O SANGUE DO SACRIFÍCIO
No castelo, Rony, Harry e Hermione tentavam manter uma conversa, o que era muito difícil depois dos eventos da tarde. O sol se punha atrás das montanhas de Hogwarts. Estavam na sala comunal da Grifnória. Sabiam que estava havendo uma reunião muito séria na sala dos professores, e que Atlantis estava participando por algum motivo dela. Provavelmente os professores estavam discutindo a possibilidade de aumentar a vigilância sobre Hogwarts. O clima na escola não podia ser bom, não que alguém gostasse de Draco Malfoy, desde o fim do semestre passado, ele se pusera numa espécie de exílio voluntário dentro da própria escola, não conversava com quase ninguém, não tinha amigos. Harry estava interiormente arrependido por não ter tido um pingo de boa vontade com ele. O que lhe exasperava, achava que agora tinha obrigação de estar com muita raiva de Malfoy, porque afinal ele fizera um vodu contra ele, mas algo o impedia.
Hermione então olhou para ele e disse:
‒ Harry, não foi culpa sua.
‒ O quê?
‒ Ele fez magia negra, lembra?
‒ Ah, o Malfoy... eu não estava nem pensando nele – mentiu.
‒ Estava sim – disse Rony – existem certas coisas que não se consegue esconder dos amigos. Quando você pensa em Willy, normalmente fica olhando para o vazio, quando pensa em “você sabe quem”, instintivamente fica com a mão na testa, mexendo na cicatriz... e quando pensa no Malfoy normalmente você faz uma cara assim – Rony imitou-o, franzindo o cenho.
‒ Está certo. Eu estava pensando no motivo dele ter feito magia negra para mim. Não faz sentido.
‒ Tem mais coisas que não fazem sentido aqui – disse Hermione – eu não pude olhar bem os olhos dele, mas acredito que Cornélio Fudge está escondendo alguma coisa... e algo que não é bom.
Draco viu seu pai parado à porta, ao lado dele, um vulto alto, esguio e encapuzado, que ele concluiu que só podia ser o tal mestre, que ele nunca vira. Do outro lado havia um outro sujeito que ele também não conhecia e finalmente, atrás de todos, sua mãe, com uma cara neutra. Seu pai sorriu ao vê-lo e disse:
‒ Viemos te salvar, filho.
‒ Me salvar?
‒ Sim. O mestre fez uma aliança com o Ministro, agora ele está do nosso lado.
Draco olhou para Fudge, que estava a um canto com uma cara apavorada.
‒ E todo aquele discurso sobre eu ser um exemplo? Para onde foi?
‒ E-eu aderi, entende? Não tem mais jeito... ele se aliou a eles... o ministério estava muito dependente deles... então...
‒ Do que este sujeito está falando? – Draco encarou o pai e os outros. O bruxo alto baixou o capuz e Draco tomou um susto. Não imaginava que ele fosse tão feio.
‒ Boa noite, Draco – a voz do homem era fria, mas seu tom era suave. – Imagino que você queira entender porque está aqui. – Draco assentiu – Bem, primeiro vou explicar como chegamos aqui... Azkaban não mais existe. Os dementadores se aliaram a mim e libertaram meus seguidores, todos eles. Em breve, não haverá mais o ministério também. Eles ainda não sabem, mas Cornélio Fudge me jurou lealdade por medo dos dementadores.
“Falso”– pensou Draco, lembrando que o sujeito acabara de prescrevê-lo.
– Quando sairmos daqui esta noite, tudo mudará no mundo da magia... Junte-se a nós e você deixará de ser um proscrito. – O bruxo fez um gesto com a varinha e as algemas de Draco desapareceram. – colabore e será libertado para sempre, Draco.
‒ Eu tenho escolha?
‒ Na verdade, não. Seu pai é um dos nossos. Sua mãe acaba de aderir também... lá fora, num cemitério além dos muros de Hogwarts eles estão se reunindo, os meus seguidores. Começaremos a nossa dominação por aqui.
‒ Vocês querem entrar em Hogwarts?
‒ Não. Eu quero destruir o lugar – um brilho sinistro apareceu nos olhos vermelhos de Voldemort. As portas desta câmara nunca se abrem ao mesmo tempo. Ou abre-se a porta norte, que vai para Hogwarts, ou a porta sul, que vai para Hogsmeade. Nunca as duas ao mesmo tempo. E eu ainda não posso cruzar a porta norte... mas existe uma força presa nesta câmara, uma força maligna muito antiga que pode ser libertada esta noite.
Draco olhou para o bruxo. Continuava não gostando dele. Ele representava todos os anos de falta de atenção que recebera do pai, toda a falta de amor com que fora criado. Ele tornara seu pai um escravo, não ia fazer o mesmo com ele, isso era bem claro.
‒ O que acontece comigo se eu não aderir?
Voldemort olhou para Lúcio Malfoy de forma estranha e disse:
- Eu avisei ao seu pai que isso aconteceria... eu sabia bastante sobre você, Draco. Tinha um informante em Nova Iorque. Igor, venha.
Draco viu o professor de vodu entrar na câmara, o bruxo americano continuava com a mesma cara de ratazana, sorria da mesma forma cínica.
- Olá, Malfoy – ele disse – eu vejo que você não sabia da extensão do poder do mestre. Eu estive vigiando-o durante todo o curso... e dei uma pequena ajuda para você, fazendo uma poção bem mais forte para seu boneco. Você nem notou... seu pai sabia de tudo. Sabia da trouxa, nós o avisamos. Patética tentativa de enganar um comensal da morte, meu garoto. Foi bom, você nos deu munição. Precisávamos mesmo de uma inocente.
A temperatura da câmara começou a cair. Draco viu que três vultos aproximavam-se pelo corredor. Então ele pôde ver quem eram. Dois dementadores traziam Sue, que não conseguia enxergá-los, ela estava insana pela presença deles, estava aérea e olhava o vazio.
‒ Sue! O que vocês fizeram com ela?
‒ Nada ainda... você não agiu conforme o nosso plano, sabe? – Zimmerman começou – Primeiro: Não era para ter feito amizade com aquele bruxo idiota do deserto... mas isso era difícil de evitar, também não era para ter recusado a amizade daqueles meninos tão inteligentes que estavam fazendo o curso. Eu avisei seu pai que a trouxa estava sendo uma péssima influência, você não queria fazer mal ao Potter, estava perigando fazer algo errado com o boneco. Então, eu acrescentei alguns ingredientes à poção do seu boneco para açular o ódio incipiente que você sentia pelo garoto Potter e deu certo, mas claro que não atravessou a roupa protetora do garoto. Eu esperava que você deixasse o boneco para trás achando que ele não funcionaria nas mãos de outra pessoa, mas você o trouxe. O que foi ruim. Seu pai estava avisado e tentou ficar com ele, mas você também não quis colaborar. Concluímos que na verdade por causa desta garota – apontou Sue, que olhava para o nada – você queria pedir perdão ao garoto... – Voldemort o interrompeu:
‒ Neste meio tempo eu já estava tecendo a aliança com os dementadores, e através deles cheguei a Fudge... achamos que não precisaríamos mais de você. Ele nos traria a Hogwarts. Então, você nos ajudou, dando um motivo para que ele viesse até aqui.
‒ Mas ele havia estado aqui dias atrás... no casamento do Weasley – disse Draco
‒ Ainda não tínhamos conseguido convencê-lo a aderir, mas agora ele está do nosso lado, Draco, e você vai ter que escolher de que lado vai ficar também. A pedra do túmulo no centro desta câmara liberta os errantes que estão presos nas paredes desta cripta. Para isso é preciso derramar sobre ela o sangue de um humano inocente. Ou você adere e mostra sua lealdade sacrificando esta trouxa por nós, ou nós sacrificamos você e libertamos os errantes do mesmo jeito. A escolha é sua.
Não havia o que escolher, Draco não ia permitir que matassem Sue. Ele olhou para eles e disse:
‒ Libertem-na. Eu morro no lugar dela, não tenho mais nada a perder.
‒ Não é assim tão simples. Nós não vamos libertar uma trouxa... vocês dois vão morrer – um punhal surgiu na mão de Igor Zimermann, e ele avançou para Sue rapidamente, Draco puxou-a de entre os dementadores, pondo seu corpo entre o dela e o do bruxo. Repentinamente, Narcissa Malfoy saiu de trás do marido e atirou-se na frente do filho abraçando-o. Ela podia ser forçada a aderir ao mestre das trevas, mas não podia permitir que matassem seu único filho. Nenhum deles percebeu que Voldemort vagarosamente retrocedia nas sombras, ele era o único que sabia o real perigo de se libertar errantes, e queria pôr-se a salvo no instante derradeiro. Rabicho o seguiu. Cornélio Fudge continuava trêmulo em um canto. Zimmerman disse:
‒ Saia da frente, mulher, ou eu mato você, quanto mais sangue a pedra beber, melhor.
‒ Mate-me mas poupe meu filho! Os olhos de Narcissa Malfoy estavam cheios de lágrimas, ela nunca fora realmente má, talvez apenas um tanto fútil. Mas a única coisa que amava na vida era o filho e não ia deixá-lo morrer.
Lúcio assistia a tudo impávido. Repentinamente ele tomou a faca de Zimmerman, puxou Narcissa e a jogou sobre a pedra de sacrifício. Nesse instante a porta sul fechou-se bem atrás dele, e ele começou a golpear Narcissa repetidamente com o punhal. Zimmerman assistia fascinado, com um sorriso maligno enquanto o sangue da mulher de Lúcio vertia em jatos sobre a pedra. Draco ainda gritou desesperado, mas já era tarde, as últimas palavras de sua mãe foram:
- Fuja, Draco!
Um som estrondoso sacudiu a câmara e Draco entendeu. A pedra se partiu sob o corpo de Narcissa e ele, vendo a porta sul fechada, entendeu porque Voldemort sumira... os errantes iam matar todos ali. Raciocinando rápido, empurrou a porta Norte e puxou Sue por ela, seu pai correu na sua direção com a faca na mão, mas ele foi mas rápido, empurrando a grande porta de pedra, e fechando-a com um estrondo. Achou que tinha pouco tempo. Sue ainda parecia fora da realidade, e ele puxou-a correndo, a garota ia tropeçando pelos corredores escuros arrastada por ele, subitamente pareceu retornar ao estado de consciência normal e gritou:
‒ Draco! É você?
‒ Sou, corra! Agora não há tempo para explicações.
Draco percebeu que as sombras nas paredes estavam mais agitadas que nunca, em breve romperiam a porta Norte e viriam atrás deles, tinham que alcançar Hogwarts o mais rápido possível. Ele e Sue corriam com todas as forças, mas ele começou a escutar lá no fundo do corredor o som de passos arrastados e lentos... a porta fora aberta. Ele viu a abertura da cripta e puxou Sue por ela, gritou que corresse e eles cruzaram a floresta, ele não lembrava mais para que lado devia correr para chegar mais rápido ao castelo, mas viu então a sombra da torre sul de Hogwarts e olhou para Sue, que corria, a cara desesperada, bem atrás dele. A floresta parecia não acabar nunca, a sorte era que se os errantes eram mesmo mortos vivos, como ele aprendera na aula de Sirius, eles andariam se arrastando de forma lenta. Se eram um perigo é porque eram muitos. A orla da floresta finalmente apareceu, ele correu com suas últimas forças e começou a esmurrar com violência a porta do castelo. Rúbeo Hagrid apareceu olhando-o com estranhamento:
‒ Mas o quê?
‒ Por favor, deixe-nos entrar. É uma armadilha... eles libertaram... os comensais da morte, eles estão aqui...
Hagrid não sabia o que estava acontecendo, mas era bom de instinto e sabia que só podia haver algo muito errado. Quando ele deixou os dois entrarem, Draco perguntou:
‒ Há alguém fora do castelo?
‒ Bem, creio que não. Os professores estão em reunião, eu mesmo estava lá, e os alunos estão em suas casas.
‒ Errantes... – foi o que Draco conseguiu dizer.
Hagrid arregalou os olhos e saiu em busca de Dumbledore. Finalmente Sue e Draco se encararam. Mas ficaram em silêncio. Ela estendeu os braços para ele e ele a abraçou. Ele queria chorar, mas não conseguia.
‒ Minha mãe, Sue... ele matou minha mãe.
‒ Quem?
‒ Meu pai... por causa daquele estúpido mestre...
‒ Malfoy? – Draco ouviu uma voz e viu Harry olhando-o, ele estava na porta do salão. – O que aconteceu?
‒ Potter... Eu o vi...
‒ Quem?
‒ Aquele que te fez isso. – apontou a cicatriz - O mestre de meu pai. Voldemort.
Harry o encarou. Nunca tinha visto Malfoy falar o nome de Voldemort.
‒ Você diz o nome dele?
‒ Poucas vezes falei em público... fazia parte da encenação de família respeitável que meu pai fazia. Meu pai está morto. Minha mãe também. – Ele olhou sério para Harry – Você lembra dos errantes? – Harry baixou a cabeça e ele respirou, antes de dizer: – Ele os libertou.
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