EM HOGWARTS, NOVAMENTE.
Desde que assumira suas funções como Auror, Harry não se lembrava de ter vivido dois meses tão tranqüilos quanto aqueles... guardar a coroa em Hogwarts era realmente muito fácil. Ele continuava recebendo corujas dos outros, que davam conta que, embora os desaparecimentos misteriosos tivessem cessado, as pessoas não haviam reaparecido e o Camaleão também não dava sinal de vida. Ele pensava se isso não seria um truque dele para dar uma sensação de segurança falsa.
Na verdade ele não estava ali apenas pela coroa. Esta estava muito bem guardada em algum lugar da torre norte e alguns feitiços haviam sido conjurados para protegê-la, e para falar a verdade, se fosse só por isso, ele não precisaria estar ali. Mas acontece que uma das pessoas desaparecidas sumira exatamente de Hogsmeade, a menos de dois quilômetros de Hogwarts, e a Professora McGonnagal pedira ao ministério medidas de segurança. Por sugestão dela mesma, eles haviam designado Harry para patrulhar Hogwarts.
É importante dizer que ele ficava quase o tempo todo do lado de fora do castelo, e agora que as aulas haviam começado, era novamente alvo de curiosidade entre outras coisas porque dentro de alguns dias começariam a filmar a história de como ele salvara a pedra filosofal, e o ator que o interpretaria era um estudante de Hogwarts, que ele mesmo achara que nada tinha a ver com ele. Os alunos mais novos só conheciam ele de ouvir falar, os que agora estavam no último ano eram do primeiro quando ele se formara. O tempo realmente havia passado.
Rony chegaria dentro da alguns dias, junto com o filho e Hermione, que pedira um mês de férias no ministério para acompanhar o marido a Hogwarts, Rony dera saltos de alegria ao saber que Harry estaria lá para vê-lo interpretar no filme o papel de Severo Snape, o que era sem dúvida uma grande ironia.
E em Hogwarts as coisas haviam mudado bastante desde que eles haviam se formado. Agora, a professora Minerva era a diretora, dando ênfase à disciplina, mas procurando não afastar-se muito dos ideais de Dumbledore, que apesar de maluco havia sido seu mentor. Desde que Madame Sprout se aposentara, Hagrid se tornara o chefe da Lufa-lufa, e Harry nunca imaginara que ele estudara lá. Há alguns anos ele fora considerado apto a ser bruxo e recebera uma varinha, numa cerimônia em que derramara lágrimas enormes sobre sua imensa barba. Sirius assumira a chefia da Grifnória desde que Dumbledore se aposentara, e por falta de outro professor mais antigo, Simon Bravestar assumira a Sonserina no lugar de Snape, que abandonara a escola no mesmo ano em que Bravestar entrara como professor de feitiços substituindo Flictchwik, que se aposentara deixando a chefia da Corvinal com Sheeba.
Diga-se de passagem que a Corvinal vinha de uma série de quatro anos seguidos de vitórias no campeonato de casas, deixando para trás a Grifnória e a Sonserina, que disputavam o segundo lugar, e isso tinha dois motivos: o primeiro era uma menina do quinto ano chamada Paulla Jokers, que era a melhor apanhadora de Quadribol da escola no momento, o outro era o jovem Bernardo Fall, que no sexto ano era já monitor chefe e o primeiro aluno da escola. Os alunos torciam para o próximo torneio tribruxo, marcado para Beauxbattons não demorar e ser logo no ano seguinte, onde com certeza o menino seria o campeão da escola.
O pobre Simon Bravestar tivera que amargar um último lugar no seu primeiro ano à frente da Sonserina, ele que era mais ético que Severo Snape e não hesitava em tirar pontos da Sonserina por indisciplina, coitado... acostumados que estavam com as velhas injustiças de Snape, os Sonserinos tinham agora que aprender dolorosamente a controlar sua tendência a achar que nada ia acontecer com eles.
Sirius, por sua vez, sentia-se indignado por estar perdendo há quatro anos... principalmente porque nos dois últimos anos tivera que agüentar Sheeba implicando com ele por causa disso. Ela fazia isso porque descobrira que competir era uma forma de fazê-lo superar a crise dos quarenta, que ela achava extremamente chata, mas compreendia, afinal, amava o marido acima de tudo, mesmo achando-o um idiota completo por se achar velho aos 44 anos... e era no quadribol que a temperatura entre eles subia realmente. Desde que o pequeno Claudius entrara em idade escolar e juntara-se aos irmãos na escola comunal integral de Hogsmeade, Sheeba pudera se dedicar mais a treinar o time de quadribol da Corvinal, que era sem dúvida muito bom... o que matava Sirius de raiva.
No dia da primeiro treino que ela marcara, descobriu contrariadíssima que teria que dividir o campo com Sirius, que levara todo time da Grifnória para treinar especificamente o novo apanhador da casa, um menino muito habilidoso de treze anos. Sheeba pôde vê-lo em ação e não conseguiu deixar de admitir que esse ano a taça podia estar ameaçada... e não evitou as alfinetadas do marido:
‒ Seu reinado está para acabar, Pitonisa Sabe Tudo...
‒ Ora, eu já fui ameaçada por este Cachorro Arrogante outras vezes... e ficou só na ameaça. – Sheeba riu ‒ Vamos ganhar pela quinta vez...esqueceu que eu prevejo o futuro?– ela cartou
‒ Nem vem que não tem, que esse é o seu futuro e você não pode prevê-lo, pensa que me engana, é?
‒ Vamos ver... acredite no que quiser, Sr Black.
‒ Acredito que teremos uma determinada chatinha chorando no fim do ano porque perdeu para a Grifnória...
E assim foi durante todo treino, até o fim da tarde, quando eles recolheram as vassouras dos alunos e foram, discutindo como nos velhos tempos, rumo à sala dos professores, para guardar as vassouras dos dois times, que levavam nos ombros. Sheeba como sempre recusara a ajuda dele.
‒ Você viu? A pequena Paulla continua ótima... quero ver na partida, será que esse ano você chega à final, Sr Black?
Maria Luiza CoelhoOra ora ora... vamos ver quanto tempo essa empáfia sobrevive quando o meu apanhador estiver em campo 100% em forma senhora Black – estavam tão distraídos se provocando, que iam fazendo as mesmas coisas em gestos automáticos: deixaram as varinhas em cima da mesa e com a mão livre, pegaram chá no bule, ainda se provocando, um de frente para o outro. A sala dos professores estava vazia, mas eles iam rindo, e quando acabaram o chá, eles foram guardar as vassouras, e sem perceber, entraram juntos no armário, que era grande e cheio de vassouras, praticamente um cômodo embutido na parede.
“Blam!” – a porta do armário se fechou com um estrondo atrás deles nem bem entraram.
– Droga, eu sempre esqueço que esse armário gosta de trancar gente aqui dentro – Sheeba disse – outro dia Gina ficou três horas trancada aqui até que alguém aparecesse...
– Essa não... tá escuro aqui, não estou vendo nada, Sheeba.
– Óbvio, Sirius, não entra luz aqui, lembra? Lu... – ah, não. Esquecemos as varinhas lá fora.
– É mesmo... e esse armário não abre por dentro.
– Mas que droga!
– Nossa Sheeba, seu cabelo está áspero
– Isso é uma vassoura, idiota, eu estou bem do seu lado.
– Ah, já te achei... apertado aqui, né?
– Costuma ser grande, mas com cinqüenta vassouras, eu e você fica meio cheio...
– Sabe o que eu estava lembrando?
– O quê?
– O que aconteceu na última vez que a gente se trancou num armário aqui em Hogwarts... claro que daquela vez foi de propósito...
– Sirius, tire a mão daí!
– Engraçado, foi exatamente isso que você falou da última vez...
– Sirius Black, você não presta!
– Agora conte-me uma coisa que eu não saiba, Sheeba Amapoulos Black... – ela deu uma risadinha:
– Eu nem lembrava da história do armário...
– Isso é um comentário nostálgico ou é um “vamos nessa?”
– Hum, é um “vamos nessa” nostálgico...
Sheeba sentiu que Sirius a encostava na parede e a beijava. A temperatura dentro do armário de vassouras começava a subir, e as risadinhas dos dois já eram audíveis do lado de fora... repentinamente, um barulho de tecido rasgado.
– Sirius, essa é minha melhor capa!
– Ah, não reclame, você sabe fazer feitiços de consertar roupas desde o segundo ano da escola... e quem manda você usar essas roupas cheias de botões? – mais barulho de tecido rasgado e ela disse:
– Seu cachorro!
– Hehe... Porque você não me faz realmente latir, querida?
“Cleck!” – eles sentiram, apavorados, que a porta estava se abrindo, a luz invadiu o armário subitamente e quando seus olhos acostumaram à claridade, viram Simon Bravestar, que dera de cara com Sirius segurando a manga rasgada da veste de Sheeba, expondo o ombro dela, que por sua vez estava com as mãos... melhor não dizer onde estavam as mãos de Sheeba. Seguiu-se um instante do mais constrangedor silêncio, até que Simon disse:
– Eu juro que achei que fosse surpreender um casal de alunos... – Simon olhava de um para outro, esperando que o casal paralisado tomasse uma atitude. Sirius o encarou e começou a falar:
– Nós ficamos presos aqui e..
– Não se preocupe, vocês tem mais de sete anos de casados... devem querer variar de vez em quando. Não há nada demais nisso...eu entendo
– Não foi nada disso – disse Sheeba, vermelha como um pimentão recolhendo o que restara de sua capa e tentando pôr a manga da veste no lugar. –Estávamos tentando...
– Forçar a porta – completou Sirius, constrangido.
– É, isso – completou Sheeba, sustentando a cabeça com dignidade – então eu quase caí e Sirius... me segurou.
– Muito bem segura, eu notei... – respondeu Simon, muito sério.
– Bem, obrigado por nos ter soltado – disse Sirius, arrastando Sheeba para fora do armário notando que conforme a perplexidade ia passando, Simon chegava cada vez mais perto de uma grande gargalhada. Sheeba pegou a varinha sobre a mesa e num gesto apressado, consertou as vestes e a capa (a manga ficou meio torta e os muitos botões da capa pareciam meio bambos, mas em casa ela ajeitava isso), e antes que Simon dissesse qualquer coisa, eles haviam sumido porta a fora.
Quando chegaram do lado de fora, finalmente ouviram a gargalhada altíssima que o professor roqueiro deu, acelerando o passo para ficarem o mais longe o possível do alcance daquele som. Simon por sua vez, ficou mais ou menos meia hora rindo degustando a fala que ainda escutara antes de abrir a porta:
– “Porque você não me faz latir de verdade, querida?!” Ele repetiu, caindo novamente na gargalhada. Nesse momento, Neville entrou na sala e olhou-o muito sério.
– Boa tarde – ele disse. Neville agora usava uma eterna veste preta e deixara os cabelos crescerem um pouco. Lutava contra a tendência a ganhar peso e se tornara uma espécie de Snape de cabelo mais limpo e rosto mais cheio. E decididamente não gostava daquele cabeludo que lecionava feitiços. – posso saber o que é tão engraçado?
– Uma piada que o Black me contou, Longbotton... mas acho que você não iria achar a mínima graça – ele sorriu, os dentes grandes e brancos iluminando sua cara não muito bonita mas extremamente simpática, ele sabia porque Neville não gostava dele, mas fingia ignorar – você é amigo do Potter?
– Sou. – Neville quase sempre era monossilábico com Simon.
– Diga a ele que a mulher dele não parece bem... eu a vi hoje de manhã correndo para o banheiro, acho que estava passando mal, e está escondendo isso dele. – Neville olhou-o impaciente e assentiu com a cabeça. Nesse momento, Gina apareceu à porta e ambos olharam para ela. Neville sério, Simon, rindo de orelha a orelha:
– Simon, meu horário já acabou. – ela disse evitando olhar para Neville
– Ótimo... vamos dar um pulo no três vassouras. Quer ir, Longbotton?
– Não, obrigado. Neville viu os dois saindo contrariado. Não acreditava que Gina o houvesse trocado por aquele cabeludo exibido. Decidiu procurar Harry.
Encontrou-o à porta da escola, espalhando os feitiços de detecção de estranhos que sempre punha na escola durante a noite. Não havia sinal de Willy. Decidiu começar o assunto de forma menos direta.
– Alô, Harry.
– Afaste-se um, instantinho só, Neville. Harry disse enquanto armava um feitiço que brilhou por um instante depois desapareceu. Era uma gaiola de uma noite, se alguém estranho passasse por ali aquela noite, ficaria preso numa gaiola gritadora até a manhã seguinte. Harry punha estes feitiços todo fim de tarde por ali, eles se desfaziam sozinhos quando o sol nascia. Eram feitiços especiais de Auror, incapazes de prender qualquer aluno, professor ou funcionário da escola, mas implacáveis com estranhos. – Pronto, esse é o último. – Harry sorriu – tudo bem, Neville?
– Tudo... mais ou menos. – Willy vinha chegando, parecia bem e sorriu para ambos. Em seguida convidou Neville para jantar com eles, desde que Harry chegara a Hogwarts, tinham tido muito poucas oportunidades de conversar, e além de tudo, aquela noite Hermione e Rony chegariam, iam ficar hospedados na casa de Harry enquanto filmavam.
Mais tarde, chegou um trem movimentadíssimo a Hogsmeade. Era o trem da produção do filme. Eram pessoas estranhíssimas, mesmo para bruxos. O diretor era um sujeito de seus cinqüenta anos bem largo chamado Daniel Dubois, e havia uma serie de consultores, desenhistas e figurinistas com ele, Câmeras mágicas que funcionavam sozinhas e saíam andando, documentavam a chegada da equipe para o making off do filme, atores, todos eles com ares entediados, e nenhum sinal de Rony... subitamente um homem de cabelos negros oleosos saiu do trem e Harry arregalou os olhos... não podia ser, estava muito perfeito!
– Rony?
– Não, Potter. – era Snape, que olhou-o com uma cara bem antipática – eu fui contratado como consultor... seu amigo está lá dentro, irritantemente transfigurado como eu – ele saiu pisando duro e Harry perguntou-se o que na vida tinha feito para ser tão detestado...
– Olá Harry – Rony apareceu, realmente transfigurado como um Snape, um pouco mais jovem do que Snape era no primeiro ano deles na escola, mas ainda assim muito parecido, Hermione o seguia com o pequeno afilhado de Harry no colo, um bebê de pouco mais de seis meses.
– Você precisa andar assim o tempo todo?
– Não! – Rony transfigurou-se de volta rindo e eles se abraçaram – Então, viu quem faz parte da equipe?
– O que ele está fazendo aqui...
– Insistiu em participar da produção e forneceu detalhes técnicos para o roteiro... Dubois adora ele...
– Essa não, ele vai colocar coisas terríveis sobre mim.
– Não, não vai não... eu li o roteiro, está ótimo, bem fiel mesmo... claro que você está , mais heróico e menos anão que na época... e o diretor cismou em não colocar a cicatriz no meio da testa... mas isso é quase irrelevante. Então, o que conta de novo?
– Onde está Willy? – Hermione perguntou
– Em casa, preparando o jantar especial... nossa casa cozinha sozinha, mas ela resolveu ajudar esta noite.
– Ótimo... não agüento mais comer comida de hotel. – disse Rony dando-lhe uma pancadinha no ombro.
Eles foram andando até a casa de Harry, no alto de uma colina ao lado da casa de Sirius e Sheeba, sem saber que naquele momento eram observados pelo transfigurado Camaleão.
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