Lição número 1
–Muito prazer, sou... – Sua voz se perdeu quando a menina se virou. O problema não era sua aparência, e sim a gravata que estava usando sobre a blusa social branca do uniforme. Verde e prata. Era uma sonserina.
-James Woodson, não é? – Ela completou para ele. – Prazer, Anya Smith. – Anya lhe estendeu a mão, um gesto que ele achou excessivamente formal. Ainda de olhos arregalados, pegou na mão da garota, sentindo um choque imediato ao sentir a pele fria. Ele sempre fora “quente”, como muitas garotas já haviam lhe comprovado, e estranhou o fato da garota estar com a pele tão gelada. Ele a observou enquanto ela falava alguma coisa e caminhava pela sala, abrindo janelas e mexendo em livros. Ela era bonita. Cabelos castanhos escuros compridos, mas não exageradamente como a maioria das garotas; corpo esguio, porém curvilíneo e olhos verde escuros, que nesse momento olhavam fixamente para ele.
-Não vai se sentar? – Ela levantou uma sobrancelha, indicando uma mesa à sua frente. Só então ele reparou no ambiente em que estavam. A sala de Astrologia estava bem mais vazia. Só haviam sobrado algumas poucas carteiras, estantes de livros, o quadro negro e o céu falso no teto, imitação perfeita do céu visto nos jardins da escola, porém que estava sempre noturno. Os alunos de Astrologia o usavam para estudar as constelações. Eram cinco da tarde, mas o aspecto obscuro e misterioso da sala fazia com que James se sentisse a céu aberto, numa noite de verão. Ele observava os detalhes do ambiente enquanto se sentava na carteira indicada pela menina.
-Espero que não se importe com o lugar. – Ela comentou. – Pedi um local reservado para McGonnagal, e ela me deu a chave dessa sala.
Ai meu Merlin! Ela vai me matar! Por isso escolheu esse lugar! – James não pode evitar que o pensamento ridículo viesse à tona. Por que outra razão uma sonserina ajudaria um grifinório? Era uma boa pergunta.
-Imaginei que você não quisesse ser visto tendo aulas com uma sonserina. – Ela comentou, se sentando ao seu lado na carteira, e folheando um livro pesado.
-P-por que pensou isso? – Ele perguntou, meio engasgado.
-Imaginei que sua namorada não iria gostar. – Comentou.
-Namorada?! Ah, a Mary. – Ele entendeu rapidamente. – Como você sabe sobre ela?
-Eu já te dei duas advertências por se agarrar com ela nos corredores. – Ela comentou. Ele fez cara de dúvida. – Não se lembra? Sou monitora da Sonserina.
Um episódio da semana anterior passou em rápidos flashes por sua memória. Estava agarrando Mary ferozmente num dos corredores próximo às masmorras quando dois monitores da Sonserina os interromperam. Não tinha prestado atenção em quem eram.
-Ah, me desculpe. Tenho uma péssima memória para essas coisas. – Ele disfarçou. Ela não respondeu mas também não pareceu se importar. Estava sentada a poucos centímetros de distância dele, folheando calmamente as páginas do livro. Incrivelmente, ela parecia conseguir estar o mais distante dele possível. Observou-a involuntariamente, procurando por algum sinal de trapaça. Ela era uma sonserina afinal, não era? Tudo o que viu foi o uniforme perfeitamente alinhado, o cabelo sem um fio fora do lugar, pendendo em suaves ondas pelos ombros. Ali estava! Aquela frieza e aparência impenetrável tipicamente sonserina. Pensou por um momento na situação em que se encontrava. A resposta veio imediata. A garota também era apaixonada por ele. Sorriu internamente. Não esperava uma fã sonserina.
-Bom, pensei em lhe ensinar o mesmo conteúdo das aulas de Flitwick, para que você possa acompanhar as aulas e... Você está bem? – Ela perguntou segurando uma risada. James estava apoiado na carteira, com a mão displicentemente no pescoço e os olhos apertados em uma linha firme. Muitas meninas babariam ao vê-lo dessa maneira, como um leão à espreita. – Olha, se você quiser, posso te ensinar um feitiço para vista cansada. Não precisa espremer os olhos. – Ela disse, entendendo que aquilo era uma pose do “sedutor” James Woodson. Ela não via nada de mais nele, e achava que suas poses eram um tanto quanto exageradas. – Bom, o que quer que esteja fazendo, é melhor parar, ou não vamos estudar nada hoje. – Ela comentou, deixando-o com cara de tacho. James não acreditava que havia uma menina capaz de resistir ao seu charme, mesmo de uma casa rival. Um pouco envergonhado, pigarreou e fingiu prestar atenção no que a garota estava folheando.
-Então, vou te ensinar alguns feitiços de defesa não-verbais e mais tarde treinamos a prática, pode ser? – Ela comentou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Ele acenou com a cabeça.
Hum... Talvez ela não queira demonstrar que gosta de mim. – Ele concluiu. – Veremos.
Estudaram por duas horas, e ele ficou impressionado com a facilidade com que estava aprendendo. Praticaram todos os feitiços na segunda hora, e ele conseguiu conjurar todos eles, com algum esforço. No final, estava suado e exausto, e Anya continuava do jeito que havia chegado. A facilidade que ela tinha para conjurar feitiços o deixava com inveja.
-Bom, então, é isso. – Ela disse, ajeitando a gravata do uniforme sem necessidade.
James já estava sem gravata e com dois botões da camisa abertos, suando abundantemente, e se sentou no chão da sala, arfando.
-Como e que você não cansa?! – Ele perguntou rindo. A garota sorriu de lado.
-Lição número 1: menos força, mais concentração. – Ela respondeu, olhando fixamente para ele.
-Te vejo amanhã? – Ele perguntou ofegante.
-Pode ser. – Ela respondeu educadamente. – Boa noite. – Ela disse e jogou uma chave para ele. – Tranque quando for sair. – Fechou a porta atrás de si.
James acenou com a cabeça e se deitou no carpete empoeirado da sala. Sentia o coração batendo nos ouvidos. Nunca tinha se esforçado tanto para conjurar uma dúzia de feitiços, e estava exausto. Sentou-se rapidamente e respirou fundo. Precisava correr para o vestiário e sem ser visto. Se alguém o visse saindo de uma sala, inteiramente suado, e logo após de uma garota, não duvidaria de que ele estava pegando alguém.
Refletiu sobre sua situação por um instante. Anya era bonita, mas não tão gostosa quanto Mary, e além disso era sonserina, o que garantia que eles não ficariam um com o outro jamais. Dessa maneira, ele podia estudar sem correr o risco de ser pego se atracando com sua professora nos corredores. Quem diria que uma professora sonserina seria a solução para todos os seus problemas? Sorriu consigo mesmo e saiu da sala a trancando enquanto observava se o corredor estava vazio. Pensou em qual seria sua desculpa para Mary.
Estava estudando com o Peter. – Ele pensou. Agora só precisava notificar Peter de que ele deveria sumiu durante duas horas todos os dias.
Anya caminhava até o Salão Comunal da Sonserina, repassando os acontecimentos das horas anteriores. Sabia da fama de Woodson de ser “pegador”, mas não imaginava que ele fosse convincente o bastante para pensar que o mundo inteiro estava afim dele. Mal sabia ele que ela era uma excelente legilimente.
Por que ela tinha lido a mente dele mesmo? Não conseguia se lembrar. Ele era muito fácil de ler. Era como se seus pensamentos se projetassem no ar ao redor dela, muito fáceis de serem captados. Ela riu discretamente ao se lembrar da cara de espanto do rapaz ao vê-la. Talvez ele tenha pensado que ela não fosse realmente ajudá-lo. Ela mesma tinha estranhado quando McGonnagal a disse que James Woodson, um grifinório, tinha mandado pedir encarecidamente que ela o ajudasse.
Não que ela se importasse com o fato de ele ser um grifinório, mas estava acostumada com a maioria dos grifinórios repudiarem os sonserinos, numa rivalidade sem fundamento, na opinião dela. Entrou no Salão Comunal, e viu as pessoas com quem estava acostumada. Draco Malfoy veio em sua direção.
-Anya, temos ronda daqui vinte minutos.
-Ok. Só vou deixar umas coisas no dormitório. – Ela disse, e subiu as escadas até seu quarto.
-Olá. – Pansy Parkinson a cumprimentou, deitada de bruços na cama, com as pernas cruzadas, pintando as unhas.
-Oi Pansy. – Anya sorriu.
-Então, como é que foi? – Pansy perguntou, sorrindo ironicamente. Ela era a melhor amiga de Anya, e detestava os grifinórios tanto quanto eles a detestavam.
-Até que foi tudo ok. – Anya respondeu, dando de ombros e ajeitando os livros que tinha pegado numa gaveta do seu armário. – Ele acha que o estou ajudando porque gosto dele. – Ela comentou rindo para a amiga.
-Ele te disse isso? – Pansy sentou-se de pernas cruzadas, interessada na conversa.
-Não exatamente. – Anya comentou tímida.
-Pensei que a professora Sprout tivesse proibido o uso da Legilimência entre alunos. – Pansy comentou, e as duas começaram a gargalhar logo em seguida. Esse era uma das “características” dos sonserinos: eles não necessariamente respeitavam todas as regras.
Uma coruja de penas douradas entrou pela janela do quarto, piou para Anya e lhe entregou um pequeno pacotinho. Ela pegou o pacote e fez um carinho na cabeça da coruja como agradecimento.
-De quem é? – Linda McCartney entrou no quarto e olhou para o pacote, curiosa.
-Não está identificado. – Anya comentou. Abriu o pacotinho e verificou seu interior. Encontrou um punhado de sapos de chocolate e um bilhete retangular.
Obrigado. J. W.
Trocou um rápido olhar com Pansy, e esta entendeu que o pacote vinha do grifinório.
-Vou indo, gente. Tenho que fazer a ronda. – Anya se despediu das amigas, colocando o pacote no bolso do casaco e saindo do dormitório.
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