MISSÃO: LONDRES



Harry ajeitou os óculos e olhou o pergaminho pensativo. Depois olhou para os rostos ansiosos de Hope e Gilles na sua frente e deu um meio-sorriso cínico. Estavam em Londres e aquela era a primeira missão simulada da turma do segundo ano. Haviam dividido a turma em três duplas e um trio, e aquela dupla, a mais problemática coubera a ele. Beleza.
- Muito bem... - ele começou - isso é uma competição de aurores, e não pensem que vocês não vão passar por isso na vida profissional.
- É - disse Gilles - meu pai me disse que o Sr e o Professor Adams...
- Quieto, Gilles - interrompeu Harry - A missão é simples, não quero exibições dos dois. Aproveitem que vocês têm uma grande vantagem - Hope exibiu a palma da mão enluvada dando um tchauzinho e Harry riu - não vá sair sem luvas e ser nocauteada por alguma profecia súbita, Hope.
- Nem pensar - ela disse lembrando-se da vez em que aos sete anos tirara as luvas para deslizar por um corrimão e chegara no fim dele absolutamente doidona com as múltiplas sensações simultâneas. Não era nem um pouco gostoso abusar do Toque de Prometeu.
- Bem... o objeto é o coelho de ouro e está escondido em algum lugar da cidade - ele apontou Londres pela janela - agradeçam por terem uma semana, em breve as missões vão ser mais complexas e vão durar até mesmo apenas um dia... A primeira pista de vocês pode ser achada em Trafalgar... vocês vão ter que achar onde.  - os dois deram sorrisos arrogantes que a ele pareceram idênticos e ele sacudiu a cabeça. - E mais uma coisa... eu até posso não ficar desapontado se vocês não forem os melhores... mas juro que arranco o couro dos dois se vocês perderem para a equipe daquele idiota do Adams... Rua - ele disse e fez um feitiço que os despachou para um lugar pouco além de Trafalgar, numa rua absolutamente deserta às seis horas da manhã. Giles colocou a mão no bolso e disse:
- O que ele falou mesmo sobre "acostumar-se com a competição na vida profissional", hein? - Hope riu e eles foram andando pela rua...
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O mais difícil não foi realmente achar a pista. Mas como aquela era a equipe que tinha a pitonisa, os organizadores tinham posto o pergaminho muito bem escondido dentro de um bueiro. Os trouxas acharam meio estranho uma equipe de consertos formada por um homem e uma mulher, que demorou cerca de seis minutos paralisando toda a Trafalgar para em trinta segundos entrar no bueiro e sair, dizendo que havia sido um engano. Gilles se perguntou se eles iriam perder pontos por jogarem um grande feitiço de memória coletivo para não serem xingados por todos que estavam parados no engarrafamento.
Eles acharam uma lanchonete com banheiros suficientemente limpos para efetuarem uma transfiguração nas roupas de volta nas suas, depois de transformá-las em uniformes de operários. Gilles aproveitou para devolver a bolsa de Hope que ele transformara em um cavalete de obras, não sem os devidos protestos.
- Era por volta de meio dia e eles resolveram achar um lugar sossegado para almoçar. Pararam num pub e Gilles pediu uma Guiness. Hope o olhou chocada.
- Stone... você vai beber em serviço?
- O que que tem? - ele puxou um frasco do bolso onde se lia "SemPorre - poção tira álcool" - ele riu e ela fez uma cara de censura.
- Bah... porcarias de catálogo do semanário dos bruxos.
- Te garanto que quando eu estava em Beuxbattons foi muito útil... - Hope pegou com a mão desenluvada o pergaminho da pista e disse:
- Picadilli Circus, é a próxima parada.
- Black... você sequer leu a porcaria da dica... isso definitivamente não é justo, não acha?
- E daí? Quando eu estiver lá fora, contra os caras, ninguém vai perguntar isso...
- Os caras talvez sejam mais espertos e usem um bom feitiço de confusão - ele riu
- É, os outros caras também são espertos - disse uma voz bem atrás dele. Gilles se virou e viu um sujeito que ele nunca vira, sentado de costas para eles, de chapéu, que lia um jornal. Ele tirou o chapéu. Era velho e careca, com um rosto quadrado. Ele olhava sério para Gilles e por um minuto, este viu seus olhos azuis ficarem verdes atrás dos óculos de leitura.
- Professor Potter? - ele sussurrou. Harry, que estava transfigurado deu um sorriso e balançou a cabeça.  
- Aprendam a não confiar demais no óbvio. E leiam a droga da pista... o papel está enfeitiçado! - ele sussurrou.
- Era para o senhor nos dar essa dica? - perguntou Hope, um tantinho amedrontada.
- Claro, se vocês precisassem dela - disse Harry candidamente e os dois suspiraram aliviados. - e é lógico que vão perder vinte pontos na tarefa por terem precisado- ele disse voltando a endurecer o rosto. Então esticou a mão gordinha e pegou a garrafa que Gilles segurava, dizendo - e não confie nessas poções de segunda - deu uma grande golada na cerveja de Gilles e disse: - peça algo mais inofensivo, como um refrigerante... - virou-se novamente e parou de falar com ambos. Hope ria e Gilles parecia amuado. Eles ouviram a garçonete comentar casualmente com Harry:
- Nossa, já lhe disseram que o senhor é muito parecido com o falecido ministro Winston Churchill?
- Oh, sim, mas eu nem era nascido quando ele morreu... só o conheço por fotos.
A garçonete se afastou meio desconfiada e Gilles e Hope não puderam deixar de rir.

Quando finalmente concluíram que a dica levava a uma rua bem do outro lado da cidade, perto de King's Cross já eram quase quatro e meia da tarde.
- Droga, temos que nos apressar - disse Hope - acho muito pouco provável que ninguém tenha passado nossa frente na missão... levamos horas para decifrar aquilo.
- Humrrum - disse Gilles olhando-a com uma expressão provocadora - você perdeu o hábito de usar o cérebro, por causa desse negócio de Prometeu, né?
- E você nunca deve ter usado muito o seu...
- Ei, fui eu quem decifrou a pista... você é profundamente injusta, Black.
- Você é que é um implicante - os dois se olharam rindo. A verdade é que sabiam que dificilmente alguém estaria muito na  frente deles, porque a pista era difícil mesmo. Agora era procurar algum lugar discreto e seguro para desaparatarem para algum lugar que fosse próximo à estação King's Cross.
- Espere... - Gilles estacou e fez uma cara estranha - como vamos conseguir aparatar exatamente no mesmo lugar? - Hope olhou-o desconfiada.
- Nem venha sugerir aquela coisa de beijo... eu não vou beijar você, Stone!
- Quem disse que eu estou falando  em beijo? - ele não pareceu ofendido, mas o que ele falou a seguir realmente soou bem desagradável : - Até parece que eu ia querer beijar você... é que eu não conheço bem a cidade e não consigo focalizar um ponto para aparatar discreto o suficiente, entende? Você conhece bem King's Cross?
- Razoavelmente - disse ela disfarçando a ofensa. Ele dizer que não queria beijá-la fizera, contra sua vontade, que ela se sentisse mais ou menos tão desejável quanto uma barata de 1,65 cm de altura. - Eu posso fazer o seguinte... te explicar onde você pode aparatar... e eu posso por as minhas mãos sem luvas em você e... assim eu saberia onde você ia aparatar...
- Ok... entendi. Explique.
- Hum... King's Cross é movimentada... a gente teria que... hum.
- Já sei! - Gilles deu um passo a frente e antes que Hope pudesse protestar, ele a agarrou e colou brevemente seus lábios aos dela. Quando se viu dentro de um lugar fechado com ele, ela gritou de indignação, dando breves socos nele, que ria:
- Você disse que não ia fazer isso!
- Eu não tinha pensado em fazer isso... nem me lembrava desta história de que era possível desaparatar junto com um beijo. Eu só queria uma idéia... ainda bem que você me deu uma. Não fique tão chateada. Foi um beijo profissional. Fique tranquila, eu nem senti nada, mesmo...
- Onde estamos?
- Bem, minha intenção era um lugar escondido. Deve ser um depósito, vamos achar a saída e a pista...

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Em pouco tempo, saíram do lugar, que era o porão de um prédio comercial. Desta vez a pista seguinte estava num prédio em obras, mas eles não precisaram entrar no lugar, que tinha um terrível entra e sai de operários. Simplesmente entraram no prédio em frente, que era mais sossegado, e do terraço usaram um feitiço convocatório. Com a pista na mão, Gilles disse:
- Bem... acho que por hoje chega de diligências. Temos até amanhã cedo para descobrir o que quer dizer esse enigma. Podíamos dar uma volta por aí, não acha?
- Não é má idéia... mas eu ainda me sinto MUITO aborrecida contigo.
- Ora, relaxa, Black... eu já disse que foi um beijo meramente profissional, eu não costumo me aproveitar desse tipo de coisa, especialmente para beijar garotas duronas que passam o tempo fingindo que são homens...
- Eu não finjo que sou homem - os dois já estavam saindo do prédio - eu já te disse que eu não quero ser homem...
- Sim, você apenas se guarda para o homem da sua vida "oh-o-terrível-injustiçado-que-foi-obrigado-a-viver-com-trouxas..."
- Porque eu resolvi fazer confidências justamente a um ignorante como você? Eu nunca devia ter te contado sobre Bernardo... e você nem o conhece. Não pode ter uma opinião sobre ele.
- Eu não o conheço porque você nunca nos apresentou. Eu adoraria conhecer o sujeito que transformou você nesse cara tão legal e indubitavelmente masculino...
- Eu não sou masculinizada, droga. E você vai conhecê-lo hoje, então... ele tem uma oficina de computadores perto de Aldwych ... vamos lá agora.
- Ah, não estou a fim de ficar olhando para computadores...
- Eu quero que você o conheça... vou ter o prazer de mudar sua opinião sobre ele.
- Ok... vamos desaparatar então para Aldwych...
- Sem essa, não estamos mais com pressa. Podemos perfeitamente ir de Metrô!

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Bernardo estava debruçado sobre um computador que Jay abrira imediatamente antes de sair para buscar um computador "aparentemente sem conserto" na casa de um cliente. Ele estava recuperando com magia, obviamente, uma placa cujos circuitos estavam de fato imprestáveis, rindo-se porque quando terminasse aquele computador teria um desempenho melhor que jamais tivera, porque ele também consertara um defeito de fábrica. Mas na verdade, já pensava no que faria à noite. A sineta do balcão tocou e ele tirou a luva e abriu a cortina que separava a oficina da ante sala de atendimento. Fez uma expressão surpresa. Lá estava Hope. Ela o visitava às vezes, mas era a primeira vez que vinha acompanhada.
- Oi Bernarndo - ela disse no tom usualmente efusivo e doce que usava para falar com ele. O rapaz que estava com ela olhou-a como se ela tivesse duas cabeças, e Bernardo não soube porque. - Esse é um amigo meu, Gilles Stoneheart... estamos em missão simulada em Londres.
- Que bom ver você Hope - disse ele num tom que era polido, mas não manifestava realmente nenhuma alegria especial por vê-la  - espero que você esteja se saindo bem...muito prazer - ele estendeu a mão para o rapaz - Bernardo Fall D'Anime.
- Muito prazer... Gilles Delacroix Stoneheart - rosnou o outro - Hope me falou de você... me disse que você... conserta coisas.
- Falou, é? - Bernardo olhou para o outro com idêntico desagrado. Decididamente, não tinha ido com a cara do rapaz grandalhão - Bem, eu tinha que me virar, não? Ela deve ter lhe dito que eu a conheço... bem - ele sorriu para Hope - desde que ela era um bebê.
- Fascinante - disse Gilles num tom aborrecido. Hope parecia prenunciar o desastre e interviu:
- Ei, Bernardo, eu estou livre... porque você não vem conosco e tomar uma cerveja... deve ter algum pub aqui por perto que...
- Ei, Black - disse Stone - Eu não sei se vai dar pra mim... um de nós tem que reportar o dia de missão para o Professor Potter, lembra? Se bem que o certo seria conversarmos os dois com ele, não?  
Bernardo examinou o rapaz de cima abaixo. Alto, pelo menos uns vinte centímetros a mais que ele. Ombros largos, uma fúria arrogante contida nos olhos castanho-claros, meio sumidos sob a franja que caía displicente sobre a testa. Dez anos mais jovem que ele, com certeza. Nada além de um garoto tolo, provavelmente com uma paixão enrustida por Hope.
- Acho que seu amigo tem razão, Hope - ele disse, afagando a mão enluvada da moça sobre o balcão. E além do mais, eu já tenho compromisso para esta noite. - ele viu a decepção estampada no rosto dela. - Quem sabe no fim de semana... talvez na sexta, não? Me telefona - ele entregou um cartão de visita pra ela.
- É... - ela sorriu segurando o cartão. Para Gilles era o sorriso mais estúpido que ele já vira. - Eu ligo para você, Bernardo - ela disse isso e debruçou-se sobre o balcão, estalando um beijo na sua bochecha esquerda. Ele riu e os dois saíram. Ele não sabia porque, mas pela primeira vez achava interessante sair com Hope.
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- Ele nem toma conhecimento de você, essa é a verdade...
- Ah, não enche Stone... ele me pediu para telefonar.
- Isso mesmo... telefonar! Pode haver coisa mais... trouxa que isso?
- Que droga, Stone... será possível? Você está é com inveja porque não tem uma namorada, tá?
- Quem disse que eu não tenho namorada, Black?
- Oras... você nunca me falou de namorada nenhuma...
- Porque eu não sou tolo de aferrar-me a esse tipo de coisa como você... eu tenho algém... mas não é exatamente alguém que eu apresente à minha mãe.
- Ahá... duvido...  
Ele sacou uma fotografia de uma moça loura e sorridente. Hope a reconheceu de algum lugar.
- Seu nome é Jeanene... foi minha colega em Beuxbattons... nós somos, hum... como eu posso explicar?
- Namorados?
- Não... nos encontramos, às vezes... é uma relação aberta.
- Ah, que horror...
- Hope Black... a puritana. Não admite que um homem e uma mulher fiquem juntos senão por um amor alimentado desde a mais tenra infância... desde que você era um bebê... francamente, isso deve ser contra alguma lei!
- Eu não sou mais um bebê, Stone. Viva com isso... - a voz de uma senhora a interrompeu:
- Bem, minha filha... eu acho tão bonito moças com idéias românticas - uma velha surgira do nada entre os dois. Gilles sabia pouco sobre o mundo trouxas, mas podia jurar que a velha era a cara da Margareth Tatcher, que ele sabia que tinha sido ministra dos trouxas há muito tempo atrás. A velha continuou - mas sabem... o chefe de vocês deve estar precisando de um relatório sobre a missão de hoje...
- Professor Potter? - perguntou Gilles, incrédulo. A velha sorriu, e tinha o sorriso que teria um tigre, ou um urso, se estes pudessem sorrir.
- Muito bem... além de discutir a vida amorosa de vocês... o que de útil foi feito hoje?
Gilles e Hope discutiram brevemente o que haviam feito aquele dia e ele sorriu satisfeito. Por fim disse:
- Hum, não deveria dizer que vocês estão na frente, mas estão... trabalhem nas pistas de forma correta. Vejo os dois amanhã. - ele saiu gingando pela rua e desapareceu na multidão.
- Como será que ele faz isso, Stone? Quer dizer... meu pai sempre disse que ele era péssimo em transfiguração pessoal...
- As pessoas aprendem, eu acho - disse o perplexo Gilles, ainda com o sorriso da Dama de Ferro na imaginação.
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A semana avançou e os dois descobriram que profissionalmente eram de fato uma grande dupla. A sagacidade de Hope era complementada perfeitamente pelo raciocínio rápido de Gilles e a habilidade com feitiços de ambos era muito útil para conseguir as coisas. Não podiam também negar que se divertiam juntos. Se havia uma divergência ela se chamava Bernardo:
- Esqueça-o, Black... ele é baixinho, feio, carrancudo e tem cabelo cortado como uma escova... sinceramente, do jeito que você falava dele eu imaginava que ele era pelo menos tão pintoso quanto eu!
- Ele não é baixinho, nem feio! E se você fosse metade do que pensa que é, todas as mulheres de Londres teriam caído aos seus pés...
- Nem todas, mas algumas sim... o que você acha que eu tenho feito à noite?
- Seu sujo... e a garota de Beuxbattons?
- Já disse que ela não implica com isso.
- Ei! Já sei de onde eu a conheço! Ela estava no último torneio Tribruxo, em Durmstrang... ela foi a campeã de Beauxbattons!
- Brilhante... você estava lá, também?
- Claro... mas não fui escolhida a campeã, o que prova que no fundo aquele cálice é uma grande besta...
- Eu não lembro de você... mas eu também fui ao torneio. Como nunca nos conhecemos?
- Sei lá... - disse Hope lembrando-se que aquele torneio fora na época em que ela resolvera tornar-se a garota fatal, e que ela não lembrava com prazer nenhum de ter se agarrado ao campeão de Durmstrang no Baile de inverno. Repentinamente sentiu que Gilles estacava do lado dela e começava a rir.
- Por que eu não me toquei que era você? HAHAHAHAHAHA! Você era a menina de Hogwarts que foi salva do portal das chamas pelo campeão de Durmstrang na segunda prova! Você foi escolhida porque estava... nossa, como você mudou, hein? - ele disse isso e um segundo depois lembrou-se que afinal achara durante o baile que o campeão de Durmstrang fora um bocado sortudo em ter conquistado a menina bonita de cabelos compridos negros. Agora que a imagem o atingia por inteiro, ele lembrava como a achara linda... e isso fora há apenas três anos atrás.
- E - eu... era meio idiota naquela época - disse Hope, corando - Mas... -ela apertou os olhos tentando imaginar Gilles em roupas azuis celestes como no uniforme de Beauxbattons, mas a imagem não vinha. Repentinamente, lembrou-se de um garoto muito desengonçado e alto demais, que usava óculos e tinha o cabelo penteado com muito gel, que parecia terrivelmente aquilo que os trouxas chamavam de nerd, que vivia orbitando como um bobo em volta da campeã de Beauxbattons . E caiu na gargalhada ao perceber que aquele era Gilles - Lembrei de você!!! Você era muito ridículo!
- Eu não era muito ridículo... eu só era um pouco... diferente.
- Você usava óculos! E fundo de garrafa!
- Muito, muito engraçado rir de um cara de óculos... eu fiz um feitiço corretivo... só pode ser feito acima de seis graus de miopia, depois dos dezoito..
- Usava gel e partia o cabelo ao meio!
- Eu não era muito imaginativo... usei esse penteado a vida inteira. Chamo o meu atual penteado de "a revolta do cabelo gomalinado".
- E ainda usava uma camisa de gola rulê por baixo do uniforme!
- Agora você realmente pegou pesado...
Os dois riram muito mas Gilles não sabeira dizer exatamente porque, porém mudara seu conceito sobre Hope... lembrando-se da menina de Hogwarts, concluiu que o "seu melhor amigo" podia ficar bem atraente se quisesse.

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O fim da semana trouxe a esperada vitória dos dois na missão, com as melhores notas. Teriam a sexta feira livre e Gilles se perguntou se não seria boa idéia chamar Hope para fazer algo com ele em vez de sair à caça de uma garota trouxa interessante. Decidiu esperá-la no saguão do hotel para, quem sabe, um passeio pela tarde que entrasse pela noite e... ele sacudiu a cabeça, era uma idéia idiota... eles eram amigos, oras!
Ficou olhando a televisão com a mesma expressão meio fascínio meio desprezo que usava para olhar qualquer coisa que fosse trouxa. Ele era afinal uma pessoa acostumada à dualidade: pai escocês, mãe francesa, ele racional, ela passional. Estava acostumado a achar que os opostos se atraíam, talvez por isso Hope, que ele achava tão parecida com ele, tivesse se apaixonado por aquele sem graça.
Uma coisa o fez desistir de esperar Hope: a silhueta de uma moça de calça jeans e blusa vermelha meio transparente que ele viu de relance de costas entregando a chave no balcão. Ela tinha cabelos negros e longos. Um corpo legal... não muito alta, nem muito baixa... "dane-se Black... apareceu uma trouxinha bem interessante na paisagem" ele pensou enquanto se dirigia como que casualmente ao balcão. Então a moça se virou e ele parou apalermado.
- Hope? - disse, sem sentir que falava o primeiro nome da moça. - o que você fez com o seu... cabelo? (e com as roupas de homem, e com o look "sou durona, não se meta comigo"?)
- Eu... - ela pareceu sem graça - Eu vou sair com o Bernardo... ele tirou folga.
- Aaah! - ele disse tentando não parecer decepcionado. - legal... boa sorte.
- Obrigada - ela sorriu e hesitou um segundo, antes de depositar um beijo na bochecha dele. Ele a observou sair e então se dirigiu ao bar.
- Ei, me dá uma cerveja... não, melhor... um uísque. Duplo.  - o líquido desceu pegando fogo pela garganta e ele sentiu-se um tremendo idiota. Era filho de um escocês mas nunca tomara nada tão forte. Sua boca estava amarga, e ele não conseguia entender o porquê.

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A tarde caía. Hope e Bernardo andavam lado a lado. Estavam em silêncio. Até agora não havia sido um dia perfeito. Tinham tomado chá juntos, conversado... mas o mesmo tom polido e distante de sempre os separava. Hope no fundo queria que ele fizesse algo. Mas ele não era nada bom com iniciativas. Ele não sabia que as luvas que ela usava não eram bloqueadoras, e que ela já sabia agora ainda mais sobre ele que o de sempre. Então ela pegou a mão dele e ele olhou-a surpreso. Ela começou:
- Bernardo... eu sei porque você preferiu marcar comigo cedo, aliás, eu sei do seu segredo... eu soube dele desde o dia que te toquei, logo quando você foi...
- Eu devia imaginar - suspirou o rapaz, baixando a cabeça. - Hope... não sei se é bom para nós falar do passado... não sei se é bom para você...
- Eu te amo...
Ele sorriu tristemente
- Você não sabe o que é amor, menina... vai por mim, tenho onze anos a mais que você, isso conta como experiência...
- Porque, Bernardo? Porque você está desistindo de ser bruxo e alimentando essa coisa de super herói de trouxas?
- Eu... eu perdi a esperança de voltar - ele disse com amargura. - E eu queria fazer algo útil com tudo que eu sei, Hope - ele olhou-a com raiva - a sociedade dos trouxas é doente, mais doente que a nossa... a sua, aliás... eles precisam de heróis, entende?
- Eu preciso de um herói...
- Eu te faria sofrer.
- Você já faz isso... o tempo todo, não tem como evitar. - ela abaixou os olhos e tentou segurar a vontade de chorar, em parte de raiva, porque por mais que tentasse ser uma mulher adulta, diante de Bernardo parecia sempre uma menininha tola e tímida. Ele sentiu-se tocado e a abraçou. Ela ergueu a cabeça de repente e seus lábios se tocaram, e ela o beijou com sofreguidão.
Bernardo não soube explicar mais tarde como nem porque... mas o fato é que acabaram em seu apartamento, e uma coisa levou a outra e naquela noite, o Obscuro não apareceu nas ruas do West End. Muito mais tarde ele olhava para Hope. Ela estava sentada na sua cama, nua, linda e radiante, e ainda assim, ele ainda não conseguia ter paz. Sabia que no fundo não a amava, mas tentaria, com todo afinco. Finalmente disse:
- Por que? Por que você não me disse que eu seria o primeiro? - ela voltou-se sorrindo e disse:
- Você acha realmente que eu seria de mais alguém? - ela aproximou-se dele e beijou-o de leve. Ele a prendeu entre os braços e olhou para o teto. Hope fechou os olhos.
Ela queria sentir-se feliz como imaginara que ficaria naquele momento... mas também não conseguia sentir-se em paz . Era engraçado, mas ela achava que entre os dois algo não acontecera... não que ele não tivesse sido gentil com ela, ou mesmo a inexperiência dela tivesse atrapalhado... mas ela não entendia exatamente porque, era como se algo estivesse fora de lugar. Ainda de olhos fechados, suspirou profundamente e tentou finalmente relaxar... ele finalmente era dela... isso tinha que ser bom, não tinha?

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