Down
Hermione Granger
Vi Rony chegar. Mas logo ele me viu e sua expressão fechou, e seus ombros caíram. Sorri.
-Hey, Rony – chamei, animada – Como foi o final de semana?
Ele pareceu confuso, mas se aproximou mesmo assim.
-Você... Falou comigo.
Apenas lancei para ele mais um sorriso, como se eu estivesse tendo o melhor dia da minha vida, e juntos atravessamos o pátio em direção à escola.
Depois da conversa com Ginny, que não me ajudou em coisa nenhuma, tinha me decidido. Afinal, ela estava certa. Eu não precisava mudar quem eu era. Só precisava ser quem eu era. Eu sei, isso parece não ter muito sentido. Mas para mim, acabou virando uma filosofia de vida.
-Soube que vocês andaram ensaiando – comentei – É sério isso da banda? É tão legal!
-É, é sério – respondeu ele, ainda meio abobado – Harry no vocal, eu no baixo e Ted na guitarra.
-Quem é o baterista? - perguntei.
-Eh... Não temos um baterista.
-E qual é o nome da banda?
-Não temos um nome.
Pisquei, mas não falei nada. Rony continuou.
-Ficamos o sábado inteiro gravando uma música. Ficou bem bacana. Harry ficou com o CD, não sei o que ele pretende fazer com aquilo. Pede depois para ele te mostrar.
-É, vou pedir. Acho difícil ele me mostrar, provavelmente vai dizer que é confidencial. Aquele boboca.
-Ei, eu ouvi isso, okay? - Harry surgiu do nada ao meu lado, segurando a mochila em apenas um ombro. Ele parecia nervoso, e olhava ao redor, como se estivesse com medo de algo.
-Bom dia pra você também – cumprimentei. - E aí, vai mostrar a música ou não?
Ele sorriu.
-Ah, se vou.
E saiu saltitando. Pisquei, confusa.
-O que deu nele?
Rony deu de ombros.
-Ele foi falar com a Luna. Provavelmente foi perguntar sobre o estoque dela de cogumelos, ou algo assim – disse ele, fazendo pouco caso. Ergui as sobrancelhas, torcendo para que Harry não tenha se metido no mundo de cogumelos e unicórnios voadores de Luna Lovegood.
Na altura da segunda aula da manhã, eu e Rony já conversávamos normalmente, como antigamente. Ele não perguntou o motivo de eu ter de repente voltado a falar com ele, e eu fiquei grata por isso. Não gostaria de ter que contar da conversa com Ginny para ele.
-Eu não acredito nisso! - exclamou Rony, observando de olhos arregalados o seu livro de Biologia. Me inclinei para ver – As girafas não tem cordas vocais! Como é que elas combinam de sair? Como é que elas fazem amigos? Isso não tá certo.
-Por mais que concordemos com o fato de que as girafas não tem meios mais fáceis de se comunicar, acredito que seu comentário não é necessário para essa aula, Sr. Weasley. - disse o professor, chamando a atenção da classe para nós. Rony murmurou um pedido de desculpas e voltou a sua atividade.
Dei uma risadinha, e voltei a fazer os exercícios. Esse é o meu Rony.
Maggie Black
-MAGGIE!
-SAAAAAAM!
Ok, nós berramos. Mas nem mesmo o corredor lotado de alunos confusos me impediu de pular no pescoço do meu melhor amigo. Quando ele me girou no ar, soltei uma gargalhada.
-Maggie, sua idiota – disse ele, ao me colocar no chão – Não ouse ganhar uma suspensão de novo! Hogwarts não é a mesma sem você.
Resolvi não mencionar a regra de que se um aluno receber três suspensões, ele é expulso da escola. Eu tinha acabado de sair da minha segunda.
-Todo mundo precisa de uma Black para fazer o dia ficar mais cinzento – brinquei, arrumando a camiseta. Sam colocou seu braço por cima dos meus ombros, e juntos fomos caminhando lentamente para a sala de aula. Eu me sentia uma oompa-loompa ao lado dele.
-Já chegou com as piadinhas sem graça – suspirou ele – Joan estava quase morrendo. Ela mal consegue desenhar um milho sem a sua ajuda. E olha que ela tentou umas sete vezes.
-Vocês não vivem sem mim – falei, rindo – E porque diabos Joan desenharia um milho?
-Na verdade, eu não perguntei – respondeu ele, pensativo – Mas o que importa é que você está de volta.
-Nhó – soltei, abraçando ele. Vi Joan mais adiante no corredor, pegando livros no armário. Me soltei de Sam e corri sorrateiramente até ela - MENINAS SUPER PODEROSAAAAAS!
Ela quase caiu no chão. Tudo bem, eu não sou a pessoa mais pesada do mundo. Mas quando alguém se atira em suas costas de surpresa, não é qualquer um que aguente.
-AAAH! - gritou ela, agitando os braços para o lado, tentando se equilibrar – POLÍCIA!
-WHO YOU GONNA CALL? - cantei, agarrada nos ombros da garota.
-GHOSTBUSTERS! - responderam Sam e Joan, rindo. Desci das costas dela, e arrumei os cabelos, ignorando completamente os alunos que nos olhavam e faziam caretas.
-É bom estar de volta – comentei, suspirando. Tocou o sinal, e juntos, caminhamos lentamente em direção à sala.
Ao passar pelo corredor, vi Draco Malfoy me observando. Ele acenou com a cabeça, e eu dei um sorrisinho. Ignorei os olhares inquisidores de Sam e Joan.
Ted Lupin
Victoire esticou as pernas, e se apoiou com os cotovelos na grama.
-Eu tenho outra – disse – Três super-heróis que não tem poderes.
-Batman – respondi, de imediato. – Fala sério, ninguém gosta do Batman. Arqueiro Verde. E...
-Mais um – avisou ela. Fechei os olhos com força, tentando lembrar – Fala sério!
-Eu não sei – admiti. Ela fez uma careta.
-Francamente, isso é machismo! – resmungou ela, revirando os olhos – E a Viúva Negra? A Elektra? Batgirl?
-Okay, okay, ninguém é perfeito – ergui os braços para o alto, em um gesto de rendição. Victoire sorriu.
Na minha lista de coisas inúteis, Química ficava entre Batman e escovas de cabelo. Por esse motivo, eu e Victoire simplesmente colocamos nossas coisas no armário e resolvemos dar um passeio pelo campus, no período da nossa tão adorada Química. Estávamos sentados embaixo de uma grande árvore, perto do lago e do campo de futebol.
-Três personagens do George Martin que são felizes – desafiei. Ela arregalou os olhos, e depois soltou uma gargalhada.
-Eu me rendo. Você venceu – e deu um soquinho em meu braço, de brincadeira. Ri junto com ela.
Ao sol, seus cabelos pareciam prata. Me lembrei da primeira vez que a vi, em cima de um muro, na rua perto de casa. Ela parecia uma fada. Agora, depois de algumas semanas convivendo com Victoire, ela parecia cada vez menos surreal, mas dez vezes mais bela. Desde aquele dia eu não tinha ao menos encostado em um cigarro.
-Como vai a banda? - perguntou ela, tirando um pacote de bala do bolso e me oferecendo uma – Não ouvi vocês ensaiando no final de semana.
-O sótão do Harry é um estúdio, à prova de som. Obrigado. - peguei uma bala, e fiz uma careta para o gosto extremamente azedo – Uh, isso é bom. Gravamos uma música.
Victoire ergueu as sobrancelhas.
-Sério? Já estão tão avançados assim?
-Nem tanto – dei de ombros, pegando outra bala – Não temos um baterista, nem um nome. Só conseguimos gravar porque Harry tinha a letra, e Maggie ajudou com a melodia.
-Maggie? - perguntou – Aquela guria com o cabelo pretão?
-Essa mesma.
Encostei as costas na árvore, e calmamente observei a escola à nossa frente. Ao olhar para as portas, gelei.
-Vicky? Eu tenho outra – olhei pra ela, que me mirava curiosa, à espera do desafio – Três maneiras de fugir do monitor.
Victoire sorriu.
-Corre.
Me levantei, a agarrei pelo braço e dei no pé.
Rony Weasley
-Mas ele é o Tyler! - exclamei, exaltado.
-Como é que ele pode ser o Tyler? O Tyler é o Brad Pitt! - respondeu Hermione, levemente irritada. Suspirei.
-Enfim – falei, voltando à dar atenção para meu almoço – Não vamos discutir por causa disso. - e sussurrei – Mas ele é o Tyler.
Hermione não respondeu.
-Mas ele é o Anakin! - ouvi alguém exclamar atrás de mim, com uma voz irritada. Dois segundos depois, Maggie Black colocou sua bandeja na nossa mesa, sendo seguida por um garoto alto e por uma garota de jaqueta de couro.
-Como é que ele pode ser o Anakin? - perguntou o garoto – Ele é o Vader!
-Mas o Vader é o Anakin – disse a outra garota, revirando os olhos – Nunca viu A Vingança dos Sith?
-Não – respondeu ele, de ombros caídos. - Só vi aquele do “Eu sou seu pai”.
As duas suspiraram. Eu e Hermione nos entreolhamos, sem entender. Pigarreei, e Maggie levantou os olhos.
-Ah, oi – disse – Esses são Sam e Joan – disse, apontando para os amigos – E esses são Rony e Hermione. Deu, agora já se conhecem.
O garoto, Sam, soltou um “oi!” animado, mas Joan estava ocupada demais olhando para minha camiseta.
-Você gosta de The Offspring? - perguntou, afobada. Concordei com a cabeça, a boca ocupada demais com o pudim. - É minha banda favorita de todos os tempos! Qual o seu CD favorito?
-Rise & Fall, Rage & Grace – respondi, engolindo.
-Um dos melhores.
-Ah, Joan – interrompeu Maggie, se virando para a amiga – Rony tem uma banda, com meus primos. Eles precisam de um baterista. Não tem alguém para indicar?
A garota ficou pensativa.
-Max se mudou – disse Joan – Teria a Carrie. Mas acho que ela já tem uma banda.
-Ela? - estranhei – Existem garotas bateristas?
-Megan White – responderam as duas, ao mesmo tempo, sem ao menos me olharem. Joan continuou – Eu poderia falar com ela.
-Teria que ser o Harry pra decidir – falei – Mas o estrupício evaporou.
Olhei ao redor, procurando algum sinal do moreno de olhos verdes pelo refeitório. Meu olhar caiu na mesa mais ao centro, lotada de populares. Garotas da torcida, garotos do time e mais alguns que tinha conseguido escalar a grande pirâmide de classes de Hogwarts. No meio do fuzuê, estava Ginny.
Ela não conversava. Nem ao menos tirava os olhos do celular. Ouvia música com apenas um fone no ouvido, e nem tocava na comida. Ela ergueu os olhos, observou rapidamente todos à mesa, e viu que eu a encarava. Todos se surpreenderam quando ela pegou sua bandeja e vem em direção à nossa mesa, sentando-se entre eu e Hermione. Até hoje, ela não demonstrou ao menos que nos conhecia.
-Não fala nada não – murmurou ela pra mim. O resto do pessoal em nossa mesa continuavam discutindo exaltados sobre algo sem importância, e Mione prestava atenção neles. Lancei um sorriso para minha irmã, o que eu imaginei ser reconfortante.
Até que uma música começou a tocar.
Ginny Weasley
Eu estava quase torcendo para que o frango em meu prato ganhasse vida. As pessoas costumam dizer que frangos são bons de papo. Pelo o menos desse jeito eu não me sentiria tão sozinha.
Tá, eu sei. Eu estava cercada de gente. Mas não era como se alguém ali se importasse comigo. Algo me incomodava, me deprimia. Mas, de alguma forma, não sabia o que era.
Rony deixou seus talheres caírem com um estrépito no prato, me puxando para o mundo real.
-O que diabos...? - resmungou ele, parecendo confuso. Precisei de alguns segundos para entender do que ele estava falando.
Todos no refeitório olhavam ao redor, tentando descobrir de onde a música vinha. Mas não era do celular de algum aluno boboca que quer aparecer. Vinha dos alto-falantes.
The drops of rain they fall over
(As gotas de chuva caem em todas as direções)
This awkward silence makes me crazy
(Esse silêncio incômodo me deixa louco)
The glow inside burns light upon her
(O brilho interior a ilumina)
I'll try to kiss you if you let me
(Eu vou tentar te beijar, se você deixar)
(This can't be the end)
(Esse não pode ser o fim)
No primeiro momento, pensei o que diabos a retardada da Luna Lovegood, a encarregada da rádio da escola, estaria pensando ao colocar uma música para tocar no horário de almoço. Ainda mais uma música como essa. Só fui reconhecer a voz depois de alguns segundos.
Vi Rony se inclinar e falar alguma coisa com uma preocupada Hermione, mas não conseguia escutar mais nada além da voz de Harry Potter.
Me levantei. Já sabia onde ir.
Tidal waves they rip right through me
(Maremotos quebram em cima de mim)
Tears from eyes worn cold and sad
(Lágrimas de olhos cansados, frios e tristes)
Pick me up now
(Me anime agora)
I need you so bad
(Eu preciso tanto de você)
Enquanto corria, ri para mim mesma. Como pude ser tão burra? Era tão óbvio. Estava lá o tempo todo. Ele estava lá o tempo todo, eu apenas não conseguia ver. Mas agora eu ouvia. E a escola toda também.
Down down down down
(Tão triste, triste, triste)
It get's me so down
(Isso me deixa tão triste)
Your vows of silence fall all over
(Suas promessas de silêncio caem em todas as direções)
The look in your eyes makes me crazy
(O seu olhar me deixa louco)
I feel the darkness break upon her
(Eu sinto a escuridão quebrando sobre ela)
I'll take you over if you let me
(Eu vou te roubar, se você permitir)
-Eu já permiti – sussurrei, mesmo sabendo que ele não poderia me ouvir. Virei o último corredor derrapando e ofegante, mas eu nunca conseguiria chegar a tempo. Me amaldiçoei por ter saído do lado de Harry. Era onde eu deveria ter ficado o tempo todo.
(You did this)
(Você causou isso)
Enquanto era praticamente arrastado por dois professores para fora da sala de áudio, o moreno parecia inquieto. Alguém desligou a música, e ninguém em Hogwarts jamais ouviria os últimos acordes daquela canção. Da canção dele.
Harry olhou por cima do ombro, e me viu, parada no outro extremo do corredor, incapaz de fazer algo para evitar o que não tinha como ser evitado. Por alguns segundos nossos olhares se cruzaram, e seu rosto expressava dúvida.
Então eu sorri. Não percebi na hora, mas era como se um imenso peso tivesse sido tirado dos meus ombros.
Comentários (1)
Gina finalmente entendendo as coisas *-* Harry enlouqueceu de vez... Mas conseguiu o que queria com isso. Todo mundo ouviu a música, vamos ver o que a galera acha... Rony e Hermione tem que se resolver, mas do jeito que eles são, acho meio dificil se resolverem agora. Ahhhhhhhhh tava morta de saudades da fanfic. Gostei do momento Vic/Teddy, eles dois estão se dando muitooooooooo bem. Gostei da pergunda sobre os personagens do George kkkkkkkkk concordo, dificil algum personagem dele ser feliz... Quero mais *-*Beijoos!
2013-12-10