Gotta be 36 & 37
Capítulo 36
- Você tá GATAAA!!!! – Liam dizia pela quinta vez enquanto caminhávamos na direção de uma feira ao ar livre que acontecia todo final de semana nas ruas de Londres.
- São essas as fotos que vão estar na revista? – Zayn pegou meu celular e também começou a vê-las – Porra, estão de parabéns!
- Não sei se vão ser exatamente essas, mas acho que... Ah, sei lá! – eu ri, pegando meu celular de volta e o colocando no bolso – Gostaram?
- Por mim, a revista seria apenas sobre você, não aguento mais ver fotos do Harry em tudo o que é lugar – Liam riu e recebeu um peteleco na orelha do meu namorado, nos fazendo rir – To falando a verdade! Te vejo todo santo dia, trabalho com você, ainda tenho que te aturar pagando de galã em revista?
- Supera isso, Payne – Harry respondeu, me abraçando pelos ombros e beijando meus cabelos.
- Supera isso... – ele repetiu pra si mesmo e nós rimos – Cadê o resto da gangue?
- Não vão vir – Zayn suspirou – A Aninha tá bem gripada, Niall não gosta das feiras e Louis deve tá dormindo, uma hora dessas – ele olhou em seu relógio – Certeza que ele está dormindo.
- Niall e Louis precisam de namoradas – eu falei, e os três garotos olharam pra mim, surpresos - Falei alguma merda?
- O Niall ainda gosta de você e temos uma leve certeza que o Louis é gay – Harry respondeu como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
- Eu devo ficar tranquila com o Niall ainda gostando de mim ou com Louis sendo gay?
- Louis não ééééé gay, é só um jeito de brincarmos, porque ele nunca arranja namorada, é muito exigente – Liam deu de ombros – Chega a ser chato.
- Reclama demais? – perguntei.
- Aham, o tempo todo.
- E o Niall? Pensei que ele tivesse superado essa fase...
- Superou – Zayn disse – É que ele de vez em quando tem recaída, mas nada grave.
- Tem tanta fã gata, não entendo o motivo da solteirice.
- Louis não quer fã nossa – Harry riu – Sei lá se ele quer de verdade uma namorada.
- Socorro!
Os meninos não costumavam ir à feira com tanta frequência, mas eles tinham uma leve ideia que aqui não teria tantas fãs. Porém, Paul estava o tempo todo nos vigiando e apontando quando algum fotógrafo ou fã aparecia. Eles pararam algumas vezes para tirar fotos, dar autógrafos e conversarem com fãs, mas como era previsto, aqui não tinha tanta gente. As feiras eram mais alternativas e tinha de tudo, desde comida até roupa, sapatos e discos antigos. Zayn e Harry ficaram um bom tempo em uma tenda indiana vendo as roupas e sapatos, achando o máximo se eles pudessem usar aquelas coisas na turnê, mas claro que ninguém ia deixar. Honestamente falando, nem eu ia deixar. Como os dois ficaram um bom tempo perdidos por ali, Liam e eu saímos para uma outra tenda, onde tinha um bom cheiro de café moído na hora. Com esse frio, era tudo o que eu estava precisando no momento.
- E então, como andam as coisas entre você e a Lorelai? – perguntei com um sorriso brincalhão no rosto – Eu sei que tem alguma coisinha de novo entre vocês, mas como faz um bom tempo que não converso com ela, não posso concretizar nada.
- Eita, porra! – ele riu e bebericou o café – Tá indo, Rhanninha.
- Indo pra onde, Liam? – nos sentamos em um banco atrás da tenda – Tá enrolando a menina?
- Claro que não, Rhanninha, eu adoro ela – ele sorriu de leve – Mas é que, sei lá. Nós não tínhamos um relacionamento igual a Aninha e o Zayn, o nosso era mais na base da diversão. Não sinto que devo alguma coisa pra Lary, entendeu?
- Entendi... Mas e ela?
- Ela entende meu ponto de vista e respeita. Lary é mais velha, mais madura e agora não to com tempo pra ter namorada.
- Sem tempo? – eu ri – Dois dos integrantes da banda tem namorada, qual o problema em você se comprometer também?
- Você está querendo ver todo mundo namorando, é isso mesmo?
- Acho bonitinho vocês dois juntos, só isso.
- Mesmo depois daquele esporro que você deu nela na frente da casa do Zayn? Você ainda acha nós dois bonitinhos? – ele deu uma risada de moleque e eu comecei a gargalhar.
- Águas passadas, Liam, águas passadas. Assim como eu tenho certeza absoluta de que você consegue se dar bem com o Zayn apesar de tudo – sorri.
- Não foi fácil, e você sabe disso – ele me encarou – Eu amo o Zayn, eu não amo a Lorelai.
- Essa doeu até em mim – fiz careta, ele sorriu, um pouco mais contido – Pensei que vocês dois fossem algo mais...
- Rhanninha, as únicas pessoas apaixonadas na banda são o Zayn e o Harry. O que o Zayn fez foi uma coisa idiota de uma noite, mas ele ama a Aninha mais do que qualquer coisa, e se ele pudesse apagar aquilo, ele apagaria. O que eu senti foi traição por parte dele, e não da Lary, eu não a amo. De verdade.
- Me desculpa tocar nesse assunto de novo, Liam. Minha intenção foi só ajudar, desculpa.
- Fica tranquila – ele me abraçou, beijando minha testa – Você pode perguntar o que quiser, não me importo.
- Tá bom – sorri – A sessão pode continuar?
- Que sessão?
- De perguntas – eu ri – Pode?
- Que mais você quer saber?
- Você já se apaixonou, Liam?
- Bom... – ele molhou os lábios com café e depois passou a língua por eles, desviou seu olhar do meu e olhou um casal de crianças na nossa frente – Amei duas vezes, quando era bem pequeno. Nas duas eu me fodi, porque as meninas me trataram como lixo.
- Quando era pequeno?
- Eu não era tão pequeno, mas não tinha muita noção das coisas. Só sei que foi complicado, eu tava começando a me apaixonar, e as duas foram e acabaram com tudo.
- Diria que é bonitinho ver você falando isso, mas pelo visto te causou alguns traumas pessoais – eu ri e ele me olhou engraçado.
- Como assim, traumas?
- Não é porque duas garotas “crianças” não te amaram que você não pode permitir se amar de novo. Você canta músicas de amor e não ama? Não combina.
- Não é que eu não quero amar, Rhanninha, é claro que quero!
- Então se permita – eu sorri e o beijei no rosto – Posso ter tido meus motivos pra brigar com a Lorelai, e, acredite, eu tive! Mas ela é uma garota incrível, e você paga pau pra ela descaradamente desde a primeira vez que a viu.
- Rhanninha...
- Vai, Liam, amolece esse seu coração – nós dois rimos – Você é lindo e uma pessoa adorável. Não menti quando eu disse que namoraria você, se o Harry me deixasse, acredite em mim – ele me olhou sorrindo e deu aquela piscadinha básica – Mas enfim... Quero dizer tenho certeza que será um namorado maravilhoso, e a Lary é a garota ideal pra sentir isso.
- Você acha mesmo?
- Tenho quase certeza – sorri.
Liam e eu ficamos em um silêncio gostoso por um tempo, acho que ele ficou pensando nas coisas que eu falei, e eu estava tentando entender de onde eu agora entendia de relacionamentos e podia sair por aí dando conselhos para as pessoas. Era estranho pensar que parte de mim queria os meninos bem encaminhados, como se eu fosse uma mãe que estivesse indo embora e queria ver meus filhos em ordem. Coloquei a mão dentro da minha jaqueta e senti a carta ali. Eu, na verdade, a levava para todos os lados com medo de que, se eu deixasse em casa, a Aninha ou um dos meninos pudesse ver. E mesmo com todos esses cuidados, ainda tenho a impressão que Harry sabia da existência dela.
Metade minha queria ir embora, a outra metade me batia e falava que isso era loucura e eu não podia jogar tudo pro lado. Eu precisava de ajuda, e que não fosse por parte do Harry, Aninha ou minha mãe... Todos eles iam falar pra eu voltar pro Brasil e “ser feliz”, como se eu não estivesse sendo feliz aqui na Inglaterra. Talvez se, eu contasse para outra pessoa, essa tal pessoa poderia me ajudar. Liam? Ele era uma opção, certo?
- Liam...?
- Fala.
- Se eu te contar um segredo, você jura que não vai abrir a boca por nada nesse mundo?
- O Harry sabe desse segredo ou é o tipo de coisa que você não pode contar pro namorado?
- Ele não sabe, e agora eu não quero que ele saiba.
- Você o traiu? – Liam arregalou os olhos – Brigou com fã?
- Cala a boca, caralho! Me deixa falar primeiro – dei um tapa nos seus ombros – Primeiro, me promete que não vai contar nada.
- Vou me arrepender disso depois, mas... Tá, prometo.
- Obrigada – suspirei. Fechando os olhos, tirei a carta do bolso e entreguei em suas mãos – Só abre.
- Que é isso? – ele pegou, desdobrando três vezes o pedaço de papel – Não está em inglês.
- Está em português, minha mãe me enviou – suspirei.
- Sua família tá bem? – ele parecia preocupado.
- Aham, não tem nada com eles – cocei a nuca – Essa é uma carta proposta.
- Carta... Proposta? – ele me olhou, desconfiado – De quem?
- De uma fotógrafa brasileira – suspirei – Me convidando a ir trabalhar com ela.
Eu parei de respirar e senti Liam fazer o mesmo. Ele olhava pra mim e depois para o pedaço de papel em suas mãos; vi a carta tremer e seus olhos tomarem um tom rosa. Ele desviou o olhar dos meus e respirou fundo, voltando a me encarar segundos depois.
- Você aceitou? – sua voz soava embargada – Já deu sua resposta?
- Ainda não – eu estava do mesmo jeito – Liam, se você começar a chorar, eu vou começar a chorar! Eu pensei que você fosse o durão da banda, se controla!
- Eu não estou chorando – me respondeu entre os dentes – Só emocionado com sua conquista.
- Vem aqui – abri meus braços – Por favor.
- Que porra, Rhanninha! – ele me abraçou, colocando a cabeça acima da minha e me apertando em seus braços, beijando o topo de minha cabeça – Cara, eu não quero que você vá embora, mas não posso dizer isso pra você.
- Acabou de falar, Liam – eu sorri.
- Ignora e esquece – nos soltamos do abraço – Quando você vai contar isso aos outros? Especialmente ao Harry.
- Nunca – eu ri – Não quero voltar pro Brasil, Liam! Que sentido teria em tudo isso? Meu contrato diz quinhentos dias, e até agora eu ainda não vivi quinhentos dias aqui.
- Você tem um contrato que diz quantos dias você vai ficar aqui?
- É a bolsa, né? – dei de ombros – Se eu voltar, eu perco a bolsa e não tem como eu retomar os estudos de onde eu parei.
- Então por que essa moça pediu pra trabalhar com você?
- Ela pediu pra eu trabalhar com ela, Liam – o corrigi, rindo – Na verdade, eu seria sua estagiária e terminaria o curso por lá, em uma das escolas de fotografia brasileira. O currículo não é o mesmo da escola aqui, mas eu não perderia o que já aprendi, entendeu?
- Pra mim, não faz o menor sentido você voltar.
- Exato! Nem pra mim – parecia aliviada – Eu posso muito bem terminar meus estudos aqui e depois voltar e trabalhar com ela.
- Também não gosto dessa opção, porque ao final dela você acaba voltando pro Brasil de qualquer jeito.
- Não tenho condições de me sustentar sozinha, Liam. A bolsa me ajuda com as acomodações, comida e transporte; o que ganho nos trabalhos aleatórios paga poucas coisas, é impossível eu me virar sozinha aqui. Preciso voltar pro Brasil, me estruturar e depois voltar.
- Casa com o Harry – ele riu – Tá, estamos em um assunto sério.
- Sim, estamos – suspirei – Eu não sei o que fazer, Liam, não sei! De qualquer jeito, minha história termina voltando pro Brasil, eu só queria adiar isso mais um pouco.
- E por que você não faz isso?
- Porque essa carta não é apenas uma proposta de emprego e dinheiro garantido pra mim – apontei para o papel ainda em posse dele – É minha família contando comigo e uma chance única. Trabalhar com a Miriam é uma em um milhão, sabe-se Deus se vou conseguir algo pra mim nesse nível quando eu voltar.
Liam me encarou sem saber realmente o que poderia falar. Bem lá no fundo, eu nunca esperava estar tendo essa conversa com ele, e muito menos estar passando por essa situação. Estava feliz porque ele havia sido sincero, disse com todas as letras que não queria que eu fosse embora, coisa que Harry não faria. Harry ia usar a razão, ia falar que eu precisava ir embora porque era meu futuro e toda essa parnafenalha... E eu não queria ouvir isso no momento.
- Aí estão vocês! – Zayn apareceu, todo sorridente, segurando duas sacolas – Pensei que tinham ido embora.
- Vocês demoraram demais e tá muito frio – sorri – Que comprou?
- Umas blusas estranhas, e o Harry ficou tentando pechinchar um chapéu.
- Pechinchar? – eu e Liam falamos juntos, Harry apareceu ao fundo com mais sacolas que Zayn.
- Esse lugar é INCRÍVEL! – ele riu – A última vez que eu vim aqui foi antes do XFactor, tinha me esquecido o quão legal é comprar as coisas nessa feira.
- Você pechinchou, ou eu ouvi errado? – falei, rindo – O cara que tem foto comprando roupa na loja Armani tá pedindo esmola numa feira?
- Faz parte da arte de vir aqui, paixão – ele veio até mim e me deu um selinho – Então, do que conversavam?
- Da tour, o novo CD, essas coisas – Liam deu de ombros – E de como a Rhanna quer me ver namorando a Lorelai.
- Ah, que bonitinho – Harry riu, sentando no meu colo. Ele não era exatamente leve, diga-se de passagem – E vocês vão voltar?
- Ainda não sei, se depender dos conselhos da sua namorada, já estou de casamento marcado.
- Não é beeem assim – eu ri, colocando minhas mãos ao redor da cintura de Harry e encostando minha cabeça em suas costas – Só acho que vocês dois fariam um par perfeito e fofo.
- Ana não vai gostar nada, nada se vocês dois voltarem – Zayn deu de ombros – Ela não gostava dela antes, não gosta dela agora e não vai gostar da Lary nunca.
- Me arriscaria a dizer que ela não tem motivos, mas em vista dos últimos acontecimentos, ela tem, sim – eu sorri, e Zayn fez careta – Mas ela aos poucos vai aceitar, pelo menos eu espero que você não faça nenhuma besteira, certo, Zayn?
- Certo! – ele bateu continência – E então, vamos continuar o passeio? Ainda tem muita barraca pra visitar e muita comida estranha pra experimentar.
- Posso perguntar por que vocês estão fazendo isso? Quase um ano morando aqui e nós nunca viemos a nenhuma feira! – dei dois tapinhas na perna de Harry, fazendo ele se levantar.
- Vamos passar um tempo fora em Nova Iorque – Liam disse, ajudando os meninos com as sacolas – E depois vem Natal, Ano Novo, nova tour... Não vamos ter tempo pra fazer essas coisas bobas, hoje é como se fosse nosso último dia do ano.
- Ai que horror, Payne!
- Mas é verdade, babe – Harry me abraçou – Acho que cada um vai pra um canto depois de Nova Iorque, não sei se vai dar pra passar o natal junto e nem o ano novo, então agora é o tempo que nos resta, sabe?
- Entendi... – suspirei – Então essa pode ser a última vez que vamos sair juntos?
- Mais ou menos, sim – Zayn sorriu – Mas não pense que vai se ver livre de nós com tanta facilidade, Rhanninha! Ainda temos nossos celulares.
- Há, eu sabia – eu ri, e nós voltamos a caminhar pela feira.
Liam me encarou e deu uma piscada de leve, apontando para seu bolso... Vi que a carta estava ali. Harry estava abraçado comigo, mas conversando com Zayn, Liam veio rápido ao meu lado e cochichou no meu ouvido:
“Você não vai se ver livre de nós tão cedo”
Na feira, você pode encontrar absolutamente de tudo! Desde barracas com discos antigos de vinil até uma super câmera fotográficas, daquelas bem antigas. Tive que pedir para os meninos pararem naquela barraca comigo, tinha de todos os tamanhos e jeitos! Era como estar em um micro museu de câmeras, uma mais linda – e mais cara, devo acrescentar – que a outra. O senhor que estava ali era de aspecto oriental. Ao meu ver, me pareceu simpático, já que foi logo pegando autógrafo dos meninos e querendo uma foto com sua “câmera velha com 36 fotos”, achei o máximo. Era Digital, pra quê?
- E quanto é essa aqui? – apontei para uma LENINGRAD, versão 1955!
- E a mocinha sabe que câmera é essa? – o senhor que achava que era simpático me perguntou. Harry ao meu lado tampou a boca com a mão, mas os outros atrás de mim começaram a rir.
- Meu senhor, essa é uma Leningrad, e se meus olhos não mentem, versão da década de cinquenta – passei por ele e fui até essa linda e perfeita obra de arte - Na década de 50, a URSS estava no auge da tecnologia, liderava a conquista espacial, a corrida ao armamento e outras tecnologias. As máquinas fotográficas traduziram esse momento histórico. Lançada em 1955 e produzida apenas em 60.000 exemplares, a Leningrad era uma máquina para os dirigentes do Partido, oferecida a dignitários de outros regimes, mas praticamente fora do alcance do soviete normal – comecei a falar, vendo os meninos arregalarem os olhos, e o senhor, mais ainda - A grande novidade é o design, já com uma curva no lado direito para encaixar melhor a mão, coisa que começaria a aparecer nas máquinas japonesas 30 anos depois – o encarei com um certo respeito. Não sabia se ele era japonês, mas ele era oriental... - Outra grande novidade técnica é o avanço do filme automático por motor de corda, totalmente integrado na máquina e não exterior como nas Leicas. Dotado duma potente mola, era capaz de avançar o rolo 3 imagens por segundo – suspirei – Devo continuar?
- Onde você aprendeu tudo isso? – ele parecia perplexo.
- Sou estudante de fotografia, senhor. É meio que meu dever conhecer os tipos de câmeras, independente de serem dessa década ou não – sorri e dei de ombros. Ao fundo, Harry e os meninos faziam joinha com as mãos e fingiam bater palmas.
- Hm... Se é estudante, me permite fazer então algumas perguntas sobre minhas outras preciosas?
- Com certeza, mas isso seria um teste? – perguntei, na dúvida – Digamos que o senhor quer saber mesmo se eu conheço essas preciosas?
- Exatamente – ele riu de forma bonitinha e me apontou mais uma ao fundo – O que pode me dizer dessa aqui?
- Deixe-me ver... – fui até ela.
Harry veio ao meu lado junto com Liam e Zayn. Os meninos pareciam achar engraçado e perigoso, talvez seja por isso que Harry tenha me abraçado por trás e apertado as mãos ao redor de minha cintura. Ele parecia mais nervoso que eu! Mas, poxa... Essa é minha praia, disso eu não tenho dúvidas, conheço bem o que me colocar na frente.
- Fica calmo, Harry, disso eu entendo – eu sorri.
- Sei disso, mas fico tenso do mesmo jeito – ele beijou meus cabelos.
- Faz quanto tempo que você estuda, Rhanninha? Não aqui em Londres, mas na sua vida inteira? – Zayn perguntou.
- Não sei ao certo, Zayn – sorri – Eu não me lembro de não estudar fotografia. Lá em casa, sempre meu pai ou meu avô tinham alguma câmera em mãos e me deixavam brincar, vamos dizer assim.
- Incrível!
- E então, mocinha?
- Ah tá, me desculpe! – suspirei... Ok, que câmera é essa?
É Canon... Só pode ser Canon...
- Rhanninha? – Harry me chamou – E então?
- É uma Canon?! – cocei a cabeça, ouvindo uma risadinha maldosa atrás de mim do tal oriental que me fez o desafio – Certeza, é uma Canon.
- Qualquer pessoa poderia dizer que é uma Canon.
- Eu não conseguiria! – ouvi Liam responder – Isso nem formato de câmera tem.
- Ai! – o empurrei pelo ombro – Parece uma Bell & Howell, mas eu não tenho certeza...
- BINGO! – ele gritou, e todos nós começamos a rir – Exatamente, pequena! – ele veio até nós e ficou na nossa frente, como um professor dando aula – Uma linda Bell & Howell da década de sessenta.
- Perfeita – eu sorri – Um tanto quanto difícil de ser identificada, mas linda.
- Bell & Howell era o antigo nome Canon nos Estados Unidos, sabia disso?
- De maneira alguma – sorri – Então, tecnicamente o nome dela não é o nome do modelo, e, sim, da marca?
- Aham! – Harry bateu nas minhas costas de leve, me dando parabéns, Liam e Zayn sorriam pra mim – Querem saber um pouco da história dessa bonequinha?
- Claro! – eu respondi por mim – Quero dizer, vocês topam?
- Por mim, tudo bem – Zayn sorriu, os outros meninos também concordaram.
- Então vamos lá – ele arregaçou as mangas - Não é um telemóvel primitivo, mas sim uma máquina fotográfica de meio formato
- Tá vendo por que eu não reconheci? Ela não parece uma máquina! – Liam apontava para o objeto, nos fazendo rir. Sabia que ele adorava, no final, estar se sentindo certo com seus pensamentos... Ok, Liam.
- Esta Canon Dial 35 tira o seu nome do verbo "to dial" (discar para ligar) e por ser redondo (dial), criando uma brincadeira com as palavras. Aliás, divertimento na concepção desta máquina é algo que parece não ter faltado. O design lembra um disco de telefone e todo o design é Bauhaus (a forma segue a função). A pega em baixo serve para dar corda ao motor, pois o avanço do rolo era mecanizado. Outra particularidade interessante é o facto do rolo desfilar na vertical, caso raro no 35mm. Esta opção teve como objectivo dar um visor na horizontal quando se pega na máquina, já que a maioria das pessoas fotografa na horizontal. Assim sendo, a Canon evitou um dos pontos menos bons das máquinas de meio formato e das Olympus Pen em particular, que era terem o visor na vertical quando se segurava a maquina horizontalmente.
Minha vontade foi de começar a bater palmas para ele. Esse tipo de conversa, conhecimento a mais do que eu vejo em sala de aula, é tão lindo e incrível que eu poderia ficar aqui por horas e horas, vendo cada um desses objetos, acessórios para câmeras e as próprias câmeras em si. Como dizer adeus pra isso?
- E então, qual vai ser? – Harry me perguntou quando saímos da barraca fotográfica.
- Qual vai ser o quê?
- Qual delas você vai querer?
- Das câmeras? – o olhei assustado – Bebeu, Styles?
- Você se apaixonou por metade daquelas relíquias e não vai levar nenhuma pra casa?
- Não tenho dinheiro, e não me olhe com essa cara de quem pode pagar. Você estava pechinchando algumas horas atrás em uma barraca indiana – nós rimos.
- É diferente, pra você eu não preciso pechinchar.
- Não seja idiota, você sabe que eu nunca ia aceitar isso.
- Você aceitou isso – ele deu um peteleco em minha bússola – Não foi um presente barato.
- Pra mim, tem um significado diferente, o que você disse pra mim aquele dia, não teve como eu negar o presente – sorri, o abraçando e colocando a mão delicadamente em cima do presente mais lindo que ele já havia me dado.
- Ainda lembra o que eu te disse aquele dia? – olhei pra cima e o vi sorrindo.
- Claro que sim – suspirei – Nós estávamos no carro, um dia antes de vocês irem para uma turnê ou divulgação nos Estados Unidos, nós nem namorávamos ainda e você conseguiu me conquistar direitinho dizendo “Não sei o que o universo tinha planejado pra mim naquele dia, mas de um jeito ou de outro ele me fez te encontrar...” – nós paramos de andar, ele ficou parado na minha frente, fazendo carinho em meu rosto e sorrindo para mim – “É engraçado o nome da banda ser ‘One Direction’ porque, a bússola sempre marca apenas para uma direção...”, e então eu respondi...
- Norte – ele completou minha fala, me fazendo corar.
- Ao final, você disse que eu era o seu norte e que tinha que ser eu, e mais ninguém – suspirei, sentindo meu nariz arder bem na pontinha, aquela sensação chata que vem antes de começar a chorar.
You finish my sentences and I think I love you.
(Você termina minhas sentenças e eu acho que te amo)
Não era a primeira vez que Harry terminava uma sentença minha ou uma frase, isso começou a acontecer com bastante frequência depois do quarto mês de namoro, e foi mais ou menos quando eu tive cem por cento de certeza que eu o amava. Alanis já havia cantado isso antes em Princess Familiar, e mais do que nunca a letra da música fazia sentido pra mim. Desde que a ouvi pela primeira vez, sempre quis achar uma pessoa em minha vida que terminasse as minhas falas e pensamentos por mim, apenas pela deliciosa sensação de saber que você e outra pessoa estão conectados, porque vocês se conhecem demais, melhor do que muitos outros casais. E agora eu tinha achado... Harry era meu norte, era minha música da Alanis, era a pessoa que eu queria que terminasse minhas falas e me deixasse sem fala!
- Quando você vai me contar o que tá acontecendo, Rhanninha?
- Como assim? – funguei, literalmente puxando o choro pra dentro. E isso foi muito nojento.
- Você e o Liam hoje, tinha alguma coisa estranha no ar. E não é ciúme, é só o cheiro de alguma coisa que eu não conheço – ele me abraçou pela cintura – Eu sei que está acontecendo alguma coisa, mas não consigo saber o que é. E isso entra naquela coisinha chata de ‘poxa, o Liam sabe e eu não?’.
- Não fica pensando essas coisas, Harry, por favor – o abracei de volta – Tá tudo bem, de verdade.
- Você anda cabisbaixa demais, chorona demais...
- Como você sabe que eu to chorando? – o olhei assustada – Ah, Ana!
- Ela só está preocupada com você.
- E vai fofocar pro meu namorado que eu fico chorando na madrugada.
- Ela não disse que você chora na madrugada, ela disse que você tá chorando com certa regularidade, só isso – ele me encarou – Então é na madrugada?
- Ugh! – fiz careta – Não é nada demais, nada pra se importar.
- Por que você contou pro Liam, e pra mim, não?
- Porque eu odeio ver você com essa cara – fiz bico e coloquei as duas mãos em seu rosto – Confia em mim?
- Rhanninha... – Harry encostou sua testa na minha – A sua bússola também aponta pro Norte?
- Como assim?
- Ela aponta pra mim? – ela abriu os olhos e me encarou – Hein?
- Pergunta idiota, claro que sim! – o soltei – Sério, Harry? Sério que você está me fazendo essa pergunta?
- Eu não faço por mal, é só essa coisa de você sempre poder contar com os outros e não contar comigo. Primeiro foi oNiall, agora o Liam.
- Hey – o peguei pela mão e o fiz me encarar – Eu amo você! Entenda isso de uma vez por todas. É você, e eu seria capaz de fazer qualquer coisa pra não acabar com isso o que nós temos, e se pra isso eu tiver que tomar algumas decisões sem o seu conhecimento, eu vou fazer. E se eu precisar pedir ajuda dos seus amigos, eu também vou fazer; tudo o que eu faço é por amor! Amor a você e a mim, então, eu te peço, confia em mim – soltei sua mão, de novo segurando o choro.
- Tem alguma coisa, não tem? – ele voltou a segurar minha mão – Rhanna, você não vai tomar essa decisão sozinha.
Decisão?
- Como assim? – engoli a seco.
- Rhanninha... – ele suspirou e apertou mais minha mão – Eu não vou falar se você não falar primeiro.
- Vo-Você... Você sabe.
E isso não foi uma pergunta. Soltei sua mão e comecei a chorar ali mesmo.
Não tinha me dado conta, mas um grupo de fãs estava bem na tangente, nos assistindo e tirando fotos e mais fotos, assim como uns paparazzi que pareciam brotar pior que barata no calor. Mas esse não é o problema... O problema é queHarry sabe! Ele sabe da carta, da proposta, da minha ida ao Brasil.
- O que eu sei? – seu olhar era sério e triste – Me responde, o que eu sei?
- Não vou falar, não é pra você saber, e como você sabe?
- Eu agora não sei mais do que estamos falando... – ele fez careta – Rhanna, dá pra ser clara comigo de uma vez?
- Para, não vou conversar sobre isso com você aqui – apontei para os fotógrafos e as fãs – Conversamos em casa.
- Volta aqui! – ele me puxou pelo braço quando eu dei as costas e caminhei na outra direção – Rhanna, o que eu tenho que fazer pra você sentir que pode contar pra mim tudo o que se passa na sua vida? – a voz de Harry era rouca e muito baixa, no intuito, creio eu, das outras pessoas não ouvirem
- Não ser meu namorado – respondi com um sorriso triste – Porque a última pessoa no mundo que eu quero machucar é você, e sabendo disso que eu sei que você já sabe, eu vou te machucar e não quero isso pra nós.
- Quem decide se vai se foder ou não no final sou eu – ele soltou meu braço – Isso é estar em um relacionamento, sabia?
- Novidade pra você, Harry – eu o encarei – Esse é meu primeiro relacionamento.
E agora, eu dei as costas. Ah, que ótimo! Mais uma briguinha com espectadores, em qual revista será que isso vai aparecer amanhã? E as vésperas de um Madison Square Garden?
Londres é uma capital emocionante, eclética, cheia de cor e características próprias. Consegue misturar o novo e o antigo de forma surpreendente. O que a deixa em minha opinião muito mais atraente...
Existe muito que se ver e conhecer por lá, mas para fugir um pouco do óbvio resolvi fazer um post sobre as feiras ao ar livre que na verdade são bancas misturadas a mercados onde se tiver tempo e paciência pode descobrir muita coisa.
Existem centenas delas e muitas parecidas com nossas feiras no Brasil onde encontramos basicamente alimentos, mas muitas outras lhe oferecem isso e muito mais.
Zayn e Liam estavam chamando toda a atenção do mundo no palco central, com várias fãs na frente deles, assim como outros olheiros curiosos. Os dois estavam lendo um guia para turistas sobre todas as feiras disponíveis no Reino Unido, e isso incluía a que estávamos. Era engraçado demais vê-los assim, como duas crianças alegres que pareciam estar no palco pela primeira vez, mexendo com todas as pessoas que passavam ali por perto. Paul já estava ficando mais careca, com tanta menina querendo subir no palco e ele sendo um só, a situação estava ficando complicada. E desde quando Liam eZayn se importam com isso?
- PORTOBELLO ROAD MARKET - Liam gritou – Zayn, meu amigo, o que sabemos sobre essa feira ou mercado?
- Bom, amigo Liam... – Zayn limpou a garganta e abriu o livro que estava segurando em mãos - São 3 ou 4 mercados muito próximos. É basicamente dividida em partes de acordo com interesses, tem áreas onde se encontra pinturas e pratarias, tem a parte de frutas e verduras, roupas novas e usadas e tem uma parte coberta onde o ambiente é mais despojado e pode-se encontrar de tudo. Todos devem tem visto um pedacinho dela no filme "Um lugar chamado Notting Hill", porém já adianto que a livraria não existe e nem nunca existiu, e a porta filmada já foi até repintada! Localiza-se no West side de Londres, na Portobello Road, no bairro Notting Hill (sim, aquele do filme, mas é bom avisar, o Hugh Grant não mora aqui, e a casinha de porta azul pode ser qualquer uma entre centenas – você vai ver). Ao longo da rua, encontram-se brechós, restaurantes, barraquinhas de bugigangas, lojas de antiguidades e milhares de turistas. Embora atraia viajantes de todo o planeta, Portobello Market não é desprezada pelos londoners, que costumam passear e fazer umas comprinhas no local.
- Londoners? – Liam fingiu curiosidade.
- Ah, esse é outro nome dado para os cidadãos londrinos...
Divertia-me vendo os dois pagando de famosos, sendo que eles eram, que nem percebi quando Harry parou ao meu lado. Eu estava meio distante da muvuca de pessoas, encostada em uma tenda de morangos e frutas silvestres... Cômico eu estar perto de uma tenda de comida justo agora, mas o cheiro cítrico estava me acalmando de um jeitinho gostoso e fresco.
Harry não ficou apenas parado ao meu lado, mas ele aos poucos foi pegando dedo por dedo de minha mão, até entrelaçá-los com os dele. Foi quase que impossível eu não começar a chorar ali, enxuguei as lágrimas com as costas da minha outra mão e suspirei alto. Senti-o apertar nossas mãos e levar a minha até seus lábios e ali pousar um beijo delicado e macio, deixando minha mão ali em contato com sua boca por um pouco mais de tempo. Ergui minha cabeça e o olhei,Harry mantinha os olhos fechados e sua respiração era baixa e pesada.
- Harry? – o chamei.
- Bem vinda a um relacionamento – ele me encarou – Onde eu te amo e eu sei que você me ama, e não vai ser uma pequena discussão no meio de uma feira que vai acabar com tudo, entendeu? – ele sorriu de lado – E por favor, não coloque nunca mais a hipótese de eu não ser o seu namorado, entendeu?
- Entendi... – eu ri, um riso meio misturado com a vontade de chorar e novamente aquela alegria que só conseguia ter com ele.
- E, por favor, vamos tirar aqueles dois daquele palco! – Harry riu, apontando para Liam e Zayn – Não vou aguentar a banda indo pro buraco pelo mal comportamento deles.
- Estou achando até bonitinho – sorri, aninhando meu corpo ao dele – Babe?
- Hm?
- Prometo, na hora certa você vai saber – eu disse ao fim.
- Sei disso – ele beijou meu cabelos – Sei disso.
Capítulo 37
- MADISON SQUARE GARDEEEEEEEEEEEEEEEEEN!
Tanto eu, como Ana começamos a gargalhar como duas idiotas. Malik fez aquela cara de total desapontamento quando nós duas, mais Sam e Lucas, levantamos as quatro plaquinhas que ele não queria ver de jeito nenhum:
- GAY
- SUPER GAY
- ULTRA BLASTER GAY
- BICHA
- Que tipo de grito vocês querem que eu dê? – ele baixou o microfone e ficou nos encarando.
- Não o tipo de grito que você dá na cama, meu amor, mas grito de machinho – Aninha falou, e nós rimos mais ainda – Falei demais?
- Como sempre, né, Ana? – eu ri – Sam e Lucas, algum conselho?
- Você está parecendo Avril Lavigne no começo da carreira: voz esganiçada e com uma imagem rock que não lhe pertence – Lucas começou – Seja, simplesmente, Zayn Malik da One Direction e ponto final.
- É isso o que eu estou tentando ser aqui em cima!
- Não tá funcionando, meu bem – Sam sorriu.
Nós quatro, os meninos, a produção, Paul, Jeff (o taxista) e o McFly estávamos na Arena O2 em Londres. One Direction ensaiava para o show no Madison que seria daqui uma semana, e como era um sábado chato e eu não queria ficar em casa estudando, viemos acompanhar os meninos, e eu não podia estar em lugar melhor. Pelo menos por hoje, abandonei minhas câmeras – só levei a Polaroid – e vesti a personalidade da Rhanna, namorada do Harry Styles, e nada mais que isso. Aninha também estava assim, Sam e Lucas se comportavam como namoradas de Louis Tomlison e Niall Horan, já que Liam estava ainda de rolo com Lorelai, mesmo sem ele admitir isso.
- Oi, amor! – Harry sentou-se ao meu lado, me dando um beijo rápido nos lábios e todo feliz, segurando um papel em mãos – Terminamos a setlist.
- Yay, finalmente – sorri – Posso ver?
- Claro, claro – ele parecia cansado, com as bochechas vermelhas e levemente suado. Eu achava uma gracinha quando ele se empolgava nos ensaios – Oi, Aninha e o outro casal aí do lado.
- Oi, Harry – os três responderam formalmente, nos fazendo rir.
- Hm... Você vai ficar muito chateado se eu falar que não conheço cinco músicas do repertório? – perguntei, fazendo careta, ele sorriu.
- Claro que não, e eu até imagino quais sejam.
- Quais são?
- Magic, Truly Madly, She’s not Afraid, Still The One e Irresistible.
- Exatamente – sorri – Aninha, você conhece? – perguntei, mostrando-a o setlist.
- Só não conheço Irresistible – ela olhou pra Harry – É de vocês?
- Sim, nossa e do McFly.
- QUÊ?
- Lembra aquela vez que vocês tiveram que ficar na biblioteca, e eu ligando pra vocês irem até a casa do Tom, que estava rolando um churrasco? Então, nesse dia, Irresistible apareceu – Harry sorriu – E devo dizer que ficou uma música muito bonita.
- Disso eu não tenho a mínima dúvida – suspirei – Vocês vão cantar no Madison?
- Ainda não sabemos, essa é uma setlist provisória. Não podemos fazer a Take Me Home Tour antes do Reino Unido, então vai ser um misto da Up All Night com a atual, entenderam?
- Sim, senhor – Aninha e eu falamos juntas.
- Styles – Niall, do palco, estralou os dedos o chamando atenção – Ensaio, ensaio!
- Ok, ok... – ele me beijou de novo e correu na direção dos meninos.
- Então, hoje vocês vão ficar aqui – Sam olhou para nós duas – Rhanna não surtou pelo McFly, Ana não conhecia uma das músicas; tem alguma coisa muito estranha no ar, e eu não estou gostando nada disso.
- Deixa de ser doido, Sam, não tem nada de estranho – suspirei.
- Elas estão preocupadas porque os bofes estão indo para Nova Iorque! América, lugar onde as fãs são mais doidas e vagabas que no resto do mundo – Lucas sorriu – Eu estou certo, não estou?
- Depois do que aconteceu com o Zayn, no mesmo continente, eu nem me importo de ele ir pra América e transar com todo mundo – ela bufou.
- Aninha, você sabe que ele não vai mais fazer isso, relaxa – eu sorri – Zayn está muito arrependido, e vocês dois agora voltaram às boas, curte o momento e o seu namorado.
- Ai, tá! – ela bufou.
- E você, amorzinho? Tá com essa carinha de bunda por quê?
- Carinha de bunda? – eu ri pro Lucas – Que terminho mais delicado, hein?
- Mas você está com cara de azeda tem umas semanas, desde que você voltou daquele chá da tarde com seu bofe.
- Harry e eu temos brigado algumas vezes, mais do que nós brigamos desde que assumimos o namoro – olhei pra eles. – Eu estou com muita coisa na cabeça e não estou me abrindo, sabe? Acho que isso está causando certo stress pra nós dois.
- Não está falando com ele? – Aninha pareceu preocupada, como se ela também soubesse de alguma coisa – É algo muito importante?
- Pode ser que sim – mordi os lábios. – Parem de me fazer perguntas, por favor.
- Rhanninha – Aninha pegou em minha mão, Sam e Lucas nos olhavam, atentos – Qualquer coisa que você estiver passando, sabe que pode falar comigo, não sabe?
- Sei.
- E não interessa se o negócio é grande que vai te dar medo, ou se é pequeno e você está surtando por pouca coisa... Você vai me falar, não vai?
- Ana, você está sabendo de alguma coisa? – perguntei.
- Até eu tô achando que você sabe de alguma coisa, mulher! – Lucas parecia desconfiado – E agora eu tô querendo saber disso que vocês sabem.
- Eu não sei de nada – Aninha afirmou – Se eu soubesse, eu falaria, assim como a Rhanna.
- Que código maluco é esse que vocês estão usando hoje? – Sam se irritou – Ou fala logo, ou não fala!
- Não tem nada pra falar – suspirei – Caso tenha, fiquem tranquilos.
- Duas estranhas – Sam virou-se pra frente – Cansei de vocês duas por hoje.
- Sam!
- Mulheres... – Lucas jogou a franja pro lado e riu de forma tímida – Graças a Deus não nasci mulher, e sim com a opçãode ser mulher.
- Eu não nasci com a opção de ser homem! – Ana falou, achando aquele comentário horrível.
- Nem eu, meu bem. Nunca, jamais me vi na opção de ser homem – Lucas piscou, e nós duas rimos – Prestem atenção no palco, os bofes vão ensaiar.
Aninha sorriu pra mim e segurou minha mão, como se quisesse me falar alguma coisa. Quanto mais o tempo passa, mais eu estou desconfiando que ela e Harry sabem da carta da Miriam, ou o tagarela do Liam deu com a língua entre os dentes e acabou falando mais do que devia. Mas... Acho que não. Se ele fosse falar pra alguém, seria pro Niall, e ele não parece estar me tratando diferente; agora eu estou mais confusa do antes.
Quando olhei pro palco, não tinha percebido que, nos instrumentos, estava o McFly! Comecei a rir e não pensei duas vezes em pegar a Polaroid e registrar alguns momentos de uma forma mais antiga, eu queria de verdade essas fotos só pra mim. Talvez fossem as minhas últimas fotos, e eu teria uma oportunidade como essa daqui vai saber em quanto tempo, ainda mais se eu fosse mesmo embora pro Brasil. Afastando esse tipo de pensamento, peguei minha câmera, puxei Aninha comigo e fomos nós duas para a frente do palco, só acompanhar mais de perto e, quem sabe, atrapalhar um pouco os ensaios – e corrermos o risco de sermos expulsas dali.
B-b-b-baby c'mon over
(Baby venha pra cá)
I don't care if people find out
(Eu não me import se as pessoas ficarem sabendo)
They say that we're no good together
(Eles dizem que não somos bons juntos)
And this never gonna work out.
(E isso nunca vai dar certo)
Eu não conhecia a música, mas Ana, sim. Fiquei encostada na frente do palco, mais pro lado esquerdo, perto do Tom – eu sempre ia pro lado dele –, e logo no comecinho já tirei uma foto dele, que saiu em alguns instantes, pensei em dar essa foto pra ele. Acho que Tom tem uma certa paixão por fotografia, e essa seria uma adorável pra ele ter em sua casa. Olhei para o resultado em minhas mãos e sorri, mostrando pra Tom, que riu e depois murmurou algo como ‘presta atenção na música’. Olhei pra Aninha com a intenção de saber se ela tinha ouvido ao Tom, mas ela estava tão empolgada com Zayn que era bem óbvio que ela não tinha visto ou ouvido nada. Entortei meu nariz pra ele, e a única coisa que Tom fez foi rir.
But baby you got me moving too fast
(Mas, babe você faz eu me mexer muito rápido)
Cause I know you wanna be back
(Porque eu sei que você quer voltar)
And girl when you're lookin' like that
(E garota, quando você está olhando desse jeito)
I can't hold back.
(Não posso me controlar)
- Se segura, porque agora vem a melhor parte – Aninha sorriu pra mim.
Pendurei a Polaroid no pescoço como uma boa turista em um show One Direction, fui pro lado de Aninha e percebi Sam e Lucas parando atrás de nós duas. Os dois estavam com as câmeras profissionais, eu tinha uma pequena impressão que eles iriam usar as fotos tiradas hoje para alguma coisa ilícita, só espero que eles não vendam para nenhuma revista ou site e consigam um dinheiro com isso. Ah, mas eles vão fazer isso.
De onde eu estava, encarei Harry, que ria de alguma coisa bem besta – eu imagino – com Dougie. Este cutucou-o e o fez olhar em minha direção, com aquela cara de total inocente, e ao mesmo tempo com mil coisas passando pela sua mente. Peguei a câmera e tirei mais uma foto sua, ele colocou a língua pra fora nesse momento e Dougie encostou a cabeça em seu ombro, fazendo uma típica careta Poynter. Quando a foto ficou pronta, eu sabia que aquela ia ficar comigo, talvez eu até pudesse fazer uma cópia para eles.
Cause you, you've got this spell on me
(Porque você, você possui esse feitiço em mim)
I don't know what to believe
(Eu não sei no que acreditar)
Kiss you once, now I can't leave
(Beijo você uma vez, agora não posso partir)
Cause everything you do is magic
(Porque tudo o que você faz é mágico)
But everything you do is magic.
(Mas tudo o que você faz é mágico)
Nas últimas duas partes do refrão, tanto Zayn quanto Harry pararam de frente para Ana e eu, cantando a música para nós. Não consegui nem dizer um “obrigada” ou chamá-lo de algum nome constrangedor; quando pensei em falar algo, ele inclinou seu corpo e me deu um beijo desajeitado e engraçado, partindo depois com Zayn e pulando pelo palco. ViNiall coçar o nariz ao me encarar e Louis ir até seu lado, abraçá-lo pelos ombros e o puxar para o centro do palco.
Niall precisava de alguém em sua vida que achasse tudo o que ele fez mágico e que o enfeitiçasse, assim como Harry fez comigo.
So l-l-let them take pictures
(Então os deixem tirar fotos)
Spread it all around the world now
(Espalhar isso ao redor do mundo, agora)
I wanna put it on my record
(Eu quero colocar isso no meu CD)
I want everyone to know now.
(Quero que todos agora saibam)
- Você também tem a impressão que a música é pra você? – Aninha murmurou.
- Estava pensando nisso agora, faz um pouco de sentido, certo? – perguntei, concordando com seu comentário anterior – Mas acho que ninguém precisa saber disso.
- Se depender dessa última parte que os meninos cantaram, eu acho que eles querem espalhar pro mundo inteiro – nós rimos. – Você tá feliz?
- E por que eu não estaria? – sorri pra ela. Ana estava com as antenas ligadas até demais, pro meu gosto.
- Por nada – ela parecia agora triste, e não desconfiada.
- Ana, para de me fazer essas perguntas, por favor.
- Ok, eu vou parar – ela mordeu a unha e olhou pro palco novamente.
Vi Liam ao fundo, perto da bateria, junto com Judd, me encarando. Ele não estava cantando junto com os outros meninos, estava só ali parado com os braços cruzados, olhando pra mim desde o início da música. Se tinha uma pessoa dentro desse lugar que sabia muito bem o que estava acontecendo, essa pessoa era Liam, e ele estava estranho comigo desde o dia da feira. Estranho no sentido de eu contar logo tudo pro Harry ou pra Ana. Acho que ele estava se sentindo mais ou menos como o Joey quando ele era o único que sabia do romance entre Chandler e Monica; ele precisava de alguém pra contar, e eu não deixava porque, por enquanto, era segredo de estado.
But baby you got me moving too fast
(Mas, babe você faz eu me mexer muito rápido)
‘Cause I know you wanna be back
(Porque eu sei que você quer voltar)
And girl when you're lookin' like that
(E garota, quando você está olhando desse jeito)
I can't hold back.
(Não posso me controlar)
Cause you, you've got this spell on me
(Porque você, você possui esse feitiço em mim)
I don't know what to believe
(Eu não sei no que acreditar)
Kiss you once, now I can't leave
(Beijo você uma vez, agora não posso partir)
Cause everything you do is magic
(Porque tudo o que você faz é mágico)
But everything you do is magic.
(Mas tudo o que você faz é mágico)
- Aninha, minha mãe está me ligando – falei no meio da apresentação, pegando o celular e mostrando pra ela.
- Ela anda te ligando demais nesses últimos dias... – novamente aquele ar desconfiado.
- Que posso fazer? Ela anda com saudades – eu sorri meio com culpa – Já volto.
- Ok.
Saí meio de fininho para o canto direito do palco, quase chegando perto da porta dos bastidores. Ali o som estava meio abafado, já que eles não estavam ensaiando com todas as caixas de som ligadas, era mais uma passagem de som e ensaio das posições do que do show propriamente dito. Na verdade, eu não entendia direito o que era isso, só sei que ali onde eu estava não dava pra ouvir a música de forma clara.
- Oi, mãe.
- Rhanna, eu preciso conversar muito sério com você. Pode falar agora ou está na escola?
- Não estou na escola, estou com os meninos vendo o ensaio do show deles.
- Meninos?
- Sério, mãe?
- Ah sim, seu namoradinho e a bandinha dele – quis começar a rir com as palavras no diminutivo, minha mãe gostava de dar um perjorativo em coisas que ela achava desnecessárias.
- Isso, mãe. Harry e One Direction – eu ri – O que você tem pra conversar comigo?
- É sobre a proposta, você respondeu a carta?
- Claro que não, e eu acho que já conversamos sobre isso. Eu não vou voltar pro Brasil.
- Ah, mas você vai sim! Que é isso? Tá achando que pode tomar as suas próprias decisões só porque tá passando um tempo fora de casa? Nem maioridade plena você tem, Rhanna, então pare de agir como uma criança. Se você quer crescer na vida, você vai aceitar essa proposta e vai voltar pro Brasil.
- Eu não vou fazer isso só porque você acha o certo, sei muito bem tomar minhas próprias decisões sozinha, afinal, eu consegui essa porcaria de bolsa com meus méritos e não vou jogá-la fora por causa de uma única oportunidade.
- Uma oportunidade que vai mudar sua vida.
- Londres mudou minha vida, mãe, LONDRES!
Eu estava começando a ficar cansada dessas conversas com minha mãe. Era sempre a mesma coisa, a mesma insistência em querer me convencer de voltar pra casa sendo que eu não queria. Já tomei minha decisão, falta pouco tempo pra eu me formar aqui, depois disso eu penso em voltar pro Brasil, mas só depois da conclusão do curso. E eu nunca vou comentar esse assunto com Harry!
- Rhanna Penalva, eu e seu pai estamos indo pra Londres te trazer de volta pro Brasil.
- O QUÊ? TÁ DOIDA?
- Você tem até o Natal, Rhanna. Caso contrário, estamos pegando o primeiro voo antes do ano novo e te arrastamos pra cá, nem que seja pra você ser dopada.
- Você não tá falando sério, deixa de ser doentia.
- Estou sendo racional, coisa que você não é e nunca foi. Se fosse, não teria tentado essa bolsa, estaria aqui cursando uma faculdade regular como qualquer menina da sua idade.
- Menina sem sonhos, você quer dizer.
- Racional! Não sei por que essa frescura de estudar fora, no Brasil temos tantas oportunidades de trabalho, tantas promessas.
- Não vou de novo falar disso com você, mãe! Falamos sobre esse assunto desde os meus treze anos, você sempre soube que eu queria me formar fora do país.
- Por um capricho idiota! E agora você tá com esse namorado que só te atrapalha...
- Ele não me atrapalha! Você nem o conhece, como pode falar dele desse jeito?
- Não preciso conhecer. Acha que só você sabe usar a internet? É só eu digitar no google o nome de vocês dois pra eu ver as fotos em todos os lugares, e festas, e premiações! Se você não estivesse com esse tal de Harry sua vida estaria focada e com certeza sem esse ar de arrogância. Ele tem dinheiro, Rhanna, você, não.
- Para de falar coisa que você não sabe, para com isso! – solucei.
Ouvir todo dia alguma merda de fãs é uma coisa, ouvir de sua própria mãe é bem diferente. Ela não imagina o poder que as palavras possuem, e como ela pode me derrubar facilmente.
- Até o Natal, Rhanna, ou nós vamos te buscar.
- Eu me mato antes disso, e vocês vão levar um corpo sem vida pro Brasil.
- Que seja – ela suspirou – Mas te trazemos de volta! – e desligou o telefone.
Apertei o celular em minhas mãos controlando a vontade de jogá-lo contra a parede mais próxima, não conseguia entender como minha mãe podia agir de uma maneira tão ditatorial comigo a essa altura do campeonato! Tem coisas que realmente não precisa jogar na cara, ainda mais mostrar esse desprezo todo com meu futuro e com o próprio Harry – que, tecnicamente, ela adora. No momento, me via sem coragem de voltar para o ensaio deles, a última coisa que eu queria era voltar e sorrir, ainda mais sabendo da empolgação dos meninos com o Madison a poucos dias. Ninguém merece minha cara de enterro.
Sentei no chão e fiquei futricando meu celular, fugindo dos aplicativos como facebook e twitter, na verdade, fiquei olhando fotos antigas minha e do Harry, novamente caindo naquele pensamento de que eu não iria conseguir dizer adeus a ele. E muito menos aos meninos; passei por uma foto minha e do Louis, onde ele mordia minha bochecha e Harry fazia cara feia para nós dois, foto essa que eu sei que, se caísse no fandom, ou iriam amar, ou odiar. Ia continuar vendo as fotos, quando vi uma sombra parar na minha frente; achei estranho, porque era para os meninos ainda estarem ensaiando, mas como não ouvia música alguma, presumi que podia ser um deles. Levantei meu olhar e vi Niall parado ali, com um sorriso de lado e braços cruzados, mas seu olhar era suspeito, como se soubesse de algo. Na verdade, a essa altura do campeonato, eu estava achando que todo mundo já estava sabendo dessa novidade maldita.
- Rhanna Penalva.
- Niall Horan – eu sorri – Fala, querido.
- Que você está fazendo aqui, sozinha, com seu celular e essa cara de bosta?
- Pensando – falei em meio aos suspiros – Senta aqui – bati no chão ao meu lado, Niall sorriu e fez o que eu pedi – Foi bom o ensaio?
- Foi, sim, mas agora tá um clima meio tenso por lá – ele se espreguiçou – Lary chegou, e você sabe como sua amiga fica com ela por perto.
- Ai, Ana! – fiz careta – Ela nunca vai superar isso, vai?
- Está ameaçando agarrar o Liam a qualquer momento, citou até a Lei de... Tamilião?
- Lei de Talião? – eu ri.
- ISSO! Sabia que você ia entender.
- Olho por olho e dente por dente?
- Na verdade seria algo mais “boca por boca e namorado por namorado”.
- Pelo menos a Aninha vai parar na boca do Liam, e não na cama – nós dois rimos – E o Liam vai deixar?
- E desde quando ele nega mulher? Mesmo sendo a mulher do Zayn.
- Ai, meu Deus – gargalhei.
- Mas o papo tá bom – ele bateu em minha perna – E você mesmo rindo parece que ainda está escondendo alguma coisa, o que se passa, Rhanninha?
- Está tão assim na cara?
- Já tem um tempo, mas como você nunca é de se abrir com as pessoas, e muito menos com seu namorado, pensei que não fosse nada sério e que na hora certa você fosse acabar falando. Pelo visto, estou errado.
- Acertou a parte de que ainda não falei nada pro Harry.
- Então, tem alguma coisa aí – ele riu – E o Harry não sabe.
- Não.
- Alguém sabe?
- Sim.
- Sua mãe?
- A ideia partiu dela, pra falar a verdade.
- Vixi, se partiu da sua mãe, coisa boa não é.
- Não, e eu não quero falar do assunto – bufei.
- Aninha sabe?
- Não.
- Louis?
- Não.
- Zayn?
- Claro que não, ele é super fofoqueiro! Ia na mesma hora contar pra Ana.
- Liam?
Suspirei e desviei o olhar de Niall, acho que acabei dando na cara que Liam era o único que sabia, certo?
- Ele sabe, não sabe?
- Sabe, e chorou igual uma putinha quando eu contei pra ele.
- Liam... Chorou?
- Acontece, Niall – eu ri – As pessoas choram quando eu conto alguma coisa triste.
- Então, é triste?
- Para de me fazer perguntas, moleque! – agora foi a minha vez de bater em sua perna – Niall, eu quero contar, mas se eu contar agora, você vai começar a chorar e os meninos vão ficar fazendo perguntas.
- Quem disse que eu vou chorar?
- Liam Payne chorou, preciso dizer algo a mais?
- Liam, o quê? – e claro, ele apareceu.
Levantei-me do lado de Niall e dei um abraço nele, que retribuiu, não sabendo ao certo o que eu estava fazendo ou o motivo do abraço. Niall também levantou e ficou nos encarando como se pudesse ler algo nas entrelinhas, essas que nem sequer haviam sido faladas. Lembro-me de pensar que Liam seria, dentre todos, o meu melhor amigo. Aquele que, quando eu saí da redação da SugarScape, me abraçou e me deu seu casaco porque estava frio, que estava sempre comigo quando eu precisava. Esse é o motivo pra eu tê-lo escolhido como, por enquanto, o único que sabe da minha volta ou talvez não volta ao Brasil.
- Pega, Rhanninha.
- Estou quase indo embora, Liam, eu estou bem – falei, tentando controlar meus queixos, que não paravam de bater, mas foi em vão.
- Será que, por favor, você pode pegar meu casaco? – ele sorria – Ou eu vou ter que enfiar ele por seus braços?
- UGH! – gemi e me certifiquei que as fãs não estavam olhando. Coloquei o casaco de Liam e na mesma hora me senti melhor – Volta lá com as meninas, eu sei cuidar de mim.
- Pra que esse mau humor todo? – Liam falou, meio triste – Vem aqui.
- Liam Payne! – eu ia tentar dar uma bronca, mas Liam me abraçou por trás e ficou passando as mãos com força em meus braços, a fim de me esquentar.
- Estávamos falando como você é lindo, maravilhoso e, de longe, meu melhor amigo entre todos os outros – forcei um sorriso, que saiu meio macabro, e eu o vi fazer careta.
- Bebeu, Rhanna?
- Agradece que ela tá toda assim com você, comigo não consegui nada!
- Você também tem meu amor, Horan – pisquei.
- Mas não tenho sua confiança, pelo jeito!
- De novo, do que vocês estão falando?
- Do que você sabe, mas ninguém sabe – Niall bufou – Do motivo pra Rhanninha estar toda estranha e escondendo alguma coisa.
- Ah – Liam coçou a nuca – Isso.
- Viu! Você sabe.
- Sabe do quê?
Perfeito, Dougie e Zayn! Mais alguém?
- Da Rhanninha estar estranha.
- Eu não estou estranha, Niall!
- A Rhanninha tá estranha? – Zayn era mais perdido ainda.
- Deve ser gases – Dougie soltou, mas acho que nem foi ouvido por todos, pelo menos por mim foi.
- Será que, por favor, podem parar de tomar conta da minha vida? Só por um segundo?
- Você divide seus problemas com Liam, tecnicamente está traindo nós quatro. Se for contar a Aninha, dá cinco; nem vou colocar as bichas e o McFly.
- PARA! – gritei, os meninos assustaram.
Senti Liam atrás de mim colocar as mãos em minha cintura e aos poucos aproximar nossos corpos, encostando sua cabeça na minha e suspirando tão fundo quanto eu. Niall, Zayn e Dougie nos olharam meio estranho, será que agora essas porras estão achando que eu e Liam estamos tendo um caso?
- Que caralho de olhar é esse?
- Vocês... Dois...?
- NÃO, PORRA! – tirei as mãos de Liam da minha cintura.
- Pega leve, galera – o ouvi dizer – Se a Rhanninha não quer falar, ela não fala.
- Mas ela contou pra você!
- Tá com ciúme de mulher quem nem é tua, Horan? – Liam falou, meio alto – Porra, cara! Controla aí esse sentimento, tá ficando irritante já.
- Não é ciúme...
- Então é o quê? Vai dar a desculpinha que você tá cuidando dela? Cuidando de quem? De mim?
- Ela nem contou pro Harry e contou pra você.
- Porque essa merda de notícia é forte demais pra ele! Foi pra mim, caceta!
Dougie e Zayn nos encaravam com a plena certeza que haviam perdido alguma parte da conversa, discussão. A esse ponto, nem eu sabia mais por que Niall e Liam tinham alterado o tom de voz. Agora, eu estava de braços cruzados ao lado de Dougie e Zayn, vendo os outros dois se encararem e trocarem palavras fortes, era como se Liam desse tapas na cara de Niall para ele parar de ser possessivo ou ciumento comigo e, em contrapartida, Niall se defendia falando que apenas estava me protegendo. Me pergunto se esse tipo de conversa era frequente entre os meninos; me arrepio só de imaginar que sim.
- Quer ir lá pra fora? – Zayn me cutucou no braço – Acho que essa conversa ainda vai bem longe – ele me encarou com um sorriso torto – E eu juro que não vou te perguntar nada.
- Obrigada – respondi baixo – Não quero falar do assunto.
- Sei que não – ele me abraçou pelos ombros – Vamos? Dougie?
- Vou guardar o baixo, vejo vocês daqui a pouco – ele piscou – Se cuida, baixinha.
- Olha aí, o baixista se achando! – brinquei mostrando a língua, pelo menos os meninos riram.
- Rhanninha, qual o problema do Harry?
- Como assim? – não entendi mesmo a pergunta.
- Tá meio na cara que você tá estranha, e ele nem se quer dá indícios de que tá preocupado.
- Eu acho que ele nem sabe que eu tô estranha – respondi – Mas isso é coisa dele, Harry só consegue pensar em uma coisa de cada vez.
- E isso não te incomoda? – Zayn perguntou, abrindo a porta dos fundos da arena para mim – Digo, ele é seu namorado.
- Adia meu sofrimento – ri sem humor – Quer dizer que eu fico com mais tempo pra pensar em como vou dar uma notícia pra ele, sabe? No fundo, sei bem que o Harry tá ligado no que tá acontecendo, mas ele evita tanto quanto eu.
- E não é pior? – nos encostamos em uma parede pintada de azul royal – Adiar?
- Não – deitei minha cabeça em seu ombro – Chega uma hora em que nós dois vamos estar cansados de fingir que não sabíamos de nada, um olhar pra cara do outro e vai dizer ‘hey, eu sabia’, e pronto. Poupa todo o drama de ter que falar, entrar em detalhes, essas coisas.
- Sintonia perfeita – o ouvi rir.
Ficamos assim, apenas em silêncio, sentindo os pingos finos da garoa londrina cair sobre nós por longos minutos. Às vezes a porta ali abria e fechava, às vezes era um dos meninos do McFly, que eu via Zayn murmurar que estava tudo bem e pedia um tempo sozinho comigo, depois eu vi Louis abrir a porta, seguido de Liam... Mas nada de Harry. Então, começo a imaginar que essas pessoas que me viram com Zayn chegavam até ele e diziam que eu estava bem, apenas precisava conversar com Zayn por um tempo, mas logo depois eu já ia entrar. Era essa a nossa dinâmica, todos protegiam nosso relacionamento, embora Harry soubesse que eu não estava totalmente bem, ou pelo menos não parecia estar.
Ali, sozinha com Zayn, por várias vezes senti as palavras pararem na boca e depois voltarem. Era o momento perfeito para eu contar o que estava passando, talvez ele pudesse me ajudar ou fosse ser mais um ombro amigo. Liam já estava sendo. Queria, antes de tudo, pedir pra ele não contar nada pra Ana, porque ela, sim, iria entrar em um colapso, e de duas, uma: ou ia me encaixotar de volta pro Brasil, ou iria me deixar encaixotada na Inglaterra. De qualquer forma, eu ia morar uma caixa.
- Brasil! – entrelacei meus dedos nos de Zayn e, quando menos percebi, já estava chorando – Eu acho que vou voltar pro Brasil.
- Eu sei – ele me abraçou e beijou meus cabelos – Liam me contou.
- Você contou pra Aninha?
- Não, mas acho que ela suspeita – Zayn soltou toda sua respiração de uma vez pela boca – Puta que o pariu!
- Não quero ir.
- É obrigatório? Se você não for, perde essa oportunidade pra sempre?
- Mais ou menos – limpei meus olhos com as costas de minhas mãos e funguei – Mais alguns dias e eu termino o curso,Zayn. São quinhentos no total, já fiz mais da metade.
- Linda... – ele me segurou pelos ombros e me virou para ele – Não são quinhentos, não são mil! É você, entendeu? – o vi morder os lábios e, em seguida, beijar minha testa – Nós não queremos uma Rhanna com prazo de validade, queremos ela pra sempre.
- Ai, Zayn! – o abracei e deixei o choro sair de mim sem freio.
- Chora, Rhanninha, vai te fazer melhor – sua voz também era embargada, mas diferente de Liam, ele estava segurando o choro – Você vai precisar chorar muito antes de dar a notícia pro Harry.
- Como eu vou falar isso pra ele? Eu não... Não quero ir!
- Se você quiser, eu te ajudo, você foi a única que não acabou comigo depois do show do McFly aquele dia – ele riu e beijou meus cabelos – Te devo uma.
- Se for assim, casa comigo e me dá a cidadania europeia, assim eu não tenho mais que voltar pro Brasil e fico aqui pra sempre, como você pediu – falei em meio a um choro angustiante e um riso forçado.
- Te amo, mas há limites – ele me apertou mais forte – Trair a Aninha com a melhor amiga dela é pedir pra nunca mais fazer xixi na vida, porque é certeza que ela vai cortar meu Zayn boy fora!
- Zayn boy? – encostei meu queixo em seu peitoral e o olhei – Que broxantes, vocês dois.
- Perdeu a vontade de me ter como marido?
- Certeza! – eu ri e recebi um outro beijo na testa – Você dá a notícia pro Harry por mim?
- Com você, é diferente – Zayn suspirou – E com a Ana, deixa que eu me viro. Acho que vai ser mais fácil eu falar do que isso partir de você.
- Tem noção que a sua namorada vai surtar porque eu contei a notícia primeiro pra você do que pra ela?
- Rhanninha... – ele ergueu meu rosto e fez carinho em minha bochecha – Tem noção que a minha namorada já está sabendo do assunto? – eu arregalei os olhos e ele abriu um sorriso que, ao meu ver, parecia de orgulho – Gordon é mais esperta do que nós pensamos, certeza que ela já sabe, mas tá escondendo o jogo.
- Não sei lidar com ela e com o Harry nesse joguinho.
- Nem eu – ele riu.
Nos abraçamos de novo e ficamos ali, sozinhos mais um tempo. Vi a porta abrir novamente e um vulto que parecia deHarry aparecer e sumir. Como eu imaginava, ele sabia o que estava acontecendo, mas assim como Aninha, ia esperar o momento certo para se manifestar. E eu também.
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