Capítulo IV
Aquela tarde de 24 de dezembro foi agitada para a família Weasley. Eles se encontrariam apenas por volta das 19h: 00min, na casa de Molly e Arthur, mas isso não significava que as mulheres da família estavam de folga – e que Hermione Weasley não se aventuraria em mais um desastre culinário.
Assim que Rose Weasley apareceu na lareira da sala de sua casa, sentiu o cheiro vindo da cozinha. Vacilante, andou até lá. Normalmente, Hermione sempre encomendava a comida para eles, segundo ela, devido a sua falta de tempo para cozinhar. Mas Rose sabia que não era esse o motivo. Sua mãe encomendava a comida porque era uma negação na cozinha e não por trabalhar de mais.
Apesar de ser uma bruxa de talentos incríveis e inegáveis, Hermione Weasley era o que as pessoas chamavam de “zero a esquerda” no comando de um fogão. Nos casos em que se saía melhor, ela explodia alguma coisa. Rose acabou se lembrando da vez em que ela quase colocou fogo na cozinha, por ter incendiado as cortinas da janela sem querer e riu sozinha.
Ela entrou no recinto e não encontrou nada diferente do que ela imaginava – nada além de farinha por todos os cantos e fumaça. – Porém não viu a mãe. Resolveu entrar para verificar qual era a “experiência” da vez. E não ficou surpresa ao encontrar uma ave, que parecia um peru, queimando dentro do forno.
– Mamãe! – Ela gritou.
Notando que a mãe não havia a ouvido, Rose deu de ombros e, com um pano, abriu o forno, se arrependendo logo em seguida, já que a fumaça aumentou consideravelmente, fazendo com que ela se afogasse. Rapidamente ela colocou a ave, que estava completamente queimada, sobre o balcão.
– Mamãe! – Rose gritou novamente enquanto agitava as mãos tentando, inutilmente afastar a fumaça. – Mamãe!
– O que foi Rose? – Ela ouviu a voz da mãe e os passos dela descendo as escadas. – Por Merlin! – Ela ouviu o grito da mãe.
O que aconteceu em seguida foi bem rápido. Rose olhou para o peru e notou algo de estranho, mas que ela não pode distinguir o que era, já que a ave explodiu, fazendo com que a farofa e os pedaços da ave tostada se espalhassem por todo o cômodo. E com que Hermione Weasley executasse um feitiço para que a fumaça diminuísse e olhasse para a bagunça completamente desolada.
– Eu não acredito que esqueci o peru no forno! – Hermione comentou enquanto se sentava em uma cadeira e limpava o suor que escorria de sua face devido ao calor.
– Mamãe, não foi nada. – Rose tentou ajudar. – E além do mais, tenho certeza de que a vovó fará peru suficiente para todos.
Hermione sorriu e olhou com carinho para a filha, que tinha um pedaço de peru no cabelo e estava com o rosto sujo devido à fumaça.
– Querida, vá tomar um banho e se ajeitar. – Hermione exigiu. – Ou quer que seu namorado a veja desse jeito? – Ela perguntou, erguendo uma das sobrancelhas.
Rose soltou um gemido quase inaudível. Odiava mentir, e mais que isso, odiava mentir para sua mãe.
– Ele vai aparatar direto na casa da vovó. – Rose respondeu enquanto tirava o pedaço de peru que estava pendurado em seus cabelos.
– Maior de idade, então? – Hermione perguntou.
– Pois é. – Rose respondeu, tentado esconder a pontinha de inveja que sentiu do Malfoy.
Hermione, por sua vez encarou a filha com seriedade. Não que tivesse ficado brava por a filha não ter lhe contado sobre o suposto romance, mas estava chateada. Estava magoada por a filha não ter confiado nela.
–Por que não me contou, Rose? – Hermione pediu finalmente. – Achei que confiava em mim, querida.
E Rose, mais uma vez naquele dia, se sentiu a pior pessoa do mundo. Sua mãe achava que não era digna da confiança da própria filha,e Rose, por sua vez, não podia nem desmentir. Sabia que se o fizesse, acabaria por expor seu plano.
– Mamãe, eu confio. E muito. – Rose respondeu. – Mas as coisas são um pouco mais complicadas do que parecem. Você verá do que estou falando quando o conhecer. – Ela concluiu, dando-se conta de que não estava verdadeiramente mentindo. Hermione apenas não saberia oporquêde aquela história ser complexa demais, e Rose, bem, ela não contava tudo a mãe porque não queria levar uma bronca por ter inventado um namoro falso e estar mentindo para meio mundo mágico.
– Tudo bem, Rosie. – Hermione sorriu bondosa e limpou a bochecha da filha. – Agora suba e, de preferência, vá para a casa de sua avó antes de seu pai chegar do Beco Diagonal. – Ela alertou – Ele está inconsolável por sua garotinha ter um namorado.
Rose revirou os olhos, incapaz de conter a insatisfação e o comentário irônico que veio a seguir.
– Você quer dizer que ele está inconsolável por eu não estar namorando o esquisito do Scamander, isso sim.
– Rose! –Hermione a repreendeu, mas sem conseguir conter o riso. – Você sabe do carinho especial que seu pai tem por Lorcan. – Hermione tentou ajudar. – E ele não esquisito... Talvez um pouco excêntrico. – Hermione comentou tentando apaziguar a situação. Na realidade, até ela achava que Lorcan era ligeiramente estranho.
– ‘Tá legal, mamãe, vou subir pro meu quarto então. – Rose disse, sapecando um beijo no rosto da mãe, mas se lembrando momentaneamente de um assunto. – Ah! Mãe, você sabe quem é a namorada do Hugo?
Ela notou que a mãe atingiu um tom rubro, característico de quando ela sente ciúmes, o que não deixava de ser verdade, já que Hermione não estava gostando muito da idéia de saber que o seu garotinho já tinha uma namorada.
– Nem me fale, Rose. – Hermione comentou enquanto se levantava e limpava a bagunça da cozinha com acenos de varinhas. – Eu ainda acho seu irmão muito novo para essas coisas! Ele devia se concentrar nos estudos, não em garotas.
Rose balançou a cabeça enquanto sorria. Sua família era incorrigível, afinal, se Ronald Weasley mataria qualquer garoto que ousasse encostar nela, sua mãe seria capaz de virar uma leoa para defender Hugo das ameaças que, segundo ela, as garotas da idade dele representavam.
– Então você não sabe quem é? – Rose repetiu a pergunta, se preparando para subir e toar um banho.
– Não. – Hermione respondeu resignada. – Ele disse que era surpresa.
Rose revirou os olhos e correu em direção as escadas. Se arrumaria e seguiria o conselho de sua mãe, afinal, Ronald Weasley não deveria estar muito feliz, de qualquer maneira.
**
Por volta das quatro horas da tarde ela apareceu na lareira da casa dos avós. Observou a sala e notou que, aparentemente, ninguém havia chegado ainda. Limpou as cinzas do vestido rodado de cetim verde resignada. Nessas horas gostaria de ser maior de idade apenas para poder aparatar.
Largou a bolsa em cima da mesa de centro e olhou em volta suspirando. Definitivamente, ela adorava o Natal. Era a sua época do ano preferida, gostava da neve, dos presentes, dos biscoitos da vovó e, acima de qualquer outra coisa, gostava de ver a família toda reunida. Ao ver as agulhas de Molly tricotando sozinha, Rose deduziu que a avódeveria estar no Beco Diagonal comprando alguma coisa que tenha faltado para a ceia de mais tarde. Sendo assim, resolveu sair para os jardins, mais aos fundos da casa.
Não pode deixar de ficar surpresa ao ver que seu irmão e alguns de seus primos já estavam lá, sentados embaixo da mesma árvore de sempre observando lago.
Assim que a viu, Lilian Luna Potter veio correndo ao seu encontro e a abraçou. Rose sentiu as lágrimas da prima caindo em seu ombro descoberto e passou a observar Hugo, notando, assim, que uma garota estava abraçada a ele. A namorada misteriosa, pensou Rose. Mas a menina estava de costas, e Lilian Luna chorava baixinho em seu ombro, então, rezando para que tudo acabasse logo, ela puxou a prima para a cozinha, afinal, não teriam o que dizer se alguém perguntasse o porquê de a garota estar chorando.
Enquanto Rose procurava alguma coisa nos armários e colocava um pouco de água para aquecer, Lilian Luna sentou-se em uma das cadeiras rústicas da casa da avó completamente desolada. Se apaixonar já não era uma coisa muito legal, mas agora estar apaixonada pelo primo, não ser correspondida e, ainda por cima, descobrir que a namorada dele é uma vadia que não vale nada, era de mais para qualquer pessoa. E para Lilian, que ainda acreditava em contos de fadas, aquilo significava o fim do mundo.
– Você viu quem é a namorada dele, Rosie? – Lilian perguntou.
Rose olhou para a janela a fim de tentar enxergar melhor e, como se tivesse sido programado, a garota trocou de lado com Hugo. E, instintivamente Rose levou as mãos à boca em sinal de choque. Aquilo parecia impossível!
– Está de brincadeira. – Rose falou para si mesma não acreditando no que seus olhos viam. – Meu irmão está namorando Lysander Scamander? Aquela que se fazia de sua amiga? – Rose perguntou incrédula. – A irmã do pretendente número umà meu namorado, segundo meu pai?
Lilian, por sua vez, só conseguiu chorar ainda mais. Hugo era um idiota por estar namorando uma garota que já saiu com meia Hogwarts.
– Aqui Lilian, beba esse chá. – Rose lhe disse enquanto entregava para a prima uma caneca fumegante. – Eu até faria uma poção, mas eu precisaria usar magia para a única poção calmante que eu sei fazer e, por infelicidade do destino, eu ainda sou menor de idade.
– E você não suporta isso, não é? – Lilian perguntou enquanto bebericava a bebida e fazia uma careta. Detestava qualquer tipo de chá ou medicação.
–Ser menor de idade? – Rose perguntou retoricamente. – Quando você é uma das poucas alunas do sétimo ano que ainda não completaram 17 anos, sim, ser menor de idade se torna insuportável.
Elas ficaram em silêncio por alguns minutos. Enquanto Lilian se lamentava por, supostamente, ter perdido o amor de sua vida, Rose repassava pela milionésima vez naquele dia tudo o que faria mais tarde. Ainda tinha tempo o suficiente para decorar todas as suas falas e reações para quando o Malfoy chegasse, mas, definitivamente, nunca se sentiria pronta psicologicamente para admitir qualquer tipo de afeição por ele – mesmo que a afeição em questão seja totalmente falsa.
Scorpius Malfoy era o garoto mais irritante, egocêntrico e mulherengo da face da Terra. Achava que todas as garotas deveriam se jogar aos seus pés e que elas eram descartáveis. O Malfoy não era o garoto dos contos de fadas, não era o mocinho. Ele era o vilão, o lobo mal. Scorpius Malfoy era o tipo de garoto que sentia prazer em brincar com os sentimentos dos outros e fazia coleção de ex-namoradas – ou melhor, de garotas que se auto intitulavam suas ex-namoradas, afinal, ele nunca assumiu nada sério com nenhuma delas.
E foi ao lembrar das garotas psicóticas que viviam se jogando em cima dele, que ela se lembrou de um fato.
– O Malfoy já saiu com a Lysander, não saiu? – Ela perguntou para Lilian, que parecia mais calma. Ao menos não chorava mais.
– Por favor, Rose, me diga com quem o Malfoy não saiu? – Lilian devolveu a pergunta incrédula, embora sua voz ainda estivesse meio embargada.
– Eu nunca saí com ele. – Rose respondeu sentindo uma ponta de orgulho de si mesma.
–Correção amiga, você nunca tinha saído com ele. – Lilia falou, cortando a onda que Rose estava tirando. – tecnicamente vocês são namorados, então você saiu com ele.
Rose bufou indignada. Nunca mais poderia se gabar para ninguém por ter sido imune ao charme Malfoy. Não que ele tenha algum charme, é claro, pensou ela.
Ficou mais alguns segundos apenas observando o nada, até que ouviu um soluço vindo de Lilian Luna.
– Por que eles são tão estúpidos? – Ela perguntou à Rose, que olhava com pena para a prima. – por que eles sempre escolhem a outra opção? Eu sou tão feia assim?
Rose revirou os olhos. Como poderia explicar aquelas coisas para Lilian Luna Potter? Como poderia explicar que a maioria dos garotos na idade de Hugo são idiotas e que só estão interessados em uma gostosa para exibir aos amigos? Como poderia explicar issoa uma garota que ainda acredita que o príncipe encantado virá buscá-la em um cavalo branco?
– Lilian, escuta bem o que eu vou te dizer. – Rose disse se sentando de frente para a prima e a encarando de forma séria. – Você precisa entender que os garotos são estúpidos, e que eles não se importam com o que você sente. Pelo menos não quando eles têm 15 anos.
– Mas Rose...
– Quieta Lilian Luna! – Rose interferiu de forma brusca. – Essa cena toda que você está fazendo só a fará parecer ridícula na frente dele!
– E o que você quer que eu faça? – Lilian perguntou indignada. – Que eu finja que não estou sentindo nada?
–É óbvio! – Rose respondeu. – Você precisa se mostrar superior. – Rose respirou fundo ao ver as lágrimas se formando nos olhos da prima. – Lilian, entenda uma coisa, as fraquezas que nós, garotas, temos não precisam ser expostas a eles. Hugo precisa ficar com você porque gosta de você, e não por pena.
Lilian respirou fundo e engoliu as lágrimas. Bem no fundo ela sabia que Rose tinha razão.
– Então você sugere que eu me levante, lave o meu rosto e volte para lá como se nada tivesse acontecido, não é?
– Se achar que está pronta, sim, é isso que eu sugiro.
Lilian sorriu para a prima, mas não era um sorriso qualquer, era aquele tipo de sorriso cúmplice. Elas eram melhores amigas, tinham seus próprios códigos, e Rose soube por aquele sorriso que Lilian Luna ia fazer o que ela tinha sugerido.
– Obrigada Rose. – Lilian agradeceu depois de lavar o rosto na pia da cozinha. – Como eu estou? – Ela pediu insegura.
– Somos amigas, não precisa agradecer. – Rose respondeu enquanto analisava o rosto da prima. – Você parece que não dorme há séculos, mas está bem!
Lilian a olhou horrorizada.
–Eu estou muito feia?
Rose gargalhou e puxou a prima pelo braço para fora da cozinha e em direção ao jardim.
– É claro que não, monstrinha. – Rose respondeu, arrancando uma gargalhada da prima. – vamos logo.
E juntas elas andaram em direção aos outros. Rose sabia o quão difícil estava sendo para Lilian, mas ela a apoiaria incondicionalmente e a ajudaria a se levantar quantas vezes fossem precisas. Afinal, elas não eram só primas ou amigas. Elas eram melhores amigas. E era isso que melhores amigas faziam.
**
Na mansão Malfoy, a tensão continuava no ar. Já passava das 18h30min do dia 24 de dezembro e lá estava o Malfoy tentando mentir novamente. No fundo, ele estava se detestando por estar fazendo isso com Anthony Zabine, seu amigo de infância.
– Você só pode estar me zoando. – Anthony comentou. – Está namorando a Weasley, a garota com quem você implicou a vida toda? – Ele perguntou incrédulo, enquanto se jogava em uma poltrona, completamente chocado.
– É, eu estou. – O Malfoy respondeu pela milésima vez. – Nunca ouviu falar que a linha que separa o amor do ódio é tênue?
Albus Potter, que desde o início daquela conversa – há aproximadamente dez minutos –estava em silêncio soltou uma risada de escárnio. Aquela situação estava ficando ridícula.
– Qual é a graça, Potter? – Anthony perguntou sem entender muito bem o que se passava.
Albus notou o olhar do melhor amigo sobre ele. Scorpius estava tenso, rezando internamente para que Albus não abrisse sua boca grande e fofoqueira.
– Nada não, Zabine. – Albus falou ao mesmo tempo em que via o Malfoy o olhar apelativamente. – mas é que se essa teoria do meu amigo pirado estiver correta, você e a minha irmã terminarão namorando, que nem Rose e ele. – Ele comentou, enquanto brincava com a varinha – E eu serei obrigado a lhe azarar.
Scorpius soltou ar e sentiu como se um peso estivesse se soltando de suas costas. Por um breve instante pensou que Albus acabaria com tudo o plano e ele teria que dizer adeus a sua maravilhosa vassoura. Em sua opinião, Albus era um exagerado. Esgotou a sua paciência até a madrugada da noite anterior para que desistisse do acordo com a Weasley, que na opinião do Potter era um plano patético, que tinha tudo para dar errado.
– Muito engraçado Potter. – o Zabine comentou mal humorado. – O dia em que eu namorar a sua irmã, vou me jogar no lago negro apenas de calção em pleno inverno, escreva o que eu estou dizendo! – disse irritado. – Sua irmã é ridícula e eu, de fato, a odeio.
Albus riu e, em seguida, conjurou uma pena e um pergaminho.
– Por favor, pode repetir suas palavras, caro amigo? – Ele perguntou enquanto escrevia algo – Quero ter uma prova disso que você falou.
– Como você consegue ser tão idiota? – Anthony perguntou, enquanto olhava para Albus imaginando de que planeta ou galáxia ele poderia ter vindo.
Notando que a discussão dos dois amigos levaria algum tempo, o Malfoy entrou no closet para pegar um casaco e repassar os passos do plano. Sentiu náuseas ao imaginar que dentro de poucos minutos estaria na “toca dos Weasley” pronto para declarar amor eterno à ruiva bipolar e completamente maluca que, por pura coincidência, era a pessoa que ele mais odiava no mundo.
Resignado, ele vestiu o casaco e respirou fundo algumas vezes, se preparando psicologicamente para a noite que, talvez, fosse a pior noite de toda a sua vida. E, depois de alguns minutos, saiu para o quarto, onde Albus e Anthony continuavam discutindo.
– Eu ainda acho que toda essa raiva entre vocês é amor reprimido. - Albus comentou dando de ombros.
– E eu acho que você enlouqueceu! – Anthony devolveu.
Scorpius revirou os olhos, impaciente, e olhou o relógio de ouro que havia ganhado no seu aniversário de dezessete anos, que marcava 19h00min em ponto.
– Já chega vocês dois. – Ele falou enquanto sentia o estomago revirar ao se dar conta de que a hora havia chegado. – Não sei quanto à vocês, mas eu tenho um sogro louco para me matar esperando. – Scorpius falou ao mesmo tempo em que ajeitava a gola do longo casaco preto. – Que tal vocês pouparem os meus ouvidos? Está na hora de aparatar.
– Tudo bem, mas eu ainda acho que o Zabine terminará casado com a minha irmã. – Albus comentou enquanto andava para o lado de Scorpius.
– Não enche, Potter. – Zabine comentou completamente mal humorado. – Vou esperar você aqui, Scorpius. Quero garantir que voltará inteiro.
– Você não vai? – Scorpius perguntou, estranhando a reação do amigo.
– Não, é melhor eu ficar. – Ele respondeu. Na realidade, Anthony era orgulhoso demais para comparecer a um lugar em que não tinha sido convidado.
– ‘Tá de brincadeira! – Albus bradou. – Você vai perder o espetáculo que o meu tio irá dar enquanto arranca os membros do Scorpius?
– Não costumo comparecer à locais em que não fui chamado. – Anthony respondeu de forma simples.
– Não seja por isso. – Albus respondeu. – Meu pai sempre permitiu que eu levasse um amigo para a ceia de Natal. – Ele explicou. – Normalmente eu levo o Scorpius, mas como hoje ele não está indo na qualidade de “amigo do Albus” e sim como “o namorado da Rose”, eu faço um esforço e levo você.
Anthony olhou para os dois na dúvida, não sabia se devia ir verdadeiramente.
– Fala sério, Anthony! – Scorpius bradou. – Seu pai vai passar a noite falando de negócios com o meu pai, porque não vem conosco?
– O Malfoy tem razão. – Albus concordou enquanto olhava para o melhor amigo de forma irônica. – E além do mais, vou precisar de alguém para juntar os pedaços do meu amigão aqui. – Ele completou enquanto dava suaves tapas nos ombros de Scorpius.
– Tudo bem, tudo bem. – Anthony se deu por vencido e andou em direção aos dois amigos. – Eu vou com vocês.
– Sabe, Albus, você me deixa bem tranquilo falando essas coisas a respeito do meu “sogro”. – Scorpius comentou enquanto colocava as luvas e pegava a varinha.
– Fico feliz que fique. – o Potter comentou de forma irônica. – Sabe, ainda está em tempo de desistir. – Ele concluiu enquanto olhava para Scorpius, claramente passando a mensagem.
– Nunca. – Scorpius devolveu, olhando de forma desafiadora para o Potter. – Vou até o fim.
– Okay, eu prometo que trago seus pedaços para a tia Astória. – Anthony disse sarcástico.
Scorpius revirou os olhos de forma impaciente e respirou fundo mais uma vez. Havia chegado a hora. E tudo tinha que dar certo.
– Vamos logo. – Scorpius falou, aparatando logo em seguida antes que perdesse a coragem.
Anthony e Albus sorriram irônicos um para o outro e aparataram também. Aquela noite prometia.
**
19h12min. Rose estava começando a ficar nervosa e andava em círculos na sala da casa dos avós, olhando vez ou outra para fora. Ele estava atrasado e ela tentava a todo custo acreditar que ele não havia desistido. Scorpius não seria louco de dar para trás, ela tentava se convencer.
– Por Merlin Rose! – Ela ouviu a voz de Dominique, sua prima. – Você vai acabar fazendo um buraco no chão se não parar de andar!
Rose, porém, parecia não ouvir. Sua mente vagava e pensava em segundo plano. Começava a acreditar que o Malfoy havia se dado conta daquela loucura e que havia achado melhor desistir. Sonserino desgraçado! Sua mente gritava.
Naquela sala, toda a família, juntamente com Luna e seus filhos – que passavam o Natal com eles desde a morte de Rolf Scamanderhá alguns anos atrás –esperava ansiosamente pela visita do ano. As mulheres fantasiavam a respeito do jovem cavalheiro que havia conquistado Rose, enquanto os homens pensavam nas diversas em diversas maneiras e métodos para trucida-lo.
Apenas uma pessoa no recinto não estava acreditando muito naquela história, e não fez questão de esconder a sua opinião.
– Começo a duvidar que ela tenha um namorado. – Rose parou abruptamente de andar ao ouvir essa frase. – Olha só a cara dela, Hugo. Acho que ela inventou isso para fugir do meu irmão.
Rose sentiu o sangue ferver ao ouvir a declaração quase silenciosa de Lysander. Ela já não suportava a garota – que, completamente ao contrário da mãe, se mostrava metida e venenosa, além, obviamente, de vadia – e ela ainda se atrevia a falar uma coisa dessas? Apesar de a declaração de Lysander ser totalmente verdadeira, Rose se sentiu tentada a arrancar todos os fios de cabelo loiros da garota. Mas, ao que tudo indicava, Lilian também queria um pouco de diversão naquela noite.
– Não fale daquilo que não é do seu conhecimento, Scamander. – A ruiva Potter falou enquanto seus olhos faiscavam na direção da garota. – Se você ousar falar mais alguma coisa da Rose, eu juro que esqueço minhas boas maneiras e arrebento seu rostinho de boneca!
Todos olharam alarmados para Lilian, que normalmente se comportava como uma dama e não costumava se indispor com ninguém. Mas a princesinha Potter estava em seu limite e falar aquelas coisas para a garota que, supostamente, usurpou seu lugar ao lado de Hugo a fez se sentir relativamente melhor.
– Lilian! – Gina bradou com a filha. – Que modos são esses?
– Qual é mãe? –Lilian deu de ombros. – Eu só dei um aviso. Falta de modos seria se eu resolvesse partir pra cima dela do nada.
Gina estava preparada para dar uma bronca na filha, mas sua boca se mexeu diversas vezes, incapaz de emitir qualquer som. Ela estava chocada com o comportamento da filha e, quando finalmente sua mente conseguiu elaborar uma frase coerente, um barulho nos jardins chamou a atenção de todos.
Alguém havia acabado de aparatar nos jardins. E de instalar o caos completo naquela sala.
Rose, quase que imediatamente, marchou a passos rápidos para fora, mais tarde acertaria as contas com Lysander Scamander, por hora, não tinha tempo para aquilo. Quanto às mulheres, especialmente Hermione, sorriam bobas e aguardavam ansiosamente para a entrada do convidado da noite, enquanto os homens fechavam a cara, visivelmente incomodados com aquela situação.
Ronald Weasley passou a andar de um lado para outro completamente nervoso. Sua filha estava falando sério, não podia mais negar. Até aquele momento permitiu que sua mente imaginasse o momento em que Rose iria gargalhar e olharia para ele dizendo que aquela história de namorado havia sido apenas uma brincadeira. Mas, infelizmente, aquela fantasia não seria real, afinal, o aspirante a namorado – e futura experiência para uso de feitiços não testados – estava lá fora, pronto para entrar.
Quanto aos mais jovens, estavam todos nas janelas, incapazes de conter a curiosidade. Poucos segundos depois, se ouviu o barulho da porta se abrindo, e por ela todos visualizaram Albus Potter, acompanhando de Anthony Zabine, entrando sorridente. Um sorriso que seu irmão, James Sirius Potter conhecia muito bem. Era o sorriso que indicava que algo muito divertido estava acontecendo – ou naquele caso, que estava prestes a acontecer.
Harry Potter observou a cena intrigado, afinal, seu filho costumava trazer o Malfoy para o Natal, e não o Zabine.
– Filho, nada contra você Zabine, mas e o Malfoy?
Albus sorriu irônico, mas antes de responder James Sirius Potter estreitou os olhos pela janela e gargalhou, não sabendo se acreditava no que seus olhos viam, ou se começava a imaginar como se divertiria ao ver seu tio ter um colapso.
– O Natal da nossa família promete esse ano! – Ele falou enquanto observava a prima se aproximar daquele garoto tão improvável – Estou vendo que vou me divertir como há muito tempo não me divertia!
– Respondendo a sua pergunta, pai – Albus falou enquanto observava o irmão rir descontroladamente daquela situação. – digamos que Scorpius comparecerá, mas não na condição de meu melhor amigo, se é que me entende. – Ele concluiu, dando mandando uma piscadela para Harry.
Os adultos demoraram um pouco a perceber o que Albus estava tentando dizer. Foi apenas quando Ronald Weasley andou bruscamente até a janela e arregalou consideravelmente, que todos atingiram o patamar da situação.
– Isso só pode ser um pesadelo. – Viram Ronald falar e voltar cambaleando para o sofá. – EU JURO QUE VOU MATÁ-LA! – Ele bradou.
**
Rose olhou para os lados e percebeu que estava escuro o suficiente para que quem estivesse dentro de casa percebesse a sua expressão que, devemos salientar, não estava nada receptiva.
– Onde é que você esteve, Malfoy? – Ela sussurrou de forma agressiva para ele.
O riso de Scorpius foi de puro escárnio e comentário irônico incapaz de ser contido.
– Tudo isso é saudades, Weasley? – Ele perguntou, sorrindo daquele jeito que ele sabia que ela de testava. –Eu já cheguei, não precisa se preocupar.
Rose sentiu vontade esganá-lo ali mesmo, afinal, aquele sorriso era irritante e ela o detestava. Sentiu as veias de seu corpo pulsarem e seu cérebro mandar os comandos para que suas mãos estrangulassem aquele pescoço branco. Mas congelou quando ouviu o grito potente de seu pai de dentro da casa.
– EU JURO QUE VOU MATÁ-LA!
Ela gelou, sabendo que não poderia voltar atrás, e que todos haviam descoberto quem era o seu namorado misterioso. E infelizmente, ela não teria tempo para cuidar de Malfoy do jeito que ela gostaria. Precisavam começar a encenação.
Então ela suspirou e se aproximou vacilante do Malfoy e envolveu seus braços no pescoço do Malfoy, tentando não se sentir enjoada. E, em seguida, aproximou seu rosto do dele, apenas o suficiente para que pensassem que ela o tinha beijado.
– Só tente não se apaixonar Weasley. – Ele falou com seu tom tipicamente sarcástico enquanto retribuía o abraço.
– Cale a boca. – Ela sussurrou raivosa para ele. – É agora Malfoy. Me dê a sua mão. – Rose pediu.
Scorpius demorou um certo tempo até entender o que ela queria e, se esforçando para aquilo terminar logo, colocou sua mão sobre a dela, sentindo um tipo de descarga elétrica perpassar seu corpo. Uma sensação diferente de tudo o que havia experimentado, mas que, por algum motivo, não conseguia explicar.
Respiraram profundamente e,movidos por um mesmo objetivo pela primeira vez na vida, eles marcharam de mãos dadas na direção da casa, rezando para que não fossem recebidos por feitiços e maldições. Ou, no caso de Scorpius, apenas para que pudesse voltar para casa com o máximo de ossos inteiros possível.
Se eles achavam que as coisas não estavam boas, que aguardassem o final daquela noite.
Nada é tão ruim, que a vida não possa cuidar para que fique pior.
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