Bad Behaviour



Disclaimer: Harry Potter não me pertence e tudo que vocês reconhecem pertence a J.K. Rowling. Essa história também é inspirada em “A Shattered Prophecy”, do Project Dark Overlord.


Chapter Eighteen – Bad Behaviour


Anoitecera, as luzes da rua tomaram vida, lançando um brilho suave por toda a rua. De vez em quando um carro passava, salpicando água das poças deixadas pela chuva. Na janela de um dos escuros edifícios de pedra, alinhados ao longo de Grimmauld Place, estava um garoto de cabelos escuros, olhando a rua tranquila com os olhos cansados. Harry estava sentado no parapeito da janela há três horas, só encarando a rua deserta, sem encontrar nada que pudesse distraí-lo da situação na qual se encontrava. Recostou a cabeça na vidraça da janela e um suspiro de alívio lhe escapou quando o vidro frio causou uma sensação deliciosa em sua cicatriz ardente. Lentamente, a dor diminuía, logo não seria nada mais que uma sensação de formigamento. Seu pai se acalmara consideravelmente, percebeu ele.


O garoto se impediu de pensar no pai. Quanto mais pensava, mais ficava furioso por estar preso e longe dele. Nunca admitiria em voz alta, mas estava preocupado, confuso com o que Dumbledore faria agora que, de alguma forma, convencera o Ministro a deixá-lo no quartel-general da Ordem. O que o bruxo planejava fazer com ele?


O pensamento fez Harry fechar os olhos, na tentativa de controlar o desejo crescente de quebrar alguma coisa. Abriu os olhos e olhou em volta do quarto, o chão ainda estava cheio de móveis quebrados, o quarto que agora era sua prisão. Seus olhos encontraram o prato de comida deixado pelos Potters mais cedo em cima da mesa de cabeceira. Desviou o olhar, optando por contemplar a janela novamente. Nos últimos dias sobrevivera principalmente de água. Não conseguiu comer o mingau de aveia servido três vezes ao dia em Nurmengard e embora o que lhe forneciam ali pudesse ser chamado de comida, sentia-se muito doente para tentar comer alguma coisa. Os ferimentos foram tratados e estavam em processo de cicatrização, mas ainda doíam o bastante para fazê-lo se sentir doente.


O adolescente foi tirado de seus devaneios silenciosos quando a porta se abriu ruidosamente atrás dele. Ele se impediu de olhar em volta. Ficou onde estava, fingindo não ter ouvido nada.


O tilintar acompanhando cada passo lhe disse que era Alastor “Olho-Tonto” Moody que entrara, não James ou Lily. Quase podia sentir os olhos, o mágico e o normal, sobre si, perfurando sua nuca. Por mais que quisesse ignorar o auror, o incômodo de ser observado foi demais para ele. Virou-se e viu Moody se aproximando da cama, uma taça na mão. Viu o auror colocá-la sobre a mesa de cabeceira, ao lado do prato de comida intacto. O excêntrico olho mágico azul não deixou Harry por um segundo sequer.


O garoto ficou onde estava, observando o homem se virar para encará-lo. No primeiro instante, nenhum deles falou. Moody quebrou o silêncio com um grunhido.


- Sua mãe mandou esse chá de ervas medicinais – disse ele, referindo-se à taça. – Beba antes que esfrie.


- Ela não é minha mãe – respondeu Harry com indiferença.


Moody não mostrou qualquer reação. Ele começou a andar de volta em direção à porta.


- É instrução de Madame Pomfrey. Ela os entregou antes de ir embora. Certifique-se de tomá-lo.


Harry sorriu debochado para ele.


- E foi instrução dela você me trazer chá também? – indagou.


Moody chegou ao pé da cama, o olho mágico girando no globo ocular, assimilando cada pedaço do quarto antes de pousar sobre o garoto novamente.


- Eu não confio você com mais ninguém – respondeu ele. – Pode enganá-los, mas não a mim.


Harry arqueou uma sobrancelha para ele.


- Como é que estou enganando alguém?


- Só porque tem rosto de criança, não te faz uma – disse Moody. – Posso vê-lo pelo que é: um monstro! – O rosto fortemente marcado do auror tinha uma expressão de ódio. – Os outros podem baixar a guarda perto de você, mas eu não.


O adolescente sorriu para ele, finalmente se ajustando e ficando de costas para a janela, com os dois pés no chão.


- Acha que sabe tudo sobre mim, não é, auror Moody? – indagou ele.


- Eu passei a maior parte da minha vida como auror – respondeu o homem. – Posso dizer o que a pessoa é com apenas um olhar.


- É porque você está trapaceando – disse o jovem – Nem todo mundo tem um olho mágico.


Moody parou na frente dele.


- Não é preciso um olho mágico para ver quem você é – disse ele.


- E é um monstro, certo? – confirmou Harry com um sorriso. – E você baseia essa análise em quê exatamente?


- Você é um assassino – respondeu o auror friamente.


- Você também é – retrucou o garoto.


- Há um mundo de diferença entre eu e você! – grunhiu Moody com raiva.


- Concordo – assentiu Harry. – Em primeiro lugar, eu sou muito mais bonito. – Ele inclinou a cabeça ao analisar o auror. – E tenho todos os meus membros intactos.


- Por enquanto – rosnou Moody.


O garoto riu, claramente se divertindo com o auror.


- Você sabe que não me assusta – disse ele. – Sei que Dumbledore tem suas mãos atadas. Não pode me machucar, mesmo que isso seja tudo que queira fazer.


Harry podia ver apenas por sua expressão quanta dor ele queira lhe causar.


Moody deu outro passa na direção do jovem.


- Não pense que vai ser poupado só porque Dumbledore diz ou porque é o filho perdido de Potter – advertiu. – Você vai pagar por seus crimes, eu vou me certificar disso!


- É passível de interpretação – disse Harry calmamente. – Para você o que parece um crime, para mim não é nada mais que o desejo do meu pai. – Seus olhos esmeraldas permaneceram no auror. – O que você considera seu dever, outros podem ver como um crime.


Moody parecia temporariamente surpreso.


- É mesmo? – perguntou ironicamente. – Como o quê?


Harry sorriu debochado.


- Matar, torturar, sequestrar. – Ele ergueu o olhar e encontrou o do auror na última palavra. – Entre outras coisas, é claro.


Moody sorriu de volta para ele.


- Não é crime quando quem se mata ou tortura é mau, assassino e sangue-frio!


- Para você, talvez – respondeu Harry. – Mas muitos argumentariam que crime é crime.


Moody sustentou seu olhar por um tempo, antes de desviar. Ele meneou a cabeça na direção da taça.


- Beba seu maldito chá! – disse ele, virando-se para sair. – Antes que fique muito frio.


Harry sorriu, mas não se mexeu.


- Acha mesmo que eu não sei o que tem nesse chá?


Moody parou no meio do caminho e se virou para encará-lo.


- O que acha que estaria no seu chá? – indagou.


Harry riu, balançando a cabeça de um lado para o outro lentamente. Ele encarou o auror de volta.


- Ora, vamos, me dê um pouco de crédito! – Ele meneou a cabeça para a taça. – A coisa toda está cheia de Veritaserum.


O olho mágico de Moody girou no globo, disparando para a taça e então de volta para o jovem.


- Paranoico, hein? – disse ele.


- Não, só inteligente – respondeu o garoto. – Considerando que foi você quem trouxe e já me disse para tomá-lo três vezes, significa que ou se importa muito com minha saúde ou o adulterou com Veritaserum.


Finalmente Moody desistiu do fingimento e se endireitou, sorrindo para Harry.


- Muito bem – elogiou –, pelo menos você não é como os idiotas de sempre. É cauteloso. – Seu sorriso se transformou em deboche. – Mas é inútil, garoto. Por mais esperto que seja, eu vou te pegar eventualmente.


- Mesmo que o faça, não vai tirar muito de mim – retrucou Harry calmamente, mesmo que a ideia de ser drogado com o soro da verdade no meio dos membros da Ordem estivesse lhe deixando em pânico.


- Não ache que sou igual àqueles guardas de Nurmengard – disse Moody. – Interrogar sob o efeito de Veritaserum é minha especialidade, e eu tenho mais de quarenta anos de experiência. – O auror riu maldosamente. – Acredite, eu vou obter respostas de você, não importa o quão evasivo tente ser.


Harry hesitou, o sorriso deslizando de seu rosto. Se xingou mentalmente por mostrar o quanto a ameaça o afetara.


- Pode tentar. – Franziu o cenho para ele.


- É o que pretendo. – Moody sorriu, virando-se para sair. – Deve saber que estou quase sempre aqui no quartel-general, é como se eu morasse aqui – disse quando chegou à porta. – Seja mais do que cauteloso com o que come ou bebe por aqui. Nunca se sabe com que refeição eu cruzei.


Ele lançou a Harry um último sorriso antes de sair, fechando a porta ao passar.


xxx


James bateu à porta, esperando uma resposta. Não ouviu nada. Cuidadosamente, abriu uma fresta da porta.


- Harry? Está acordado? – chamou.


Ainda assim, não houve resposta. James se remexeu, olhando para os dois amigos.


- Harry, eu vou entrar com Sirius e Remus – gritou ele.


Achou que fosse melhor avisá-lo, para que não se assustasse com três aurores entrando no quarto de manhã logo cedo. A trava de magia ainda estava posta, mas isso não significava que o garoto não pudesse ser violento se quisesse. James se lembrava muito bem quão avançadas eram as habilidades de defesa física do filho.


Ainda não houve resposta de dentro, então o auror empurrou mais a porta. Entrou no quarto, segurando com cuidado um prato de café da manhã nas mãos. Seu olhar foi direto para a cama, esperando vê-lo ainda dormindo.


A cama estava vazia.


James adentrou mais o quarto, os olhos disparando para todos os cantos, tentando achar o garoto de cabelos negros. Não conseguiu encontrá-lo em lugar algum.


- Harry? – chamou, sentindo o coração acelerar de medo. Virou-se para encarar os amigos.


- Onde ele foi?


- Você não trancou a porta ondem à noite? – indagou Sirius.


- Como? – perguntou James irritado. – Não tem fechadura na porta e a trava significa que a porta não pode ser selada por magia!


- Não vamos entrar em pânico – disse Remus. – Ele não pode sair do quartel-general, deve estar aqui em algum lugar.


- Eu vou checar o restante do andar – disse Sirius, virando-se para a porta. – Você fica com o térreo. Moony, você...


O som de uma fechadura estalando alto interrompeu o auror. Os três homens se viraram para olhar a porta do banheiro se abrir e Harry sair por ela, o cabelo ainda molhado do banho, pingando em seus olhos. O adolescente afastou o cabelo dos olhos, e os encarou friamente.


James sentiu o alívio inundá-lo ao avistá-lo. De repente se sentiu muito tolo, apavorando-se antes mesmo de verificar o quarto e o banheiro direito. Era treinamento básico de auror checar o local, todo o local, antes de agir. Olhou para os outros dois aurores, que lhe lançaram olhares envergonhados em resposta. O homem se virou para encarar o adolescente.


- Harry, aí está você. – Ele forçou uma risada. – Eu só estava... – Ele olhou para o prato em sua mão. – Trazendo café da manhã para você. – Estendeu o prato.


O jovem não disse nada, mas tinha um leve sorriso nos lábios. James sabia que devia tê-lo ouvido do banheiro, em pânico e se perguntando onde ele estava. Sem dizer uma palavra, o garoto se afastou em direção à cama, usando a toalha para esfregar os cabelos molhados e ignorando-os completamente.


James viu que usava as mesmas roupas do dia anterior, a camisa azul e o jeans preto emprestados de Sirius. Com um solavanco, percebeu que era porque não tinha outras roupas. As que estava usando quando foi trazido estavam sujas demais. Xingando-se por não notar isso antes, fez uma nota mental de dizer a Lily para conseguir roupas novas para ele.


Enquanto James caminhava até ele, notou um prato intacto de comida ainda sobre a mesa de cabeceira. Ele não comera o jantar na noite anterior, assim como o almoço que deixaram para ele. O auror olhou irritado para o garoto. Estendeu o prato com bacon, ovos e torradas que a esposa preparara, bem embaixo do nariz de Harry.


O adolescente olhou para o pranto antes de encontrar os olhos dele.


- Quê? – perguntou.


James arqueou uma sobrancelha.


- Não é tão complicado – respondeu o auror. – Coma seu café.


- Não estou com fome – retrucou Harry, empurrando a mão do homem bruscamente.


- Está planejando morrer de fome? – indagou James, seu aborrecimento transformando-se rapidamente em raiva.


Harry olhou para ele, encarando-o.


- E o que você tem a ver com isso? – questionou.


James ficou em silêncio, os olhos se estreitando para o garoto à sua frente.


- Não vai funcionar – disse calmamente. – Pode morrer de fome o quanto quiser, mas não vai me chantagear emocionalmente a te deixar ir embora.


O jovem sorriu debochado para ele, recostando-se e descansando no encosto.


- Eu nem sonharia com isso – retrucou.


James sustentou seu olhar por mais um instante, antes de finalmente ceder. Colocou o prato sobre a cama, ao lado do adolescente.


- Coma, Harry. Quando acabar, vamos transferi-lo para um novo quarto.


- O que há de errado com esse aqui? – perguntou ele.


James apontou para o chão, coberto de madeira quebrada.


- Está um pouco bagunçado – disse sarcasticamente.


- Isso não me incomoda – disse o jovem, sacudindo o ombro.


- Bem, me incomoda – respondeu o auror com palavras afiadas.


Harry o examinou, os olhos investigando seu rosto.


- Não se preocupe, eu não usaria nada disso. – O garoto apontou para as lascas de madeira. – Não é bem meu estilo, lâminas são mais minha praia.


James demorou um instante para perceber o que Harry estava sugerindo. A verdade era que não considerara a possibilidade de o jovem utilizar os pedaços de maneira como arma. O homem olhou para os escombros, notando quão afiados eram alguns pedaços.


O adolescente se levantou, jogando de lado a toalha que estivera usando para secar o cabelo.


- Com seu café primeiro – disse James.


Harry o ignorou. Olhou para trás e viu Remus e Sirius próximos à porta.


- Hum, três aurores para transferir um garoto de 16 anos de um quarto para o outro. – Ele olhou de volta para James com um sorrisinho. – Eu não tomaria como um elogio se você tivesse trazido um pouco mais consigo.


- Na verdade, Harry, viemos ver como você estava – respondeu Remus, antes que James pudesse falar.


Harry olhou para o auror que falara.


- Ainda respirando – respondeu.


- Que bom – disse Sirius sem jeito.


Harry olhou para ele, mas foi rápido em desviar o olhar, furioso.


- Vamos esperar lá fora – disse James, caminhando para se juntar aos amigos. – Quando terminar o café, vamos para seu novo quarto.


Harry revirou os olhos antes de estender a mão para a mesa de cabeceira e pegar um punhado de frascos de poções deixados para ele por Poppy. Em seguida, caminhou até a porta.


- Acabe logo com isso, Potter – disse ao passar pelo auror. – Eu tenho um dia muito ocupado de tédio absoluto.


James novamente se viu olhando exasperado para os dois amigos. Remus assentiu para ele, gesticulando para fazer o que o garoto disse. De fato, não havia sentido em forçá-lo a comer.


James caminhou até a porta, abriu-a e deixou o adolescente passar, enquanto Remus e Sirius começavam a limpar o quarto, levantando os móveis quebrados e estilhaços de madeira do jeito trouxa.


xxx


James conduziu Harry pelo corredor. O novo quarto era apenas algumas portas mais abaixo. O garoto andou em silêncio ao seu lado. O auror olhou para ele, notando quão cansado parecia.


- Não é tão ruim, sabe – disse calmamente. – Se parar de lutar conosco, verá que ficar aqui não é tão ruim.


O adolescente não olhou para ele.


- Só porque não tem grades, esse lugar não deixa de ser uma prisão.


James olhou para ele, lutando para encontrar uma resposta. Mais cedo do que queria, eles chegaram ao quarto escolhido. O auror o abriu, deixando o garoto entrar primeiro. Era quase idêntico ao que ele acabara de desocupar. A mobília era a mesma, as cortinas na janela eram as mesmas. A cama de colunas, o guarda-roupa, a mesa de cabeceira, a escrivaninha e a cadeira, tudo era idêntico.  Harry olhou para o lado e viu a porta de madeira que provavelmente levava a um banheiro similar. Virou-se para encarar o outro, que estava na soleira da porta. Sem dizer uma palavra a ele, o jovem caminhou até a cama, sentando-se nela.


O mais velho observou, tentando descobrir o que podia dizer para oferecer algum tipo de conforto. Não queria que o garoto sentisse que estava em uma prisão. Limpando a garganta sem jeito, entrou no quarto.


- Você… - Ele hesitou. – Eu posso trazer… hum… livros. – Ofereceu. – Gosta de ler? – indagou.


Lily gostava de ler, talvez Harry herdara esse interesse dela.


O garoto olhou para ele, mas não respondeu. Baixou o olhar de volta para a cama. O auror tentou de novo.


- Sei que deve estar ficando entediado – disse ele, tentando mostrar que entendia. – O que, hum, o que você quer fazer?


- Ir para casa – respondeu Harry com simplicidade.


James sentiu as palavras perfurarem seu coração.


- Harry. – Ele sacudiu a cabeça. – Você está em casa. Você está de volta com a gente, com a sua família. Você pertence aqui – insistiu ele, aproximando-se até estar perto do garoto.


- Ah, claro – zombou Harry. – Eu pertenço aqui desde que esteja disposto a dar informação. Se não, serei jogado direto nos braços dos dementadores. – Ele levantou os olhos, olhando para James e encarando seus assustados olhos castanhos. – Sei por que está agindo assim – disse ele –, e porque me salvou do afogamento. Fez isso porque achou que ia conseguir informação sobre Voldemort. É por isso que não me deixou morrer naquela cela em Nurmengard e está armando todo o teatro do “eu me importo”, achando que vou cair e contar tudo que sei. – O adolescente sorriu debochado para ele. – Infelizmente para você, Potter, eu posso ver o que está fazendo.


- Eu te salvei em Nurmengard porque estava em apuros – defendeu-se o auror. – Não importa quem estivesse naquela cela, eu teria feito a mesma coisa por qualquer um.  – Ele se sentou de frente ao garoto, encarando-o. – Eu não quero informação de você, Harry. Eu me importo com você sim, simplesmente porque você é meu filho.


O adolescente o encarava, sua expressão ficando sombria.


- Você não se cansa de mentir? – questionou.


- Eu me cansaria se estivesse mentindo – respondeu James.


Harry não disse nada, mas seus olhos queimavam de raiva.


Uma batida na porta fez o auror olhar em volta. A porta se abriu e Sirius apareceu.


- Desculpa, Pontas, Dumbledore está aqui. Ele quer falar com você.


James acenou para ele, levantando-se.


- Vá atualizá-lo – disse Harry, chamando a atenção do outro. – Outra tentativa falha.


James lançou um olhar demorado ao garoto antes de se virar para ir embora, sem conseguir ver como podia se defender e fazê-lo acreditar nele.


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Dois dias se passaram desde que Harry foi transferido para o novo quarto e suas refeições ainda estavam voltando intactas.


- Do que diabos ele está sobrevivendo? – perguntou Sirius ao ver Lily trazendo o jantar de volta.


- Poções – sugeriu Remus. – É a única coisa que ele está tomando. E até elas estão quase acabando.


Lily largou o prato na pia com um estrondo, o rosto rosa de raiva reprimida. A ruiva esfregou a testa ao tentar manter a calma.


- Ele está se matando! – disse ela. – É tão teimoso! Não escuta uma palavra do que eu digo!


- Adolescentes – comentou Remus.


James estava sentado à mesa, perdido em suas próprias preocupações sobre como podia fazer o filho parar com aquele comportamento suicida.


- Eu não entendo – disse Sirius, sacudindo a cabeça. – Por que ele está agindo assim? É claro que sabe que isso não vai levar a nada, a não ser deixá-lo muito, muito doente!


- Ele já não está no melhor estado de saúde! – disse Lily, dando as costas à pia para encarar os três homens sentados à mesa. – Temos que fazer alguma coisa, não pode continuar desse jeito!


James esfregou o rosto, suspirando profundamente. No início, quando Harry recusou as refeições, dissera a si e aos outros que o garoto comeria quando ficasse faminto o bastante. Mas agora, no quarto dia desde que foi trazido ao quartel-general, ele ainda não comera nada. O auror podia adivinhar o nível de comida que era fornecida em Nurmengard e isso apenas alimentava a preocupação com a saúde do jovem.


- O que podemos fazer? – perguntou ele, respondendo à esposa. – Além de alimentá-lo à força, não há muito que possamos fazer.


- Você não vai alimentá-lo à força – disse Remus depressa.


- É claro que não – descartou James. – Só estou dizendo que não há mais nada que possamos fazer para que ele coma. Já tentamos conversar com ele, ser rígidos, pedir gentilmente. – Ele gesticulou para a esposa. – Lily até perguntou se havia algo em particular que ele gostaria de comer, que ela cozinharia para ele.


- O que ele disse? – indagou Remus.


James encontrou os olhos da esposa antes de desviar o olhar.


- Ele disse para ela cortar o coração de Dumbledore, cozinhá-lo e, talvez, ele comesse.


Sirius quase engasgou com a bebida.


- Caramba! – xingou ele, enxugando o queixo. – Não leve a mal, Pontas, mas Harry me assusta.


- Ele está me assustando também – disse James, tirando os óculos e esfregando os olhos. – Está me assustando ao ponto que não consigo falar com ele. Descaradamente se recusa a aceitar que nos importamos com ele. É tão... dedicado àquele monstro! – James cuspiu a palavra. – Que está pronto e disposto a morrer por ele! E estou morrendo de medo que isso possa acontecer em quatro meses, quando Fudge vier procurar por ele!


Lily atravessou a cozinha e ficou ao lado do esposo, colocando as duas mãos em seus ombros, forçando-o a encará-la.


- Não vamos deixar isso acontecer – disse ela com convicção. – Vamos convencer Harry, um passo de cada vez.


Ela deu um beijo reconfortante em James, que olhou para ela, suspirando.


- Eu só, eu não sei o que fazer – confessou ele. – Ter só quatro meses para mostrar mudança em Harry está me deixando em pânico. É muito pouco, e ele é teimoso demais!.


- Igual ao pai. – Lily sorriu.


James ergueu os olhos para ela, um sorriso relutante forçando caminho em seu rosto cansado.


- É, bem, eu costumava pensar que era uma característica cativante – disse ele. – Agora penso diferente.


Lily se endireitou, um olhar pensativo em seu rosto.


- Acabei de pensar em algo que pode nos ajudar – disse ela.


A ruiva correu para a porta.


- Espere, aonde você vai? – perguntou James.


- Trazer uma pessoa que rompeu a teimosia de Harry da última vez – respondeu Lily, desaparecendo na porta.


xxx


Uma batida na porta ecoou pelo quarto. Harry ignorou. Quem quer que fosse entraria de qualquer jeito, independentemente de ele mandar ir embora. Um instante depois, a porta estalou e abriu. O garoto olhou para a porta, curioso para ver qual membro da Ordem era agora. Ficou surpreso quando viu o rosto risonho da enfermeira em vez disso.


- Poppy?


A enfermeira sorriu afetuosamente ao entrar apressada, carregando uma pequena sacola plástica consigo.


- Boa tarde, Harry – cumprimentou ela, chegando ao seu lado. – Como está se sentindo?


- O que está fazendo aqui? – indagou ele.


- Eu queria vir te ver – respondeu ela, colocando a sacola sobre a mesa de cabeceira. – Estava tentando falar com Dumbledore para pedir para agendar uma visita ao quartel-general.


A mulher caminhou até o canto do quarto e puxou a cadeira próxima à mesa em direção à cama, para poder sentar perto dele.


- Não sou um membro da Ordem, então tive que esperar o diretor arranjar alguém para me acompanhar até aqui. – Ela o fitou antes de continuar. – Mas sua mãe foi me ver ontem à noite e me trouxe aqui hoje. Ela me atualizou sobre sua saúde. – Ela o olhou com firmeza. – Por que não está comendo? – perguntou sem rodeios.


Harry sorriu para ela.


- Devo ter deixado meu apetite em casa – respondeu ele. – Vou ter que volta para pegá-lo.


- Harry – começou Poppy em voz baixa. – Por favor, não vamos ser infantis.


O adolescente baixou os olhos, encarando a cama, sem dizer nada. A enfermeira pegou a sacola e começou a abri-la. Tirou um recipiente branco de plástico. O aroma que subitamente encheu o cômodo fez a boca de Harry se encher de água e seu estômago roncar alto. Ela tirou uma colher de metal e colocou-a em cima da caixa retangular.


- Aqui, eu te trouxe uma coisa. – Ela estendeu a caixa para ele. – É sopa, feita em casa.


Ele pegou a caixa, percebendo que estava quente ao tocá-la.


- Feita em casa? – perguntou.


- Sim, eu mesma fiz – disse Poppy, sem encará-lo ao falar.


Os olhos do adolescente se estreitaram para ela.


- É mesmo? – perguntou ele. – É de quê?


Poppy pareceu perdida de repente.


- Como?


- Essa sopa é de quê? – perguntou o garoto.


- É… minestrone – disse ela, nada convincente.


Harry levantou um canto da tampa vedadora e espiou. Levantou os olhos, sorrindo para ela.


- É sopa de lentilha – disse ele.


Poppy suspirou e fechou os olhos.


- Tudo bem, eu confesso que não fiz. – Ela olhou para o jovem com um sorriso. – Não sei fazer sopa, nunca fica como eu gostaria. Eu peguei num café trouxa quando vinha para cá – admitiu. – Eu nem sequer perguntei que tipo de sopa era. Só peguei a “Sopa do Dia” e corri para encontrar Lily para poder vir vê-lo.


Harry olhou para o depósito de plástico e em seguida para ela, com uma sobrancelha arqueada.


- Eu trouxe o recipiente de casa e pedi a moça no café pra colocar minha sopa nele – explicou ela.


Harry não pôde deixar de rir dela.


- Parece que você tinha tudo planejado – disse ele. – Se tivesse perguntado que tipo de sopa era, teria saído dessa.


A mulher sorriu envergonhada para ele.


- Desculpa, Harry. Eu só queria que você comesse. Achei que teria mais chance se dissesse que eu mesma fiz a sopa.


O garoto abriu a tampa, deixando o delicioso aroma encher o ar. Mergulhou a colher na sopa e olhou para Poppy. Ela sorriu e assentiu, encorajando-o.


- Já que teve todo esse trabalho – provocou Harry.


Ele tomou uma colherada, saboreando o gosto de comida de verdade em mais de uma semana.


A enfermeira observou com alegria o jovem começar a tomar a sopa, sua fome evidente pela forma que se concentrava no depósito.


- Têm dois pãezinhos de manteiga na bolsa – disse Poppy, acabando de se lembrar.


Harry riu.


- Eles são caseiros também?


- Sim, assim como a sopa. – Poppy riu.


Ela tirou os pãezinhos embrulhados e os entregou ao garoto, que os pegou alegremente. A mulher tirou o último item da sacola plástica, uma garrafinha de suco de laranja, e colocou ao lado dele.


- Estava boa? – perguntou ela quando Harry pousou o recipiente vazio.


- Sabe quando você não comeu nada na última semana e então come algo que é apenas medíocre, mas parece delicioso?


- Sim – respondeu ela lentamente.


- Foi assim – disse Harry.


Poppy balançou a cabeça para ele.


- Então, me conte, por que não estava comendo nada? – indagou ela novamente.


O garoto brincou com a garrafa de suco, virando-a de um lado para o outro.


- Eu te disse – respondeu ele.


- O motivo verdadeiro, Harry – insistiu Poppy. – Sei que é inteligente o bastante para saber que morrer de forme não te faria bem algum. Então, por que fez isso?


O adolescente olhou pra ela, fazendo uma pausa momentânea. Contar a ela sobre o que Moody fizera e ameaçara não faria mal algum. Então, o jovem respirou fundo e contou sobre seu encontro com o auror.


xxx


James e Lily ergueram o olhar enquanto Poppy descia as escadas. Ambos correram para ela, conduzindo-a à cozinha. Tentaram fazê-la se sentar, mas a mulher recusou.


- Não, obrigada – disse ela secamente, só sua expressão já dizia quão zangada estava.


- O que aconteceu, Poppy? – indagou Lily.


- Bem, eu descobri porque ele não estava comendo – começou ela, suas narinas dilatando. - Estava com medo que o auror Moody cumprisse a palavra e adulterasse sua comida com Veritaserum, para que pudesse interrogá-lo por informações.


- Quê? – exclamaram James e Lily.


- Harry disse que aquele auror Moody tentou fazê-lo beber o chá de ervas medicinais que você preparou. – Ela gesticulou para a ruiva. – Mas ele tinha adulterado com Veritaserum. Quando ele se recusou a tomar, o auror ameaçou colocar o soro da verdade em uma de suas refeições. Já que o soro não tem cheiro, nem gosto, Harry não tinha como saber qual delas foi adulterada, então fez a única coisa que achou ser segura: evitou a comida completamente. Ele comeu a comida que eu trouxe, porque eu disse que peguei num café trouxa, então sabia que era seguro.


James passou a mão pelo cabelo, agitado.


- Não acredito que Moody pôde fazer isso! – disse ele. – Aquele filho da mãe! – sibilou. – O que diabos acha que está fazendo?


- Sei que é uma questão difícil e complicada – disse Poppy, falando com o casal –, mas têm que ter muito cuidado em como tratam Harry. Ele já acha que está cercado por inimigos, não alimentem essa crença o maltratando.


- Não vamos maltratá-lo – disse Lily. – Nunca deixaríamos Moody interrogá-lo. Não acredito que ele achou que podia simplesmente adulterar a bebida de Harry.


A ruiva se sentia terrivelmente culpada. Ela preparara o chá e estava pronta para levá-lo quando encontrou o auror, que lhe disse que levaria, já que estava indo para lá verificar se havia alguma arma escondida no quarto do garoto. Ela cedera e o deixara levar a bebida, sabendo que o homem não descansaria enquanto não tivesse certeza que Harry não tinha mais armas escondidas no quarto. Nunca pensou que ele planejara drogar e interrogar seu filho.


- Conversem com Harry – aconselhou Poppy. – Ele precisa saber que vocês dois estão aqui por ele e que vão protegê-lo. – Ela se endireitou, a boca pressionada em um linha, lembrando Minerva McGonagall. – E se eu fosse vocês, falaria com Alastor Moody também.


- Ah, não se preocupe com isso – disse Lily, furiosa. – Vamos falar com ele! Ele não vai mais chegar perto de Harry e nem da comida dele!


xxx


Sirius entrou na sala de visitas, levando mais três frascos de poção incolor.


- Encontrei esses atrás da tapeçaria no segundo andar – disse ele, adicionando-os à crescente pilha sobre a mesa.


- Caramba – disse Remus, examinando os cerca de quarenta frascos empilhados sobre a mesa. – Moody é realmente maluco!


- Eu venho dizendo isso há anos – reclamou Sirius.


James entrou, seguido por Lily. Ambos tinham dois frascos em cada uma das mãos e os acrescentaram à pilha.


- Acho que é tudo. – James respirou, um pouco sem fôlego. – Caramba, que saudades de usar magia.


A trava de magia significava que os quatro tinham que procurar por frascos de Veritaserum no quartel-general do jeito trouxa, e procurar garrafinhas em um lugar tão grande quanto a mansão Black sem magia não era fácil.


- Já procuramos três vezes nos dois primeiros andares – disse Remus. – Está tudo limpo. – Ele sacudiu a cabeça cansado. – Se Veritaserum tivesse pelo menos um pouquinho de fragrância, eu e Almofadinhas tínhamos farejado.


- E não ajuda em nada ter dois cachorros como melhores amigos – comentou Lily.


- Valeu, Lils! – Sirius lançou-lhe um falso olhar magoado, que ela ignorou.


- Verificamos o terceiro e quarto andar também, assim como o jardim lá de trás – informou James. – Está tudo limpo agora.


- E só levou quatro horas. – Remus sorriu. – Nada mal, levando em conta todos os aspectos.


- O que possuiu Moody para sair escondendo Veritaserum em todo canto? – indagou Sirius.


- Ele é assim. Ele mantém um esconderijo secreto de poções em diversos lugares. Dessa forma, se um for descoberto, ainda terá muitos outros – respondeu James.


- Ele exagerou aqui! – reclamou Sirius.


Dos quarenta e poucos frascos, apenas dez estavam no armário de poções. Os demais estavam espalhados pela mansão.


- Devo chamá-lo? – perguntou Lily a James.


- Sim, acho que estamos prontos. – James sorriu.


Lily sorriu de volta e correu para a porta. Levou apenas 10 minutos para ela voltar, Harry em seu encalço, não parecendo nada feliz em ser chamado para descer. Assim que passou pela porta, parou, os olhos correndo para a mesa e as garrafas de Veritaserum empilhadas sobre ela. Seus olhos encontraram James e ele olhou furioso para o auror.


- O que é isso? – perguntou irritado.


James tentou manter a calma e não deixar a maneira de Harry falar o incomodar.


- Poppy nos contou sobre o que Moody tentou fazer com você.


Os olhos do garoto saíram de James para os frascos de poção da verdade sobre a mesa, antes de voltarem para o auror.


- E? – indagou.


- E eu quero que saiba que o que Moody fez foi inaceitável. – James podia ver a surpresa passar rapidamente pelo rosto do jovem. Podia ver que não era isso que o garoto esperava que dissesse. Ele continuou. – Ele agiu sozinho e não disse nada a ninguém sobre tentar levá-lo a beber Veritaserum. Não me agrada ele ter te ameaçado, Harry, e eu vou falar com ele sobre isso.


O adolescente sacudiu os ombros.


- Faça o que diabos quiser. Por que está me contando isso?


Lily quase o repreendeu por falar dessa maneira, mas Remus já segurara sua mão, apertando-a. Ele balançou a cabeça para ela, não era o momento para repreendê-lo.


- Quero que saiba que não está sozinho – explicou James. – Ninguém fica impune por te ameaçar dessa forma. Eu não vou tolerar isso.


A expressão de Harry ficou sombria ao encarar o auror furiosamente.


Sirius e James começaram a dobrar os cantos da toalha de mesa, reunindo os frascos no centro dela. James levantou o pano pelas quatro pontas, os frascos chacoalhando uns contra os outros, andou na direção do garoto com a toalha, e parou diante dele.


- São todos os frascos de Veritaserum que estavam aqui na sede – disse a Harry e colocou a toalha no chão, enquanto o jovem observava confuso.


De repente, o auror levantou o pé e o baixou sobre a toalha, esmagando os frascos. Ele fez isso de novo, e de novo, até ter certeza que todas as garrafas estavam quebradas. Tornou a erguer os olhos para o adolescente, vendo a surpresa em seu olhar.


- Agora não há mais Veritaserum aqui no quartel-general – disse com um sorriso. – Não precisa mais se preocupar com sua comida ou bebida.


Harry baixou os olhos para os frascos quebrados e em seguida os ergueu para James.


- E como é que eu sei que estão todos aí? – perguntou com desconfiança. – Você pode ter guardado um frasco.


- Acho que vai ter apenas que confiar em mim e acreditar que estão todos aí – respondeu James.


- Confiar em você? – indagou Harry. O garoto franziu o cenho para ele. – Nunca na minha vida, Potter.


Sem dizer uma palavra, o adolescente saiu do cômodo, voltando para seu quarto. James não se virou para encarar ninguém. Sabia que estavam tão chocados e magoados quanto ele.


xxx


Naquela noite, vários membros da Ordem chegaram, querendo falar com Dumbledore sobre uma coisa ou outra. Para o aborrecimento de James, Moody não veio. Mas o auror falou com Albus e disse o que o outro tentara fazer. O diretor assegurou a James e Lily que falaria com Alastor, e que isso não aconteceria de novo. James ainda se prometeu que falaria com Moody e o colocaria no lugar certo por fazer Harry ficar ainda mais desconfiado que antes.


Pouco antes do jantar, Arthur e Molly Weasley chegaram ao quartel-general. A ruiva correu para ajudar Lily, trazendo consigo alguns pratos de comida que preparara na Toca. As duas foram para a cozinha, conversando sobre culinária à moda trouxa e como a trava ao menos lhes permitira apreciar o quanto utilizavam magia para preparar as refeições.


Arthur sentou-se ao lado de James, percebendo quão deprimido o homem parecia.


- Como está lidando com Harry? – indagou o ruivo.


James sacudiu a cabeça.


- Não estou – disse com sinceridade. – As coisas estão indo de mal a pior. – Ele ergueu os olhos para o ruivo. – Ele não confia em mim.


Arthur assentiu.


- Isso é compreensível – disse ele. – Ele não te conhece, por que devia confiar em você?


- Eu sei, é só que… - James passou a mão pelo cabelo. – Eu quero que ele confie em mim, que saiba que não vou deixar ninguém machucá-lo, mas essa rejeição é, no mínimo, ofensiva.


Arthur assentiu em compreensão.


- Eu sei, James. Eu me lembro de quando Charlie me disse que estava indo para a Romênia treinar para ser um domador de dragões. Eu disse a ele que não queria que seguisse uma carreira tão perigosa, e ele me disse que a vida era dele e que faria o que quisesse, independente do que eu sentia. – O homem balançou a cabeça com a lembrança. – Eu me lembro de como essas palavras machucaram.


James olhou para o ruivo, percebendo que não estava conversando apenas com outro membro da Ordem ou com outro auror. Estava conversando com outro pai, outro homem que tinha filhos.


- Eu não sei o que há de errado comigo – começou o moreno. – Sinto que estou ficando maluco. Não consigo pensar direito quando o assunto é Harry. Quando fui apanhá-lo para trocar de quarto, entrei e não o vi. Antes mesmo de verificar o quarto ou o banheiro, entrei em pânico, achando que ele escapara de alguma forma, mesmo sabendo que ele não pode sair daqui! – Ele olhou para o outro com um olhar de autoincriminação. – Eu não faço isso, Arthur! Não sou de entrar em pânico. Sou auror há vinte anos. Eu sei como conduzir buscas, sei como procurar esconderijos, vasculhar a área, então, por que quando se trata de Harry eu ajo como um completo idiota?


- Simples, é porque ele é seu filho – respondeu o ruivo calmamente. – Ninguém pensa como auror quando se trata dos filhos, James. Só se consegue pensar na segurança deles, em nada mais. – Ele olhou para o outro com compaixão. – Você já passou pela dor de perdê-lo uma vez. Passou quinze anos acreditando que ele foi assassinado. Ninguém vai te culpar por ser um pouco superprotetor.


O moreno assentiu, suspirando profundamente.


- Eu só queria que as coisas fossem um pouco mais fáceis com Harry. – Ele balançou a cabeça. – Nem nos sonhos mais malucos eu imaginei que o teria de volta – confessou. – E agora que ele está aqui, ainda sinto que não o tenho. Ele está bem na minha frente, mas não posso tocá-lo, não posso alcançá-lo.


- Dê um tempo, James. – Arthur bateu em seu ombro. – É natural ele te afastar.


- Eu sei. – O moreno assentiu. – Sei que é um comportamento esperado, mas, mas eu sinto que tem algo mais, algo que é responsável pelo comportamento de Harry comigo.


- Como o quê? – perguntou Arthur, intrigado.


- Não consigo explicar, é só, só algo que sinto às vezes – disse James. – Remus e Sirius acham que eu estou exagerando. Eles não entendem, talvez seja porque não têm filhos, eles não entendem o que estou falando.


- E o que é? – indagou Arthur.


James respirou fundo.


- Eu sinto que... que Harry me odeia. Não da forma que odeia todos nós, porque somos aurores e ele é... sabe. – O moreno se remexeu sem jeito, forçando-se a continuar. – É como se ele realmente guardasse um ódio feroz de mim.


- E por que se sente assim? – perguntou Arthur.


- Não consigo explicar, é só uma sensação que tenho quando falo com ele.


- Ele já disse alguma vez que te odeia? – indagou o ruivo.


- Não – respondeu James. – Não, ele nunca disse as palavras, mas é muito mal-humorado comigo. Tudo que eu digo, não importa quão legal seja, ele sempre começa uma briga. De alguma forma ele distorce todas as palavras que eu digo para me fazer parecer um idiota.


Arthur sorriu, o alívio visível em seu rosto.


- Ah, isso. – Ele brandiu a mão para o outro. – Isso é normal, James.


- Como isso é normal? – indagou o moreno, chocado.


- É um comportamento adolescente perfeitamente normal – explicou o ruivo. – Pavio curto, explodindo com você, provocando brigas, isso é tudo comportamento normal de adolescente.


- Damien não é assim! – disse James.


- Damien só tem 12 anos – apontou Arthur.


- Ora, vamos, ele vai fazer 13 em outubro! – disse James. – Só faltam 2 meses.


- Confie em mim, quando Damien fizer 13 anos, você vai ver uma diferença nele – disse o ruivo.


- Sério? – indagou James.


- Eu vi a mudança em Bill assim que ele fez 13 anos – disse Arthur. – Foi como se um interruptor tivesse sido acionado quando ele completou 13 anos. Ele era atrevido, discutia comigo sobre coisas bobas e sempre tinha que ter a última palavra, mesmo que fosse resmungar para mim. – Ele riu, sacudindo a cabeça com a lembrança. – Merlin, foi horrível.


- Foi só Bill que agiu assim com você? – perguntou James com interesse, achando que talvez tivesse algo a ver com ser mais velho.


- Não, Charlie foi assim também. Quando fez 15 anos, era um completo pesadelo. – Arthur riu. – Dizia que queria algo do jeito dele, e quando não conseguia gritava comigo por tratá-lo como uma criança. Sempre acabava com ele gritando que me odiava. – O rosto do ruivo se entristeceu um pouco e ele encontrou os olhos do moreno. – Sempre dói quando seus filhos dizem que te odeiam – disse ele. – Mas tem que lembrar que eles não queriam dizer isso. Quando dizem que te odeiam, deve lembrar a eles que ainda os ama.


- Eu não sabia que Charlie e Bill falavam com você dessa forma – disse James, surpreso. – Eles são os garotos mais bem-comportados que eu conheci.


- Ah, não é sempre assim. – Arthur sorriu. – Só quando eram adolescentes e não decidiam as coisas. É um momento desconfortável para eles, garotos se tornando jovens adultos, faz com que queiram ser tratados como mais velhos, mas sem assumir nenhuma responsabilidade. É quando as brigas acontecem. Eles se acalmam e voltam ao normal por volta de 18 anos.


James pensou no filho mais novo, não conseguia imaginar seu Damien gritando que o odeia.


- Então, quando Damy fizer 13, até os 18 ele vai me odiar? – perguntou o moreno.


- Não, ele só vai dizer que odeia. – O ruivo sorriu. – Assim como Harry faz você se sentir agora.


James suspirou, passando a mão pelo cabelo.


- Ótimo, mal posso esperar por isso – disse sarcasticamente.


- Basta levar um dia de cada vez – aconselhou Arthur. – Seja paciente com Harry, as coisas vão melhorar. Você vai ver.


James assentiu, esperava mesmo que melhorassem, não achava que podia aguentar por mais tempo o comportamento frio de Harry, especialmente se Damien estava prestes a se juntar a ele.

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