AS FÉRIAS DE LUC EM HOGWARTS
Hogwarts inteira mergulhou num sono profundo aquela tarde, e só despertou muito depois, no dia seguinte, faminta. Apenas Luccas Lux e Dumbledore permaneceram conversando, o guerreiro curioso em saber como era a vida mil e duzentos anos depois de sua época. Ficara sentado numa poltrona na sala de Dumbledore por horas, emitindo a luminosidade fraca que emitia em momentos de repouso.
Dumbledore resolvera alguns assuntos naquele dia, antes de retornar a Hogwarts: entregara ao ministério os comensais da morte remanescentes e comunicara as mortes de Cornélio Fudge, Lúcio e Narcissa Malfoy, assim como a de Atlantis Fischer, e a que daria dor de cabeça com o Ministério Americano: Igor Zimmerman. Conversara com Silvia e Lupin sobre os dementadores e comunicara também ao caótico Ministério remanescente que eles já não eram confiáveis, mas que a grande maioria tinha sido deportada para o reino das fadasombras. Houve um ligeiro pânico a respeito disso, ninguém sabia o que substituiria os dementadores, mas ele pediu um prazo para conseguir uma alternativa. Enquanto isso, os presos seriam isolados por um feitiço de impedimento muito potente. Além de tudo que fizera, Dumbledore aproveitara as circunstâncias para reabilitar e inocentar Draco Malfoy, que foi reintegrado ao corpo da Escola.
Também foi a Londres comunicar de forma muito prosaica (usando um telefone) a John Van Helsing que sua filha se encontrava sã e salva em Hogwarts. Pediu a ele que viesse buscá-la no dia seguinte e comunicou também a morte de Atlantis, sabia que eles haviam se tornado amigos.
Dumbledore também dera um rumo seguro a Voldemort, que ninguém nunca soube exatamente qual foi. Ele apenas comunicou seu desaparecimento e mostrou a varinha dele como prova que ele agora estava realmente despido de todo poder. O que ele realmente manteve em segredo foi o lugar ermo e incivilizado onde soltara a cobra que era a portadora dos poderes mágicos dele, não em sua totalidade, mas no que ele tinha de mais maligno. Ele ficou observando a cobra esgueirar-se pela mata virgem e disse:
‒ Adeus, Nagini... esqueça que teve um mestre um dia.
Depois que a escola despertou, ele avisou sobre o funeral de Atlantis, que seria no dia seguinte e pediu a todos que fizessem, cada um a seu modo, uma prece pelo bruxo que sacrificara a vida por Hogwarts. Harry sentiu um bolo na garganta, e pela primeira vez desde que tudo começara, ele pensou em Willy, distante dele e sem saber da morte do pai.
Atlantis teve mais homenagens que qualquer bruxo que já morrera defendendo Hogwarts. Foi enterrado com sua varinha nas mãos, como todo grande bruxo, Dumbledore a recuperara de Voldemort quando o levara embora. John Van Helsing, que viera buscar Sue, olhou o esquife do bruxo descendo à sepultura e disse:
‒ Não é justo, amigão... ainda havia muitos vampiros marroquinos para matarmos juntos.
Um clima de luto e tristeza caiu sobre Hogwarts naquele dia, todos sentiam a morte de Atlantis, mesmo estando feliz porque a escola estava salva. Foi neste clima que Draco e Sue se despediram:
‒ Draco... eu queria dizer...
‒ Não diga. Eu sei o que você vai dizer. Sue, eu preciso ficar só, está bem?
‒ Mas...
‒ Não é você. Eu ainda te amo. Mas preciso me encontrar antes de encontrar você novamente. – Ele pegou o queixo dela com a mão direita, erguendo-o para que ela o encarasse – Eu prometo que vou te encontrar na hora certa. Agora vá.
Ela foi embora, sentindo o coração ficar pequenino enquanto se afastava de Hogwarts. Quando o trem de Hogsmeade fez a curva, deixando o povoado para trás, finalmente ela desabou nos braços do pai e chorou. John Van Helsing acariciou os cabelos da filha, era bom que ela chorasse.
Lupin e Silvia também ficaram na escola alguns dias. Então no último dia, quando passeavam pelo jardim ele perguntou:
‒ Não é hora da nossa relação se tornar mais séria?
‒ Você nunca quis ir comigo para o mundo das fadas... – ela fez um muxoxo.
‒ Silvia... eu tenho um emprego, e sei quanto me custou conseguí-lo. Preciso deste emprego.
‒ No mundo das fadas não precisaria.
‒ E que lugar eu teria lá, Silvia? Um grande lobisomen deslocado. Vou te dar duas opções: Case-se comigo, ou me deixe.
‒ Bem... já devem ter te dito que eu sou esquisita... que eu me distraio e perco a noção do tempo... eu nunca pensei que fosse do tipo que se casa. E eu gosto de ir para o mundo das fadas...
‒ Isso é um não?
‒ Não? Não!!! É um sim do meu jeito.
Ele sorriu. Amava o jeito maluco da meio-fada.
Os dias foram passando e a presença do guerreiro da luz aos poucos começou a mudar o clima em Hogwarts. Era impressionante a capacidade dele de adaptar-se. Agora, falava como um jovem contemporâneo, não usava mais a linguagem antiquada de quando despertara. O que o aproximou dos estudantes, e principalmente, das estudantes. Se ele não tivesse sido tão importante para Hogwarts, talvez logo teria arrumado problemas com alguns rapazes, que não toleravam o jeito galante dele. Livre da malha de aço, que trocou por uma veste comum, Luc começou a explorar a escola. Guardara as armas, mas parecia nem pensar em deixar o colégio ou voltar a dormir. Nos primeiros dias, pedia ajuda às meninas(nunca, nunca mesmo aos rapazes), para que o ajudassem a andar pelo castelo, pois afinal de contas, ele não podia enxergar e queria ajuda até conhecer bem os corredores. Cada dia, pedia ajuda a uma “guia” diferente. Aproveitava para comentar o perfume de cada menina
Hermione, que no entanto não suportava o guerreiro, era “Cheiro de Sândalo”, Gina, “Caramelo e Baunilha”, Padma e Parvati, “Orquídea” e “Jasmim Silvestre”, até as professoras pareciam derreter-se quando o rapaz aspirava o perfume de seus cabelos e dizia que cheiravam como alguma flor ou doce. Assim, Profª Minerva era: “Erva Selvagem”, Madame Pomfrey “Alfazema” e Madame Sprout “Terra molhada de chuva”. Ele realmente chegou bem perto de arrumar um problema com Sirius ao chamar Sheeba de “Mel e Pêras Frescas”. Mas antes que esse dissesse qualquer coisa, o guerreiro falou:
- Por favor, Cão ao Relento... entenda que são apenas elogios.
Fídias, o dragão, passava os dias brincando do lado de fora, quem passava por perto às vezes assustava-se ao sentir o calor que o Dragão emitia. Às vezes viam o Dragão e o Guerreiro fazendo brincadeiras assustadoras um com o outro, dava a impressão que iam acabar se matando. Eventualmente, Hagrid participava destas brincadeiras. Uma tarde muito fria, a professora Minerva olhou pela janela e ficou chocada. Luc estava mergulhando completamente nu no lago de Hogwarts. Mesmo admitindo-se que o rapaz era adorável, ele passara da conta.
‒ Senhor Lux... Devo exigir que o senhor vista-se imediatamente.
‒ Ora, Erva Selvagem... eu não nado neste lago há mil e duzentos anos... doze séculos! Você sabe o que são doze séculos?
A professora olhou ao redor embaraçada, principalmente ao notar que algumas moças estavam curiosíssimas na janela do segundo andar, coladas ao vidro e cochichando entre si, como passarinhos.
‒ Senhor Lux... o senhor está nu.
‒ Claro que eu estou nu. Queria que eu nadasse de armadura?
‒ Mas as moças...
‒ Elas estão olhando? Que ótimo. Será que elas não querem nadar também?
‒ Senhor Lux... está um frio glacial.
‒ Eu não sinto frio, Erva Selvagem... esqueceu que eu sou um guerreiro da luz?
‒ Eu sei... mas as meninas... isso não é... decente.
‒ Então porque a senhora está aqui fora olhando?
A professora saiu embaraçadíssima e foi retirar as garotas da janela. Ele emitia calor e não sentia frio? Não nadava há doze séculos? O problema não era dela... mas não ia permitir que as moças o vissem nu, isso não. Mais tarde, quando ele entrou, enrolado em uma toalha imensa, riu ao ouvir o burburinho das garotas, olhando para seu belo corpo de torso nu e pele muito branca. Foi para seus aposentos rápido. Era melhor não abusar da hospitalidade da escola...
Ao contrário de quase todos os homens da escola, Harry gostava de Luc. Sabia que o rapaz estava apenas aproveitando depois de passar doze séculos enterrado, esperando uma batalha que durara um dia e uma noite, e ninguém devia se enganar, não fora fácil para ele. Agora não havia mais errantes. Mas Harry achou-se na obrigação de conversar uma coisa com Luc.
‒ Luc – Harry chamou-o num domingo pela manhã. O rapaz estava sentado numa poltrona da sala da Grifnória. Por algum motivo, ele podia andar pela escola inteira, ao chegar diante de qualquer passagem, já sabia a senha e se queria, simplesmente entrava. Naquele momento estava de olhos fechados e parecia pensar.
‒ Olá, Escama. – Ele disse sem abrir os olhos – por acaso você tem algo grave a me dizer? Algo que você viu na ruína dos corvos?
‒ Como você sabe?
‒ Lembra que eu lhe disse que ouvira os planos dos trevosos? Eu sei o que eles pretendiam fazer. Acordar o Sombrio, inimigo do meu povo desde sempre. Posso não enxergar, mas ouço muito bem.
‒ E quem é o Sombrio?
‒ É uma história muito comprida, Escama... quer ouvir?
‒ Eu preferia que você me chamasse pelo nome.
‒ Eu não chamo ninguém pelo nome. Mas no seu caso vou abrir uma exceção, Harry – ele sorriu e abriu finalmente os olhos negros – você que impediu que eles libertassem o sombrio. Livro Guardado me disse.
‒ Livro Guardado é Dumbledore? – o Guerreiro concordou com a cabeça e começou a narrar sua história:
‒ Meu povo não morreu, Harry, não morremos neste mundo, somos imortais aqui. Não enxergar este mundo é o preço que pagamos por ser imortal nele. Só morremos no nosso reino, que se fechou para sempre para o mundo dos homens no dia que eu saí. Eu sou o último neste mundo. Estou aqui desde antes da era da magia. Bruxos primitivos me invocaram e eu vim. Mas meu povo me avisou que estávamos afastados dos homens mortais, porque eles haviam ofendido os primeiros de nós que estiveram por aqui.
‒ O que eles fizeram?
‒ Isso importa?
‒ Na verdade não.
‒ Eu fui chamado para combater o Sombrio. Mas eu sou jovem para um de meu povo, e ele era muito velho. Então, eu sabia que ele era muito mais forte que eu. Não teria condição de derrotá-lo. Usei então minha astúcia, que às vezes vale mais que força, e o atraí para uma armadilha. – o rapaz sorriu- ele ficou furioso quando percebeu, mas era tarde. Não sei se hoje ele está mais forte ou mais fraco que eu... não me interessa saber, se um dia ele sair de lá, descubro.
‒ Voldemort disse que saberia libertá-lo.
‒ Não se preocupe com o trevoso... Livro Guardado deu um jeito nele.
‒ E se um dia ele voltar?
‒ Você estará pronto para combatê-lo. E se ele libertar o Sombrio, terá minha ajuda.
‒ Você vai voltar a dormir?
‒ Depois de doze séculos debaixo da terra? Só se fosse louco. Agora eu preciso viver de novo. Sinto saudades das coisas que ainda não fiz. Voar pelos lugares que não conheço, amar uma mulher, sentir o sol das terras quentes batendo na minha pele. Este mundo é muito bom, vocês, os mortais, deviam aprender a amá-lo mais.
‒ E você nunca amou ninguém?
‒ Talvez esteja aprendendo agora.
‒ E porque você precisou ser separado das armas e de Fídias?
‒ Porque era a única forma de conseguirmos repousar. Juntos temos tanta energia que passaríamos pelo menos mil anos acordados.
‒ Acho que você me disse tudo que eu queria saber.
‒ Mas não disse tudo que você precisa ouvir. Lembra que eu disse que você cheirava também a amor perdido?
‒ Lembro.
‒ Não sofra por isso. Aconteça o que acontecer, não sofra.
Ele levantou-se e Harry viu ele rumar para onde estava Hermione. Harry pensou: “Rony não vai gostar disso...”
‒ Olá, Cheiro de Sândalo...
‒ Olá. – Hermione foi lacônica, era a única garota em toda a escola que não parecia caída pelo Guerreiro.
‒ Eu recebi uma proposta. Aceitá-la ou não, depende do que você vai me dizer agora.
Hermione olhou para ele, ligeiramente aborrecida.
‒ Não entendo do que você está falando...
‒ Eu posso ir embora daqui para sempre ou ficar. Depende do que você vai me dizer agora: Cheiro de Sândalo... você realmente ama aquele garoto que cheira a tacho enferrujado?
Hermione ficou vermelha, Luc pôde sentir o calor do rubor que chegou às faces dela e um sorriso maroto apareceu nos lábios do Guerreiro.
‒ Então, Cheiro de Sândalo? Responda.
‒ Amo. Amo muito.
‒ Era o que eu queria saber - ele ficou sério – Adeus, Hermione. – Ele virou-se e saiu, ao passar por Harry disse: - Minhas férias acabaram, Escama.
Harry só entendeu o que acontecera horas depois quando Rony apareceu com uma coruja e a notícia:
‒ Acabou a reunião do ministério, Harry. Meu pai me mandou uma coruja... eles decidiram duas coisas: primeiro: já sabem quem vai cuidar de Azkaban.
‒ Azkaban não havia desaparecido?
‒ Eles a fizeram ressurgir, deu trabalho, mas está de volta no mesmo lugar. Eles já tem um carcereiro, nenhum ser das trevas vai conseguir passar por ele. O Guerreiro da luz.
A proposta. Era isso. Luc resolveu aceitá-la porque Hermione lhe dissera não... e ele mandara ele não sofrer por amor...
‒ Qual é a outra notícia?
‒ Meu pai é o novo ministro! Precisamos comemorar isso!
Harry arregalou os olhos. Isso era realmente algo a ser celebrado. Harry levantou-se para cumprimentar Rony e viu o dragão de luz afastando-se pelo céu, o Guerreiro se fora.
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