Doce Tempo.
Hermione começava a se preocupar com as frequentes ausências de Dumbledore. Talvez estivesse ficando paranoica, mas gostava de se precaver diante dos acontecimentos sádicos que poderiam vir mais adiante. Ron a ensinara isso, mesmo sem perceber.
Fora num dia comum durante o segundo ano em Hogwarts. Enquanto Harry voltara para casa, impossibilitado de permanecer no castelo porque seus tios não haviam lhe autorizado a dispensa de encontro familiar, Hermione gastara os poucos dias apreciando como Ronald era um excelente jogador de xadrez bruxo. Ah, a paixão juvenil que surge diante de pequenas coisas.
Eis que ela - uma garota formidável em crescente expansão - sonhava em encontrar algum dia alguém que fosse assim como ela. Um pouco deslocado, apaixonado por livros, inteligente. Notável aos olhos dela, estranho diante dos outros. E bem, um formidável estrategista de xadrez parecia um bom começo. Mas só parecia.
De fato, Ron a ensinara algo valioso durante aqueles dias, que ela levava consigo sempre. Desde então Hermione passara a ver a vida como um imenso tabuleiro de xadrez e a guerra era a partida final. Ela era um peão, apenas um jovem peão entre as peças brancas. E Harry era o rei.
Ela sabia que, ao final da partida, todas as peças iriam para o mesmo lugar: de volta à caixa. Mas, principalmente, ela aprendera que o rei poderia cair a qualquer momento e diante disso alguém deveria estar preparado para prosseguir a batalha. Os ideais não poderiam ser perdidos, nem mesmo a esperança. E a cada dia que passava, mais ela temia que Harry fosse derrotado pelo poderoso bruxo das trevas.
* * *
— O que você espera encontrar aqui, Gaunt? — Riddle disse. Ele não precisou se virar para saber que estava certo.
Morgana Gaunt já não tinha mais o ar juvenil de outrora, indicando a Hermione que deveria estar assistindo memórias relativas ao sexto ou sétimo ano dos dois Sonserinos. De repente, enquanto aguardava o andar da cena, ela pensara em quantas memórias já havia assistido desde que encontrara o livro na Floreios & Borrões. Vira muito mais do que era capaz de supor.Assistira Tom Riddle desde que esse era uma criança frágil até que se tornasse praticamente um homem, o qual já possuía fortes marcas que lhe tornariam Lord Voldemort no futuro. Ainda assim, a afeição que Hermione passara a sentir por ele não fora desgastada.
— Eu... — A garota loira gaguejou, parecia estar tentando encontrar uma resposta que soasse boa. — Eu só queria saber se você estava bem.
— E por que não haveria de estar? — Soou a voz notória do garoto pela sala. Parecia um lugar destinado ao preparo de poções, talvez até mesmo uma sala de aula.
— Eu vi o que fizeram com você hoje cedo. Por que não se permite confortar por quem quer seu bem, Tom?
As palavras, apesar de doces, não provocaram totalmente o efeito suposto. Ele cerrou os dedos longos no tampo da mesa que utilizava para o preparo de um líquido sem coloração, desconhecido por Hermione, até que soltara a pressão e se aproximara em passos lentos. De onde estava, Hermione temia o olhar dele.
— Já lhe disse para não me chamar de Tom. — Ele cuspiu as palavras sem pudor, fazendo-a tremer. — Aqueles imbecis irão sentir na pele o que fizeram contra mim. Sinto dizer, porém, que isso não lhe diz respeito.
— Você está perdendo a cabeça! — Morgana brandiu, elevando o volume da sua voz. — Não vê?
Aguçando o olhar na direção da cena que se desenrolava, Hermione suspirou. A essa altura, o Sonserino já tinha as mãos ao redor da garota a sua frente. Hermione gritou desesperadamente, mesmo sabendo que não seria ouvida, temendo que presenciasse a morte de uma pessoa sem poder fazer nada por ela.
Porém, no exato momento em que ela notou o rumo que poderia tomar a história, três caldeirões foram ao chão na outra extremidade da sala. O silêncio se fez presente e as respirações ficaram tensas, enquanto todos os olhares eram direcionados para lá. Mas ninguém surgiu.
Tenso, temeroso, Riddle abraçou a garota Gaunt demoradamente. Ele jazia de costas para Hermione, mas não era preciso olhar para o rosto dele para saber que não haviam emoções ali. Era um abraço mecânico. O único tipo de abraço que ele sabia dar e que, ainda assim, era raro. Totalmente vago em seu sentido mais puro.
— Por favor, fique bem até que nossa estadia em Hogwarts termine. — A garota sussurrou para ele, sem abrir os olhos ou soltar do abraço ao qual ela se entregava totalmente. — Só mais dois meses e vamos estar no nosso lar. Só eu e você.
Hermione esperou que Tom Riddle dissesse algo, mas ele não o fez. Nenhuma objeção, crítica ou concordância. Apenas um silêncio incômodo que se prolongou até o exato instante em que o abraço foi desfeito por ele. A separação dos corpos era mais natural do que a aproximação deles, Hermione notou.
Como, então, aquelas pessoas conviveriam sozinhas em uma casa? Não havia um sentimento benigno ali para que pudesse haver um ambiente parecido com um lar. Na verdade, Hermione já não conseguia imaginar aquele garoto frio e calculista em que o Sonserino se transformara, vivendo ao lado da bela garota que esbanjava amor.
Sim, amor. Estava claro aos olhos de Hermione que agora garota, independente de quem fosse, amava-o de modo pleno. Um amor angustiante que a grifa jamais vira. Não era sadio, visto que o pobre coração de Morgana Gaunt vivia a ser pisoteado, pelo que Hermione via nas lembranças de Tom Riddle. O que não entendia, afinal, era a razão que o fizera despejar lembranças daquele tipo em uma espécie de diário.
Para que quisera ele tornar visíveis tais lembranças? Seria Morgana Gaunt a chave para todo aquele mistério? E principalmente: Qual a história daquela Sonserina?
* * *
NOTA: Mais um capítulo, porque eu estou mui feliz com os presentes que minha amiga me trouxe do 'parque do Harry', em Orlando! Enfim, Hermione ainda não sabe a real importância que Morgana terá na história. E sim, nós demos uma pequena pulada nas demais cenas que ela viu no livro. Porém, não se preocupem, pois essas cenas serão comentadas em capítulos futuros e todos os mistérios que surgiram até o momento (assim como os próximos) serão revelados a seu tempo!
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