ENQUANTO ISSO, EM LONDRES...
Londres não era conhecida por ser uma cidade violenta, mas tinha seus ladrões e seu submundo. Aquele, era particularmente um vagabundo, como muitos outros que você podia ver nos confins do West End, batedor de carteira comum.
Mas naquele dia ele queria fazer algo "quente"... olhou a menina passando, 16, 17 anos no máximo. Muito bem estimulado pelo pequeno comprimido que tomara meia hora antes, ele partiu atrás da garota. Era uma menina magra, de cabelo pintado dum vermelho sangue, usava uma saia curta, meias longas... para ele, era o que ela queria, ser agarrada, mostrando as pernas de um branco cor de leite naquela friagem das seis da tarde... ia abordar a gatinha e se ela não quisesse nada...Sua mão apalpou o pequeno, mas afiado canivete dentro do bolso esquerdo, ele riu um sorriso sardônico e nada inocente. Acelerou o passo e disse:
- Oi gatinha - a menina olhou para ele de viés. Ele sorriu, mostrando os dentes amarelados para ela, que não disse nada, apenas apertou o passo - ei, com medo de mim? Calma, eu só quero... conversar.
A garota olhou em volta apavorada, não parecia haver ninguém na vizinhança, ela costumava evitar aquele caminho, mas naquele dia estava atrasada para a escola a três quadras dali.
- Sai - ela disse quando ele tentou tomar a sua frente - ela empurrou-o e começou a correr. Ele a alcançou rapidamente e a derrubou contra uma lata de lixo, a menina gritou até que o sujeito tirou o canivete e tapando sua boca disse:
- Quieta! - a garota sentiu apavorada que ele a arrastava para um canto escuro e que logo começava a puxar sua blusa para o lado, ela estava apavorada demais mesmo para gritar...
Então, algo realmente estranho aconteceu. Uma sombra passou diante dos seus olhos e arrastou consigo a silhueta do rapaz, que gritou, enqaunto rolava pelo chão, ela se grudou à uma parede, e não podia acreditar no que via. Uma enorme pantera negra apertava com uma das patas a garganta do agressor e rosnava baixo olhando para ele. Repentinamente, a silhueta tornou-se diferente, e ela viu um vulto alto e escuro onde antes havia a pantera, segurando o sujeito pelo pescoço com a mão esquerda. Ele apontou a mão direita enluvada para o homem, disse algumas palavras e cordas se amarraram ao redor dele. Surgiu um bilhete sobre o seu peito, que dizia: "Normam Maller, assaltante. Estava em liberdade condicional. Tentou estuprar uma moça." O homem usava uma grossa touca de lã, que cobria todo o rosto, só deixando os olhos de fora.
Ainda perplexa, viu o homem andar na sua direção e perguntar:
- Qual o seu nome?
- I- Iris - ela murmurou.
- Ok, Iris... vou te levar à uma delegacia, e você vai lembrar apenas disso: aquele sujeito te atacou e um homem armado te defendeu, ok?
- Eu...
- Shhh - ele disse e suspendeu a touca, colando seus lábios aos de Iris. Ela não entendeu bem o que sentiu, apenas viu quando ele cobriu novamente o rosto e apontou a mão direita para o seus olhos e disse:
- Obliviate-me - ele sumiu no mesmo instante e Iris virou-se, sem lembrar dele. Ela viu que estava bem próxima à uma delegacia de polícia, e lembrou-se da história exatamente como o homem a contara: ela fora atacada, e alguém armado, ela não vira seu rosto, rendera o agressor.
Iris correu para a delegacia. Do alto de um telhado próximo, o homem que a salvara deu um sorriso e desaparatou. Provavelmente era necessário em outro lugar no West End.
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Severo Snape odiava aquele maldito tratamento médico. Ele se achava inútil quando tinha que receber aquela maldita sessão mensal de quimioterapia. Malditos médicos trouxas... porque eles gostavam tanto de furar os outros? "Deve ser uma espécie de Karma... eu me lermbro que era bem entusiasmado em relação a retirar bile de sapos vivos... agora eles me furam tanto quanto eu furava os sapos" - ele pensava, olhando o céu cinzento através das cortinas na frente da janela envidraçada do hospital. E tinha mais essa: para ele os prédios trouxas eram feios e secos.
Ele realmente vinha sofrendo muito com aquele tratamento: a perspectiva de mais nove meses transitando entre o hospital St Mungos e o Hospital dos Trouxas o aborrecia. Quando acabavam as seções de quimioterapia, começavam as rotinas de poções no St Mungos e vice versa, e ele há dois meses vivia saltando de hospital em hospital, tentando matar aquele monstruoso câncer que crescera dentro dos seus pulmões como salamandras numa fogueira.
A médica trouxa entrou, sorrindo como sempre, a despeito da forma rude que ele a tratava.
- Bom dia, Sevie! - ele a olhou de mau humor
- Já lhe disse que odeio esse apelido idiota.
- Bem, esse apelido é o único que o senhor responde. Prefiro suas reações horrorosas a à nenhuma reação. - ela começou a metodicamente examiná-lo enquanto falava, ignorando a cara rabugenta que ele fazia. Depois de alguns minutos, ela escreveu algo no prontuário e disse:
- Se comportou bem, hoje, Sevie... aqui está seu prêmio. - ela estendeu um par jornais enrolados que ele abriu avidamente. A médica sorriu. - Você não se importa que eu leia seus jornais primeiro, não? O Times não me interessa muito, mas O Profeta Diário continua sendo o periódico mais interessante que eu já li... adoro a seção de fofocas de Gilda Lockhart!
- Você iria adorar o irmão mais velho dela - ele disse com uma cara aborrecida. Realmente, a única forma dele conseguir os jornais fora através da médica: o Profeta Diário se recusara a transferir a assinatura dele para um hospital no centro de Londres, podia causar embaraço para o Ministério da Magia. Então a solução fora transferir a assinatura para a casa da médica, que por pertencer à irmandade, estava na seleta lista de trouxas que podia receber um exemplar do Profeta Diário em casa. Já o Times ela comprava para ele na banca, porque ele adquirira com Alvo Dumbledore o hábito de ler também jornais trouxas.
- Sevie... - ela disse levantando-se da cadeira ao lado da cama - uma nova médica vai ajudar seu tratamento - ele olhou para ela espantado:
- Você vai abandonar meu tratamento agora? - a mulher riu, divertida e arregalou os olhos, já bem grandes:
- Meu Deus! O grande bruxo está de fato manifestando algum apreço pela sua pobre médica? Não é nada disso. Minha prima Sue está se mudando para Londres, e chamei-a para me assistir nessa pesquisa. Ela diz que te conhece...
- Sim... eu fui padrinho do casamento dela. Porque ela vai sair de Nova Iorque?
- Bem... ela diz que é por uma divergência com seu pai, que atualmente preside a Irmandade em Nova Iorque, mas eu duvido. Acho que ela tem no fundo esperança de reatar o casamento com aquele outro bruxo intratável...
- Draco Malfoy não é intratável.
- Hum... não sei se o cunhado dele teve a mesma opinião depois que eles tiveram um desentendimento e Draco o transformou, acidentalmente, claro, em uma doninha saltitante... meu Deus, onde vocês bruxos aprendem esses modos, hein?
- Bah, o sujeito deve ter merecido... e vocês, caçadores de vampiros, não são muito melhores.
- Não diga isso de mim, Sevie. Há mais de quinze anos não caço vampiros - ela disse de forma meio melancólica - a irmandade não gosta de mulheres que não podem ter filhos - ela levantou-se e saiu despedindo-se com um rápido tchau.
Severo acompanhou a saída da médica então ficou por uns instantes assistindo ao monótono pinga-pinga do soro quimioterápico para dentro de suas veias. Droga não ter uma varinha... podia fazer aquilo passar mais rápido para sua corrente sangüínea... talvez fosse por isso que não tivessem permitido que ele levasse a varinha, não? Voltou a atenção para os jornais, e depois de ler o Profeta, pegou o Times. Bom jornal. Se ele fosse mais amigo de Annie talvez confessasse a ela que também gostava de ler o "The Sun", mas por enquanto aquilo era melhor que nada. Repentinamente, uma matéria secundária nas páginas policiais atraiu sua atenção.
"SUPER HERÓI NO WEST END?"
Um homem não identificado tem aparentemente agido no West End como justiceiro, pelo menos há três meses. Os primeiros relatos davam conta que um homem armado aparecia sempre na hora certa, tendo já evitado mais de cinqüenta pequenos assaltos e dois ataques a mulheres. Os últimos relatos porém são mais surpreendentes. Testemunhas têm dado conta que o homem misterioso aparentemente possui uma pantera ensinada, que ataca os criminosos, embora nem mesmo os criminosos lembrem-se da tal fera. Um dos relatos sobre a última incusão é realmente inacreditável:
"O Sujeito não me viu, é claro... ele não usa arma, eu juro, mas eu vi quando ele apareceu do nada, havia um sujeito assaltando uma velha além do beco onde eu estava deitado... então, o cara apareceu, e pegou na faca que o sujeito usava e ela... derreteu! Juro! Então, ele apontou a mão direita para o ladrão, e ele ficou todo amarrado, em menos de um minuto. Ele ainda disse alguma coisa e deixou apalermados tanto a velha como o ladrão. Aí ele... acreditem eu não tinha bebido nada naquele dia.. ele virou um bicho grande e saiu na direção do beco... e sumiu! Quando eu levantei, a velha tinha começado a gritar e eu ajudei a socorrer, e até agora não sei porque o depoimento dela não combina com o meu."
A polícia acredita que o autor do depoimento, Archie Cunningan, um conhecido sem-teto da região, inventou a história atrás de alguma fama. Enquanto isso, o justiceiro começa a se tornar uma lenda e espoucam relatos sobre "O super herói do West End".
Severo franziu a sobrancelha preocupado. Reconhecera imediatamente: só podia ser um bruxo. Mas que bruxo faria algo assim? E sem uma varinha... ele devia de alguma forma substituir a varinha por algo diferente. Um artefato pequeno, talvez? Algo que coubesse na palma da mão? E o sujeito era um animago, claro... não devia ser um animago resgistrado, mas isso francamente não era surpresa para Snape, que calculava que deviam haver cerca de mil animagos não registrados na Inglaterra. Ser um animago era uma dessas coisas que tinham muito mais valor quando ninguém sabia disso.
- Muito estranho - ele murmurou, ainda com o cenho franzido - será que por acaso o Ministério da Magia sabe disso?
Hermione lia aquela reportagem pela terceira vez, com uma expressão idêntica à de Severo Snape. Olhou por cima do jornal para Rony, que lia o Profeta Diário. Perguntou:
- Você leu o Times?
- Mione, você sabe que eu acho que os jornais de trouxas são uma chatice. Só gosto da seção de esportes. Aprendi a achar futebol legal, o Dino tinha razão... - ele disse sem tirar os olhos da desagradável crítica de Rosalind Skeeter sobre seu último filme. - Mione... eu realmente pareço melhor quando faço transfiguração pessoal? - ela não estava prestando muita atenção e ele repetiu a pergunta.
- Hã? Não, querido... eu gosto de você de qualquer jeito... o que essa idiota da filha da Rita Skeeter disse sobre você?
- Que eu não deveria fazer filmes usando meu próprio rosto - ele disse com uma expressão bem aborrecida.
- Esqueça isso... sua aparência é aceitável - ela disse, fazendo-o piorar ainda mais sua expressão - eu queria que você lesse isso - ela estendeu a página policial do Times sobre a mesa e ele olhou curioso. Leu rapidamente e disse, ao final:
- Um bruxo, com certeza.
- Isso é óbvio, não? - ele levantou os olhos para ela aborrecido, mas não disse nada. Estava acostumado demais com a frase "Isso é óbvio" para se aborrecer com ela.
- Ok, é óbvio... você está aborrecida porque nenhuma das suas geringonças de monitoramento ou seus mapas o pegou ainda... estou certo?
- Isso... - ela pensou um instante - é, é isso. Ele deve usar alguma forma de objeto que nós não estamos preparados para detectar.
- É, isso é óbvio - devolveu Rony, com um sorriso malicioso - Mas você não acha, Mione, que afinal de contas ele está fazendo algo... bom?
- Ronald! - Hermione só o chamava assim quando ele realmente dizia algo que a chocasse - isso é completamente irregular!
- Humrrum - ele disse, olhando o desenho que mostrava um sujeito todo de preto encapuzado e enluvado - mais ou menos como diversas coisas que fizemos ao longo de sete anos em Hogwarts... sem mencionar aquele feiticinho que eu fiz durante a nossa lua de mel que não era muito certo mas você adorou... - ela olhou-o de forma assassina e ele segurou o riso.
- Rony, esse é o meu trabalho, entende? Seu pai confia em mim, o Ministério confia em mim...
- Percy pega no seu pé o tempo todo... - ele completou e ela se calou. - Hermione, escute: há algum bruxo aí fora que andou lendo demais revistas em quadrinhos de trouxas e resolver bancar o Calvin Kent...
- É Clark...
- Hã?
- Clark Kent.
- Isso. É o que vira o Batman, certo?
- Não, Ron... esse é o Bruce Wayne...
- Tá, você entendeu, certo? - ele não está prejudicando ninguém e, bem, ajuda os trouxas. Meu pai adora os trouxas. Enquanto ele estiver lá em cima, nem você nem o cavaleiro solitário aí tem com o que se preocupar... e além do mais, você é a única em todo Ministério que lê o Times... ninguém nem vai saber disso por um bom tempo... pelo menos até algum repórter do Profeta Diário descobrir.
- É... mas de qualquer forma... eu vou pedir a Harry que investigue isso - ela disse pensativa e Rony revirou os olhos. Sim, ele casara-se com uma obcecada pelas regras.
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Bernardo Fall sacudiu a cabeça ligeiramente. Droga de sono... se ele tivesse acesso a alguém no mercado negro, com certeza conseguiria um vira-tempo. Ele acabara de abrir a loja. Era o que fazia todas as manhãs desde que se tornara um clandestino: abrira uma pequena loja perto de Aldwych, onde consertava computadores. Tinha um assistente, um rapaz negro chamado Jay, que nunca desconfiara do fato do patrão usar sempre uma única luva preta quando abria os aparelhos, devia ser para não danificar os circuitos.
Jay chegou com um monitor logo depois, e o depositou sobre a sua mesa, dizendo:
- Chefe, acho que esse aí não tem conserto... uma placa de circuito simplesmente derreteu.
- Ok, deixe aí e vá trabalhar naquele PC que chegou ontem... eu dei uma olhada nele, acho que está quase bom.
Jay sentia-se meio frustrado, era muito bom em eletrônica, mas nunca trabalhara com alguém tão bom a ponto de consertar qualquer coisa sem quase precisar repor peças. O trabalho de Jay quase que se resumia a diagnosticar defeitos e apertar parafusos. Todo o resto o patrão fazia...
Bernardo riu interiormente e murmurou, olhando os circuitos queimados de uma placa mãe, enquanto a tocava com a mão enluvada:
- Reparo... - ele riu vendo os circuitos voltando à forma normal. Ele quase gostava daquele estilo de vida, que era afinal de contas bem rentável. Ninguém desconfiava que sua luva preta de couro fora um projeto pessoal em que trabalhara arduamente desde que se tornara um renegado. Estava acostumado a fazer coisas em segredo, afinal, não era um animago desde os dezoito anos à toa. Seus conhecimentos o haviam feito arrumar um jeito de transformar uma luva de couro num objeto mágico que era tão bom quanto uma varinha, apenas com o auxílio de um único pelo de unicórnio.
Mas era à noite que ele realmente se sentia um bruxo. Era bem melhor usar a luva para caçar criminosos que para consertar computadores. E nenhum bruxo sabia daquilo, e ele tinha certeza que sua identidade secreta estava bem segura. Ele riu. Realmente, acabara mesmo sendo influenciado por todos aqueles comics e mangás de trouxas que gostava de ler na infância... é, agora ele era um super herói...
- O obscuro - ele disse para si mesmo e Jay perguntou:
- O que, chefe?
- Nada, Jay...
Ele voltou ao seu trabalho, sacudindo a cabeça para espantar o sono. É, ia achar um jeito de conseguir um vira-tempo... era só ninguém saber, como ninguém sabia que ele era "O Obscuro".
Ele achava que ninguém sabia... mas havia alguém que soubera antes mesmo dele se tornar o Obscuro, o que ele faria. Alguém que o amava. Alguém que tinha o toque de Prometeu.
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