TROCA DE ALMAS
Na Ruína dos Corvos, Voldemort falava com Harry em língua de cobra. Os Comensais da morte permaneciam em silêncio.
‒ Eu gostei muito de ter seu sangue em minhas veias, Harry Potter. Agora, você tem muito de mim e eu tenho muito de você. Não posso saber o que vai na sua mente, mas pude sentir cada poder oculto que há em seu sangue. Eu havia percebido isso em seu pai, mas não tão de perto como em você. E você ainda tem a fibra de sua mãe... alguém capaz de morrer por um objetivo é sempre mais forte do que pode parecer. Eu gostaria de ser... você.
‒ Eu?
‒ Sim, poder ter dezessete anos novamente, renascer num corpo jovem. Este corpo em que renasci pode ter poder, mas não vai me livrar da decadência física... e eu já estou neste mundo há setenta anos. É hora de mudar de roupa. É hora de voltar a ser jovem. Eu vou possuir seu corpo – Ele riu malignamente.
‒ Eu não vou permitir.
‒ Quem disse que sua autorização é necessária, Harry? Antes eu preciso morrer em parte, o que é arriscado, mas depois de despir meu velho corpo de todo o poder que adquiri, eu estarei pronto para trocar de lugar com você, e forte o suficiente para matá-lo em meu corpo. Vou guardar meus velhos poderes em um lugar seguro, com um portador. Quando eu sair de Hogwarts na sua pele, eles serão meus novamente. Eu não vou perder tempo. Falta apenas uma hora para o amanhecer. Quando o galo cantar, eu serei Harry Potter, e serei um herói por ter matado Lord Voldemort. - Ele começou a rir, ainda sibilando em língua de cobra
‒ E seus seguidores?
‒ Não precisarei mais deles. Vou deixá-los para trás. Farei novos, mais jovens, mais fortes e menos burros.
‒ Não acredito. Homens como você sempre se cercam dos medíocres. Não conseguem lidar com ninguém que não lhes seja inferior sem sentir-se ameaçado. – era um custo manter um duelo verbal contra Voldemort, agora que a dor era insuportável, mas as palavras vinham automaticamente à boca de Harry.
Voldemort chamou os seus seguidores. Eles se aproximaram e desamarraram Harry, prendendo-o pelos pulsos a duas colunas, de costas para Voldemort, que começou uma invocação em uma língua estranha. Aos poucos seus olhos iam diminuindo, perdendo o formato de olhos de cobra, um nariz ligeiramente adunco foi surgindo no lugar do nariz de cobra em forma de fenda, a pele foi tornado-se menos lisa e a boca voltou a ser uma boca de homem, seus cabelos embranqueceram e ele voltou definitivamente à aparência que teria se fosse Tom Riddle aos setenta anos. Mas Harry não lhe via o rosto, apenas sentia que a medida que o bruxo se despia de poder a cicatriz ia doendo menos.
Harry sentiu que alguém tocava sua testa e era a mão de Voldemort, agora totalmente humana, a mão de um homem velho. Ouviu então um zumbido e sentiu que tudo escurecia, os Comensais da morte cantavam juntos uma canção que o entontecia... sentiu que sua alma ia ser afastada de seu corpo e ele morreria. Mas havia algo a fazer. Ele resistiu. Manteve os olhos abertos, não trocaria de alma com Voldemort de graça, já resistira a um feitiço Imperius. A cicatriz ainda doía, mas era quase uma dor suportável. Concentrando-se, Harry lembrou-se de pedir ajuda a Dumbledore, conservar a fé nele. Mentalizou fortemente, pensando no velho bruxo e em Fawkes. Lembrou-se então de que tinha a mesma força de sua mãe, e sentiu que podia resistir mais.
Um estrondo fez a mão de Voldemort sair de sua testa bruscamente, ele sentiu que o bruxo caíra atrás dele e sentiu a perplexidade dos Comensais da morte: algo no ritual não estava funcionando. Harry ouviu Voldemort gritar que o erguessem e sentiu que o bruxo tentava tocá-lo no mesmo lugar, mas foi novamente atirado longe.
Foi quando viu irromperem pelas diversas portas que cercavam a construção os bruxos que vinham em seu socorro, seus amigos. Os comensais da morte começaram a correr, não era apenas o mestre que não tinha tanta consideração com eles... agora que ele se despira de seu poder, eles tinham mais medo dos bruxos que enfrentariam que do mestre. Harry começou a imaginar para onde havia ido o poder de Voldemort, perscrutando com os olhos, foi quando Rony apareceu do seu lado e disse:
‒ Vou te soltar, sabe onde está sua varinha?
‒ Não, me solte rápido! – Draco e Hermione davam cobertura a eles, ele viu alguém se arrastar pela sua frente, seguindo a cobra negra que pertencia a Voldemort para fora do salão e disse:
‒ Aquele é Voldemort! – Rony acabou de soltar um dos braços dele e ele puxou o outro, olhou para o lado e viu que Hermione acabara de pôr fora de combate Sibila Trelawney, Voldemort desaparecera em algum lugar nas sombras e ele começou a procurar sua varinha.
‒ Deve estar com ele, vou pegá-lo.
‒ Não vá sem sua varinha – disse Draco, derrubando um comensal da morte ele também. Mais adiante, Sirius parecia sentir falta de alguém, e disse qualquer coisa a Lupin antes de se transformar em cão e sumir por uma porta lateral. Silvia e Neville estavam conjurando cordas fortíssimas nos comensais da morte que eram postos fora de combate.
Harry saiu pela porta lateral por onde Voldemort saíra e Draco o seguiu, Rony ia mais atrás. Os três corriam pela floresta, Harry tentava escutar a voz da cobra para localizar Voldemort, mas provavelmente ela estava longe, já. Ele não podia perder Voldemort desta vez, não agora que ele estava tão fraco.
Ele não viu que alguém puxava Rony para trás de um arbusto, e continuou correndo. Achara que escutara a voz da cobra, quando ela surgiu sobre o peito de Draco, mordendo-o no ombro. Pulara sobre ele do alto de uma árvore. O garoto gritou e Harry parou. Alguém o pegou pelas costas.
Do outro lado do pavilhão, Sirius saíra transformado em cão atrás de Rabicho, sentia seu cheiro, ele escapara como rato, novamente, mas dessa vez não fugiria, ele não iria permitir, ia alcançá-lo, antes que ele estivesse longe. Viu o rato correndo na direção das colinas de Hogsmeade, pensando se ele o alcançaria, então, viu que ele se transformava em homem, para tentar lançar um feitiço em Sirius. Ele se escondeu rapidamente atrás de um arbusto, rosnando, transformou-se em homem e gritou:
‒ Pedro, acabou. É a última vez, seu mestre não está aqui para te proteger.
‒ Você não vai me pegar, de novo, Sirius, eu vou escapar.. você não tem coragem de usar um feitiço proibido em mim... o mesmo não se pode dizer de mim.
‒ Não aposte. – Sirius saiu de trás de um arbusto, mas o que ele viu o fez estancar. Rabicho não percebia a presença de um dementador bem atrás dele, se aproximando rapidamente. Provavelmente Voldemort os protegera contra a presença deles, mas não contra...
‒ Então Sirius? Quem vai morrer? – Rabicho ergueu a varinha, pronto para lançar-lhe um feitiço, mas duas mãos fortes o prenderam e viraram-no, apavorado.
Sirius virou o rosto. Mesmo ele, que era muito forte, não desejava de forma alguma assistir ao beijo de um dementador.
Artêmis vampirizada tentava agora atacar Rony, que lutava contra ela, mas estava difícil, porque a vampira era muito forte e ele não tinha nada ali que pudesse combatê-la, nada para conjurar em prata. Tentava gritar para que Silvia, Lupin, Neville ou Hermione viessem em seu socorro, podia vê-los no salão, já não havia mais comensais da morte soltos. Mas não adiantava, a única coisa que podia fazer era se esquivar da mordida enquanto conseguisse. Foi quando algo parou a vampira, que o soltou. Ele viu Caius Black segurando os braços dela.
‒ Desculpe, garoto, era para eu a ter pego a mais tempo...
‒ Foi você que...?
‒ Foi, foi... eu estava há uns dias enterrado, estava faminto. Pelo menos não era um pescoço amigo, é melhor que vampirizar um de vocês, concorda? Eu vou levá-la daqui. Está quase amanhecendo. Agradeça ao meu irmão, diga que pelo menos por enquanto eu estarei bem, mesmo sem alma. Diga a ele que vou voltar a Nova Iorque. Um dia quem sabe eu tente salvar a minha alma. Adeus, garoto
Ele evanesceu como névoa, levando Artêmis e deixando Rony perplexo.
‒ Ele vai morrer, Harry... em alguns minutos. Eu posso salvá-lo, basta você concordar.
Harry vivia um dilema. A cobra mordera Draco e o mantinha imobilizado, enquanto ele morria pelo seu veneno. Harry via nos olhos de Draco o medo da morte, o garoto no entanto estava mudo, enquanto o veneno se espalhava pelo seu sangue.
Harry fechou os olhos e ia abrir a boca para concordar quando ouviu uma coisa que fez o seu coração bater mais rápido. Os primeiros raios de sol surgiam no horizonte e ele viu que uma fênix se aproximava rapidamente, trazendo Dumbledore suspenso, segurando entre suas asas. Era Fawkes. Voldemort se agitou e disse a Dumbledore, assim que ele pousou:
‒ Não se atreva, Alvo... ou você me enfrenta, ou cura o jovenzinho que está morrendo ao seu lado... escolha.
‒ Onde você colocou, Riddle? Onde está o poder que te fazia menos humano?
‒ Não lhe interessa.
‒ Se você o descartou, é porque queria trocar de corpo com Harry... você o colocou nesta cobra? Dumbledore olhou para Draco com uma calma impressionante, parecia que não se importava com o menino morrendo. Então, para a surpresa de Harry, Dumbledore ergueu a varinha na direção da cobra e disse:
‒ Caminos Aeros – a cobra desapareceu, feitiço de teleportação. Fawkes voou para cima de Draco e Voldemort gritou:
‒ Não! – apontou a varinha para Dumbledore, mas este foi mais rápido
‒ Obliviate!
Harry sentiu que as mãos de Voldemort se afrouxavam. A dor em sua cicatriz desapareceu subitamente. Dumbledore disse então a ele:
‒ Não pergunte depois sobre isso, está bem Harry? – E desaparatou junto com Voldemort. Harry arregalou os olhos e olhou em volta. Atrás dele sua varinha estava caída no chão. Ele viu Draco erguer-se conforme a fênix chorava sobre sua ferida e perguntar:
‒ Onde diabos eles foram?
‒ Acho que nunca vamos saber. Está se sentindo melhor?
‒ Bem melhor – Draco acariciou o pássaro que agora estava pousado sobre seu ombro. – Onde compramos uma dessa, Harry?
‒ Bem, acho que nem tudo se compra... parece que elas preferem escolher o dono. – Harry se deu conta que pela primeira vez desde que conhecera Draco, este o tratava pelo primeiro nome.
‒ Que pena... eu adoraria ter uma destas. Será que acabou?
‒ Para nós talvez, mas temos que voltar a Hogwarts, precisamos ver o que aconteceu por lá.
Eles se reuniram rapidamente aos outros, no pavilhão, Lupin e Silvia disseram que iriam ficar vigiando os comensais da morte para que não fugissem. Harry e Draco se juntaram a Neville, Rony e Hermione e foram procurar Sirius. Encontraram-no vigiando o que sobrara de Pedro Pettigrew.
‒ O que foi isso? – Perguntou Rony, apavorado com a aparência de caveira do homem, que ainda assim estava vivo.
‒ Beijo de dementador. Belo fim... – Sirius olhava para o homem. Já não havia raiva. Talvez apenas mágoa com aquele que um dia fora seu amigo, quase um irmão. – Vamos deixá-lo aí. Não vai a lugar algum assim, mesmo.
‒ Sirius – Rony disse sem graça – seu irmão, ele... foi embora.
‒ Caius foi embora?
‒ Foi. Ele agradeceu o interesse e tudo mais... mas disse que está bem assim. Levou Artêmis com ele. Ela, bem, ela virou vampira. Ele disse que estava faminto... vai voltar para Nova Iorque.
‒ Caius. Sempre volúvel. Mudando de idéia de uma hora para outra. Está bem. Vamos voltar para Hogwarts. Todas as vassouras estão aqui?
Rumaram rapidamente pelo céu para as torres de Hogwarts, Fawkes voando atrás deles. Lá embaixo viam a batalha que Luc travava com os errantes, mas ele já havia matado tantos que era impossível imaginar como ele não estava exaurido. Mas o guerreiro da luz permanecia lutando, sem demonstrar cansaço algum, sem derramar uma gota de suor, suas vestes não tinham traço de sangue, ele sequer se arranhara. Era óbvio que ele era infinitamente mais forte que todos os vinte mil errantes juntos. Eles desceram a escada da torre e quando chegaram ao salão, os que lá estavam pediram, ou antes imploraram, que os ajudassem a conservar o escudo pois todos ali estavam exaustos. Eles também não estavam muito melhor, mas procuraram juntar-se a eles, unindo suas forças conseguiriam sustentar o escudo até que a sentinela terminasse o trabalho.
As horas se escoaram, lenta e inexoravelmente como se fossem uma grande tortura para todos, o feitiço ficava cada vez mais difícil de ser sustentado. Eles sentiam uma agonia de fome, cansaço e sono, partilhada por todos os alunos e professores de Hogwarts. Fawkes voava pelo salão, cantando para dar ânimo a eles, como a acender a esperança em seus corações, os que saíam do círculo maior, onde os bruxos revezavam-se, caíam exaustos pelos cantos, dormindo ali mesmo, no chão. Até que quando o sol começava a morrer no horizonte, as portas de carvalho de Hogwarts se abriram e Alvo Dumbledore passou por elas, ao lado de Luccas Lux.
‒ Acabou – ele disse – não há mais errantes e o mestre das trevas foi derrotado.
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