primeira vez que nós tiramos uma foto assim, no fundo de sua casa. Eu ainda nem tinha sido apresentada como “a garota especial” e nem éramos namorados nem nada. Só achava ele uma gracinha...

- Vem aqui – ele abriu um dos braços na minha direção – Quero deixar essa noite como uma memória boa.
- Vai bater uma foto nossa? – perguntei, fazendo careta – Ai, Deus!
- Prometo não publicar, mas você vai ter que revelar e dar uma cópia pra mim depois.
- Tem a minha palavra – respondi – Vai, vamos logo.

Me aninhei meio sem jeito ao corpo de Harry sentindo seu braço me aconchegar mais ainda. Encostei minha cabeça no seu ombro e coloquei a língua pra fora, enquanto ele encostava a cabeça na minha e eu presumi que sorria. Ele bateu a foto e logo em seguida virou a câmera pra ver como tinha ficado; como era de se esperar, ele ficou lindo, e eu, mega esquisita.

- Não sabe tirar foto igual pessoa normal, não? – ele perguntou, rindo, desligando a câmera e a colocando em cima de uma mesinha de centro.
- Não gosto de fotos! – falei de novo, arrancando mais uma risada dele – Mas essa ficou mais ou menos espontânea.
- Gostei – ele disse.
- Cara, é só você sorrir que você já fica lindo! Não te irrita isso, não? – falei, um pouco na demência. Realmente, é só ele sorrir e já fica gato, se eu começo a sorrir, pareço o Chandler de Friends.
- Você, quando sorri, fica linda – ele me disse, passando as mãos nos cabelos.

- Promete que dessa vez vai tirar uma foto como uma pessoa normal? – ele cochichou ao meu ouvido, lembrando com certeza desse mesmo dia – Ainda tenho aquela foto que tiramos em casa.
- E onde você a carrega?
- Na carteira – ele riu, me abraçando – É a nossa primeira juntos...
- Sei disso, me lembrei na mesma hora em que eles pediram pra eu bater algumas fotos nossas.
- Lembra a foto na Polaroid? – ele se virou de frente pra mim, me abraçando pela cintura e pegando a câmera de minhas mãos – É a minha favorita.
- Tem uma razão pra ela ser sua favorita... Foi na nossa primeira noite.
- Aham – ele me deu um selinho e bateu uma foto. Ouvi um coro ao fundo de gemidos fofos e senti meu rosto ficar vermelho – Mais uma?

- Obrigado – Harry juntou mais seu corpo ao meu e posicionou a Polaroid na nossa frente, como quem vai bater uma foto. Ele ia bater uma foto – Posso?
- Promete que essa foto vai ficar apenas entre nós?
- Prometo – ele beijou meu rosto e eu devo ter feito uma cara de boba apaixonada, aninhada aos braços do meu namorado – E agora? Que faço?
- Espera, Harry – eu ri, pegando a câmera da mão dele e vendo a foto sair de maneira instantânea. Peguei, mexi, sentindo um cheirinho conhecido de álcool que a câmera soltava, e vi a foto sair do negativo e criar cores bem na minha frente, era praticamente mágica – Agora, sim, tá pronta – olhei a foto e fiz careta, como sempre, eu me acha detestável.
- Linda. Na verdade, lindos, porque somos um casal perfeito – ele riu, pegando a foto de minhas mãos – Gostei.
- Você sempre gosta das fotos, eu sempre as odeio...

- Vamos ficar marcados pra sempre como o casal do ano, tipo Zac Efron e Vanessa... Não lembro o sobrenome dela – ele fez careta e começou a rir.
- Acho fofo – peguei a câmera e dei uma olhada na foto – Você me ofusca!
- Eita, dramática – ele me deu um beijo no rosto e, clic, mais uma foto.
- Tá bom já de fotos assim, não acha?
- Acho – ele se afastou e olhou para a produção – Então, agora, como eu uso isso aqui pra tirar as fotos dela?
- Primeiro, ela precisa de uns retoques – as mocinhas da maquiagem já vinham na minha direção com os estojinhos – Hm, que acha de mudar o figurino?
- Vou ter que mudar o figurino? – poxa, eu gostava dessa roupa – Posso ter algumas fotos solo com essa roupa?
- Claro, pode, sim... – elas me responderam, batendo os pincéis no meu rosto e retocando blush, pó e outras coisinhas –Styles, ela está pronta.
- Ok... – eu o vi segurando a câmera e olhando pra mim – Eu olho pra você ou pra cá?
- É como uma câmera antiga, babe. Você foca em mim, me centraliza nesse quadradinho e depois bate a foto, a diferença é que ela já vai sair digitalmente, entendeu?
- Hm... – ele olhou, me olhou e outro clic, tirou uma foto – Acho que entendi.
- Beleza – eu ri – Posso fazer poses estranhas agora?
- Vai nessa, gata! Dê o seu melhor – ele se ajoelhou no chão e começou a imitar um fotógrafo profissional, me fazendo rir, assim como todos que estavam lá.
Rhanninha, sabe de uma coisa?
- O quê? – perguntei posando mostrando a língua.
- Não tenho dúvidas que você continua aquela garota especial que conheci em frente ao London Eye – ele sorriu.
- Por quê?
- Porque essa carinha que eu estou vendo aqui nas fotos é a mesma daquela menina que eu tenho em meu celular, com cara de deslumbrada e levemente brava comigo por eu ter tirado uma foto surpresa na van.
- Então eu continuo a mesma pra você? – mordi os lábios. Sério que ele ainda tinha aquela foto?
- Sempre vai ser.

- Vamos imaginar que todo mundo vai adorar você?
- Ok – suspirei – E caso isso não aconteça...?
- Eu vou estar aqui com você – Harry disse, beijando meu rosto e me abraçando.

Dei uma olhada na foto em seu celular recém-publicada no twitter:

‘A garota especial’

Essa era a lembrança mais clara que eu tinha desde que conheci Harry Styles. Desde que ele publicou aquela foto dizendo que eu era a tal garota especial da vida dele, e quando tudo em minha vida mudou. Na verdade, muita coisa havia mudado desses primeiros meses pra cá... E agora, parecia que o universo queria, de novo, me dar um novo rumo. Suspirei e sentei-me no chão, vendo Harry ainda bater minhas fotos com um sorriso brincalhão no rosto.

Eu não ia conseguir dizer adeus a tudo isso. Nem em um milhão de anos.


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