Impedimenta
-Já pensou em jogar Quadribol? – James perguntou à Anya. Eles estavam sentados em duas poltronas da sala de estar descansando depois de passarem o dia inteiro treinando feitiços de todos os gêneros.
-Na verdade eu sou uma apanhadora razoavelmente boa. – Anya respondeu, tomando um gole da cerveja amanteigada com hortelã que James tinha preparado para os dois. – Costumo jogar todas as férias. – Ela comentou, sorrindo para James.
-Com quem?! – Ele perguntou empolgado. Nunca a tinha visto jogar nos jardins em Hogwarts.
-Draco, Pansy, Logan, Linda, Zabini... – Ela começou a citar e notou que James franziu o lábio, sem saber como responder à lista de sonserinos da qual ele não gostava muito. – Sempre que dá a gente viaja junto nas férias e joga.
-E você compete contra o Malfoy como apanhadora? – James perguntou com uma sobrancelha levantada. Por mais que odiasse admitir, Malfoy era apanhador desde o segundo ano, e ainda que não fosse tão excelente quanto Potter, não conseguia pensar em mais alguém em Hogwarts que o superasse.
-Não, não seria justo. – Ela disse. – Ele joga em outra posição, e o Logan também.
-Logan... é rebatedor, não é? – James comentou, como se não soubesse exatamente de quem ela estava falando. Logan Field, rebatedor do time da Sonserina desde o quinto ano. James se lembrou de que noventa por cento das vezes em que o via, ele estava rondando Anya de alguma forma.
-É. Normalmente o colocamos no gol, porque seu talento pra goleiro é bem limitado. – Ela disse rindo e depois de um pequeno momento de silêncio, no qual ela parecia estar refletindo sobre alguma coisa, comentou – Você devia vir. Vamos viajar no fim de semana que vem.
James a olhou por alguns instantes, imaginando que ela fosse voltar a trás na proposta ou começasse a rir.
-Acho que o pessoal não se importaria. – Ela continuou - Você pode levar seus amigos, se quiser.
-Não acha que a Parkinson vai querer envenenar sua comida se você nos levar? – James perguntou a olhando como se ela não estivesse ciente deste perigo.
-Acredito que não. – Anya disse rindo, porém sem muita convicção.
-Às vezes eu penso que você foi colocada na Casa errada, sabia? – James disparou, sem pensar muito antes de falar. Anya olhou para ele, curiosa. – Quero dizer, você é gentil, inteligente. Não me parece ambiciosa. – Ele continuou falando, seus olhos dispersos olhando a neve cair através da janela da sala de estar. Nenhum dos dois disse nada por alguns instantes, não por não saberem o que falar, mas por sentirem que não era preciso dizer muito. James suspirou. – Queria que você não tivesse que ir amanhã. – Disse, virando-se para olhá-la.
Anya apenas sorriu em troca. Ela sentiu uma súbita vontade de ler a mente dele, mas desconfiava que ele já tinha lhe revelado seus mais sinceros pensamentos a seu respeito.
-Tia Samantha! – Dave cumprimentou a mãe de James, que veio recepcioná-lo na porta.
-Dave querido, que bom que pode vir! – Samantha abraçou o sobrinho, e logo em seguida Collin e Peter, que vinham logo atrás, carregando pequenas malas de roupas e enormes malas com equipamento de quadribol. Peter deu um abraço discreto em Samantha ao passar pela porta, e Collin lhe deu um beijo no rosto, sem qualquer discrição.
-Pensei que viriam de Pó de Flu. – Samantha comentou enquanto os ajudava com as malas.
-O sistema de Pó de Flu foi bloqueado ontem à noite. – Collin comentou.
-Manutenção outra vez... – Dave explicou rolando os olhos. – Viemos de trem.
-O que não foi de todo mal, porque acabamos pegando o mesmo trem que um grupo de líderes de torcida de algum esporte trouxa. – Collin disse empolgado enquanto subiam com as malas até a sala de estar do segundo andar, onde costumavam ficar acampados quando iam para a casa de James.
-O James ainda não acordou? – Peter perguntou à Samantha. Eram por volta de oito e meia da manhã, portanto, com base em sua experiência de dividir o quarto com James desde o primeiro ano, ele provavelmente estava babando em sua cama.
-Ele está no jardim, querido. – Samantha respondeu enquanto organizava as malas num canto da sala com o uso do Wingardium Leviosa. – Com a Smith. – Ela completou com um sorriso de canto misterioso, olhando através da janela da sala de estar para o extenso jardim, de onde James e a garota sonserina não saíam por nada.
-Smith?! – Dave perguntou em tom de desaprovação, se aproximando da janela rapidamente para observar. Peter e Collin fizeram o mesmo. Através da vidraça embaçada pela umidade da neve, os quatro podiam ver James e Anya voando velozmente em suas vassouras atrás de um pequeno pomo de metal.
-Peguei! – James disse fechando sua mão ao redor do pequeno pomo feito de níquel e parando sua vassoura. Anya parou alguns metros a frente, se virando para olhar para ele. – Estamos empatados. – Ele completou enquanto observava o pomo se aquietar e enrolar suas asas metálicas.
-James! – A voz de Dave chamou a atenção dos dois, que observaram Peter, Dave e Collin se aproximando. James desceu a vassoura rapidamente, pulando assim que estava a uma altura segura, enquanto Anya pousou com cautela.
-Vocês demoraram! – James comentou enquanto abraçava os amigos.
-É uma longa história... – Collin disse rolando os olhos. – O importante é que precisamos aprender a jogar futebol americano, e depressa. – Ele disse olhando sério para James, se lembrando das líderes de torcida.
-Collin, pelo amor de Merlin, será que você não pensa em outra coisa? – Dave deu um tapa em sua própria testa, frustrado.
-Certo... – James respondeu genericamente, imaginando que tinha muito o que conversar com os amigos. – Bom, Anya está aqui esses dias. – James disse se virando para Anya, que se aproximou imaginando todas as coisas que Dave estaria pensando ao seu respeito, pelo olhar que lhe dirigia. Provavelmente poderia ler sua mente se tentasse, mas não queria perder tempo. Não era difícil de imaginar o que ele estava pensando. Ela acenou para os amigos de James, que cumprimentaram de volta.
-Anya, querida, seu irmão chegou. – Samantha disse, surgindo na porta que dava da cozinha para o exterior da casa.
-Ah, eu já vou. Obrigada. – Anya disse se virando para James na intenção de se despedir.
-Eu te ajudo com as malas. – Ele disse indicando o interior da casa.
-Até mais gente. – Anya se despediu dos amigos de James sorrindo.
-Tchau, Anya. – Collin acenou de volta, assim como Peter.
James desceu com a mala de Anya devagar, apesar de não estar pesada. Anya vinha logo atrás dele, carregando sua vassoura. Derek estava, por incrível que pareça, sentando no sofá, rindo e conversando com a Sra. Woodson. Anya tinha uma leve desconfiança de que a mãe de James soubesse de algum feitiço para encantar as pessoas, ou que tivesse colocado algo no suco de abóbora de seu irmão.
Derek se levantou, abraçou a irmã e se despediu de Samantha e James. Anya foi com ele, se despedindo de James com um aceno de mão.
-Espera! Espera! – James disse, correndo até uma mesa de canto e pegando uma pena e um pergaminho. – Pode autografar pra mim? – James perguntou a Derek, lhe entregando o pergaminho. Não é todo dia que se tem um artilheiro do Holyhead Harpies na sua casa.
-Até mais, Anya. – James disse da porta. – Te vejo semana que vem. – Ele abaixou o tom de voz para dizer a última parte, garantindo que sua mãe não o ouvisse.
-Viajar com os amigos dela para Wood Green?! – Dave comentou olhando para James como se estivesse interessado em lhe mandar um Estupefaça. Estavam jogando cartas na sala de estar do segundo andar depois do almoço. - Nos últimos dias de férias?
-São só três dias. E ela disse que eles vão jogar Quadribol. – James argumentou. – Que outra chance vamos ter de espionar o capitão do time e o rebatedor da Sonserina ao mesmo tempo? – James se defendeu num claro apelo a Collin, que ponderou sobre o assunto.
-Bom, como você está claramente apaixonado e eu sou seu amigo, posso até fazer o sacrifício. – Collin disse, mas depois completou – Mas você vai ficar me devendo.
James pegou um pedaço de pergaminho do bolso e o entregou nas mãos de Collin, não necessariamente concordando com a parte do apaixonado.
-Oh, meu Merlin. – ele disse após ver o autógrafo. – O irmão dela é o artilheiro do Holyhead Harpies?! – Ele deduziu ao ver o sobrenome no autógrafo e imaginar que James não o teria conseguido de outra forma.
-É. – James disse, sentindo-se vitorioso. – E Anya vai com eles no jogo da semana que vem. E com a gente, é claro. Se a gente for viajar. – Ele apelou dessa vez à paixão de Dave pelo quadribol. Só não imaginava que argumento usaria para convencer Peter.
Dave pareceu refletir por um tempo, olhando de James para Peter e Collin.
-Ah, que seja! – Dave cedeu, rolando os olhos. James e Collin comemoraram animados. – Mas que fique claro que só estou fazendo isso pelo Quadribol! – Ele reafirmou.
-Não se preocupe. Eu sempre soube que você tinha uma queda por mim. – James zoou Dave, mas tentou não exagerar, temendo que ele voltasse atrás.
-Bom, já que é assim, eu também vou. – Peter disse, se mostrando o menos relutante de todos. – Não quero passar os últimos dias das férias com minha tia Grace. – Ele deu de ombros, fazendo os amigos rirem. Ainda que Collin e James desconfiassem da real razão, o importante era que todos concordaram com a viagem.
-Wood Green, então. – James levantou seu copo de suco de abóbora, brindando com os amigos.
James estava na sala de combates com seu aplicador de testes há quase trinta minutos. Tinha sido testado de todas as formas, e se desempenhado melhor do que podia imaginar. Isso até que o aplicador, um homem alto, com cerca de trinta e poucos anos, de vestes bruxas negras e cabelos escuros compridos; sussurrou um feitiço silencioso, que fez com que uma fumaça esverdeada subisse ao redor de James, se enroscando em seu tronco. Era um feitiço ilusionista.
-Acuria. – Ele sussurrou enquanto fechava os olhos e erguia a varinha na altura de seu rosto. Sua audição ficava até cinco vezes mais apurada com este feitiço. Aos poucos, pode ouvir os passos do avaliador se aproximando, vindo na direção de suas costas.
-Estupefaça! – O homem lançou o feitiço o pronunciando em voz alta, o que deu vantagem suficiente para James se virar e se defender com um feitiço não-verbal.
Impedimenta. – Pensou concentrado. Apesar da fumaça que ainda se dissipava, pode ver a onda de luz semi-transparente bloqueando o feitiço de ataque do aplicador. Sentiu-se feliz, acima de tudo. Tinha aprendido com a melhor.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!