O CENÁRIO DA HANNAH SUMMER E O
Conforme ia chegando o dia da estréia da peça, a excitação do professor Lockhart ia aumentando... seriam emitidos convites e inúmeras personalidades do mundo da magia compareceriam à estréia da peça... depois haveria um grande baile, por sugestão do professor Dumbledore, que adorava um motivo para ouvir boa música e dançar. As coisas iam crescendo de proporção, vagarosamente, e agora, faltando pouco menos que um mês para o grande dia, realmente ele acreditava que precisavam de um pouco mais de recursos do que a escola podia oferecer, e andava atrás de Sheeba de um lado para o outro, perguntando a opinião dela sobre as coisas, e principalmente, pedindo que ela tocasse tudo e todos para saber se correria tudo bem...
‒ Sheeba, você sabe, é muito importante para mim...
‒ Eu sei, Lockhart, é sua reentrada no mundo da magia, tem que se recuperar da vergonha ‒ os últimos meses da gravidez de Sheeba, passados dentro de uma veste ampla azul-cerúleo , eram acompanhados de um mau humor indizível. Ela faria qualquer coisa, QUALQUER COISA MESMO, para se livrar do mala que era Lockhart.
‒ Quem sabe se alguém realmente importante visse a peça...
‒ Eu já te disse que Daniel Dubois vem, Lockhart... Não conheço ninguém nesse cenário mais importante que ele...
‒ Por falar em cenário... eu sei que sou muito talentoso, mas a escola não tem muitos recursos, sabe ‒ Sheeba olhou-o mau humorada, isso sim era uma grande piada... eles podiam fazer qualquer coisa, qualquer coisa que quisessem em Hogwarts! Recursos não faltavam! O talento dele como cenógrafo é que era realmente limitado...
‒ Lockhart... se a escola contratar um cenógrafo profissional, o ministério da Magia demite todos nós... não há verba para isso.
‒ É uma pena... não existem cenógrafos generosos...
‒ Espere um momento... como eu não pensei nisso antes! Não precisamos contratar ninguém... conheço uma pessoa que faria de graça... ela faria qualquer coisa para conhecer Hogwarts, afinal o marido dela estudou aqui e ela vive falando nisso. Vou chamar Hannah Summer!
‒ Hannah Summer! ‒ Lockhart deu um gritinho excitado ‒ mas ela sabe fazer cenários?
‒ Ela é a bruxa mais criativa que eu já conheci... Hannah faz qualquer coisa.
‒ Oh! Que maravilha... mas... ‒ o sorriso brilhante de Lockhart morreu nos lábios. ‒ Com esse cenário tão maravilhoso, bem, nosso figurino vai parecer tão... tão pobre...
‒ Ah, Lockhart, o que mais você quer que eu faça? Eu não tenho o mínimo jeito para costura... nisso eu não posso... espere... Liza está em Londres! Ela é minha amiga! Pode vir aqui dar uma forcinha!
‒ Liza? Liza LionHeart? ‒ "pof!" Esse foi o som de Gilderoy Lockhart desmaiando.
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A primeira a chegar foi Hannah Summer. Era uma bruxa brasileira, morena, magra e ansiosa, que usava os cabelos pretos muito curtos e falava alto, com uma ligeira tendência ao escândalo... Sheeba costumava dizer que ela era o "elfo" que dera certo pois nascera mulher(em tempo, "elfo", para um bruxo era mais ou menos o que "gay" é para nós). Hannah vinha numa vistosa veste amarelo mostarda, com uma valise pequena de design antigo, com grandes fechos que se alguém tentasse arrombá-los mordiam os dedos do ladrão. Veio acompanhada de uma bruxa alta e de olhar fatal, em vestes pretas exuberantes, metade do colo de fora. Era Alexandra Wolf.
‒ Hannah, que idéia maluca foi essa de trazer a Alexandra? ‒ Sheeba disse à bruxa
‒ Ah, ela estava lá em casa passando uns dias... não consegui me livrar dela...
‒ Aiaiai... há quanto tempo ela está sozinha?
‒ Dois meses... eu acho.
‒ Dois meses? Você sabe como ela fica perigosa quando fica dois meses sozinha? ‒ Sheeba virou-se para a outra bruxa e disse:
‒ Alexandra, estamos numa escola, todos os rapazes que estão aqui são menores de idade....LEMBRE-SE DISSO, ENTENDEU?
‒ Calma, Sheeba... eu nem estava pensando nisso... quem é o bonitão loiro?
‒ Lockhart? Ah, minha querida, esquece, ele é totalmente "élfico"
‒ Que pena... E aquele outro, de cabelo preto, meio magrinho?
‒ Severo? Eu acho melhor você ficar longe dele, se não quiser acabar encolhida por uma poção...
Metade da escola estava curiosa para ver os cenários que Hannah Summer ia conjurar. Quando ela dirigiu-se à sala de teatro, onde faria uma versão menor do cenário, que no dia da estréia teria de ser aumentada até a proporção do palco a ser instalado no grande salão, um monte de olhos curiosos a seguiu. Ela deu um toque em sua valise, que se transformou numa prancheta de esboços, com vários blocos de papel arrumados e lápis de todas as cores, ela olhou o roteiro da peça rapidamente e começou a rabiscar febrilmente nas folhas. Apenas os alunos do curso de teatro poderiam ver a bruxa trabalhando. Rony pediu a Sheeba e ela permitiu que Harry, Willy e Hermione vissem a criação do cenário também. Sirius veio dar uma espiadela e saiu rapidamente ao ver Alexandra Wolf no recinto. Snape estava por ali para ajudar, se precisassem de alguma poção de tingimento.
Hannah estava trabalhando há meia hora quando a porta da sala de teatro abriu-se com um estrondo. Liza LionHeart entrou, seguida por um elfo doméstico que vinha carregado com uma pilha de tecidos brilhantes e coloridos, mais alguns acessórios de desenho e algumas pastas de croquis. Ela não era tão bonita, mas parecia uma bruxa preparada para ofuscar todas as outras num raio de quinhentos metros com suas roupas. Usava uma veste preta, tomara-que-caia, brilhosa e cintilante, seus cabelos longos e ruivos desciam em cascata encaracolados até abaixo da cintura, seu queixo ligeiramente protuberante apontava para o alto e o elfo doméstico esforçava-se para seguí-la de perto sem pisar na capa negra e diáfana que se arrastava alguns metros atrás da bruxa. Ela usava saltos agulha altíssimos e sorriu ao ver Sheeba:
‒ Nossa, Sheeba... como sua barriga está... grande! ‒ Sheeba fuzilou-a com um olhar e disse:
‒ Poderia dizer a mesma coisa, se você já tivesse tido a coragem de estragar sua cinturinha com uma bela ninhada, não é mesmo, querida?
‒ Ah, você está parecendo a Beth, dizendo procriem, procriem! ‒ Liza olhou para a outra bruxa e disse: Ah, Hannah... você deixou para fazer os croquis aqui? Eu já trouxe tudo pronto... comecei a trabalhar assim que Sheeba me chamou... ‒ A outra bruxa levantou os olhos do desenho que fazia e deu um olhar assassino para ela, sorriu de forma quase selvagem e disse:
‒ Pois é, eu sei que você trabalha bem mais devagar que eu, Liza.
Enquanto as bruxas trocavam veneno e Alexandra Wolf tentava aproximar-se de Snape, que dava dois passos na direção oposta cada vez que ela dava um na direção dele, Harry olhava Willy com o rabo do olho, em pé ao lado de Rony:
‒ Quem sabe se você falasse com ela? ‒ Rony disse baixo para ele
‒ Agora que ela virou a musa da Sonserina? Nem pensar, ela me trata como se eu fosse uma ratazana, não vou me humilhar pela terceira vez...
‒ Ah, Harry, ela gosta de você e você dela, seu panaca... ou você acha que ele se tornou esse pitéuzinho para impressionar o babaca do Malfoy?
‒ Eu ouvi isso, Weasley... ‒ Draco falou atrás de Rony. Harry estranhou o comentário não ser seguido pela habitual tentativa de humilhação, e olhou para Rony, que não disse nada, voltando a olhar para as bruxas que trabalhavam.
‒ Não importa... se ela quiser ficar comigo, vai ter que descer desse pedestal!
‒ Te garanto que ela não vai voltar a ser um elfo doméstico por sua causa, Harry. Quando uma garota experimenta ser um pouquinho bonita, nunca mais vai querer ser feia... veja Hermione... reparou como ela mudou depois que encolheu aquele dente?
‒ Você notou como ela mudou, Rony? Está tão simpática...
Neste momento, Hannah Summer chamou Rony, para explicar-lhe algumas coisas que ele teria de fazer, sua interação com o cenário da peça. Ele foi seguindo-a, enquanto ela gesticulava e falava sem parar, de vez em quando o queixo de Rony caía, em pouco tempo ele veio para junto de Harry e a bruxa chamou Draco. Rony disse:
‒ Cara, você não perde por esperar esta peça... essa mulher teve idéias que Lockhart nem poderia sonhar.. e vou ter que ficar craque em alguns feitiços para poder trabalhar tranqüilamente. ‒ Nem bem terminou de dizer isso, Liza LionHeart o convocou, e ele andou até ela.
No meio tempo em que estivera conversando com Rony, Harry não notara que Liza praticamente executara quase todo figurino da peça... até a Murta, mesmo sendo figurante, ganhara uma roupa de época feita em tecido ectoplásmico! Alguns jovens do elenco haviam sofrido transfigurações de imagem pessoal, Colin Creevey por exemplo ostentava agora um cabelo crespo e duas costeletas, e Padma Patil e Lilá Brown ganharam cabelos abaixo da cintura, arrumados em longas tranças. Harry ficou observando enquanto Liza avaliava Rony:
‒ Eu fiz uma pesquisa, meu rapaz e posso afirmar que você praticamente é Rubro Salmonella! Veja ‒ mostrou a ele a figura de um bruxo de olhar maligno e cabelos ruivos como os dele, mas um tanto mais branco e menos sardento. Ele usava um chapéu cônico grande de abas largas e meio desabadas e uma capa negra enorme, com mangas e cheia de bolsos internos. Liza olhou para ele e disse: ‒ Fique exatamente onde está!
Ela espalhou alguns tecidos, linhas e agulhas no chão, e de dentro de uma caixa tirou um chapéu que em nada parecia com o do bruxo da figura. Ela apontou a varinha para os tecidos e disse:
‒ Indumenta! ‒ Uma fita métrica surgida sabia-se lá de onde, tirou medidas de Rony. Um dos tecidos do chão o envolveu, como se estivesse pensando na melhor forma de vestí-lo. Então, depois de alguns barulhos de tecido sendo cortado, Rony viu uma veste negra meio grossa ser costurada sobre seu corpo. A seguir, uma grande peça de camurça ergueu-se do chão e enrolou-se nele, em segundos transformou-se numa capa cheia de bolsos, que se mexia como se em cada bolso houvesse uma doninha louca para sair. Na gola surgiu um arremate em pelo negro de arminho.
‒ O que é isso? ‒ Perguntou Rony assustado
‒ É só uma simulação, não se assuste, quando você tirá-la ela para de se mexer... é uma imitação da capa viva de Rubro Salmonella. Agora só falta uma coisa! ‒ Ela atirou o chapéu na direção de Rony e quando ele tocou seus cabelos, ficou perfeitamente igual ao da figura.
Ele virou-se para Harry, que olhou-o aplaudindo febrilmente, depois para Willy e Hermione, que faziam o mesmo. Então, curvou-se numa reverência elegante, tirando o chapéu como quem cumprimenta o público.
‒ Terminei com você! ‒ Sorriu satisfeita Liza LionHeart‒ Só falta agora o outro protagonista! ‒ Draco veio andando na direção dela com cara de tédio. Ela avaliou-o com um olhar e disse: ‒ Você vai ter sofrer uma grande transfiguração pessoal... não se assuste, está bem? Temos que fazer com certa antecedência para que você se acostume, não vou poder desfaze-la depois da prova de figurino porque você vai precisar ensaiar com ela... feche os olhos, por favor. ‒ Draco fechou os olhos não gostando muito desta idéia, pensando o que afinal a bruxa tinha em mente... Começou a ouvir gargalhadas pelo salão e abriu os olhos, seu queixo caiu.
Liza LionHeart fizera com que seus cabelos crescessem até a cintura... ouvia risos de mofa pelo salão, enquanto alguns garotos rolavam de rir chamando-o de elfo e de fadinha. Ele olhou bem zangado para a bruxa:
‒ Posso ensaiar com uma peruca... por favor, desfaça essa coisa!
‒ Quem disse que eu terminei, garoto? ‒ Liza olhou-o com rispidez ‒ Você provavelmente vai gostar tanto da segunda parte que vai querer ficar assim para sempre... agora, feche os olhos!
Ele fechou os olhos novamente. Repentinamente sentiu um aperto no peito e sua roupa começou a sufocá-lo, ele ouviu a veste se rasgar nos braços... agora não se ouvia mais nenhum riso pelo salão. A veste se rasgou nas costas e ele se preocupou, pensando na cor da cueca que usava. Quase automaticamente, sentiu que calças surgiam debaixo das vestes e respirou aliviado. Então sentiu que sua veste de estudante se partia e caía a seus pés. Ele abriu os olhos. Todos os rostos olhavam para ele atônitos.
Draco estava de pé no meio da sala de teatro. Agora usava botas de couro grossas e uma calça preta, olhou para suas pernas e viu que elas deviam estar pelo menos dez centímetros mais grossas, passou a mão pelo peito nu e descobriu que ele agora estava com todos os músculos do corpo desenvolvidos como se fizesse musculação há algum tempo. Sentiu-se meio ridículo até que viu como uma menina o olhava e gostou bastante da sensação. Estava musculoso, mas não um monstro, seu corpo meio magricela simplesmente se tornara atlético. E com aquele cabelo longo, era impossível não notá-lo. Draco Malfoy agora finalmente parecia um herói. Então Liza LionHeart conjurou uma veste curta e uma capa negra sem mangas, uma bainha de espada, onde se encaixou suavemente uma espada falsa prateada e disse:
‒ Terminei, darling... me diga agora se você não gostou...
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