MISSÕES E REVELAÇÕES.
Sirius olhava as montanhas no horizonte, pensando no que encontrariam quando chegassem lá. Ele, como adulto, sentia-se responsável por Rony, e ao mesmo tempo preocupava-se com Harry e os outros, principalmente com Harry. Ele não entendia porque o chapéu seletor o colocara junto com Draco, justamente o sujeito que fizera um vodu contra ele... mas Draco revelara-se capaz de ser confiável ao avisar a Dumbledore que os errantes estavam vindo. Sirius lembrava-se intimamente do ódio que ele e Lúcio Malfoy sentiam um pelo outro na época que eram estudantes em Hogwarts. Um ódio de família, porque as famílias Black e Malfoy eram inimigas desde muito, pois eram os maiores comerciantes bruxos da Inglaterra, rivais desde sempre.
Como professor, sempre lutara contra a aversão que sentia por Draco, mas agora, que sabia que Lúcio Malfoy estava morto, graças à sua burrice, e que arrastara para a morte a própria mulher, não podia deixar de sentir uma certa simpatia por Draco, afinal, ele agora era também um órfão, como Harry, e com certeza quando a tormenta passasse e ele se desse conta que estava só no mundo, iria precisar de ajuda.
Mas a visão da montanha, espanou estes pensamentos da sua cabeça. Era necessário descobrir em que ponto achariam a fonte, e principalmente, o que deveriam enfrentar para conseguir obter a espada do guerreiro. Olhou a bússola, que brilhava intensamente, os muros de Hogwarts já haviam ficado bem distantes, era hora de descer.
Chegaram ao sopé da montanha, e começaram a percorrer o caminho pela vegetação a procura do que seria a fonte. Haviam acendido luzes na ponta de suas varinhas, mas ainda assim a tarefa era bem difícil, talvez demorassem horas e horas para acha-la.
Hermione e Neville também procuravam o lugar que Dumbledore havia descrito, uma casa com um jardim, e isso podia parecer mais fácil de achar que uma fonte numa montanha, mas estava bastante escuro lá embaixo. Hermione julgou ver uma fumaça no horizonte e mostrou a Neville. Realmente parecia haver uma chaminé de uma casa em algum lugar mais adiante, logo depois de uma área de floresta não muito densa, eles viram um rio lá embaixo, um rio que vinha das montanhas ao Norte depois passava próximo a Hogsmeade. Logo depois da margem dele, eles pousaram, pois havia uma pequena estradinha. Foram andando por ela até que chegaram a um lugar bizarro.
Talvez aquilo fosse um jardim, mas não parecia... Neville segurou o braço de Hermione, não deixando que ela avançasse ainda. As plantas que formavam o jardim ele conhecia muito bem. Nenhuma delas podia ser considerada exatamente amigável. O jardim tinha entradas por várias alamedas. Ele observou-as e disse:
‒ Veja: aqui tem visgo do Diabo. Se seguirmos por ali, ele pode nos pegar. A alameda do centro está cercada por casulos jibóia, está vendo suas flores?
‒ Sim, disse Hermione. Aquelas flores que se jogam sobre um homem e o enrolam, encasulando-o e matando por sufocação, certo?
‒ Exatamente. Olha a alameda do canto: Aquelas são papoulas de sono... o perfume dela adormece qualquer um por dias... temos que decidir qual a menos ruim de usar.
‒ O que você acha, Neville?
‒ Pelo que eu sei, o visgo do Diabo é o mais previsível, basta a gente conjurar um fogo e ele não vai se aproximar, certo?
‒ Acho que é a melhor opção.
Draco e Harry neste momento haviam achado também o seu objetivo. Quando Dumbledore dissera “montaria”, ambos haviam concebido um cavalo em suas mentes... mas talvez não se tratasse disso. A porta da tal caverna onde a criatura estava supostamente adormecida tinha uns bons doze metros de altura e mais de vinte de largura e estava cerrada com uma grande portão de ferro, fechado por um cadeado do tamanho de uma mala, que no lugar do buraco de fechadura tinha um rosto adormecido. Draco olhou para Harry e perguntou:
‒ Você já viu um destes antes?
‒ Nunca. Eu já vi portas falantes, mas cadeado é o primeiro. Acho que vamos ter que acordá-lo.
‒ Ei, companheiro. - Draco sacudiu a fechadura, que chacoalhou com um barulho metálico e abriu um par de olhos furiosos:
‒ Você não tem sensibilidade, garoto??? É assim que acorda o guardião da montaria??? Quem são vocês e o que querem?
‒ Estamos em missão – disse Harry - precisamos acordar a montaria. Os errantes foram libertos.
‒ Ah, eu sabia que um dia meu sossego ia terminar... se vocês usarem esta delicadeza para acordar a montaria estarão mortos antes que digam ai... e não é tão simples assim passar por mim... vão ter que responder uma pergunta corretamente.
‒ Isso não é hora de charadas... porque você não deixa logo a gente passar? – Draco disse mau humorado.
‒ Seu amiguinho é muito apressado, garoto – a fechadura comentou com Harry, ignorando Draco. – São as regras. Fechaduras vivas sempre seguem as regras – Harry pensou em Doorperson, a porta falante de Sheeba. Realmente, ela era cheia de regras e padrões.
‒ Faça a pergunta então, cadeado. – Disse Harry com paciência.
‒ Pode me chamar de Locky.
‒ Ok, Locky.
‒ Muito bem, para passar por mim devem descobrir o que aguarda no fundo da galeria para ser desperto. Vocês terão três dicas e três tentativas... primeira dica: São ótima companhia em dias frios, principalmente se você tem uma lareira apagada. O que acham que pode ser?
‒ Não podemos ouvir todas as dicas antes de tentar? – perguntou Harry
‒ Perdeu a primeira tentativa
‒ Viu a besteira que você fez, Potter?
‒ Ora, cale a boca, Malfoy... você também não disse nada que se aproveite ainda.
‒ Se os dois começarem a brigar, adormeço novamente e adeus montaria – ameaçou Locky.
‒ Está bem – disse Harry dando um olhar atravessado para Malfoy – diga a segunda dica.
‒ A montaria é feroz e perigosa, mas seu coração é fiel. Se conquistarem o coração dele, terão sua amizade para sempre... mas fiquem longe de suas ventas e boca, seu sorriso pode ser perigoso.
‒ Já sei! É um cachorro. Cachorros são muito fiéis, são peludos, ótima companha para quem sente frio. – Draco disparou confiante.
‒ Você já viu algum cachorro rindo, garoto? Dê adeus a segunda tentativa – Harry apenas olhou para Draco, que baixou a cabeça envergonhado.
‒ Terceira dica – disse Locky – e a mais importante: não tentem acordá-lo fazendo cócegas.
Subitamente Harry lembrou-se de um ditado que ouvira em algum lugar... como era mesmo? “Nunca faça cócegas num...
‒ Dragão adormecido! – Disseram ao mesmo tempo ele e Draco. Eles se olharam espantados.
‒ Você conhece esse ditado? – Harry perguntou
‒ De onde você acha que meu pai tirou meu nome?
‒ Vocês dois são muito engraçados – disse Locky – podem passar, e lembrem-se bastante da segunda e da última dica.
O cadeado se destrancou e eles passaram pelo gigantesco portão de metal que se abriu.
Enquanto isso, Sirius e Rony, depois de seguir um riachinho, finalmente chagavam à fonte deste, esculpida em forma de rosto numa pedra. Um rosto zangado. Atravessada dentro da boca do rosto de pedra, sobre sua língua, estava a espada. Sirius se aproximou e olhou o rosto de frente. Tinha uma desconfiança.
‒ Vamos pegar a espada – disse Rony. Sirius segurou o braço que ele estendia e disse:
‒ Não desta forma, veja. – Ele pegou um galho e estendeu na direção da boca da escultura. A boca se fechou, quebrando o galho com uma mordida. Olhou com a cara zangada para Sirius.
‒ Aiaiai... murmurou Rony – Como vamos tirar a espada sem ter o braço arrancado?
A cara da fonte olhou-o com um sorriso malicioso. Os dois se entreolharam e Sirius respondeu:
‒ Dumbledore disse que deveríamos contornar a ira da criatura.
‒ Como se contorna a ira de alguém?
‒ Veja a posição da espada... ela está solta dentro da boca da fonte...
A fonte tinha a boca semicerrada, realmente, a espada estava solta lá, se a fonte abrisse um pouco mais a boca, talvez ela saísse. Subitamente Sirius lembrou-se de uma coisa. Quando alguém ouve algo muito engraçado quando está comendo ou bebendo alguma coisa, acaba cuspindo o que tem na boca. Ele entendeu porque deveriam “contornar o mau humor” . Precisava descobrir o que aquela criatura achava engraçado. Só uma gargalhada funcionaria. Ele olhou para Rony, que normalmente era um garoto muito engraçado.
‒ Eu sei um jeito de resolvermos nossa situação, Rony... – ele disse, dando um tapa nas costas de Rony que fez o garoto cair com a cara dentro da água que a fonte jorrava. Ele levantou-se furioso e disse:
‒ Você ficou maluco, Sirius?
‒ Fiquei, Rony... completamente insano... vou pegar você e colocar numa poção de encolhimento – o garoto ficou apavorado, Sirius avançou na sua direção com uma cara de maluco, e ele começou a gaguejar:
‒ Si-Sirius, sou eu, Rony, le-lembra?
‒ Eu não sou Sirius, garoto... Eu sou um monstro...
Sirius prestava atenção na fonte, que ia se interessando pelo que estava acontecendo... imaginou que alguém mau humorado acharia graça em alguém numa situação de medo ridícula como a que ele estava botando Rony. Ele prosseguiu:
‒ Tive uma idéia melhor... vou encolher apenas algumas partes do seu corpo... advinha por onde vou começar?
‒ SOCORRO! – Rony gritou e a fonte deu uma gargalhada, expelindo a espada longe, muitos metros adiante. Rony ficou trêmulo, e Sirius correu até a espada, e deu uma olhada triunfante para a cara da fonte, que parecia zangada e perplexa
‒ Obrigada, Rony, e desculpe se te apavorei. – Sirius disse olhando para Rony, que tremia ainda um pouco, mas começou a rir.
‒ Tudo bem, Sirius... tudo bem. Pelo menos temos a espada.
Hermione e Neville haviam avançado por dentro do Jardim, que na verdade era um labirinto de alamedas, sempre cercado por plantas perigosas. Os conhecimentos de Neville ajudaram muito para que eles pudessem se defender de cada planta. Finalmente, atingiram o ponto central e deram de cara com uma casinha minúscula. Um ser esquisitíssimo estava sentando na porta dela, sobre o escudo. Era feio demais. Tinha uma boca rasgada de orelha a orelha, e dentes enormes, projetados para frente, seu corpo era longo e suas pernas curtas, os braços arrastavam no chão. Ele olhou os dois com um par de olhos pequenos e pretos, bem juntos no meio da face larga, entre os quais havia um nariz comprido e pontudo... era um elfo jardineiro, espécie de variedade de elfo doméstico, um pouco mais rebelde.
‒ O que vocês querer?
‒ O escudo que está com você.
‒ Golias não dá escudo. Mestre deu pra Golias guardar muito tempo atrás. Golias só dá escudo para mestre.
‒ Este escudo não é seu, Golias – disse Hermione, no seu típico tom mandão. Viemos pegá-lo para seu mestre.
‒ Mestre sumiu muito tempo atrás. Golias ficar cuidando de jardim... fez jardim bonito, cheio de plantas bonitas.
‒ Golias – começou Neville, para a surpresa de Hermione – Eu sei uma planta que falta no seu jardim...
‒ Não falta planta nenhuma no jardim de Golias.
‒ Eu não vi nenhuma savarina cinzenta...
‒ Golias não conhecer esta planta.
‒ Uma planta forte... se Golias quiser, eu troco o escudo pelas sementes... – Neville pôs a mão no bolso da veste tirou umas sementes cinza claras.
‒ Eu não quer trocar... o que fazer savarina cinzenta?
‒ Na verdade não faz nada... mas seu chá é mais gostoso que chá de visgo do Diabo... não estou vendo nenhuma planta boa aqui para fazer chá... e tem um bule ali. Você gosta de chá?
‒ Golias gostar de chá, mas plantas que dá bom chá não crescer no jardim de Golias... ter medo das plantas bonitas de Golias.
‒ O que me diz da troca? A savarina cinzenta é uma planta que não tem medo de nada...
‒ Golias querer então. Mas dar a semente primeiro.
‒ Não. – Disse Hermione, antes de Neville – se ele te der as sementes você ainda assim não vai dar o escudo. Ela vira isso nos olhinhos maus do elfo– O elfo olhou feio para ela e disse:
‒ Então não ficar com sementes e vocês perder escudo.
‒ Eu vou fazer melhor – disse Neville, indo até o lugar onde havia um vaso sem plantas. – Vou plantar a savarina aqui e fazê-la crescer. Ele enfiou algumas sementes na terra, pondo o corpo entre ele e o duende, que não via o que estava acontecendo, e fez um pequeno feitiço que Madame Sprout ensinara a ele para crescer plantas... as sementinhas começaram a germinar. O duende se levantou e foi olhar, esquecendo o escudo. Hermione viu e pegou-o rapidamente.
‒ Peguei, Neville! – O duende começou a imprecar e Hermione disse:
‒ Foi uma troca justa. Você tem uma planta e nós temos o escudo.
Quando saíram de lá Hermione perguntou a Neville porque estava com sementes no bolso:
‒ Você sabe como eu esqueço de tudo... comprei essas sementes em Hogsmeade para plantar na estufa e as esqueci no bolso.
‒ E elas dão mesmo um bom chá?
‒ O gosto não é bom, mas é ótimo para quem sofre de lumbago. Eu estava plantando para minha avó.
Atlantis já chegara também ao seu objetivo há algum tempo, com relativa facilidade, mas a cripta do guerreiro era profunda, ficava metros abaixo da entrada, uma pequena capela mortuária, atras de uma colina, um quilômetro além de Hogsmeade. Ele vira os comensais da morte reunidos no cemitério, e mais de trezentos dementadores cercando toda cidade. Imaginou os moradores em suas casas paralisados de medo e sentiu o peso de sua responsabilidade em despertar o guerreiro. Estranhamente, não havia reconhecido Voldemort entre aqueles bruxos, tinha uma descrição da aparência que ele assumira, bem diferente da visão que tivera dele em sua infância, sabia que ele não estava no cemitério, mas em algum outro lugar.
Ao pousar na frente da capela, comparou o símbolo do pergaminho com o que via esculpido no portão de pedra. Eram idênticos. Enrolou o pergaminho e com ele tocou o símbolo escavado na pedra. A porta se abriu e ele entrou. Queria fechar a porta da capela e não conseguiu. Olhando ainda um pouco apreensivo para escuridão da noite atrás de si, resolveu descer as escadas que desciam do centro da capela. Lembrou-se que Dumbledore dissera que uma vez acordada a sentinela, o mal seria afastado. Melhor não perder tempo. Assim que começou a descer os degraus de pedra, uma sombra moveu-se silenciosamente atrás da colina e veio na direção da capela.
Conforme ia descendo as escadas, Atlantis sentia pensamentos desconexos invadirem sua mente: “Não, não vá, o guardião não pode ser desperto... você vai morrer Atlantis Fischer... nós somos a voz da revelação... não avance... nós vamos te enlouquecer...”. Atlantis parou um segundo. Sabia do que se tratava. Era um tipo de feitiço para confundir a mente, devia estar ali para afastar eventuais curiosos e mal intencionados, era preciso manter claro na mente seu objetivo.
“Atlantis... você não quer recordar o nome de seu pai?” – Atlantis procurou ignorar o que a voz repetia incessantemente, ele sabia quem era seu pai, era Aristóteles Hemerinos, o homem que o criara com amor e acreditara nele, apoiando-o quando todos o haviam virado as costas. O homem que ensinara a ele como se transformar em animago. Sabia que Hemerinos era seu pai, não sabia o motivo porque ele sempre negara, mas tinha essa certeza.
“Hemerinos não é seu pai, Atlantis... pela simples razão que ele era o pai de sua mãe... ele era seu avô.”
‒ Calem-se ! – Atlantis perdeu o controle. Aquilo estava afetando seus nervos. Ele começou a correr escada abaixo, tinha que atingir logo o túmulo da sentinela. A escuridão o envolvia e ele escutava o eco de seus passos, então, depois de algum tempo, ele não soube dizer quanto, chegou a uma sala escura.
‒ Lumos! – Ele disse. Viu uma sepultura coberta por uma pedra branca como a neve, e duas tochas nas paredes, onde conjurou fogo. Ergueu a varinha para afastar a pedra, mas ela saiu subitamente de suas mãos.
‒ Expeliarmos – ele ouviu uma voz dizer atrás dele. Virou-se para ver Voldemort pela segunda vez na vida. O bruxo estava parado no fim da escada. Olhava-o com os olhos vermelhos e um sorriso na boca de cobra – Quanto tempo, Atlantis. Você mudou.
‒ Não adianta, Voldemort, você não vai me impedir.
‒ Atlantis... você não quer recuperar a sua antiga aparência e voz?
‒ Eu não quero nada que venha de você, monstro.
‒ Mas você tem muito mais vindo de mim que pode imaginar...
‒ Eu não tenho mais seis anos, Voldemort. Você não vai me enganar como quase conseguiu fazer quando eu era uma criança. Você pode até me matar, mas antes eu vou libertar a sentinela.
‒ Você nunca soube porque o feitiço de decapitação de Sarina falhou, não é mesmo? Nem porque o seu feitiço da memória desmemoriou Artêmis por tanto tempo... Atlantis, não adianta fugir. Você tem proteção. A minha proteção
‒ Não adianta, você não vai me comprar com esse tom suave.
‒ Você se parece com sua mãe... sabe que eu a conheci. Não sabe o quanto eu a conheci, Atlantis.
Um sinal de alarme soou na cabeça de Atlantis e ele começou a juntar os fatos... se Hemerinos não era seu pai e havia dito a Voldemort... se Voldemort dizia que ele tinha proteção e que ele tinha mais de Voldemort que podia supor... então...
- Nunca! – repentinamente ele soube quem era seu pai e viu o quanto isso era óbvio, mas virando as costas para ele, puxou com força a pedra do túmulo, usando as últimas forças para libertar a luz que encerrava. Voldemort foi expelido, aparatado para fora do túmulo. A porta da capela se fechou com estrondo e do fundo do túmulo um vulto se ergueu.
Na escola Desert Stone a aluna Mina Moore deu um grito. Alguém precioso para ela acabara de morrer.
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