O PLANO DE DRACO MALFOY
Draco Malfoy passara todo fim do último semestre em Hogwarts elaborando um plano para ir aos Estados Unidos encontrar Sue Van Helsing. Sem sucesso. A possibilidade de seu pai permitir que ele viajasse sozinho era praticamente nula. Ainda mais para os Estados Unidos, segundo ele, a ruína da magia, com suas práticas desleais de patente e venda de feitiços. Claro, que isso era apenas uma fachada, a Malfoy & Malfoy, feitiços e Cia não sobreviveria com aquela grandeza toda se seu pai não vendesse feitiços e poções para os bruxos americanos, que ele chamava de “prostituídos”. E era por isso que ele recebia tantas corujas dos Estados Unidos, algumas com propagandas de Escolas de Bruxaria, loucas para receber um bruxo de família tradicional.
Essas escolas americanas às vezes ofereciam alguns cursos, apenas em nome da ciência da magia, que na Inglaterra levariam sem pensar seus idealizadores para Azkaban, sem direito à apelação. Eram cursos rápidos que ensinavam nada mais nada menos que Magia Negra. O Ministério da Magia Americano prezava demais a liberdade de expressão, pois além das convenções internacionais de Magia, eles também tinham uma carta de leis própria, que os protegia de eventuais processos. Assim, pelo raciocínio do ministério Americano, qualquer um podia SABER Magia Negra, contanto que não usasse. Então, por lá pululavam cursos (muitos deles extremamente fajutos)que ensinavam coisas que um aluno jamais aprenderia em Hogwarts ou qualquer outra escola séria.
E foi na mala direta de um destes cursos que Draco achou a resposta para seus problemas:
“ESCOLA DE FEITIÇOS SALEM’S LOST – NOVA IORQUE”
CURSOS DE VERÃO:
MAGIA NEGRA SEM MISTÉRIOS (apenas teoria)
VODU JAMAICANO (teoria e exemplos)
DESPERTANDO ZUMBIS (prática controlada)
INÍCIO: 26 DE JULHO – DURAÇÃO – 3 SEMANAS
Depois de muito bajular o pai, que adorava ser bajulado, mesmo que com elogios falsos, Draco conseguiu convencê-lo que queria muito, mas muito mesmo começar a aprender artes das trevas. Como era impossível levá-lo ainda a uma reunião do “grupo” (que era a forma que Lúcio Malfoy chamava o bando de Voldemort), uma vez que ele ainda não sabia aparatar para o lugar distante onde eles se reuniam, o melhor seria fazer uma aparente viagem inofensiva a Nova Iorque e lá aprender um pouco do que precisava. A princípio, Lúcio desconfiou bastante do filho, ele não era tão bobo quanto parecia e sabia que a “trouxa irritante” era americana.
Foi o próprio Draco que desfez as impressões do pai, de forma não muito louvável. Perguntou ao pai quem seria a sua prometida. Teve engulhos secretamente quando o pai disse que era Emília Bulstrode, uma garota com cara de buldogue, que estudava com ele. Mas ainda assim, escreveu uma carta para ela muito cordial, dizendo que adoraria casar-se com ela assim que terminasse Hogwarts, que ela era uma garota realmente linda, ainda que incompreendida. Exibiu a carta para o pai, pedindo que enviasse por uma coruja para ela. O pai quase estourou de orgulho. Tudo bem, não sobrara nenhuma puro sangue linda como sua esposa Narcissa para ele, mas ainda assim, o garoto aderia com orgulho.
O que Lúcio não sabia, é que Draco ficou tocaiando a coruja do lado de fora da mansão, e assim que ela partiu, lançou-lhe um feitiço que fez bicho cair todo duro, as asas presas. Era um bruxo menor de idade, mas se tinha um lugar que o Ministério ainda não conseguia xeretar, era a casa dos Malfoy, ou ele não teria passado a metade da adolescência torturando elfos domésticos com feitiços de pernas presas, que ele sabia fazer muito bem. Retirou carta da coruja e a substituiu por uma para Sue, dando detalhes de como e quando chegaria a Nova Iorque.
Como até ali dera sorte, Draco deixou que o pai escolhesse o curso que ia fazer. Tinha certeza que seria um curso fajuto, só esperava que ele não resolvesse matriculá-lo no curso de despertar zumbis... a idéia de entrar num cemitério e acordar um morto à noite não lhe era em nada agradável. O pai escolheu-lhe um curso com um sorriso maligno nos lábios: Vodu Jamaicano. Draco deu de ombros secretamente. Era só teoria mesmo. Iria a Nova Iorque pelo Metrô Mundial e ficaria num albergue para bruxos estudantes. As escolas de bruxaria nos Estados Unidos não funcionavam mais em regime de internato. Eles desprezavam a tradição de escolas como Hogwarts, e cultuavam a modernidade. Nada como bruxos e bruxas de última geração.
No dia da partida, o pai cheio de orgulho chamou-o antes dele partir e entregou-lhe uma coisa. Uma caixa de vidro com um pedaço de pano sujo de sangue.
‒ O que é isso – perguntou Draco olhando com muito nojo para o pedaço de pano de aparência repugnante, um trapo sujo.
‒ Isso é uma preciosidade. Seu pai coletou isso pensando em você, sob risco de vida... eu sabia que um dia você ia precisar. – Draco permaneceu mudo, vendo o sorriso do pai passar de maligno a diabólico – Isso é sangue do seu maior inimigo... sangue de Harry Potter.
‒ Sangue de Potter? – “Pra que eu quero isso?”, pensou Draco.
‒ Sim... na noite em que o mestre reviveu, Rabicho, aquela besta, usou uma faca para recolher o sangue de Potter, o que reviveu o mestre em sua plenitude. O sangue caiu um pouco sobre a pedra onde ele estava preso. Ele escapou, mas deixou algumas gotas do seu precioso sangue, que eu recolhi neste pano depois, sem que ninguém visse. Agora é seu, quero que você use.
Draco colocou silenciosamente o vidro na mala, pensando em dar um fim naquilo assim que saísse das vistas do pai. Não ia andar com um souvenir do Harry Potter por aí. O pai devia estar ficando louco mesmo.
Mas acabou esquecendo o pano com sangue. Dentro do Metrô Mundial, Draco não escondia a ansiedade. Estava com o endereço da escola e teria que perder quatro horas diárias fazendo o tal curso idiota. Mas valia a pena. Para ver Sue, valia a pena. A viagem de Metrô de Londres a Nova Iorque durava três horas no Metrô mundial. Era um dos meios mais rápidos de bruxos que não aparatavam longas distâncias viajarem até a América. Mas era chato, não havia paisagem e o vagão que estava era repleto de bruxos e bruxas medonhamente feios. Draco contemplou feliz sua coruja negra dentro da gaiola. Quando voltasse a Hogwarts, não precisaria da coruja da besta do Weasley. Aliás, ele não precisava de ninguém. Draco Malfoy naquele momento se sentia o maior.
Quando chegou a Nova Iorque sozinho e saiu na estação do Brooklyn, onde ficava a escola, sentiu-se realmente o máximo. Enganara o velho Lúcio. “Que grande babaca é o meu pai!” pensou satisfeito. Era sexta feira. Iria até a escola, entregaria seu pergaminho de inscrição e teria o fim de semana livre para ficar com Sue. Que besta era seu pai, deixara-se enganar. Draco seguiu o pequeno mapa que tinha nas mãos. Estava vestido como um garoto trouxa, de calça jeans, tênis e camiseta. Precisara comprar este tipo de roupa para andar em Nova Iorque porque os bruxos de lá só usavam vestes em lugares e ocasiões especiais. Entrou no beco que o mapa indicava e virou à esquerda, passando direto por uma barreira que parecia uma parede pichada.
Uma escadaria descia direto para o subterrâneo. No fim dela, havia um portal semicircular onde estava escrito: “Salem’s Lost – Escola de Bruxaria”. Ele atravessou-o e viu que havia um balcão, onde uma mulher de aparência desagradável preenchia fichas, fumando um cigarro longo. Ele aproximou-se e ela olhou-o:
‒ Matriculado para o verão? – Sorriu, tinha uns dentes amarelados
‒ Sim. Curso de Vodu.
‒ Vodu é? – A mulher o olhou de cima a baixo e Draco teve a desagradável impressão que ela o avaliava. Ela sorriu. Parecia estar dando bola para ele – Trouxe o material? - Draco sequer olhara a lista, seu pai se encarregara de comprar o material. Tirou algumas coisas da valise mágica (que era pequena mas carregava muita coisa) e depositou sobre o balcão. A mulher conferiu e disse:
‒ Falta uma coisa.
‒ O quê? – Draco disse olhando-a com desprezo.
‒ O desafeto.
‒ O quê?
‒ Ninguém te falou que era preciso trazer algo do desafeto? – Draco sentiu como se lhe dessem um soco no estômago. Essa não! Era para isso que o pai lhe dera o pano com o sangue do Potter. E agora? Resolveu entregá-lo e fingiu lembrar-se:
‒ Ah, sim... está aqui – ficou olhando apreensivo para o pedaço de pano na caixa de vidro, sentido-se antecipadamente mal. Não gostava do Potter, mas não queria matá-lo ou coisa parecida. Prometera a Sue que se tornaria uma pessoa melhor.
‒ Segunda feira, às oito – a mulher disse, dando uma grande tragada no cigarro e piscando-lhe um olho. – Não se atrase – ela disse soprando a fumaça no rosto dele, que saiu enjoado.
“Droga, droga, droga! Se Sue descobre isso, vai me matar. E se alguém descobrir em Hogwarts eu vou ser expulso. Tomara que o curso seja bem ruim e eu não consiga nem fazer cócegas nele. Se fosse em outra época, eu acharia bem divertido fazê-lo gritar de dor, mas agora? Eu tenho que esconder isso de Sue. Ela não pode saber, ou eu estou perdido.” Draco ia pensando no caminho para o albergue, indicado no mapa. Ficava a dois quarteirões da escola. Era um prédio baixo, sem placa. Os trouxas passavam sem percebê-lo.
Entrou e sentiu um cheiro familiar. Cheiro de gente bruxa, que era decididamente muito diferente de cheiro de trouxa. Havia rapazes e moças em vestes de bruxo, ele rapidamente pegou sua capa e jogou por cima dos ombros, não queria parecer um trouxa. Chegou ao balcão e deu seu nome, à atendente, uma bruxa meio velha e magricela de óculos, com cara de solteirona. A bruxa atrás do balcão começou a dizer-lhe as regras, segurando a chave do seu quarto:
‒ Nada de acender caldeirões no quarto, para isso temos a área de feitiço, não pendure roupas na janela, nem toalhas, também não permitimos que lave roupas na pia do banheiro. Se não chegar até às 23:00, vá dormir em outro lugar, porque fechamos a entrada. Se quiser usar um telefone, use este (Telefone? Isso é coisa de trouxas!) Não faça encomendas de pizza se não for ficar aqui embaixo esperando por elas, não traga “amiguinhas” e muito menos – ela disse olhando-o por cima dos óculos: - “amiguinhos”, entendeu?
‒ Perfeitamente – Disse Draco contrariado. Teve vontade de dizer que aquele albergue era o último lugar no mundo onde levaria sua “amiguinha”, mas deixou para lá, subiu as escadas e abriu a porta do quarto, onde havia um beliche. Sabia que era um quarto duplo. Havia um rapaz no andar de baixo do beliche, lendo uma revista. Era alto e de ombros largos, o cabelo meio encaracolado louro escuro, o rosto bem bronzeado e os olhos cor de mel. O rapaz olhou-o quando ele entrou e sorriu, estendendo a mão:
‒ Boa tarde! Meu nome é Troy Adams, eu sou de Nevada. Você é inglês?
‒ Draco Malfoy – Draco apertou a mão do outro, sério. – Sou, sou inglês.
‒ Como são as escolas na Inglaterra?
‒ Normais. A gente aprende algumas coisas, feitiços poções...
‒ Em que escola você estuda?
‒ Hogwarts.
‒ Não é nessa escola que estuda Harry Potter?
‒ É, é – Draco disse contrariado – E ele não é nenhuma maravilha, é um cara bem chato.
‒ Nossa, você parece que não gosta dele.
‒ Ele é um idiota, acredita que ele tem chiliques e bate a mão na testa dizendo – aqui fez a imitação mais afetada possível de Harry - “Oh, minha cicatriz, está doendo!” quando acha que está em perigo? E no fim do semestre passado? Todos os professores ficaram bajulando aquele babaca porque seqüestraram a namoradinha dele, que é outra insuportável. Ele é muito protegido, tem dois parentes que são professores. Não tem nada para ser tão famoso.
‒ Se ele viesse para cá ficaria rico, cara. O sujeito é uma celebridade e nem sabe que tem fãs americanos. Vendem souvenirs dele, alguns o adoram como a um deus.
‒ Se vocês o conhecessem, veriam que ele é uma decepção.
‒ E o bruxo que ele derrotou? Sabe que até hoje eu não sei o nome dele?
‒ “Você sabe quem”? Há, este é outro imbecil... se te interessa tanto saber, o nome dele é Voldemort. Como alguém pode se deixar derrotar por um bebê?
Troy olhou Draco, positivamente impressionado. Ele se sentiu um ingênuo bruxo do interior americano, insignificante diante de um bruxo inglês, estudante da escola de bruxaria mais famosa do mundo, que ainda falava do famoso Harry Potter como se ele não passasse de um garoto bobo, além disso, Draco não tinha medo daquele bruxo que ele nunca soubera o nome simplesmente porque seus pais eram medrosos demais para lhe contar. Naquele momento Troy Adams achou que havia encontrado alguém para admirar.
‒ Quantos anos você tem? – Ele perguntou a Draco, que olhava-o cinicamente
‒ Dezessete, e você?
‒ Vou fazer dezessete em setembro. Estou no sétimo ano na escola Desert Stone. É uma das seis escolas daqui que o ministério de vocês reconhece. Vim a Nova Iorque fazer um curso de verão.
‒ Eu também.
‒ Aqui? Vindo da escola mais tradicional da Inglaterra? Você tem certeza que tem algo a aprender aqui?
‒ Bobagem, isso é desculpa. – Draco começou a contar a ele como conhecera Sue e Troy ficou ainda mais impressionado com o retrato, digamos um tanto exagerado, que Draco fez de seu papel na caça aos vampiros em Hogwarts. Finalizou contando, não sem uma certa apreensão, que seu pai era admirador das artes das trevas e ele fingira interesse também para poder enganá-lo. Troy começou a rir quando ele disse em qual escola faria o curso.
‒ Salem’s Lost? Aquilo é um verdadeiro antro de vigarice! Você jamais vai aprender nada sério lá. Eu vim ter aulas com um mestre.
‒ Mestre?
‒ Sim, mestre em luta. Alex Zandor, o Mago ninja.
‒ Já ouvi falar.
‒ Sim ele vai dar um curso de verão de quatro semanas.
‒ Ok, Troy. Mas agora eu tenho que sair – Draco olhou o relógio – vou encontrar a minha garota.
‒ Boa sorte, cara.
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