PANSY



Conheço expressões de desprazer, sou especialista nelas. Minha avó tem umas trinta diferentes, dependo do tamanho da besteira que eu tenha feito. Portanto, mesmo que quisesse disfarçar, Pansy não conseguiria esconder de mim que preferiria fazer par com o Trevo que comigo. Quando a encontrei na sala de pesquisa, ela me olhou de cima a baixo como se eu fosse feito de algo bem nojento. Ótima forma de começar um relacionamento.
– Porque você é meu par? – ela disse – qualquer um na Grifinória é melhor que você. – eu olhei para ela e me lembrei do que Rony disse.
– Acho que sou mais sortudo que você. Pelo menos não precisei fazer par com Crabbe ou Goyle. Eles com certeza são piores até que eu.
– Puxa, até você sabe disso? – ela respondeu sarcástica – acho que o titio Snape fez essa tarefa para que eles não fossem reprovados... se bem que o Goyle vai fazer par com o Weasley... coitado.
– Coitado é do Rony, isso sim – eu protestei – imagina, você fazer par com alguém que é tão burro que...
– Não precisa descrever o tipo de experiência que eu vou ter, Longbotton.
Eu fiquei quieto. Olhei para ela. Ela estava me ofendendo. Ok, o Snape me ofendia todos os dias. O Malfoy me ofendia várias vezes (mas na verdade, ele queria era ofender o Harry por andar comigo). Mas eu não ia deixar que ela me ofendesse. Reagi com a primeira coisa que me veio à mente.
– Você acha que eu estou muito contente por fazer par com uma garota que tem um nariz de porco?
Até o mais obtuso dos seres humanos, no caso, eu, pode saber quando toca na ferida aberta de alguém. A expressão de Pansy mudou de tal forma que eu me senti mal. Foi como se aquela máscara de indiferença superior tivesse se quebrado em mil pedacinhos. Ela botou a mão sobre o nariz, e desviou o rosto para o outro lado, evitando me olhar. Eu tentei dizer alguma coisa, mas nem eu nem ela conseguíamos sequer nos encarar. Ela não disse nada, só saiu correndo da sala de pesquisas.
Porque eu tinha que bancar o esperto? Isso não dava certo comigo e eu sabia. Lá fui eu atrás dela, porque, afinal de contas, eu já tinha tudo contra mim. Não ia acrescentar mais o detalhe da minha parceira de trabalho me odiando. Eu a alcancei no fim do corredor, bem na virada para a masmorra. Ela estava quase chorando.
– Desculpa! – eu disse.
Melhor não repetir aqui o que ela respondeu. Eu a segurei para que não fugisse e disse:
– Me desculpa, Pansy. Eu não queria dizer que você tem um nariz de porco – ela tentou se desvencilhar furiosa, ainda com a mão no nariz – mas você também não tinha nada que me tratar daquele jeito, pombas. Você nem me conhece.
Ela parou de repente e me olhou. Era verdade. Em cinco anos estudando juntos, não havíamos trocado mais que cinco palavras. E nenhuma delas fora gentil. Ela tirou a mão do nariz, ainda desconfiada.
– Vamos fazer a pesquisa – respondeu, me cortando. Creio que ela achou melhor passar a conversa para um plano meramente de trabalho. Melhor assim.
Voltamos para a sala. Nenhum dos dois trouxera sequer um livro. Nem eu nem ela éramos exatamente brilhantes. Nenhum dos dois imaginara um ponto de partida decente para aquela pesquisa, isso era um fato. Sentamos cada um num lado da mesa e ficamos ali, como dois idiotas, um sem olhar na cara do outro. De repente, ela me perguntou:
– Eu tenho mesmo nariz de porco?
Eu pensei por um instante. Não era uma resposta fácil. Se eu dissesse que ela tinha, com certeza ela iria me odiar. Se eu falasse que não, estaria mentindo. Se eu não dissesse nada... aaargh. Eu tinha que responder.
– Hum... sabe a Emília Burlstrode?
– Hein?
– Emília, Sonserina. Sua amiga.
– Isso eu sei. O que ela tem a ver com o meu nariz?
– Bom, o dela é bem mais feio que o seu.
– Grande coisa. Até o Crabble é mais bonito que ela.
– Droga. Dá para a gente pular essa história de nariz?
– Eu acho meu nariz horroroso.
– Ok, eu concordo contigo, se é isso que você quer! – eu disse. Essa história de nariz já tava enchendo o saco. Ela me deu um olhar feio e eu emendei – Brincadeirinha, brincadeirinha!
– Isso é um pesadelo. E o semestre está só começando.
– Escute – eu disse – você podia olhar para mim? – Pansy me olhou. Ela não era mesmo feia. Eu me senti muito cretino por ter dito aquilo. – Você me acha bonito?
– De jeito nenhum. Você tem cara de bolacha.
– Pronto. Estamos quites, não?
– Tem uma diferença.
– Qual?
– Você não liga. É um sujeito sem amor próprio.
– Quem disse que eu não tenho... amor próprio?
– É claro que não tem! Você fica bajulando a Granger o tempo TODO. É óbvio que ela nunca vai querer nada contigo.
– Grande coisa... nem a Emília Bulrstrode vai querer nada comigo! A Luna Lovegood não quer nada comigo!
-    Você tentou namorar a maluca?
­– Não, pô, é só um exemplo. E ela não é maluca... só tem uma... personalidade excêntrica.
-    Ah, imagino...
-    E perto da Emília Burlstrode, a Luna parece uma fada encantada!
-    Ela gosta do Goyle!
-    A Luna? Coitada! Ela é maluca, mas nunca achei que chegasse a tanto!
-    Não, sua besta, a Emília!!!!
– Sério? – eu devo ter feito uma cara muito estranha, porque ela caiu na gargalhada. Logo nós dois estávamos rindo.
Devo dizer que não fizemos pesquisa, e nem tivemos idéia nenhuma naquele dia. Acabamos falando a tarde toda dos outros. Não, não falamos com falsidade. Não disse nada sobre o Harry, por exemplo, que eu não pudesse falar na frente dele. Inclusive o defendi, quando ela quis falar mal dele:
– O Harry não é metido, nem seboso. Você não o conhece. Não fale dele assim, ele é meu AMIGO. Você só fala assim dele porque não o conhece. Ele é um cara, sei lá, admirável. Ele me ensinou a conjurar um patrono. Você entendeu? PA-TRO-NO! Depois das aulas de DA, no ano passado...
–    Aquilo foi um absurdo! Vocês deveriam ter sido expulsos!
–    Ah, sim, eu vi seu esforço para isso!
–    Era a minha obrigação! Eu sou monitora! Eu e o Draco só queríamos...
–    Como você pode adorar tanto aquela... coisa?
– Quem te disse isso?  – Pansy arregalou os olhos, como se eu tivesse descoberto algo muito secreto sobre ela.
–Precisa dizer? Até eu já percebi isso... e olha que eu sou um cara leeento, você mesma disse isso ainda há pouco.
–Mas... mas... – ela pôs a mão sobre o nariz.
 É, eu sou lento mas vejo as coisas. Entendi logo o porquê daquela preocupação.
– Ele não gosta do seu nariz?
– Não sei. Ah, Longbotton... o nosso horário de pesquisa acabou.
– Pois é... e a gente não teve a mínima idéia para o projeto...
– E daí? É só a primeira reunião.
– E na próxima aula? O que a gente vai dizer? O professor Snape me odeia, lembra?
– Então, esperteza, deixa tudo comigo. Eu sou da Sonserina. Snape protege quem é da Sonserina. Eu falo com ele. Nós dois sobrevivemos.
Por algum motivo, eu adorei esse raciocínio. Isso significava me livrar do Snape! Eu tinha que dizer à Pansy que ela tivera a melhor idéia do dia. Mas não tive coragem. Fiquei quieto, como sempre.
O meu grande alívio na aula seguinte é que ninguém estava mais avançado que nós. Inclusive o Harry e o Malfoy haviam caído no tapa logo no primeiro encontro, que acabou com a velha ameaça de morte da parte do Malfoy. Francamente, com o pai em Azkaban, o que ele achava que podia fazer contra o Harry? Rony tinha dado um jeito de adiar seu primeiro encontro com o Goyle, e a Hermione parecia positivamente deprimida:
– Neville – ela me disse – aquele imbecil não sabe nem fazer uma poção de tingir roupas! Como vamos criar algo juntos?
Tá, eu jamais direi a Hermione que nem desconfio como se faz uma poção de tingir roupas. Isso me fez ver que, pelo menos, eu havia quase me entendido com meu par. Na hora de comentar o desempenho da dupla, Pansy disse para o professor:
– Nosso primeiro encontro foi produtivo, Senhor Snape, mas ainda estamos pensando em algo realmente original. O senhor sabe, esse tipo de idéia não surge de uma hora para outra.
Claro, ele não se deixava enganar tão facilmente. Era o velho Snape, lembram? Se aproximou de mim e perguntou:
– E você, senhor Longbottom, o que diz?
– Di-dizer? – eu me odeio quando gaguejo – eu.. er.. ela já disse tudo, não? – o professor me encarou com aquele brilho malvado lá bem no fundo dos olhos. E disse, não disfarçando o próprio sadismo:
– Percebo que o senhor quer se aproveitar da boa vontade da senhorita Parkinson, como se aproveitava da Senhorita Granger... como se aproveitou das... amizades de sua avó. – já disse a vocês o quanto eu adoro o Professor Snape quando ele resolve ser “o ser mais injusto deste mundo”? – Pois bem, senhor Longbotton, eu estou com os dois olhos atentos e pregados no senhor... esse é um trabalho em dupla. Não tente evitá–lo. Nada vai poder salvar o senhor desta vez. Sua avó não tem poder sobre o avaliador dessa vez!
No fim da aula, ele se dirigiu à turma e disse, de forma seca, que na próxima aula computaria o primeiro ponto de dez possíveis para a tarefa. Tínhamos que apresentar uma idéia inicial de poção, caso contrário, esse ponto só poderia ser recuperado com uma apresentação brilhante que valesse um dez. A turma engoliu em seco. Essa história de duplas pelo menos me fez um  bem: agora o resto da turma estava tão apavorado quanto eu. Me sentia confortado por essa idéia.
Quando encontrei Pansy na sala de pesquisa, levando alguns livros de herbologia, ela parecia bem mais receptiva que da primeira vez. Ela precisava tanto de mim quanto eu dela. Ficamos folheando livros, e de vez em quando um falava alguma coisa, que o outro rechaçava:
– Por que não fazemos algo com meu sapo? Podíamos fazer uma poção para fazê–lo arrotar bolhas de sabão.
– Longbotton, por favor, não seja ridículo. – eu me calava. Logo depois ela dizia:
– E se a gente criasse uma poção para abrir feridas?
– Alô? Você tem certeza que conhece nosso querido professor? Ele experimentaria uma coisa dessas na gente, ou melhor, em mim. E jogaria o antídoto fora! – Pansy riu. Confesso que era muito legal ver uma garota rindo para mim, pela primeira vez. Tá. A Luna às vezes ria para mim... mas a risada da Luna dá um certo medo. Eu juro que vi gente rindo exatamente do mesmo jeito no St. Mungos. E Hermione, a quem eu adoraria fazer rir, não costumava rir quando eu fazia esse tipo de comentário, e sim me olhar expressão penalizada.
– Você exagera, Longbotton.
– Neville.
– Hã?
– Você pode me chamar de Neville, Pansy. – ela riu.
– Tá bom. Mas acho que você dramatiza, sabia? Se faz de vítima.
– Eu não!
– Faz sim! – ela disse – a sua cara de pânico é muito gozada! Mas você fica feliz: isso faz a Granger reparar em você.
Eu fiquei vermelho. Odeio ficar vermelho. Porque meu rosto é redondo e eu sei que fico com uma cara de tomate terrível. Pansy riu muito.
– Pansy... eu não faço nada para Hermione reparar em mim... ela é minha amiga.  Pansy fez uma cara de desdém.
– Você queria que ela gostasse de você. Mas é claro, ela deve gostar do Potter, como todas as garotas da sua casa. Nem bonito ele é!
 –Ah, lindo é o Draco, né? Com aquela cara de macarrão sem molho e o pai preso em Azkaban. Imagina que graça o Draco vai ser quando crescer...ah, eu me esqueço, vocês, garotas, amam os Bad Boys...
– Seu invejoso! O Draco é...
­– Ele é um saco. O sujeito mais mané que eu já conheci! Depois das aulas de DA até EU bato ele num duelo!
– Isso não é verdade!
– Não? Já viu quem são os amigos dele? Pessoas que ele pode comprar. E quando o pai dele estava por cima da carne-seca ele sempre fez questão de...
–    Que droga! Por que a gente tinha que cair junto nesse trabalho? Por quê?
Subitamente percebi que aquilo estava de novo caminhando para o desastre. Respirei fundo e disse:
–    Pansy, vamos combinar uma coisa?  – eu puxei um pergaminho e escrevi:

“Malfoy” ­–“Granger” ­–“Potter”–“Weasley” –“Luna Lunática Lovegood”

– Essas são as palavras banidas por aqui, o que acha? Não vamos mais falar disso, que tal? A gente sempre briga quando fala disso.
– Ok. Mas prometa não falar que eu tenho nariz de porco.
“Nariz” – acrescentei no pergaminho. Ela ficou olhando pensativa. De repente seu rosto mudou. Quase enxerguei uma lanterninha acendendo em cima de sua cabeça. Ela olhou pra mim, riu, e olhou para o pergaminho dizendo:
– Como eu não pensei nisso antes! É perfeito! Neville, você é o máximo!
– Eu? O que eu fiz?
– Você me deu “a” idéia, olhe – ela me mostrou o pergaminho. Francamente, não vi nada demais escrito ali. Olhei para ela tentando parecer que tinha percebido algo, mas ela viu eu simplesmente não havia “captado” nada.
– Neville, você não percebeu nada?
– Hum... deveria?
– Olha só. Porque você acha que eu tenho nariz de porco?
– Herança de família?
– Não! Como você é tapado! Eu tenho esse nariz horrível porque nunca pude consertá–lo, oras!
– Não?
– Não! Se pudesse eu já tinha mudado há séculos! Eu só poderia  com um feitiço, e isso só se pode fazer depois que estamos formados
–    Se feitiço só depois da maioridade, porque poderíamos fazer uma poção?
– A legislação permite poções modificantes antes dos 17, contanto que feitas com supervisão
–    Tá... e porque você nunca usou uma poção?
– NEVILLE, SEU SURDO, EU DISSE QUE NÃO EXISTE POÇÃO PARA ISSO!!!!!
–    Aaah! Eu disse. ­– Pansy... essa idéia é muito legal, então.
–    Dã! Seu lerdo, era isso que eu dizia.
–    Tá, tudo bem, a gente pode tentar começar hoje – eu disse e puxei meu livro de Herbologia.
–    Você tem alguma sugestão?
–    Vamos ver que ervas podem tornar pele humana maleável...
–    Neville – ela me disse – eu queria que você lesse só uma coisa antes... – ela puxou um livro e disse, orgulhosa: – Veja! Meu avô o escreveu.
Eu olhei a capa. O nome era “Lições para quem quer fazer poções”, por Ebenezer Parkinson
– Puxa, que útil, Pansy... seu avô devia ser um gênio.
    – Ele era sim. Foi monitor da Sonserina e professor em Hogwarts. Ele ensinava poções aqui na época que o professor Snape era aluno.
–    Reconfortante.
–    Ah, abre na página 14. – eu abri e li, um texto pequeno, que dizia o seguinte:

**
“A Poção perfeita sempre vai congregar quatro coisas: elementos orgânicos (animais e/ou vegetais), elementos físico–químicos (água, minerais, fogo, choques térmicos) e muita boa vontade e método para sua elaboração. Mas, para que a poção se torne uma poção e não meramente uma fórmula ela deverá conter, essencialmente, algum elemento mágico, seja sob a forma de ingrediente ou mesmo encantamento. Caso contrário, até os trouxas fariam poções.”
**

–    Eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira.
–    Ninguém tinha – disse Pansy, com uma ponta de orgulho – só o meu avô.
–    Bem... eu cuido dos tais elementos orgânicos, e você, vai pensando num jeito da gente colocar algo mágico que não faça seu nariz ficar mais... – ela me olhou de um jeito muito feio – mais bonito que deve – eu disse, e o olhar dela não melhorou. – O que a gente tinha que ter feito hoje, foi feito. Na próxima aula a gente pelo menos garante o primeiro pontinho!
–    Isso aí – ela disse, confiante.
Pela primeira vez, EU também estava confiante. Mas, é claro, estava bem enganado. E desta vez, não era nem culpa minha. Quando entrei na sala, havia um silêncio mortal, e o professor Snape parecia muito absorvido, anotando algo num pergaminho. Era estranho isso, porque pelo que eu soubesse, todo mundo tinha arrumado uma idéia para apresentar. Mesmo Hermione e Rony, apesar de Crabbe e Goyle. Foi quando eu vi que o professor havia escrito uma extensa lista de itens no quadro, sobre a qual havia um título:

NÃO SERÃO ACEITAS POÇÕES QUE:
Envolvam outras pessoas se apaixonando pelo autor (poções de amor)
Provoquem dor, medo ou mal estar
Evitem caspa, seborréia ou outras dermatites
Mudem a coloração de cabelos, mesmo para os tons mais exóticos
Mudem a cor de plantas ou animais
Façam quem a beber levitar
Emagreçam ou engordem instantaneamente
Envolvam ingredientes tais como: sangue de dragão, unha de manticora, bico de hipogrifo, pó de cauda de esfinge e outros cuja arroba custe mais que 18 galeões...


A lista continuava com muitos itens, e eu estava quase aliviado porque nenhum deles parecia envolver narizes que parecem focinhos de porco. Foi quando eu li o último item:
... Provoquem mudanças de aparência em quem a tomar.

Essa não. Ele conseguira mais uma vez. Ele nos tirara, com uma simples lista, o direito a conseguir o primeiro ponto do semestre. Devo admitir que ele se superara. Quando ele viu que a turma inteira já se encontrava presente, disse:
– Então? Estou esperando a primeira dupla me apresentar a seu projeto de  poção.
O silêncio o respondeu. Ele fez uma cara bastante sádica e disse:
– Será possível que toda uma turma, com tantas cabeças pensantes, não conseguiu se livrar de todo tipo de idéia MEDÍOCRE que envolve uma simples poção? Vamos ver... Potter, o que você e o senhor Malfoy haviam idealizado? – Harry suspirou. Agora era a vez dele ser humilhado.
–    Nós tínhamos imaginado uma poção para tingir corujas – ele disse, olhando para baixo.
–    É mesmo? Que coisa mais interessante. E de que cor o senhor tingiria sua bela coruja branca? Cor-de-rosa? Verde, para combinar com seus olhos?
Em outras circunstâncias, os outros sonserinos estariam gargalhando. Só que todos nós estávamos desta vez no mesmo barco. Snape ia perguntando para todos que eram da Grifnória o que a dupla havia pensado, tendo o prazer de humilhar cada um de nós e sua idéia. Foi quando ele me viu:
– Deixe-me pensar. Você imaginou uma poção para extrair as verrugas da pele do seu sapo.
– Não – sem gaguejar. Se soubesse que seria assim, teria tido a idéia de elaborar uma poção que me fizesse grande, forte e frio suficiente para esmagar a cabeça do professor como uma noz. Ele parecia ignorar meu olhar zangado e disse:
– E qual foi, meu jovem, a brilhante idéia que com certeza a senhorita Parkinson teve e você simplesmente acatou? – Pansy pôs a mão sobre o nariz e baixou os olhos, e finalmente eu me toquei que não podia dizer qual a finalidade da poção que havíamos imaginado. Seria horrível para ela.
– Eu odeio minha cara grande e redonda – disse, sem pestanejar – Sugeri que fizéssemos algo para melhorá–la, senhor!
– É mesmo? Esta aula é para poções, meu jovem. Não para milagres – ele disse, tornando à sua mesa.
O resto da aula foi a tortura de sempre. A turma começaria inteira com um ponto a menos; e só se recuperariam as duplas que fizessem algo realmente interessante para apresentar. Ele aproveitou para dizer que não queria mais saber que tipo de poções cada dupla  faria. Aquela Mise-em-scéne toda fora só para dizer quais as poções que não deveríamos escolher, mediante  uma punição, e de forma mais injusta possível, claro.
Quando nos encontramos de novo, Pansy e eu discutimos feio.
– Por que você falou aquilo? – ela gritou
– Porque você estava com a mão no nariz, eu não queria dizer para a turma toda que você odiava esse seu  nariz de porco, oras!
– Ah, é? E tinha que dizer que a idéia tinha sido sua.
– Que diferença faz? Ele achava a idéia péssima do mesmo jeito! Agradeça, ele te acha menos medíocre graças a mim!
– Eu não sou medíocre!
– Não é isso que eu estou falando. Olha – eu estava furioso, e não sabia que podia ficar assim – eu queria muito fazer esse trabalho com a Mione, sabia? Ela sim é minha amiga, e com certeza não é filha de algum seguidor do Você-Sabe-Quem, como todo mundo da Sonserina... –Pansy parou e ficou pálida.
–    Do que você me chamou?
–    Eu... eu...
– Longbottom, que espécie de idiota você é? Você sabe REALMENTE sobre o que está falando? Eu... eu.... ah, que droga! Sim, meu pai foi um seguidor de Você-sabe-Quem... e ele desapareceu no final do semestre passado, logo depois que o Ministério admitiu a volta... dele. Ele achava que a volta do Lord das Trevas ia melhorar as coisas para “os bruxos de verdade”. Cresci ouvindo isso dentro de casa. Então puf! Minha mãe agora não sabe se ele está vivo ou morto, e não tem  com quem falar, porque se ela for conversar com alguém do Ministério... bem, eles vão achar que ela também é assim, o que não é verdade. Ela sempre foi contra, e eu cresci com os dois brigando por causa disso... Se quer saber, meu pai já foi TARDE. Espero mesmo é que ele não apareça nunca mais, mesmo que tenha ouvir daqueles que sempre chamei de amigos que meu  pai deve ter feito alguma coisa errada, ou o “mestre” não daria um sumiço nele.
As últimas palavras foram cortadas por soluços e lágrimas. Ela saiu correndo e me deixou ali. O que eu podia fazer, me digam? Eu nunca pensei que, além de fazerem os outros sofrerem, Comensais da Morte pudesse fazer as suas famílias sofrerem ainda mais. Acreditei que ela me odiaria para sempre. Quase pensei em fugir de Hogwarts. Quem sabe um navio trouxa quisesse um ajudante? Eu ainda podia tentar estudar numa escola trouxa, fazer um curso de mecânica por correspondência...enfim, pensamentos nada bonitos dançavam na minha mente, porque eu achava que estava totalmente ferrado, agora que nem parceira eu tinha.

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