Ganhando Coragem
Estávamos em Dezembro e logo viriam as festividades, infelizmente eu teria que ir para casa. Começava a nevar, pensei no quão bonito tudo ficaria em branco. Amava essa parte do ano. Suspirei tristemente, eu gostava ainda mais de aproveitar um dia de neve com Lily e Lene, mas quanto a elas, ambas já tinham me questionado várias vezes o que havia de errado, porém eu não conseguira ou não pudera dizer. Acho que não estava me sentindo culpada por não contar a Lene a respeito do beijo de Sirius, mas sentia uma profunda tristeza que eu não sabia explicar, principalmente quando o avistava e ele simplesmente ignorava minha presença. Eu sabia que mesmo se eu tivesse dado continuidade aquela loucura, ele me trataria daquela forma. Sirius possuía muitas qualidades, mas essas ainda não tiravam seu título de idiota.
E acima de tudo, tinha Remus, eu não sabia mais o que fazer em relação a ele, afinal todas tentativas de conversa eram repelidas. Passava-me pela cabeça agora que ele sabia sobre Sirius, o que o fazia pensar horrores sobre mim. Não poderia dividir isso com Lene ou fazer com que Lily guardasse tamanho segredo, não era justo. Finalmente resolvi me abrir com uma amiga do Sétimo Ano. Hestia Jones era uma parceira magnífica em Duelos. Eu poderia ser boa em Feitiços, mas ela possuía uma agilidade superior. Concordara em me ajudar sempre após o clube. Nos últimos encontros eu não estava o que poderia se chamar de concentrada, então Hestia sentou comigo e me obrigou a dizer tudo o que acontecia. Contra minha vontade eu contei e esperei que no final ela me dissesse quão desprezível eu era.
- Então é isso.- Hestia sorriu suavemente, seus olhos eram de um azul intenso que criava um contraste incrível com seu cabelo escuro, era uma das poucas que utilizava aquele corte com franjinha. De qualquer forma não ficaria bem em outra pessoa senão ela. Hestia tinha uma voz firme e grave, confiante sobre tudo. – Bem Emme, não vejo onde há culpa sua nisso tudo. Quanto ao Remus, crie coragem e o enfrente. O pior que poderia acontecer é ele continuar sem falar com você, o que não vai mudar em nada. Já o Black, se isso não é nada para você, apague da sua memória. Não vale a pena se remoer com algo que você não considera. Se concentre em algo que tenha valor para você.
Arqueei minha sobrancelha, realmente fazia sentido. Só me restava saber se aquilo não tinha valor algum mesmo, eu preferia pensar que não. Quando Hestia me deu aquele conselho, seus olhos brilharam. E eu bem sabia o motivo: os pais dela faziam parte da Ordem da Fênix, uma organização que lutava em prol de nossa comunidade contra os Comensais da Morte e Voldemort, seu líder. Hestia ansiava terminar os estudos e se juntar aos pais.
- O que você está fazendo aqui, ainda? Não creio que você precise aprender algo mais, H.
Ela suspirou e passou a mãos pelos cabelos lisos, colocando-as logo depois dentro dos bolsos de suas vestes com o símbolo da corvinal.
- Meus pais dizem que não vão aceitar que eu entre para Ordem se não concluir os estudos. Eu bem queria não voltar para Hogwarts, mas não posso ir contra eles nisso. O termo aqui é união e não desobediência.
Suspirei e olhei para o lado de fora do jardim, um pensamento me assolou de repente. Mordi o lábio inferior na tentativa de me organizar mentalmente, mas não pude evitar minha declaração seguinte. Foi como se aquilo fosse maior do que eu.
- Creio que eu pense o mesmo. Não quero voltar para Hogwarts no Sétimo Ano. Quero me juntar a você e a Ordem.
Hestia não pareceu surpresa em momento algum desde que comecei a falar, o que me assustou um pouco. Ela tirou uma mão das vestes e me segurou no braço, um sorriso compreensivo em seus lábios.
-Que seja assim, Emmeline Vance.
A biblioteca desde sempre fora um refúgio para mim, lugar onde conheci Remus mais intimamente no meu segundo ano, afinal éramos da mesma casa, porém nunca tínhamos conversado. Sempre fora assim, íamos ali para estudar e dar apoio um ao outro e quando eu ia sozinha, pegava um livro e o abria, folheava lentamente as páginas empoeiradas. Utilizava aquele tempo para por meus pensamentos em ordem na quietude do lugar. Hoje o silencio se tornara quase insuportável, eu não queria parar e pensar, estava cansada disso.
Encontrei Remus na mesa de sempre, ele só mudara os dias da semana para estar ali, nem imagino o por quê.
- Hum, mudou sua rotina de estudos? – sussurrei enquanto tomava o lugar à frente dele.
- Hey, E. Como você está? – ele só tirou os olhos do livro por um instante, apertou os lábios e continuou a copiar.
- Ah estou ótima, só um pouco curiosa sabe. – notando que ele apertava ainda mais os lábios e se concentrava em não tirar os olhos de seu pergaminho e do livro, bufei e coloquei as mãos em cima de ambos os objetos. – Chega de me ignorar, Lupin. Seja homem e me olhe e diga logo o que está acontecendo ou juro por Merlin que vou infernizá-lo até você não suportar mais me ver, ouvir ou perceber que não há exatamente muitos lugares para o qual você possa correr ou se esconder de mim.
Eu sei que eu soei de certa forma um pouco maluca, mas talvez eu estivesse mesmo. Acho que os homens deveriam aprender que a melhor maneira de irritar uma mulher é não dar a mínima atenção para o que ela diz ou faz. A indiferença é bem significativa em nosso dicionário.
Ele levantou aqueles olhos âmbar, carinhosos para mim, uma expressão surpresa em seu rosto foi se esvaindo aos poucos e dando lugar a uma expressão de derrota, ele suspirou e juntou suas coisas.
-Vamos voltar para a sala comunal, acho que a Srta.Fancy vai nos expulsar em poucos segundos, você está um pouco...- ergui a sobrancelha esperando o adjetivo que ele iria utilizar- exaltada!?
Não tive misericórdia pelo tom que ele usava, mas me levantei e me dirigi para fora da biblioteca com dignidade, se ainda me restava alguma.
-Emme, não fique brava comigo, por favor. – ele se lamentou enquanto caminhávamos- Eu não sei o que te dizer, na verdade eu não devo dizer nada. Eu só não acho que eu seja um bom amigo para você. Entende?
Que pergunta mais idiota. É claro que eu não estava entendendo nada do que ele queria dizer, se é que queria dizer alguma coisa, mas balancei a cabeça em sinal positivo.
-Sério?Você entende?
- Claro que não.
Abri um sorrisinho e esbarrei o braço no dele.
- Eu não faço idéia do que você está dizendo, mas não me parece ter motivo suficiente. Pedido de desvinculação de amizade negado.– ele não concordava, é claro, mas não evitou sorrir e balançar a cabeça. Parou bruscamente e me olhou, tive que empinar um pouco o queixo para enfrentá-lo.
- Emme é sério, você ficaria bem melhor sem minha companhia.
-Discordo.
-Mas é a verdade.
-Só no seu mundo maluco.
-Você não quer fazer parte desse mundo, confie em mim.
- Não.
- Ta vendo, você não quer.
- Não, eu não confio em você no momento. Você deve ter levado uma porretada na cabeça. Talvez eu tenha que te dar outra para voltar ao normal... - estreitei os olhos, como se estivesse considerando realmente aquilo, o que me fez finalmente arrancar um riso dele. Encaixei meu braço no dele e começamos a andar novamente, ele não disse mais nada em relação a nossa amizade até chegarmos a sala comunal. Pelo contrário, conversamos sobre assuntos aleatórios, a neve, que N.I.E.M's iríamos prestar...Lá dentro, fiz questão de abraçá-lo.
-Ahn, o que você está fazendo?
-Selando nosso acordo de paz. – Ri e estalei um beijo em sua bochecha, só então me dando conta que nunca tinha feito algo assim para ele. Mas já que eu tinha decidido tomar aquela coragem, não voltaria atrás. Ri suavemente enquanto ele corava e olhei ao redor, avistando minhas amigas junto a lareira, na companhia de Peter, James e Sirius. O último, aparentemente notara nossa presença desde que tínhamos entrado na Sala, já que sua expressão estava mais azeda que um limão. Bem, o que era um pingo para quem já estava molhada? Apontei o grupo para Remus e fui a frente, dei um beijo em casa menina e me joguei no sofá entre Sirius e Peter. Lene estava sentada no braço do sofá ao lado de Sirius e James sentado no chão brincando com seu pomo de ouro, próximo a Lily em uma poltrona.
- Hum, alguém finalmente está de bom humor. O que fez com minha amiga, Moony? – Lene olhava fixamente para Lupin, esperando uma confissão de um crime que não existia. Remus levantou as mãos alegando inocência e eu ri, era uma situação similar a carregar algo muito pesado, o alivio imediato quando pode finalmente soltar era bem parecido com o que eu sentia nesse momento.
-Não seja chata Lene. Eu apenas sinto que as festas de final de ano serão as melhores.
- Oh Emme, estávamos pensando em passar o Natal juntas. Os pais de Lene não querem que ela vá para casa. E James acabou de dizer que o pai dele disse a mesma coisa para ele e Sirius.
Lene suspirou – Nossos pais temem que algo nos aconteça lá fora.
- De qualquer forma, seria tão bom se pudesse ficar conosco. -Olhei para Lily e sorri diante do seu carinho, mas me virei para Sirius e Lene.
- Pela minha contagem eu sobrei nesse natal, acho que vou ter que suportar meus sobrinhos chorões mesmo.
Sirius não melhorou sua expressão de azedume.
- Talvez Remus arrume um lugar para você na casa dele. – o comentário de Black estava carregado de sarcasmo.
- Que hostil para alguém que se denomina Padfoot. – cutuquei-o nas costelas – Ok, eu confesso que tenho outros planos para o Natal além de ficar com meus sobrinhos.
Ele me olhou de uma forma estranha.
- Não tente, eu não vou contar. Não mesmo.
- Você está diferente hoje, Vance. O que aconteceu?
Franzi o cenho e percebi que todos me olhavam curiosos com o que eu tinha a dizer. Encolhi os ombros.
- Foi um dia bom, vocês não acharam? São raros hoje em dia.
Acho que os deixei confusos, mas naquela noite eu dormi pela primeira vez na semana, confiando que eu saberia realmente o que fazer da minha vida.
Comentários (1)
Estou com pena do Sirius...ela com ciúmes tadinhoSó que eu prefiro ele com a Lene e a Emmeline com o RemusEu amo o casal Emme/Remus por isso que minha fic é deles *-*Conseguiu me deixar mais curiosa!Vou aguardar o próximo capítulo!beijinhos
2013-05-31