Capítulo III



Draco Malfoy estava atordoado demais para esboçar qualquer reação. A informação de que seu filho estava namorando a Weasley, a filha da Sabe-Tudo Irritante com o Sombra do Santo Potter, estava entalada em sua garganta, quase impossível de digerir. Scorpius, por sua vez, não sabia se comemorava por seu pai estar acreditando em sua história, ou se socorria o pai, por desconfiar que ele estivesse tendo um ataque cardíaco.


–Sr. Malfoy. Está tudo bem? – Albus perguntou notando que Scorpius não se movia. Se não soubesse da situação que se desenrolava, juraria que o amigo estava petrificado.


–Como você acha que eu estou, moleque?! – Draco explodiu, começando a andar de um lado a outro do quarto. Albus se limitou a encolher-se na poltrona onde se encontrava, definitivamente, não encararia uma briga que não era sua. – E você, Hyperion? Como pode fazer isso?


Scorpius engoliu em seco, desejando profundamente que seu pai não morresse. Ou pior, rezou para que Draco Malfoy não fizesse picadinho dele. Mas precisava seguir adiante com o plano, sabia que se desse para trás e contasse ao pai que tudo havia sido uma grande e estúpida piada, ele seria morto da pior maneira possível, provavelmente cortado em pedaços por ter ousado deixar Draco Malfoy irritado.


– Eu gosto dela, pai. – Ele explicou, sentindo uma dificuldade imensa em prosseguir. – Eu realmente gosto dela.


Draco olhou para o filho sem acreditar no que ouvia e, em seguida levantou as mãos para o teto,em um gesto de completo desespero.


–Por quê? Merlin, eu sei que fiz um trilhão de coisas erradas, mas não precisava me castigar dessa maneira! – Ele falava. Tinha a indignação se apoderando do seu corpo. – Porque me deu um filho tão ingrato, hein?


–Hey! – Scorpius protestou visivelmente indignado. Mas calou-se ao ver o olhar rancoroso do pai sobre ele.


–Você não está em posição de se defender Scorpius! – Ele falou enquanto se aproximava perigosamente do filho. – Com tantas garotas em Hogwarts, por que logo uma Weasley? – E ouvindo um barulho estranho que Albus fez com a garganta, Draco remendou. – Nada contra a família de sua mãe, é claro Potter. – Virou-se para Scorpius novamente. – Me diga, o que você viu na filha do Weasley? Por Merlin! Vocês brigam feito cão e gato!


E mais uma vez foi pego de surpresa. Poderia dizer que não sabia explicar, que o sentimento era forte demais. Mas aí se lembrou de que aquela farsa não duraria muito tempo e, se dissesse aquilo, mais cedo ou mais tarde seu pai descobriria. Olhou para Albus em busca de socorro, mas este apenas lhe lançou um olhar que claramente dizia “Saia dessa se puder, espertalhão”.


–Ela tem uma pele legal. – Scorpius largou a primeira frase que veio em mente.


É desnecessário dizer que Albus Potter quase não conseguiu prender a risada, mas obrigou-se a se calar assim que viu o olhar do melhor amigo sobre ele.


–Você está querendo me dizer que você e a Weasley infernizaram a todos nós durante quase sete anos para terminarem namorando? – Draco perguntou completamente indignado. Se pudesse, esganava o filho ali mesmo. – E você ainda me diz que o motivo de estar namorando essa garota está ligado ao fato de você achar a pele dela legal? – Ele perguntou ainda mais irritado. – Você ficou maluco?


Scorpius estava nervoso, não estava dando certo. Ele precisava ser mais convincente. Teria que apelar.


– Eu a amo pai. – Ele forçou a frase a sair e, embora ela fosse completamente mentirosa, soou convincente. – E nada que o senhor disser irá me separar dela. – Scorpius deu uma pausada dramática e sorriu internamente ao ver o rosto do pai mudar de expressão. – Eu agradeceria muito se você e a mamãe nos apoiassem. Não era o senhor mesmo que dizia que o amor é mais importante que qualquer outra coisa? – Ele perguntou, se fazendo de ofendido. – Por Merlin, você mesmo sabe disso. Casou-se com a mamãe mesmo sabendo que sua família estava na ruína! E ela se casou com você mesmo sabendo que o senhor era um ex-comensal da morte, sem ofensas, é claro. – Scorpius concluiu.


Albus se encontrava impressionado com a atuação do amigo. Fora até bem convincente e ele sentiu vontade de aplaudir, mas sabia que seria morto se fizesse isso, então guardou seus comentários irônicos para outro momento.


–Eu só peço que você me apóie, nada mais. – Scorpius concluiu e sorriu ao ver o pai manear a cabeça.


–Okay, okay. – Draco falou enquanto andava para o outro lado do quarto. – Traga a garota para o jantar de domingo, já que eu acho que você irá usar a educação que lhe dei, e se apresentará ao Weasley amanhã. – Draco parou e acabou sorrindo com ironia. Apesar de querer matar o filho, não o faria. – Mas saiba que apenas não corto os seus membros fora porque tenho certeza de que o Weasley fará isso. – Draco comentou maldoso e, em seguida se virou para Albus. – Seu tio continua ciumento, não é garoto?


–Claro que sim! – Albus respondeu sorrindo. Sentiria prazer em atormentar o melhor amigo. – Meu tio continua muito ciumento, tenho certeza que ele tentará arrancar todos os membros do Scorpius. E o melhor, sem magia! Será um belo espetáculo!


–Ótimo! – Draco respondeu enquanto abria a porta e saia do quarto. – O jantar estará sendo servido em cinco minutos. – Avisou e, depois de uma última olhada em Scorpius, saiu dos aposentos, visivelmente atordoado.


Quanto a Scorpius, ele apenas respirou fundo. A primeira parte havia sido concluída com sucesso. Agora faltava o principal: convencer Ronald Weasley de suas intenções para com a sua filha. Se já era difícil fazer isso em uma situação real, imagine, então, fazer isso quando se está mentindo!


Scorpius Malfoy estava quase se arrependendo daquela loucura.


Mas eram 300 galeões! Ele poderia comprar a sua sonhada vassoura do ano com esse dinheiro. E aquele era um motivo suficientemente bom para continuar com o plano da Weasley.


 


**


 


– Feliz Natal, queridas! – Gina Weasley as saudou, assim que desceram as escadas naquela manhã nada promissora de inverno.


Rose suspirou. Aquele Natal poderia ser tudo, menos feliz. Na realidade, ela tinha certeza de que a noite de Natal daquele ano estava predestinada ao desastre. Simples assim, sem sorrisos, presentes ou biscoitos da vovó. Aquela data festiva seria marcada por gritos e discussões e, provavelmente, algumas ameaças e ataques de seu pai.


– Ainda não é Natal, mamãe. – Lilian resmungou mal humorada, enquanto se sentava a mesa e mordia uma torrada com mais força do que o necessário.


Às vezes Rose se assustava com Lilian, logo que ela acordava. Definitivamente, o humor de sua prima alterava potencialmente nas primeiras horas da manhã. E as chances de ela gritar com o primeiro ser vivo que se opusesse à suas opiniões ou ordens – Lê-se: James Sirius Potter – também eram bem elevadas. E então, conhecendo a filha como Gina conhecia, limitou-se a sorrir debochada.


Rose sentou-se ao lado da prima e passou a tomar o desjejum em silêncio. Estava repassando mentalmente todos os detalhes minuciosos que havia combinado com o Malfoy. Tudo ia dar certo. Tudo tinha que dar certo.


Ela estava distraída e preferia não puxar muito assunto com Lilian Luna, já que ela continuava com uma expressão não muito receptiva. Apesar de ser absolutamente normal sua prima acordar de mal com a vida, ela sabia que hoje era diferente. Lilian não estava irritada por ter que abandonar a cama em uma manhã de inverno. Pra começo de conversa Lilian não estava nem irritada, estava ferida. O que tornava as coisas bem piores.


Mas Rose sabia que havia sido melhor assim. Era preferível que Lilian descobrisse que Hugo Weasley – seu estúpido irmão – apresentaria a namorada à família por ela, sua prima e melhor amiga, do que no meio da ceia de Natal.


– E então Rose? – A voz de seu tio a tirou de seus devaneios. – Ansiosa para hoje à noite? – Rose, com um pouco de dificuldade levantou os olhos e encarou o tio, que a observava por cima do exemplar d’O Profeta Diário, na cabeceira da mesa. E ela notou o quanto os olhos de Harry Potter estavam curiosos. – Espero que ele seja um bom rapaz!


– Ele é. – Ela forçou as palavras a saírem, enquanto tentava estampar um sorriso no rosto e se perguntava de que maneira as notícias naquela família corriam tão rápido. – Papai vai ter um ataque, mas acho que no final tudo vai dar certo. – Ela completou apesar de mentalmente acrescentar um “pelo menos eu espero”.


– É claro que vai querida! – Harry respondeu enquanto sorria para a sobrinha. – Ronald pode ser muito cabeça-dura, mas ele irá aceitar. E caso ele não aceite, não se preocupe, pois sua mãe dará um jeito nele. – Ele concluiu piscando para a sobrinha e voltando a sua leitura.


Mas um pio alto fez com que todos os presentes olhassem para os lados em busca da origem do barulho, que era uma coruja. E a Weasley teve vontade de fazer um buraco e colocar a cabeça dentro ao constatar que a coruja vinha em sua direção. Mas resistindo bravamente a esse impulso, ela bancou uma pessoa sociável e normal, e desprendeu a carta, enquanto ouvia os suspiros altos de sua tia Gina.


“Bom dia, Weasley


Estou escrevendo apenas para confirmar que aparatarei na casa de sua avó próximo das 19h00min (e não se atrase) junto com o ser irritante que está do meu lado (Albus).


Outra coisa, meus pais marcaram um jantar para domingo, pois querem conhecer a “doce” garota que roubou meu coração – Espero que minha mãe não morra de desgosto ao vê-la – então, seja uma garota uma vez na vida, e se comporte de forma adequada.


Até mais tarde,


S. Malfoy.”


Rose lutou com todas as suas forças para não amassar aquela carta patética e gritar, afinal, quem o Malfoy pensava que era para dizer aquelas coisas a ela? Garoto ridículo, prepotente e egocêntrico, sua mente bradava. Ele ia ver só. Ela mostraria a ele do que era capaz.


– E então querida, era ele? – Ela ouviu a voz de sua tia, que tinha agora uma expressão de arrependida por não ter conseguido se conter. – Me desculpe, mas você sabe como sou curiosa.


Rose respirou fundo, antes de contar mais uma de suas mentiras.


– Era sim, tia. – Ela respondeu tentando forçar um sorriso, o que fez Lilian revirar os olhos. – Apenas estava confirmando o horário na casa da vovó.


Sabia que Lilian a olhava de cara feia, mas resolveu ignorar.


Rose observou a tia se afastar sonhadora, provavelmente pensando no “príncipe encantado” que ela estava namorando e acabou sentindo asco de si mesma por estar mentindo de uma maneira tão descarada para a sua família. Era inevitável se sentir mal e se considerar um lixo humano por estar tomando esse tipo de atitude.


Mas lembrou-se de um ditado trouxa, que ultimamente ela repetia como um mantra, “os fins justificam os meios”. E era isso. Essa pequena mentirinha era necessária, afinal, ela não agüentava mais seu pai e Lorcan Scamander no seu pé. Ela precisava se livrar deles.


E Rose Weasley não via outra solução a não ser continuar com o plano.

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