Detenção



James saia da aula de Flitwick vitorioso. Pela primeira vez no ano tinha conseguido conjurar todos os feitiços da aula prática sem suar litros. Tinha tido somente três aulas com Anya, mas seu desempenho estava enormemente melhor. Desceu as escadas para os jardins de dois em dois degraus, cantarolando e cumprimentando algumas pessoas no caminho.


-James! – Dave o chamou de longe. Estava sentadona raiz de um dos carvalhos dos jardins, com Peter e Collin.


-E aí garotas? – James se sentou em uma das raízes.


-Para mim todas as aulas deveriam ser como esta. – Collin suspirou deitado em uma das raízes com os braços atrás da cabeça.


-Collin, estamos em horário vago. – Peter comentou, fechando o livro de Herbologia que estava folheando.


-Exatamente. – Ele respondeu, fazendo todos rirem. Os alunos do sétimo ano podiam escolher entre ter uma ou duas matérias extras. Os quatro tinham optado somente por Adivinhação.


-E aí James, como é que foi a aula do Flitwick? – Peter perguntou a James, que piscava para Mary, do outro lado do gramado, conversando com umas amigas da Lufa-Lufa.


-Acredite se quiser, dessa vez eu não errei nenhum feitiço. – Ele respondeu.


-Nenhuma vez? – Dave olhou subitamente para ele, de olhos arregalados. Ou isso era um milagre, ou uma mentira.


-Nenhuma. – James respondeu com um sorriso vitorioso no rosto. – As aulas com Você-Sabe-Quem estão funcionando.


Ao ouvir isso Collin começou a gargalhar.


-Desde quando Voldemort te dá aulas de feitiços?! – Ele comentou, e Dave disparou a rir.


-Shh! Cuidado. – James sussurrou, indicando um grupo de grifinórios do sexto ano que passavam por perto.


-Pode ficar tranquilo. – Dave pôs a mão sobre seu ombro. – Seu segredo está a salvo.


-E falando nele... – Collin indicou o lago da Lula Gigante com os olhos. Um grupo de alunos da Sonserina e da Lufa-Lufa voltava de uma das aulas de Transfiguração que McGonnagal tinha dado nos jardins. Em meio ao grupo James a viu. Anya estava conversando animadamente com outro sonserino, que ele reconheceu com um dos rebatedores do time de quadribol. Ela estava alinhada como sempre, com o uniforme impecável e os cabelos presos num coque por um palito. Enquanto caminhava até a entrada do castelo, o viu, e o cumprimentou com um sinal de cabeça discreto. Ele respondeu da forma mais discreta o possível.


-Tenho que confessar, ela é sexy. – Collin comentou assim que ela se afastou. – Só é um pouco séria demais. – Ponderou.


-Ela é sonserina, já era de se esperar. – James comentou. – Mas sabe como é, mais cedo ou mais tarde ela vai confessar que me ama e eu terei que, educadamente, recusar seu desesperado pedido de me agarrar loucamente. – Ele disse como se não fosse nada de mais.


-Tem certeza de que ela gosta de você? – Dave comentou, olhando para Anya e o sonserino rindo e conversando intimamente enquanto entravam no castelo.


-Tenho certeza absoluta. – Ele disse. – Mas não é culpa dela. Não há nenhuma garota nesse castelo capaz de resistir ao meu charme.


-Ok, bonitão. Guarde sua lábia para a Mary. Vai se encontrar com ela esta noite? – Dave perguntou.


-Vou. – Ele disse, olhando para Mary do outro lado do jardim. A garota mexia em seus longos cabelos loiros platinados enquanto falava com as amigas, provavelmente sobre “coisas de mulher”. Observou as garotas da Lufa-Lufa que estavam perto dela. Eram todas tão bonitas quanto ela.


Talvez garotas bonitas tenham uma tendência a se aglomerar. – Ele pensou, curioso.


...


 


Anya e Draco estavam fazendo a segunda e última ronda da semana já há uma hora, e andavam pelos corredores próximos à biblioteca.


-Então vamos à Hogsmeade amanhã à noite? – Draco perguntou à Anya, enquanto passavam em frente à biblioteca.


-Com certeza. – Ela respondeu. – Não vejo a hora!


-Precisamos passar no Três Vassouras. – Ele comentou. – Não que eu não goste de suco de abóbora, mas uma cerveja amanteigada cairia muito bem.


-Concordo plenamente. – Anya disse rindo.


-Espere... – Ele fez um sinal para que ela parasse de andar. – Ouvi alguma coisa. – Ele caminhou até a porta da biblioteca, franzindo os olhos. Fez um sinal com a cabeça indicando que tinham que entrar na biblioteca.


Anya apontou sua varinha para a porta e sussurrou um feitiço. As portas duplas da biblioteca se abriram num clique, e os dois entraram na biblioteca silenciosamente. De dentro da biblioteca Anya pode ouvir duas pessoas murmurando... alguma coisa. Andaram pelas prateleiras, iluminando o corredor com suas varinhas, até encontrarem o que procuravam: um casal de pessoas bem familiares se beijando. A garota loira estava sentada sobre a mesa, e James já quase sem camisa. Os dois se assustaram com a luz das varinhas, e pararam o que estavam fazendo. James tentou se recompor abotoando os botões da camisa e controlando a respiração, mas a garota não pareceu se alterar.


-Vocês dois não têm mais o que fazer? – Mary disse, descendo da mesa e cruzando os braços. – Digo, algo mais interessante do que atrapalhar um casal no meio da-


-Cuidado com suas palavras. – Snape apareceu atrás no corredor. Todos se assustaram. Ele tinha sido silencioso como um morcego. Anya não esperava a presença de uma quinta pessoa na cena. – Posso saber o que está acontecendo aqui? – Ele olhou para os monitores.


-Estávamos fazendo a ronda e encontramos os dois aqui. – Anya disse ao professor.


-Já lhes deram a devida advertência? – Ele perguntou. Draco pegou um pergaminho e uma pena do casaco do uniforme. – Deixe-me ver. – Snape pegou o pergaminho. – Mary Fay, duas advertências neste mês. James Woodson, cinco advertências. Ora veja só.


Ferrou-se. – James pensou enquanto observava a expressão de deleite no rosto de Snape.


-Senhorita Fay, quero que vá para seu dormitório imediatamente. – Ele observou a menina sair pisando firme da biblioteca. – E quanto a você, - Snape olhou para James com um meio sorriso no rosto – detenção. Não vou tolerar tamanho número de advertências. A Professora Sprout está precisando de lírios luminescentes para preparar poções fertilizantes. Vai colher duas dúzias de lírios amanhã à noite, na Floresta Proibida. A Senhorita Smith irá acompanhá-lo. – Ele disse olhando para Anya. – Se não for incômodo.


Anya trocou um rápido olhar com Draco antes de respondeu.


-Não, tudo bem. Eu vou. – Ela disse.


-Ótimo. Devem sair às sete. – Ele concluiu, devolvendo o pergaminho a Malfoy – O que está esperando? – Ele perguntou olhando para James, que rapidamente saiu da biblioteca, sendo seguido por Snape. – Podem continuar a ronda.


...


 


-James, como é que você consegue tomar três advertências nas últimas duas semanas por ser pego com a Mary?? – Dave perguntava ao amigo enquanto caminhavam até os jardins. Era sexta feira, e já quase sete horas.


-Essa é uma boa pergunta. Dessa vez estávamos dentro da biblioteca! – James comentava com o amigo.


-Acho que uma pergunta mais interessante seria: o que o Snape estava fazendo lá à essa hora?


-Sei lá, talvez ele estivesse agarrando a Trelawney em outra parte da biblioteca. – Ele respondeu, e os dois começaram a rir feito loucos.


-Lá está ela. – Ele deu um tapa no ombro do amigo. – Boa sorte.


-James caminhou até o limiar dos jardins, e encontrou Anya sentada sobre uma pedra, o esperando.


-Olá. – Ela disse se levantando.


James a observou. Era a primeira vez que ele a via sem uniforme. Ela estava de calças jeans, tênis e uma blusa preta de alças finas. Carregava uma jaqueta de couro no braço.


-Trouxe sua varinha? – Ela perguntou a ele. James mexeu nos bolsos da jaqueta marrom.


-Trouxe. – Respondeu. – Mas não se preocupe, sei que não posso usá-la em detenções. – Ele pegou a varinha e a indicou para Anya.


-Vamos entrar na Floresta Proibida. Acho que é conveniente abrir uma exceção. – Ela comentou enquanto vestia a blusa de couro preta. – Vamos? – Ela pegou a própria varinha e com um feitiço não verbal iluminou o ambiente ao redor deles com partículas de luz azulada.


-Uau! – James observou, impressionado. – Que feitiço é esse? – Perguntou, enquanto entravam na floresta.


-Luminous Viena. –Ela lhe respondeu. – É um feitiço de luz indireta. A luz do Luminous máxima pode incomodar as criaturas da floresta.


-Como sabe disso? – Ele perguntou curioso, enquanto ela tocava sua varinha na dele, fazendo com que a mesma luz o circundasse.


-Eu pretendo ser Guardiã Noturna. – Ela comentou sorrindo.


James ficou surpreso. Guardiões noturnos eram guardas das florestas negras, como a Floresta Proibida e outras centenas de vezes piores. Era uma das profissões mais perigosas do mundo bruxo. Por alguma razão que ele não soube explicar, achou que Anya seria uma perfeita guardiã.


-Por isso é tão boa em feitiços? – Ele brincou.


-Eu treino bastante. – Ela sorriu para ele. Ele notou que ela ficava dez vezes mais bonita quando sorria.


-Posso fazer uma pergunta?


-Diga.


-Eu entendo a necessidade do Snape de ser cruel e tal. – Ele gesticulou com a mão, indicando continuidade. – Faz parte do figurino dele, eu compreendo. Mas não é contra as regras da escola mandar dois alunos para a Floresta Proibida no meio da noite sem o acompanhamento de um professor?


-Mais ou menos. – Ela respondeu rindo. – Ele teria nos mandado durante o dia, mas as flores que ele pediu pra você colher são luminescentes, ou seja, são melhor vistas à noite. Durante o dia é quase impossível encontrá-las, na verdade. E além disso, eu tenho praticado caminhada na Floresta Proibida à noite.


James a olhou espantado.


-Snape tem me dado um apoio para ser Guardiã Noturna. – Ela explicou. – Me deu uns livros, tem me ensinado um pouco sobre os seres das florestas negras, coisas do tipo. Às vezes ele me dá permissão para sair na Floresta Proibida, só para que eu possa praticar, sabe?


-Uau, quanta generosidade da parte dele. – James comentou.


-Pois é. Só me faça um favor, deixe que isso fique só entre nós. – Ela o pediu.


-Claro. Não se preocupe. – Ele respondeu. – Então, onde é que ficam essas tais flores brilhantes? – Ele perguntou. Estavam caminhando rápido, portanto já tinham andado uma boa distância.


-Bem ali. –Ela sussurrou, apontando uma árvore com estranhos galhos em espiral. James pode ver as flores douradas luminescentes nos galhos. – Desculpe, não posso te ajudar. – Ela lhe disse sincera. – É sua detenção, afinal.


-Ok. Sem problema. – Ele disse, subindo na árvore. Anya se aproximou, e tirou no bolso da jaqueta um saquinho diminuído com magia. O ampliou e o jogou para James, que começou a colocar as flores no saquinho. – Até que não é tão difícil. – Ele comentou. Em poucos minutos tinha pegado as flores que precisava, e desceu da árvore.


-James... – Anya olhava fixamente para um ponto atrás dele.


-O que foi? – Ele perguntou, se virando para ver.


-Corre! – Ela o puxou pelo braço, e os dois começaram a correr pela floresta feito loucos. Um bando de fadas mordentes estava os seguindo. Anya lançou um feitiço para trás, as paralisando temporariamente. Eles correram em disparada, até que avistaram os jardins de Hogwarts. Quando iam pisar nos jardins, James tropeçou numa pedra e caiu sobre Anya, a derrubando. Os dois começaram a rir.


-Me desculpe. – Ele disse, saindo de cima dela e lhe oferecendo a mão para que ela levantasse.


-Tudo bem. – Ela se levantou. James a observou curioso. Mesmo depois de correr, sua pele continuava fria, e sua roupa perfeitamente arrumada. – Está com as flores? – Ela perguntou.


-Estão aqui. – Ele indicou o saco que estava carregando.


-Bom, então você está liberado. – Ela disse.


-Sabe, das minhas detenções, essa foi a melhor. – Ele comentou rindo. Ela sorriu.


-Boa noite, James. – Ela se despediu, entrando no castelo.


-Boa noite. – Ele acenou para ela.


 

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