Sem Forma
Harry só conseguiu ir à Câmara na sexta à noite.
Na realidade, a única coisa que queria fazer era explorá-la mais um pouco. Slytherin não se limitaria a deixar um Basilisk como Herança. Descobriu a sala dos ovos, onde milhares de ovos de Basilisk repousavam, e de um deles nasceria o sucessor de Mata Kemantian.
Havia uma biblioteca com livros em serpentês, e feitiços em serpentês. E conseguia ter acesso a qualquer zona do castelo, se o seu Basilisk o levasse. Mas o Basilisk não o poderia levar até Hogsmeade.
Os Gryffindor pareciam convencidos que Malfoy só fazia fita, e que Madam Pomfrey era capaz de fechar cicatrizes num minuto. Os Slytherin andavam irritados com os comentários.
- Cala a boca, Weasley. Não sabes do que falas. - Disse Theo, num tom seco.
Crabble e Goyle cerravam os punhos a cada comentário. Harry esforçava-se para ignorar. Daphne não se preocupava.
- O que me interessa o que um bando de idiotas anda a dizer? - Repetia sempre que alguém desabafava sobre a atitude dos Gryffindor.
Draco só voltou à escola na segunda de manhã, a meio de uma aula de poções. Tinha um dos braços ainda ligado e ao peito. No outro braço, ainda se viam os golpes apenas meio fechados. Harry sabia que ele praticamente obrigara Madam Pomfrey a retirar as ligaduras do braço direito na noite anterior. E, assim, entrou direito, de cabeça erguida, mas cheio de dor nos seus olhos.
- Estás melhor, Draco? - Pansy tinha de perguntar.
- Sim. - Draco respondeu, com um aceno. Quis fazer um sinal de "okay" com a mão, mas contorceu os lábios e desistiu, era demasiado doloroso.
- Senta-te. Senta-te. - Disse, calmamente, Snape.
Harry viu com um sorriso, o olhar que Finningan e Thomas trocaram. Estavam mais uma vez a divagar sobre as injustiças de Snape.
Harry reparou que Malfoy mal conseguia fechar os dedos em torno do caldeirão, e acabou por pousar tudo na mesa mais próxima: a de Weasley e Longbottom.
- Er...Potter. - Tentou sussurrar. Harry virou-se para trás. - Achas que me podes cortar as raízes e assim?
- Muito discreto. - Daphne sussurrou no mesmo tom audível que Draco usara, levando a turma a sorrir.
- Sempre a aproveitares-te das situações, não é? - Harry perguntou com um sorriso divertido, enquanto se levantava e agarrava nos seus ingredientes perfeitamente cortados para os dar a Malfoy - Só quiseste sair da Ala Hospitalar para teres já tudo cortado e bonitinho.
- Oh. Cala a boca, Potter. Sabes muito bem que eu entraria em delírio se tivesse de passar outro dia na Ala Hospitalar. - Draco suspirou
- Já te corto o resto dos ingredientes, está bem, seu bruto horroroso? - Harry perguntou, sarcástico.
Até Malfoy se riu. Snape apareceu à frente de Harry.
- Potter, senta-te. - Snape apontou para o seu lugar.
- Eu...Aaa...Desculpe, senhor. - Harry disse. - Mas posso dar isto ao Malfoy?
- Er...Professor, é só que eu preciso que alguém me corte estas raízes de malmequer, por causa do meu braço. - Draco explicou.
- Weasley, corta as raízes do Malfoy. - Ordenou sem olhar. - Potter, senta-te e acabaste de dar cabo da tua poção.
A poção de encolher de Harry mudara ligeiramente de tom. Snape esvaziou o caldeirão com um movimento de varinha. Harry suspirou, e sentou-se para recomeçar. Daphne apontou para Harry e deslizou o indicador pelo pescoço num símbolo de morte. Draco riu-se. Weasley pegou na faca e cortou as raízes de modo grosseiro, ficaram todas de tamahos diferentes.
- Professor Snape - Draco disse, sem paciência - O Weasley está a mutilar as minhas raízes.
As raízes de Weasley estavam perfeitas porque ele passara pelo menos um quarto de hora a cortá-las.
- Weasley, troca de raízes com o Malfoy. - Snape ordenou, com um meio sorriso de desdém. E num tom profundamente autoritário acrescentou - Já.
Dentro do campo de visão de Draco, Zabini imitou a cara de Weasley a passar as raízes. Ainda com um sorriso bobo na cara, Draco virou-se para Snape: "Professor, eu também preciso que me retirem a pele a este figo".
- Longbottom, retira a pele do figo do Malfoy. - Ordenou Snape.
Neville empalideceu. As suas mãos tremiam a segurar no figo. Até Granger franziu as sobrancelhas. Millie juntou os lábios para não se rir. Snape percebeu que se pusesse Longbottom a arranjar ingredientes, o único resultado seria arruinar a poção de Draco.
- Esquece, rapaz. Tu nem para cortar um figo serves. - Snape sibilou. - Potter, vem para esta mesa e ajuda o Malfoy.
Harry segurou no figo e descascou-o. Weasley estava agora a tentar remendar as raízes que cortara para Malfoy.
- Têm visto o vosso amigo Hagrid? - Perguntou Draco, maliciosamente. Draco adorava provocar. Harry abanou ligeiramente a cabeça, perante a atitude do amigo.
- Não é da tua conta. - Ron respondeu, bruscamente.
Harry franziu as sobrancelhas ao ver a poção de Longbottom. Poções era a sua pior disciplina, e o seu medo terrível de Snape não ajudava.
- Dúvido que seja Professor por muito mais tempo... - Draco continuou.
Harry deu-lhe um pontapé por debaixo da mesa, e fez-lhe um sinal do estilo "já chega".
- Ele merece ser despedido. - Replicou Draco, num tom audível - Cortas a minha lagarta?
- Drak, ele não merece ser despedido. - Harry murmurou de modo a que os Gryffindor não conseguissem ouvir, enquanto dissecava a lagarta de Malfoy - Eu sei que os teus braços doem, e queres culpar alguém, mas a verdade é que éramos nós quem não estava a prestar atenção.
- Eu sei. Mas é giro provocar os Gryffindor. - Drak sorriu de volta, e piscou o olho a Harry. Ele estava-se a lixar se despediam ou não o Hagrid, só queria ver Weasley irritado. - O meu pai não ficou nada satisfeito com o meu ferimento.
- Se não te calas, quem te faz um ferimento a sério sou eu. - Weasley disse, vermelho de raiva.
Draco sorriu desdenhoso. E Harry abanou a cabeça, mas não conseguiu evitar sorrir. Malfoy era um idiota desmedido.
À frente de Harry, a poção de Neville que deveria estar de um verde brilhante estava...
- Cor de Laranja. - Snape verteu uma colher para que todos pudessem ver. - Longbottom, o que é que eu tenho de fazer para tu perceberes? Qual das minhas precisas instruções não conseguiste absorver nesse teu cérebro?
- Por favor...Professor...Deixe-me ajudá-lo. - Hermione Granger disse.
- Não pedi que se exibisse, Miss Granger. - Cortou Snape. - Longbottom, no final da aula, vamos dar essa poção ao teu sapo.
Neville olhou em pânico à sua volta. Granger não conseguia sussurrar as instruções sem que Snape percebesse. Harry pôs a sua própria de parte, e dedicou-se a ajudar Longbottom. Malfoy chamou-lhe de "Potter, o Caridoso" durante semanas, mas a verdade é que Malfoy admirou o modo como Harry conseguiu solucionar a desastrosa poção. Harry não detestava Longbottom. Tinham enfrentado Lord Voldemort na Floresta Proibida no Primeiro Ano, Neville erguera a varinha e dera tempo a Harry de se recompor. Pareceu-lhe correcto salvar a vida do sapo.
Entretanto, Finningan informou Weasley e Longbottom de que Black fora visto.
- Não te queres vingar, Potter? - Weasley perguntou malicioso - Falta-te coragem, não é?
- O que é que estás para aí a dizer Weasley? - Malfoy franziu as sobrancelhas.
- Se fosse eu, quereria vingança. - Sibilou Weasley. - Eu iria atrás deles. Mas vocês Slytherin são covardes por Natureza.
Longbottom parecia tão confuso quanto os Slytherin. E Harry não disse nada, porque estava demasiado ocupado a sussurrar-lhe instruções e a tentar fazer a sua poção ao mesmo tempo. A sua poção não ficou tão brilhante como de costume.
Snape não reparou, porque entretanto Daphne conseguira arruinar a poção de Zabini e Nott, ao fazê-los confundir ingredientes, e enganara-se na sua própria poção. Snape estava demasiado ocupado a repreendê-la, e a Millie, que se ria agarrada à barriga de toda a situação.
A poção precisava de repousar por um bocado. Arrumaram as coisas e reuniram-se em torno de Snape. Todos meio expectantes para saber o que iria acontecer. Neville estava nervoso, mas Harry estava confiante.
Snape deixou que umas gotas da poção caíssem dentro da garganta do sapo. O sapo reduziu-se ao tamanho de um girino. Os olhos do Professor cintilaram.
- Dez pontos para os Slytherin.. - Snape sibilou. - Da próxima vez, não te exibas a não ser que eu te diga para o fazeres, Potter.
Harry não disse nada, limitou-se a sorrir. Os Gryffindor fuzilaram Harry com o olhar, cheios de inveja. Hermione Granger sorria. E Neville agradeceu a Harry.
- Isso foi muito decente da tua parte. - Hermione comentou à saída da aula. - Mesmo que não o tenhas sido na aula do Hagrid.
- Nós não ouvimos, Granger. Não fizemos de propósito. - Harry encolheu os ombros.
- O Malfoy não está só a fazer fita, pois não? - Granger perguntou, ao olhar para os braços do Slytherin.
- O que te parece? - Harry perguntou, sarcástico.
A aula de DCAT era muito esperada por todos. A aula foi prática. Foram para a sala de Professores, onde Snape estava sentado numa cadeira.
- Posso ficar a assistir, Lupin? - Perguntou, lançando aos Slytherin um olhar de desafio - Eu quero ver isto.
- Com certeza. - O Professor Lupin concordou.
- Ah. E não sei se alguém te avisou, mas esta turma incluí a Daphne Greengrass que não quer saber de nada, a não ser que envolva quebrar as regras. - Snape sibilou.
Daphne sorriu, para espanto de toda a gente.
- É verdade. - Sussurrou para Harry e Draco num múrmurio. Ambos sorriram.
- Quem é que me sabe dizer o que é um Sem Forma? - Lupin perguntou.
Foi Millie quem respondeu, dizendo que um Sem Forma assumia a forma do que achava que mais ia assustar uma pessoa, e foi Nott quem explicou a vantagem que era estarem em grupo e o Sem Forma não saber que forma poderia assumir.
- Funcionam tão bem como casal. - Daphne comentou. Theo e Millie ainda não haviam voltado a namorar, mas Daphne passava a vida a empurrá-los nessa direcção.
Lupin disse-lhes que pensassem por um momento, o que mais os assustava. E como poderiam tornar isso divertido. Depois, disse a Daphne para dar um passo em frente, e Harry teve a certeza de que Lupin estava a provocar Snape.
- O que mais te assusta?
- Arribas, Professor. - Daphne respondeu, seca. Todos franziram as sobrancelhas, achando que Daphne estava outra vez a brincar. Até Lupin pareceu espantado. - Mas acho que sei como torná-las divertidas.
Quando o Sem Forma surgiu, Harry viu o mar por debaixo de Daphne e uma encosta escarpada. Soube que não eram arribas de uma maneira geral, mas aquela arriba, onde Hunter caíra, quando Daphne o empurrara por acidente.
- Riddikulus. - Daphne disse, confiante.
Um corpo estranho caiu na arriba, mas o mar funcionou como uma cama elástica. E o corpo saltitava. Houve alguns sorrisos.
- Zabini. - Lupin chamou.
Zabini deu um passo em frente, no lugar da arriba surgiu ele mesmo, com os olhos cegos e roupas esfarrapadas. Depois, agitou a varinha e começou a despir o disfarce, voltando a ser ele mesmo.
Millie temia espirítos malignos, mas fê-los perderem todos os poderes alucinantes. Theo temia Inferis, e fê-los tropeçarem nos próprios pés e perderem as cabeças. Wells viu um vampiro, e fez com que lhe caíssem os dentes. Harry perguntou-se o que Curtis Dinzanfar diria. E Pansy enfrentou um Lobisomem, o que fez com que Snape sorrisse por motivos desconhecidos, e fez com que ele não conseguisse uivar, e se engasgasse, enquanto tentava.
Malfoy avançou. E um homem com aspecto do Ministério, pediu-lhe a varinha e disse-lhe que ele tinha perdido os poderes mágicos e que tinha de ir viver com os muggles. A turma riu-se e Malfoy corou, ligeiramente. Depois, murmurou Riddikilus e fez com que os óculos do homem se estilhaçassem e que ele se transformasse num rato.
Harry deu um passo em frente. Lupin tentou impedi-lo, mas Snape murmurou qualquer coisa do estilo "Todos merecem a oportunidade". O Sem Forma tornou-se num Dementor. O frio invadiu-lhe a alma. Os gritos voltaram à sua mente. Conseguia ouvir, claramente, a voz a dizer "O Harry não. Por favor, o Harry não". Abandonou a sala por momentos. Fechou os olhos.
- Riddikulus. - Murmurou com a voz rouca.
O capuz caíu ao Dementor. E ele desfez-se em fumo, como se se escondesse por vergonha. Não foi especialmente divertido, mas foi suficiente. Harry tinha lágrimas nos olhos. Draco puxou-o para trás.
- Estás bem, Harry? - Perguntou Lupin.
- Sim, Professor. - Harry acenou.
O resto da turma enfrentou o Sem Forma. Crabble teve de ser afastado, enquanto soluçava ao ver o que parecia ser uma vespa gigante. Mas foi uma aula animada, e todos mostraram o seu entusiasmo quando saíram.
"Oh! Harry, eu até senti arrepios com o Dementor" Suspirou Evelyn Wells, subitamente ao seu lado "Foste muito corajoso"
Harry acenou-lhe, ainda ouvia os gritos da sua mãe, não lhe apetecia falar sobre o seu Dementor.
- Arribas, Greengrass? - Zabini perguntou espantado.
- Queres mesmo falar sobre isso, mendigo? - Daphne replicou, sarcástica.
- O Malfoy foi o melhor de todos. - Theo comentou. E houve um murmúrio de concordância.
- Suponho que não ter aparecido um hipogrifo foi uma sorte. - Millie sorriu, soturna.
Harry correu para Daphne. Quando a viu, com os olhos ligeiramente lacrimejantes, mas um meio sorriso atravessado, relembrou-se o quanto a adorava. Abraçou-a. E pousou o seu queixo na cabeça dela. Sentiu-se feliz naquele momento, e o calor voltava ao seu corpo lentamente.
Por Harry, aquele momento poderia ter durado para sempre.
N/A: Oi, gente. Como estão? Espero que estejam a adorar cada capitulo. E comenteeem, sim? Uma cena, estes capitulos não são muito diferentes dos originais, eu sei, mas a minha ideia foi retratar os acontecimentos do ponto de vista dos Slytherin, num mundo onde Draco Malfoy não estava apenas a fazer fita.
Xandevf: O Harry é leal ao Malfoy, não ao Hagrid. Claro que ele ia defender o seu amigo. Além disso, a culpa também foi do Hagrid. De qualquer maneira, isto não teve nada a ver com preconceito. Nunca gozou com um professor seu?
Comentários (1)
Quando eu tinha razão varias vezes. Mas jamais deixei de assumir meus erros ou joguei em outra pessoa para me livrar. Mas tá no caminho gostei da atitude do Harry.
2013-04-03