O DESPERTAR DOS DRAGÕES



 Charlie despertou com um reboar, a princípio longínquo e intrigante, que repentinamente foi acompanhado por um som estrondoso muito próximo. Como qualquer pessoa que desperta subitamente de sono profundo, levou alguns segundos para situar-se no tempo e no espaço. Mas logo se ergueu, totalmente desperto, sabendo que alguma coisa estava realmente muito errada, não só ali mas em toda reserva. Disse imediatamente a Fleur, que acordara tão atordoada quanto ele:
–  Algo ou alguém despertou os dragões!
Nenhum dos dois trocou de roupa, nem ninguém mais no acampamento. Quando abriu a porta do chalé, Charlie aterrorizado viu que Norberto, o dragão sempre tão manso do acampamento, arremetia furiosamente soltando chamas enormes que envolviam e tragavam o chalé onde Bill estava hospedado. Os outros também haviam acordado, mas havia tal perplexidade que ninguém parecia exatamente saber o que fazer. Charlie correu na direção do chalé, muito decidido, sabia que tinha que optar por salvar o dragão ou seu irmão. Não olhou para trás, mas escutou o grito totalmente aterrorizado de Fleur vendo as pedras do chalé enegrecidas e incandescentes. Se fosse um chalé de madeira, já teria sido consumido pela fúria do dragão.
–  Me ajudem com um feitiço estuporante – ele gritou para os outros.
– Não adianta – berrou Celso – eu, Olívio e Cho já tentamos juntos! Os dragões estão enlouquecidos! O que pode ter acontecido?
– Vamos tentar estuporá-lo de novo! – Charlie disse e ergueu a varinha. Deu o comando e gritou com os outros bruxos em uníssono, proferindo o feitiço.
Nada aconteceu. Norberto pareceu por um instante sentir o impacto do feitiço, mas continuou alucinado soltando chamas enormes com toda sua força. Era impressionante que ainda tivesse energia para tanto fogo. Charlie tentava arrumar alguma explicação para a loucura daquele dragão, percebendo que, pelos sons que vinham da floresta, ele não era o único que enlouquecera. De todos os lados vinham urros enfurecidos e loucos. Se não descobrissem o que estava acontecendo, em breve haveria dragões mortos por todos os lados.
– Precisamos afastá-lo do chalé! Bill pode estar assando lá dentro ­ ele gritou para Celso – talvez um feitiço imobilizante...
O dragão então ergueu-se sobre as patas traseiras, desesperado, abriu as asas e jogou as enormes patas para o alto, tentando tapar os ouvidos, que ele não conseguia alcançar. Parecia que algum som o perturbava. Charlie gritou, sem pensar:
–  Joguem um feitiço ensurdecedor ao meu comando! Um... dois... três!
– EXSURDO! – gritaram os três bruxos ao mesmo tempo, e na cara monstruosa da fera surgiu uma expressão de alívio. Fumegando, ele deu um olhar muito grato na direção de Charlie antes de cair exausto de lado, com um estrondo e um grunhido. Só então Charlie olhou o chalé arrasado. Deu dois passos angustiados na direção do monte negro de pedra derretida que se tornara, com lágrimas que ele não conseguia conter.
–  Bill – ele murmurou.
– Eu acho que é agora que faço minha entrada dramática – disse uma voz alguns passos atrás dele. Charlie virou-se incrédulo e viu Bill, que estivera o tempo todo na outra extremidade do acampamento. O rapaz riu e explicou-se: – O barulho me acordou e eu desaparatei até a porta do seu chalé. Só que você bateu com ela na minha cara antes que eu conseguisse te chamar. Como quem entende de dragões realmente é você, eu fiquei aqui atrás assistindo sua performance.
– Eu não acredito! – disse Charlie, subitamente se dando conta que não podia perder tempo ouvindo a explicação do irmão. – Alguém quer realmente nos matar, vocês conseguem ouvir o barulho? – ele apontou vagamente para a floresta, de onde vinha o clamar de outros dragões enfurecidos. – Algum som está enlouquecendo os dragões! Algo que nós não podemos...
– As crias! – gritou Janine, que só então Charlie reparou estar bem ao lado de Bill – nós precisamos salvar as crias!
– Meu Deus – berrou Fleur – eles estão todos juntos no viveiro! Vão acabar se matando!
   Nem todo esforço da equipe poderia salvar ninhada inteira. Quando chegaram ao local do viveiro, os dois maiores estavam se chocando, as queimaduras visíveis nas asas e no couro, um deles tinha uma enorme ferida no flanco. Todos os demais estavam mortos. Charlie e Celso ensurdeceram os dois dragões que automaticamente caíram exaustos e soltando gemidos tristonhos e sentidos. Ambos estavam muito feridos. Janine correu para eles, chorando desesperada, no que foi seguida por Fleur.
   – Temos que ver se estão bem, não podem morrer! Meu Deus, só os dois maiores sobreviveram...
   Fleur, muda, tinha lágrimas nos olhos, ela não podia acreditar que os pequenos dragões que ela ajudara a criar estavam mortos, quase todos eles. Abraçou-se ao pescoço de um dos dragões mortos chorando, chamando-o pelo nome. Janine continuava andando, olhando as feridas, cuidando do dragão que parecia mais ferido:
–  Você vai ficar bem, bichano, eu prometo... eu prometo...
– O que pode estar enlouquecendo esses bichos? – perguntou Celso perplexo. Janine então encarou os outros e disse:
–  Já sei... o acampamento velho... o antigo equipamento...
–  Essa não – disse Charlie, – você está certa, Janine. Alguém ativou o sonorizador perpétuo.
***
Aquele acampamento era o mais novo da reserva. Antes dele, cerca de 12 quilômetros ao norte, houvera uma outra instalação, menos moderna e menos segura. Ali os primeiros bruxos que decidiram realmente estudar dragões haviam aprendido, a duras penas, que deveriam conseguir um meio de manter os dragões distantes se quisessem sobreviver por algum tempo naquela reserva.
Não haviam ainda inventado certos tipos de feitiços isolantes fortes o suficiente para manterem os dragões, com suas couraças muito resistentes à magia, a uma distância segura. Não havia outro meio de mantê-los longe que não fosse físico: um bruxo muito sagaz desenvolveu um mecanismo que emitia certas ondas sonoras que mantinham os animais distantes, por que eram desagradáveis para eles, embora estivessem numa vibração alta demais para o ouvido humano. E essa sirene era mantida constantemente ligada, assim, os dragões mantinham distância.
Com os anos e as pesquisas, a velha sirene acabou tornando-se obsoleta, o que foi melhor para todos, uma vez que os feitiços que se desenvolveram para manter os dragões à distância eram menos agressivos que o constante ribombar da freqüência que os mantinha fora do acampamento.
Só que havia uma segunda freqüência sonora desagradável aos dragões, e esta não apenas os incomodava, mas praticamente enlouquecia cada dragão num raio de quilômetros, e a sirene de alarme do antigo acampamento era perfeitamente capaz de reproduzi-la, mesmo anos após a desativação daquele campo de pesquisas.
Dragões submetidos a essa vibração entravam imediatamente em fuga aos urros. Se, como Norberto e os filhotes do acampamento, estivessem confinados a um espaço restrito, destruiriam tudo por perto. Para segurança dos dragões residentes, Charlie havia lhes imposto um feitiço que, pelo menos enquanto eles fossem jovens, impediria que eles deixassem o acampamento. Charlie sabia que dragões muito novos não se adaptariam num dos bandos da reserva, e não sendo grandes nem ferozes o suficiente para ficar por conta própria, deveriam ser mantidos por um bom tempo perto, até conseguirem formar seu próprio bando.
 Mas pelo menos Norberto se salvara, ao contrário da maior parte da ninhada que Fleur cuidara com tanto carinho até aquele dia.
***
– No velho acampamento – disse Charlie, – existe ainda a velha sirene de segurança, alguém deve ter ativado a freqüência de alarme.
 – Isso não pode ser possível! – disse Cho. – Não há ninguém por lá, o acampamento está desativado há anos.
– Sessenta anos – disse Charlie – mas a sirene nunca foi retirada, embora o acampamento antigo, como esse, seja protegido contra aparatação.
–  Protegido? – disse Bill – Como então eu consegui desaparatar de dentro do meu chalé?
– Pode-se aparatar à vontade dentro dos limites do acampamento mas não é possível aparatar para dentro dele, ou a partir dele para fora. Aqui como lá existe um campo de aparatação, no seio da floresta, cerca de 300 metros distante do acampamento. – esclareceu Janine – todo lugar em que se pesquisa materiais como esse tem esse tipo de proteção.
–  Por que alguém ativaria a sirene? – perguntou Cho. – Não faz o menor sentido, faz?
–  Creio que é uma armadilha – disse Fleur – alguém quer atrair um de nós para lá.
–  Por quê? – disse Janine. – Por que alguém faria isso?
– O pior de tudo – disse Charlie – é que agora toda reserva está em risco. A maioria dos dragões, submetidos a essa freqüência se põe em fuga. Mas não sabemos quantos tiveram a reação igual a de Norberto, ou igual a da ninhada, pode ser que haja dragões causando incêndios monstruosos por toda parte. Precisamos fazer uma patrulha imediatamente, precisamos conter os dragões e, eventualmente, o fogo. Vou dar alarme também para os outros acampamentos, mesmo achando que eles devem ter percebido sozinhos que algo está bastante errado . Mas alguém precisa desligar o alarme o quanto antes.
– Eu posso ir – disse Bill – afinal se lá está protegido por dragões e pode ter algum enviado por alguma força das trevas... Bem, eu devo ir. Tenho treinamento contra pessoas, embora não seja muito eficiente contra dragões.
– Mas e se você topar com algum dragão enfurecido no caminho entre o campo de aparatação e o antigo acampamento? – disse Charlie – acha que vai conseguir fazer o que eu fiz contra Norberto? Se algum dragão enfurecido topar contigo você não terá chance.
–  Eu preciso arriscar.
– Não precisa – disse Fleur – Charlie... Será que a minha... Meu canto não pode suplantar a freqüência sonora pelo menos até... até chegarmos à segurança do acampamento?
Ele gostaria realmente de não ter ficado tão lívido quanto ficou, nem ter demonstrado o quanto aquilo o mostrava o quanto Fleur se arriscaria pelo irmão.
–  Eu não sei se acho seguro...
– Estamos perdendo tempo – disse Celso – enquanto discutimos, dragões morrem ou põem fogo na floresta. Precisamos pensar no bem da reserva.
–  Eu posso ir com eles – disse Janine, – acho que seria a melhor...
– Você deve ficar aqui e cuidar dos dragões feridos – disse Charlie – você e toda equipe de terra. Janine. Eu, Cho, Olívio, Celso e Primakova faremos a patrulha, tentaremos salvar e trazer para mais perto o possível algum eventual dragão ferido. – ele fez uma pausa, como se pensasse, antes de completar – Bill e Fleur irão ao antigo acampamento, ver o que provocou o disparo da sirene.
***
Então, alguns minutos depois, a patrulha estava pronta para partir. Charlie recomendou a Bill e Fleur que procurassem manter-se dentro da trilha entre o campo de aparatação e o acampamento, que era protegida por um forte feitiço repelente.
– Meu único medo é que a trilha próxima ao acampamento velho pode estar arruinada. E se não acharem a trilha, vocês podem acabar saindo da área protegida.
 Temos de arriscar. Há alguma forma de achar a trilha se o mato houver tomado tudo?
– A cada dez metros há uma marca vermelha no tronco de alguma árvore, enquanto puderem vê-las, estarão na trilha. Cuidem-se.
Charlie virou as costas para eles tentando concentrar-se só no que devia fazer. Mas antes precisava tomar as últimas providências:
– Janine, tente fazer o máximo para salvá-los... – ele olhou uma última vez para os dois dragões adormecidos por um feitiço anestesiante e reparou numa pequena cicatriz que cada um deles tinha na asa esquerda, bem sobre uma veia. – vocês coletaram sangue desses dragões?
–  De todos eles... Checamos contra doenças. Procedimento padrão.
– Entendo – disse ele, indo rapidamente na direção do laboratório, com algumas idéias estranhas que o acompanhavam há dias pulsando em sua mente.
–  Charlie, preciso falar contigo – disse Cho, antes mesmo de entregar-lhe sua vassoura.
–  O que foi?
–  Não acha estranho que Fleur e seu irmão tenham resolvido ir até o acampamento antigo?
– Cho, por favor... Vamos fazer o nosso trabalho, antes que mais algum dragão morra. Ou antes que algum de nós esteja em perigo de vida.
Ele montou na vassoura tenso e achando, ao mesmo tempo, que tivera uma grande idéia quando resolvera pegar um pequeno instrumento no laboratório, que, discretamente, acoplou na vassoura.
***
Uma claridade cinzenta já se espalhava pelo céu quando Bill e Fleur aparataram no outro campo de aparatação. A diferença entre o lugar de onde haviam vindo e esse campo era tão gritante como Bill imaginava o quanto o acampamento antigo deteriorara-se. Enquanto o campo mais recente tinha o chão liso e bem definido, aquele parecia um velho pátio abandonado no meio da floresta. O piso era todo rachado, com hera e capim infestando cada pedaço de terra livre. Dava para sentir também que ali estavam num lugar mais baixo em relação às montanhas e que o acampamento ficava, pelo que podiam ver da trilha, numa parte mais alta. Podiam ver a velha bandeira que sinalizava o acampamento à distância, carunchada e carcomida, tremulando iluminada pelos primeiros raios hesitantes do sol que nascia. Sem trocar uma mísera palavra, os dois começaram a subir pela trilha, Bill na frente e Fleur atrás.
– Lumos – murmurou Bill, iluminando a penumbra à sua frente. Mesmo ao amanhecer, a floresta parecia sinistra, silenciosa e escura demais para o seu gosto.
Logo, Bill pôde sentir que ali o som da sirene de alarme era quase perceptível. Ele sentia uma vibração estranha no ar, como se toda a floresta em torno deles tremulasse ligeiramente. Quando tocou o tronco da primeira árvore sinalizada com a marca vermelha que Charlie lhe mostrara na trilha do outro acampamento, pôde sentir que havia ali uma vibração sutil. Imaginou essa vibração ecoando como um som agudíssimo dentro do ouvido de um dragão e imaginou o estrago que deveria fazer. Mas ali não havia sinal de dragão. Nenhum deles devia ter ficado por perto quando a sirene começou a soar. Sorte deles, por que a última coisa que precisavam naquele momento era encontrar um dragão enfurecido.
 Eles deram alguns passos na trilha, sempre cautelosos. Era melhor demorar um pouco e chegar que ter pressa e acabar perdido. Iam em silêncio, mergulhando cada vez mais na trilha, que era bem mais estreita que a do outro acampamento. Fleur sentia o impulso de dar um passo a frente e segurar-se em Bill, mas seguia firme atrás dele, alerta como na primeira vez que entrara naquela floresta. Naquela ocasião o dragão a surpreendera antes que ela pudesse usar seu canto de meio-veela, mas ela acreditava que daquela vez seria diferente. O risco e a proximidade dele a faziam se sentir fragilizada. Tudo que ela queria era que aquele momento passasse e ela pudesse conversar com Charlie e Bill, os dois homens da sua vida, os quais não saberia distinguir ainda qual o mais importante para ela. Sentia-se responsável por cada coisa de ruim que estava acontecendo a eles e sabia que algo poderia terminar muito mal para qualquer um deles, que todos poderiam acabar aquela jornada mortos.
Quando esses pensamentos sinistros dançavam incomodamente em sua cabeça, ela assustou-se por que Bill parou subitamente à sua frente, estendendo o braço para trás. Ela conteve um grito e então contemplou o rosto perplexo dele, um segundo antes dele dizer:
–  Você percebeu?
–  Percebi o quê?
–  Não sente nada estranho?
Ela olhou em volta um instante como que procurando na paisagem algo diferente, que ela não conseguia captar. Ele então puxou-a pela mão, fazendo-a tocar no tronco de uma árvore próxima.
–  Sinta – ele disse, num tom neutro – seja lá quem ligou a tal sirene, ela não está mais soando.
– Eu agora percebo... – ela disse, surpresa ao perceber que também sentia falta daquela estranha vibração no ar.
–  Fleur, seja muito sincera comigo... você tem algum motivo para achar que alguém queria nos atrair para cá?
–  Sim, eu tenho. Tem muita coisa que você não sabe ainda.
–  E tem muita coisa que eu gostaria de saber. Mas antes, quero saber se você acha melhor seguirmos ou retornarmos ao acampamento. Se você tiver me trazido para alguma armadilha...
–  Bill... Por favor, não duvide de mim. Há, sim, uma pessoa que eu acho que ligou essa sirene, e acho que eu sou o alvo, que ela quer a minha morte. Acredite, se você voltar, eu sigo sozinha e a enfrento.
Ele hesitou um instante. Olhou Fleur nos olhos, ainda em dúvida. Não sabia o que podia estar acontecendo, mas sabia, de alguma forma, que ela não o levava para nenhuma armadilha.
–  Eu sigo contigo. Seja lá o que está acontecendo, não acho que estejamos em lados opostos.
E então eles continuaram pela trilha sem trocar mais nenhuma palavra.
 ***
Charlie e os outros voaram para o sul vendo pelos instrumentos monitores que a reserva estava um caos. O alerta a todos os outros acampamentos havia sido ótima idéia, por que por toda parte havia focos de incêndio e dragões enfurecidos. Alguns estavam fugindo dos limites da reserva, o que, depois do amanhecer, seria desastroso por que eles podiam ser visto ou acabar atacando até mesmo trouxas. De vez em quando, ele observava pequeno instrumento que acoplara no painel de sua vassoura, olhando com atenção. Era um pequeno mapa onde se via o acampamento e toda movimentação nele. Charlie ficava tenso sempre que um pontinho entrava no laboratório. Na sua cabeça, a história ficava a cada minuto mais estranha.
Ele tinha uma firme desconfiança de que havia realmente alguém traindo sua confiança, como Bill sugeria desde que chegara ao acampamento. Mas a cada momento tinha uma impressão diferente. Não sabia realmente se quem o traía estava no acampamento ou voando ao lado dele. Sabia, entretanto, que as duas pessoas em quem ele podia confiar estavam fora do acampamento, tentando descobrir o que estava enlouquecendo os dragões.
–  Charles – chamou Cho, – será que eles conseguiram desligar a sirene?
– Não! Não pode ser – disse Charlie – eles levariam pelo menos meia hora pela trilha e pelos meus cálculos não tem nem dez minutos que eles desaparataram para lá.
– Acho bom você rever seus cálculos ­– disse Olívio, aproximando-se pela direita – veja aquilo – ele apontou o dragão em fuga que a patrulha perseguia – ainda não acertamos o feitiço ensurdecedor nele e o bicho já está desistindo da fuga, mudou a direção do vôo.
– Ele está retornando na direção dos ninhos das montanhas – disse Celso – isso é ótimo… agora só precisamos nos preocupar com os focos de incêndio. Eles fizeram um ótimo trabalho!
–  Não, Celso... Não é possível.
– A não ser – disse Cho sem disfarçar uma ponta de malícia – que eles tenham planejado tudo para nos tirar do acampamento.
Charlie olhou para Cho e disse:
–Vocês vão seguir sem mim. Acaba de me ocorrer uma coisa.
–Você está louco? – perguntou Olívio – Não vamos conseguir sem você
– Vocês vão ter que conseguir. – ele disse – e não avisem o acampamento que eu estou voltando. Confiem em mim.
Com um movimento rápido ele deu a volta com a vassoura e pôs velocidade máxima na direção do acampamento.
***
Bill e Fleur continuaram pela trilha. Aos poucos foram sentindo o estranho silêncio sendo preenchido por sons distantes. Em breve os animais que haviam sido expulsos dali pelo som vibrante estariam retornando, com algum tumulto. Aquele desequilíbrio duraria provavelmente alguns dias antes da normalidade retornar à floresta junto com os dragões. Houve um grande momento de tensão para ambos quando viram uma sombra sobre a floresta e puderam adivinhar que algum dragão sobrevoava aquele trecho voltando a seu ninho. Pararam um instante até que o dragão seguiu na direção das montanhas e eles respiraram aliviados novamente. Quando atingiram o terço final da trilha, já havia amanhecido completamente.
A trilha subia serpenteando pela encosta, eles viam as marcas vermelhas nas árvores, sentindo-se mais tensos a cada metro que se aproximavam. Não sabiam o que os esperava adiante, no centro do acampamento abandonado, onde ficava a sirene antiga. Quando viram o primeiro chalé abandonado, Bill sentiu Fleur tremer atrás de si. Perguntou-se quem poderia provocar nela aquele medo. Contornaram o chalé e logo viram outro. A disposição daquele acampamento era bastante semelhante a do acampamento mais recente, mas os chalés eram bem menos charmosos, com uma aparência mais tosca e menos sólida, talvez devido à passagem do tempo. De repente Bill parou. Avistara a torre da sirene, bem no centro do acampamento. A porta estava aberta, e ele e Fleur puderam ver que havia uma pessoa lá dentro. Ao contrário do que imaginaram, a pessoa não parecia esperá-los. Na verdade, era estava caída sobre o painel de controle da sirene, como se estivesse desmaiada.
***
Enquanto isso, aquela que realmente havia sido enviada pelo Lord das trevas para roubar as amostras de sangue de dragão, amaldiçoava o fato de seus planos estarem quase estragados. Ela procurava livrar-se de alguns obstáculos, mas sabia que deveria agir rápido se quisesse fugir dali com tudo que havia ido buscar. Agora sabia que os dois dragões jovens iriam sobreviver, as amostras deles teriam utilidade, mas infelizmente, não eram suficientes para reviver o mestre das trevas em sua plenitude, precisaria roubar mais uma, além daquilo que realmente fora buscar. Amaldiçoou a morte dos dragões, por que inutilizara duas de suas amostras, e ela teria de trocar com algumas das que estavam no laboratório e rapidamente dar conta de tudo que queria resolver.
 Deu uma desculpa para ausentar-se e saiu rapidamente na direção do seu chalé. Tomou um gole de sua inseparável caneca antes de entrar, então, jogou-a no chão, vendo-a espatifar-se contra a ardósia. Não precisaria mais dela. Aproveitou para amaldiçoar sua refém, por que sabia que ela havia provocado aquela confusão... Se ao menos tivesse tempo, iria ao acampamento antigo cuidar dela pessoalmente. Mas isso teria de esperar outra ocasião, não tinha tempo agora.Entrou rapidamente, escondeu as duas amostras dos filhotes que estavam vivos no bolso direito da veste e duas outras, cujo líquido já começava a se turvar, no bolso esquerdo. Rapidamente entrou no laboratório e correu na direção do cofre. Antes que conseguisse abri-lo, sentiu que alguém apontava a varinha para ela e ouviu um feitiço ser proferido.
– Imobilus – a voz inconfundível de Charles Weasley estava fria e inflexível e aquilo a encheu de terror. Queria dizer algo em sua defesa, mas antes que falasse, ele disse: – Eu poderia imaginar que qualquer um fosse o traidor, menos você.
***
No velho acampamento, Fleur e Charlie aproximaram-se cautelosamente da torre da sirene. A pessoa parecia desmaiada, mas eles não queriam se arriscar. Bill, estava preparado para lançar um feitiço imobilizante, que logo revelou-se desnecessário. Quando aproximaram-se o suficiente, viram que era uma mulher, tremendo da cabeça aos pés, incapaz de reagir e que repetia uma estranha cantilena em francês para si mesma:
– Je dois résister, je dois réagir... je ne laisserai pas qu'un charme me commmandait désormais – ela repetia incessantemente, sentada numa cadeira diante de um painel de controle empoeirado, com a mão sobre uma alavanca de três fases onde liam-se três palavras: “normal”, “alarme” e “desligado”.
Ela parecia ter puxado com um último esforço a alavanca até o “desligado” e agora, trêmula não conseguia sequer mover coerentemente um único músculo, como se estivesse presa àquela cadeira em sua tremedeira. Bill pôs a mão sobre ela.
– O que ela está dizendo? ­– ele perguntou a Fleur
– Preciso resistir.... eu tenho de reagir... não vou permitir mais que um feitiço me controle – ela murmurou tentando acompanhar o que a outra dizia.
– Parece estar resistindo à maldição imperius – ele disse. – calma, moça, agora você está salva... está tudo bem. – O rosto dela estava escondido sob a massa de cabelos sujos e desgrenhados, que pareciam picotados ao léu. Tomando coragem, ele puxou a mulher para trás, erguendo-a na cadeira. Um choque profundo os atingiu quando reconheceram o rosto da mulher. Ela estava pálida e trêmula, de olhos fechados, com a face cheia de equimoses, mas, não podia haver nenhuma dúvida: aquela mulher era Janine.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.