A fuga



Draco apareceu no seu quarto. Narcisa foi até lá.


           -Draco, é você?


           -Não entra! Me deixa sozinho!


           -Nunca, me diz o que foi.


           -Não posso.


           -Seu pai me disse que estava lutando ao lado do Potter...


           -Estava sim. Granger e ele me mostraram que a vida que eu levava não era a minha vida de verdade, e é verdade.


           -O que está dizendo?


           -Eu fui criado para ser um reflexo do meu pai. Sempre foi assim. Mas agora é diferente. Nada vai me fazer voltar atrás. Agora, me dá licença, preciso falar com o lorde das trevas.


Ele saiu dali. Voldemort estava na sala.


           -Milorde...


           -Ah, quem é vivo sempre aparece, não é mesmo, Draco?


           -Vim por pouco tempo. Já estou de saída.


           -Volte. Você não vai a lugar algum. Incarcerous!


As cordas o prenderam, mas ele nem fez força, e as cordas arrebentaram. Ele saiu dali, voltou para o quarto. Estava com tanta raiva, que até tentou dormir. Conseguiu entrar na mente de Hermione.


Ela estava no casamento. Naquele momento, alguma coisa grande e prateada baixou do dossel até a pista de dança.


Gracioso e brilhante, o lince pousou levemente no meio dos dançarinos atônitos. Cabeças se viraram, os mais próximos congelaram no meio da dança. Então a boca do patrono se abriu e ele falou com a voz profunda e lenta de Kingsley Shaklebolt:


           -O ministério caiu... Scrimgeour está morto... Estão vindo... Eles estão vindo...


A confusão foi geral. Harry e Hermione seguiram a multidão em pânico. Convidados corriam em todas as direções, alguns estavam desaparatando, os feitiços de proteção ao redor da Toca tinham sumido.


           -Rony! -Hermione gritou. -Rony, onde você está?


Enquanto eles passavam pela pista de dança, Harry viu figuras mascaradas e vestidas com capa aparecendo na multidão, então ele viu Lupin e Tonks, suas varinhas erguidas, e escutou os dois gritarem, “Protego!”, um choro ecoou por todos os lados.


           -Rony! Rony! -Hermione gritava, meio soluçando, enquanto ela e Harry eram empurrados pelos convidados aterrorizados. Harry levantou sua mão para ter certeza de que eles não seriam separados enquanto os traços de luz passavam pelas suas cabeças; se eram feitiços protetores ou alguma coisa mais sinistra, ele não sabia.


E então Rony estava lá. Ele agarrou o braço livre de Hermione e Harry a sentiu girar; visão e som se extinguiram enquanto a escuridão o pressionava. Tudo que ele podia sentir era a mão de Hermione enquanto era espremido através do tempo e do espaço para longe da Toca, para longe dos recém-chegados comensais, para longe, talvez, de Voldemort em pessoa.


           -Onde estamos? -disse a voz de Rony.


           -Avenida Shaftsburry, eu vinha ao teatro com meus pais... Sigam, por aqui.


Eles entraram num beco. Hermione começou a tirar roupas da sua bolsinha mágica.


           -Como você...


           -Feitiço indetectável de extensão.


           -Vamos. Temos que ir para algum lugar.-disse Harry.


           -Ah, tem um café, não muito longe daqui. Só virar a esquina.-disse Hermione.


           -Tudo bem. Vamos.


Era um pequeno e sujo café 24 horas. Uma luz cor de graxa pairava em todas as mesas de fórmica, mas pelo menos estava vazio. Harry sentou primeiro em uma cabine e Rony sentou-se do seu lado, de frente para Hermione que estava de costas para a entrada e não gostava nada disso. Ela olhava sobre o ombro tão freqüentemente que parecia ter um tique nervoso. Harry não gostava de ficar parado, andar dava a sensação de que eles tinham uma dianteira. Por detrás da capa, ele podia sentir os últimos vestígios da poção Polissuco desaparecer, suas mãos retornando ao tamanho e forma normais. Ele tirou seus óculos do bolso e os colocou de novo.Depois de um ou dois minutos, Rony disse:


           -Nós não estamos longe do Caldeirão Furado, é ali na Charing Cross.


           -Rony, não podemos! -afirmou Hermione de uma vez.


           -Não pra ficar lá, mas pra saber o que está acontecendo!


           -Nós sabemos o que está acontecendo! Voldemort tomou o Ministério da Magia, o que mais precisamos saber?!


           -Tá bom, tudo bem, era só uma idéia!


Eles caíram em um silêncio incômodo. A garçonete que mascava chicletes passou e Hermione pediu dois cappuccinos: como Harry estava invisível, ia parecer estranho pedir um para ele. Um par de trabalhadores entrou no café e se espremeu na outra cabine. Hermione baixou a voz para um suspiro.


           -Eu digo que devemos achar um lugar calmo para desaparatar e ir para o campo. Quando estivermos lá, mandamos uma mensagem para a Ordem.


           -Você pode fazer aquela coisa do patrono falante? -perguntou Rony.


           -Eu tenho praticado e acho que sim -disse Hermione.


           -Bem, contanto que eles não se metam em encrenca, apesar de que já devem estar presos nesse momento. Deus, isso é revoltante -Rony acrescentou depois de dar um gole no seu café ralo e espumoso. A garçonete ouviu; lançou a Rony um olhar de desprezo enquanto passava para pegar os pedidos dos outros fregueses. O maior dos dois homens, que era loiro e enorme, acenava para que ela fosse embora na hora que Harry olhou. Ela o encarou irritada.


           -Vamos indo então, eu não quero mais beber essa porcaria -disse Rony. -Hermione, você tem dinheiro trouxa para pagar isso?


           -Sim, eu peguei todo meu dinheiro guardado antes de ir à Toca. Eu aposto que todos os trocados estão aí no fundo -apontou Hermione pegando sua bolsa frisada.


Os dois homens fizeram movimentos idênticos e Harry imitou sem nem ter consciência do que fazia. Os três sacaram suas varinhas. Rony, que percebeu segundos depois o que acontecia, pulou na mesa e puxou Hermione para baixo de sua cadeira. A força dos feitiços dos comensais foi tanta que espatifou o teto no lugar onde a cabeça de Rony estava segundos antes, enquanto Harry, ainda invisível, gritava: “Estupefaça!”. O grande e loiro Comensal da Morte foi atingido no rosto por um raio de luz. Ele caiu de lado, inconsciente. Seu companheiro, sem poder ver quem lançou o feitiço, lançou outro em Rony. Cordas pretas voaram da ponta de sua varinha e ataram Rony dos pés a cabeça -a garçonete correu para a porta. Harry lançou outro feitiço estuporante no comensal com o rosto retorcido que tinha atado Rony, mas o feitiço errou, bateu em uma parede e voltou na garçonete que caiu em frente à porta.


           -Expulso! -gritou o comensal e a mesa em frente a Harry explodiu. A força da explosão o mandou para a parede e ele sentiu sua varinha voar enquanto a capa saía de seu corpo.


           -Petrificus Totalus! -gritou Hermione fora de visão e o comensal caiu como uma estátua com um estalido alto na bagunça de louça quebrada, mesas e café. Hermione rastejou debaixo do banco sacudindo o cabelo para tirar os cacos e tremendo.


           -D-diffindo! -ela disse apontando a varinha para Rony, que gritou de dor quando ela abriu um buraco no seu jeans, deixando um corte profundo na pele. -Desculpe-me Rony, minhas mãos estão tremendo! Diffindo!


As cordas apertadas caíram. Rony levantou sacudindo seus braços para voltar a senti-los. Harry pegou de volta sua varinha e andou por sobre os escombros até onde o grande comensal estava esparramado entre as cadeiras.


           -Eu devia tê-lo reconhecido, ele estava lá na noite que Dumbledore morreu -ele disse. Ele virou o comensal mais escuro com seu pé, os olhos do homem estavam se movendo rapidamente entre Harry, Rony e Hermione.


           -Este é Dolohov -disse Rony. -Eu o reconheci pelos pôsteres de procurado. Eu acho que o grande é Thorfinn Rowle.


           -Não importa como eles se chamam! -disse Hermione um pouco histérica. -Como eles descobriram a gente? O que nós vamos fazer?


De algum modo, o pânico na voz dela clareou a mente de Harry.


           -Tranque a porta -ele disse pra ela. -E ,Rony, desligue as luzes.


Ele olhava abaixo para o Dolohov paralisado e pensava rápido enquanto a fechadura fazia um click e Rony usava o Apagueiro para pôr o café na escuridão. Harry podia ouvir os homens que antes tinham gritado para Hermione fazer a mesma coisa com outra garota em algum lugar distante.


           -O que nós vamos fazer com eles? -Rony falou baixinho para Harry em meio à escuridão, então disse ainda mais rápido: -Matá-los? Eles iam nos matar. Fizeram uma boa tentativa agora. -Hermione deu um passo pra trás e Harry balançou a cabeça.


           -Nós temos apenas que apagar suas memórias -disse Harry. -É melhor desse jeito, nós tiramos eles de cena. Se nós os matarmos, vai ficar óbvio que estivemos aqui.


           -Você é quem manda -disse Rony soando profundamente aliviado. -Mas eu nunca fiz um feitiço de memória.


           -Nem eu -disse Hermione. -Mas eu sei a teoria. -Ela respirou calma e brevemente e então apontou a varinha para a testa de Dolohov e disse: -Obliviate!


Na mesma hora os olhos de Dolohov ficaram fora de foco.


           -Brilhante! -disse Harry batendo nas costas da garota.


Os três aparataram e foram para o Largo Grimmauld.


Os dias foram passando. O dia 1º de setembro chegou. Era tão estranho não estar indo para Hogwarts. Mas Draco estava ali. Ele seria o espião do clã em Hogwarts, vigiar os passos de Snape.


Hermione, Harry e Rony foram ao ministério. Tinha uma coisa que estava com Umbridge, segundo Mundungo, que pertencia a eles. O verdadeiro medalhão de Slytherin.Mas o problema era: Eles não podiam usar poção polissuco, não funcionava com eles, mas com Harry, sim.


Eles conseguiram, saíram dali, quase foram mortos, mas deu certo. Mais certo do que Hermione imaginava.


Fugiram dali para uma floresta. Eles estavam ali, os três caídos. Harry tinha o medalhão a alguns metros dele.


           -Conseguimos... Aqui está, o verdadeiro medalhão...


           -Rony! Tá tudo bem?


           -Sim. Tudo bem, Harry?


           -Estou.


           -Rony, vem me ajudar.


           -Desde quando o Rony sabe feitiços de proteção?


           -Harry... Eu sou um vampiro! Tenho todos os livros de feitiços na ponta da língua.


           -Ah ta.


           -Abaffiatto, Salvio Hexia, Protego totallum...


           -Repello Trouxatum, Salvio Hexia... Harry, podia ir montando a barraca.


           -Que b...


           -Na minha bolsa. Ah, Rony, o Draco está no trem. E... Estavam procurando por você, Harry.


A tarde caía, Hermione foi fazer a vigia. No dia seguinte, dedicaram sua manhã à destruição da horcrux. Mas feitiços não adiantavam. Acabaram por desistir.


Harry foi para perto do lago. Sentou ali e ficou jogando pedras na água, parecia com raiva. Rony apareceu ali, e disse:


           -Acho muito bom o fato de estar pensando num jeito de destruí-las.


           -Ainda não pensei em nada.


           -Está mentindo! Harry, não pode mentir. Eu sou capaz de ler sua mente, a Hermione também, então, fala. O que pensou?


           -Veneno de basilisco. Funcionou na câmara, porque não funcionaria fora dela?


           -É. Mas onde conseguiremos isso, teríamos que ir até Hogwarts.


           -Eu não sei.


Harry olhava para o medalhão em seu pescoço. Algo havia ali, ele conseguia sentir. Era a alma de Voldemort.


           -O que foi?


           -Tem algo aqui. Eu sinto.


O medalhão enroscou no pescoço dele. Ele caiu ali.


           -Harry! Que foi?


Voldemort estava na mente dele.


           -Vamos, Gregorovitch, me diz onde está.


           -Eu não sei. Roubaram de mim. Juro pela minha vida!


           -Sei. Avada Kedavra!


Harry voltou a si. Agora, Hermione também estava ali.


           -Harry! O que foi?


           -Ele pegou Gregorovitch.


           -O fabricante de varinhas?


           -Tem algo que estava com ele, e vold...


           -Não diz!


           -Você sabe quem. Ele quer muito essa coisa. É como se... A vida dele dependesse disso. Por mais quanto tempo ficaremos aqui?


           -Não sei. Eu sei, você quer muito matá-lo, mas todo cuidado é pouco. Não estamos na escola, estamos vulneráveis. Se nos capturam, adeus caçada, e ele vai continuar forte, dominando o mundo. Todos os mundos.


           -É, Harry, ela tá certa.


           -Ele se fortalece a cada segundo a mais que ficamos aqui.


           -Calma. Vai dar tudo certo.


Ele se levantou.


           -Olha, me desculpem se isso não importa para vocês, mas para mim... Eu me importo.


           -Harry, estamos fazendo de tudo para te proteger, e...


           -Então não estão fazendo o suficiente!


Ele gritou. Hermione se levantou e foi até ele.


           -Tira! Tira isso, agora, Harry!


           -Hermione, calma.


           -Não, Rony. Não vê que ele está assim por causa da horcrux?


Harry tirou o medalhão e jogou no chão. Saiu andando até a barraca. Hermione abaixou para pegar. Ficou olhando para aquilo.


           -Elas tem o poder de alterar seu humor. Vamos revezar, será melhor.


           -Tá legal.


Ele subiu até o topo de uma árvore. O sol já estava alto, era pouco mais de meio dia.

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