FIDIAS E LUC
Harry sentiu uma dor percorrer sua testa, e pôs a mão sobre ela. Draco olhou para ele intrigado:
‒ O que houve?
‒ Não sei. Uma dor rápida.
‒ Será que o sujeito está por perto?
‒ Não, foi diferente. – Harry calou-se e os dois voltaram a ficar em silêncio. Continuaram descendo pela passagem ampla. Draco então perguntou, hesitante:
‒ Você me odeia, Potter?
‒ Não exatamente. Mas não posso dizer que goste de você.
‒ Eu acho que só vou consertar o que fiz salvando sua vida... por aqui parece que as pessoas resolvem as coisas dessa forma.
‒ Não foi culpa sua. Você foi usado.
‒ E o idiota aqui nem notou.
‒ Eu também não notaria, se fosse você. Porque afinal de contas você fez o vodu?
‒ Não ria. Era a única forma de ir a Nova Iorque encontrar Sue.
‒ Eu não vou rir. Não tem graça.
‒ Exatamente. O sujeito que foi meu professor era um deles...disse que pôs algo no boneco para açular o ódio entre nós.
‒ Isso não vem ao caso, Malfoy, esqueça.
‒ Te garanto que eu não vou esquecer nunca.
Chegaram ao fim da descida. Era um lugar amplo, escuro e frio, meio quilômetro abaixo da terra. Era tão escuro que nem com as luzes das varinhas conseguiam enxergar nada. Não dava para saber onde estava o tal dragão. Só ouviam seu ressonar, agora estrondoso
‒ Muito bem – disse Harry – eu não me lembro se no livro monstruoso dos monstros eles ensinam a acordar dragões... mas creio que não...
‒ Primeiro temos que achar onde está o dragão, não é mesmo?
‒ Vamos pelo som – o ronco do dragão soou potente em algum lugar adiante. A câmara parecia alta e larga demais. Eles foram andando, até que bateram em algo como uma pedra cinzenta e bem lisa.
‒ Acho que não é aqui... – Disse Draco. Vamos tentar do outro...
Uma nesga de luz azulada apareceu na pedra ao seu lado e ele deu um pulo. Ele e Harry aproximaram as varinhas com cuidado e perceberam que a pedra era na verdade a cabeça do Dragão, que dormia encostado à parede. A luz azulada viera de um olho que ele quase abrira.
‒ Como você gosta de ser acordado, Malfoy?
‒ Aí é que está, eu odeio ser acordado. Gosto de dormir até ter vontade de levantar.
‒ Hum, eu também. Como vamos fazer esse bicho ter vontade de levantar? Ele está dormindo há mil anos e não parece disposto a acordar...
‒ Ele não foi posto aqui para esperar? Temos que dizer a ele que a espera acabou.
‒ E ele vai entender?
‒ Não sei. Onde será o ouvido dele? – os dois se aproximaram da cabeça do Dragão, que estava oculta nas sombras, procurando algo como uma orelha. Então, Harry disse:
‒ Se ele é fiel como disse Locky, então o certo é falarmos de seu dono. Mas qual é o nome do guerreiro? Não importa... ei, Dragão - Harry disse com suavidade – acho que está na hora de você acordar, seu dono precisa de você... dragão bonzinho
‒ Chamá-lo de bonzinho é meio idiota, não acha?
‒ Cala a boca, Malfoy. Tem uma idéia melhor? – Harry virou-se para ele e quando virou a varinha, viu que sua luz passou por uma inscrição na parede oposta. Ele mostrou a Malfoy e ambos levantaram-se para lê-la, iluminando um pedaço de cada vez. Harry ia murmurando conforme lia:
‒ Fidias, dragão da raça da luz, filho de Atlas e Maraoni, nascido na sétima Lua, no ano em que os homens trouxeram ao mundo o último guerreiro da luz... – Harry notou que conforme ia lendo, parecia que a inscrição ficava mais fácil de ler, como se a câmara estivesse sendo iluminada. – Fidias, pertencente a Luccas Lux, o último de sua raça sobre a Terra, deverá despertar quando a sombra dos errantes cobrir a ... – Harry sentiu que Draco o cutucava e percebeu que agora a câmara estava realmente iluminada. Virou-se para dizer alguma coisa mas levou a mão aos olhos, uma luz resplandecente o cegava.
O Dragão estava acordando, e Draco percebera isso antes dele. Mas ambos demoraram alguns minutos para conseguir olhar direito para ele. Mesmo para quem não achasse dragões e monstros maravilhosos como Hagrid, olhar para um dragão como aquele era fascinante. Enquanto estivera dormindo, estava cinzento e escuro, conforme estivesse apagado. A inscrição que Harry lera o acordara e ele fora iluminando-se aos poucos, a partir dos olhos, que eram azuis e redondos, francos e leais. Depois, a fronte do dragão, que tinha um chifre dourado e uma placa óssea na frente da cabeça da mesma cor, iluminou-se e seu chifre começou a brilhar, ele levantou o pescoço longo e flexível como de um cisne e sacudiu a cabeça, a luz foi descendo pelo pescoço e atingiu o tronco, onde se abriram amplas asas brancas e translúcidas, suavemente luminosas como todo ele, por fim, ele ergueu-se sobre as quatro patas e iluminou-se de um todo, sacudindo da cabeça à cauda, deixando os dois rapazes boquiabertos.
O Dragão encarou ambos com uma expressão de dúvida impressionante. Harry sorriu e ele sorriu de volta. Abriu a boca num bocejo, tomando o cuidado de bocejar na direção oposta a que estavam, lançando no ar uma chama azul. A temperatura da câmara subira pelo menos dez graus. O Dragão voltou a olhar para eles como que perguntando porque o haviam acordado. Harry pensou em dizer alguma coisa, mas o que falar para um dragão?
‒ Fidias? – Perguntou Harry. O dragão sorriu, parecia reconhecer o próprio nome. – Precisamos levá-lo para seu dono...
‒ Você já viu dragão rindo alguma vez? – sussurrou Draco
‒ Nunca - respondeu Harry – Fídias, como vamos sair daqui? – O dragão apontou com a cabeça algo atrás deles. Era um sela com arreios. O dragão mansamente deixou-se selar e ambos montaram na sela ampla, Draco atrás segurando as vassouras dos dois.
‒ Isso parece divertido. Eu nunca montei um dragão antes. Vamos, Fídias – Draco disse. O Dragão andou até o início da rampa, então bateu as asas imensas e eles começaram a subir voando, a luz se espalhando à sua passagem. Ao passarem por Locky, o cadeado ficou gritando:
‒ Boa sorte Fídias! Lembranças a Luc.
Draco e Harry viam que lá embaixo era possível divisar os campos iluminados pela luz do dragão, que voava muito depressa, em alguns minutos sobrevoavam Hogwarts, e a visão lá debaixo não era das melhores. Os errantes já haviam cercado o castelo, e por onde olhavam, viam a vegetação morta à sua passagem. O sorriso morreu nos lábios de ambos. Não sabiam que dentro do castelo, as pessoas viam o dragão já gritando, a esperança se acendendo no coração de todos. Sheeba sorriu pensando: “Harry conseguiu”.
Precisaram elevar-se acima das nuvens para atravessar Hogsmeade. Eram tantos dementadores a cercar a cidade que nuvens a cobriam, estava nevando como se fosse inverno. O Dragão passou por Hogsmeade e começou a descer vagarosamente. Harry viu com alegria os vultos de Sirius, Rony, Hermione e Neville lá embaixo. Sentiu falta de Atlantis, mas alegrou-se ao perceber, conforme se aproximavam, o fascínio de todos pelo Dragão. Saltaram e ele disse:
‒ O nome dele é Fídias. Onde está Atlantis?
‒ Não sabemos – disse Sirius preocupado. – Já era para ele ter libertado o guerreiro. Algo não vai bem.
O Dragão aproximou-se da porta da capela e tocou-a com o chifre. Esta se abriu e eles viram uma pessoa parada à porta. Carregava um corpo inerte. Ele avançou na direção deles. Era um rapaz alto, de ombros largos, mas de aparência realmente muito jovem. Usava uma cota de malha, tipo de roupa de metal trançado, que lhe cobria todo corpo, inclusive a cabeça, apenas o rosto pálido estava de fora. Usava uma túnica igualmente branca por cima, com um escudo negro com um dragão prateado na frente. Avançava em passos lentos e depositou o corpo no chão. O corpo era de Atlantis. Ele estava morto.
Harry reparou então uma coisa no rapaz. Seus olhos eram negros, mas o fundo das pupilas era baço e cinzento. Ele não enxergava. Era cego. Começou a falar:
- Este homem perdeu a vida por tocar na minha pedra tumular. Mas não foi culpa dele. Um outro, que sei que era trevoso, pois foi expelido, tirou sua varinha e ele precisou sacrificar a vida para me libertar... Depois que tudo acabar, ele merece uma homenagem. Vós sois os guerreiros. Sinto pelo seu cheiro que sois todos confiáveis, embora sinta cheiro de culpa naquele que cheira como água de charco em uma tarde fria – ele pôs a mão sobre o ombro de Draco – continuou avançando – O que cheira a leite azedo esqueceu novamente de lavar atrás das orelhas, - ele tocou Neville – E tu cheiras como um cão que dormiu ao relento – ele apontou Sirius – este atrás de mim cheira a tacho enferrujado – era Rony - e tu, a escama de dragão cozida e a amor perdido... – Disse para Harry - Só esta senhorita cheira maravilhosamente bem – ele aspirou o ar profundamente à frente de uma assustada Hermione – Orvalho da manhã e sândalo.
Rony olhou o rapaz indignado. Se ele não fosse salvar Hogwarts dos errantes, com certeza teria sido atacado. Mas recomeçou a falar:
‒ Se fui desperto, é porque precisam de mim na planície. Apenas para manter-me informado... por quantos anos estive morto para o mundo?
‒ Mil e duzentos – Disse Sirius
‒ Muito bem, meu nome é Luccas Lux, mas podeis chamar-me apenas Luc. Quem libertou os errantes está adiante cercando uma cidade Eu posso ouvi-los. Convém para o bem de seus habitantes, que vós combateis os trevosos que lá estão espalhando o terror... os que cheiram a frio de túmulo precisam ser combatidos com mais cuidado... Mas vós tereis ajuda, sinto o cheiro da fada e do lobo que já estão na cidade... melhor apressar-vos. Eu seguirei logo meu rumo, não há tempo para ser perdido.
‒ Você vai combater os errantes sozinho? – Draco perguntou abismado. Ele vira os errantes, eram muitos, mais que poderia conceber.
‒ Estive esperando por este dia debaixo da terra por mil anos, Água de Charco. E mesmo que quisesse ajuda não poderia tê-la. Apenas eu e Fídias somos capazes de tocar os errantes sem sermos mortos. Por favor, minha arma e escudo. Sinto neles o cheiro de erva madura e fonte da montanha... espero que estejam bem. – eles entregaram as armas do rapaz, que começou a brilhar assim que tocou nas armas, e andou sem hesitação na direção do Dragão, que abaixou-se gentilmente para que seu dono subisse à cela. Ele acenou ligeiramente para todos, que o olhavam sem saber o que dizer.
‒ Não perdei tempo. O lobo e a fada precisam de vós!
O dragão abriu as asas e alçou vôo, levando Luc na direção de Hogwarts. Todos entreolharam-se cheios de perguntas, mas aquele não era o momento de respondê-las. Sacaram as varinhas e começaram a pensar no que fariam.
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