QUANDO HARRY SE MACHUCOU NAS F

Hogsmeade apareceu subitamente lá embaixo na forma de algumas luzinhas bruxuleantes. Contra o horizonte ele podia ver a silhueta do castelo de Hogwarts. A moto desceu e contornou uma colina, parando bem em frente à casa de Sirius e Sheeba, buzinando. Sirius apareceu, com uma cara confusa:
‒ Mas o  que você está fazendo aqui, Harry? Eu só o esperava amanhã!
‒ Digamos que eu ache que tenha o direito de escolher onde e como vou fazer alguma coisa com uma garota, Sirius. – Harry encarou o padrinho sério.
‒ Bem que Sheeba me disse que você não ia gostar...e os Weasleys?
‒ Deixei-os lá – Harry deu de ombros – eles estavam bem entretidos com umas veelas. Com certeza vão aparecer aqui depois para me xingar um pouco.
Sirius fez com que ele descesse da moto e subiu, pois era o único que conseguia por a motocachorro na garagem sem acabar mordido por ela. Entregou a Harry a chave da casa e ele entrou.
Sheeba estava sentada na sala com Hope no colo, fazendo-a arrotar, Smiley, sentado num banquinho ao lado, tricotava, parecia ter pego gosto pela coisa. Sheeba aninhou o bebê no colo e sorriu para Harry quando ele entrou:
‒ Vejo que  você não caiu na armadilha que aqueles patetas armaram para você
‒ Na verdade, eu bebi bastante, Sheeba. Só que consegui sair de lá antes que uma veela me agarrasse
- Por isso que me orgulho de você!  Depois eu vou ter uma conversinha com o seu padrinho por causa disso.
Sirius já vinha da garagem com uma expressão ligeiramente culpada. Harry achou que a conversa que Sheeba ia ter com ele já devia ter tido uma prévia antes dele ter chegado. Sirius deu uma batidinha de leve no ombro dele e ele olhou-o meio contrariado. Sheeba entregou-lhe Hope e disse que precisava falar rapidamente com Sirius, e ele viu os dois saírem por uma porta lateral, que como sempre ele não sabia onde ia dar. Smiley carregava suas coisas de um lado para o outro, perguntando-se em que quarto Miss Sheeba colocaria o hóspede. Depois perguntou se ele iria jantar e ele disse que não havia comido, o que fez o elfo disparar para a cozinha. Harry deu de ombros. Começou a dar atenção ao bebê em seu colo. Desde que se lembrava, Hope era o primeiro bebê que pegava no colo. Ela era realmente muito parecida com Sheeba, mas também tinha algo de Sirius, que ele não sabia precisar exatamente o que era. Ficou olhando-a, enquanto ela brincava com as próprias mãozinhas. De onde estava podia ouvir fragmentos da bronca que Sheeba dava em Sirius:
- Quantas vezes eu tenho que te dizer Sirius... pois é, aqueles dois... Você não tem vergonha? Ser cúmplice deles num plano destes? E ninguém consultou Harry para saber se ele queria, e eu tenho certeza que ele não queria, tanto é que fugiu de lá.  Você pensa que ainda estamos na idade média Sirius? Não, não acho que isso o ajude a superar o problema... porque vocês pensam que isso pode resolver um problema como estes? Ainda mais com uma maldita veela!
Harry às vezes ria da preocupação da madrinha, realmente, ele não gostara do que os Weasleys haviam feito, e com certeza se sentiria meio chateado com Sirius por algum tempo. Não se sentia embaraçado por não ter feito nada com a veela, não sentira vontade. É verdade que ele chegara a imaginar como seria o dia em que ele e Willy finalmente se sentissem seguros para tentar algo, e em algumas ocasiões a desejara muito, mas sempre soubera que ainda não era a hora. Ele gostava de estar com ela e a queria muito, mas preferia respeitá-la, afinal ela era mais jovem que ele, quase uma menina, e se ele a amava, tinha que saber esperar.
Ia divagando enquanto sorria para o bebezinho em seu colo. Ela sorriu e ele não pôde deixar de retribuir. Mesmo sendo muito pequena e desdentada, quando ela sorriu Harry percebeu que era nisso que ela se parecia com Sirius. Ela agora parecia querer algo para brincar, mas Harry não viu nada à mão, nem um chocalho. Então, segurando-a com o braço direito, levantou a mão esquerda e deu ao bebê sua mão, para que ela brincasse.
Quando a menina tocou o dedo de Harry, parou. Harry viu o rostinho infantil mudar-se do tom casualmente satisfeito de bebê alimentado para uma expressão de medo, e finalmente abrir a boca num choro infantil alto e amedrontado. Quase imediatamente Sheeba apareceu, seguida de perto por Smiley. Harry, sem graça disse:
‒ Acho que ela está com fome ou coisa parecida.
‒ Não, eu acabei de amamentá-la – Sheeba olhava para a mão de Harry que o bebê segurava, um pouco preocupada – ela começou a chorar quando tocou em você?
‒ Foi – Harry sabia o que significava, todo mundo havia comentado o fato de Hope ter nascido com o toque de Prometeu. Sheeba andou até ele e tirou Hope de seus braços. Em segundos ela parou de chorar. Sheeba embalou-a um pouco e ela adormeceu. A mãe colocou-a num carrinho que estava na sala e veio na direção de Harry, tocando seu rosto apreensiva. Retirou a mão quase imediatamente.
‒ Harry – disse ela – há um perigo muito grande rondando você. Temos que descobrir o que é, mas enquanto isso, use a veste protetora que eu te dei o maior tempo possível. Ela te protegerá.
‒ Tudo bem – Harry correu para pegar a veste. No caminho viu Sirius com sua cara preocupada. Por algum motivo, achou que estas férias não seriam tão divertidas como as últimas, sabia que não poderiam viajar, mas não calculava que seria tão preocupante assim.
Depois de vestir a roupa protetora, Harry aproximou-se de Sheeba e Sirius, que o olhavam preocupados:
‒ Harry – disse Sirius – em primeiro lugar quero te pedir desculpas pelo incidente dos gêmeos – Harry fez um gesto de “deixa pra lá” – Não. Eu devia ter te perguntado primeiro, não tenho direito de tomar decisões por você, principalmente agora que você chegou à maioridade bruxa. Mas de qualquer forma, você sabe que este ano será decisivo... eu não quero que nada te aconteça. Já basta o que aconteceu aos seus pais. Por favor, tome muito cuidado e só tire esta roupa no tempo mínimo necessário, está bem?
‒ Está bem, Sirius – Harry concordou, pensando em qual poderia ser este perigo tão grande. Mas logo depois, Sirius mudou um pouco de tom:
‒ Bem, você sabe que não podemos viajar, e você está sozinho este ano, não pôde trazer seus amigos, mas de qualquer forma, você pode se sentir livre para fazer o que quiser. Vamos treinar bastante quadribol nestas férias. Mas antes você precisa comer, como sempre, está magro demais.
‒ Não foi por falta de comida... meus tios fizeram de tudo para que eu comesse mais que Duda. Medo de você. – Smiley depositou diante dele, que já sentara na mesa posta, uma quantidade exorbitante de comida. Começou a comer e então lembrou-se da carta anônima. Assim que terminou de jantar, entregou-a a Sheeba, que leu e depois de revirá-la nas mãos disse:
‒ É verdadeira a carta, mas a avó de Willy sabe de mim. Willy nunca tocou este pergaminho, e a avó está sob feitiço de confusão. Posso apenas te garantir que elas realmente estão do outro lado do oceano, em algum lugar da América.
Mina estava de férias também, na casa de sua avó. Era muito chato não ter o que fazer. Já havia feito a maior parte dos deveres das férias e ela não tinha muitos livros ali para ler. A casa de sua avó era nos fundos de um bar na beira de uma estrada do deserto. Paravam muitos bruxos ali todos os dias, e isso lhes garantia sustento, o bar era antigo e conhecido, sua avó o mantinha há mais de vinte anos. Também vendia poções. Às vezes entrava algum trouxa, que comia algo, bebia um café e ia embora. Sua avó era ajudada por uma bruxa mais nova, a garçonete de nome Josie, mas ainda assim trabalhava demais e quando dava atenção a Mina, esta não se sentia à vontade, embora  a avó dissesse que a conhecia desde menina, não lembrava dela. Era como conviver com uma estranha. Quase tão ruim quanto saber que tivera duas tias que agora estavam presas.  
Mina estava nos fundos da casa, e já que sua avó não estava por perto, bateu levemente sobre a pedra da sua pulseira, revelando a imagem do rapaz desconhecido. Teria sido um amigo da escola de onde viera?  Um namorado? Um sorriso veio aos seus lábios, será que aquele menino que ela achava tão interessante pela imagem era seu namorado? Ao olhar para a imagem associava-a automaticamente com um lago escuro e montanhas negras. Queria saber quem ele era. Neste momento, ouviu chamarem-na na porta da cozinha e foi correndo. Eram suas amigas, Sarah e Rose montadas em vassouras.
‒ Mina, vamos voar, Sarah conhece uma parte do deserto onde dá para voar de dia!
Mina foi até o bar pedir a avó que deixasse ela voar com as garotas, sem muita esperança. A avó olhou-a e disse:
- Pode ir, você voa muito bem. Pegue a vassoura que está pendurada atrás da porta do guarda vassoura. É nova e eu comprei para você.
Ela saiu correndo e abriu o guarda vassoura. Havia realmente uma vassoura americana nova em folha, modelo “fada de prata”. Olhou-a maravilhada e mostrou às amigas. Por algum motivo, não gostou do nome. Não sabia porque, mas não gostava de fadas. Atirou a vassoura à sua frente e saltou sobre ela, disparando para o céu, as amigas ficaram boquiabertas. Ela em pouco tempo subia e descia pelo céu com elas, que estavam abismadas (assim como ela) com a sua habilidade. Voavam sobre o deserto evitando a estrada, as três usando capas de invisibilidade. Muitas horas mais tarde, quando chegaram em casa de volta, Rose disse-lhe:
‒ Você vai ter que entrar para o time de Quadribol da nossa série. O nosso apanhador é muito ruim.
Mina sorriu. De alguma forma sabia que adoraria jogar Quadribol.

Os dias foram passando bem para Harry. No dia seguinte ao que chegara, os gêmeos aparataram por lá querendo estrangulá-lo, o que lhe garantiu muito boas risadas. Mas depois de algum tempo, eles e Sirius foram jogar Quadribol, em nome dos velhos tempos. No fim da tarde os gêmeos desaparataram sem mágoa nenhuma.
Divertia-se muito com o padrinho, que se empenhava em tornar aquelas férias interessantes. De vez em quando Sirius mudava a decoração da sala para um salão de bilhar e os dois jogavam. Harry aprendeu depressa, mas não tinha ainda a mesma habilidade de Sirius (embora desconfiasse que o padrinho às vezes desse uma “ajudinha” à bola com algum feitiço).
O mais divertido ainda era treinar Quadribol, observando Sirius extravasar sua frustração por nunca ter sido jogador. Ficavam muitas horas voando, quase sempre simulando um jogo de quadribol com um pomo de ouro ensinado. Na tarde da véspera da chegada de Rony, eles ficaram voando até anoitecer. Quando entraram suados na casa, Sheeba os mandou tomar banho imediatamente. Havia um procedimento especial para Harry retirar a veste protetora e tomar banho. Sheeba havia isolado um quarto e um banheiro com um feitiço protetor  e o avisava todos os dias para não ir nem sequer de um para o outro sem a veste. Harry pegou sua toalha no malão e uma veste limpa, levando-as para o banheiro. Logo depois que tirou a veste protetora pela cabeça, lembrou-se que esquecera de pegar também um par de meias. Com preguiça de pôr de volta a veste, afinal o quarto era bem ao lado, saiu rapidamente.
Uma dor terrível o imobilizou e ele caiu gritando no corredor, segurando o ponto no braço esquerdo que doía. Seu grito atraiu Sheeba e Sirius, que vieram correndo. Do seu braço, numa ferida pouco acima do cotovelo, saía muito sangue. Eles o arrastaram para o quarto isolado e a dor parou. Sheeba olhou a ferida preocupada, e usando sua varinha disse algumas palavras. O sangue parou, mas a ferida continuava lá.
‒ Harry, não há meio de curar esta ferida aqui. Talvez tenhamos que levá-lo ao hospital St Mungos.
‒ Afinal o que é isso? – Disse Harry apavorado, olhando a ferida, grande como um corte de navalha.
‒ Uma ferida de vodu.

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.