DE CRIME E DE CASTIGO
Harry começou a sentir-se chateado quando outubro chegou. Era o mês de aniversário de Willy, e embora o dia das bruxas do ano anterior tivesse sido terrível por causa da invasão dos vampiros a Hogwarts, ele lembrava com saudades da noite após tudo acabar, quando haviam ficado muito tempo abraçados na sala de transformação.
Dentro de si, Harry procurava convencer-se que Willy não mandara nenhuma notícia nem tentara fugir porque não conseguira, que provavelmente estava presa e incomunicável. Não ocorrera a ele que ela podia estar sob feitiço de memória, porque era cruel demais submeter um parente querido ao esquecimento, não era possível acreditar que uma avó faria isso com a própria neta. Mas havia o bilhete: “Esqueça-a, ela já te esqueceu”. E se fosse verdade? E se a avó a tivesse convencido que deveria esquecê-lo?
Bianca Fall continuava escrevendo para ele, era impressionante como uma menina que ele sabia que tinha um interesse por ele podia se revelar amiga, animando-o e dizendo que Willy apareceria. Atlantis tinha mandado para ele uma coruja em setembro dizendo que estava retornado da América pois não encontrara Willy em nenhuma das escolas em que procurara. Talvez ela estivesse em outro lugar.
O que Atlantis não sabia era que sua mãe havia conjurado um feitiço fidelius com Josie, a garçonete, como fiel do segredo, e, mesmo tendo olhado a lista de alunos e visto “Wilhemina Moore”, mesmo tendo passado a metros da própria filha, Atlantis não a reconhecera e também não fora visto pela menina, porque passara encapuzado, não queria assustar os jovens com a sua aparência e sua voz. No final de outubro, ele chegaria a Hogwarts para tentar conversar com Dumbledore para tirar alguma conclusão sobre o paradeiro de Willy.
Harry visitou Hagrid sem Rony ou Hermione por perto, queria conversar com alguém que ele soubesse sentir bastante falta de Willy.
‒ Eu acho – disse Hagrid tristemente – que a avó dela está fugindo de “você-sabe-quem”, e não parou com ela, deve estar rodando por aí com a menina, talvez tenha convencido Willy que ele quer pegá-la.
‒ Você conheceu a avó de Willy, Hagrid?
‒ Conheci, na época de Hogwarts, mas ela era mais velha, estava na Sonserina uma ou duas turmas abaixo da dele...
‒ Voldemort? – Hagrid fez uma cara de desagrado e Harry ficou sem graça, mas observou-o assentindo:
‒ Ela era bonita e ambiciosa, muitos rapazes queriam namorá-la, mas ela não ligava para nenhum, diziam que ela tinha um namorado ou uma paixão secreta fora daqui. Ninguém nunca soube quem poderia ser. A primeira vez que eu vi Atlantis, soube que era filho dela, eles são parecidos.
‒ E porque será que ela sumiu?
‒ Quem lembrava dela dizia que ela tinha ido para longe, que devia estar se punindo por algo de ruim que fizera. Acho que ela queria dar uma chance para Atlantis, na fundação ele teve bem mais que teria com uma bruxa fugitiva.
‒ Hagrid... você acha que Willy me esqueceu?
‒ Não acredito, Harry. Para mim, Igraine deve ter convencido-a a não te procurar. Todos diziam na época dela que ela conseguia convencer qualquer uma a fazer o que ela queria.
O consolo proporcionado pelas palavras de Hagrid durou pouco tempo, porque depois do treino de quadribol da Sexta feira seguinte, quando Harry recolhia suas coisas, encontrou sobre sua veste de estudante uma fotografia. Arregalou os olhos ao ver Willy sorridente acenando ao lado de um sujeito que ele nunca vira na vida, alto e de cabelos encaracolados. Ficou algum tempo olhando a foto sem entender nada, e sem conseguir atinar quem a colocara sobre suas roupas. Correu segurando a foto e levou-a diretamente para Sheeba, que estava se preparando para ir para casa, com Sirius e Hope, que ficava em Hogwarts durante o dia, sob os cuidados de Smiley, agora um elfo-babá-doméstico. Harry atirou a foto para Sheeba, chateado. Ela a tocou e disse:
‒ Harry, tem mais do que parece aqui.
‒ Como, Sheeba, como essa foto foi parar no meio das minhas coisas?
Sheeba encarou-o, séria. Não queria dizer a ele que alguém em Hogwarts, sob feitiço de confusão, recebera a foto do rapaz da fotografia. Ela sabia que nem tudo estava visível ao toque, provavelmente porque Willy também estava sob feitiço de confusão, mas uma coisa ela tinha certeza:
‒ Harry, ela não ama este rapaz.
‒ Então quem é ele?
‒ Harry, Willy está sob feitiço de confusão. E a pessoa que pôs esta foto sobre suas coisas também.
‒ Ela me esqueceu, Sheeba? – Sheeba fechou os olhos e se concentrou por um minuto, tentando ver o momento em que a foto fora tirada, a câmera pertencia ao rapaz... quem tirava a foto era um outro garoto. Então ela ouviu alto e claro, o rapaz louro dizer: “Quero uma foto bem legal com minha namorada, Gus.”
‒ Harry... eu não sei o que aconteceu, acho melhor você falar com Dumbledore. Temos que descobrir onde essa foto foi tirada. Há mais aqui que gelo de confusão.
Draco Malfoy se divertiu sozinho vendo o sofrimento de Harry. Ele vigiara-o durante alguns dias, sempre com a foto no bolso, esperando o momento certo de largá-la à vista para que ele sentisse o gosto amargo de perder sua garota, como Draco estava sentindo, e por causa dele, segundo o que Draco pensava. A mágoa de perder Sue estava se transformando rapidamente em raiva no coração do jovem, uma raiva que ele ia direcionando sem remorso algum para Harry, imaginando como o rapaz merecia aquilo por ter dito para ele que ele era uma pessoa ruim.
Agora, depois que dera o primeiro passo, Draco preparava-se para dar o segundo. O jogo de Quadribol entre Grifnória e Lufa-lufa se aproximava... ninguém estranharia se Harry Potter sofresse um acidente. Ele era propenso a acidentes.
Muito longe dali, no centro de Londres, Steve Van Helsing localizou alguém que estava caçando há quase vinte anos. Era uma noite sombria de outono, a névoa se espalhava fria pelo ar. Steve era o irmão mais velho de John Van Helsing e atualmente o único caçador de vampiros em atividade em Londres, já que sua filha Annie estava na Rússia. Steve sorriu ao ver que sem dúvida, enquadrara sob a mira de sua besta, que atirava flechas com ponta de prata, Lubna Lee. Ela estava sozinha, seu companheiro, este sim, muito mais perigoso que ela, não parecia estar por perto. Gostaria de entender porque eles haviam ido para Londres, estava dando muito trabalho acabar com a turma de vampiros neófitos que eles estavam fazendo atrás de si... Se a matasse , seria mais fácil chegar a ele. Eles sabiam que ele estava no seu encalço e agora se separavam para caçar, Lubna se escondia muito bem, pois sabia ser mais fraca. Ele mirou e com um zunido, a flecha partiu, atingindo a vampira no peito. Lubna gritou.
Do outro lado da cidade, Caius Black, que perseguia o alimento daquela noite, parou subitamente e disse:
‒ Não... Lubna... Não. – fechou os olhos, antes que o desespero o tomasse e ele começasse a gritar.
Alvo Dumbledore olhava para a foto intrigado. Sheeba já dissera tudo que sabia sobre a fotografia, e sobre sua desconfiança maior: Willy estava sob feitiço fidelius, e se isso era verdade, não a achariam a menos que descobrissem quem era o fiel do seu segredo. Sheeba pedira uma audiência particular, não queria que Harry nem Sirius ouvissem o que ela e Dumbledore conversariam:
‒ Sheeba – começou Dumbledore – você acha que o fato de alguém pôr esta fotografia junto das coisas de Harry pode ter alguma coisa a ver com o vodu que fizeram para ele?
‒ Professor... posso dizer para o senhor que com certeza quem fez o vodu e a pessoa que pôs isso sobre as roupas de Harry estão sob feitiço de confusão, mas não posso garantir que seja a mesma pessoa, seria uma leviandade dizer isso.
‒ Você concluiu alguma coisa sobre o vodu?
‒ Tenho uma suspeita, mas não posso falar para o senhor. Não tenho certeza nem provas. Mas sei de uma coisa: a pessoa que fez o vodu para Harry não fez com a intenção de fazer mal a ele – Dumbledore franziu o cenho
‒ Haveria algum outro motivo para se fazer um vodu?
‒ Professor... o senhor sabe que vodu dificilmente dá certo em sua totalidade... na maioria das vezes sai um feitiço fajuto. Acho que essa era a intenção da pessoa. Fazer um feitiço fajuto, para enganar alguém que queria realmente fazer mal a Harry.
‒ E porque então deu certo?
‒ Não sei – mentiu Sheeba, ela sabia: elo de ódio. Energia em dupla circulação. Mas não queria entregar Draco Malfoy, pelo menos não ainda. Dumbledore pareceu saber que ela mentia:
‒ Tem certeza que não tem mais nada a me dizer?
‒ Tenho. Professor, preciso ir... tenho que cuidar de minha filha, se souber mais, lhe falo.
Sheeba saiu e Dumbledore ficou olhando-a, sabia que ela estava protegendo alguém, e conhecia-a muito bem para saber que se ela fazia isso, é porque tinha algum bom motivo.
Sirius e Sheeba despediram-se de Harry e rumaram para sua casa, junto com Smiley, que empurrava o carrinho de Hope. A noite estava escura e densa em volta deles, Sirius parecia calado e Sheeba perguntou:
‒ O que você está sentindo?
‒ Nada, vamos para casa – ele disse olhando em volta assim que cruzaram os portões de Hogwarts, olhando para os lados.
Giraram a chave da casa na fechadura e rapidamente estavam dentro dela. Sheeba preparou Hope para dormir e Sirius ficou sozinho na sala. Jantaram com ele em silêncio, Sheeba procurando o motivo dele estar daquele jeito nos seus olhos. Deitaram-se mais tarde e ela abraçou-o sentindo a angústia que ele estava sentindo por dentro. Viu que Sirius tinha um pressentimento e soube que era um pressentimento real.
Muitas horas depois ele acordou sozinho. Contemplou Sheeba adormecida e olhou a filha, que dormia placidamente num berço ao lado da cama dos dois, era ainda muito pequena para ir para o quarto. Pôs uma capa sobre os ombros e saiu. Na cama, Sheeba abriu os olhos. Sirius chegou à sala e saiu para o lado de fora da casa. Ele já estava lá.
‒ O que você quer, Caius?
‒ Sirius... você me deve um favor – o rosto de Caius estava mais pálido que de costume, o vampiro parecia mais vampiro que nunca assim. – quero que você me mate.
‒ Não vou fazer isso. O que te aconteceu?
‒ Eles a pegaram, Sirius, Lubna, minha mulher... Foi culpa minha, devíamos ter voltado para Nova Iorque, e eu quis ficar em Londres. Agora ela está morta.
‒ Não foi culpa sua, na sua espécie acontece toda hora. Vá embora, Caius, não vou te matar, procure um Van Helsing.
‒ Não vou me permitir morrer pelas mãos deles. Eu quero que alguém do meu sangue me mate.
‒ Escute, isso não tem nada de nobre, Caius. Vamos fazer uma coisa? Eu vou te enterrar vivo e você pensa nisso por uns dias, está bem? – Sirius começou a andar em direção ao cemitério local com passos firmes, Caius o seguiu, hesitante. Chegaram aos portões do cemitério e Sirius com a varinha abriu uma tumba grande. – Entre – ordenou rispidamente. O vampiro entrou e ficou encarando-o de dentro da sepultura. – Pense por uns dias, Caius. Se você se acostumar, pode ficar enterrado por uns milênios para recuperar sua alma. Não conte comigo para perdê-la pela segunda vez. – Com um movimento de varinha, Sirius baixou uma grande pedra sobre o túmulo, e conjurou um feitiço de vedação. Tirou do bolso a chave da casa e girou-a, chegando à sala. Sheeba esperava-o:
‒ O que ele queria?
‒ Morrer.
‒ E você?
‒ Aproveitei a apatia dele para emparedá-lo um pouco. Quem sabe ele não se acostuma com a idéia e resolve tentar recuperar a alma?
Nada deste diálogo chegou a Hogwarts. Passou a ser um segredo de Sirius e Sheeba que havia um vampiro emparedado em Hogsmeade. Apenas disseram ao professor Dumbledore, mais por confiança que por qualquer outro motivo.
Finalmente chegou o dia da partida de Quadribol entre Lufa-lufa e Grifnória. Toda a escola compareceu, menos uma pessoa: Draco Malfoy, que, trancado num banheiro, observava com um ar maligno o boneco de vodu. A vida de Harry Potter. Ficou ouvindo os gritos da torcida, achando que naquele momento os times entravam em campo, ouviu um rapaz (não mais Lino Jordan, que já se formara) irradiar a partida ao longe, e lentamente começou a sacudir o boneco de Harry Potter. Ouviu um ohh da platéia e riu.
- Você vai cair da vassoura, Potter... - ele voltou a sacudir o boneco, imaginando Potter caindo da vassoura e morrendo... isso era tão simples, tão fácil... – Agora, um pouquinho de medo... ele cobriu os olhos do boneco com uma das mãos e ouviu o narrador do jogo gritar que Potter não parecia bem. Ele sorriu, era hora do acidente, ia virar o boneco de cabeça para baixo e...
Um barulho fino o distraiu, alguma coisa caíra de dentro da veste do boneco. Draco olhou para o chão. Sobre os ladrilhos brancos do banheiro ele viu um fino cordão de ouro com um pingente de pedra vermelha em forma de gota.
“Uma gota de sangue, para você lembrar de mim.”
Sue. Ela queria que ele se tornasse uma pessoa melhor. Ele olhou o boneco e depositou-o cuidadosamente no chão. Pegou o pingente entre os dedos e começou a se lembrar de coisas desordenadas, a voz de Sue ecoando em pensamentos na sua cabeça:
“Talvez um dia, Draco Malfoy, quando você se tornar uma pessoa melhor...Sabia que seu sobrenome quer dizer Má vontade?... Você devia ter arrumado uma forma digna de me ver... devia ter enfrentado seu pai... E então, Draco Malfoy? Esforçando-se para se tornar uma pessoa melhor?...Você foi covarde! ... Magia Negra é sempre perigosa, entende? Bem ou malfeita, acho que malfeita pode ser perigosa para você. ...Se você continuar chamando-o desta forma, se continuar com inveja dele, vai acabar gostando de fazer mal a ele, e depois não vai conseguir parar, não vai conseguir parar.”
Então ouviu sua própria voz dizendo:
“Não, eu não vou fazer mal a ele. Posso não gostar dele, mas amo você e jamais faria algo que você não fosse gostar.”
Repentinamente percebeu: Sue nunca o perdoaria se ele fizesse uma coisa daquelas. Olhou o boneco aterrorizado. Ela tinha razão, aquilo se tornara perigoso para ele, ele não percebera quando passara a ter a intenção de usar o boneco, mas agora via claramente que se não tivesse lembrado de Sue, ele usaria, mataria Potter, e iria se tornar exatamente tudo o que não queria: ia se transformar em alguém idêntico ao seu pai.
Sem pensar exatamente no que estava fazendo, ele ergueu-se de um salto, ocultando com cuidado o boneco entre as vestes, e pondo no bolso a jóia que dera a Sue. Saiu do banheiro e rumou em passos decididos para o pátio de quadribol. Ergueu os olhos para ver aliviado que Harry estava bem, que agora estava voando normalmente, sem vestígio algum do mal que ele quase fizera. Continuou sério, mesmo diante do estrondo da torcida quando Harry finalmente capturou o pomo. Ficou parado no mesmo lugar. Só se mexeu quando ele atingiu o solo e seus amigos o cercaram. Lentamente, Draco se aproximou. Abriu caminho entre as pessoas e chegou até ele, que o encarou com um pouco de raiva no olhar. Um silêncio mortal se abateu sobre todos em volta. Os dois ficaram em silêncio por quase um minuto. Draco então começou a falar:
- Você queria saber porque eu queria ser seu amigo, Potter, achou que eu tinha sido falso... realmente, eu não queria me tornar seu amigo sem uma segunda intenção. Acontece, que eu arrumei um problema nas férias, e queria me livrar dele... realmente, eu não gosto de você, assim como você não gosta de mim, mas se você me perguntar, não foi por não gostar de você que eu fiz isso – ele sacou o boneco de vodu e entregou-o ao boquiaberto Harry – e posso te garantir, Potter, de coração aberto, que estou muito arrependido. Perdoe-me.
Ninguém sabia o que dizer. Draco Malfoy tinha ido longe demais.
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