Discussions about & with the D
Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.
Chapter Nineteen – Discussions about & with the Dark Prince
James saiu pela lareira, limpando a fuligem das roupas. Assimilou a visão familiar da cozinha aconchegante da Toca. Andou em direção à porta dos fundos para verificar o jardim. O dia estava fresco, perfeito para quadribol, então foi isso que presumiu que as crianças estivessem fazendo. Quando estava prestes a abrir a porta, ouviu um barulho atrás de si e a outra porta que levava ao corredor se abriu.
O auror se virou, seu coração saltando de alegria ao ver o filho de doze anos entrando na cozinha com Ron. Damien parou, a surpresa cobrindo seu rosto antes de um grande sorriso se espalhar em sua face.
- Pai! – gritou ele alegremente, correndo na direção do auror.
James sorriu e abriu os braços, envolvendo o menino em um abraço.
- Como você está, Damy? – perguntou, bagunçando seus cabelos.
Damien se afastou, sorrindo animadamente.
- Bem, estou bem – respondeu. – Onde você estava? Eu não vejo você e a mamãe há uma semana!
James baixou os olhos, envergonhado.
- Desculpa, Damy – disse com sinceridade. – As coisas estão uma... loucura. – Ele engoliu pesadamente.
O auror avistou Ron, caminhando até o armário para tirar uma caixa do que pareciam doces. O ruivo sorriu para ele e acenou em cumprimento, antes de retirar três caixas e desaparecer da cozinha, deixando pai e filho a sós.
- O que você tem feito? – perguntou Damien, curioso.
- Coisas da Ordem, chatas e... simplesmente chatas – respondeu ele. Conduziu o menino à mesa da cozinha e ambos se sentaram.
Damien olhou desconfiado para James.
- Você está bem, pai? – perguntou com preocupação. – Parece cansado.
O auror passou a mão pelo cabelo. Não dormira bem na última semana, mais precisamente desde que encontrou Harry novamente.
- Estou bem, apenas moído com todo o trabalho da Ordem que tenho que fazer. – Ele forçou uma risada.
O menino ainda o olhou com dúvida, mas mudou de assunto.
- Devia ter dito que estava vindo. – Ele sorriu. – Minhas coisas estão espalhadas por toda a Toca. Vou levar séculos para guardar tudo. – Ele fez menção de se levantar. – Vou ser o mais rápido possível.
James estendeu a mão, impedindo-o.
- Eu não estou aqui para buscá-lo – disse com o coração pesado. – Você não vai voltar para casa ainda.
Damien estreitou os olhos avelãs para ele.
- Não vou? – indagou.
- Não, ainda não. Sua mãe e eu ainda estamos… no meio de um… trabalho da Ordem. – James tropeçou nas palavras. – Vão ser mais alguns dias. E então voltaremos para casa e você também.
Damien sentou-se de novo, parecendo extremamente decepcionado.
- Ah, tudo bem, legal. – Ele desviou o olhar, examinando as próprias mãos.
- Ei. – James tornou a estender a mão para ele. – Qual é o problema? Pensei que gostasse de ficar aqui na Toca?
- Eu gosto. – Damien sacudiu os ombros. O menino ergueu os olhos para o pai, sentindo-se um tanto infantil ao falar aquilo. – Mas eu queria voltar para casa, sabe, voltar à minha rotina normal.
James sorriu para ele.
- Os Weasleys estão atrapalhando a rotina do meu filho? – brincou.
Damien sorriu, balançando a cabeça.
- Não, eles são ótimos. Eu só... – Ele olhou rápido para o pai. – Sinto falta de estar em casa – admitiu.
O auror sentiu o coração inflar de felicidade, e bagunçou o cabelo do filho novamente.
- Nós também sentimos sua falta – disse com um sorriso. – É por isso que vim hoje. Queria te ver e sinto muito por não nos vermos há uma semana. Como eu disse, as coisas estavam um pouco agitadas. – James desviou o olhar do par de olhos curiosos. – Sei que está com saudades de casa, mas eu prometo que serão apenas mais alguns dias e então voltaremos para casa, o.k.?
Damien assentiu, sorrindo para o pai.
- Sim, claro – respondeu.
James passou a próxima hora conversando com o filho, compensando o tempo perdido, antes de se levantar, dirigindo-se à lareira.
- Sua mãe disse que pode passar mais tarde para te ver – disse ele antes de se levantar da mesa. – Lembre-se: comporte-se o melhor possível, ajude a Sra. Weasley com qualquer coisa que precise e não brigue com nenhum dos garotos.
Damien revirou os olhos.
- Sim, sim. – Suspirou. – Eu vou me comportar.
James bagunçou o cabelo do filho, deixando-o propositalmente ainda mais desordenado. Notou distraidamente que não parecia com o cabelo de Harry, que era estranhamente idêntico ao seu. Enquanto o menino alisava os cabelos escuros, o auror caminhou até a lareira e, com uma última promessa de que viria pegá-lo em breve, saiu em um redemoinho de chamas verdes.
Damien ficou sentado, observando as chamas morrerem após a partida do pai. Após desaparecerem completamente, ele se levantou com um suspiro e voltou à sala de estar. Entrou no cômodo cheio e viu Ron espalhado no tapete, guardando preguiçosamente o tabuleiro de xadrez e as peças na caixa esfarrapada. Fred e George estavam sentados à mesa, penas e pergaminhos à sua frente, sussurrando e rindo silenciosamente entre si enquanto faziam anotações, sem dúvida planejando outra brincadeira. Ginny estava lendo, enrolada confortavelmente em sua poltrona favorita. Ela e Ron ergueram os olhos quando o amigo entrou. A ruiva colocou o livro no colo e sorriu para ele.
- Você já vai? – perguntou ela.
Damien balançou a cabeça.
- Não, papai só veio me ver. Ele disse que ainda faltam alguns dias para irmos para casa. – Ele caiu no tapete, em frente a Ron.
- Droga, ainda temos que te aguentar, não é? – brincou o amigo.
- Receio que sim – respondeu Damien com um suspiro.
- Nossa, obrigada pelo entusiasmo – provocou Ginny.
Damien olhou para ela.
- Você sabe que a Toca é como uma segunda casa para mim, Gin – disse ele. – Mas... eu meio que sinto saudade de estar em casa, com... com meus pais. – Ele sacudiu a cabeça, parecendo surpreso consigo mesmo. – Deus, eu pareço uma criança de cinco anos – repreendeu-se.
A ruiva baixou o livro completamente.
- Ter saudade de casa não te torna infantil – disse ela. – É perfeitamente natural.
- É engraçado. – Ron riu. – Geralmente o Sr. e a Sra. Potter vêm quase todos os dias ou te chamam via flu para te levar para casa. Agora, é você quem quer ir, mas eles estão muito ocupados.
Damien não achava aquilo nada engraçado.
- É estranho como a Ordem parece ocupada de repente – divagou Ginny. – Notaram a quantas reuniões papai e mamãe foram chamados na última semana?
- É, eu sei – concordou Ron, tampando a caixa. – É estranho.
- O que é ainda mais estranho – juntou-se Fred de repente à conversa, – é que essas frequentes reuniões começaram quando um certo Príncipe Negro foi descoberto.
Ron, Ginny e Damien se calaram imediatamente. Eles, assim como o resto do mundo mágico, tinham lido e ouvido as notícias de que o Lorde das Trevas tinha um herdeiro, conhecido apenas como Príncipe Negro.
- Eu ainda não consigo acreditar que é verdade – murmurou a ruiva. – Como é que Você-Sabe-Quem escondeu que tinha um filho por tanto tempo?
- De acordo com O Profeta Diário, nem sequer os Comensais da Morte tinham certeza de que ele existia – acrescentou Ron.
- Eu não acredito nisso. – Damien balançou a cabeça. – Como é que eles não sabiam?
Ron sacudiu os ombros.
- Foi o que o jornal disse. – Ele se endireitou e se sentou.
- É, bem, os jornais tendem a dizer um monte de coisas que não são exatamente a verdade – disse George, compartilhando um olhar cúmplice com Fred.
- Tipo o quê? – indagou Ginny.
- Tipo como ele foi preso, por exemplo. – Fred riu. – A incrível captura da elite do Esquadrão, embora seja uma excelente leitura, não é inteiramente precisa.
- É, eles deixaram de fora uma parte importante – acrescentou George. – Uma Ordem inteira de eventos na verdade!
Os gêmeos sorriram largamente com as expressões surpresas dos outros três.
- Vocês acham que a Ordem teve algo a ver com a captura dele? – perguntou Ginny.
- Não. – Fred riu. – Eu sei que eles têm muito a ver com isso.
Imediatamente a sala voltou a atenção para ele.
- Como? – indagou Damien.
- Usamos as orelhas extensoras para ouvir Bill e Percy – disse George, assumindo o lugar de Fred. – Eles estavam falando em como a Ordem colocou a armadilha, mas foi o Ministério que afirmou ter capturado o chamado Príncipe Negro.
- Então o Ministro estava mentindo quando disse que a elite do Esquadrão o capturou! – exclamou Ron. – Caramba!
- Espere, espere, isso não faz sentindo – disse Ginny, sentando-se tão depressa que o livro caiu do seu colo, pousando no chão. – Por que o Ministério precisaria encobrir o fato de que a Ordem capturou o Príncipe Negro? Quase todos sabem sobre a Ordem da Fênix, apenas seu líder e seus membros são mantidos em segredo.
- Eu ouvi Percy e Bill discutindo como a Ordem estava perto de prender o Príncipe Negro – respondeu Fred. – Mas Olho-Tonto Moody acabou chamando por reforço e a elite do Esquadrão pegou o sinal, vindo em vez disso e o prendendo.
- Mas agora que o Príncipe Negro está na prisão, por que a Ordem ainda está tendo tantas reuniões? – indagou Ron.
Os gêmeos se entreolharam sorridentes.
- Estávamos pensando na mesma coisa – disse Fred maliciosamente, arqueando as sobrancelhas.
- E temos uma teoria – disse George com o sorriso de sempre.
- Se a Ordem colocou a armadilha para o Príncipe Negro, como Bill disse, então é evidente que descobriram sobre a existência dele na mesma época que o Ministério, se não antes – começou Fred com entusiasmo.
- O pedido de reforço de Olho-Tonto foi pego pela elite do Esquadrão, que foi e o prendeu, isso podemos contar como verdade – disse George.
- E, é claro, todos sabemos o que aconteceu no dia do julgamento do Príncipe Negro – disse Fred, sem precisar lembrar a ninguém do ataque ao Ministério da Magia.
- Caramba, acho que ninguém nunca via esquecer aquilo! – Ron balançou a cabeça.
Seu pai e seu irmão Percy estavam no Ministério durante o ataque. O garoto tremeu mentalmente ao pensar no que poderia ter acontecido.
- Agora, é aqui que a teoria da conspiração começa – disse George em um tom abafado. – O Ministro afirma que o Príncipe Negro foi detido antes que pudesse deixar o Ministério – continuou –, mas se esse fosse o caso, teriam sido dadas muito mais informações sobre ele até agora.
- Tipo o quê? – perguntou Damien, intrigado.
- Pense um pouco – incitou Fred. – Toda vez que um Comensal da Morte é capturado, o que os jornais fazem logo em seguida?
Damien não precisou pensar. A resposta veio ainda quando o ruivo estava fazendo a pergunta.
- Publicam a foto deles – respondeu.
Fred e George sorriram de orelha a orelha.
- Exatamente! – responderam em uníssono.
- É uma das coisas que a mídia mais ama, nomear e envergonhar os Comensais da Morte que são capturados – apontou George.
- Então por que nenhuma revista ou jornal publicou alguma foto dele? – perguntou Fred retoricamente. – Além da ficha criminal, que outra informação vocês leram sobre ele? Nenhuma! Isso não é suspeito? – perguntou. – Quer dizer, ele deve ser o cara mais interessante do mundo mágico! O filho de Você-Sabe-Quem! Todo mundo ficaria interessado em ver quem ele é, como ele é e, definitivamente, como se parece.
- Achamos que o Ministério não está com ele – disse George. – É por isso que não tem nenhuma foto ou informação.
- Ele fugiu naquele dia, o Príncipe Negro deve estar de volta com Você-Sabe-Quem – disse Fred.
Houve um alvoroço imediato de protestos.
- Não digam isso! – pediu Ron, assustado.
- De jeito nenhum! – descartou Damien.
- Isso é ridículo! – advertiu a ruiva. – O Ministério não encobriria uma coisa dessas! Não iam mentir sobre algo assim!
- É, Ginny, porque todo mundo sabe que os políticos sempre dizem a verdade! – provocou George, revirando os olhos.
- Pensem um pouco, galera! – disse Fred. – O Ministro Fudge jamais admitiria tamanho fracasso. Sabe quão impopular é. Se admitisse que perdeu o Príncipe Negro, dentro do Ministério da Magia, para Você-Sabe-Quem, que tipo de reação receberia?
Os três se calaram, entreolhando-se inquietos.
- Fudge seria deposto num piscar de olhos – disse George. – É por isso que encobriu a verdade, alegando que pegou o Príncipe Negro antes que ele pudesse sair e agora ele está na prisão.
- É por isso que a prisão não foi divulgada – compreendeu Damien. – Porque não o mandaram a prisão alguma, eles não estão com ele!
- Exatamente! – gritou Fred, mais animado por alguém ter acreditado em sua teoria que por qualquer outra coisa.
- Parece realmente suspeito que ninguém saiba onde ele está sendo mantido – disse Ron lenta e evidentemente descontente.
- E é por isso que a Ordem está tão ocupada, freneticamente tentando planejar outra armadilha para pegá-lo antes que venha à tona que ele está de volta com Você-Sabe-Quem! – disse Fred. – Quer dizer, foram eles que prepararam a armadilha e pegaram o Príncipe Negro da primeira vez, sabem que podem fazer isso de novo!
Ginny, Damien e Ron se entreolharam pouco à vontade, sem querer acreditar nos gêmeos, mas admitindo que a falta de informação sobre o notório Príncipe Negro era inquietante o bastante para fazê-los duvidar.
- Não acham que outras pessoas podem descobrir isso? – indagou Ron. – Quero dizer, o Ministério não teme que o público possa querer prova de que estão com ele?
- Ninguém vai ficar desconfiado se não estiver com a Ordem – disse George. – Se nossos pais não estivessem correndo igual a galinhas desmioladas, trabalhando dia e noite no quartel-general, não teríamos nenhum motivo para questionar o que o Ministério está afirmando, não é?
Damien pensou em quão excepcionalmente cansado seu pai parecera. Definitivamente havia algo acontecendo com a Ordem, isso era certo.
- Então, estamos planejando espionar na próxima reunião, para ver o que a Ordem está planejando – disse Fred.
- E como vão conseguir isso? – perguntou Ron com uma sobrancelha arqueada. – As reuniões da Ordem sempre são no quartel-general. Como é que vocês, dois não membros, vão entrar lá?
Os gêmeos sorriram debochados para ele.
- É nisso, nosso ingênuo irmãozinho, que estamos trabalhando. – George gesticulou para o pergaminho à frente. – E vamos descobrir, não se preocupe. No próximo encontro estaremos lá, prontos para escutar a reunião e ver o que estão planejando.
- É melhor torcerem para mamãe não pegar vocês – disse Ginny aos irmãos, erguendo o livro do chão. – Ela ainda está furiosa com vocês dois por conta dos resultados dos N.I.E.Ms. – A garota passou as páginas do livro para voltar à que estava.
- Com certeza! – murmurou Ron. – Ela estava uma onça no dia que vocês receberam os resultados. – Ele sacudiu a cabeça. – Nunca a vi tão irritada.
Fred e George se entreolharam e sorriram.
- Nós já! – disseram em uníssono, alegremente.
- Mas vocês têm que admitir – disse Damien com um sorrisinho –, se aplicassem o mesmo entusiasmo nos estudos no lugar das brincadeiras, não estariam repetindo o sétimo ano.
Ao contrário dos outros, Damien realmente tinha muito respeito pelos gêmeos Weasley. Eles eram mais brilhantes do deixavam transparecer.
- Há pouquíssimas pessoas que repetiram o último ano em Hogwarts – disse Fred com um exagerado sotaque elegante. – E, pessoalmente, consideramos uma honra fazer parte de tal... grupo de elite de indivíduos.
- É, a maioria só tem sete anos em Hogwarts, nós vamos ter oito! – acrescentou George. – Mais tempo para testarmos nossa mercadoria para a Gemialidades Weasley – disse ele, os olhos brilhando com o nome do futuro projeto.
- E não se preocupe com a mamãe – respondeu Fred a Ginny. – Ela não vai nos pegar, ninguém vai – disse ele confiante.
Damien falou de repente.
- Me levem com vocês – disse o menino.
Fred e George olharam para ele com algo semelhante a afeto.
- Ah, nosso pequeno entusiasta brincalhão – disseram em uníssono.
- Você quer ir com eles? – perguntou Ginny, surpresa.
Ela sabia que o amigo gostava de fazer brincadeiras, algo que ele argumentava ser um talento nato, sendo filho de um Maroto, mas não achava que ele estaria interessado no que a Ordem estava planejando. Não a ponto de se dispor a correr o risco de entrar em uma grande confusão.
- Sim, eu quero – respondeu Damien. – Fred e George estão certos, algo grande está acontecendo – disse desconfiado. – Papai estava muito estranho hoje. Não disse muito sobre o que a Ordem estava fazendo, o que é normal. Mas parecia que não dormia há dias. O que é que a Ordem está fazendo que não está permitindo que eles descansassem? E por que não podem ir para casa? A maioria dos membros está ficando no quartel-general, até seu pai está ficando lá algumas noites – disse à amiga. O menino olhou para os gêmeos. – Eu quero saber o que está acontecendo.
Os gêmeos simularam uma saudação.
- Não tema, meu camarada – provocou Fred. – Nós jamais deixaríamos um homem para trás!
Damien sorriu de volta para eles.
- Bom. – Ele os saudou de volta.
- Na verdade, se você estiver a bordo, poderemos fazer isso com mais facilidade – disse Fred, sua expressão mostrando a todos que ele bolara um plano.
- Sério? – Damien parecia surpreso. – Como?
- Certo, Damy, precisamos que pegue algumas coisas... – começou Fred. -... da Mansão Potter.
George pareceu entender o que seu gêmeo estava pensando e sorriu de orelha a orelha.
- Ah, sim! – Ele riu. – Isso vai ser perfeito!
Damien correu até a mesa para que os gêmeos pudessem lhe contar o plano e o que necessitavam da Mansão Potter.
Ron e Ginny tinham expressões similares, uma mistura de admiração e reprovação.
- Mamãe vai matá-los – sussurrou Ron para ela.
- Não será necessário, eles não vão invadir a sede da Ordem – descartou a ruiva. – Como se Fred e George pudessem superar a segurança do Professor Dumbledore! – Ela rui de repente, sacudindo a cabeça. – Sabe, acabei de perceber, eles não teriam que planejar uma invasão para chegar ao quartel-general se tivessem conseguido N.I.E.Ms suficientes.
Ron sorriu também, entendendo o que Ginny queria dizer.
- É, porque assim mamãe os deixaria ingressar na Ordem. – Ele também riu, olhando para os irmãos. – Mesmo eles tendo 18 anos, mamãe não deixa ingressem até conseguirem N.I.E.M.s suficientes.
Ginny tornou a apanhar o livro negligenciado.
- Então acho que eles nunca vão ingressar.
Ron riu e se levantou do chão, levando o jogo de xadrez de volta para o quarto, deixando o trio de brincalhões esquematizando à mesa.
xxx
Havia outra reunião da Ordem, que devia começar em uma hora. James se serviu de uma xícara de café excepcionalmente forte, tentando se manter acordado. Estava extremamente cansado, fazer malabarismo entre o trabalho como auror durante o dia e os constantes expedientes noturnos no quartel-general estava minando toda sua energia. Não era obrigado a ficar acordado à noite, simplesmente não conseguia dormir.
Não importava o quanto se esforçasse, não estava fazendo progresso algum com Harry, e era devastador ver tanta animosidade dirigida a ele pelo filho. Passava a noite toda só pensando sobre como chegar até ele, sobre o que podia dizer ou fazer para convencê-lo de que não eram inimigos. Pensamentos sobre o jovem e visões assustadoras de seu futuro eram responsáveis pela insônia do auror. Não importava quão cansado se sentia durante o dia, no momento que se deitava para dormir, tudo que conseguia fazer era pensar sobre o filho e o sono não vinha. Aquilo lentamente o matava. Sabia que tinha que descansar um pouco antes que fosse levado à loucura por pura exaustão. Reprimiu um bocejo e se dirigiu para onde Remus terminava o almoço à mesa.
Antes que pudesse alcançá-lo, a porta da cozinha se abriu e Alastor entrou. James não o vira desde que descobriu por Poppy o que o homem tentara fazer a Harry. Quase imediatamente, a fúria e a raiva tomaram conta dele e disparou na direção do auror e membro da Ordem.
- Moody! – chamou. – O que diabos achou que estava fazendo, tentando drogar Harry? – exigiu ao parar diante dele.
Os olhos desiguais do auror cheio de cicatrizes encontraram um par de olhos avelãs irritados.
- Meu trabalho – respondeu rispidamente –, e eu sou o único que resta para fazer isso, é o que aprece.
James estreitou ainda mais os olhos para ele.
- Nem comece com essa porcaria! – sibilou. – Disfarçar seu ódio por trás de uma afirmação de dever não vai lhe servir de nada!
- Meu ódio é bem colocado! – retrucou Moody. – Ou você se esqueceu de Frank e Alice?
James se acalmou, o aborrecimento e a raiva quase desaparecendo quando seu coração deu um solavanco doloroso à menção dos falecidos amigos. Encarou o outro, vendo a dor e a angústia silenciosa nele.
- Eu também me importava com Frank e Alice – começou James.
- Não é o que parece! – bufou Moody.
- Alastor. – James respirou cansado. – Ele é meu filho. O que espera que eu faça?
- Espero que faça o que é certo! – rosnou Moody, zangado. – Aquele garoto matou dois dos nossos. Eles eram seus amigos, Potter! A morte deles não deveria ser vingada?
James sentiu-se despedaçado, sabia que o assassinato de Frank e Alice devia ser vingado, mas dizer aquelas palavras condenaria o sangue do seu sangue.
- Não é fácil para ninguém – falou Remus por trás dele. Ele saíra da mesa e estava ao lado do amigo. – Você não tem direito de colocá-lo numa situação tão difícil –repreendeu.
- Não há nada de difícil nisso – argumentou Moody. – O garoto cometeu o crime, tem que pegar por isso.
- E qual é o preço? – indagou Remus. – A vida dele? O Beijo? Uma vida atrás das grades? Isso traria Frank e Alice de volta?
- No mínimo deviam obrigá-lo a falar – disse Moody asperamente. – Se temos o Príncipe Negro sob nossa custódia, podemos muito bem tirar informações dele.
Ante que James e Remus pudessem responder, a porta abriu e Dumbledore entrou. Só sua expressão fez James quase esquecer Moody e a discussão. Não vira o diretor parecer tão satisfeito há algum tempo.
- Boa tarde – cumprimentou o bruxo, os olhos azuis brilhando loucamente.
- Dumbledore – respondeu. Remus. – Você chegou mais cedo. Pensei que a reunião estava prevista para começar às duas.
- Está. – O bruxo sorriu de volta. – Eu queria falar com James e Lily antes da reunião.
James já sabia que o encontro envolvia Harry de alguma maneira. As últimas reuniões o envolviam de uma forma ou de outra.
- O que é, Dumbledore? – perguntou o auror, curioso e ansioso ao mesmo tempo.
- Eu tenho uma ótima notícia – disse o diretor, com um sorriso verdadeiro. – Finalmente convenci o Ministro. Levou várias reuniões com ele na última semana, mas, no fim, valeu a pena os intermináveis debates.
James e Remus se entreolharam confusos. Até Moody encarava Dumbledore, tentando compreendê-lo.
- Do que está falando? – indagou James. – O Ministro concordou com o quê?
Dumbledore gesticulou para as cadeiras da mesa da cozinha e os quarto se sentaram.
- Eu vou anunciar isso na reunião daqui a pouco, mas queria contar a você e a Lily primeiro – disse ao auror. – Eu vou levar Harry a Hogwarts.
Suas palavras foram recebidas por um silêncio atordoante. James não conseguia encontrar a voz para perguntar o que o bruxo queria dizer. Ele não podia levar Harry a Hogwarts, a ideia em si era insana. Antes que pudesse lutar com as palavras, Remus balbuciou:
- Você vai levá-lo aonde?
- A Hogwarts – respondeu Dumbledore, como se fosse a coisa mais simples do mundo. – Ele vai cursar o sexto ano, junto com o restante dos bruxos e bruxas de sua idade.
Aquilo foi o bastante para James sair do estupor.
- Que! – exclamou. – Você... você não pode estar falando sério! – afirmou, sacudindo a cabeça. – Fudge nunca... Harry é muito... muito... como você pode... você não pode...! – Ele parou de falar, achando impossível organizar as palavras incoerentes para que fizessem sentido.
Dumbledore o poupou do problema, erguendo uma mão para acalmá-lo, com um sorriso no rosto.
- Eu lhe garanto, James, que pensei completamente nisso, com a segurança de todos em mente – disse ele. – Desde que falei com Harry, percebi quão difícil será convertê-lo ao nosso lado. Sua lealdade e devoção a Voldemort são tamanhas, que duvido que haja algo que possamos falar ou contar que vá fazer sua fé vacilar. – Ele olhou para James com empatia e tristeza nos olhos. – Estou bem ciente do pouco tempo que nos foi dado para convertê-lo. Acredito que quanto mais Harry ficar aqui, trancado no que considera uma prisão, mais ressentimento terá contra nós, e nunca seremos capazes de alcançá-lo. – O bruxo encarou os próprios dedos entrelaçados. – Creio que levá-lo a Hogwarts, dar-lhe a chance de ver como a vida seria se escolhesse ficar conosco, tê-lo cercado por crianças da sua idade, seus colegas, creio que possa fazer toda a diferença.
James não conseguia dizer nada. Torcia, com todas as forças, que o que Dumbledore estava dizendo fosse verdade. Que talvez, apenas talvez, Hogwarts fosse a chave que destrancaria a resistência do adolescente e finalmente teria o filho de volta.
- Você está cometendo um erro – falou Moody em voz baixa. Sua voz normalmente áspera soou rouca em seu sussurro. – Levar o garoto a Hogwarts é como levar Voldemort à escola! – disse ele, o olho mágico fixo no diretor, bem como o normal.
- Voldemort não irá a Hogwarts – afirmou Dumbledore calmamente. – Se há um lugar protegido de Voldemort e seus Comensais da Morte, é Hogwarts.
Moody sacudiu a cabeça, agitando seus horrendos cabelos acinzentados.
- Ele foi ao Ministério da Magia! – disse ele. – Pode tentar uma missão de resgate se descobrir que o garoto está lá!
- Voldemort nunca foi ao Ministério em pessoa. Estava esperando a algumas ruas de distancia – lembrou Dumbledore. – E a única razão para Comensais da Morte conseguirem entrar no Ministério, é porque estavam disfarçados de trabalhadores há muito tempo. Hogwarts está livre dos espiões dele. Enquanto eu for diretor de Hogwarts, Voldemort não pode se aproximar da escola.
Moody o encarou com raiva.
- Como diretor, é seu trabalho proteger seus alunos quando estão na sua escola – disse o auror. – Mas deixar um assassino a solta, em meio a crianças inocentes? Que direito tem de colocar a vida delas em perigo?
- Cale a boca, Moody! – interrompeu James, sem conseguir aguentar mais.
- Você vai mesmo ficar parado, fingindo não ver os perigos do que Albus está sugerindo? – perguntou Alastor ao moreno. – Você, acima de todos, sabe do que esse garoto é capaz! – Seu olhar pousou no pescoço do outro, onde era para ter ficado a cicatriz da lâmina que cortara sua carne. – Ele transformou uma maldita pena numa lâmina! – lembrou aos demais. – Pensem no que poderia fazer em Hogwarts!
A garganta de James apertou, as palavras de protesto ficando presas na garganta. Como podia discutir com Moody? Ele estava certo, Harry transformara uma pena velha em uma faca sem varinha. O que o impediria de fazer o mesmo ou até pior em Hogwarts? E quanto a todas as crianças na escola? Não, era perigoso demais, o que Dumbledore estava pensando?
James se virou para encarar o diretor, mas o bruxo já inclinara a cabeça em sua direção, olhos compreensivos voltados para ele.
- Eu lhe garanto, James, tenho tudo sob controle. Não vou comprometer a segurança de ninguém, tem minha palavra.
O auror não conseguia entender como isso era possível, mas sempre depositara sua fé em Dumbledore, podia fazer o mesmo de novo.
- E o seu plano original? – indagou Moody ao bruxo. – Por que está desviando dele? – exigiu. – Vá em frente e faça o que pretendia fazer com o Príncipe Negro! Use-o para atrair e destruir Voldemort!
- A situação é mais complicada – respondeu Dumbledore calmamente. – Quando fiz aquele plano, não sabia que o Príncipe Negro era Harry. Não posso usá-lo para atrair Voldemort para uma armadilha.
- Por que não? – indagou Moody.
- Harry é muito valioso – afirmou Dumbledore sem hesitação. – É o profetizado, o único que pode destruí-lo, e não vou correr nenhum risco no que lhe diz respeito.
James sentiu o estômago retorcer com as palavras do bruxo. Odiava a mera menção à profecia, especialmente quando o nome do seu filho era usado na mesma frase.
- Albus, abra os olhos! – rosnou Moody para ele. – Aquele garoto não é um herói! É uma causa perdida! Ele nunca destruirá Voldemort, ele é um deles!
Os punhos de James se cerraram com força, mas, novamente, viu que não podia rebater a afirmação. Harry estava do lado oposto da guerra.
- Eu discordo. – Dumbledore balançou a cabeça. – Harry certamente não é um deles, ele nem sequer se considera um Comensal da Morte, na verdade considera isso um insulto. – O bruxo olhou para James, que subitamente se lembrou do garoto com a máscara prateada, sibilando com raiva: “Eu não sou um Comensal da Morte imundo!”
- É verdade! – exclamou o moreno, o alívio vindo sobre si com a memória. – Ele reagiu com raiva no dia que me referi a ele como um Comensal da Morte.
Moody ignorou James.
- Ele pode se considerar o que quiser! – rosnou. – O fato é que está com Voldemort. Faz o que ele quer. Não vai se converter e se virar contra Voldemort, não importa o que uma maldita profecia diga!
- Você não precisa acreditar na profecia – falou Remus de repente. – Muitas pessoas não acreditam nela. Mas não sabe o que Harry vai ou não fazer, então pare de fazer suposições – disse a Moody com raiva.
- Harry é a chave para ganhar a guerra – disse Dumbledore a Alastor. – Com ou sem a profecia. Ele tem todas as informações que precisamos para chegar a Voldemort. Pode nos levar a ele. – De repente, a expressão do bruxo ficou sombria e o ar ao redor da mesa sufocante. – Forçar a informação dele ou ameaçá-lo não é a forma correta – falou apenas para Olho-Tonto. – Harry não é um prisioneiro, Alastor. Ele não será tratado como um. – O aviso era claro em seu tom de voz. – Preciso que ele acredite que está seguro aqui, que não somos seus inimigos. Quero que se sinta parte desse mundo, um mundo longe de Voldemort e suas missões. Apenas quando perceber do que foi privado; seu lugar no mundo, sua família, seu futuro, só então ele vai se virar contra Voldemort e deixá-lo por bem.
- Acredita mesmo que isso vá acontecer? – perguntou Moody, esforçando-se para falar devido à raiva.
- Eu tenho fé em Harry – disse Dumbledore, inclinando a cabeça. – Tenho fé em seus pais, em sua família... – Gesticulou para James e Remus. –... para ganhar o seu coração com amor e aceitação. Acredito que a profecia vai se cumprir e tenho confiança em Harry, que escolherá o lado certo quando conhecer o mundo que Voldemort quer destruir. Quanto for a Hogwarts e tiver a chance de viver e respirar com crianças, a geração que Voldemort quer corromper, vai lutar contra ele para protegê-las. Ele fez isso em uma escala menor ao salvar os filhos de Poppy, efetivamente lutando contra seus próprios homens para salvar vidas inocentes.
Moody ficou calado por longos minutos, apenas encarando seu amigo e líder. Lentamente se levantou, os dois olhos fixos no diretor.
- Vai se arrepender disso – disse simplesmente. – Sua fé nele será sua ruína, Albus! Aquele garoto nunca sairá do lado de Voldemort e não importa o que você ou qualquer um faça, ele não vai mudar! – Olhou furioso para Dumbledore. – Cuide de uma cobra o quanto quiser, ela ainda vai te morder na primeira oportunidade que tiver!
Ele se virou e saiu da cozinha, deixando os três homens ainda sentados à mesa, em um triste silêncio.
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As 48 horas terminaram. Voldemort estava no meio do escritório, encarando seus homens, aos quais tinham sido dadas 48 horas para tirar o Príncipe Negro da prisão e trazê-lo para casa.
Tarefa que eles não tinham cumprido.
O olhar cruel passou entre as três figuras ajoelhadas, amarradas e sangrando aos seus pés. Três funcionários do Ministério que tinham sido capturados e torturados por seus Comensais da Morte. Ao menos seus homens tinham feito alguma coisa.
Os impiedosos olhos vermelhos assimilaram as formas açoitadas e derrotadas ajoelhadas à sua frente, com as mãos amarradas para trás, sangue manchando as vestes rasgadas, e sentiu-se ainda mais aborrecido. Foram inúteis, completa e absolutamente inúteis. Não sabiam onde Harry estava. Voldemort não acreditara neles quando gritaram isso, quando imploraram e alegaram que não faziam ideia de onde o Príncipe Negro estava. Ficaram repetindo que não sabiam para qual prisão o garoto fora levado, que não sabia de nada sobre ele. Mas o bruxo continuara comandando as torturas nas mãos de seus seguidores. Eventualmente, cansou-se dos gritos e da resistência em lhe contar o que desesperadamente queria saber, então violou suas mentes, invadindo ferozmente as consciências das três vítimas. Mas tudo que encontrou foram memórias de suas vidas: família, amigos, aqueles que amavam, aniversários e comemorações, mas nada sobre Harry, nenhuma pista sequer que pudesse deixá-lo mais perto de descobrir onde ele estava sendo mantido.
Voldemort observou as três vítimas, dois homens e uma mulher, com nada além de aversão. Eram inúteis para ele. Olhou para os Comensais da Morte que estavam atrás dos três.
- Matem todos – comandou friamente.
Rookwood, Avery e Macnair reagiram imediatamente, chutando as três vítimas indefesas, fazendo-as cair para frente sobre o chão frio de mármore. Gemidos assustados e apelos irregulares ecoaram pela câmara, mas não suscitaram compaixão em ninguém.
- Avada Kedavra!
Três ecos e três flashes de luz verde, e um súbito silêncio caiu sobre a câmara. Os corpos dos três funcionários do Ministério jaziam imóveis no chão.
O olhar raivoso de Voldemort passou dos cadáveres para os Comensais da Morte reunidos.
- Levem e os pendurem no Beco Diagonal, para que todos vejam – instruiu. – Que a mensagem seja clara: vou matar quantos forem necessários para o Ministério devolver meu filho!
Os homens se curvaram diante dele e começaram a se retirar do escritório, arrastando os corpos dos funcionários do Ministério consigo. A porta se fechou, deixando Voldemort sozinho na sua câmara manchada de sangue.
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Harry jogou água fria no rosto, direcionando o jato de água à testa. A cicatriz doía em agonia. Estivera pinicando o dia inteiro, mas nas últimas quatro horas começara a piorar progressivamente, até entrar em erupção com uma dor tão intensa que fizera sua visão embranquecer.
Sabia que o pai estava altamente irritado. Deduziu que devia estar conjurando um Cruciatus ou talvez algo igualmente poderoso para fazer sua cicatriz arder com tanta ferocidade. Jogou mais água na cicatriz, tentando, em vão, afastar um pouco do queimor.
- Droga – sibilou ao esfregar a testa, a cicatriz quente sob seus dedos.
A dor fazia seu estômago revolver, e sentiu que estava prestes a vomitar. Amaldiçoou mentalmente a raiva do pai e vagamente perguntou-se porque a fúria dele o afetava tanto quando estava tão longe. Normalmente não o importunava, a não ser que estivesse na Mansão, perto dele. Essa era principal razão para o bruxo manter a calma quando Harry estava em casa.
O rapaz olhou para o espelho, encarando o reflexo. A cicatriz se destacava contra sua pele, vermelha e dolorosa, o cabelo molhado pregado na cabeça, de modo que a cicatriz estava claramente visível. Inclinou-se para mais perto, examinando-a, cerrando os dentes quando continuou a queimar.
- Acalme-se, já! – sibilou, falando com a cicatriz e mentalmente com o pai. Sabia que a dor não diminuiria até o bruxo se acalmar.
Agarrou a borda da pia e fechou os olhos quando ela latejou teimosamente, fazendo-o quase gemer alto. Ouviu a porta do quarto se abrir e várias pessoas entrarem. Ficou onde estava, olhos fechados, cabeça curvada, ignorando-os completamente.
- Potter? – veio o grito do outro lado da porta do banheiro.
O garoto resmungou baixinho.
- Potter? Harry?
Ele ignorou.
Uma batida forte na porta.
- Harry? Você está ai? – veio a voz de Sturgis Podmore.
O adolescente abriu os olhos, olhando com raiva para a porta.
- Não! – gritou de volta com sarcasmo.
Uma pausa, antes de:
- Saia! Dumbledore quer falar com você! – disse Sturgis através da porta fechada.
Harry fechou os olhos, esfregando o rosto.
- Vá embora! – disse entre dentes.
- Abra a porta! – gritou outra voz.
Harry os ignorou. Pegou a toalha, enxugou o rosto e o cabelo, que, depois de seco, tornou a cair nos seus olhos, escondendo a cicatriz.
Três batidas fortes na porta se seguiram.
- Potter! Saia ou vamos entrar para te tirar!
Harry não disse nada, estava muito ocupado tentando fazer o estômago não revolver enquanto a dor na cicatriz só aumentava.
Continuaram a bater na porta, fazendo a dor de cabeça piorar.
- Harry! Abra a porta! – gritou Sturgis.
- Abram vocês! – rosnou para ele. O garoto fechou os olhos quando sua visão nublou e a dor de cabeça piorou.
Um grande baque atingiu a porta, então outro e outro. Estavam chutando. O adolescente quase sorriu. A trava de magia era um incômodo para os membros da Ordem tanto quanto para ele. Um simples “alohomora” teria resolvido. Em vez disso, tinham que quebrar fisicamente a porta para chegar até ele.
Outros quarto chutes e a fechadura finalmente quebrou, fazendo a porta abrir violentamente e se chocar com a parede. Três pares de mãos o agarraram e o puxaram grosseiramente para fora do banheiro.
- Vamos! – rosnou um Sturgis, o rosto avermelhado, irritado com ele.
Ele assumiu a dianteira enquanto os outros dois membros da Ordem arrastavam Harry para fora do quarto, segurando-o com firmeza pelos braços. A dor na cicatriz o cegava e lutou contra o aperto, mas não conseguiu se libertar. Finalmente conseguiu se livrar ao chegar à base da escada. Seguiu Sturgis por conta própria. O auror assentiu para os outros dois membros, que encararam o jovem, mas deram meia volta e foram para a sala vizinha.
Sturgis o levou a um pequeno cômodo, no qual Dumbledore, James e Lily estavam sentados ao redor da mesa, evidentemente esperando por eles. O olhar do garoto passou por eles, mas pousou no diretor, que inclinou a cabeça em cumprimento.
- Boa tarde, Harry – gesticulou para a cadeira à sua frente. – Por favor, sente-se.
Quando o adolescente não se mexeu, Sturgis, já cansado e irritado com sua atitude, o empurrou rudemente para a cadeira.
- Ei! – James se levantou em um piscar de olhos. – Não toque nele!
Harry, ignorando Potter completamente, virou-se para encarar Sturgis.
- Isso é tudo, Sturgis. – Dumbledore se dirigiu ao auror, suas palavras agradáveis, mas seu tom inegavelmente duro.
O homem assentiu firmemente para o diretor e deu uma última olhada carrancuda para o garoto, antes de sair calmamente da sala.
- Harry, por favor, sente-se – pediu Dumbledore. – Eu prometo que só vou tomar alguns minutos do seu tempo.
A cabeça do rapaz parecia prestes a rachar. Talvez sentar fosse uma boa ideia, disse a si mesmo. Agarrou cegamente a cadeira e se sentou. James fez o mesmo, os olhos fixos no garoto.
- Sinto muito por incomodá-lo – começou Dumbledore –, mas tenho algumas notícias muito importantes.
Com dificuldade, o jovem virou a cabeça para encará-lo.
- Não estou interessado – afirmou.
- Tenho certeza que estará – sorriu o bruxo.
A cicatriz tornou a latejar dolorosamente, e Harry quase não se impediu de estender a mão para ela. Não queria chamar atenção para a cicatriz, especialmente a de Dumbledore.
- Tudo bem, o que é? – perguntou o garoto entredentes, achando que se pudesse simplesmente acabar com aquilo, seria deixado em paz de novo.
- Eu falei com o Ministro Fudge e ele concordou em deixá-lo frequentar Hogwarts esse ano – respondeu Dumbledore.
A expressão de Harry mudou, a surpresa e o choque claramente visíveis. Seus olhos se arregalaram antes de se estreitarem com raiva.
- Quê? – sibilou.
- Você começará o sexto ano em Hogwarts – continuou Dumbledore. – Sei que isso pode ser um pouco chocante, você nunca teve que frequentar nenhum tipo de escola antes. Mas tenho certeza que vai considerar uma agradável experiência.
A dor na cicatriz foi quase esquecida, tudo que Harry conseguia fazer era repetir as palavras do bruxo em sua mente. Seus olhos correram em volta da mesa, tentando medir a verdade das palavras por suas expressões. James e Lily o encaravam, parecendo um tanto em choque também. O garoto voltou-se para o diretor com um olhar frio.
- Eu não vou – disse ele, balançando a cabeça.
- Receio que não tenha escolha, Harry – respondeu o bruxo.
- O caramba que não tenho! – rosnou o adolescente. – O que vai fazer, me arrastar para lá?
- Eu estava esperando que isso não fosse necessário – respondeu Dumbledore serenamente calmo.
Harry o encarou. Sabia que se fosse levado a Hogwarts, seria impossível escapar. A escola era, talvez, o único lugar onde seu pai não poderia vir até ele, e sabia ser essa a precisa razão pela qual estava sendo levado para lá.
- Você espera mesmo que eu fique calmamente em Hogwarts? – indagou o garoto. – Como vai me manter lá? O que vai fazer? Colocar uma trava de magia na escola inteira? – zombou.
Dumbledore deu uma risada, enfurecendo o jovem mais ainda.
- Meu Deus, não! Isso seria demais! – O bruxo sacudiu a cabeça, achando graça. – Uma escola que ensina magia sob uma trava de magia.
Harry o encarou sombriamente. A cicatriz ainda queimava, mas o garoto estava tão imerso em sua raiva, que mal estava registrando a dor.
- Você obviamente não sabe nada sobre mim – sussurrou. – Caso contrário, não estaria me levando nem sequer para perto de Hogwarts!
- Ao contrário, Harry – sorriu Dumbledore. – Eu te conheço muito bem e sei que não tentará nada lá.
- Eu sei que você é muitas coisas, Dumbledore, mas idiota não é uma delas! – sibilou o rapaz. – Sabe que eu vou tentar escapar...
- E você, Harry, sabe que escapar será impossível – respondeu o diretor.
O rapaz estudou o rosto do velho bruxo, mas a expressão do homem só lhe mostrava calma e serenidade.
- Eu encontrarei uma forma – prometeu Harry. – Acredite, Dumbledore. Eu farei o que for preciso. – O garoto encarou o diretor. – Se precisar matar os seus alunos, eu não hesitarei.
James se sentiu subitamente enjoado. A crueldade nas palavras do adolescente fez seu sangue gelar. Mas Dumbledore apenas sorriu em resposta, e se inclinou para frente, na direção do jovem.
- Sei que não machucará nenhum dos meus alunos, Harry – disse ele, novamente com tamanha calma que era enervante. – Não vai tirar vidas inocentes, não importa quais sejam as circunstâncias.
O jovem ficou parado, um repentino olhar de apreensão apareceu em seu rosto e ele encarou o bruxo. Um segundo depois, o olhar se foi e encarou o outro furiosamente.
- Não significa que eu não vá queimar sua escola inteira! – ameaçou.
- Eu teria que argumentar que não vai – declarou Dumbledore. – Afinal, até mesmo Voldemort tem grande respeito à escola.
A expressão de Harry se contorceu para mostrar a raiva quando o bruxo falou o nome de seu pai. A dor na cicatriz estava finalmente diminuindo, transformando-se em um formigamento, o qual podia facilmente suportar e ignorar.
- Meu pai pode reconstruir Hogwarts quando tiver no controle dela! – disse ele.
Suspiros foram ouvidos ao redor da mesa e o garoto viu a expressão de medo e nojo no rosto de Lily. A simples ideia de Voldemort assumir a escola era terrível para eles.
- Suas ameaças não vão funcionar, Harry – apaziguou Dumbledore. – Sei que não fará nada à escola ou aos alunos. Suas palavras são apenas uma tentativa de me assustar para não levá-lo. – Ele sorriu.
O adolescente se recostou na cadeira, analisando o bruxo de cabelos brancos atentamente.
- Você não me conhece, Dumbledore – afirmou, agora com calma –, não finja o contrário. É evidente que não se importa com o que aconteça à sua escola ou aos alunos, desde que consiga o que quer. – O garoto inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, examinando o bruxo ainda sorridente. – Não me importo em provar quão errado está – declarou, os olhos brilhando perigosamente. – Vou matar todos os alunos, cada membro do corpo docente, aterrorizar qualquer coisa que respire na sua maldita escola, apenas para provar que está errado!
Os olhos de Dumbledore endureceram, o brilho desaparecendo quase imediatamente. O adolescente causara um desconforto e isso era evidente.
- Eu espero que jamais faça algo dessa natureza, Harry – disse ele calmamente. – Fazer mal a alguém em Hogwarts só vai machucá-lo em troca. – O bruxo olhou para Lily e James antes de continuar. – Hogwarts estará fortemente protegida, com inúmeros aurores ao redor da escola e nos terrenos. Eles sempre estarão lá, para a sua segurança, bem como para a dos demais. Nas proximidades da escola, dementadores estarão prontos para levá-lo se fizer mal a alguém.
James virou para encarar o diretor, horrorizado. Não havia sido informado dos dementadores. Lily olhava pasma para o bruxo, a boca abrindo e fechando, mas nenhum som saiu dela.
Harry sorriu e se recostou na cadeira, os olhos verdes fixos em Dumbledore.
- Finalmente – suspirou o garoto. – Dumbledore arreganha suas presas e ameaça morder!
O diretor sorriu um pouco, balançando a cabeça.
- A decisão não é minha, Harry – disse ele. – Os aurores e dementadores estarão lá por ordem do Ministro. Eles não vão interferir e certamente não vão se aproximar de você, a não ser que lhes dê motivo.
James percebeu que devia ter esperado isso de Fudge. O Ministro não deixaria Harry frequentar a escola sem a ameaça de aurores e dementadores pairando sobre ele. Suas mãos se fecharam em punhos, raiva e frustração borbulhando dentro dele.
Harry estava muito ocupado com Dumbledore para perceber qualquer outra pessoa.
- Pode ter aurores ou dementadores guardando a escolar, mas eles não podem me impedir de dizer a verdade – disse ele. – Imagino o que seus alunos pensarão de você quando eu lhes disser quem eu sou. Quando descobrirem que seu grande e sempre justo diretor levou o Príncipe Negro a Hogwarts, ameaçando sua segurança, finalmente saberão que tipo de homem você realmente é.
James estava esperando por isso, fizera a mesma pergunta a Dumbledore mais cedo, e se Harry revelasse sua identidade aos alunos, o que aconteceria então? A resposta que conseguiu não foi nada reconfortante. O auror fez uma careta quando viu o bruxo se inclinar para frente de novo, prestes a responder ao garoto.
- Ninguém vai acreditar se contar, Harry – respondeu. – A insistência de Voldemort de que ninguém visse seu rosto acabou salvando a sua vida. A máscara prateada escondeu perfeitamente sua identidade e, além de algumas poucas pessoas, ninguém sabe qual a aparência do Príncipe Negro. – Ele se endireitou e olhou intensamente para o jovem. – Para o mundo mágico, o Príncipe Negro está atualmente na prisão, onde cumpre prisão perpétua por seus atos. Eles acreditam que você está incapacitado. Harry Potter é o garoto que voltou para os pais após anos vivendo longe deles por motivos pessoais.
- Eu tenho como provar quem eu sou! – disse o adolescente.
- Se convencer os outros de que é o Príncipe Negro, então receio que eu não teria outra opção a não ser entregá-lo ao Ministério, que não desperdiçará um segundo em administrar o beijo do dementador.
O rosto de Harry empalideceu à menção dos temidos dementadores novamente. Nunca enfrentara um antes, mas os estudara.
Desejava jamais encontrar um.
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Do lado de fora da sala, no corredor, três garotos apareceram do nada. Fred e George seguraram Damien quando tropeçou, a chave do portal roubada de Percy escorregando de sua mão.
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N/T: Eu sei que no canon Percy não era um membro da Ordem, mas na minha UA ele é. Acho que Percy não estava na Ordem no canon porque não acreditava que Voldemort voltara, assim como o Ministro. Mas na minha UA, Voldemort nunca caiu, então Percy teria seguido os passos da família e se juntado à Ordem também.
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