You're Gonna Go Far, Kid
Harry Potter
Tinha plena consciência de que estava sorrindo como um bobo. E que meu pai falava alguma coisa.
-Na minha época, a gente tinha que limpar o chão do Salão Principal com um guardanapo. Ou organizar todos os livros da biblioteca em ordem alfabética. Depois bagunçar tudo. E arrumar tudo de novo. Hoje em dia eles só te mandam ficar em casa por alguns dias, de férias. Não escute o que sua mãe diz, são férias. Só usam um nome diferente. Suspenção, ah tá. Maggie adora. Harry... Harry?
-Hm? - pisquei, e me virei pra ele.
-Você tá ouvindo alguma coisa do que eu tô falando? - perguntou ele, revirando os olhos, enquanto parávamos no semáforo.
-Ah, claro – respondi – E concordo totalmente.
-Então, já pegou?
-O quê?
Tive um ataque de tosse. Papai revirou os olhos novamente.
-Prestando atenção, sei. Tava no mundo da lua. Pensando na ruiva.
Dei um sorrisinho, lembrando do que tinha acontecido algumas horas atrás.
Depois de invadir uma área proibida da escola e colocar pra tocar uma música de rock nos alto-falantes na hora do almoço, eu tinha sido mandado para a sala do diretor, e meu pai tinha sido intimado a comparecer à escola para discutir minha situação. Diferente do que as pessoas pensaram, meu pai e o diretor deram muita risada da situação, enquanto eu observava de um canto, levemente confuso. Mas mesmo assim, não consegui escapar de uma suspensão de dois dias. Também não consegui falar com Ginny.
Alguns me chamaram de louco. Outros de retardado. Bem, a maioria de retardado. Mas só de ver o sorriso da ruiva para mim, quando ela finalmente percebeu que tudo que eu fazia era por ela... compensou tudo.
-Você é bem filho de James Potter – resmungou mamãe, quando chegamos em casa e contamos o que tinha acontecido – Não pense que vai sair impune.
-Querida, não tem como punir ele – disse papai, dando uma risadinha – Ele já foi suspenso da escola, não tem como mandar ele pra lá.
Tentei segurar uma risada ao ver a expressão de mamãe. Ela sempre fica p da vida quando alguém a contraria. Principalmente se esse alguém for James.
-Pois bem – disse ela, por fim – Sem tocar por duas semanas.
-NÃO! - gritei, arregalando os olhos. Os dois pularam de susto – Não mãe, eu preciso tocar!
-Precisa nada, guri – disse ela, fazendo uma careta pra mim. Imagino que ela esteja se perguntando pra que diabos ela foi fazer um filho como eu. - Vai estudar.
-Sério, mãe – continuei, levemente desesperado – Eu não posso ficar sem tocar. Agora que finalmente nos organizamos com a banda, não tem como fazer uma pausa! Onde é que vão arranjar um guitarrista barra vocalista barra baterista? Não que eu queira que eles me substituam, mas estamos tão animados em fazer música que não...
-Harry, cala a boca! - me interrompeu mamãe. Parei de falar e respirei fundo – Que história é essa?
-Acho que eu esqueci de falar – disse papai, passando a mão nos cabelos, nervoso – Mas nosso filho tem uma banda.
Mamãe passou os olhos de um para outro, como se tentasse adivinhar quem estava mentindo.
-O quê? - perguntou ela, assustadoramente calma.
-Ahn, eu montei uma banda de rock – falei, agora eu passando a mão pelos cabelos – Surpresa?
-De rock, huh? - perguntou ela de braços cruzados, me olhando dos pés à cabeça, parecendo desconfiada. - Desde quando?
-Alguns dias – respondi, desconfortável.
-E você não me contou porque...
-Porque eu esqueci – falei – E também achei que iria morrer sufocado com seus abraços. Hãã... Por que isso não está acontecendo?
Foi como puxar um gatilho. No instante seguinte, a ruiva gargalhava, e atravessava a sala para, bem, me sufocar com seus abraços.
Maggie Black
-É uma coisa muito relativa - dizia Joan para Sam, sentado a sua frente - As pessoas costumam se basear na definição da Wikipédia, mas não é bem assim.
Me esgueirei pela porta aberta, mantendo os olhos no professor, inclinado sobre alguns papéis. A turma toda conversava enquanto supostamente fazia as atividades, e ninguém pareceu se importar quando eu entrei na metade do período.
-Resumindo: sim, Nirvana pode ser considerado rock - concluí, sentando ao lado de Joan.
-Tem certeza?
-Não. E não insista.
-Onde é que você estava? - perguntou a garota - O professor já fez a chamada.
-Estava falando com Rony - respondi, me lixando pra chamada. Mais uma falta não vai fazer diferença - Tentando entender o que diabos aconteceu no almoço.
-E...? - perguntou Sam, interessado.
-E não chegamos à conclusão nenhuma - continuei, cansada - Aparentemente, Harry foi suspenso. Ele também não atende o celular.
-Falando nisso - começou Joan, se dirigindo a mim - Alguns garotos vieram me perguntar se eu conhecia a música. Respondi que não, mas que você sabia. Prepare-se, você vai ser bombardeada com perguntas.
Percebi que Joan ficou levemente bolada em não saber responder de onde veio a música. Até hoje, ela tinha fama de conhecer todas as bandas de rock do mundo.
Mal ela terminou de falar, alguém cutucou minhas costas. Me virei, olhando para o garoto atrás de mim. Na última vez que fiz isso, socara um garoto metido a besta e acabara de suspensão por vários dias. Torci para que ele não fosse falar do meu cabelo.
-Black? Você conhece a música que tocou no almoço? - perguntou ele, esperançoso. O grupo de amigos ao redor dele me observavam em expectativa.
Pensei antes de responder. Poderia dizer que não, que não conhecia a música, e a toda história ficaria um mistério para sempre. Mas se eu fizesse isso, perderia uma baita chance. Não precisava falar com Harry. Ninguém mandou o retardado ficar de suspensão.
-Conheço - respondi, como se não fosse nada demais - É da banda do Harry Potter.
-Harry Potter? - estranhou ele, erguendo as sobrancelhas - Aquele cara quietinho do sexto ano?
Fico surpresa que ele não tenha usado a palavra "mané".
-Ele mesmo.
Ted Lupin
-Suspenso?
O ruivo concordou.
-Ele invadiu um espaço restrito, o que você queria, um prêmio? - ele revirou os olhos, irônico.
-Até que não é uma má ideia. "Rebelde do Ano". Vou falar com McGonagall.
Victoire deu uma risadinha ao meu lado, e eu não consegui segurar um sorriso.
-Eu acho que ele mereceu - disse a garota no banco de trás, Hermione Granger - Mas temos prova amanhã. Como ele espera recuperar a nota?
Ninguém respondeu.
Como eu tinha um carro e sabia dirigir, fui imediatamente designado para dar carona para todos que moram na minha rua, ou que ao menos querem visitá-la. Não que eu esteja reclamando: Victoire está aqui. Normalmente também temos Harry e Maggie para fechar o grupo.
-Eu gostei da música - falou Victoire, se virando para mim - Tem chances da gente poder ouvir ela toda?
-Do jeito que Harry é bipolar, é capaz tanto de enterrar o CD quanto de fazer um videoclipe e colocar no YouTube.
-Na verdade - interrompeu Rony - eu falei com Maggie. Ela tem uma cópia. Pode pedir pra ela depois
-Baixinha desgraçada - resmunguei. - Como ela conseguiu? Harry deixou bem claro que queria só uma gravação, que ficaria com ele.
Na hora eu me irritei com essa atitude autoritária de Harry; me lembrava aqueles líderes de bandas que acham que são os donos do mundo. Mas depois que o garoto fez aquilo no almoço, o perdoei. Foi por um motivo plausível. Eu faria a mesma coisa.
-Cara, foi ela que mexeu na mesa de mixagem - disse Rony.
-Ah. Tinha esquecido. Essa garota pode tudo. Acho que ela vai virar agente da CIA.
-Ou Jedi - disse Victoire.
-Muito provavelmente Jedi.
Ficamos em silêncio por algum tempo, apenas ouvindo o Foo Fighters que tocava no rádio. Quando mudou para uma música mais animada, bufei e troquei a faixa.
-Ei, era Coldplay! - disse Hermione.
-Eu odeio Coldplay - falei, irredutível.
-Eu gosto de Coldplay - comentou Victoire.
-Vamos ouvir Coldplay? - sugeri, voltando para a música.
Pelo retrovisor, vi Rony e Hermione trocarem um olhar divertido. Percebi como pareci um bobo apaixonado, mas Victoire não pareceu notar.
Harry Potter
Ouvi algumas batidinhas de leve na porta, mas meus olhos não saíram da página.
-Entra - falei, distraído. Levantei os olhos por um segundo, e estaquei. - Ginny?
Ficamos nos encarando em silêncio por algum tempo. Sentei na cama, e fechei o livro com um baque. Eu não sabia o que dizer, e a ruiva parecia igualmente atrapalhada.
-Eu tô assustada - disse ela, de repente. Meu coração falhou por um momento. Ela tinha ficado tão mal assim com a música? - Acabei de ver o Professor Snape no supermercado fazendo compras.
Fiquei alguns segundos só olhando pra ela, e quando eu percebi que não tinha nada a ver com ela me odiar, não consegui segurar um sorrisinho.
-Snape?
-É! - continuou ela - Ele estava comprando frango. Já parou pra pensar sobre isso? Ele é um ser humano. Ele dorme, ele respira, ele come frango. Frango! Eu achava que ele comia carne humana de alunos inocentes.
-Sempre quis saber porque todos os alunos que reprovam em Química saem da escola - comentei, pensativo.
-Foram transferidos? Há. Duvido. Aposto que estão em algum lugar no estômago daquele cara, em forma de pudim. - Ginny sentou ao meu lado na cama - E depois de comidos... Os restos tem que ir para algum lugar, não?
Nos encaramos em silêncio. Depois começamos a rir histericamente. Eu tinha praticamente me declarado para ela na frente da escola toda, e quando nos reencontrávamos, falávamos de Snape fazendo cocô. Romântico.
Queria perguntar como ela estava. Se realmente tinha sacado a música. Mas só pelo fato dela estar falando comigo já me deixava meio esperançoso. Queria beijá-la, abraçá-la e nunca mais soltar. No mínimo Ginny ficaria assustada. O máximo seria um tapão na capa e perder a ruiva para sempre.
-Ginny? - chamei. Ela ergueu os olhos, esperançosa. Engoli em seco. Mas não consegui falar nada. - Eu...
-Sabe, eu nunca esperei isso de você - disse Ginny abruptamente, me assustando - Uma banda de rock? Harry Potter? Francamente.
Senti meu rosto corar violentamente, e desviei os olhos.
-Tá, eu sei que seus pais tinham uma banda e essa coisa toda - continuou ela - E não se preocupe, eu já superei. Embora fique um pouco bolada por você não ter me contado antes.
-Hããn... Desculpe? - pedi, incerto. Ela deu uma risadinha.
-Não precisa pedir desculpas, boboca. Você tem seus motivos. Mas então... Você é vocalista, certo? Eu sabia que você tinha talento desde que cantamos Another Brick In The Wall na frente daquela escola em Londres.
Sorri, lembrando.
-Também toco guitarra - comentei. - E preciso fazer a bateria, já que ninguém mais sabe tocar.
-Como não? Bateria é tão legal - disse Ginny - É desvalorizada, por ficar mais no fundo e por parecer um instrumento brutal, mas é necessária para todas as músicas. Dita todo o ritmo.
Eu estava boquiaberto.
-Como você sabe isso? - perguntei, e lembrei do que tinha acontecido há muito tempo - E como você conhece o Dave Grohl?
Ginny pareceu confusa por um instante, mas depois lembrou.
-Ah, aquilo? Eu tinha dito que não sabia tocar - disse, dando de ombros - Só usei o nome de brincadeirinha. Quem não conhece Dave Grohl?
Fiquei em silêncio, apenas a observando.
-Então - falei, por fim - Quer aprender a tocar?
Ginny sorriu.
Ginny Weasley
-De novo - repetiu Harry. Deixei meus ombros caírem.
-Sério mesmo?
Ele ergueu as sobrancelhas, divertido.
-Vem cá, você quer aprender a tocar bateria ou não? - perguntou.
-Ainda acho que seria mais fácil se eu tivesse aulas com um profissional - resmunguei, fingindo irritação. Harry riu.
-Se você tivesse aulas com um profissional, ele provavelmente estaria te julgando.
-E você não está me julgando?
-Talvez - admitiu ele, e eu soltei uma risada - Mas pelo menos não tenho que te dar nota. Não sei se ficaria muito contente com seu sete e meio.
-Sete e meio, huh? Pra mim parece suficiente para um primeiro dia.
Harry sorriu, e se aproximou. Tentei não parecer demasiado nervosa quando ele se inclinou por cima do meu ombro, mostrando a tablatura, apontando uma nota.
-Veja, você está indo rápido demais nesse ponto. Tem que ter calma e bater na hora certa, por isso não precisa ficar ansiosa.
Tarde demais, Harry", tive vontade de dizer. Ao invés de prestar atenção no que ele dizia, fiquei observando seu rosto. Resisti ao impulso de passar os dedos por aqueles cabelos bagunçados.
-Entendeu? - perguntou ele por fim, me dando um susto. Tentando não parecer destrambelhada demais, fiz que sim com a cabeça, e voltei a respirar quando o garoto se afastou para dar espaço para eu tocar. Porém, antes que eu pudesse recomeçar a música pela décima vez, a porta se abriu.
-Harry, você por acaso viu uma pasta vermelha? Eu deixei em cima da mesa, mas... Oh - fez Lily Potter, ao me ver. Ela pareceu realmente surpresa - Olá.
-Oi, Sra. Potter - cumprimentei, sorrindo. A ruiva olhou para Harry meio risonha, e vi ele revirar os olhos.
-Vai ficar para o jantar? - perguntou ela - Vou colocar mais um prato na mesa.
-Jantar? - franzi o cenho. Rapidamente busquei o celular no bolso, para ver a hora. Mais de oito e meia. Soltei um palavrão baixinho, e ergui a cabeça para encará-los - Não será necessário, eu tenho que ir. Já está tarde.
-Tem certeza? - perguntou a Sra. Potter, parecendo levemente decepcionada - Eu fiz macarrão.
Por um segundo fiquei tentada a aceitar. Mas pela cara da mãe de Harry, parecia que ela estava ansiosa para me bombardear com perguntas, que eu, sinceramente, não estava no clima de responder.
-Tenho. Talvez na próxima.
Me levantei, coloquei as baquetas em um canto, e olhei para Harry. O garoto olhava para o chão, visivelmente envergonhado. Não sabia o que dizer. Lily nos observava desconfiada.
-Hm, tchau Harry - disse, me dirigindo para a porta - A gente se vê.
Ele murmurou um "tchau" baixinho, parecendo triste. Me despedi de Lily, que sorriu e me fez prometer que um dia jantaria com eles. Me dirigindo à saída, ainda pude ouvir os dois conversando.
-Ruiva, huh?
-Não começa, mãe.
Sorri.
Comentários (1)
Já tava com saudades da fanfic... Gostei do capitulo. Gina gostando do Harry - espero que eles dois se acertem logo. Teddy também como um bobo apaixonado... Mas Ron e Mione são tão bobos, eles dois são piores, quer dizer, Mione gosta de Rony e todo mundo vê isso e os dois conseguem ver a paixão de Teddy por Vic, mas não conseguem ver o que está na frente do nariz dos dois. Maggie é onda... Quero ver quando Harry voltar para a escola, que rolo que vai ser. Quero mais, por Merlin, poste logo, ok ? Beijoos!
2014-01-17