IMPERDOÁVEL



Draco foi levado para a sala de Alvo Dumbledore na mesma hora, os outros alunos olhando-o com receio, os rostos passavam e ele não os via, mas sentia um alívio imenso, era como se todo o peso do mundo tivesse acabado de ser retirado de cima dele. Realmente, não percebia a gravidade de sua situação, diante de mil testemunhas confessara um dos crimes mais graves de magia negra, ainda mais um feitiço que era considerado um recurso baixo, sujo e vil até mesmo pelos piores bruxos das trevas. Mas ele não se importava com nada, apenas se livrara do maldito boneco.
Uma pessoa não o amaldiçoava. Alguém que no momento ninguém prestava atenção: a sua vítima.  No instante em que Draco entregara a ele o boneco, Harry tivera ganas de realmente atacá-lo, como ele podia ter feito aquilo com ele? Mas então, olhou para Draco e viu imediatamente o remorso e o arrependimento numa expressão que ele nunca vira naquela cara cínica que ele estava acostumado a detestar, e, mesmo contra sua vontade, Harry sentiu pena de Draco Malfoy.
Quando viu Draco entregar o boneco para Harry, Sheeba sentiu primeiramente alívio, depois começou a se preocupar, ao ouvir Sirius bem ao seu lado dizer: “Garoto maldito, como teve coragem de fazer isso?”. Automaticamente Sheeba levantou-se, pois sabia que teria de fazer algo que nem Severo Snape, o maior protetor de Draco se animaria a fazer: tomar para si a tarefa de defender o garoto. Ela levantou-se entregando Hope, que estava em seu colo, para Smiley e foi andando rapidamente atrás de Snape e da professora McGonnagal, que levavam Draco para a sala de Dumbledore.
Ao ficar frente a frente com Draco, Dumbledore olhou-o muito decepcionado:
- Porque você fez isso, filho?
Draco encarou Dumbledore com uma expressão vazia nos olhos. Devia contar a ele toda a história, mas não queria que seu pai fosse levado para Azkaban, e era isso que aconteceria se ele dissesse que seu pai financiara para ele um curso de vodu na América.
‒ Na verdade eu não queria fazer mal a ele... era para ser uma brincadeira – Dumbledore apertou os olhos e ele baixou os dele – Eu não queria realmente ferir Harry Potter.
‒ Onde você aprendeu a fazer isto, Draco?
‒ Na América. Estive lá nas férias.
‒ Seus pais sabem desse feitiço?
‒ Não – mentiu, olhando de frente para o professor, cujos olhos liam atentamente sua expressão culpada.
‒ Draco... eu sinto muito, mas se não me falar toda a verdade eu não poderei ajudá-lo.
‒ Eu estou falando a verdade.
‒ Você tentou usar o boneco hoje?
‒ Tentei.
‒ E porque mudou de idéia?
‒ Eu percebi que não era certo, e desisti. Então achei que o melhor era pedir desculpas a ele.
‒ Draco, para determinadas coisas, apenas desculpas não bastam. Você mostrou e confessou um vodu na frente de toda a escola. Eu sei que você realmente está arrependido, mas o ministério da magia não vai querer saber disso.
‒ Eu sei – a voz de Draco era mecânica.
‒ Diga a verdade, e você não irá para Azkaban.
‒ Mas serei expulso do mesmo jeito, não serei? Serei proscrito e obrigado a viver como os trouxas. Um imperdoável. Meu pai terá mais vergonha de mim assim do que se eu for para Azkaban.
Alguém bateu à porta da sala, Dumbledore deu permissão e Snape apareceu.
‒ Professor, deixe-me defender Draco . – Draco o olhou com a mesma expressão vazia.
‒ Ele precisa querer a sua defesa, Severo. – Ambos olharam para Draco, que disse:
‒ Não preciso que ninguém me defenda.
‒ Draco – Snape aproximou-se do rapaz – eu sei que você não queria ferir ninguém. Entenda que preciso que você colabore para que eu consiga te livrar de ir para Azkaban.
‒ Não tem mais importância  - Draco deu de ombros – Em Azkaban ou fora de lá, não sou mais ninguém mesmo.
Dumbledore e Snape se encararam, era preciso agora comunicar os pais e o ministério da magia. Draco ia ser expulso de Hogwarts.

Quando a coruja de Dumbledore chegou às mãos de Lúcio Malfoy, este empalideceu. Não podia acreditar que o garoto tinha se deixado apanhar! Pelo menos tivera a decência de não incriminá-lo. Mas não queria um filho proscrito, era preciso pedir ajuda ao mestre. O mestre prometera a ele que isso não aconteceria. Começou a invocá-lo, usando sua varinha para formar a marca das trevas. Depois de alguns minutos, Voldemort aparatou na sala de estar da casa.
‒ Acho bom você ter um bom motivo para ter me chamado, Lúcio. Não gosto de sair de meu esconderijo à toa.
‒ Mestre... meu filho foi pego. Ele vai ser expulso de Hogwarts
‒ O que ele fez?
‒ Eles o pegaram fazendo o vodu....
‒ Você não devia ter deixado ele levar o boneco para Hogwarts, eu te avisei Lúcio.... Eu sempre soube que de todos você era o mais estúpido. Pelo menos ele conseguiu provocar dano em Harry Potter?
‒ O garoto tem uma veste protetora.
‒ Então, de nada serviu seu esforço, hein Lúcio... seu filho se sujou por causa de um truque rasteiro.
‒ Vão levar meu filho para Azkaban, mestre, o ministro da magia está indo para lá...
‒ Sossegue, Lúcio. Seu filho não vai para Azkaban... eu fiz uma aliança, e estava aguardando uma oportunidade para lançá-la. Você acaba de me dar esta oportunidade. Em algumas horas volto para te buscar. Esteja pronto.
O bruxo desaparatou, deixando Lúcio Malfoy perplexo

Por acaso, Atlantis Fischer chegara a Hogwarts naquela noite, e olhava abatido para Harry. Parecia ter  envelhecido anos desde que Willy desaparecera.
‒ Harry, eu não a encontrei, sinto que estive perto dela, mas não a encontrei. – Harry encarou-o mudo e mostrou-lhe a fotografia. Atlantis olhou para a fotografia e disse:
‒ Isso pode não ser verdade, Harry. Pode não ser o que parece.
Ainda mudo, Harry mostrou-lhe o bilhete que recebera nas férias. Atlantis olhou uns segundos para o bilhete e disse:
‒ Minha mãe pôs um feitiço de memória em Willy.
‒ Porque você diz isso?
‒ Porque eu tenho certeza que ela fez o mesmo comigo quando eu era criança, minhas lembranças tem lacunas anormais. Feitiços de memória são crueldade, eu sei, mas minha mãe nunca teve medo de usá-los.
‒ Então foi isso?
‒ Tenha certeza. – uma esperança se acendeu em Harry, mas ele lembrou-se de Draco e resolveu falar com Atlantis sobre isso:
‒ Atlantis, você acha que Draco Malfoy merece ser expulso?
‒ O que ele fez foi muito grave, e contra você. Não acredito que o esteja defendendo .
‒ Eu jamais o defenderia, mas Sheeba havia me dito que quem fez o feitiço contra mim havia sido manipulado, que não fizera para me machucar, e realmente, quando ele fez o feitiço, a ferida apareceu no braço esquerdo, o lógico seria ferir o braço direito, pois eu não sou canhoto... depois, quando ele usou o boneco hoje apenas me sacudiu um pouco e logo se arrependeu. Ele podia ter me matado e desistiu, quando teve a oportunidade nas mãos. Nos últimos meses eu sentia muita raiva de Malfoy, mas quando ele me entregou aquele boneco e pediu perdão a raiva simplesmente se foi.
‒ Lembre-se do que vou te dizer, Harry: há mais aí do que pode parecer. O perdão é uma arma mais poderosa contra o vodu que qualquer contra-feitiço. Acho realmente que Draco foi apenas um instrumento. Há alguém por trás disso tudo.

Na dia seguinte, à tarde o ministro Cornélio Fudge chegou a Hogwarts, acompanhado de dois dementadores, que não atravessaram os portões, ficando do lado de fora esperando. Agora ele andava com eles por toda parte, era desta forma que ele julgava estar se protegendo de Voldemort. Não sabia que as tremedeiras e o medo constante que sentia vinham justamente daqueles que ele julgava o estarem protegendo. Toda escola estava reunida no salão principal, Draco sentado no banco onde normalmente os alunos eram selecionados. Severo Snape segurava a varinha do rapaz. Na mesa da Grifnória, Harry, entre Rony e Hermione pensava num meio de evitar que ele fosse expulso. Aquilo parecia-lhe injusto depois que ele pedira perdão.
Um breve interrogatório se seguiu e Fudge perguntou a Draco se ele desejava defender-se ou ser defendido. O rapaz apenas negou com a cabeça.

A muitos quilômetros dali, Pedro Pettigrew estava em sua cela, insano como qualquer cativo em Azkaban. Como sempre o ar estava tomado pelos gritos de alguns, pelos murmúrios de outros e pelo desespero de muitos. Subitamente ele começou a ouvir ao longe um som, repetido e progressivo: “Clank” Clank!” O som foi se aproximando, como se viesse pelos corredores. Ele ouviu o som bem na cela ao lado da sua. A porta de sua cela abriu-se com o mesmo som, e a luz invadiu o cubículo. Ele cobriu os olhos porque a luz o havia cegado momentaneamente. Conforme seus olhos acostumaram-se, ele pôde divisar um vulto familiar alto e esguio parado na porta da cela.
‒ Mestre?
‒ Vamos, Rabicho, você está livre. É hora de desaparatar.

Naquele momento, em Hogwarts, a varinha de Draco Malfoy foi quebrada por Severo Snape. O rapaz não olhou, ficou apenas de cabeça baixa. Cornélio Fudge começou a fazer um discurso:
‒ Eu quero dizer a vocês, estudantes de Hogwarts, que este rapaz será um exemplo para todos. É normal em uma escola de bruxaria um ou outro aluno acabar desviando-se do caminho, mesmo sendo oriundo de família nobre e honrada...
‒ Se a família Malfoy é nobre e honrada eu sou um seburrêlho verde – sussurou Rony para Harry
‒ ... E mesmo que ele tenha pedido perdão ao seu desafeto, nós, do Ministério da magia achamos por bem que ele não seja perdoado para que toda a comunidade mágica veja como é tratado quem desobedece a lei anti-vodu. Esta noite este rapaz será levado sem direito a apelação, mesmo sendo menor de idade, por ter confessado o delito sem  o menor remorso. Sua atitude fria repete em todos os detalhes a conduta comum aos bruxos das trevas. Estamos cortando o mal pela raiz.
‒ Há algo injusto aqui – sussurou desta vez Hermione para Harry – ele devia ter direito a um julgamento normal.
‒ ... então, pelos poderes a mim conferidos, declaro Draco Malfoy proscrito para a comunidade mágica. Seu nome será apagado da História de Hogwarts, como aconteceu com todo imperdoável.
O salão estava num silêncio mortal. Draco continuava de cabeça baixa, sentado no banco do chapéu seletor. Seu rosto estava indecifrável. Parecia alguém cuja alma havia abandonado o corpo, sem levar-lhe contudo a vida. O ministro conjurou duas algemas nele e mandou que se erguesse. Ele olhou em volta e seus olhos encontraram os de Harry. Eles se encararam até que o ministro ordenou que Draco o seguisse. O olhar dele gravou-se na mente de Harry.
As portas de carvalho se abriram e o ministro saiu junto com Draco, entraram ambos num grande carro do ministério, mas que vinha sem motorista. O carro começou a afastar-se, contornando o lago na direção dos portões de ferro que guardavam Hogwarts. Ninguém viu quando parou bem em frente ao portão e a porta se abriu rapidamente. O carro seguiu em frente e os portões fecharam-se atrás dele.
Sendo empurrado pela floresta proibida, Draco não entendia o que estava acontecendo. O ministro repentinamente emudecera e não respondia às suas perguntas. Ele tentava perguntar onde eles estavam indo, o que estavam afinal fazendo ali dentro, mas não tinha resposta. O homem simplesmente o cobrira com uma capa de invisibilidade e o jogara para fora do carro, e ele repentinamente se vira forçado a andar sempre para a frente, em silêncio. Quando pensou em gritar, uma mordaça foi conjurada em sua boca. Depois da atitude no julgamento, finalmente Draco sentia sua mente clarear aos poucos e ele percebia que alguma coisa realmente estava errada. Mas agora não conseguiria fugir, porque Fudge o havia enfeitiçado com um feitiço de caminhada contínua e o mantinha preso pelas algemas. Ele perdeu a noção do tempo até o momento que apareceu diante dele a entrada do que parecia uma cripta, com uma escadaria que descia para dentro da terra, mergulhando na escuridão.
- Lumos! – ele ouviu o homem dizer e uma luz surgiu à sua frente. Ele ouvia gritos agônicos e desesperados ecoando pelos corredores escuros da cripta onde mergulhavam, e subitamente lembrou-se da história dos errantes que ouvira um ano antes, quando havia conhecido Sue e ajudado a matar os vampiros na floresta proibida. Ergueu os olhos para ver as sombras que se moviam incessantemente nas paredes, as sombras dos errantes presos no interior daquela cripta. Não dava para ter idéia de quantos seriam, mas Draco sabia que deviam ser muitos. Agora Fudge havia apagado sua varinha, pois haviam tochas de luz azulada iluminando as paredes de pedra. Depois de muito andarem pelos corredores, chegaram a uma porta de pedra gigantesca que se abria em par, e Fudge abriu-a .
Entraram numa câmara circular com um túmulo negro no meio. As sombras que Draco vira no corredor eram agora muito mais claras nas paredes, de vez em quando era possível divisar o que parecia ser uma expressão de dor num ou noutro rosto que aparecia na orla da parede. Os gritos eram altos e terríveis, abaixo deles ecoava um som baixo e ribombante, de gelar a alma. O Homem tirou-lhe a mordaça, mas deixou-o algemado, de costas para a porta por onde haviam entrado, agora fechada, e seguiu para a outra porta, em frente àquela, idêntica em tamanho e forma. Puxou-a e Draco pôde ver quem o aguardava.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.