Ciúmes



-É uma pena que a Pansy tenha viajado nesse feriado. – Anya comentou enquanto ela e Draco caminhavam pela curta estrada que ligava Hogwarts à Hogsmeade.


-É... Pelo menos o Logan não teve que ir também. – Ele disse enquanto se enrolava mais e mais no casaco de pele de urso. Estava ventando bastante, e a estrada tinha uma densa cobertura de neve.


-Falando no Logan, ele não disse que viria com a gente? – Anya perguntou enquanto olhava em direção ao castelo, para ver se Logan estava vindo pela estrada.


-Quando eu saí do dormitório ele estava terminando de se arrumar. Disse que nos alcançava. – Draco comentou. – Mas há uma remota possibilidade de ele ter ido tirar um cochilo. – Ele riu.


-Com certeza. – Anya concordou com um movimento de cabeça. Já estavam quase chegando ao vilarejo, e se Logan não tinha os alcançado até agora, é porque não vinha.


-De qualquer forma ele disse que vai estar no Três Vassouras mais tarde. Acho que todo mundo que ficou em Hogwarts vai pra lá hoje. Parece que é aniversário do bar ou algo do tipo. Eu sei que o pessoal do time vai estar todo lá.


Hogwarts estava praticamente deserta, povoada apenas por sonserinos e alguns poucos alunos de outras casas. Os sonserinos gostavam da escola vazia, do silêncio e das festas do Três Vassouras, então a ocasião não podia ser melhor.


-Onde vamos primeiro? – Anya perguntou animada quando alcançaram o vilarejo, esfregando as mãos uma na outra para aquecê-las.


-Preciso passar na Trapobelo pra comprar o novo uniforme de Quadribol. E meias mais quentes. – Draco comentou sorrindo. Anya notou que ele estava tremendo da cabeça aos pés. Ela gostava de frio, e antes de sair tinha lançado um feitiço de isolamento térmico nas próprias botas, o que impedia que ela tremesse tanto quanto Draco.


-Acho melhor passarmos primeiro na Madame Puddifoot. Temos que enfeitiçar suas roupas antes que seu nariz fique mais roxo.  – Anya sabia que Draco detestava o Café da Madame Puddifoot, mas era o único lugar em Hogsmeade que oferecia uma bebida quente que não fosse alcoólica ou enfeitiçada. Caminharam até a lojinha, que parecia ainda mais “fru-fru” com o telhado coberto de neve. Quase tudo lá dentro era cor-de-rosa, desde as paredes até os assentos das cabines. Todo o café era dividido em cabines como as de um trem, cada uma com uma mesa cercada por um banco almofadado e uma janela. O local era ponto de encontro de quase todos os casais de Hogwarts, tanto pela privacidade quanto pela decoração romântica e bebidas com nomes carinhosos. Anya não tinha nada contra o lugar, mas sempre que entrava no estabelecimento se sentia como se estivesse dentro de um marshmalllow gigante. Draco caminhou até o balcão para pegar o cardápio. Anya caminhou até a cabine vazia mais próxima e entrou nela. Ele a acompanhou em seguida.


-Então, qual das bebidas com nomes melosos você vai querer? Eu pensei em pedir um cappuccino suave. – Ele comentou com Anya, olhando meio enojado para o cardápio.


-Acho que vou querer um chá com creme apaixonante. – Ela disse sorrindo maliciosamente.


-Ah, por favor! – Draco pôs a mão sobre a testa, se crucificando só em pensar em ter que dizer “creme apaixonante” para a garçonete.


-Sinto muito. Não gosto de cappuccino e aqui não têm café puro. – Ela disse rindo.


Draco abriu a porta, contrariado, e chamou uma das garçonetes, que andou até a cabine com sua roupa cor-de-rosa esvoaçante. Ela anotou o pedido e saiu. Draco fechou a cabine novamente.


-Então, aproveitando que estamos aqui, me dê seu casaco pra eu enfeitiçar. – Anya disse, pegando o pesado casaco de Draco e correndo sua varinha por ele.


 


James e Collin entraram no Café da Madame Puddifoot esfregando as mãos uma na outra.


-Ah, graças a Merlin! Um lugar com aquecedor! – James disse assim que entraram no café.


-Nem me fale, tô louco por um café. – Collin disse, ainda tremendo de frio.


-Vou pegar uma cabi-


-Oi, gracinha. – Collin estava cortejando uma garçonete loira no balcão, antes mesmo que pudesse completar a frase.


 James caminhou até a cabine mais próxima e começou a folhear o cardápio. Uma garçonete passou por ele com uma bandeja e bateu na porta da cabine ao seu lado. Um garoto loiro familiar abriu a porta da cabine, e ele se sentiu surpreso ao ver Anya dentro da cabine em que Draco Malfoy estava. Ela não o viu, pois parecia muito entretida correndo as mãos por um longo casaco de pele. Ele olhou rapidamente para Malfoy, que estava ajudando a garçonete a colocar as bebidas na mesa, e notou que ele estava com uma camisa social branca, com as mangas dobradas, fresca demais para o frio cortante que estava fazendo. A garçonete saiu e Malfoy fechou a porta da cabine. James se deu conta do que tinha acabado de ver poucos segundos depois. Anya estava com o casaco de Malfoy nas mãos. Eles estavam tomando café juntos no Café da Madame Puddifoot. Será que eles...?


-Pedi duas “Delícias cremosas” pra nós, ok? – Collin disse sentando no banco em frente a James e tirando seu casaco.


-Você sabe quem está aqui?! – James sussurrou, apontando para a cabine ao lado da deles.


-Quem?! – Collin levantou a sobrancelha, intrigado.


-A Smith. E o Malfoy. Juntos! – Ele juntou as mãos.


-Tipo... se pegando?! – Collin olhou malicioso para a porta fechada da cabine.


-Eu sei lá! – James respondeu com um aceno de mão exagerado. – Ela estava segurando o casaco dele, mas só os vi conversando.


-Wow. Que sexy. – Collin disse sem qualquer animação. – Vindo do Malfoy eu já esperava.


-Eles estão... juntos? – James disse, e Collin não pode dizer se ele estava perguntando ou afirmando.


-Por que acha que estão juntos?


-Por que outra razão estariam aqui? – James indicou as paredes cor de rosa da cabine, enfeitadas com papel de parede com corações.


-Cara, tenho que te dizer; não sei quais foram suas intenções me trazendo aqui, mas eu estou bem interessado na garçonete loira com grandes seios que eu vi na entrada. Não pretendo te dar uns amassos. – Collin brincou.


James riu, mas se conteve ao ver a mesma garçonete loira se aproximar da cabine com duas taças com canudos vermelhos.


-O que foi mesmo que você pediu? – James perguntou olhando curioso para a bebida cor de caramelo.


-Delícias cremosas. – Collin disse em tom sedutor.


-Não tinha nada menos pornográfico no cardápio? – James perguntou irônico, provando a bebida.


 


Depois de terem parado de tremer e tomado suas bebidas, James e Collin saíram do café e foram até a Zonko’s pra comprar artigos mágicos necessários para a sobrevivência em Hogwarts, como poções para ver através de portas e poções-sumiço. Depois passaram no corujal, compraram material de cartas e por fim Collin resolveu voltar ao Café da Madame Puddifoot para convidar a loira para o Três Vassouras, e James seguiu sozinho para a Trapobelo. Entrou na loja e foi acompanhado de uma atendente olhar o novo uniforme de Quadribol da Grifinória. Parou de andar subitamente a poucos passos do balcão, surpreso ao avistar Malfoy e Anya. Malfoy estava saindo do provador com o novo uniforme de Quadribol, e Anya comentava sorridente sobre o uniforme. James sentiu um certo aperto no peito que não soube explicar. Ele não pretendia ficar com Anya, afinal ela era uma sonserina, mas não entendia por que ela estava com o Malfoy. James o achava arrogante e infantil, o que tornava nojento pensar que ele estava com Anya, a única sonserina decente que ele tinha conhecido.


-Por aqui. – A atendente da loja indicou o provador para James.


 


James estava no Três Vassouras a alguns minutos, tomando cerveja amanteigada com dois amigos seus da Lufa-Lufa. Collin estava dançando com a garçonete do Café. Ele olhou para ela e só então notou o quanto ela se parecia com Mary. Estranhamente, ele não se sentiu atraído pela beleza da garçonete. O Três Vassouras estava em clima festivo. Algumas das mesas tinham sido removidas para que se improvisasse uma pista de dança no primeiro piso. Alguns estudantes de Hogwarts estavam lá, dançando ou sentados nas mesas conversando. James olhava distraído para as mesas quando a porta do Três Vassouras abriu e a pessoa que ele menos esperava entrou. Anya. Só que dessa vez sozinha. Ela fechou a porta cuidadosamente par a não fazer barulho, tirou o casaco e o colocou no cabideiro da entrada. Olhou para os lados antes de pegar a varinha do bolso, e conjurou um feitiço não-verbal sobre o casaco. James sorriu. Ela sempre tinha feitiços para tudo. Aquele provavelmente era anti-roubo. Ela caminhou até o banheiro do bar, e James se impressionou com a simplicidade de suas roupas. Ela estava de calças jeans, com uma bota sem salto até quase o joelho e uma camiseta branca com detalhes de renda.


-James? Você ta bem? – Antony Nicks, artilheiro da Lufa-Lufa, chamou sua atenção.


-Ahn? Desculpe, me distraí. – James disse, passando a mão nos cabelos para arrumá-los. Ou seria atrapalhá-los?


-Estávamos comentando que nosso próximo jogo é contra a Sonserina. – Antony disse. – Ouvi dizer que um dos rebatedores machucou o punho.


-Tomara que seja o Crowley. – Teddy McGuire, goleiro da Lufa-Lufa, comentou. – Ele marcou quase metade dos pontos do time no último jogo.


-É. Se ele sair, vocês estão feitos. – James comentou. – Perdemos aquele jogo em boa parte por causa dele. – Seus olhos se voltaram para o banheiro feminino quando a porta deste se abriu. Anya saiu do banheiro com o cabelo preso em um coque com alguns fios soltos. Ele não pode deixar de notar o quanto ela ficava bonita de coque. Ela se sentou num dos bancos do balcão e pediu uma cerveja amanteigada. Olhou para os lados e parou ao ver James. Deu um sorrisinho discreto e acenou com a cabeça. Ele acenou de volta.


-Essa menina é da Sonserina, não é? – Teddy perguntou a Antony, olhando para Anya. – Owen tá caidinho por ela.


-É. Ela me deu uma surra na aula de DCAT semana passada.


-Como é? – James perguntou intrigado.


-O professor Johnson nos colocou em duplas pra duelar. Ela é muito boa com feitiços. – Antony comentou distraído, enquanto bebericava sua cerveja. – Owen é louco por ela.


Owen era amigo dos dois lufa-lufas e de James desde o primeiro ano, mas James jamais tinha imaginado que ele conhecia Anya, muito menos que gostava dela.


-Ele precisa ter cuidado, ela conhece muitos feitiços de ataque. – Anthony comentou, se lembrando do duelo.


-É, ela conhece. – James disse sorrindo, num tom que só ele pode ouvir.


A noite passou num clima divertido. James ficou conversando com seus amigos e mais tarde se sentou para comer alguma coisa com Collin, que tinha deixado a garçonete em casa. Ele não pode deixar de observar Anya durante a noite. Ela tinha conversado por um bom tempo com Logan, e depois foi dançar com duas outras sonserinas que ele reconhecia de vista, mas não de nome. Ele não tinha certeza, mas achava que ela também o estava observando de tempos em tempos. Algumas horas depois de Anya ter chegado ao bar, Malfoy chegou com Pansy Parkinson de mãos dadas. Os dois conversaram por um bom tempo com Anya e Logan, dançaram e depois foram embora. Quando já era bem tarde, Anya se despediu de Logan e das amigas, pegou seu casaco e deu uma última olhada para James antes de sair.


-Collin, to meio cansado. Acho que já vou indo. – James disse, fingindo um bocejo.


-Tem certeza? Eu pensei em ficar mais um pouco. – Collin respondeu.


-Eu já vou mesmo. Tô acabado. – James disse, tirando alguns galeões do bolso e os entregando a Collin.


-Ok. Até mais.


-Até. – James respondeu, pegando seu casaco e saindo rapidamente do Três Vassouras. A neve tinha parado de cair, formando um tapete fofo nas ruas do vilarejo. Ele viu Anya caminhando em direção a passagem que levava a Hogwarts. Acelerou o passo até acompanhá-la.


-Sabia que é perigoso andar sozinha à essa hora? – Ele disse, esbarrando levemente com o ombro nela. Ela sorriu pra ele.


-O pessoal resolveu ficar mais. Acabei sobrando. – Ela disse.


-Pensei que tivesse vindo com o Malfoy. –Ele comentou, caminhando ao seu lado.


-Eu vim mas... Como sabe disso? – Anya perguntou olhando para James intrigada.


-Acho que vi vocês na Trapobelo quando fui olhar uniformes de Quadribol. – Ele desconversou.


-Ah, sim. Ele veio comigo porque a Pansy tinha viajado para visitar os pais ontem à noite, mas ela voltou mais cedo.


-E o que a Pansy tem a ver com ele? – James perguntou sem entender.


-Eles namoram desde o quarto ano. – Ela comentou. – Você nunca os viu juntos? – Ela perguntou curiosa.


-Eles não costumam se pegar nos corredores, então... Acho que não. – Ele disse, fazendo Anya rir.


-É, eles preferem o Salão Comunal. – Anya comentou meio envergonhada. Ela já tinha pegado os dois se agarrando nos sofás do Salão Comunal mais vezes do que gostaria de mencionar.


James estava tentando conter sua expressão. Por alguma razão, ele estava feliz por saber que ela e Malfoy não estavam juntos. Provavelmente porque ele detestava Malfoy.


-Eu não imaginava que você sabia dançar. – Ele comentou, mudando de assunto.


-Ah, pois é. – Ela disse, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Pode não parecer, mas sonserinos são pessoas normais, sabia? – Ela comentou sarcástica.


-Eu sei. – Ele disse, como que se desculpando. – É só que a maioria costuma ser meio... macabra, sabe. – Ele disse com um sorriso de lado. – Não que eu esteja falando que você é macabra, de jeito nenhum. – Anya riu da falta de jeito de James. Os dois estavam no meio do caminho, quando uma garota loira chamou por James com sua voz estridente.


-James! Own, que saudade! – Mary estava vindo do vilarejo, correndo em direção a James. Ela pulou em cima dele o enrolando com as pernas, e ele cambaleou pra trás, cego pela cabeleira loira.


-Pensei que você só viesse na segunda feira. – Ele comentou tentando soar carinhoso. Sentiu que sua voz saiu meio forçada.


-Resolvi voltar mais cedo. Estava com saudade, e soube da festinha do Três Vassouras. – Ela disse, descendo do colo de James e ajeitando os cabelos compridos. – Collin me disse que você já tinha voltado pra dormir cedo, que gracinha! – Ela deu um selinho nele, sorridente. – Vem, vamos voltar pra lá. – Ela disse, o puxando pela mão.


-Ahn, tá... – James olhou para trás, e viu que Anya tinha continuado andando. Já estava perto do castelo. Ele se sentiu tentado a voltar com ela, mas sabia que se fosse Mary iria com ele. Sentiu-se como uma criança contrariada, mas por fim se rendeu e caminhou com Mary de volta para o Três Vassouras.


Pelo menos ela não estava com o Malfoy. – Ele se consolou, sorrindo discretamente.


 

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