LUONS
Pouco depois do duelo, Simon arrastou Gina do clube, e Harry voltou ficar com os amigos, mas o duelo estragara um pouco a comemoração deles. Steve, Draco e John se despediram, Draco iria pegar o metrô bruxo das dez e John e Steve tinham vampiros para caçar, Hagrid também se foi. Fred e Jorge passariam a noite em Londres, mas disseram adeus do mesmo jeito.
‒ Uly e Cindy estão nos esperando... – disse Jorge – elas querem fazer algum programa intelectual conosco essa noite .
‒ Algo de profunda relevância como sair para dançar – disse Fred, com um cinismo indisfarçável. Eles saíram e Rony fez uma cara aborrecida.
‒ Não reclame – disse Harry – ia ser pior se o Malfoy estivesse aqui para comentar isso.
‒ Por falar em Malfoy – perguntou Lupin – o que há com ele?
‒ Ele parece doente... muito doente – disse Rony – aliás, acho que desde seu casamento, Harry, ele parece doente.
‒ Eu notei que ele estava estranho desde que o vi em Nova Iorque há quase um ano... interessante que encontrei com ele numa sexta e ele estava bem... na terça feira seguinte eu o encontrei novamente e a aparência dele estava péssima!
‒ Ah, se Draco estivesse tão mal, não faria um filho – disse Sirius em tom de mofa
‒ Não brinque com isso, Black – disse Stoneheart – pode ser que o filho seja uma tentativa de salvá-lo.
‒ Não, isso não existe mais... ninguém mais precisa desse tipo de recurso – completou Sirius
‒ Eu não ficaria tão certo se fosse você. – Lupin disse, sério – não esqueça a origem da família dele e com o que eles mexeram nos últimos séculos... não me surpreenderia se ele precisasse de um feitiço do filho salvador.
‒ Feitiço do filho salvador? – Rony perguntou – acho que eu pulei essa aula.
‒ Não, você não pulou... – Sirius falou, contrariado – isso é um feitiço antigo, uma contramaldição complicada, não se aprende isso em escolas normais. Harry conhece, não conhece?
‒ Estudamos na escola de Auror... mas se ele precisasse de um feitiço desses seria por algo muitíssimo grave... acho que Draco não faz nada errado desde a época daquele vodu...
‒ E o que faz esse feitiço? ‒ Rony realmente estava curioso.
‒ Ele pode ajudar uma pessoa a se livrar de uma maldição. Mas marca a criança para sempre. – disse Harry, e como fazia várias vezes sem sentir, pôs a mão na testa. – É preciso ter o sangue de um filho recém nascido e mais algumas coisas
‒ Sangue?
‒ Não faça essa cara – disse Stoneheart mau humorado – eles não precisam matar ninguém, só dar o furo em um dedinho, uma gota basta, continue, Potter.
‒ Não continue. Não se deve falar em maldições por aí – o velhinho da pista de esgrima aproximara-se varrendo o chão e enfiara-se na conversa – meu jovem, você poderia me acompanhar? Acho que estou com problemas numa vassoura. – ele disse, pondo a mão no ombro de Harry, que olhou para ele e sem hesitar, seguiu-o.
‒ Pode me explicar o que você está fazendo aqui? ‒ Disse Harry, que sabia que o velhinho só podia ser uma pessoa
‒ Eu tinha vindo lhe desejar feliz aniversario, seu mal agradecido... mas pude presenciar uma autêntica manifestação de idiotice explícita... poderia me explicar como você, que ganhou do sujeito no único jogo em que realmente fazia diferença perder e fica competindo com ele por coisas que não tem a mínima importância?
‒ Na verdade não é isso. Eu não sou covarde. E ele me provoca.
‒ Muito inteligente. Se ele te provocar para pular de um precipício...
‒ Eu tenho minha roupa protetora, você sabe disso.
‒ Lógico que sei... você andou tempo demais com esse cachorrão que você chama de padrinho... pegou todas as manias dele.
‒ Com muito orgulho.
‒ Vamos ao que interessa. Enquanto você se exibia, eu falei com Stoneheart... você já tem uma missão para Segunda feira, até lá, curta esse fim de semana. Aqui estão as instruções... e não ligue para esse americano imbecil, provavelmente ele vai atrás de você. Te encontro nesse lugar, ao meio dia... por favor, aprenda a cantar, certo? Foi ridículo quando você não sabia nem os primeiros acordes de “besame mucho” em Buenos Aires...
‒ Harry desviou os olhos para a carta de Sandman por um segundo, e quando ia perguntar qualquer coisa a ele, o velho havia desaparecido.
Despediram-se por volta de nove e meia... a noite estava muito bonita e Harry achou que valia a pena voar com a moto aquela noite, em vez de desaparatar com ela. Ele apertou o botão de invisibilidade e rapidamente, embicou pelo céu de Londres, quando fazia isso invariavelmente vinha à sua lembrança a noite em que ele Rony e Hermione haviam feito isso pela primeira vez, antes de Sirius ser libertado e inocentado, antes de tanta coisa... mais de oito anos antes, numa primavera. Furou uma nuvem, sentindo o ar gelado atravessá-lo, aquilo era quase tão bom quanto voar de vassoura. Ele ainda tinha a velha Firebolt, com mais de dez anos, o primeiro presente de seu padrinho. Agora era uma vassoura meio obsoleta, diante das modernissimas Quarker Flash, mas ele não a trocava por nada nesse mundo ou em outro, embicou a moto à direita na saída de Londres e desceu suavemente em frente à sua casa.
Era muito bom voltar para casa, ter uma casa para chamar de sua, depois de anos largado, anos mal cuidado... todos os dias sentia um imenso alívio quando via as luzes da casa de aparência esquisita e quadrada. Com cuidado, convenceu a motocachorro a entrar na garagem (de cada dez tentativas, nove acabavam em mordida) e depois de fechá-la, finalmente entrou em casa.
Estranho, muito estranho. A casa estava totalmente apagada. Mas ainda era cedo... Willy não podia estar dormindo. Subitamente, apareceu uma pequena luz na sua frente, como um vaga-lume. Ele ficou olhando a luz, podia jurar que ela sorria para ele, depois se apagou e acendeu-se mais adiante. Ele foi até onde estava a luz e ela se apagou de novo, e foi repetindo esse processo, fazendo com que ele subisse a escada. Ele riu. Isso era obviamente coisa de Willy, era o estilo dela.
As luzinhas animadas o levaram escada acima até a escada em caracol do sótão, que ele subiu com cuidado. Lá em cima, sentada na janela, sob a lua cheia da paisagem conjurada de Hogwarts, estava Willy. Ele arregalou os olhos ao ver que uma luz suave e azulada emanava do vestido dela, que era diáfano e transparente, quase flutuando ao seu redor. Sobre a janela, como se fosse um picnic, estava armado um jantar. Ele ficou olhando hipnotizado para ela, que saiu da janela e veio até ele, sorrindo.
‒ Devo dizer a Silvia Spring que as dicas que ela me deu para esse tecido de glamour funcionam?
‒ Willy... você...está... maravilhosa!
‒ Efeito colateral: torna o homem um bobão. Ela disse, abraçando-o e beijando-o
‒ O que eram as luzes – ele perguntou quando voltou a raciocinar com clareza. E que raios de tecido de glamour é esse?
‒ Uma encomenda de Liza LionHeart... mas acho que vou diminuir um pouco a intensidade da poção de tingimento... bem, as luzes são uma invenção minha meio antiga... chama-se luon.
‒ Luon?
‒ Sim, luz domesticada... eu fiz pensando em crianças que tem medo do escuro... ela estalou os dedos e as luzes vieram até ela, que pegou uma na mão e ela se apagou, era uma bolinha de consistência gelatinosa, mas que não grudava na mão, ele pôs na mão dele e quando fez isso, o luon acendeu.
‒ Eu dei alguns destes para os filhos de Sheeba... acho que eles gostaram. Você não se atreveu a jantar, não é, Harry Potter?
‒ Não... eu sabia que teria uma ótima companhia para tanto... o que temos para o jantar?
‒ O que você imagina?
‒ Fígado? Omelete de rins? Não me diga que você comprou sardinhas em lata???
‒ Kakaka! Palhaço. Nada disso. Eu fiz seu prato favorito.
‒ Você fez? – ele disse meio incrédulo, meio divertido
‒ Tá bom, tá bom... a casa fez um rosbife à moda de Hogwarts.
‒ Com batatas fritas?
‒ Claro, ‒ suspirou Willy – ainda bem que você faz muito exercício... nunca vi alguém comer tanto.
‒ Rony come mais que eu.
Eles jantaram na janela, com os luons reluzindo à sua volta, Harry ria para as coisinhas, que às vezes pareciam sorrir
‒ Willy, isso é... vivo?
‒ Não... é meio encantado. Os sorrisos são programados. Como eu disse, isso é para crianças, Harry.
‒ Willy, eu posso te fazer uma pergunta?
‒ Claro.
‒ Você esqueceu mesmo o americano?
‒ Ah, não... de novo?
‒ É que ele faz umas insinuações que eu não gosto. – todos os luons fizeram caretas para ele ao mesmo tempo. – ei, porque eles fizeram isso?
‒ Porque você me aborreceu. Eles são sujeitos ao humor do dono. Harry, porque é tão importante o que tive ou deixei de ter com Troy? Nós não havíamos combinado: esqueça o americano que eu esqueço a escocesa?
‒ Mas Bianca não está por aí...
‒ Não, ela só está em Azkaban depois de ter quase tentado matar Sirius botando a culpa em mim... só isso.
‒ Desculpa.
‒ Tudo bem – suspirou Willy – eu tenho pena dela... fico imaginando o quanto ela sofre em Azkaban.
‒ Eu faço idéia.
Não. Na verdade ele não fazia a menor idéia...
Em Azkaban, em um ano Bianca conseguira chegar até a carpintaria, mas sua vida definitivamente não era fácil. Os piores tipos bruxos da Europa estavam ali, gente que havia sido presa pelos mais terríveis crimes, na sua grande maioria, homens. Bianca vivia aos sobressaltos ao andar pelos corredores, além dela, a única mulher realmente bonita ali era Sarina Moore, e essa era uma das incomunicáveis, que ficava separada dos outros presos por seu grau de periculosidade. A pior hora para Bianca, era a do banho. No banheiro coletivo ela sentia a inveja que as outras bruxas sentiam de seu corpo jovem e belo. Ela tinha medo de acabar agredida por uma das outras. A ala feminina era separada da masculina, mas durante o dia e no fim da tarde, quando precisava passar sozinha pelos corredores, verificava se não tinha nenhum homem por ali. Ela tinha muito medo deles, do que podiam fazer com ela.
Havia os grilhões e gargantilhas conjurados em todos por Luc, mas ainda assim ela não se sentia protegida no meio de gente tão ruim. Havia tudo de pior em Azkaban, uma tarde ela viu dois homens que tinham sido beijados por dementadores no passado, e jamais esqueceria das expressões vazias nas caras deles, que apenas estavam vivos, mas sem alma nem alegria. Deu graças a Deus pelo fato de não haver mais nenhum dementador ali.
Desde o dia que chegara, ela não vira mais o Guerreiro da Luz de perto... apenas nos horários comuns, assim mesmo muito rapidamente. Ele aproximava-se muito pouco dos presos, ela não calculava o quanto ele sabia sobre cada um, e o quanto ela o intrigava.
Desde que ela chegara, a vida de Luc mudara por completo. Por mais que ele quisesse fugir disso, se pegava nas horas mais improváveis procurando saber onde ela estava pelo seu perfume de flores negras... não era por ela ser bonita, ele sabia pelo perfume que Sarina Moore também era uma mulher lindíssima, com o perfume forte do almíscar do campo... mas de alguma forma achava que Bianca era especial, porque tinha um perfume que ele conhecia apenas de memória, um perfume que não sentia há exatos quatro mil anos... mil antes dele abandonar seu mundo.
Às vezes, do rochedo, ele ficava prestando atenção à batida do coração dela, que podia escutar e distinguir, como podia fazer com qualquer som que quisesse... ele sabia que quando ela dormia tinha sonhos ruins, mas quase todos ali tinham. Mas sabia pela forma com que ela se agitava durante o sono, pelo quanto o corpo dela esfriava e suava frio... não eram sonhos de culpa. Eram sonhos de medo. Alguém provavelmente fizera algum feitiço e tinha poder sobre ela. E ela tinha medo desse poder.
Ele sempre soubera distinguir um inocente de um culpado, mas para ele, ela era um enigma. Ele sabia que ela não era má, mas sabia também que fizera coisas ruins. E que pagava mais que merecia por elas. “Droga. Diabos. Isso é horrivelmente errado!” ele pensava “Não deveria estar usando meus poderes para vigiar uma garota... ainda mais uma condenada sob meus cuidados.” “É Luccas Lux, mas ela é uma condenada a pouco tempo de prisão.... em quinze anos estará livre... o que são quinze anos para quem tem quase seis mil? Espere...” “antes disso eu já terei enlouquecido” – ele travava diálogos imaginários com ele mesmo, e enquanto fazia isso, jamais se aproximava dela. Era uma questão de precaução.
Uma tarde, Bianca saíra da ala de carpintaria e olhou o corredor que levava à ala feminina... deserto. Ela foi andando por ele e subitamente, um homem saltou à sua frente. Ela gritou e aderiu a parede. Ele pôs os braços à sua volta, mas sem tocá-la, impedindo que prosseguisse:
‒ Eu descobri que não é agressão se pedir um beijo a uma colega sem tocá-la – começou o bruxo magro e amarelado, uma expressão doentia no rosto – veja que ironia... se você tentar sair daí só vai conseguir me agredindo... vai ter que me beijar – ele riu, dentes amarelados e apodrecidos, um cheiro desagradável emanando dele.
Ela desviou o rosto para não encarar o bruxo, pensando numa forma de desvencilhar-se dele. Foi nesse momento que uma mão surgiu atrás do pescoço dele, erguendo-o.
‒ Parece que vamos ter que lhe ensinar algumas coisas, Sr. Sinclair... como por exemplo, a pedir desculpas.
O bruxo agitava-se e tentava sair, mas a mão forte do guerreiro apertava sua garganta.
‒ Se quiser tomar coragem, lembre-se que de nós dois, apenas eu tenho a eternidade... e você tem um pescoço bem frágil
‒ Desculpe! – O guerreiro largou-o e disse:
‒ Não esqueça que eu fui escolhido para dirigir esse lugar porque posso distinguir um rato roendo um pedaço de queijo na cozinha e pelo barulho saber seu tamanho e qual o tipo de queijo que ele está roendo, esteja eu onde estiver. De onde eu estiver, se você fizer mais uma dessas, eu saberei, e provavelmente vou chegar mais rápido da próxima vez.... Agora suma, e avise aos seus companheiros sobre isso. – o bruxo saiu correndo pelo corredor e ele virou-se para Bianca – Cuidado. Procure não andar tão sozinha por aqui.
‒ Muito difícil... ninguém gosta de mim aqui. – ele deu um passo em direção a ela e tocou seu rosto, sem falar nada. Então disse:
‒ Como eu suspeitei, Você está febril. Vou mandar um elfo levar um cobertor em sua cela. – ele disse e virou-se, indo pela direção de onde viera.
Mais tarde, em sua cela, Bianca recordava o leve toque dos dedos dele sobre sua pele... ele se enganara, ela não estava febril. Mas o cobertor fora benvindo, e ele estava enrolada nele, pensando em como seria abraçar-se ao corpo dele, que parecia tão quente.
Do alto do rochedo, Luc se censurava por tê-la tocado, num impulso. “Existe sim, flores negras, alguém aqui que gosta de você..”
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