SUSPEITAS...



SUSPEITAS...


O nervosismo de Harry com toda aquela situação piorava segundo a segundo porque não conseguia achar Hermione. Por sua cabeça passava a idéia de que Hermione poderia ser capturada por Voldemort que daria cabo do plano maléfico que assolara-o em seu pesadelo. O fato de não achar Hermione só tendia para piorar seus pensamentos que já a viam sendo torturada pelo Lord Negro.
Contudo, o que parecia ser o início de uma batalha sangrenta, terminou como um movimento inexplicável, uma estratégia sem resultado por parte do inimigo. O ataque acabou tão subitamente como começou. De repente, os raios diminuíram e alguém gritou que “eles foram embora”. Harry parou para olhar e constatou ser verdade. Os comensais sumiram como se aparatassem no ar. A risada de Voldemort ainda ecoava pelos cantos da plataforma, mas não havia sinal dele, como não havia sinal de Hermione.
Com a desistência dos comensais e os alunos se acalmando, o silêncio começou a imperar na plataforma. Harry aproveitou para gritar mais e mais alto, sentindo um peso dentro de si. Não queria pensar... não queria imaginar... aquela ausência de Hermione poderia significar algo?
- HERMIONE! HERMIONE! – ele gritava, tentando se mover entre a multidão que aos poucos se acalmava e cuidava de seus próprios feridos, sem explicar direito o que havia acontecido.
- Ela não está aqui, Harry! – falou um aluno que Harry não conhecia. – Eu a vi no trem!
Harry voltou e entrou no trem. Tinha procurado ali, olhando pelas janelas, mas era possível que Hermione estivesse nos corredores e por isso mesmo não aparecera ou o ouvira.
- HERMIONE! – gritou ele, bem alto, quando atingiu o primeiro corredor do trem.
- Harry? – Harry ficou em silêncio, tentando escutar de onde vinha aquela vozinha.
- Mione? – Harry perguntou, segurando a respiração.
Uma mão apareceu, saindo de uma das cabines para abrir a porta. Hermione saiu de dentro e caminhou até ele. Harry não conseguiu falar nada de início. Sentia um alívio tão grande por ela estar bem que suas pernas tremiam.
- Você está bem? – Mione perguntou. Harry encarou a amiga num misto de emoção e excitamento. Hermione parecia estar bem, mas havia um corte em sua testa. Um filete de sangue escapava pela têmpora e alcançava o maxilar delicado.
- Sim, eu estou bem! Mas o que aconteceu com você? – Harry segurou o queixo de Hermione e fê-la se virar de forma que ele pudesse ver melhor aquele machucado.
- Estou bem! – disse ela, timidamente, dando um passo para trás para se livrar da mão de Harry. Harry arqueou as sobrancelhas. Hermione parecia querer evitar o seu contato e parecia muito diferente de como era normalmente. – É melhor irmos logo para Hogsmeade. Não é seguro ficarmos aqui.

Hermione deu a volta em Harry e encaminhou-se para a saída. Mas Harry a acompanhou com o olhar e viu quando ela secou o sangue do rosto machucado com a ponta do robe.
Lá fora, Cho, Gina, Rony, Creevey, Neville e Luna organizavam os alunos mais velhos nas charretes e Hagrid guiava os do primeiro ano para os barcos. Estavam todos muito tensos, mas não houve alvoroço. No final, quando só faltavam duas charretes, Hermione tentou entrar na primeira charrete, onde Cho, Creevey, Neville e Rony estavam, mas Harry segurou Hermione e disse para entrar na segunda, onde somente Luna e Gina esperavam.
Meio a contra-a-gosto, Hermione concordou.
- Que coisa desagradável esse ataque, não é? – disse Luna, parecendo lívida e estranhamente consciente quando os dois entraram na charrete.
- É – respondeu Hermione, que passou a observar a janela.
- Onde você estava? – perguntou Harry, rispidamente, a Hermione quando a charrete começou a andar.
- Enquanto você dormia, eu recebi um bilhete por um aluno dizendo que era para eu ir ao vagão-enfermaria, porque Bruce Stavlos, o meu medi-bruxo, queria me examinar antes que eu descesse em Hogsmeade. Eu cheguei até lá e alguém me atacou. Eu desmaiei e só acordei quando você me chamou no corredor. – explicou Hermione rapidamente, mas não convenceu a Harry. Ela estava tão estranha, tão diferente. Queria evitá-lo, isso era evidente. Mas, por que? Por que Hermione tentava se afastar daquela forma? Ela evitava conversar com ele... justo ela, com quem sempre contara para contar seus problemas, com quem sempre contara para ouvir conselhos... Aquele silêncio perturbador queria dizer-lhe alguma coisa... mas o que?

Apesar de tentar se concentrar na paisagem lá fora, Hermione sentia o olhar de Harry sobre ela. “Será que ele desconfia?”, pensou ela. O que será que ele estaria pensando agora? Tentava segurar a respiração, mas era difícil perto dele. Tentava conter as batidas do coração, mas cada vez que ele se aproximava, seu corpo inteiro parecia fora de seu controle. “Ah, Harry...”, pensava ela, em tristeza.

De repente, um forte odor de rosas invadiu suas narinas. Pensou por um instante que aquele perfume vinha de fora, mas percebeu que a fonte de tal cheiro vinha de dentro, mais especificamente de Gina. Harry deixou de olhar para Hermione para olhar para Gina. A ruiva jogava seus cabelos para o lado de forma sedutora. Hermione não conseguiu deixar de sentir um pouco de ciúmes. Gina era tão bonita, tão segura de sua sensualidade e charme. Era uma das meninas mais populares de Hogwarts, bem diferente de Mione, que só conheceu a popularidade uma vez na vida: quando Krum, o apanhador mais famoso do mundo, convidou-a para o baile. Depois disso, Hermione voltou a ser conhecida apenas pelo seu senso, pela sua sagacidade e esperteza, pelo seu cérebro e dedicação. Realmente, ninguém era mais dedicada aos estudos do que ela, ninguém compreendia o quanto aquilo era importante para ela, que vinha de uma família de trouxas. Contudo, as vezes... bem... na verdade, muito freqüentemente nos últimos dias, sentia-se bastante tentada a manter um relacionamento. Não com qualquer um, apenas para manter a aparência de popularidade, mas com o único que importava para ela.

Tinha tanto medo. Tanto medo do que sentia. Tentou abafar os suspiros do seu coração, esquecer o que sentia, mas era tudo inútil. Já não podia esconder de si mesma aquele amor... aquela paixão... aquele sentimento perturbador que nutria por seu melhor amigo. E esse era o maior problema... Harry era seu amigo, seu melhor amigo. Alguém que contava com ela para tudo, para enfrentar os piores problemas, as piores situações. O que aconteceria se Hermione abrisse seu coração e lhe contasse a verdade? Era certo que tudo iria mudar entre eles. Se Harry a amasse, os dois poderiam ficar juntos para sempre, mas, se Harry apenas nutrisse uma forte amizade por ela, então, mesmo a amizade entre os dois, iria se abalar. Não... isso ela não podia deixar acontecer... Não! O melhor era o silêncio. Um silêncio que mantinha ao redor de sua alma e que intrigava a Harry, isso ela podia ver, e que, por outro lado, consumia a si própria. Se o silêncio indagava a Harry, para ela, o silêncio a torturava, assolava-a como um punhal cravado em seu peito.


- Sua testa, Hermione! Está sangrando novamente!
Hermione saiu de seu devaneio, ao sentir o toque de Harry. Ela apanhara um lenço e cuidava de seu machucado. Aquele toque provocava estranhas sensações em todo o seu corpo. Ela temia que Harry pudesse perceber, e realmente, ele percebeu:
- Você está tremendo! – disse ele, de repente, encarando-a nos olhos. Hermione abaixou o rosto e passou a olhar para suas mãos sobre seu colo. Realmente, suas mãos tremiam.
- Hermione, pelo amor de Deus, você não está bem, não é? – perguntou Harry, parecendo apavorado.
- Estou bem!
- Você está me escondendo algo! Eu conheço você melhor do que ninguém. – disse ele, novamente, parecendo aborrecido. – Você está me evitando e eu sei que aconteceu alguma coisa naquele trem que não quer me contar. Eu não gostei nada, nada daquele medi-bruxo. E tinha uma mulher... uma mulher loira... exatamente no vagão em que você estava. O que aconteceu, Hermione? Por que você está me tratando desse jeito?

Hermione arregalou os olhos, não queria que Harry se aborrecesse com ela. Tentou abrir a boca para falar algo, mas simplesmente não conseguiu. Por fim, acalmou seu coração e respondeu como pôde, ainda que sua voz tremesse:
- J-já disse que estou b-bem...

Silêncio, novamente. Aquele silêncio de Hermione fazia Harry perceber que sua amiga não estava nada bem como ela afirmava. Aquele pesadelo era um sinal, isso Harry tinha a certeza. De agora em diante, prestaria muito mais atenção a sua amiga e evitaria a todo custo que algo viesse a acontecer com ela. Hermione precisava dele, de alguma maneira, era o que aquele silêncio queria dizer.


continua....

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