Flagra
James subiu os últimos degraus da escada da torre de astronomia de dois em dois degraus e abriu a porta da sala num rompante. Assim que viu Anya, sentada sobre uma das carteiras, girando a varinha entre seus dedos, soube que lhe devia desculpas. Estava atrasado pela terceira vez na semana.
-Olá. – Anya o cumprimentou e olhou rapidamente em seus olhos castanhos, lendo sua mente. Mary, como sempre, tinha sido a razão de seu atraso. Rolou os olhos enquanto descia da carteira e caminhou até James.
-Me desculpe pelo atraso... De novo. – James disse com a mão no pescoço para disfarçar o embaraço. A verdade era que ele tinha gastado quase vinte minutos se despedindo da namorada antes de ir “estudar com Peter”. Por um momento ele pensou no que será que Peter ficava fazendo durante as duas horas que ele passava estudando com Anya de segunda a sexta. Ou seria melhor perguntar: com quem ele ficava fazendo algo?
-Ok. Hoje vamos treinar um combate. – Anya disse empolgada, chamando a atenção de James enquanto prendia os cabelos escuros num rabo de cavalo no alto da cabeça.
-Com-combate?! – James perguntou de olhos arregalados. Tudo bem que eles já tinham treinado diversos feitiços de ataque e defesa, mas a possibilidade de lutar com Anya e parecer um completo idiota não lhe parecia muito tentadora.
-Ora, vamos James... – O fato de ter sido chamado pelo primeiro nome por Anya de forma tão natural o fez prestar atenção na sonserina e sair de seus devaneios. – Você vai se sair bem. – Ela disse como se tivesse lido os pensamentos do grifinório. James não se espantou, pois não era a primeira vez que isso acontecia.
-Está bem. – Ele disse a encarando de maneira quase felina. Anya sempre se impressionava com a capacidade de James de se postar como um leão a espreita. Ela não tinha certeza se ele fazia isso para impressioná-la ou se era um gesto natural.
-Nada de teoria hoje. – Ela disse, colocando a varinha na frente de seu corpo, em posição inicial de combate.
-Certo. – Ele respondeu afrouxando a gravata e arregaçando as mangas da blusa social de uniforme. – E o que eu devo fazer? – James perguntou enquanto relembrava alguns feitiços de combate em sua mente.
-O objetivo será desarmar o oponente. – Anya respondeu com um sorriso de canto. James apenas sorriu e se colocou em posição de batalha. Isto poderia ser divertido.
...
Mary estava saindo um tanto quanto atrasada da sala de História da Magia, pois tinha ficado depois do horário para pegar uns papéis com o professor Binns a respeito de um trabalho da matéria que tinha para fazer. Tomou uma escada que a levaria até o andar do Salão Comunal da Grifinória, e enquanto subia a escada se moveu, como de costume das escadas de Hogwarts. Mary suspirou em desânimo. Teria que esperar a escada ter a boa vontade de voltar para sua posição inicial. Enquanto encarava um dos corredores do quarto andar, no qual a escada tinha estacionado, viu uma figura alta e magra passar correndo de um a outro lado do fundo do corredor. Peter. – Identificou. Peter deveria estar estudando com James na antiga sala de Adivinhação. Mas não está. Ora, é claro que não está! – Ela pensou com raiva, cogitando a hipótese de estar sendo enganada por James durante todo esse tempo. Parou para pensar por um ou dois segundos antes de resolver entrar no corredor do quarto andar. Assim que pisou para fora da escada, esta se moveu. Ela poderia ter seguido seu caminho até o Salão Comunal da Grifinória, mas estava mais interessada em descobrir onde é que Peter estará indo.
...
James se lembrava de três feitiços que serviriam para desarmar Anya, mas ainda não tinha tido a chance de tentar lançá-los. Ela era rápida demais com a varinha, e lançava diversos feitiços ilusórios, que confundiam seu foco ou o deixavam encurralado. Quem visse a cena acharia que ela estava realmente tentando atacá-lo.
-Confusio... – Anya sussurrou, baixo demais para que James a escutasse. Uma névoa roxa surgiu ao redor de James, fazendo com que ele perdesse Anya de vista.
-Peguei. –James ouviu a voz de Anya muito próxima de seu pescoço, o que lhe provocou uma série de arrepios que não saberia justificar. Em um segundo, sentiu sua varinha ser tomada de sua mão. Assim que a névoa se dissipou o suficiente para que ele pudesse distinguir a figura de Anya, se virou e a viu a poucos centímetros dele, segurando sua varinha vitoriosa.
-Ganhei. – Ela disse com um sorriso triunfante.
-Isso não foi justo. – James disse cruzando os braços, emburrado como uma criança. – Você não usou um feitiço para me desarmar!
-Eu não precisei de um. – Anya respondeu ainda olhando para James com a expressão vitoriosa.
-Está bem. – James assentiu, estendendo a mão para que Anya lhe devolvesse a varinha. Anya sentiu uma súbita vontade de ler os pensamentos de James para saber o que ele estava planejando, mas sabia que, sendo sua professora de Feitiços, seria antiético.
-De novo. – Ele disse apenas, dando alguns passos para trás para reiniciarem o combate.
...
Mary tinha seguido Peter por uma série de corredores. Como já era hora do jantar, a maioria dos alunos estava no Salão Principal, e dessa forma nenhum dos dois tinha trombado com ninguém durante o percurso. Depois de quase dez minutos andando aparentemente em círculos, o garoto desacelerou ao se aproximar da sala de Runas Antigas. Parou em frente à porta e olhou ao seu redor, quase chegando a avistar Mary, que se esquivou para detrás de uma pilastra, prendendo a respiração para que não fizesse qualquer ruído. Assim que ouviu o barulho da maçaneta da porta da sala, voltou a observar Peter por detrás da pilastra. Ele entrou na sala e fechou a porta atrás de si, mas aparentemente não a trancou. Mary caminhou até a porta e colocou o ouvido sobre a mesma, tentando ouvir o que se passava dentro do cômodo.
-Você demorou. – Uma voz feminina disse baixinho do outro lado da porta.
-Eu sei, eu sei. Desculpe, estava ajudando o James. – Peter respondeu no mesmo tom de voz que a garota.
-O Woodson já não é grandinho demais para ter uma babá? – A menina disse rindo.
-Ah, não vamos falar dele. Eu estava com saudade de você. – Peter disse, e depois tudo o que Mary pôde ouvir eram ruídos. Suavemente, girou a maçaneta da porta e a abriu apenas o suficiente para que pudesse ver o rosto de Peter e de sua surpreendente companhia: Linda McCartney, uma sonserina do sétimo ano. Ela não sabia o que era mais estranho naquela cena: o longo cabelo preto de Linda cobrindo quase todo o rosto de Peter ou o fato de o garoto a estar agarrando vorazmente, mandando pras cucuias sua imagem de garoto-prodígio da Grifinória. Isso era algo que não se via todos os dias. Ainda com os olhos arregalados, Mary se afastou da porta lentamente e caminhou a passos largos para longe dalí. Tinha assuntos mais importantes para tratar.
...
James e Anya estavam em seu segundo duelo a mais de quinze minutos. James já estava completamente suado, considerando seriamente a possibilidade de pedir uma brecha para que pudesse tirar a camisa, enquanto Anya parecia inalterada. Ela nem sequer tinha corado com a agitação. Isso irritava James mais do que o fato de não ter conseguido desarmá-la ainda. Mas era preciso ter calma. Ele tinha uma ideia, e pretendia colocá-la em ação. Anya lançaria um feitiço de ataque a qualquer momento.
-Reducto! – Ela lançou, e James foi atacado por uma onda de energia azulada. Ele poderia ter facilmente usado um feitiço de bloqueio, como Anya esperava que ele fizesse, mas tinha outra ideia em mente. Ao ser atingido, rolou no ar e caiu sobre o piso atapetado da sala de Astronomia. Anya veio em sua direção, preocupada.
-James! – Ela se ajoelhou perto dele e tocou seu ombro, preocupada. – Você está bem?
Rápido demais para que Anya pudesse reagir, James segurou em seu braço e a puxou contra seu corpo, rolando para cima dela no tapete. Segurou seus pulsos e olhou profundamente nos olhos verdes.
-O-o que você está fazendo?! – Anya perguntou sentindo a respiração acelerada. James sorriu enquanto tocava uma das mãos de Anya e pegava sua varinha.
-Desarmando você. – Ele respondeu, soltando a garota e se sentando no tapete. Os dois riram, se dando conta do quanto aquilo era infantil. Bom, talvez nem tão infantil assim... – James pensou.
Era a primeira vez que James via Anya descomposta, com a gravata levemente frouxa e o rosto corado. Por mais que tivesse sido obra dele, isso mostrava que ela era humana, afinal. Eles se encararam por um momento, exaustos. James foi o primeiro a se levantar.
-Toma. – Ele lhe entregou a varinha, sorridente. – Agora está empatado. – Disse oferecendo a mão para que Anya se levantasse. Anya aceitou a ajuda e se levantou, ajeitando a gravata e desviando os olhos dos de James, que a encarava parecendo se divertir com seu embaraço.
De repente, a porta da sala de Astronomia se abriu, fazendo com que ambos se virassem para a porta, espantados.
-Eu devia saber. – Mary disse parada na entrada da sala. – Eu devia enfeitiçar os dois! – Ela disse apontando a varinha ameaçadoramente para Anya.
-Quem é que você pretende enfeitiçar, posso saber? – Snape disse, surgindo atrás da garota loira como um morcego.
Só pode ser brincadeira... – James pensou mortificado. Parecia que Snape pressentia seus piores momentos e vinha presenciá-los.
Anya olhava para Mary com um misto de assombro e curiosidade em sua expressão, enquanto a garota gritava xingamentos aos quais ela não prestou muita atenção. Como é que ela tinha os encontrado, afinal? Olhou profundamente nos olhos azuis da grifinória, se concentrando para ler seus pensamentose tentar entender o que tinha acontecido. Salão Comunal, Harry Potter, Mapa do Maroto. – Ela leu, ligando os elementos. Algo a dizia que aquela seria uma longa noite.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!