A NOVA WILLY E A NOVA HERMIONE



    Começou muito lentamente, como toda mudança irreversível. Primeiro foi a Sieglinda, que agora ficava muito bem guardada dentro do baú dela, só saindo nos dias do treino de quadribol. A mudança seguinte, foi um tiquinho mais significativa. Willy olhou uma manhã para a velha veste de Hogwarts que pertencera a seu pai, grande demais para a sua silhueta de garota baixinha e magrinha, e, como quem diz adeus a um velho amigo dobrou-a e colocou-a dentro do malão.  Sobre sua cama, no dormitório da Sonserina estava uma veste nova em folha, que seu pai tinha mandado pela coruja... era uma veste de estudante quase igual as outras... quase.
    Seu pai estivera no Norte da África junto com John Van Helsing. Não abandonara a Fundação, o lugar onde estudara e fora criado, onde trabalhara durante anos com Aristóteles Hemerinos. Mas simplesmente ele resolvera fazer mais pesquisa de campo e quando John o chamou para matar uma meia dúzia dos legítimos e perigosíssimos vampiros marroquinos, um tipo raro de criatura que ele sempre quisera estudar, Atlantis fora num piscar de olhos, pedindo licença ao seu atual chefe. Foi lá que numa banca de tecidos viu um corte de tecido negro e frio, meio brilhoso e acetinado, e imaginou como a filha ficaria bonita numa veste feita com aquele tecido. Nem bem chegou de volta à fundação e pediu à Silvia Spring, que tinha muito jeito para costura e era amiga de longa data de Atlantis, que fizesse uma veste de estudante com aquele tecido. Silvia caprichou bastante e conjurou um escudo de Hogwarts meio brilhoso ao peito.
    Quando vestiu por cima da cabeça a veste e ela assentou-lhe ao corpo, Willy conteve uma exclamação de surpresa. Sim, ela ainda era pequena e magra demais... mas diante do espelho despontava, fina porém curvilínea, a figura muito bonita de uma adolescente de quinze anos. A veste ajustara-se sozinha na cintura, e como tudo que Silvia Spring fazia com suas mãos de fada, era muito bem feita. No peito, o escudo de Hogwarts com o texugo, a águia, o leão e a cobra parecia cintilar ligeiramente.
    No primeiro dia que usou a veste, sentiu alguns pares de olhos cravando-se sobre ela. Willy, o elfo doméstico, morrera de vez, desmanchara-se em cinzas... agora, como uma fênix, dessas cinzas de seu namoro com Harry Potter, ressurgia na forma de Willy, a linda menina que em pouco tempo, metade da escola ia querer namorar. Quando Rony a viu de longe naquele dia, deu um cutucão tão forte em Harry que esse quase caiu com a cara dentro do prato de mingau. Quando finalmente descobriu do que se tratava, Harry sentiu seu peito apertar de remorso e arrependimento. E ele não calculava que a mudança apenas começava.
    O passo seguinte foi dado sobre sapatos abotinados com saltos com 4 cm de altura, que ela usou durante dias à noite escondida andando pelos corredores de Hogwarts usando sua capa de invisibilidade, para não cair quando os usasse durante o dia. Willy sempre usara botinas meio desconjuntadas, que algumas garotas gostavam de chamar de "sapatos de anão", com solados grossos de borracha e cadarços que viviam desamarrando e fazendo-a tropeçar pelo corredor. Quando finalmente sentiu-se segura sobre os sapatos novos, ela os usou para assistir às aulas. Andar sobre saltinhos requer disciplina e atenção, quando ela passou, reta e ligeiramente mais alta por Harry, fazendo questão de dizer a ele "Bom dia, Harry", este sentiu-se realmente o mais idiota dos bruxos sobre a terra. "Só falta agora ela namorar o Malfoy" , ele pensou.
    Draco percebeu a mudança em Willy, claro que percebeu, e não perdeu a oportunidade de dizer em voz alta perto de Harry:
‒ Vejam só, agora que ela dispensou o Potter está virando uma bruxa bonitinha... ficar do lado dele faz muito mal, não é mesmo?‒ Só não caçoou mais porque Rony fez a ele um sinal inconfundível que dizia que ou ele parava com isso ou esquecia a corujinha que pegara emprestada com Rony. E ele parou.
    Mas foi a última mudança que realmente fez com que Harry se sentisse um trapo miserável largado em um canto. Numa manhã, Willy trancou-se no banheiro e olhou-se no espelho. Seu cabelo, pouco acima dos ombros e cheio de pontas, caía-lhe num corte esquisito, a franja picotada e irregular num comprimento meio estranho. Quando solto, irritava-lhe pois caía sobre os olhos, e quando preso, ficava  se soltando, fazendo uma nuvem de fios viver balançando-se sobre sua cabeça. Ela sorriu para o espelho, agora estava pronta... era esperta e prestara atenção em como Hermione fizera isso nela há um tempo atrás, e como era tão inteligente quanto ela, depois de algumas consultas a livros mais avançados de transfiguração, sentia-se apta a tentar.
    Fechou os olhos. Apontou  a varinha para os próprios cabelos e se concentrou, imaginando-os a caírem sedosos sobre seus ombros, na mesma cor castanho dourada que tinham, e sentiu que eles cresciam-lhe até o meio das costas. Abriu os olhos e conteve um grito. Maravilhada passou as mãos pelos próprios cabelos, que agora estavam exatamente do jeito que imaginara, emoldurando-lhe com perfeição o rosto, harmonizados com seus olhos castanhos claros e sua pele de um tom creme dourado. Agora podia-se dizer que Wilhemina Fischer estava realmente linda. A franja repicada fora-se e ela jogou uma mecha de cabelo por cima da cabeça, sentindo-se feliz e poderosa ao fazer isso. Triunfante, seguiu para tomar o café da manhã.
    Um mar de cabeças virava-se à sua passagem. "É Willy?" "Não pode ser" "mas ela está tão diferente!"  Ela sentou-se sorridente entre suas colegas de turma que a olharam de cara feia, mortas de inveja. Deu um sorriso para elas e disse que estava muito bem disposta aquela manhã. A coruja de Harry veio voando e jogou sobre ela um bilhete curto, uma palavra só: "Perdoe-me!" Ela olhou o bilhete e murmurou: "Ainda não". Levantou os olhos e olhou severamente para Harry, balançando a cabeça em negação. Ele afundou na cadeira deprimido. Disfarçadamente, ela viu Hermione fazer um sinal que dizia: "é isso aí, garota!" e sorriu.

    Digamos que  Hermione tenha sido uma espécie de cúmplice na transformação de Willy. No dia em que ela terminou o namoro com Harry, Hermione o viu com a pulseira na mão e foi procurar Willy. Na verdade ela se preocupara muito com a menina, pois vendo a barra da veste de Harry molhada, concluíra que ele encontrara Willy no banheiro da Murta, e conhecendo esta e suas tendências depressivas e suicidas, achou que ela não era a melhor companhia para Willy naquele momento.
    A fadinha Harmonia seguia-lhe invisível, perguntando se queria ajuda, se ia ser bom que ela desse uma mãozinha a Willy, afinal, ela também gostara muito da menina, não tinha nada demais ela ajudar. Hermione pensou, espantando a fadinha "Depois, Harmonia... agora ela precisa de alguém como eu". Entrou no banheiro e gritou por Willy,  Ouviu o "splot" que a Murta fazia ao mergulhar no vaso e bateu no box, dizendo:
‒ Eu sei que você está aí, Willy... saia, precisamos conversar. ‒ Ouviu um "cleck!" e Willy saiu de dentro do box, a cara amassada, os olhos injetados de tanto chorar. Hermione balançou a cabeça tristemente e disse: ‒ O que a Murta estava te dizendo? Algo me diz que não melhorou em nada seu estado.
‒ Ela estava chamando o Harry de canalha ‒ Willy então pôs a mão no rosto, chorando como uma criança, Hermione abraçou-a e disse, meio sem graça:
‒ Não chore, Willy... ele gosta de você... vai passar
‒ Não vai não... ele não gosta de mim Hermione... não como eu gosto dele.
‒ Escute, Willy... eu preciso te dizer uma coisa, lembra aquela história maluca que você me contou e eu não acreditei sobre o dia que vocês começaram a namorar?
‒ Quando a gente viajou no tempo?
‒ É, isso mesmo... eu estudei sobre emissão mágica involuntária ‒ Willy deu um sorriso, lembrar do beijo era bom ‒ Willy, pode acontecer, eu li, mas com a força que aconteceu com vocês...  só se for um encontro de almas, sabe?
‒ Encontro de almas?
‒ É, como Sirius e Sheeba, como os pais de Harry, os seus pais... Willy, vocês foram feitos um para o outro...
‒ Porque você leu sobre isso, Hermione?
‒ Eu queria... saber alguma coisa sobre isso.. não é coisa que os professores ensinem, entende?
‒ Hermione... é por causa de Rony? ‒ Hermione não respondeu ‒ Pois eu acho que vocês dois foram feitos muito mais um para o outro que eu e Harry...
‒ É, mas quando a gente se beijava, nada acontecia...
‒ E daí, só mostra como isso é uma tremenda baboseira... encontro de almas..., tá!
‒ Willy... eu queria te contar uma coisa ‒ Hermione contou a Willy o dia em que vira Rony ensaiando e tudo que sentira.. Willy olhava-a incrédula. Finalmente, disse:
‒ Hermione... acho que você tem que falar com ele.
‒ Mas eu não posso!
‒ Willy, ele gosta de você! Sabia que ele leu Hogwarts, uma história por sua causa?
‒ Sheeba me contou...
‒ E que ele tomou poção de pés inquietos para dançar contigo à noite toda no casamento de Sirius e Sheeba?
‒ Sim... mas eu até há muito pouco tempo tinha... vergonha dele.
‒ Vergonha?
‒ É... eu achava que não podia, sabe... que ele não era...
‒ Bom o suficiente para você? É isso?
‒ É ‒ Suspirou Hermione
‒ Hermione... sabe o que eu acho? Que não era ele que era infantil apenas... você também. Já reparou como para você não ser a primeira em tudo é o fim do mundo?
‒ Não é verdade!
‒ É verdade! Você não... não... não relaxa!
‒ Não relaxo?
‒ É. Vive tensa... que nem a professora Minerva, por isso que te chamam de Mini-Minerva!
‒ Eu detesto esse apelido!
‒ Então aprenda a relaxar!
‒ Nixo eu poxo ajudar! Poxo ajudar ax duax ‒ uma voz fininha fez Willy voltar a cabeça. Ela arregalou os olhos ao ver Harmonia e automaticamente lembrou da dança na sala de feitiços. Um pensamento entrou em sua cabeça, e foi como se ela ouvisse: "eu tenho um plano, me escutem"  

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    Ao mesmo tempo que Willy operou uma transformação física em si mesma, Hermione lentamente foi lutando contra sua tendência a levar tudo à ferro e fogo...  primeiro foi quando dois alunos do primeiro ano estavam correndo por um corredor e pararam assustados quando a viram... em vez de ralhar ela disse simplesmente, numa voz cordial:
    ‒ Eu sei que às vezes a gente não agüenta, mas tentem não correr no horário das aulas. Eu não gostaria de surpreendê-los de novo e precisar descontar pontos por isso ‒ disse e saiu sorrindo, sentindo-se melhor ao ver que não haviam olhares assassinos cravados em suas costas.
    Uns dias depois, foi com Rony que ela foi diferente. Ela aproximou-se dele sorrindo e disse:
‒ Eu e Willy assistimos o ensaio ontem, Rony. Você está muito bem... e o melhor do elenco, muito melhor que o Malfoy. ‒ Ela omitiu prudentemente o fato que segurara os braços da cadeira cravando as unhas neles quando ele beijara Padma Patil em cena.
‒ Puxa, obrigado, Hermione... você acha que tem alguma coisa que eu possa... melhorar?
‒ Não, Rony, você está perfeito ‒ ela sorriu para ele e ele ficou muito feliz.
    Dias depois, ela estava lendo um livro de Silvia Spring, o mesmo que Gina lera e ela se interessara, justamente porque reconhecera Harmonia numa das figuras. Quando Rony se aproximou, perguntando de que se tratava o livro, ela mostrou a capa e conversaram brevemente, até que ele finalmente disse:
‒ A autora é Silvia Spring? Você sabia que ela está em Hogwarts, uma história?
‒ Acho que eu li algo sobre isso!
‒ É, ela é a garota que teve uma cama na Corvinal durante quinze anos!
‒ Isso mesmo! Rony, você leu Hogwarts, uma história?
‒ É li... ‒ ele só pensou "por sua causa!"
    Lendo esse pensamento, Harmonia que rondava o lugar, sorriu satisfeita: "Acho que junto esses dois até o fim do meu prazo!" O prazo terminava na Páscoa. Ela tinha um mês.

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