Gotta be 32 & 33



Capítulo 32
Para Lorelai Cohen, ou simplesmente Lary

O dia no hospital na França foi um dos melhores dias da minha vida. Não sei ao menos descrever como eu me senti quando conhecemos as modelos que estavam internadas lá, muito menos colocar em palavras o sorriso delas nos primeiros shoots do dia. Eu acho que nunca conheci pessoas tão lindas e tão estranhamente cheias de vida como aquelas garotas. Esqueci-me do mundo e o nervosismo que eu senti antes passou como se fosse mágica. Até mesmo o que aconteceu depois do shoot, quando fomos embora e eu e Aninha voltamos pra casa não doeu tanto... Ou não doeu como eu imaginava que ia doer.

Flashback

Cheguei em nosso quarto e joguei a bolsa na poltrona com força. Eu estava tão cheia daquilo! 

Rhanninha? – Aninha vinha atrás de mim. Na raiva, eu havia a deixado para trás meio sem querer... Eu só queria sair de perto de todo mundo logo.

Eu não queria que meu cérebro ficasse pensando naquilo, eu juro que não queria... Mas sempre surgia uma voz irritante perguntando “Por que é sempre mais difícil pra mim?” “Por que elas sempre pegam mais pesado comigo?” “É porque eu sou brasileira?” “É porque eu não sou tão bonita quanto a Aninha?” Me deitei na cama de barriga pra cima e coloquei as mãos sobre os olhos. 

Rhanninha? – Aninha me chamou, receosa. – Você tá bem? - senti que ela se sentou na cama.
- Não aguento mais, Aninha! Que merda! – desabafei, sendo um pouco mais agressiva do que pretendia e ela se encolheu.

Eu não podia descontar nela! Não na minha melhor amiga, a pessoa que tinha me ajudado tanto nos últimos meses e umas das participantes mais importantes dos momentos mais felizes da minha vida nesse tempo todo em Londres. Tirei a mão dos olhos e a olhei.

- Sabe, eu até tava começando a achar que aqui em Paris seria diferente, que as fãs não iam nem me reconhecer ou que iam pegar mais leve. Mas pelo visto eu estava enganada, DE NOVO! É sempre a mesma coisa, parece que elas possuem um prazer doentio em me xingar, me fazer sentir como se fosse merda!
- E você não percebe que é isso que elas querem? Que elas precisam te deixar mal, porque você “tem” uma coisa que elas querem muito? – Aninha se deitou ao meu lado – Não fica assim... Você e o Harry estão tão bem... Não deixa essas meninas te botarem pra baixo!
- É o que eu to tentando fazer desde que esse tumulto todo começou! Não pensar nisso, não me importar...
- Sabe o que você precisa? Enfrentar essas meninas! – Aninha se levantou e sorriu abertamente, como se tivesse acabado de ter a ideia mais brilhante de todas. Eu me sentia meio como o Cascão ao perceber que o Cebolinha bolava mais um plano (in)falível! – Depois do que passamos hoje no hospital, acho que mais do que nunca você precisa colocar um ponto final nesse bullying idiota.
- E como eu faço isso? Vou bater nelas? Bom, mesmo que eu pudesse bater em uma, ainda sobrariam milhões... E oHarry me mataria!
- Que bater nelas? Quem falou em bater? – Aninha ria da minha cara. – Tava pensando em uma twitcam pra você...
- UMA O QUÊ? VOCÊ TÁ DOIDA, ANA? – acho que a ideia de bater nelas me parecia mais razoável.
- Mas pensa só, Rhanninha! Me escuta: Essas meninas tem falado de você e te xingado por meses e o que elas realmente sabem de você? Elas sabem o que tá escrito na sua bio do twitter, que você é brasileira, que estuda em Londres e que namora o Harry... A maioria delas nunca ouviu sua voz, nunca viu você rindo, conversando, falando de fotografia... Como elas podem mudar de opinião sobre você assim?

Que raiva... Fazia todo o sentido! Odeio quando a Ana tem razão, o que anda acontecendo na maior parte do tempo.

- Elas vão me massacrar, Aninha! – falei, colocando em palavras o maior medo em me expor tanto.
- Só se você deixar... Por que você acha que sofre mais com isso, Rhanninha? Porque você SE DEIXA atingir!

Fazia sentido... De novo. Meu estoque de desculpas estava se esgotando! Fiquei um tempo em silêncio digerindo a ideia de ficar falando sobre mim para um monte de fãs que provavelmente só assistiriam esperando um deslize mínimo pra me crucificar. Em compensação, eu teria tempo para provar a elas que eu era mais que simplesmente “a namorada de HarryStyles”.

- Ok, vai... – me dei por vencida – Vamos fazer esse negócio então!
- Vamos? – Aninha riu – Vamos nada, mocinha! VOCÊ vai.
- Você tá brincando, né, Ana? Não vou fazer isso sozinha!
- Calma! Eu vou estar aqui com você... Mas acho que você devia ir sozinha primeiro. Enfrentar seus medos... Ser maior que eles!
- E desde quando você ficou filósofa desse jeito? – falei e ela me mostrou a língua.
- Vai se arrumando aí, vou buscar um chocolate pra mim. ALGUÉM saiu correndo e eu não pude comprar a sobremesa!

Joguei uma almofada em sua direção e Aninha saiu gargalhando pela porta. Respirei fundo e me levantei, pensando o que eu precisava fazer antes. Lavar o rosto, passar pelo menos um básico de maquiagem, trocar de roupa... Estava quase desistindo quando me lembrei que Ana provavelmente me mataria se voltasse e eu estivesse do mesmo jeito. Peguei minha bolsa, puxei o notebook e o liguei. Deixei-o em cima da cama enquanto me arrumava e me peguei ensaiando o que ia dizer no começo. Nunca ficava tão bom quanto eu queria. Era uma merda ser perfeccionista, mas eu teria que me virar com o que saísse! Olhei-me no espelho e me achei... Ok. Porque eu não podia ser a Bünchen? Mas “ok” era bom, certo? De qualquer forma, ia ter que servir. Peter Jackson achou ao final das gravações de Senhor dos Anéis que o filme estava ‘ok’ e olha no que deu! Não que eu vá me comparar ao nível do Peter... Ok. Quando me senti pronta, respirei fundo mais uma vez e tweetei:

“Hey,, alguém aí? Estou pensando em fazer uma twitcam!”

Pensei se olhava ou não as mentions, mas eu me conhecia bem demais. Se tivesse UM tweet falando que eu só queria aparecer, eu iria desistir. Entrei no site da twitcam, ajustei a webcam e escrevi “Alguém mais entediado? Que tal um Q&A?”Com um “Vou te matar, Ana!” na cabeça, apertei o “Broadcast and tweet”. Agora já era!
Fiquei um tempo quieta e nervosa observando o número de viewers subir. Primeiro devagar e, depois, vertiginosamente. Na barra ao lado, onde ficava o chat, os muitos tweets de RT iam sendo rapidamente substituídos por perguntas, elogios e, lógico, xingamentos.

@1DGirlFriends Oi, Rhanninha! Você é linda!
@_My_BooBear_ Era só o que faltava mesmo!
@Larry_X_Stylinson Nossa, você é mais feia do que eu imaginava!
@1DstalkerBulgaria Oi, Rhanninha, me segue!
@NoJimmyProtested Quanto tempo você mora em Londres?
@LollaHoran Fala alguma coisa!

Ah, é... Eu precisava falar, né?

- Hmm... Oi, gente! Eu... Hmm... Resolvi fazer essa twitcam pra responder umas perguntas e interagir um pouco com vocês. Por isso, perguntem o que vocês têm curiosidade de saber sobre mim! Vou tentar responder o máximo de perguntas possíveis, mas não vou tolerar grosserias, ok? – não consegui me controlar ao ler uns comentários ridículos subindo no chat. – Quem não estiver interessado, pode fechar a página e voltar a fazer o que tava fazendo!

Aquilo soou MUITO como uma professora, me segurei para não rir! Voltei meus olhos para o chat a procura da primeira pergunta.

@BeMineHarry Perguntas? O Harry é bom de cama?
@LiamsLostKidney A única pergunta que me vem a cabeça é: COMO Harry Styles tá namorando com você?
@MaryMcFLYE1D Qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D?

Passei por essa pergunta enquanto lia as outras, já me arrependendo de estar fazendo aquilo. Por que mesmo eu estava dando minha cara a tapa numa twitcam? Aninha abriu a porta do quarto comendo um chocolate e se jogou na poltrona em frente à cama, onde eu e o notebook estávamos. Ah sim, era ela o motivo do meu suor frio e o sentimento estranho no estômago. E dessa vez não era fome! Eu tinha que estudar, revelar minhas fotos, ligar pra minha mãe no Brasil... MasAna tinha tido aquela ideia genial de que eu deveria “enfrentar meus medos sendo maior que eles” e, para isso, interagir com as fãs de One Direction. Na minha concepção, isso significava ser jogada aos leões.

- Fala alguma coisa! – ela sussurou, fazendo sinal para que eu prosseguisse. Pisquei e percebi que estava há alguns minutos encarando a tela do notebook sem dizer nada. Aí sim as fãs iam achar que eu era retardada! Tossi e decidi responder aquela pergunta.
- Hum... qual a melhor parte de namorar um integrante do 1D? – repeti em voz alta a pergunta que tinha lido – Bom... Acho que é quando eu estou namorando o garoto por quem sou apaixonada e o trabalho dele não importa muito... – respondi dando de ombros, meio tímida.

Aninha abriu um sorrisão e fez um sinal de positivo e eu sorri também. Mas falar do “garoto por quem eu sou apaixonada” me deixou um pouco preocupada sobre o que Harry ia achar disso tudo. Se ele ia pensar que eu estava nos expondo ou algo assim. Por isso resolvi que ia evitar o máximo possível as perguntas relacionadas a ele e ao 1D, se é que isso seria possível. Passei os olhos mais uma vez a procura de uma pergunta que eu ficasse a vontade para responder e senti um sorriso se formar em meu rosto.

@Lary_Cohen E aí, garota? Twitcam? Hahahaha... Deve estar sendo um martírio pra você. Gostei da camiseta ;)

- Oi, Lary! – falei e evitei olhar para onde Ana estava, mas conseguia imaginar sua expressão de raiva. Olhei então para minha camiseta. – Minha camiseta é linda mesmo! É da minha banda preferida, o Pearl Jam...

Se tem uma coisa que eu aprendi é que ninguém pode me parar quando eu estou falando de um assunto que domino. Já que estava nervosa, me segurei no “Pearl Jam” por um tempo, contando como eu havia conhecido a banda, minha música favorita e coisas desse tipo. Logo comecei a ler perguntas relacionadas a música e passei a me sentir mais a vontade. Já nem parava pra ler os comentários ruins, porque estava focada em achar perguntas que dessem continuidade ao assunto.

@1Love1Direction E o que você faz em Londres? Faculdade?

Sorri de novo ao encontrar a oportunidade para falar da minha paixão. E aí eu tive certeza de que estaria bem. De algum modo eu entendia como aquelas garotas conseguiam se sentir tão superiores quando iam falar mal de mim. Sentada ali sozinha, na frente do meu note e falando sobre o que eu amava, eu me sentia invencível. A diferença é que eu usava essa minha coragem para algo bom... Aninha ria às vezes das coisas que eu respondia ou contava e me olhava com certo orgulho. Eu tinha conseguido, certo? 

- Oi, Michelle! Oi, Suria! – me peguei falando, mandando “shout outs” individuais para algumas garotas. Não queria confessar, mas estava me divertindo – Eu já estou na França, não sei se andaram lendo meus últimos tweets. Fico aqui mais uma semana, o que vocês me recomendam, além de visitar a Torre Eiffel?

@xXLouisCarrotsXx Fala alguma coisa em português!

- Eu sinto saudades do Brasil! – falei em português e Aninha me olhou estranho. Ela só me via falando português com meus pais, então não era como se ela pudesse entender o que eu estava falando. Traduzi para ela que sorriu mais uma vez.

@IsaLovers1D A TA AÍÍÍÍÍ?? CHAMA ELA!!

Aninha Lovers! A Aninha já tinha até Fan Clube!

Aninha, tão te chamando aqui! – Falei e ela pulou do sofá como se só estivesse esperando pra ser chamada.
- Oi, galera! E aí? – ela disse animada, se sentando na cama atrás de mim e colocando a cabeça por cima do meu pescoço.

Enquanto ela tagarelava, não pude deixar de notar alguns xingamentos para ela também “Feia”, “Gorda”, “Vaca”, “Tira as mãos do Malik!”... Nada muito original. Nada que eu já não tivesse lido uma porção de vezes... Peguei-me pensando que todo aquele dilúvio de nomes feios e xingamentos não eram pessoais. Não era eu, Rhanna Penalva, que elas odiavam. Elas odiavam a namorada do Harry, a namorada do Zayn, e olha que a Aninha nem estava mais com ele. Olhei paraAninha se divertindo ao tentar falar o que quer que fosse em francês e não pude deixar de me sentir grata por ela ter me obrigado a fazer aquilo. Não tinha sido em vão, afinal. Não sei quanto às fãs de 1D, mas eu tinha aprendido muito naquela tarde. Pra finalizar com chave de ouro, meu celular vibrou e eu vi a carinha sorridente de Harry.

“E quando é que você quer encontrar seu namorado, por quem você é apaixonada, pra gente NÃO falar do meu trabalho?” – Harry x

“O mais rápido possível!” Rhanninha x

Flashback off

Como era de se esperar, o fato de ter me exposto desse jeito me fez muito bem, Harry também sentiu um grande orgulho de mim, ficou falando dessa twitcam por algum tempo com as fãs no twitter e isso tirou aquele peso de ‘sou apenas sua namorada’. Estávamos agindo como um casal que está junto há anos, e eu nem tinha parado para pensar que, de verdade, fazia muito tempo mesmo que esse relacionamento estava durando. Era uma coisa especial, só nossa. E fico muito feliz em saber que ninguém entende e que na verdade muita gente se incomoda com isso. Lembro uma vez que eu li alguém falando que eu e Harry não passamos mais que 48 horas brigados. Pergunto-me como que essa pessoa sabe disso, mas enfim, é a mais pura verdade. Brigamos feio apenas uma vez e no dia seguinte já ficou tudo resolvido. Qual o problema? Tenho mais é que agradecer por não sermos o casal problema, com clichês namorísticos onde ele ia sair pra turnê e me trair ou eu fosse ficar me achando a última garota do mundo por ter sido a escolhida dele, ou ficarmos na melequinha de amor que todo mundo acha bonito. Somos um CASAL que se ama, gostaria que as pessoas entendessem isso e nos deixassem em paz.

Diferente de qualquer outra fã francesa que eu possa ter conhecido, as meninas do hospital eram adoráveis e nos trataram como popstars, sendo que as divas do dia eram elas.

Tudo começou cedo. Às seis horas já estávamos de pé esperando por Bellatrix, Aidan, Tyra e Olivia no saguão do hotel onde estávamos. Sam estava sentado em cima da nossa mala com equipamentos, dormindo parecendo um suricate, mas dormia. Lucas encostado no ombro de Aninha e ela o abraçando, ambos também dormindo em pé, e eu com o celular na mão agoniada porque não conseguia falar nem com Harry nem com minha mãe desde ontem. Eu precisava de uma palavra de conforto, só uma! Mas ele estava viajando por algum lugar – a agenda dele estava uma loucura, uma hora era Suécia, depois Alemanha, aí já foi parar na Nova Zelândia em questão de dois dias. Próxima parada seria o Japão – e eu não ia conseguir falar com ele pelos próximos dias, o que me deixava pior. Quando eu quase estava ficando mais desesperada, vi os quatro aparecendo. Bells parecia uma modelo da revista Vogue, como que essa criatura ficava linda desse jeito as seis horas da manhã? SÃO SEIS HORAS DA MANHÃ! Não posso falar muito porque, Aidan também não está de todo ruim. Barba por fazer, cabelo todo bagunçado e cheirando a colônia pós-banho, tava bonito.

- Bom dia, equipe – Tyra nos cumprimentou – Como estão?
- Com muito sono – Lucas sonolento respondeu, arrancando risadas matinais e roucas de todos nós – Preciso de cafeína.
- Passaremos pelas melhores cafeteiras parisienses no caminho, Lucas – Olivia falou indo até nós – Fique tranquilo.
- Bom, antes de irmos preciso dar as coordenadas para vocês – Tyra falou – Bells, tome a dianteira.
- Merci – ah, ótimo! Mais francês! – Bonjour.
- Bonjour – respondemos em uníssono, eu com toda má vontade do mundo.
- Bom, até chegarmos ao hospital demora mais ou menos uma hora e meia, depende do trânsito. Por esta razão resolvemos sair bem mais cedo do que o horário comercial parisiense, a possibilidade de chegarmos em uma hora é bem grande – eu podia claramente sentir Lucas babar ao meu lado. A bicha tá virando hétero – Vamos tratar das pacientes de forma normal, a única coisa que vamos usar é a máscara no rosto. Elas não estão com a imunidade muito boa, então todo cuidado ainda é pouco.
- Vamos precisar de luvas ou essas coisas? – perguntei.
- Conversamos com os médicos responsáveis – Aidan começou – Explicamos que nosso trabalho é praticamente todo manual, o uso de luvas pode tirar nossa sensibilidade com as câmeras.
- Entendi – falei. Senti alívio, não gosto de trabalhar com luvas.
- É como se fosse um trabalho normal como outro, a diferença é que as meninas estão carecas vamos fazer os shoots no hospital – ele sorriu.
- Elas podem passar mal durante o ensaio? – ouvi Sam perguntar – Eu já, bom, na minha família eu passei por alguma situações envolvendo câncer, sei que a pessoa fica bem frágil.
- Pode acontecer, Sam – Tyra falou – Mas todo trabalho de vocês será acompanhado por enfermeiras e paramédicos, então qualquer coisa vocês podem e devem pedir a ajuda deles.
- Vocês vão? – perguntei.
- Infelizmente não, mas sei que Aidan e Bells vão ser ótimos professores pra vocês.
- Olivia! – eu pestanejei – Fomos escolhidos por vocês para esse ensaio. Na verdade era pra ser a Semana de Moda, mas enfim... É um trabalho que vai exigir observação de vocês, pelo menos de você que é nossa professora.
Rhanna? – Ana me cutucou – Quer parar?
- Não entendo porque vamos confiar em duas pessoas que não conhecemos quando você e a Tyra estão na mesma cidade que nós – bufei.

Eu não ia querer MESMO que essa tal de Bells começasse a me ensinar como fotografar, tá doida? E mesmo o Aidan sendo um lindo cavalheiro irlandês, se ele começasse a dirigir minhas fotos ia ter briga. Olivia e Tyra conhecem o meu trabalho e o do pessoal, por que elas não vão com a gente? Tem como alguém concordar comigo, por favor?

Rhanna? – Olivia me chamou – Posso conversar com você a sós?
- Se ferrou, tagarela! – Aninha disse – Se você sair da equipe, eu te mato por falar demais.
- Cala a boca, Ana – respirei fundo e fui com Olivia pro lado de fora do hotel, sentindo meus amigos e os dois que não fazem parte da equipe me encararem.
- Ok, eu acho que posso falar que te conheço muito bem pra saber que você não está bem – Olivia começou a falar, cruzando os braços e me encarando – Que foi?
- Como assim? – eu to meio cansada de todo mundo falar que eu sou estranha ou que eu ando estranha, e eu JURO que to me alimentando bem.
- Você anda nervosa, ansiosa, sendo um pouco rude comigo e com os nossos convidados...
- Que eu não entendo o motivo de eles terem sido convidados.
Rhanna!
- Olivia, é sério! Você nos prometeu uma coisa e quando chegamos aqui nos deparamos com outra, tem noção de como anda meu psicológico? Eu to num país que eu não conheço ninguém, vou fazer um trabalho que eu to cagando de medo com duas pessoas que eu não conheço e uma delas adora se exibir.
- Tá com ciúme?
- Eu não gosto de concorrência.
- Você namora o Harry Styles! – ela riu de forma sarcástica – Concorrência é algo que você deveria estar familiar.
- No meu campo de trabalho, eu quis dizer – supirei fundo – Eu não gosto de concorrência, ainda mais uma garota que você coloca na dianteira como...
- Como o que? – ela desafiou – Rhanna, eu te coloco na dianteira de praticamente tudo em sala de aula. Você é nossa melhor aluna e já fui questionada muitas vezes sobre os outros alunos. Existem alunos excelentes, mas eu não vi neles a mesma paixão que eu vi em você a partir do primeiro dia. Todos estão lá porque assumem que fotografia é uma diversão, e não uma arte. Eles não possuem o mesmo brilho que você, e eu generalizo incluindo os seus amigos – engoli a seco – Confio cem por cento em você, quase de forma cega, porque eu vejo muito de mim na sua pessoa. E você deveria confiar mais em mim e nas minhas escolhas, acima de tudo baixar esse seu ego.
- Mas eu...
- Ainda estou falando.

Era a primeira vez que eu recebia uma bronca de Olivia. Tive uma conversa séria com ela e a Tyra uma vez apenas na sala, mas nada se comparava a isso. Eu queria chorar. A única certeza que eu tenho é que sou uma boa profissional, essa conversa com a Olivia está acabando com ela.

- Você é uma excelente profissional – tá, mudei de ideia – Mas você está entrando na fase onde nada pode te derrubar, onde o seu trabalho é sua zona de conforto, como se você não pudesse aprender mais nada de novo.
- Eu nunca pensei isso!
- Claro que já pensou, Rhanna. Não mente pra mim, eu tenho anos de fotografia na sua frente.
- Não é bem isso – eu já estava chorando – Eu...

Eu nem conseguia colocar em palavras o que eu de verdade tava pensando. Se eu assumir pra mim mesma que essa Bellatrix não é concorrência apenas em fotografia, mas em beleza vai soar estranho? Essa menina é maravilhosa, e pelo que eu vi excelente no que faz, como não me sentir ameaçada? Mas... Ameaçada em que?

- Tudo bem – Olivia parecia se dar por vencida – Se você não quer conversar comigo não tem problema, eu só estou fazendo aqui o meu papel de professora e sua orientadora. Mas eu vou te pedir uma coisa – ela se aproximou e encostou o dedo indicador no meu peitoral – Confia em você e no seu trabalho, mas diminui seu ego, se não o tombo vai ser grande. Você ainda tem uma vida pela frente, Rhanna, mas ainda tem muito pra aprender. E pode se aprender com qualquer pessoa, seja ela uma professora como eu, ou uma aluna muito parecida com você, porém francesa – ela suspirou – Não me decepcione.

Assim que me sentei na van fiquei na mesma posição até chegarmos ao hospital. Eu não respirava e muito menos conseguia falar com alguém. Ana estava bufando ao meu lado, mas eu passei a ignorá-la, colocando meus fones e fingindo que ouvia alguma música, quando na verdade eu só queria abafar o barulho exterior. Encostei minha cabeça na janela e fiquei ali pensando em tudo o que Olivi havia me falado. Então é essa imagem que as pessoas têm de mim? Que sou metida? Suspirei e peguei o celular, mandando a terceira mensagem pro Harry nesse dia. Ele não me respondeu... Nenhuma.

“O que você pensou de mim quando me viu aquele dia no London Eye? E na verdade, o que você estava fazendo lá?” –Rhanninha x

Só torci pro celular vibrar. 
E ele não vibrou.

- Chegamos – Sam me cutucou na perna, percebendo que minha mente estava bem longe dali – Vai conseguir fazer as fotos?
- Claro que sim, Sam – respondi, tirando os fones – Vamos logo com isso.
Rhanninha – ele parou na minha frente quando eu me pus de pé e ia sair da van – Eu amo você, e confio que essa equipe não seria nada sem seu talento.
- Sam...
- Eu não sei o que a Olivia te falou, e na verdade não sei quero saber. E sei que você tá meio magoado com o Lucas e comigo porque estamos pagando pau pra Bells, mas você continua sendo nossa número um – ele me deu um selinho rápido – Melhora essa carinha, por nós.
- Sinto saudades do Harry – soltei sem querer – Mandei três mensagens pra ele e até agora nada.
- E desde quando você é tão dependente do seu namorado assim? – ele me respondeu daquela forma afetada – Relaxa, mulher. Harry tá com a banda e você tá aqui com a “sua banda”. Ele vai fazer o trabalho dele e você o seu.
- Prontos, pessoal? – Aidan apareceu na porta da van – Só falta vocês dois.
- Sério? – olhei ao meu redor, como que todo mundo saiu sem eu ver? – Caraca.
- Vamos – Sam de uma de borboleta e pulou pra fora da van, fazendo eu e Aidan rirmos de sua homossexualidade tão aparente.
- Ajuda pra descer? – Aidan estendeu a mão pra mim, sorri e aceitei – Se eu perguntar se está tudo bem você vai ficar brava comigo?
- Vamos combinar que essa pergunta não pode ser feita pra mim nos próximos três dias, tudo bem?
- Combinado – fizemos um high five e rimos – Se prepara pra ter o melhor dia da sua vida.
- Promete?
- Claro – Aidan sorriu.

Os médicos, paramédicos e enfermeiros do Hospital Association Gombault Darnaud já nos esperavam na porta, com toda a educação possível. Olivia e Tyra se despediram do grupo naquele momento e voltaram para a van. Aidan, Sam e Lucas levavam os equipamentos, Bells, eu e Ana ficávamos na dianteira. 

Caminhamos pelo hospital, passando por salas, pegando elevadores e vendo todo tipo de pessoa do mundo. Meu coração só doía e eu apertava o celular dentro do meu casaco, torcendo pra vibrar e receber uma mensagem do Harry. Aposto que ele estava de ressaca – de novo – e devia estar dormindo. Mas ele não deveria estar trabalhando? Droga de namorado. Aninha ao meu lado parecia ler meus pensamentos, percebi isso quando ela me abraçou pelos ombros e sorriu, dando um beijo de leve em meu rosto. Se fosse outra ocasião eu acho que ia brincar de como ela estava ficando gay, mas nesse momento eu senti como se fosse a prova de carinho que eu precisava. A olhei e sorri de volta, em sinal de agradecimento. Murmurei um ‘obrigada, amiga’ e foi o que nós duas precisávamos. Vi Bells nos encarar pela tangente e sorrir, talvez ela não fosse tão ruim assim.

- Essa é a lista de pacientes – Aidan nos entregou uma lista com cinco nomes – Cada uma possui um tipo de câncer diferente. Deem uma lida antes de entrarmos, fica mais fácil se familiarizar.
- Ok – respondemos.

E agora vem a pior parte. Pelo menos pra mim.

Nome: Angelique Petit
Idade: 19 anos
Tipo: Linfoma

Nome: Marié Dubblet
Idade: 21 anos
Tipo: Leucemia

Nome: Clair Laboité
Idade: 16 anos
Tipo: Astrocitoma

Nome: Danielle Kebec
Idade: 18 anos
Tipo: Sarcoma

Nome: Hellen George
Idade: 17 anos
Tipo: Carcinoma

- Não conheço nenhum desses, a não ser leucemia – falei com a voz embargada – Meu Deus, elas são muito novas.
- São, sim – Bells respondeu – Não é necessário saber que tipo de câncer que é ou qual a diferença entre um e outro. 
- Eu sei que isso vai parecer uma pergunta horrorosa – Aninha começou – Me desculpem desde agora, mas alguma delas está em estado terminal?
- Quase todas – Aidan respondeu sério. Sam e Lucas engoliram o choro atrás de mim, fiz o mesmo – É por isso que nosso trabalho hoje é muito importante.
- Elas sabem que estamos aqui ou será uma surpresa?
- Sabem, sim, Lucas – Aidan deu um tapinha em seu ombro – E então, preparados?
- Sim – respiramos fundo.

Colocamos as máscaras e engolimos o choro. Pra mim elas ainda eram cinco garotas que estavam com seus nomes em prontuários médicos, cada uma diagnosticada com um tipo de doença, a mais maldita de todas. Eu só conseguia culpar o universo por estar fazendo isso com meninas que nem chegaram aos vinte e um anos. Não fazia ideia de como elas seriam, se estariam nos esperando de braços abertos ou como se fosse mais uma obrigação da parte delas. Fossem modelos ou não, sei que é complicado, ainda mais em suas condições. 

Mas novamente, eu estava completamente errada.
Abrimos a porta e vimos as cinco já vestidas com as melhores roupas que elas tinham. Rindo, os sorrisos mais lindos e as risadas mais gostosas. Brincavam consigo mesmas de quem ia ficar com a peruca de quem, ou quem ia ficar com o cabelo ‘Katy Perry’. Estavam maquiadas, eu ainda não sabiam quem era quem, mas qualquer pessoa que entrasse naquele quarto ia ter certeza que ali estavam cinco garotas saudáveis. Elas não aparentavam ter a doença que tinham, confesso que eu me achei mais doente ainda.

Bells passou por nós e foi a cada uma dar um abraço e um beijo, e em uma delas demorou um tempo a mais. Quando se soltaram do abraço percebi que Bells chorava, mas a menina que a abraçava sorria e murmurava alguma coisa que eu não sei o que era, parecia ser francês e soava como se fosse um conforto. Bells sorriu e depois foi falar com as outras. Aidan fez o mesmo, e também parou um tempo a mais com essa menina, supôs que ela devia ser conhecida há mais tempo. Lembrei-me que Aidan tinha uma irmã que estava internada aqui, essa menina deve ser da mesma época. Eu ACHO. Enquanto eles terminavam de falar com as meninas, fomos arrumando os nossos equipamentos, colocando as lentes certas, as câmeras que iríamos usar. Tinha certa dificuldade em respirar com aquela máscara, tinha certa fobia e passava a impressão que as pessoas não fossem ouvir minha voz. Prendi meu cabelo em um coque alto e torci pra ele que não soltasse, nunca fui boa em prender meu cabelo sozinha, sem o auxílio de alguma coisa.

Não demorou muito para que o equipamento estivesse perfeito, com as luzes nos lugares certos e nossas câmeras preparadas. Finalmente, Aidan e Bells chegaram até nós – tudo bem que por dentro eu tava querendo mandar os dois se FODEREM porque não ajudaram em NADA e nós montamos TUDO, espero que eles não queiram se dar ao luxo de usar o que montamos e ainda sairem no lucro – trazendo com eles a menina que eles passaram mais tempo conversando. A menina era branquinha e miúda; usava uma peruca vermelha e amarela que me lembrava do cabelo da Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo (e eu nem posso fazer esse comentário porque eu tenho certeza que eles não conhecem Monteiro Lobato). Na verdade, a menina por si só parecia uma boneca, até vestido amarelo ela usava, igual à Emília.

- Essa é a Clair – Bells disse com a voz embargada – Minha irmã.

Agora tudo fazia sentido. Paulada no meu cérebro por ter julgado a Bells antes de saber do assunto. Idiota, idiota!

- Prazer – foi a única coisa que eu consegui responder. Aidan me encarou sorriu com os olhos, como que dizendo “Viu? Ela tem razões pra ser do jeito que é.”
- Prazer é todo e absolutamente meu – Clair respondeu – Você é a namorada do Harry Styles, não é? Cara, eu amo One Direction.
- Jura?
- Sim, eu estava ansiosa pra te conhecer, a Ana também – ela apontou pra Aninha, que parecia imóvel – Namorada doZayn, estou certa?
- A-ham – acho que ela nem ia ter coragem de falar pra Clair que os dois estavam separados.
- Eu fiz uma coisa pra eles, será que vocês podiam entregar?
- Clair, o que nós conversamos sobre isso? – Bells a repreendeu.
- Não, tudo bem – eu falei – O que você fez pra eles?
- Bom – ela parecia animada – Não tem como sairmos do hospital, então eu tive que me virar por aqui mesmo. É bem simples, eu que fiz – ela saltitou pelo quarto, indo até uma gaveta e tirando uma pasta marrom – São desenhos.
- Desenhos? – nosso quarteto falou junto.
- Não ficaram bons como eu queria, eu só... Sei lá, fiz meu melhor – ela entregou a pasta pra mim.
- Vou entregar, pode ficar tranquila – sorri enquanto abria a pasta. Eram os meninos e ela, e os desenhos perfeitos – Meu Deus, Clair!
- Gostou? Acha que eles vão gostar também? – ela parecia apreensiva.
- Eles vão adorar – sorri sentindo meus olhos se encherem de lágrimas – Essa é você com o Louis?
- Sim, ele é meu favorito – ela parecia envergonhada. Era um desenho dela sentada no colo de Louis com a letra de ‘I wish’ escrita ao lado – Sei que isso nunca vai acontecer, então achei a música apropriada.
Louis vai surtar quando ver esse desenho – Aninha falou – Capaz de pegar o primeiro voo e vir pra cá.
- Você acha que ele faria isso mesmo?
- Estamos falando de Louis Tomlison, tudo é possível – Aninha respondeu.

Conversamos com as outras meninas, que também eram fãs de One Direction. Todas lindas, atenciosas e cada uma com uma experiência de vida diferente. Nós as ajudamos a se arrumar, colocar as perucas – o que eu pensei que fosse ser algo traumático e se transformou em uma situação cômica – passar maquiagem e escolher as roupas. As fotos seriam depois colocadas em uma exposição no hospital, então teríamos que fazer nosso melhor. Mas com elas, não era nada difícil.

- Podemos colocar uma música do One Direction pra tocar? – Angelique perguntou com uma certa dificuldade em falar inglês – Ficamos mais soltas com música.
- Mas é claro que sim – Aidan respondeu por nós – Meninas, o que sugerem?
- ANOTHER WORLD!
- Hm, posso dar uma outra opção? – me arrisquei a dizer.

Eu tinha em meu celular a versão demo de Live While We’re Young, música que nem tinha sido lançada ainda, mas Harry me passou no meu primeiro dia aqui na França. Não sei, mas essa música parecia combinar mais com o momento.

Harry me passou a demo de uma música que nem foi lançada ainda.
- O QUEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE? – Aidan fez careta quando as meninas gritaram, eu ri porque de certa forma já estava acostumada.
- Não sei se vocês vão querer ouvir, já que é só a demo...
- CLARO QUE SIM!
- ÓBVIO!
- COLOCA LOOOOGO! – Clair estava quase chorando.
- Por que com o fandom de One Direction tem que ser TUDO ao extremo? – Sam disse atrás de mim rindo – Meu Deus, é uma demo.
- Nem queira imaginar se eles, de verdade estivessem aqui – eu sorri – Tem alguma caixa de som para eu ligar meu celular?
- Tem sim, tem sim, tem sim.
- TEM QUE TER!
- Clair, respira – Bells parecia preocupada – Se controla, pelo amor de Deus.
- Bells...
- Aidan, você sabe que ela não pode ficar desse jeito – ela suspirou – Clair, eu to falando com você!
- E eu to falando que tô bem – Clair retrucou – Ne vous inquiétez pas, je ne vais pas mourir maintenant – ela deu um sorriso maroto e Bellatrix ficou pálida. O que foi que ela falou?
Ni joue avec ce genre de chose, Claire!
- O que elas estão falando? – cutuquei Aidan.
- Clair disse que não ia morrer hoje e Bells falou pra ela nem brincar com isso – ele disse meio rindo – Clair gosta de ameaçar a irmã falando que vai morrer, e Bells retruca dizendo que com essas coisas não se brinca.
- Acho que ela já se acostumou com essa situação, embora eu ache que não há jeito de se acostumar.
- Você aprende a lidar, o que é diferente.
- Achamos a caixa – Danielle apareceu – Cadê o celular?
- Aqui – o tirei de dentro do meu casaco. 

No meio da muvuca eu nem percebi que ele tinha vibrado e ali piscava duas mensagens novas. E no visor aparecia uma foto minha e de Harry. Danielle ficou mais branca do que ela já é e começou a tremer e chorar. Ótimo, vou causar um piripaque nessas meninas!

- É o Harry, é o Harry! Rhanna, é o Harry!
- Pode ler a mensagem, se você quiser – me arrisquei a dizer, sabia que não ia ter nada de comprometedor.
QUOI?
- Inglês, Dani, inglês – eu ri.
- Ela perguntou “O QUE?” – Sam traduziu, e eu queria saber desde quando essa biba sabia falar francês.
- Ah sim, é... Pode ler a mensagem.
- E se for pra você? – Clair apareceu abraçando Dani.
- Clair, se está no celular da Rhanna, é porque a mensagem é pra ela – Bells a corrigiu rolando os olhos. Coisa de irmã mais velha.
- Cala a boca, Bellatrix! – Clair disse brava – Pode mesmo, Rhanninha?
- Sim, por favor! Eu to curiosa pra ler a mensagem – sorri.
- Então... – Dani apertou visualizar – “Amor”... AI MEU DEUS ELE TE CHAMA DE AMOR!!!!!
- E eu odeio isso – respondi rindo.
- COMO ASSIM?
- É coisa nossa – dei de ombros.
- CONTINUA COM ESSA MENSAGEM, DANIELLE! – Clair berrou, as outras meninas também se aproximaram.
- Tá, tá... – Dani limpou a garganta – “Amor” ah gente, que fofinho – ela riu – “Me desculpe por não ter respondido antes, as coisas aqui na Alemanhã andam meio loucas”. ELES ESTÃO NA ALEMANHÃ?
- Danielle... – agora foi a vez de Aidan falar alguma coisa, eu achei engraçado.
- Je suis désolé – supus que era “me desculpe” – “Tá tudo bem com você? Suas mensagens andam me assustando. Enfim, me liguei quando o shoot acabar no hospital, prefiro falar com você pelo telefone do que por mensagem. Te amo, gênio.”

Um coro de ‘AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHH’ da parte das meninas encheu o quarto. Novamente, Aidan fez careta, nós começamos a rir.

- Eles sabem que vocês estão aqui?
- Sabem, sim – foi a vez de Aninha responder – Falamos com os meninos sempre que podemos, não é tão fácil como vocês puderam ver pela mensagem, mas fazemos um esforço – Aninha suspirou. Ela sentia falta de falar com Zayn.
- Tem mais uma mensagem, não tem? – perguntei.
- Que vocês não vão ler porque isso é uma tremenda falta de educação – Bells falou e as meninas fizeram aquele famoso “bico” quando está manhosa.
- BELLLLSSS!
Rhanna, a mensagem é sua.
- Podem ler, eu de verdade não me importo – sorri. Nem eu sei o que estava acontecendo comigo.

“Quando voltar, vai pra minha casa. Parece que nossas agendas bateram e eu vou voltar quase junto com você. Conversamos por lá. Me deixe orgulhoso. – Harry x”

- Je vais mourir!
- Laissez-moi mourir en paix, s'il vous plaît.
- Où me trouver un Harry Styles?
- Pensez-vous retourner à Londres et Harry attendre?
- Emmenez-moi!
- Je ne peux pas m'arrêter de pleurer tellement d'amour pour toi.

Uma explosão de comentários em francês e eu perdida no meio dando risada. Sam, Lucas e Aidan traduziam, as meninas falavam que queriam um Harry, que iam morrer de amor, essas coisas de fãs. Senti que minha parte com elas estava paga, e olha que elas nem falaram diretamente com ele. Teria que dar um jeito nisso mais tarde.

- Bom, vamos pras fotos? – Aidan falou, pegando a câmera e tirando uma de Clair, que sorria e chorava ao mesmo tempo.
- Aidaaaaan!
- Ficou linda, princesse – ele sorriu.
- Merci.
Rhanninha, pode colocar a música? – Bells me perguntou.
- Ah, claro – eu sorri pegando minha câmera também. Hora do show.

Hey, girl I'm waiting on you
I'm waiting on you
C'mon and let me sneak you out

And have a celebration, a celebration
The music up the windows down

As meninas fizeram uma fila, como se fossem desfilar em uma passarela. Assim que a música começou, de um jeito cru porque não estava finalizada, elas tremeram e controlaram a emoção. A primeira foi Clair, que pelo que percebi, gostava de se exibir do jeitinho dela. Aidan pediu para fotografá-la, já que ele tinha mais intimidade com ela. Ficamos do lado esquerdo da “passarela imaginária” enquanto Clair desfilava como uma gatinha e Aidan pegava seus melhores ângulos. Bells, pelo que eu podia perceber, não ia participar de nada. Ficou ali na espreita, vendo a irmã e controlando-se para não chorar, mas eu pude ver as lágrimas caindo. Sem ela perceber, bati uma foto sua de um momento vulnerável, que por sinal, ficou linda.

Yeah, we'll be doing what we do
Just pretending that we're cool
And we know it too
Yeah, we'll keep doing what we do
Just pretending that we're cool, so tonight

O próximo foi Sam, que fotografou duas meninas ao mesmo tempo. Angelique e Danielle, mas Clair ainda não tinha saído da passarela por completo e ficou ali fazendo uma graça de forma adorável.

- Sorriam – ele disse, e elas deram o melhor sorriso da vida delas.

Eu nunca tinha parado pra ver Sam em ação, ele ficava “machinho” como fotógrafo, e ainda mais com os seus lindos olhos azuis mirando as meninas, era bem capaz de ele sair dali com menininhas aos seus pés. Eu ficaria... Na verdade, eu fiquei, né? Até saber que ele era gay.

Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
I know we only met but let's pretend it's love
And never never never stop for anyone
Tonight let's get some
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
Oh oh oh oh oh oh oh
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
Tonight let's get some
And live while we're young


Marié foi a próxima, que foi fotografada por Aninha e Lucas. Eu sabia que Lucas gostava de trabalhar em duplas, e dessa vez quis fazer par com Aninha. Cada um pegava ângulos diferentes, e Lucas tinha a característica de fotografar em preto e branco. Marié usava uma peruca rosa pink de deixar todo mundo cego, então nas fotos P&B o cabelo saía brilhando, e eu não faço ideia de como o Lucas fazia isso. Era flash? Cara, ele era bom!

Sem falar na Aninha que brincava e conversava com Marié o tempo inteiro, a deixando a vontade durante os shoots. Posa pra cá, posa pra lá, faz coração, biquinho, sorria, séria, roda, vira, frente, trás. Como eu nunca tinha visto o trabalho deles, eu estava aprendendo demais, novas posições e novos jeitos de trabalhar com modelos. Me lembrei do que Olivia havia me falado... Ainda tinha muito o que aprender.

Hey, girl it's now or never, it's now or never
Don't over a thing, just let it go
And if we get together, yeah get together
Don't let the pictures leave the phone oh oh oh

Yeah, we'll keep doing what we do
Just pretending that we're cool, so tonight

Eu era a próxima, com Hellen. Senti que Aidan me encarou, desde o momento em que peguei a câmera até quando me dirigi até Hellen. Era como se ele quisesse saber por que eu tinha sido escolhida, como se quisesse ver o que eu tinha de especial. Não me senti pressionada nem nada, depois de passar esse tempo com as meninas eu me sentia uma outra pessoa, como se aquela Rhanna tivesse ficado pra trás.

Hellen era divina na passarela, jogava os cabelos da peruca de um lado pro outro e tinha uma grande expressão facial, era muito fácil fotografá-la, ela mandava em cada shoot, como se fosse algo natural. Em três cliques diretos, consegui uma foto que era digna de estar na exposição. E tudo isso em menos de dois minutos, não sei como isso era possível. Gostei do que vi, e parece que não fui a única.

Let's go crazy crazy crazy till we see the sun
I know we only met but let's pretend it's love
And never never never stop for anyone
Tonight let's get some
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
And live while we're young

Oh oh oh oh oh oh oh
Tonight let's get some
And live while we're young

- Essa música foi feita pra nós – Clair falou, tirando a peruca amarela e colocando em cima da cama – Live while we’re young, é o que nos resta.
- Clair...
- Tá tudo bem, Rhanninha – eu ia fazer algum comentário, mas não fiz – Obrigada.
- Nós não fizemos nada, foi tudo coreografado por vocês – Lucas respondeu – Foi um enorme prazer conhecê-las.
- Gente, um minuto... – Danielle saiu correndo na direção do banheiro.

Ouvimos uns barulhos estranhos, os enfermeiros ficaram atentos, mas não demorou pra ela sair dali limpando os lábios e um pouco sem graça.

- Quimio – ela deu de ombros – Uma bosta.
- Você tem isso sempre? – Lucas perguntou.
- Todas temos – Dani suspirou – É um vômito totalmente involuntário.
- Eu nuuuuuuunca teria bulimia, vomitar é um PORRE! – Clair disse. Aninha me encarou discretamente nessa hora.

Eu induzindo meu vômito e essas meninas passando por isso. Mais uma lição de moral.

- Com licença – uma enfermeira chegou até nós – Me desculpem, mas as meninas precisam descansar.
- Já sei, Irene – Angelique sorriu – Radio para duas e quimio para três.
- Exato – Irene, a enfermeira, concordou – Dez minutos?
- Sim, sim.
- Eu adorei conhecer vocês – falei – Obrigada.
- Você nos agradecendo? – Hellen riu – De maneira alguma, nós é que temos que agradecer, a todos vocês.
- Foram os melhores momentos da minha vida!
- To doida pra ver as fotos.
- Em uma semana ficam prontas – Aidan falou, fechando o zíper das nossas sacolas e sorrindo para elas – Enviamos por e-mail.
- Aidan, meu lindo – Clair sorriu – Sabe, às vezes nós não temos uma semana.
- CLAIR! – Bellatrix gritou – Para com isso, garota.
- Mas é verdade – ela deu de ombros.
- Três dias, pode ser? – Aidan riu – Por você, Clair.
Merciiiiiiiiiiiiiiiiiiii – ela afinou a voz e deu um beijo estalado em seu rosto.

Saímos primeiro do quarto, após nos despedirmos de cada menina. Bellatrix e Aidan ainda ficaram por lá, nós entendemos isso. 

Foi um alívio tirar a máscara e poder respirar com mais facilidade, aquilo estava me matando. E esse foi o comentário mais BABACA que eu já fiz, “uma máscara me matando”, pelo amor de Deus, Rhanna! Depois de passar um pouco mais de uma hora com essas meninas, percebi o quão PEQUENO nós somos e como coisas simples podem fazer uma grande diferença na nossa vida.

Cada uma carregava uma história diferente, uma dor, uma paixão. Conversamos muito sobre isso, absorvi praticamente tudo. E me dava certo desespero em saber que elas tinham pouco tempo de vida, apesar do sorriso delas, eu sei que ali no fundo havia a tristeza em saber que, em poucos meses, elas podiam dormir e nunca mais acordar. Elas nem podia do hospital... Era como viver em uma prisão. E mesmo assim, essas cinco meninas ainda achavam motivos para sorrir.

- Vai ligar pro Harry?
- Vou esperar chegar no hotel – respondi a Sam.
- Preciso de um banho, tipo, URGENTE! – Lucas falou, sacudindo a própria roupa e a cheirando – Nada contra, mas... Hospitais fedem.
- Babaca – Aninha riu – Escuta, vai parecer estranho se eu admitir em voz alta que eu to morrendo de saudade do Zayn?
- Vai parecer óbvio, eu diria – Lucas respondeu – To me perguntando por que você ainda não falou com ele.
- Lorelaaaaaaaai... – cantarolei e Aninha me olhou feio, eu ri.
- Depois que conheci essas meninas eu não me imagino perdendo meu tempo guardando um rancor tão pequeno. Meu amor por ele é maior que tudo isso.
- Ai gente, vou chorar.
Ana Gordon, você tá bem?
- Aproveitem meu momento ternura e me abracem, eu to precisando de um abraço.
Aninha?
- ABRAÇO!

Nós rimos e agarramos Ana ali mesmo no corredor do hospital. Ninguém estava entendendo nada e nós claramente ouvimos uns comentários em francês que fizemos questão de ignorar. Essa visita só nos fez bem, vamos sair daqui outras pessoas.

Antes de partir, peguei minha câmera e dei uma olhada nos shoots que havia tirado. Não tinha apenas da Hellen, mas das outras meninas também; tão cheias de vida, sorriso, alegria. Senti uma dor em meu estômago e me permiti chorar baixinho. Era assim que eu ia me lembrar desses cinco anjos. Alegres, e vivas.

Capítulo 33

O cachecol que Harry havia me dado no nosso primeiro encontro perto do London Eye pousava delicadamente em cima da minha cama. Eu tinha colocado todo o meu “não tão grande” guarda roupa em cima da cama, a única certeza que eu tinha era que hoje eu iria usar o seu cachecol. Estávamos nos aproximando de novembro, e o tempo começava a mudar, não que aqui fizesse muito calor – passei pelo verão europeu um pouco de boa, pra quem mora no Brasil, um calor de quarenta graus não é assim TÃO ruim – mas quando aqui caprichava no frio, era bem frio. Abri a minha janela de leve e vi as folhas balançando de forma violenta lá fora, o que significava que estava congelando. Não era só o tempo, era o vento. 

Desde que voltamos de Paris, as coisas estão mais “maduras” entre todos nós. Aninha e Zayn ainda não voltaram, mas sei que estão caminhando pra isso. Contamos para eles tudo o que aconteceu e tudo o que aprendemos, e acho que nem eles nunca passaram por uma situação parecida com essa. Louis chorou por um bom tempo com os desenhos de Clair, e como era de se esperar, ele pensou desesperadamente em ir até a França conhecer essa menina; mas com uma agenda lotada e apertada como a deles era quase que impossível. Eles iam ter agora pouco tempo de folga, no meio de novembro já iam sair pelo Reino Unido, Estados Unidos e uma visita de leve no México para divulgação do novo CD. Não sei agora quando teria um tempo livre com Harry.

Hoje fazia três dias que nós tínhamos voltado, e mesclando o horário de leve, os meninos conseguiram uma folga, começando a partir de hoje até sexta feira – dois dias a mais. Lorelai e Liam iam sair pra algum lugar que eu não sei, Zayn havia chamado Ana para assistir um filme em sua casa, mas ela disse que só iria com a presença dos outros meninos, então Louis e Niall tiveram que ir também. Em contrapartida, Harry me chamou para um programa super londrino: tomar um famoso chá da tarde, e depois passaríamos o resto do dia nesse lugar. Ah claro, não era simplesmente “um lugar”, era O RITZ! Acho que agora dá pra entender o meu questionamento com minhas roupas, porque eu não tenho nada de bom, e acho que o cachecol do Harry é mais caro que metade do que eu tenho aqui.

Peguei duas ou três peças de roupa que eu até achava que fossem boas o bastante para o Ritz quando ouvi três pancadas em minha porta. Não era Ana porque ela já estava na casa dos meninos, e não podia ser nenhum deles já que eles estavam com a Aninha. Só me restou uma pessoa.

Harry Styles – abri a porta sorrindo quando dei de cara com Harry dentro de um paletó, cabelos arrumados e sorriso apaixonante – Uau!
- É o Ritz – ele deu de ombros e começou a rir – Babe, eu sei que você não curte muito essas coisas, mas eu espero que você não vá com essa roupa – ela apontou para o meu camisetão do Bob Esponja, fiz careta.
- Claro que não, o problema é que eu não sei o que vestir – abri a porta dando espaço pra ele entrar – E nem me olha com essa cara de ‘você tem um monte de roupa, Rhanna’, porque você sabe que é mentira.
- Mas você tem um monte de roupa – ele riu – Quer ajuda?
- Você já foi ao Ritz alguma vez?
- Algumas – ele suspirou, tirando o paletó e colocando em cima da minha poltrona. Meu Deus, ele parecia um príncipe – Não é tão fresco como todo mundo pinta, na verdade só não pode chegar lá de calça jeans.
- Vestidos são aceitáveis? – perguntei, pegando uns dois que estavam em cima da cama.
- Aham – ele deu uma olhada no relógio.
- Tá, eu sei! Pontualidade britânica – eu ri – Que horas está marcado?
Rhanna, chá da tarde em Londres...
- Cinco horas?
- Exato.
- E agora são...?
- Três e meia.
- Puta merda!

Ele gargalhou e começou a mexer nas minhas coisas. Entrei no banheiro e coloquei o primeiro vestido – eu já havia tomado banho, o que era meio caminho andado. O primeiro vestido era formal demais e não era exatamente o que eu estava procurando. Tirei-o e passei pra próxima peça, que eu achava ser um vestido, mas era na verdade uma saia e uma blusinha. A saia era um palmo abaixo do joelho, branca com bordados florais em preto e relevo apenas na barra, cintura alta e um pouco esvoaçante, mas nada em exagero. A blusa era preta com manga “três quartos” e ficava melhor quando colocada pra dentro da saia. Nos pés uma sapatilha preta que parecia aqueles sapatos de bailarina, a correntinha de bússola caindo delicadamente sobre a blusa, e os cabelos soltos e levemente ondulados – já que depois que eu tinha feito uma escova, os prendi em um coque. Base, pó, blush, rímel, gloss e pronto... Será que iam me deixar no Ritz assim? Depois que coloquei a roupa lembrei... TÁ FRIO! Ah, bosta.

Harry? – abri a porta do banheiro e o vi no meu computador. Assim que ele me viu, fechou-o e sorriu, daquele jeitinho que eu to me acostumando a ver sem ficar completamente sem graça – Tá bom?
- Tá ótimo – ele se levantou, pegando o seu cachecol – Isso vai também?
- Não sei se com essa roupa vai combinar, mas eu queria ir com ele – sorri.
- Vem cá – fui até ele. Harry colocou o cachecol ao redor do meu pescoço e me deu um selinho rápido, lambendo sua boca depois porque ela estava com um pouco de gloss – Achei que ficou bom.
- Sério? – passei a mão pelo cachecol – Então vou com ele.
- Vamos – ele me puxou pela mão e saímos do apartamento.

Harry deixou o seu carro com o motorista do Ritz e, desde o momento em que descemos até a porta, vários fotógrafos vieram até nós e tiraram fotos de cada passo nosso. Caminhávamos de mãos dadas e Harry era só sorrisos para todos, ele estava de bom humor e eu achava tudo uma gracinha. Uns três chegaram perto demais de mim, e Harry me abraçou pelo ombro, me protegendo de vai saber o que podia acontecer. Eu ainda não me acostumava com esse tipo de atenção, e como eu sempre gosto de enfatizar, gosto de ficar atrás das câmeras e não na frente delas.

Quando entramos, dois garçons vieram até nós e nos cumprimentaram com toda educação londrina que podiam. Vê-los chamando de ‘Sr. Styles’ era a coisa mais engraçada, porque eu começava a imaginar Harry com uns quarenta anos. Ele estava muito bonito com todo aquele ar inglês, paletó e gravata e muito perfume; não estava acostumada a vê-lo assim, e acho que meu psicológico não estava totalmente preparado. Cada dia com ele era uma surpresa, porque eu descobria novas formas de me apaixonar e de amá-lo cada vez mais. 

Fomos acompanhados até uma das mesas centrais. Ritz lembrava o salão de jantar da primeira classe do Titanic, e na verdade faz todo o sentido já que grande parte da burguesia britânica estava a bordo. Talheres de prata – vários talheres – pratos detalhados em dourado, estátuas lustres enormes que ficavam acima das mesas e um tilintar gostoso e delicado de xícaras e pires. Não nos encararam quando entramos, então eu fiquei um pouco mais a vontade, ia ser meio complicado se eu visse vários pares de olhos olhando o que eu estava vestindo ou me julgando como se eu devesse mesmo estar lá. Uma mesa tinha lugar para seis pessoas, mas Harry havia feito uma reserva especial e a nossa tinha duas cadeiras – e tinha nosso nome em cima “Reservado para Harry Styles e Rhanna Penalva”, eu quis até tirar uma foto disso, mas me controlei. Ele, como um bom cavalheiro, puxou a cadeira pra eu sentar e selou meus lábios de forma delicada; eu estava me sentindo como uma princesa. 

- Babe? – o chamei quando abri o cardápio – Sério, dezessete tipos de chá?
- Eu te ajudo com alguns – ele riu – Por exemplo, alguns você de verdade precisa experimentar, agora outros eu peço, por favor, ignore a presença deles no menu.
- Ok – eu ri.

O menu era lindo, escrito em azul marinho e dourado. Eu podia passar horas ali, só apreciando cada palavra e cada detalhe, mas eu infelizmente estava com fome e curiosa pra provar todos os quitutes. E como isso funcionava?

Harry?
- Oi, amor – ele baixou o cardápio e me olhou – Já sabe o que pedir?
- Na verdade, não, eu nem sei como funciona isso aqui.
- Bom, eu fiz a reserva como sendo o Champagne Afternoon Tea, então a qualquer momento alguém vai aparecer com uma taça para cada um e trazendo em outra bandeja os tipos de chá. Você escolhe qual quer, e eles te servem. Então depois vêm alguns garçons com as bailarinas, sabe?
- Bailarinas?
- Bandejas de três andares – ele riu – Cada andar tem uma comida diferente, salgado ou doce. Pode comer a vontade, já que está tudo incluído na reserva.
- Uau. E que mal lhe pergunte, quanto custou a reserva?
- Nada que eu não possa pagar – ele riu de forma pretensiosa, tive que me controlar pra não gargalhar ali mesmo.
- Bom, eu sei que isso está sendo fantástico e que é algo que eu nunca pensei que fosse passar na minha estadia em Londres, mas tem algum motivo especial pra você ter me trazido pra cá?
- Primeiro – ele estendeu sua mão segurando a minha – Te senti muito estranha no tempo em que você ficou em Paris, queria fazer algo especial. Tá melhor agora?
- Estou sim – sorri – Te falei que depois da bronca da Olivia e da fotografia com as meninas eu pensei muito sobre como eu tenho me comportado e meus problemas. Isso tudo foi um wake up call, demorou, mas eu acho que acordei pra realidade.
- E eu estou nessa realidade?
- Sempre.
- O Aidan não está nessa realidade, não é?
- Ai Harry, por favor – eu ri – Eu nem falo mais com ele desde que voltei, ele é um puta dum fotógrafo, só queria deixar isso bem claro.
- Hm, e quantos anos ele tem mesmo?
- Suficientes pra te dar um chute no traseiro se continuar com essas perguntas – dei um beliscão de leve na sua mão e ele sorriu – Mudando de assunto.
- Tá, tá – ele respirou – Eu preciso conversar três coisas com você.
- Ai...
- Que foi?
- Quando as pessoas falam que precisam conversar comigo eu geralmente falo ‘ai’ porque fico tensa.
- Calma, não é nada demais, se bem que tem uma que você vai ficar meio ressabiada.
- Desembucha, Styles.
- Bom – ele tossiu – A primeira é que finalmente nosso CD está pronto.
- Sééérioooooo? – ele sorria de forma tão orgulhosa de si mesmo e dos meninos que foi impossível eu não sorrir junto – Cadê, cadê?
- Tá aqui – ele abriu o paletó e me entregou – É só um protótipo de foto, ainda não tiramos as internas... E nesse aspecto eu chego no segundo ponto que é dividido em duas partes.
- Vocês estão tão inglesinhos nessa capa – eu ri vendo eles arrumados e pomposos em uma cabine telefônica – Nossa, tem Little Things aqui.
- Lembrou o nome da música?
- Claro – sorri – Hm, e Live While We’re Young, Kiss you é aquela bêbada?
- Bêbada?
- Você e os meninos estavam bêbados quando eu liguei lá de Paris, lembra? Aí vocês estavam cantando uma música que depois eu fui saber que era Kiss You, pelo menos eu acho que sim.
- Ah tá! – ele fez careta e começou a rir – Lembro desse dia, é essa mesma.
- Legal – sorri – Esse CD fica pra mim?
- Claro – ele sorriu – Bom, junto com o CD vem outra coisa, que na verdade são duas em uma.
- Eita.
- Nós queríamos que você desse umas ideias pras fotos do encarte – ele mordeu os lábios e fez careta – Tipo, sendo nossa fotógrafa.
- HEIN? – falei meio alto e algumas senhoras inglesas me olharam estranho. Pedi desculpas e voltei minha atenção novamente pra Harry – Como assim?
- Bom – ele estralou os dedos – Eu estava olhando uns encartes do McFly e descobri que o Danny já namorou a Olivia.
- Uau, novidade!
- Pra mim foi, não sou fã deles – ele fez cara de deboche – O negócio é o seguinte. A Olivia tirou as fotos de dois CD’s, não foi?
- Sim, sim.
- E foi assim que o Danny a conheceu, certo?
- Aham.
- Então, já que você é tão fã da Olivia, por que não tira as fotos do nosso CD?
- Porque eu ainda sou uma fotógrafa em formação.
- Que teve suas fotos publicadas em uma edição da SugarScape.
- Aquilo foi sorte.
- Talento!
- Que seja – bufei – Harry, não.
- Dá pra pensar um pouco no assunto? Você mesma disse que queria um dia nos fotografar, como banda.
- Em show, como aconteceu com o McFly. E pra isso eu ia precisar de aulas especiais tanto com a Olivia como umas dicas com o Leishman.
- E você é aluna da Olivia e amiga do Leishman, não vejo nenhum empecilho.
Harry...
Rhanninha, é mais uma experiência pro seu currículo.
- Ah claro, e vão falar o que? Que eu consegui esse trabalho porque sou sua namorada, é isso?
- Não! O Liam entregou um dos seus portfólios para o Simon que ficou bem interessado no seu trabalho.
- SIMON?
- Aham – ele riu – Pra que surpresa? O Simon te conhece, não pessoalmente, mas conhece.
- Caraca – eu sorri de forma involuntária – E o que ele achou?
- Gostou bastante, tanto que te quis como fotógrafa. E na verdade ele nem te viu como minha namorada, mas sim como um talento. Ser minha namorada foi só um bônus na conversa – Harry riu meio sapeca – E hey, nem partiu de mim, foi oLiam quem entregou.
Liam! – eu ri – E como funcionaria isso?
- Você ia ser contratada nossa, ia receber um pagamento por isso e futuras indicações no seu trabalho. Pelo que eu vi no seu currículo...
- Você viu meu currículo?
- Claro, precisava mostrar alguma coisa pro Simon – Harry fez uma cara meio óbvia. Quanto tempo eu fiquei fora mesmo? – Enfim, você vai assinar um contrato com o logo da banda, não sei quantos dias que são. Na verdade você vai analisar quantos dias acha necessário porque, sei lá onde vamos fazer as fotos.
- Ah, tá – sorri – Que mais?
- Pra cada dia de trabalho eu acho que são cem euros que eles pagam, mais vale refeição e vale transporte.
- Meu Deus! – é muita grana.
- Parte de você fazer uma lista com os equipamentos que vai precisar e, caso seja necessário, contratar uma outra pessoa.
Ana.
- Nhé... Não sei se seria uma boa ideia. Ela e o Zayn ainda andam meio estranhos.
- A Aninha sabe ser profissional, e é uma ótima fotógrafa – falei meio séria – E ela é minha melhor amiga e conhece como eu trabalho, não vejo melhor pessoa pra me ajudar.
- Ok então – ele disse – E então você topa?
- Preciso falar com a Aninha primeiro, mas com todos esse benefícios e sabendo que não estou sendo contratada por ser sua namorada, não vejo por que negar.
- Isso! – ele comemorou – E agora vem a outra parte.
- A terceira?
- A segunda parte da segunda.
- Vixi.
- Nos chamaram para uma sessão de fotos na Vogue.
- VOGUE? – de novo um berro, preciso parar com isso.

Antes de Harry continuar, um garçom apareceu ao nosso lado com duas taças de champagne e ao lado mesa prata de rodinhas contendo uns dez tipos de chá. O cheiro quentinho era delicioso, mas a essa altura do campeonato eu nem sabia o que ia pedir.

- Senhorita, seu champagne – ele colocou a taça na minha frente, agradeci e vi Harry rindo com minha formalidade – Como gostaria do seu chá?
- Co-como? – olhei pra Harry pedindo ajuda – Meu chá?
- Água ou leite – ele me informou.
- Ah, sim. Hm... Leite? – pedi meio perguntando, Harry fez ‘joinha’ com a mão indicando que havia feito uma boa escolha.
- E qual o tipo de chá? – novamente o garçom educado com aquele sotaque inglês super carregado. Eu me acostumei ao sotaque dos meninos e das pessoas da escola, não dessas coisas mais elegantes. Devia ter assistido mais filmes ingleses.
- É...
- Maracujá com hortelã e cidra – Harry falou por mim – Pode servir nas duas xícaras, por favor.
- Como quiserem.

A xícara era baixa e pequena, porém parecia funda por ser larga. Ele primeiro despejou uma quantidade boa de leite ao fundo, parecia que tinham colocado algodão de tão perfeito e branquinho que ficou. Fez o mesmo com na xícara deHarry e, depois, veio com o bule quente e prata com o desenho da Rainha do lado e colocou o chá laranja e fumegante primeiro para mim e depois pra Harry. Estendeu uma das colheres de prata para mim e pediu para eu mexer e depois provar, para ver se precisaria de mais açúcar ou não. Falando sério, ERA MUITA FRESCURA!

- Desculpa perguntar – falei depois de experimentar meu chá e constatar que estava delicioso – Mas por que o leite? Eu sei que tem as duas opções, água ou leite, mas é que é costume tomar com leite, estou certa?
- Sim, está – o garçom sorriu – A senhorita não é britânica, não é?
- Brasileira.
- Claro, claro – ele riu – Nos tempos da Rainha Vitória, era costumeiro tomar chá com leite porque o leite, além de quebrar a citricidade dos chás de outrora, também protegia a porcelana do líquido quente... – socorro, que termos são esses? 

Ele falou e explicou por uns cinco minutos. Harry bebericava o chá e ria pra mim, chutando minha perna por debaixo da mesa; ai, éramos tão maduros.

- Mais alguma dúvida?
- Não, muito obrigada pela explicação tão cheia de detalhes – respondi, me forçando para não começar a rir ali mesmo – Se me permite perguntar, qual seu nome?
- Smith – claro, tinha outro nome pra ser? – Precisam de mais alguma coisa?
- As bailarinas com a comida demoram pra chegar? – Harry perguntou.
- Vou providenciar imediatamente.
- Obrigada – e assim, “Smith” saiu. Não me importei, caí na gargalhada ali mesmo.
- Nunca, nunca mais você vai me trazer pra cá, estamos combinados?
- Você tinha que conhecer o famoso chá da tarde inglês! Estou te fazendo um favor.
- Me chamasse pra sua casa e se vestisse de garçom, Harry.
- Uau, fantasia? 
- Não imbecil, informalidade – eu ri.
- Com as coisas que eu tenho pra te falar, eu precisava te trazer em um lugar onde você não gritasse, coisa que pelo visto não tá dando certo.
- Gritei uma vez!
- Três – ele riu e terminou de tomar o chá. Nem tinha tocado no meu – Posso continuar falando?
- Vai, fala – dispensei o chá, eu precisava de champagne.
- Vogue – ele riu – Vamos fazer um edital na Vogue.
- Bacana – virei quase a taça de champagne toda de uma vez – Querem que eu fotografe também?
- Não, amorzinho – ele disse usando termos no diminutivo, legal – Nós, quando eu digo, não sou eu e os meninos. Sou eu e – ele tossiu – Você.

Dei graças a Deus que já tinha terminado de tomar o champagne, caso contrário eu ia babar e colocar tudo pra fora ali mesmo. Acabei tossindo e tendo que virar o rosto pra não passar tanta vergonha assim na frente do Harry. Meu estômago embrulhou e eu fiquei com a visão turva e não era por culpa do álcool. Me virei pra ele e o encontrei sorrindo como se não tivesse falado nada demais. Filho da puta! Filho da puta!

- Você recusou, é ÓBVIO! – eu disse, limpando a boca e pedindo mais champagne ao garçom – Porque você me conhece e sabe que eu nunca faria um photoshoot...
- E entrevista.
- QUÊ?
- O tom, olha o tom.
Harry, tá doido? Chapado?
Rhanna, quer se acalmar? Pensei que te trazendo ao Ritz eu ia ficar meio livre dos seus ataques – ele riu e tomou um pouco de champagne – Qual o problema?
- Preciso de ar, preciso de ar. VOGUE?
- Teen Vogue, esqueci-me de falar o Teen na frente.
- Bela diferença.
- Hey, Demi Lovato e Joe Jonas já fotografaram juntos pra Teen Vogue.
- Os dois são do show business, e eram namorados na época.
- Hello? – ele apontou pra nós dois – E eu e você somos o que?
- Namorados – respondi – Você famoso, eu não.
- E lá vamos nós com essa conversa chata de novo!
- Ei, não é chata – suspirei – Olha, eu sei que você pode estar querendo fazer isso pra, sei lá, me ajudar, mas eu não gosto! O fato de eu ser sua namorada não muda o fato que eu odeio me aparecer, odeio. Talvez esse seja o motivo de eu ter escolhido uma profissão onde eu fico atrás, no making off.
- E mesmo você não aparecendo, você é motivo de fofoca por todo o fandom da minha banda, será que você não gostaria de mostrar a verdadeira Rhanna pra elas? Como podem falar de alguém que não conhecem? E nem adianta me olhar desse jeito ‘eu não me importo’, porque eu sei que você se importa.
- Nunca disse que não me importava – bufei.
- É uma entrevista e algumas fotos. Quero mostrar pra todo mundo que escolhi a menina certa pra mim e que você é linda, absurdamente linda.
- Pra que provar isso? Você saber já não é bom o bastante?
- Nem você admite isso pra si mesma, Rhanninha – ele parecia cansado – Olha, só pensa no assunto, ok?
- Ok – por dentro eu gritava pra mim mesma que não ia pensar em nada, tinha minha ideia bem formada. Eu não ia e ponto final.

As bailarinas com os quitutes chegaram bem rápido conforme o previsto, e pra minha surpresa, nem Harry queria comer. Não sei o que ele tinha na cabeça quando pensou que eu ia aceitar essa entrevista pra Teen Vogue, será que ele não me conhece bem? Lembro-se de uma entrevista que a Dani Jonas disse a respeito do seu casamento com Kevin; algo do tipo ‘o fato de ele ser famoso não implica em eu ser famosa com ele’, o que eu acho que todos esses artistas que namoram ‘pessoas comuns’ deveriam aceitar. Não é drama, é só, sei lá o que. Nem eu consigo colocar em palavras o que eu to sentindo agora, eu não quero e pronto.

Terminamos de comer em silêncio, saímos do Ritz em silêncio até chegarmos à porta. Quinze meninas estavam ali e os seguranças tentavam controlá-las, e não estavam sendo felizes com isso. As meninas gritavam, choravam e tremiam – tava frio pra caramba – e mesmo assim não saiam de lá por nada. Não me assustei, já estava me acostumando com isso. Junto com elas, alguns fotógrafos e jornalistas também estavam ali. Percebi Harry ficar tenso ao meu lado e colocar as duas mãos nos bolsos do paletó... Sério que agora ele vai sair sem me dar as mãos? Na frente delas e desse povo todo? Tudo o que eu queria, tudo!

- Vai falar com elas? – perguntei apertando o cachecol dele ao redor do meu pescoço enquanto esperávamos o carro – Elas estão aqui vai saber a quanto tempo esperando por você.
- Não estou no clima – ele disse entre dentes enquanto sorria e acenava de longe.
Harry, vai lá. São poucas.
- Agora as fãs não são um problema?
- Eu nunca disse que elas eram um problema – me senti ofendida – Quer saber, se quiser ficar aqui com essa cara de bosta, o problema é seu – cruzei os braços e engoli a seco. Elas ainda estavam lá, olhando meio perdidas para mim eHarry; eu estava me segurando para não empurrá-lo logo e acabar com essa gritaria.
- Seu carro está chegando, Sr Styles.
- Obrigado – ele agradeceu e voltou a encarar o chão – Eu não vou lá sozinho.
- Ok, quer que eu vá junto? – eu não queria ir, nunca gosto muito de me interagir com elas, mas... – Eu posso tirar as fotos.
- Você sabe que elas gostam de você, não sabem? – ele sorriu com os lábios fechados e tirou uma das mãos do bolso – Que elas não são tão ruins assim?
- Eu sei – sorri – Vamos logo – peguei sua mão e lá fomos ao encontro das fãs.

As meninas aumentaram o furor quando chegamos, e os seguranças tiveram mesmo que mostrar serviço. Harry foi de uma a uma conversando, sorrindo, tirando fotos e dando autógrafos. Eu fiquei de longe com os braços cruzados – juro que era por culpa do frio – só observando. Uma menina pequena e com uns catorze anos acenou pra mim com o celular, percebi que ela estava gravando. Sorri e acenei de volta, fazendo com que ela e sua amiga soltassem gritinhos e começassem a chamar meu nome. Não estava no clima de ir lá, ia parecer antipatia se eu ficasse aqui quietinha?

Rhanna, Rhanna! Por favor, vem aqui! – ela me chamava. Harry se virou pra mim sorrindo e também me chamou – Uma foto, por favor.
- Ai Deus... – cocei a cabeça e fui até as meninas – Oi, tudo bem?
- CARA, VOCÊ É MUITO LINDA! – elas berraram. Mas poxa, eu tava na frente delas, precisava gritar? Eu ri – Posso tirar uma foto com você?
- Tem certeza? – eu fiz careta e vi Harry se prostrar ao meu lado.
- Quer que eu tire, meninas? – ele perguntou. Falando daquele jeito, quer matar as menininhas, coitadas – Posso ser o fotógrafo hoje.
- AI MEU DEUS, ELE VAI PEGAR NO MEU CELULAR!
- DÁ LOGO PRA ELE, DÁ LOGO PRA ELE!
- Posso pegar? – perguntei pedindo o celular, a menina me entregou tremendo e um pouco chorosa – Harry?
- Ok – ele pegou o Ipod e, primeiro bateu uma foto de si mesmo fazendo as meninas gritarem ainda mais, depois virou pra nós e bateu nossa foto – Prontinho.
- Deus, Deus do céu, vocês são perfeitos – ela pegou a celular – EU TO HORRÍVEL!
- Não está, não – respondi, sorrindo.

Harry foi falar com outras fãs e eu me afastei, depois que eu vi que as meninas ficaram muito contentes com esse pouco contato. Quando me virei pra ir falar com Harry, avisar que o carro tinha chego, vi uma coisinha transparente de plástico vindo na minha direção. Aquilo era uma garrafa?

- ABAIXAAA!!!
Sim, era uma garrafa.

- Você tá bem?
- QUEM FEZ ISSO?
- QUEM JOGOU?
- Machucou?
Rhanna? Rhanninha! – era a voz de Harry, a única que eu consegui distinguir – Babe, você tá legal? Te acertou?
- Não, não – estava de boca aberta olhando pra garrafinha de plástico no chão – Não pegou em mim, alguém gritou pra eu abaixar e eu abaixei.
- Sério que tentaram de acertar? – ele me abraçou pelos ombros e olhou pra fãs, procurando alguma que se entregasse – Vamos embora.
- Tá tudo bem, Harry.
- Não está, não – ele parecia bravo – Tentaram jogar uma garrafa de água em você, pra que?
- FOI ELA, FOI ELA, FOI ELA! – algumas meninas da frente gritavam, apontando pra uma ruiva lá no fundo que parecia bem sem graça – FOI ELA, GENTE!
- Tá conseguindo ver quem foi?
- Eu não quero ver quem foi – o puxei pela manga do paletó – O carro chegou, vamos logo pra casa, por favor.
- Mas, Rhanninha...
- Por favor! – implorei.
- Ok – ele respirou pesado, me abraçou e foi embora, falando um tchau geral pras meninas que estava ali e, procurando novamente algum culpado.

Passei de cabeça baixa perto dos fotógrafos que me bombardearam de perguntas querendo saber se eu estava bem e se isso era algo que acontecia todo dia. Só enterrei minha cabeça no pescoço como uma tartaruga e fui até o carro, nem esperei Harry abrir a porta pra mim. E ainda fui pro lado errado, EU NUNCA VOU APRENDER A ENTRAR NO LADO CERTO!

Assim que entramos e Harry deu a partida, tirei com força o cachecol e o joguei no banco de trás. Prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto e comecei a me abanar como doida, aumentando o ar condicionado. E de novo, repito que estava frio pra caralho. Harry me olhou de lado sem entender, só foi perceber o que estava acontecendo quando eu, em uma crise de doida, comecei a rir. Mas rir de forma histérica, daquele tipo de risada que você tem em uma roda de amigos quando alguém conta uma coisa tonta e bem engraçada, algo como “homem bonito pra mim, caiu na água e fez ‘TIBUM’ eu to pegando”, uma amiga minha soltou isso um dia. Não consegui parar de rir por uns cinco minutos. Mas é, é isso mesmo que estava acontecendo. Eu, Rhanna Penalva, em um ataque de risos.

Rhanna?
- Oi, – falei parando de rir aos poucos e respirando fundo – Ai, ai! Olha como a vida é irônica, Harry, assim como aquela música Ironic, da Alanis, conhece?
- A-ham...?
- Você me diz “Você sabe que elas gostam de você, não sabem? Que elas não são tão ruins assim?” e PIMBA, eu levo uma quase garrafada na cabeça; a vida é muito doida mesmo.
- Tá achando tudo isso engraçado? – ele parecia bravo, era hora de parar de rir? – Você podia ter se machucado, e feio.
Harry, eu vou em show desde que me entendo por gente, sabe quantas garrafas eu já levei na cabeça? VÁRIAS!
- De propósito?
- Claro que sim, eu geralmente subo no ombro dos meus amigos pra ver o show, e tem um Zé Mané que não curte e me taca uma garrafa, mas de boa – dei de ombros.
- Você, oficialmente, não é normal – ele riu, mas foi um riso nervoso.
- Olha – respirei fundo – Não vou falar que super feliz com isso, porque não estou. Isso só provou que tem muita fã pirada por aí que pode fazer qualquer coisa pelo ídolo, e qualquer coisa mesmo. Eu me assustei, óbvio que sim, mas com tanta coisa que já me aprontaram, uma garrafa a mais ou a menos na cabeça não vai fazer tanta diferença, é só mais uma experiência pra contar – eu sorri – E quer saber? Seria uma ótima coisa pra falar na nossa entrevista – eu sorri – Você sabe? Pra Teen Vogue.
- Qu-quê? – Harry não sabia se olhava pra mim ou pro trânsito – Tá falando sério?
- Estou – sorri e estiquei minha mão a fim de pegar a dele – Se você acha que precisam me conhecer melhor, por que não?
- Nossa, isso... – ele sorriu lindamente – Obrigado, Rhanninha.
- De nada – peguei sua mão e a beijei – Mas tipo, a entrevista vai ser com nós dois juntos? E eu vou poder dar meus palpites nas fotos?
- Isso eu não sei, mas amanhã eu vou pedir pra alguém ligar lá e nos passar as informações. E sim, você pode dar palpites nas fotos.
- Agora sim – eu ri.

Eu ia perguntar mais alguma coisa, mas meu celular começou a vibrar. Uma, duas... Ok, não era mensagem, era alguém me ligando. Peguei com a maior preguiça, a única pessoa que costumava me ligar era o Harry, e isso é o primeiro indício que mostra que você está em um relacionamento dependente demais. Enfim, era Ana.

Aninha?
- VOCÊ TÁ BEM? TEM VÍDEO E GIF PRA TUDO QUE É LADO DESSE TUMBLR!
- A garrafinha?
- NÃO BRINCA COM COISA SÉRIA.
- Não me acertou, sua desesperada. Alguém mandou eu me abaixar e deu certo, fez só ventinho no meu cabelo – respondi meio rindo, Harry fez careta.
- Rhanna, onde vocês estavam? Como assim? Não tinha segurança não? O Paul não para de ligar pros meninos querendo falar com o Harry, ele não pode simplesmente sair assim e não dizer onde vai.
- Nós fomos ao Ritz e tinha segurança lá fora, mas quem vai controlar uma garrafinha voadora? Meio impossível, né?
- Cara, se tivesse te acertado...
- ELA TÁ BEM?
- CADÊ A DESGRAÇA QUE ELA CHAMA DE NAMORADO?
Zayn? Louis? – perguntei ouvindo claramente a voz dos dois, Harry me olhou intrigado – Acho que estou no viva-voz.
- Quem tá aí?
- Ao todo Ana, Zayn e Louis.
- E Niall Horan.
- Ok, e o Niall – respondi ao ouvir a voz dele – Gente, estamos chegando em casa e conversamos em breve. Tá tudo bem, eu to viva e sem maiores danos.
- Danos seu namorado vai ter quando chegar aqui. O Paul tá querendo arrebentar a cara do Harry por sair sem falar nada.
- E o que o Paul ia fazer? Dar um mortal no ar e pegar a garrafa? Por favor, né?
- O fato de ele estar lá já é uma proteção, Rhanna.
- Ai, tá bom, Ana – bufei – Até daqui a pouco – e desliguei o telefone.

Ia abrir a boca pra falar alguma coisa pra Harry, mas novamente meu celular tocou.

- Caraca! – ele comentou rindo – Tem muita gente preocupada com você.
- É – olhei no visor – Agora ferrou, é minha mãe.
- Eita – Harry riu – Manda beijo.
- Tá, tá – atendi – Mãe? – perguntei em portugês, Harry fez de novo uma careta porque sabia que não ia entender a conversa.
- Graças a Deus, to tentando ligar no seu celular o dia todo, onde você estava?
- Ehr... Com o Harry – respondi meio tímida. Era estranho falar dele pra minha mãe.
- Imaginei – ela suspirou – Escuta, encaminhei hoje pra você uma correspondência que chegou aqui em casa, parecia urgente.
- Da bolsa? – fiquei preocupada.
- Não, não. A papelada da bolsa chegou também o que faltava e já encaminhamos direto pra escola, não te falaram nada não?
- Não – dei de ombros – Que correspondência urgente é essa?
- Acho que é de uma escola de fotografia aqui do Brasil – ouvi barulhos de papéis sendo rasgados ou amassados – Miriam alguma coisa.
- Miriam? – vasculhei no meu cérebro esse nome – É professora de alguma escola ou alguém que eu conheço?
- Acho difícil, você nunca trabalhou aqui no Brasil.
- Isso é verdade – mordi os lábios – Você leu o que era essa correspondência ou só me enviou.
- Bom...
- MÃE!
- Eu abri, oras! Você sabe que eu abro suas coisas, ainda mais que você está em outro país, vai que era algo importante.
- E era algo importante?
- Sim, senhora.
- O QUÊ?
- Eu. Não. Lembro. – ela disse bem pausada, sabia que estava mentindo.
- Para de mentir pra mim, mãe. O que foi?
- Quão bem conhecida você é no seu ramo?
- Aqui no Reino Unido? Sei lá, tenho umas fotos em uma revista e no site do McFly, mas não tenho um nome ainda, se é isso o que a senhora quer saber.
- Acho que você andou chamando a atenção por aqui, filha – ela parecia gostar de falar isso.
- O que tinha nessa carta, mãe? – agora eu estava preocupada – Alguma proposta?
- A carta chega em mais ou menos uma semana. Abra-a, leia-a com... Como você fala mesmo? Coração aberto e...
- Coração e mente abertos – bufei – Pelo visto eu não vou gostar da notícia.
- Não tem que gostar – agora ela voltou com seu tom de mamãe – Tenho que desligar, porque a ligação fica cara, tem como entrar no skype mais tarde?
- Tem, sim – suspirei – Mãe, só me responde uma coisa.
- O quê?
- Vai atrapalhar meu futuro?
- Depende do que você interpreta como ‘atrapalhar’ – e sendo assim desligamos.

Fiquei batucando o celular nas mãos pensando nessas palavras. Pesquisei em meu cérebro por esse nome, mas nada aparecia. Até que... Ah não! MIRIAM, MIRIAM REZENDE! Puta que pariu!

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