Morte



- Draco. - a voz dela fez com que ele abrisse os olhos, assustado. Sua mão caçou pela varinha, mas nada mais encontrou do que o braço fino da esposa. - Draco, foi só um pesadelo. - ela garantiu, sua voz suave afastando todo e qualquer medo. 
Ele respirou fundo e lançou-lhe um sorriso trêmulo, passando a mão livre pela testa úmida de suor frio. - Estou bem. - garantiu, percebendo o olhar preocupado no rosto dela. Astoria riu.
- Bem, uhu, bem... - murmurou, tornando a deitar-se. Ele virou-se de modo a ficar cara a cara com ela.
- Teve pesadelos sobre a Guerra novamente? - ela questionou, estendendo uma mão para afastar os cabelos louros dele. Draco fechou os olhos sob o toque delicado dela. - Sim... - suspirou. - Quando não tenho?
- Quando sonha sobre mim. - ela respondeu, fazendo-o rir. Ele beijou a palma da mão dela. - Não são pesadelos, Astoria. - ele afirmou, fazendo-a corar. A loira entrelaçou os dedos nos dele.
- Você não tem que temer a nada, nem ninguém.
- Não? A que devo temer então?
- Deve... Deve temer a incerteza do amanhã, que pode nos separar ou não. Que pode machucar Scorp... - ela murmurou. Ele abriu os olhos para ela e sorriu. - O amanhã foi bom comigo. Meu deu você e me deu Scorp. O que mais eu poderia querer?
- Que ele lhe dê tempo para aproveitar o que já tem. - ela respondeu, séria. E então Astoria sorriu, beijando-o. - Eu te amo, Draco. Não se esqueça disso.
- Não vou esquecer, meu amor. Nenhum único dia.
----------------------------------------------------------------------------------

Draco virou as páginas vagarosamente: Cada foto que aparecia lhe feria, era como levar uma facada após a outra.


Ele via seus sorrisos nas fotos e via felicidade neles. Ah, pensar que na época ele perseguia a felicidade... Se tivesse olhado um pouco para os lados teria percebido que era o homem mais feliz do mundo.


Era o álbum da família, da família que ele havia estruturado em areia.


Em uma das fotos Astoria estava sentada na grama ao lado dele, os dedos dele brincavam distraidamente com os dela. Ele a ajudava em um dever de casa.


Ela fora sua única amiga. A única em quem ele confiou todos os seus medos, todos seus desejos, todos seus segredos. Com Hermione fora diferente, ele não precisa confiar nela. Porque ela sabia mesmo sem ele falar. Não fazia diferença para Hermione se ele dizia-lhe a verdade, pois ambos sabiam que aquilo não iria durar.


Mas com Astoria era diferente. Ela esperava a verdade, a fidelidade e o respeito dele. Esperava o diálogo. E ele a amara, amara mais do que sabia que podia. Ele tinha medo de decepcioná-la, tinha medo de feri-la novamente.


Sua família tinha o obrigado a casar com ela e ele o fizera. Ele a amara de um jeito doloroso, como amava uma amiga que ele tinha ferido. Mas ela o perdoara. E ela o amara e lhe dera um filho.


E ela tinha partido levando um pedaço dele.


As lembranças da morte dela fluíam na mente de Draco como um filme em preto e branco, desgastado pelo npumero de vezes que ele o assistira.


Ele se lembrava de Astoria sentada ao seu lado, dela sorrindo para ele e apertando sua mão. E ele sorria de volta e sussurrava algo no ouvido dela.


Astoria ria, jogando o cabelo ondulado e platinado por sobre o ombro. Ele pegava o casaco dela e colocava sobre os ombros desnudo da esposa. Os grandes olhos azuis dela estavam bonitos e grandes nos dele. – Eu te amo. - sussurrou ele.


E por mais que fosse um amor um tanto distorcido, ela entendia. E ela sorria e o beijava suavemente, murmurando contra sua boca. – Mas eu te amo mais. - então enquanto ele a abraçava ecoava o tiro.


O corpo de Astoria caia suavemente contra os braços de Draco. E a memória se acabava, só para ser revivida de novo e de novo.


Era uma tortura sem igual, ele se via revivendo inúmeras vezes sua própria morte. Ele morrera naquela noite. Só uma coisa o manteve vivo, Scorpious.


Scorpius era a imagem de Astoria. Ele via sua esposa em seu filho, cada segundo do dia. Ele via Astoria nas covinhas que surgiam nas bochechas de Scorp quando ele sorria. Ele a via no jeito como ele ficava vermelho e também na facilidade com que o menino confiava e perdoava.


E agora, ao ver Scorpious partindo da família, construindo sua própria família, ele sentia que finalmente tudo estava acabado. Draco cumprira sua obrigação e ele estava cansado. Estava cansado da existencia vazia que levava, da rotina monótona que envolvera seus dias. Parecia que não havia diferença entre levantar de manhã ou manter-se inútil na cama.


Ele fitou a varinha e tentou lembrar-se do feitiço. O vira ser feito dezenas de vezes, ele mesmo já tentara fazê-lo. Mas a Guerra faz isso com as pessoas, ela fere mais fundo do que pensam.


Ele pegou a varinha apontando para o próprio pescoço, e falou devagar. – Avada… Avada… Kedrava.


E tudo ficou escuro.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.