Family Secrets



Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.


Damien quase perdeu o equilíbrio ao chegar ao corredor do quartel-general via chave do portal. Para sua sorte, Fred e George o seguraram, salvando-o de cair de cara no chão. O menino se endireitou, sorrindo para os gêmeos.


- Valeu – murmurou num sussurro.


Fred se abaixou, apanhando a chave do portal de Percy que Damien deixara cair na chegada.


- Não achei que a chave do portal fosse nos jogar no meio do corredor! – disse Fred, também quase sussurrando, e fazendo careta para o disco oval cor de ouro, antes de colocá-lo no bolso. – Temos sorte que não havia ninguém. Teria dado tudo errado!


- É, imagina a gente dá de cara com nossa mãe! – acrescentou George com um sorriso descarado. – Estaríamos ferrados!


- Eu disse que a gente devia se transportar sob a capa – sussurrou Damien, puxando do bolso a capa de invisibilidade que herdara do pai. – Mas vocês não quiseram ouvir!


- Tente segurar em alguma coisa enquanto se transporta – reclamou Fred. – Não tinha como nós três ficarmos sob a capa e continuarmos segurando o disco enquanto éramos jogados no espaço por aquela chave do portal idiota!


- Espero que Percy esteja bem – murmurou Damien, culpado, lembrando-se do Weasley mais velho pela menção de sua chave do portal. – Quanto tempo até as Vomitilhas perderem o efeito?


- Uma hora mais ou menos. – George sacudiu os ombros. – Ele vai ficar bem. Já passou por coisa pior.


Damien não duvidava disso, ter Fred e George como irmãos mais novos obrigatoriamente tinha efeitos prejudiciais à saúde.


- Quantas pastilhas moeu e colocou na bebida dele? – perguntou Fred ao gêmeo.


- Duas – respondeu George.


Fred parecia calcular algo mentalmente.


- É, cerca de uma hora e...


Ele jamais conseguiu terminar. A porta mais afastada deles de repente se escancarou, e várias vozes encheram o corredor, fazendo os três pularem de surpresa. Damien atrapalhou-se com a capa, jogando-a apressadamente sobre eles.


No pânico para se esconderem, nenhum dos três teve chance de olhar para o garoto de cabelos escuros que saiu enfurecido da sala e disparou escada acima. Tudo que conseguiram foi um vislumbre de suas costas antes de e desaparecer na escada. Os três, porém, viram James Potter sair correndo da sala, atrás do garoto.


- Harry! Harry! Espere!


James correu até a escada, desaparecendo de vista, mas Damien e os gêmeos ainda podiam ouvi-lo chamando pelo nome “Harry”. Um grande estrondo lhes disse que uma porta no primeiro andar fora fechada bruscamente, mas o menino podia ouvir a voz do pai ainda chamando.


Os três ficaram onde estavam, escondidos sob a capa, com os ouvidos atentos para escutar o que James Potter estava dizendo, mas não conseguiam entender muita coisa. Após um minuto mais ou menos, James apareceu, descendo novamente. Caminhou até a sala da qual saíra correndo há poucos instantes, com um olhar cansado e derrotado no rosto. A porta fechou com um estrondo forte, mas o trio escondido sob a Capa de Invisibilidade esperou mais alguns minutos antes de surgir de baixo dela. Fred fez gesto para que o seguissem e correu o mais silenciosamente que pôde para o canto escuro, embaixo da escada.


- O que foi aquilo? – sussurrou Fred com urgência para os outros dois. – Quem era aquele garoto? – perguntou. – Algum de vocês conseguiu olhar direito para ele?


Damien lembrou-se do vislumbre que tivera do garoto de cabelos escuros correndo escada acima e sacudiu a cabeça.


- Não – respondeu.


- Seu pai parece conhecê-lo muito bem – disse George ao menino. – A julgar pela maneira que estava gritando por ele.


Damien sacudiu a cabeça.


- Ele deve estar na Ordem – deduziu o mais novo. – Mas nunca ouvi nada sobre ele – acrescentou.


- Ele está na sede, é óbvio que está na Ordem – disse George –, mas ele não parece gostar do seu pai, não parou uma vez sequer enquanto o Sr. Potter gritava por ele.


- Ele parece jovem, devemos conhecê-lo – disse Fred. – Não há muitas famílias na Ordem que têm filhos, e praticamente todos eles estiveram em Hogwarts. – Ele sacudiu a cabeça. – Se a gente tivesse visto o rosto, ou ouvido o sobrenome, saberíamos quem é.


- Bom, para nossa sorte, podemos descobrir quem ele é num instante! – George, sorriu , estendendo a mão para Damien.


O menino vasculhou o bolso e tirou um pedaço de pergaminho dobrado, o único outro item que fora em casa pegar, além da capa. Entregou a George, que pegou e abriu ansiosamente o pedaço de pergaminho em branco.


- Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom na Mansão Black –sussurrou, tocando o pergaminho com a varinha.


Damien esperou as familiares linhas pretas em forma de teia de aranha aparecerem, mapeando a mansão e detalhando os nomes de todos que nela estavam. Esperou, mas nada aconteceu. Ergueu os olhos para George e o viu franzindo o cenho.


- Hum, isso é estranho – divagou.


- Me dê aqui.


Fred pegou o mapa e o tocou com sua varinha.


- Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom na Mansão Black – disse as palavras mágicas, mas nada aconteceu.


- O que há de errado com essa coisa? – murmurou Fred, tornando a olhar para o pergaminho em branco.


Damien pegou o mapa de novo e o encarou, confuso. Não podia tentar o feitiço, já que ainda era menor de idade, ao contrário de Fred e George, não podia fazer magia fora de Hogwarts.


- Eu não entendo, por que não está funcionando? – perguntou o menino.


Os gêmeos encaravam suas varinhas, examinando-as.


- Lumos! – Fred acenou a varinha, mas ela não emitiu luz alguma. – Droga! – sussurrou, olhando para os outros dois. – Vocês não acham...


- Trava – afirmou George com certeza. – Tem de ser.


- Trava? – questionou Damien.


- O quartel-general está sob uma trava de magia – explicou Fred ao garoto de doze anos. – Nenhuma magia pode ser feita aqui.


Damien ergueu as sobrancelhas.


- Por que é que a sede da Ordem está sob uma trava de magia? – indagou.


- Acho que vamos descobrir logo que escutarmos a Ordem – disse Fred, puxando longas cordas cor de carne do bolso.


- Damy, pegue as orelhas extensíveis e espere até o último membro da Ordem aparecer. Quando estiverem todos lá dentro, comece a colocá-las embaixo da porta. – George lhe entregou as três cordas.


- Tudo bem – disse o menino. – E o que vocês dois vão fazer? – indagou.


Os gêmeos trocaram um olhar, idênticos sorrisos travessos nos rostos.


- Vamos subir e ver com nossos próprios olhos quem é esse misterioso “Harry” – respondeu Fred.


Damien colocou as orelhas no bolso depressa.


- Eu vou com vocês! – sussurrou com urgência.


- Não, você fica aqui. – George sacudiu a cabeça.


- Por quê? – gemeu o menino.


- Precisamos de um vigia – disse Fred.


- E o que eu posso fazer? Mesmo que eu pudesse fazer magia, o lugar está sob uma trava! – afirmou.


George olhou em volta do corredor mal iluminado.


- Está vendo aquele guarda-chuva grosso ao seu lado? – apontou ele. – Derrube-o se alguém subir. Ouviremos o barulho e nos esconderemos.


- Quê? – exclamou Damien, ainda sussurrando. – Eu vou ser pego!


- Fique embaixo da capa e ficará bem – descartou Fred.


Damien não estava contente, mas os gêmeos insistiram que precisavam de um vigia, e argumentaram que o menino precisava deslizar as orelhas extensíveis por baixo da porta antes do início da reunião.


- Voltaremos em dez minutos.– disse Fred. – Vamos só dar uma espiada em quem é esse sujeito e desceremos de novo para escutar com você.


Deixando um descontente Damien escondido embaixo da capa, os gêmeos subiram a escada, tomando cuidado para não fazer barulho. Fred ia à frente, com George em seu encalço. Aproximaram-se do primeiro andar e perceberam que não faziam ideia de em qual quarto o tal “Harry” estava. Começaram a verificar desde o primeiro, George espiando pelo buraco da fechadura, enquanto Fred colocava a corda cor de carne por baixo da porta, a outra extremidade na sua orelha.


- Esse está vazio – disse ele após um ou dois minutos, sem detectar nenhum barulho no quarto.


Os gêmeos fizeram o mesmo em cinco quartos. Ao alcançarem o sexto, Fred se abaixou para deslizar a orelha extensível embaixo da porta quando, sem aviso, ela de repente se abriu. Os gêmeos pararam, ambos abaixados, um para deslizar a extremidade da orelha pela porta, o outro para espiar pelo buraco da fechadura.


Eles encararam, primeiro em choque, em seguira em surpresa, o garoto parado à porta. Harry, por sua vez, encarava os gêmeos ruivos, pegos espiando na porta de seu quarto.


- O que é que estão fazendo? – indagou o moreno, os olhos indo direto para a estranha corda cor de carne nas mãos de Fred.


Lentamente, os dois garotos se endireitaram, os olhos fixos no outro.


- Caramba! Você parece James Potter! – sussurrou George.


A expressão de Harry ficou sombria e seus olhos se estreitaram.


- Caramba, você parece um sósia do Sr. Potter! – suspirou Fred, olhando para o moreno. – É parente dele?


A expressão de Harry relaxou quando, de repente, percebeu uma coisa. Eles eram jovens, estavam desarmados e falando com ele sobre sua semelhança com James Potter com surpresa. Era o suficiente para deduzir que esses dois não eram membros da Ordem. Então, não sabiam quem ele era e do que era capaz. Um sorriso surgiu em seu rosto ao examiná-los.


- Não somos parentes, eu e Potter – disse Harry com uma polidez forçada. – Na verdade, é um glamour. – Ele apontou para o rosto e o cabelo. – Pedido de Dumbledore, missão da Ordem, complicada e secreta.


Os gêmeos sorriram, o entendimento surgindo em seus rostos.


- Ah, certo! Então você está fingindo ser parente dele? – perguntou Fred.


- Mais ou menos isso. – Harry sorriu.


- Caramba! Pensei que você fosse fruto de outro relacionamento ou algo assim! – riu Fred.


Harry forçou um sorriso, mas saiu mais como uma careta.


- É, que estranho seria – comentou ele.


- Então, quem é você de verdade? Quero dizer, sob o glamour? – indagou George.


- Não posso dizer – respondeu Harry. – Estaria colocando em risco toda a missão.


Os garotos riram.


- Caramba, é você Olho-Tonto? – perguntou Fred.


Harry mal escondeu sua reação.


- Não posso dizer – conseguiu falar. Ele examinou os garotos. – Mas o que vocês dois estão fazendo aqui? Não são membros da Ordem – afirmou. – Como é que entraram no quartel-general?


- É uma longa história. – Fred riu. – Pedido de amigos, missão necessária, complicada e secreta. – Ele piscou para o outro.


Harry riu, cruzando as mãos sobre o peito.


- Ainda assim, se a segurança da sede da Ordem da Fênix foi comprometida, devemos ter conhecimento disso.


Os gêmeos se entreolharam, debatendo em silêncio o que deviam fazer.


- Não há nada de errado com a segurança da sede – disse Fred. – Chegamos aqui usando isso. – Ele tirou a chave do portal de Percy do bolso e mostrou ao moreno. O brilho dourado do disco oval cintilou nos olhos dele e não pôde deixar de encará-lo. – Pegamos emprestado com Percy – continuou Fred. – Ele não vai se importar, nem percebeu que desapareceu, coitado! – Ele riu.


Harry não disse nada, mas seus olhos seguiram o disco dourado quando Fred o guardou no bolso das vestes.


- Como é possível a Ordem estar sob uma trava? – indagou George.


- Os escudos estão sendo aprimorados – mentiu Harry com facilidade. – É mais seguro que nenhuma magia seja feita enquanto os aprimoramentos estão em progresso...


Os gêmeos pareciam felizes o bastante com a explicação.


- Então, como pode...?


Um súbito estrondo soou lá embaixo, antes de uma exclamação surpresa e em voz alta:


- Maldição!


Os gêmeos saltaram, surpresos.


- Droga! – sibilou Fred. – É o sinal, alguém está vindo!


Harry silenciosamente recuou, fazendo gesto para que entrassem. Eles não perderam um segundo e correram para dentro do quarto. O moreno fechou a porta e se virou, sorrindo para eles.


- Deixe-me adivinhar, Arthur não sabe que estão aqui? – indagou.


Não era difícil deduzir que os garotos eram filhos de Arthur Weasley. O cabelo vermelho chocante era característico. Podia ver o membro ruivo da Ordem nos gêmeos, os olhos e o nariz eram definitivamente dele.


- É e é melhor ele e minha mãe não descobrirem! – disse George.


- Mamãe vai nos matar – explicou Fred.


Harry meneou a cabeça para a porta à sua direita.


- É melhor se esconderem lá dentro, porque seja quem for que está subindo as escadas provavelmente está vindo me ver.


Fred e George olharam para a porta e viraram-se imediatamente para ela.


- Certo! Valeu!


George entrou correndo no banheiro, mas antes que Fred pudesse se juntar a ele, Harry estendeu a mão, impedindo-o, a mão pressionada contra o peito do rapaz.


- Não saiam até que eu mande. Às vezes eles saem e voltam segundos depois para me dizer alguma coisa que esqueceram – disse ele.


Fred assentiu.


- Está bem, legal. – Ele entrou no banheiro, junto com o irmão. – Obrigado, cara! – Sorriu para o moreno. – Te devemos essa!


Harry sorriu de volta e fechou a porta do banheiro.


- Não – murmurou, olhando para a mão e encarando orgulhosamente o disco dourado em sua palma. – Eu que agradeço.


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Harry caminhou até a mesa no canto do quarto e pegou a cadeira que estava à sua frente. Levou-a até a porta do banheiro e, o mais silenciosamente possível, posicionou-a em frente à porta, de modo que sua borda superior ficasse escondida sob a maçaneta. Os garotos estavam presos dentro do banheiro agora, a cadeira pressionada contra a maçaneta não permitira que a abrissem.


Sabia que eles iam atrair atenção assim que descobrissem que estavam trancados, seus gritos trariam os membros da Ordem. Mas quando chegassem ali e os encontrassem, ele estaria a caminho de casa. Sorrindo aliviado, Harry fechou a mão em torno do disco dourado e acionou a chave do portal. Com o puxão familiar sob o umbigo, saiu de Grimmauld Place e foi levado para o único outro local para o qual a chave estava designada, para a Toca.


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- Consegue ouvir alguma coisa? – perguntou George.


- Não – respondeu Fred, com a orelha pressionada contra a porta. – Acho que ninguém entrou.


- Devemos nos certificar, por via das dúvidas – disse George.


Fred se afastou da porta e vasculhou o bolso para retirar a orelha extensível. Colocou uma por baixo da porta e a outra extremidade em seu ouvido. Escutou por um ou dois minutos.


- Não tem ninguém aí. Eu não consigo nem escutar Harry, ou seja quem ele for.


- Ei, Harry? – chamou George, ainda um pouco baixinho, pela porta. – Podemos sair agora?


Quando não houve resposta, Fred se endireitou, guardando a orelha no bolso.


- Talvez ele tenha saído, para impedir quem estava entrando no quarto.


Ele estendeu a mão para abrir a porta, mas a maçaneta não girava.


- Ei! – gritou em surpresa. – O que está acontecendo?


George viu o irmão lutando com a maçaneta da porta. Foi quando percebeu a fechadura quebrada.


- Fred, olhe. – George apontou a fechadura. – A fechadura está quebrada.


Uma súbita sensação de mau agouro caiu sobre os garotos e perceberam que podiam ter sido enganados pelo “Harry” que acabaram de conhecer. Ocorreu-lhes, naquele momento, que se “Harry” fosse um membro da Ordem, ele não estaria lá embaixo, participando da reunião? Entraram em pânico e começaram a bater na porta.


- Ei! Harry! Ei! Olá! – Fred começou a bater na porta, sem se importar em serem descobertos pela Ordem. – Ei! Estamos trancados aqui!


George seguiu o exemplo do irmão, batendo a mão contra a porta, gritando para que alguém os ouvisse. Passaram-se mais três minutos antes de alguém ouvir e subir as escadas correndo. Os gêmeos nunca ficaram tão aliviados em ver Sturgis Podmore, e nunca estiveram tão encrencados também.


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A chave do portal o levou a uma cozinha apertada e confusa. Ele se endireitou, observando o ambiente. Jogou a chave do portal descuidadamente para o lado. Testou os escudos, tentando desaparatar, mas eles o impediram, como sabia que fariam. Procurou um caminho para fora, e viu a porta que dava para o quintal. Tinha dado um passo em direção a ela, quando, de repente, percebeu que tinha que se abaixar na pequena copa para não ser visto por uma garota que acabara de entrar na cozinha. Comprimiu-se na escuridão do cômodo minúsculo, tentando se manter escondido. Com o coração acelerado, ouviu os passos suaves vagando pelo cômodo, o som de armários abrindo e fechando, e o farfalhar de caixas e pacotes sendo levantados e derrubados. Ficou parado para não chamar sua atenção. Tinha que esperar até ela sair antes que pudesse fugir.


- Ron! Não consigo encontrá-los!


Ele ouviu a garota gritar de repente.


- Está no terceiro armário!


Um grito distante de um garoto respondeu.


- Eu já olhei lá! Não está! – respondeu a garota.


Harry cautelosamente se virou, espreitando hesitantemente pela borda para ver quem era a garota.


A primeira coisa que notou foi a longa cabeleira ruiva cascateando em suas costas. Ela estava de joelhos, o rosto escondido por trás da porta do armário que investigava. A jovem suspirou antes de recuar e fechá-la.


- Ron! Não está aqui! Acho que estamos sem Crackle Pops! – gritou ela.


Harry a reconheceu assim que viu seu rosto. Era a mesma garota que resgatara em Hogsmeade há pouco tempo atrás. Não esperava vê-la de novo, muito menos assim. Observou Ginny se levantar, tirando a poeira do jeans.


- Está no armário de cima, Gin! – veio a voz do garoto novamente.


Ginny fez careta.


- Eu juro por Deus! Você é tão preguiçoso! – ralhou ela. – Levante sua bunda e venha procurar!


- Por favor, Gin! – veio o gemido de Ron.


Ginny murmurou alguma coisa para si e puxou uma das oito cadeiras da mesa de madeira escovada. Levou-a e a colocou de frente ao armário, subindo para poder procurar o lanche do irmão no armário de cima.


Harry tirou os olhos da garota e encontrou a lareira. Sabia que em poucos minutos os gêmeos seriam encontrados, trancados no banheiro, e assim que percebessem que a chave do portal desapareceu, a Ordem chegaria ali. Tinha que sair dali se ia fugir, mas não seria possível até ela sair da cozinha. Olhou para a ruiva, que parecia estar se demorando, afastando latas e pacotes de lado, procurando por Crackle Pops.


O moreno não queria fazer isso, mas se convenceu de que não tinha escola. Não estava disposto a ser pego novamente. Respirou fundo e se agachou, ainda dentro da copa. Moveu-se com discrição, movimentando-se agachado e com calma, e começou a sair de fininho da copa. Olhou para a pia da cozinha, examinando com os olhos os diversos pratos e utensílios que estavam no escorredor. Ainda abaixando, estendeu a mão, os olhos ainda na menina alheia, e, sem varinha, conjurou um “accio” no item que necessitava. Uma faca de açougueiro veio voando e aterrissou em sua mão.


O som da faca cortando o ar fez a garota parar por um instante. Ela virou a cabeça e olhou ao redor. Nada parecia fora do normal, então retomou ao trabalho de vasculhar o armário. Se tivesse olhado para o outro lado da bancada, teria visto o rapaz agachado, recostado nos armários.


Harry esperou outro minuto, o tempo todo olhando para a lareira, temendo que as chamas ficassem verdes e trouxessem consigo a Ordem. Levantou-se e avançou pelos armários, tentando manter-se despercebido. Preparando-se, segurou a faca. Olhou em torno e viu a garota, ainda vasculhando o armário.


O garoto mirou, suspirou e jogou a faca, que voou pelo ar, passando por ela e atingindo o alvo, cortando a corda que segurava a prateleira de panelas. Atingida pela lâmina afiada, a corda se partiu e as panelas desabaram, o barulho tão repentino e alto, que fez a garota gritar e se virar, quase escorregando da cadeira. Quando se virou para olhar a bagunça de panelas espalhadas pelo chão, ele aproveitou a chance. Com ela de costas, o garoto saltou em direção à porta e, com um giro da maçaneta, lançou-se para fora da casa, descendo as escadas e entrando no jardim.


Harry não parou para ver se fora descoberto ou não. Correu o mais rápido que podia em direção à cerca. Presumiu que os escudos anti-aparatação se estendiam até o jardim também. Tinha que ultrapassá-la até poder aparatar para casa. Correu pela grama, passou o lago e as sebes que ladeavam a parte da frente da cerca.


Um grito, e algo passou zunindo por ele, queimando sua orelha e explodindo à sua frente. De repente, uma linha de fogo surgiu diante dele, um metro de chamas se ergueu, impedindo-o de alcançar a cerca. O adolescente parou de frente à parede de fogo. Virou-se e viu James Potter com a varinha apontada para ele. Ficou onde estava, os punhos cerrados com força e os olhos ardendo para o auror.


Por trás de James, Harry podia ver outras figuras surgindo da casa, caminhando freneticamente até ele. Podia distinguir Sturgis Podmore e Kingsley Shacklebolt correndo na direção deles. Testou os escudos novamente, esperando que estivesse enganado e terminassem na casa, mas sentiu o bloqueio ao tentar desaparatar. Estava preso, tinha que passar a parede de chamas e sair do jardim antes de conseguir sair dali. Seus gélidos olhos verdes pousaram em James, que se aproximara com a varinha em punhos.


- Eu não vou deixá-lo voltar para ele, Harry – disse com determinação.


O garoto sorriu.


- Você está esquecendo uma coisa – respondeu. – Não é mais da sua forma – disse com um ódio feroz e os punhos cerrados. – Porque aqui não há trava de magia.


O adolescente jogou as mãos para cima, mirando em James e o atirando no ar. O auror caiu a alguns metros de distância, com um baque na grama. O homem se levantou a tempo de ver Sturgis e Kingsley mirarem maldições em Harry.


- Não! Esperem! – gritou. – Ele está desarmado!


Mas o garoto se esquivara dos dois jatos de luz com facilidade.


Sturgis foi jogado para trás por um feitiço sem varinha de Harry, mas Kingsley conseguiu desviar da maldição não verbal. James correu na direção do trio que duelava, mais pela segurança do garoto do que qualquer outra coisa. Afinal, era ele que estava sem varinha. Mas logo viu que o rapaz não precisava de uma varinha para duelar com eles. Desviava as maldições que os outros dois lançavam e jogando-os para longe com seus feitiços não verbais.


James foi atingindo com outro dos poderosos golpes de Harry e quase caiu nas chamas que ele mesmo conjurara, na parede de chamas que o lambiam avidamente. O auror rolou para fora do caminho e colocou-se de pé.


- Estupefaça! – tentou Sturgis, mas o garoto contornou o jato de luz como se fosse a coisa mais fácil do mundo.


Um aceno de mão e Sturgis foi jogado pelo ar, pousando no tanque de sapos.


- Petrificus Totalus! – gritou Kingsley.


- Estupefaça! – gritou James.


- Obscuro!


O grito veio por trás de James e o feitiço atingiu Harry enquanto se desviava do ataque dos dois aurores. O homem viu o feitiço atingir seu filho de costas e o garoto cair para frente, a mão esfregando os olhos.


James se virou e viu a mulher de cabelos roxos, Tonks, Arthur, Remus e Sirius correndo na direção deles. Remus tinha a varinha apontada para o adolescente, fora ele quem lançara a maldição.


Agora que a visão de Harry estava prejudicada, Kingsley rapidamente o prendeu, usando as cordas mágicas conjuradas com sua varinha.


O rapaz caiu no chão e a corda se enrolou em seu torso, prendendo suas mãos. Lutou contra a corda e a cegueira repentina, mas não conseguiu escapar de nenhuma delas.


Remus, Sirius, Arthur e Tonks os alcançaram, junto com Kingsley e Sturgis, que estavam molhados e pingando, as varinhas apontadas para Harry. James estava entre eles, a varinha apontada para o chão, encarando o adolescente, sentindo um desespero doloroso em ajudar o filho, mas sabendo que, se o fizesse, o garoto tentaria escapar de novo.


- De volta ao quartel-general? – perguntou Sirius incerto.


- De volta ao quartel-general – concordou Kingsley.


James se adiantou, sem querer que nenhum dos outros o levasse. Tentou ser gentil, mas seu toque ainda deixou o garoto temporariamente cego em pânico. O auror ativou sua chave do portal. Pela segunda vez na vida, foi transportado com um relutante Harry à sede da Ordem.


xxx


Todos estavam tensos e nervosos após descobrirem que o Príncipe Negro quase escapou. Ninguém mais do que Molly e Arthur Weasley. Os dois tiveram de ser coagidos a voltarem à sede após Harry ser levado de volta com James. Não queriam deixar os filhos sozinhos em casa, e só quando Sturgis e Kingsley se ofereceram para ficar cuidando deles foi que o casal voltou ao quartel-general para falar com Dumbledore. No momento, estavam sentados na sala principal da mansão, mal bebendo o chá que Lily preparara.


Dumbledore estava sentado ao lado deles, esperando James descer. Após alguns minutos, a porta se abriu e o auror entrou.


- Está tudo bem? – perguntou Sirius, preocupado.


James assentiu, o rosto corado.


- Ele está de volta no quarto – respondeu. – Eu reverti o “Obscuro”, para que pudesse enxergar de novo. Ele pareceu um pouco... mais calmo depois disso.


- Não acho que vá ficar calmo por um bom tempo – disse Kingsley. – Acabou de ser cercado e capturado novamente, quando estava tão perto de escapar. Deve estar furioso.


A menção de sua fuga fez as mãos de Molly tremerem tanto, que quase derrubou a xícara.


- Eu não consigo acreditar que ele estava na minha casa! – ofegou. – Estava na mesma casa que os meus filhos! Ele poderia...! – Ela engoliu em seco e fechou os olhos, tentando se impedir de pensar.


Lily trocou um olhar muito desconfortável com o marido, lágrimas de frustração brotando em seus olhos. Odiava o medo que os amigos demonstravam quanto ao seu filho, mas como podia culpá-los?


Dumbledore pôs uma mão sobre a mão trêmula de Molly, incitando-a a abrir os olhos.


- Você não tem nada a temer, Molly – disse gentilmente. – Seus filhos nunca estiveram em perigo.


Molly voltou os olhos surpresos e furiosos para ele.


- Minha filha estava na cozinha! – esbravejou. – Ele podia ter feito alguma coisa com ela!


- Sim, mas não fez – respondeu Dumbledore, paciente. – Harry poderia ter matado os três jovens Weasley que encontrou hoje, mas não o fez.  – Os olhos azuis do diretor examinaram Molly e Arthur antes de pousaram sobre os demais à mesa. – Harry teve a chance e a oportunidade de matar, mas não as aproveitou. Optou por enganar Fred e George Weasley, quando podia facilmente tê-los matado para pegar a chave do portal. Ele podia ter matado a jovem Ginny, mas, ao invés disso, ele a distraiu para escapar. Sua filha disse que nem sequer sabia que alguém estava na cozinha com ela. – Dumbledore lembrou Molly.


Molly ficou calada, lembrando-se do momento que se transportara de volta para casa com Arthur e encontrara a filha apanhando as panelas espalhadas pelo chão. Tinha corrido até ela, gritando seu nome e perguntando se estava bem. A garota parecera mais assustada com o comportamento da mãe e a súbita aparição de James, Sturgis e Kingsley via flu, do que qualquer outra coisa. Arthur ficara ao seu lado, e só saiu da cozinha quando Remus, Tonks e Sirius chegaram pela lareira.


A ruiva encontrou os olhos de Dumbledore e queria acreditar nele, queria ter a confiança confortante de que seus filhos tinham estado seguros todo o tempo que estiveram na companhia do Príncipe Negro, mas não conseguia acreditar completamente naquilo.


- Harry não machucou ninguém. Só estava tentando fugir e voltar ao lugar que considera sua casa – continuou Dumbledore. – Mas os acontecimentos de hoje nos mostram que Harry não é como os Comensais da Morte. Ele não mata facilmente. Eu diria até que ele nunca matou, a menos que fosse especificamente instruído por Voldemort.


O nome causou arrepios nos presentes. James esfregou a cabeça, cansado, passando a mão pelo cabelo em frustração.


- Ele quase foi embora hoje – disse exasperado. – Se Sturgis não encontrasse os garotos e acionasse o alarme, nunca chegaríamos à Toca a tempo, e Harry teria escapado. – O homem fechou os punhos. – Dumbledore, acha mesmo que Hogwarts é uma boa ideia? Ele tentará fugir de lá também.


- Ele pode tentar, mas não vai conseguir – respondeu o bruxo com a mesma serenidade de sempre.


- Como pode ter certeza que ele não vai usar os alunos como moeda de troca para conseguir a libertação? – perguntou Arthur.


- Você tem minha palavra, Arthur, meus alunos ficarão seguros. Eu não colocaria em risco suas seguranças – respondeu o diretor.


- Quatro dos meus filhos estarão em Hogwarts esse ano – disse o ruivo calmamente. – Perdoe-me, mas eu preciso de mais do que a sua palavra, Dumbledore.


Por um instante, o bruxo não disse nada, apenas encarou o ruivo. Por fim, ele acenou com a cabeça.


- Muito bem, vocês seriam informados na reunião sobre isso de qualquer forma. – Ele se inclinou um pouco para frente, as mãos cruzadas e os dedos entrelaçados. – Pedi a Severus para descobrir o máximo de informações possível sobre Harry, e ele retornou com algo estranho e cativante – disse ele. – Parece que Harry, ao contrário de Voldemort e seus homens, tem o que ele chama de “regras” às quais é fiel, não importa as circunstâncias. Ele não é um combatente tão cruel como quer que acreditemos. É ele quem faz essas regras, e uma delas é a de que nenhum inocente deve ser machucado por suas mãos.


James inclinou-se mais para a mesa, sem querer. Sua atenção fixa exclusivamente em Dumbledore.


- Como podemos acreditar nisso? – indagou Tonks. – É o Príncipe Negro, o garoto que Você-Sabe-Quem envia para matar inocentes...!


- Ah, mas, vejam, esse é o ponto digno de atenção – interrompeu-a Dumbledore. – Voldemort não envia Harry para matar inocentes. Ele envia o Príncipe Negro para cumprir suas ordens, para aqueles que têm de ser punidos por desafiá-lo, por traí-lo: seus Comensais da Morte.


O entendimento resplandeceu nos demais e Tonks acenou com a cabeça, seus olhos se arregalando em compreensão.


- É claro! Ele só matou Comensais da Morte! – exclamou ela com alegria.


- Frank e Alice – lembrou Arthur solenemente.


- Ah... é. – Tonks olhou para baixo, o sorriso fugindo de seu rosto.


- Frank e Alice não eram inocentes aos olhos de Harry – explicou Dumbledore com tristeza. – Para ele, inocentes são os não envolvidos na guerra, nessa luta contra Voldemort. Para ele, inocentes são as crianças. – Ele olhou para Molly e Arthur. – Harry não atacou seus filhos porque não são membros da Ordem, não estão lutando ativamente contra Voldemort. Ele não atacou sua filha, porque ela é uma inocente. O mesmo com os filhos de Poppy. Harry os salvou porque eram inocentes. – Ele viu a compreensão na expressão de Arthur agora. – Os alunos estarão seguros em Hogwarts, ele não os machucará.


James não queria dizer o que gritava em sua cabeça. Queria estar sozinho para fazer essa pergunta, mas Remus pareceu notar a mesma coisa também, e fez a pergunta por ele.


- Eu não entendo, por que Voldemort toleraria essas regras de Harry?


- É, afinal, crianças inocentes não são os alvos favoritos dos Comensais da Morte? – indagou Sirius.


- Harry é muito bem sucedido em completar suas chamadas missões – respondeu Dumbledore. – Voldemort o permite lutar da forma que quiser, desde que vença.


James sentiu um forte orgulho pelo filho borbulhar dentro de si. Crescera nas garras do pior bruxo que o mundo mágico já vira, mas ainda assim conseguiu crescer com princípios morais.


- Alguma coisa simplesmente não se encaixa aqui, Dumbledore – disse Tonks. – Por que é que Harry não quer machucar crianças? Por mais triste que pareça, eu acho que Você-Sabe-Quem o faria machucar qualquer coisa viva logo que conseguisse segurar uma varinha. – Ela estremeceu de desgosto. – Não acredito que permitiria que ele tivesse algum tipo de compaixão pelos outros. E, quanto aos inocentes, não são eles que Você-Sabe-Quem geralmente persegue?


- Eu concordo, é estranho e será mais investigado, mas, nesse momento, tudo que precisamos saber é que Harry não machucará nenhum aluno em Hogwarts por escolha própria. – Dumbledore se levantou. – Acho que a reunião deveria ser adiada, devido aos eventos exaustivos do dia. – Ele olhou para Molly e Arthur, antes de olhar para Lily e James. – Acho que vocês têm três jovens que precisam de uma explicação. – Sorriu cansado para eles. – Boa sorte.


xxx


James e Lily entraram na pequena sala e viram Damien sentado no sofá, pálido e preocupado. O menino se levantou assim que os pais entraram, mas não disse nada. O auror fechou a porta e, por um instante, apenas encarou o filho.


- Está... está tudo bem? – perguntou o garoto.


James acenou com a cabeça, aproximando-se do menino com Lily.


- Sim, está tudo bem agora. Molly e Arthur levaram Fred e George para casa, para conversarem com eles.


- O que aconteceu com eles? – indagou Damien com a voz cheia de preocupação. Não vira os gêmeos desde que o deixaram sob a capa e subiram as escadas.


- Nada, felizmente – respondeu James, passando a mão pelo cabelo.


- Sente-se, Damien. – Lily conduziu o menino a uma cadeira e sentou-se perto dele. James sentou-se à mesa de café, em frente ao filho. – Precisamos de uma explicação, Damy – começou ela. – No que estava pensando se infiltrando no quartel-general dessa forma?


O menino baixou os olhos e se mexeu sem jeito.


- Eu sinto muito, mas você e o papai estão aqui há semanas e ninguém diz o que está acontecendo, mas sabemos que algo importante está acontecendo na Ordem, já que têm reuniões quase todos os dias – acusou Damien. – Eu só queria saber o que estava acontecendo, então quando Fred e George fizeram um plano para espionar a reunião, eu vim com eles.


Lily trocou um olhar com James.


- Vocês ouviram a reunião? – perguntou James.


A reunião acabara de começar quando Sturgis entrou correndo na sala, dizendo que Harry partira com a chave do portal de Percy. Sabia que o filho não podia ter ouvido muita coisa.


- Não – respondeu Damien. – Eu estava esperando os gêmeos voltarem. Ouvi-os batendo a porta lá em cima e gritando, então corri para ajuda-los. Eu não percebi, mas tio Aluado e Sturgis Podmore os ouviram também e estava correndo atrás de mim, e tio Aluado esbarrou em mim enquanto eu estava sob a capa. Ele puxou a capa e me trouxe para baixo, me mandando esperar aqui. – O garoto olhou para os pais. – Eu tentei sair, para verificar Fred e George, mas havia tanta comoção, todo mundo parecia em pânico e preocupado, então eu fiquei aqui, fora do caminho.


- Foi uma jogada inteligente – disse Lily. – Você já está encrencado o bastante. Pelo menos escutou Remus e ficou onde estava.


Damien não disse nada, mas olhou confuso para o pai.


- Quem é Harry? – perguntou.


James ficou tenso e Lily olhou surpresa para Damien.


- Como... como sabe sobre Harry? – indagou ela.


- Eu o vi, quando nos transportamos para cá. Ele estava subindo as escadas e você estava gritando o nome dele, tentando impedi-lo. – O menino falou com o pai. – Foi quem Fred e George subiram para ver. – Ele olhou do rosto preocupado da mãe para o rosto igualmente preocupado do pai. – Foi ele quem os prendeu no banheiro?


Lily respirou fundo.


- Sim – respondeu ela baixinho.


Damien olhou para James.


- Por que ele faria isso? – perguntou. – Por que um membro da Ordem prenderia os gêmeos e os deixaria daquela forma?


James e Lily trocaram um último olhar antes de encarar o garoto de doze anos.


- Damien, Harry não é um membro da Ordem – disse Lily.


O menino parecia surpreso.


- Não é? – indagou. – E o que ele está fazendo no quartel-general, então? Quem é ele?


James suspirou.


- Tem uma coisa que eu e sua mãe nunca te contamos – começou ele. – Três anos antes de você nascer, nós tivemos outro filho – revelou, e continuou, ignorando a expressão surpresa do menino o melhor que podia. – Nunca te contamos que você tinha um irmão mais velho porque quando ele tinha quinze meses, foi roubado da gente. – O auror respirou fundo, fechando os olhos. – Meu... amigo... alguém que pensei ser meu amigo levou meu filho e o entregou a Voldemort.


Damien balbuciou alguma coisa, os olhos avelãs arregalados. Olhou para os pais novamente, tentando determinar se estavam falando a verdade. Mas só por suas expressões, podia ver que não estavam mentido.


- Você sabe, é claro, sobre a profecia? – confirmou Lily.


Damien assentiu. Ouviu sobre a profecia quando tinha seis anos. Ron lhe contara quando estava com ele nas férias. Quase todos no mundo mágico sabiam sobre o profetizado, o destinado a destruir Voldemort.


- Neville? – perguntou baixinho.


Lily sacudiu a cabeça tristemente.


- Não é Neville – disse ela.  – Quando a profecia foi feita, eu estava grávida do seu irmão e Alice... Alice estava esperando Neville. Dumbledore sempre acreditou que o profetizado era meu filho, não o dela. – Ela baixou os olhos. – Parece que Voldemort achou o mesmo. Ele fez nosso amigo se virar contra nós, e ele roubou meu filho de baixo do meu teto para que Voldemort pudesse matá-lo.


Damien parecia um pouco pálido, os olhos indo de Lily a James, tentando prosseguir com esse terrível segredo de família.


- Nós nunca te contamos, pois pensamos que não lhe faria bem algum saber que seu irmão foi sequestrado e morto por Voldemort – explicou James. – Mas não sabíamos que ele mudara de ideia. Ele não o matou, mas decidiu criá-lo como seu filho.


Uma sombra de entendimento perpassou o rosto de Damien, e ele subitamente se sentou.


- O Príncipe Negro – sussurrou.


James assentiu, os olhos fixos no filho.


- Quando vi o Príncipe Negro em Nurmengard, eu soube que era meu Harry – explicou. – Ele é espantosamente parecido comigo e tem os olhos da sua mãe. Um simples exame de sangue e eu tinha a prova – continuou o auror. – Harry James Potter, meu filho, mas ele considera Voldemort seu pai. Um pai cujas ordens ele cumpre sem questionar.


Damien não conseguia fazer nada além de encarar o pai, percebendo a dor em sua voz.


- Mas nem tudo está perdido, Damy – explicou Lily depressa. – Sei que deve ter lido um monte de coisas sobre o Príncipe Negro e todas as coisas que ele fez, mas ele fez boas ações também. Ele salvou os filhos de Madame Pomfrey de um incêndio que os Comensais da Morte iniciaram. Ele não é completamente mal! – insistiu.


Damien não disse nada, ficou apenas sentado, tentando compreender aqueles fatos inacreditáveis o mais rápido possível.


- Dumbledore decidiu levar Harry a Hogwarts esse ano, um esforço para fazê-lo ver o mundo real, numa tentativa de fazê-lo mudar de lado – disse James. – Ele acredita que Harry é o profetizado, o único que pode destruir Voldemort. – O auror silenciosamente zombou da ideia. No ritmo que iam, aquilo não parecia provável. – Está fazendo o que pode para protegê-lo do Ministério.


Eles ficaram em silêncio depois disso, Damien não proferiu uma palavra, ficou apenas processando todas as informações.


- Sinto muito por escondermos isso de você – disse Lily, tocando o braço do filho. – Havia tanta coisa acontecendo: primeiro estávamos tentando adiar o julgamento dele no Ministério, mas então o ataque aconteceu e quase o perdemos. Foi por isso que o trouxemos aqui para o quartel-general, para mantê-lo protegido de Voldemort – explicou. – E é por isso que estamos aqui, estamos tentando nos aproximar dele, fazê-lo mudar de ideia e não querer voltar para Voldemort.


- Estávamos planejando contar tudo a você após te levar para casa nesse fim de semana – disse James. – Você logo descobriria.


Damien não falou, mas sentou-se com a cabeça baixa, perdido em pensamentos.


- Damy? – chamou o pai.


O menino ergueu os olhos para ele. Sem falar nada, levantou-se e começou a andar até a porta.


- Damien, aonde você vai? – Lily chamou por ele.


- Lá em cima ver Harry – respondeu simplesmente.


James e Lily se levantaram depressa e bloquearam seu caminho antes que alcançasse a porta.


- Você não pode vê-lo – opôs-se Lily imediatamente.


- Por que não? – indagou Damien.


- Não é... seguro chegar perto dele... no momento. – James tentou explicar. – Ele tentou escapar depois de trancar Fred e George. Quase foi embora, mas foi pego novamente. Está furioso agora.


- Ele é meu irmão, não vai me machucar – respondeu o menino laconicamente.


- Damy, Harry não se considera parte dessa família. Ele não vai te considerar como irmão, não ainda, pelo menos. – O auror sentiu o coração doer terrivelmente ao observar o rosto de Damien se entristecer com suas palavras.


James e Lily sabiam o quanto Damien ansiava por um irmão. Ele queria ter irmãos e irmãs como Ron tinha. Entendiam que o filho só estava se concentrando em uma coisa no momento: no fato de que tinha um irmão. Mas também sabiam exatamente quão ofensivo Harry podia ser. Estavam com ele há mais de uma semana e sabiam que se ele conseguia tratar os pais como lixo, provavelmente faria pior com o irmão mais novo.


- Ele não vai querer conhecê-lo agora. – Lily tentou explicar.


- Você não sabe! – argumentou o garoto. – Ele pode ser legal comigo.


- Damien, você não vai chegar perto de Harry, não hoje à noite – ordenou Lily.


- Vocês tem que pelo menos me deixar vê-lo – insistiu. – Mãe, você acabou de me dizer que eu tenho um irmão mais velho e ele está aqui, mas eu não posso conhecê-lo? Não pode fazer isso! Isso é cruel. Por favor, deixe-me vê-lo – pediu o menino.


James e Lily olharam para o filho mais novo e sentiram o coração partir com o olhar de desespero em seu rosto. Mas eram os pais, e sabiam o que era melhor. Harry estava altamente irritado por ter sido capturado de novo. Não era hora de conhecer ninguém. A ruiva respirou fundou e olhou nos olhos do menino.


- Não, Damien, e essa é minha palavra final – disse ela. Lily lhe entregou uma bolinha de borracha. – É a chave do portal para a Toca. Vá para lá hoje à noite, e vamos providenciar sua volta para casa amanhã.


O menino se sentiu incrivelmente aborrecido com a dispensa, mas recebeu a bola da mãe.


- E quando vou poder conhecê-lo, então? – perguntou.


- Eu não sei, em alguns dias, talvez – respondeu ela.


- Alguns dias? – Damien sacudiu a cabeça. – De jeito nenhum! Não vi meu próprio irmão a vida inteira, e vão me fazer esperar mais alguns dias?


- Pode ser antes – cedeu James. – Eu te trago para vê-lo quando ele estiver mais... calmo.


- Quando? – exigiu o menino.


- Eu não sei, Damien, no fim de semana talvez.


O garoto parecia prestes a explodir de raiva.


- Isso é uma piada! Vocês estão me escondendo um segredo desse tamanho há duas semanas e eu ainda tenho que esperar três dias para ver meu próprio irmão! – Ele olhou de um para o outro, tentando ver se algum deles cederia. Infelizmente, eles não o fariam. – Ótimo, façam do seu jeito!


Damien torceu a bola, ativando a chave do portal.


- Damy, não fique... – tentou James.


- Eu não quero falar com você! – rebateu Damien.


A chave do portal tomou vida, e, com um puxão no umbigo, o menino foi transportado de volta para a Toca.


James se virou para encarar a esposa.


- Brilhante, agora são os dois! – disse ele, infeliz.


 

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