POR UM JULGAMENTO JUSTO



Sirius sorriu para Harry de cima de sua moto e disse, ignorando completamente a presença da gárgula:
    ‒ Suba, vamos.
    ‒ E ele?
    ‒ Harry, isso aí é uma gárgula!
    ‒ Ele é muito simpático, Sirius ‒ Sirius olhou-o incrédulo ‒ Não sabia que você era tão preconceituoso.
    ‒ Acho que você está andando tempo demais com Rúbeo Hagrid.
    ‒ Sirius, ele salvou minha vida!
    ‒ Estou ficando farto desta história... parece que todo mundo salva a vida de todo mundo por aqui...
    ‒ Gerárd não quer briga entre pai e filho por causa dele ‒ disse a gárgula humildemente
    ‒ Ele não é meu pai, é meu padrinho ‒ Harry olhou feio para Sirius que o olhava incrédulo, parecia que Harry resolvera ter seu primeiro surto de rebeldia adolescente, e justo com ele. Depois de tudo que acontecera nas últimas horas, era o fim.
    ‒ Harry, não vamos levar uma gárgula para Hogwarts... não é como carregar um gatinho para casa num temporal, te garanto.
    ‒ Gérard não quer ir, Harry Potter. ‒ interrompeu a gárgula.
    ‒ Como? Você quer ficar aqui?
    ‒ Aqui é a casa de Gérard. Não há nada fora que Gérard queira... Gérard só pede uma coisa a grande bruxo do cavalo estranho que ronca como um cão... podeis reparar minha asa? Não vos preocupais! Asas de gárgulas não conseguem levar Gerárd além da fenda... Só desejo ir um pouco mais alto... Um pouco mais alto que o fundo.
    Sirius sorriu. Sabia que realmente as asas da gárgula jamais levariam aquele corpo de pedra a mais de dez metros do chão. Sem hesitar, apontou a varinha e disse:
    ‒ Reparo! ‒ E as asas da gárgula apareceram completamente curadas. Gerárd experimentou as asas com um sorriso, que mesmo em sua face de pedra, mostrava um júbilo de quem esperara por isso mil anos. Ele agradeceu e acompanhou Harry e o padrinho até um determinado ponto, depois ficou acenando enquanto via a luz da motocicleta sumindo na escuridão. No caminho, Sirius foi contando o que acontecera, e como ele conseguira fazer a moto passar pela barreira, o que fora consideravelmente mais fácil depois que os Comensalis da morte tinham sido postos fora de combate. Quando eles chegaram à superfície da fenda, ela estava repleta de aurores e de bruxos do ministério da magia.
    Dois policiais do ministério vigiavam duas múmias enroladas em cordas que Harry concluiu serem Sibila e Rabicho. Harry pôde ver a um canto Sheeba deitada em uma maca sendo atendida por um médico bruxo baixinho, Rony e Hermione sentados numa pedra, dividindo um cobertor e  Snape conversando com Alvo Dumbledore, que o ouvia com expressão grave. Próximo ao fosso dos ratos, Olho Tonto Moody parecia fazer um complexo feitiço para isolá-los lá dentro, no que era observado por Cornélio Fudge, visivelmente nervoso. Este, ao ver Sirius, gritou:
    ‒ Peguem-no! É Sirius Black!
    ‒ Não seja ridículo! ‒ Snape gritou ‒ Eu já expliquei que ele é inocente e agora pode provar!
    ‒ Severo Snape tem razão. ‒ Alvo Dumbledore aproximou-se do ministro da magia com a mesma expressão grave que Harry vira umas poucas vezes na vida ‒ Eu venho tentando um julgamento justo para Sirius há dois anos, Cornélio, e você vem negando. Agora, tenho o testemunho de bruxos idôneos como Sheeba Amapoulos e Severo Snape e não peço, mas EXIJO um julgamento justo para Sirius Black. Ele MERECE essa reparação.
    Cornélio Fudge engoliu em seco... não podia fazer nada agora.
    ‒ E ele tem o direito de aguardar o julgamento em liberdade, é o mínimo que podemos fazer  depois de doze anos trancado injustamente em Azkaban com os seus dementadores.

    Depois Harry soube porque ele, Sirius e Snape tinham sido os únicos que não haviam sido afetados pelos ratos de Rabicho: Snape tinha uma roupa protetora também, e fora ele que ensinara Sheeba a tecê-las. Estava em observação no hospital St Mungos, junto com Rony e Hermione, que tinham, cada um, uma garrafinha de soro revigorante flutuando ao seu lado. Estavam sentados numa sala de estar com poltronas largas, conversando. Rony e Hermione contaram como Sirius deu o beijo da vida em Sheeba, e Hermione frisou bem que este feitiço custava um ano de vida a quem o aplicava. Harry por sua vez falou de como Voldemort desaparatara achando que ele fosse se arrebentar no fundo do precipício e de seu passeio com Gerárd, a gárgula. Então, Rony perguntou:
    ‒ Você sabe quem está aqui também, não é? Cho Chang. Ela foi enganada por aquele inseto da Trelawney, parece que ela estava tentando comunicar-se com os mortos...
    ‒ Sei. Disse Harry. Depois eu vou visitá-la ‒ Mas na verdade não sentia vontade nenhuma de fazê-lo ‒ Porque não vamos ver Sheeba?
    Entraram no quarto de Sheeba, que estava sendo visitada por três bruxas e parecia muito melhor agora. Ainda estava muito pálida, era verdade, e a marca em sua testa parecia quase negra agora, mas sorria. As bruxas conversavam com ela tão animadamente que dava para ouvir suas risadas do corredor. Lupin e Sirius estavam conversando baixo à janela, eventualmente Sirius dava um olhar aborrecido na direção das bruxas (ciúmes, pensou Harry). O sol batendo no rosto de Lupin mostrava que como sempre ele tinha olheiras e uma aparência ligeiramente cansada.
    ‒ Harry! ‒ Sheeba exclamou‒ Venha conhecer minhas amigas: essas são Silvia Spring (uma bruxa meio avantajada de corpo, com uma face muito amigável e o cabelo realmente muito bonito), Beth Fall (uma bruxa morena de cabelos negros e olhar malicioso) e Liza LionHeart (Uma bruxa ruiva de ar aristocrático e olhar meio distante). Este é meu afilhado, bruxas, ele não é adorável? ‒ seguiu-se uma sessão de elogios em que as bruxas o deixaram muito sem graça comentando sua coragem e ousadia... Harry procurou olhar para o outro lado, sentindo as orelhas queimando e então ele viu...
    Um pouco mais longe da cama de Sheeba, no lado oposto estava a bruxinha mais adorável que ele já vira na vida: era bem morena e tinha uma face larga, com olhos pretos maliciosos, ela olhou-o e deu um sorrisinho tímido... Harry sentiu imediatamente uma vontade louca de convidá-la para dar uma volta de vassoura. Mal ouviu quando alguém disse:
    ‒ Bianca, venha conhecer Harry Potter. ‒ a bruxinha aproximou-se dele e disse um “oi”, quase inaudível, que ele respondeu no mesmo tom. Só então percebeu que ela era filha de Beth Fall e se viu perguntando a si mesmo o que aquela menina estava fazendo fora de Hogwarts...
    ‒ Ela estuda em High Hill, na Escócia,  Harry ‒ disse Sheeba a ele assim que  as bruxas saíram do quarto.
    ‒ Quem?
    ‒ Bianca, Harry. Eu vi como você a olhou.‒ disse Sheeba rindo ‒ Mande uma coruja para ela, acho que ela vai adorar...
    ‒ Por falar em coruja, Sheeba, chegou mais uma para você... Sirius segurou com uma cara de ciúme uma  vistosa coruja negra ‒ acho que você se corresponde com muita gente ‒ disse passando-lhe um cartão mágico desejando melhoras, que cantava e dançava.
    Logo depois apareceu uma coruja amarelada caolha e Sirius olhou o remetente do novo cartão de melhoras:
    ‒ Quem é Sobrenatural de Almeida?
    ‒ Um amigo meu lá do Brasil...
    ‒ Eu digo que é gente demais....

    O julgamento de Sirius aconteceu dias depois. Sirius compareceu diante do Juiz e Alvo Dumbledore apresentou a defesa em cinco minutos, convocando apenas Snape e Sheeba para depor (o que frustrou um pouco Rony, que queria muito participar, como sempre), a simples prova da existência de Rabicho parecia inocentar Sirius. Quando Avatar Fernandez, auror e promotor do ministério da magia levantou-se, Harry esperava que fosse começar alguma espécie de debate, mas ele simplesmente disse:
    ‒ Diante de provas irrefutáveis, o Ministério da Magia retira todas as acusações que foram imputadas a Sirius Black, devolvendo-lhe todas as antigas funções e pede a este tribunal que estude uma condecoração por mostrar bravura em diversas ocasiões.
    Simples assim. Em menos de vinte minutos, Sirius Black estava  totalmente livre.

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