Muito Doce Faz Mal
“- Plástico bolha, legal! - Rony pegou o rolo de plástico e sentou no sofá. Era um bom passatempo estourá-las.
Hermione desempacotava algumas coisas sendo acompanhada pelo barulho de “tec”, “tec”. No começo estava até aturando, mas depois de um tempo começou a irritar.
– Benzinho, será que poderia para com isso? Tá me irritando.
Rony gostava de levar as coisas na brincadeira, então não parou. Hermione respirou pesadamente. Fez seu mantra interno para não explodir.
– Ronald, por favor, poderia parar com isso?
Nem ela sabia o que estava acontecendo. Também gostava de plástico bolha, mas naquele momento, se não quisesse que seus filhos fossem órfãs de pai, teria sufocado Rony com o plástico até a morte.
– Rony... – pediu pela terceira vez quando o barulho não cessou.
– Mione... – ele sabia que a estava irritando, queria testá-la, ver até onde iria. Com oito meses de gravidez, Hermione se irritava facilmente, mas Rony nunca tinha visto até que ponto ela chegaria. Queria provocar. – O que foi? – como ela estava de costas para ele não viu seu sorriso cínico.
– Você sabe muito bem, quer fazer o favor de não me aborrecer? Dessa vez não serei tão condizente. – ela se controlou ao máximo para não gritar, mas estava nas estribeiras. – Quer que eu te lembre? Dormir com o cachorro foi bom, né? – disse irônica. – Você deve ter gostado tá querendo outra vez...
"- Mione desculpa sério, mas eu não consegui achar.
– Você não me ama mais! - ela choramingou.
– Claro que te amo, amor.
– Não, não ama, se amasse teria trago meu sanduiche!
– Me desculpe, mas acontece que não é nada fácil encontrar o que você pediu. Tanto é que não consegui, mas eu procurei bastante.
– Eu quero meu sanduiche. - falou como uma criança birrenta de cinco anos.
– Amor...
– Você não trouxe meu sanduiche...
– Mione...
– Eu estou com desejo...
– Benzinho...
– Vai pagar caro por isso. - sua expressão mudou tão rápido que Rony se assustou. - Não quero dormir com você. Sempre que olhar para ti me lembrarei do sanduiche.
Parecia besteira, mas ela falava muito sério. Hermione era, quase sempre, um amor de pessoa, contudo, quando a decepcionavam... Sai de baixo que ai vem chumbo grosso.
– Pelo visto o "Pichi" vai ter companhia por alguns dias.
– Você não está falando sério, está?
– Sério até demais. Sonhe com as pulgas e carrapatos.”.
– Tá bem, tá bem. Eu paro. Você está tensa, meu amor. - Rony a fez se sentar e iniciou uma massagem em seus ombros.
– É porque você nunca trouxe meu pedido. - falou tentando relaxar, mas as mãos do ruivo não eram muito delicadas para isso.
– De novo com esse papo?
– Até você trazer meu sanduiche.
Ele bufou.
– Certo certo. - levantou os braços em rendição. Amanha nós dois iremos rodar a cidade toda procurando sanduiche, tá?
– Tá! - ela falou animada.
Fazia três dias que tinha se mudado para um apartamento (apertamento). Não era grande coisa, mas até acharem um casa digna isso iria servir.
Rony teve um acesso de ciúmes porque achou que o imobiliário estava “arrastando asa” para Hermione. Por causa disso demoraram um pouco mais a achar uma casa. Era besteira, mas para Ron era "defender o território",pensamento machista.
Desde que chegaram não tiveram muito tempo para desempacotar as coisas. Hermione usava como desculpa a gravidez. Dizia que estava cansada, e além do mais não podia ficar carregando peso.
– O que a Rose tá fazendo no quarto?
– “Alumando os blinquedos!” – respondeu tentando imitar a voz da filha.
– Hum... Eu quero fazer alguma coisa, mas não sei o que exatamente. – falou impaciente.
– Bom você poderia me fazer um lanchinho, eu estou com fome. – sugeriu.
– Não, isso não. Outra coisa... – e de repente uma ideia brotou em sua cabeça.
Ha algum tempo tinham ido ao obstetra, que os dera uma boa notícia:
–"É menino!" - anunciou o doutor, Pierre.
– "Ótimo, assim poderá ficar de olho na Rosinha!”.
Se Hermione não estivesse longe de Rony teria lhe dado um tapa. O que ele achava que a menina faria?
O melhor de tudo é que Rony tentava recompensar nessa gravidez o que não pode fazer na outra. Algumas vezes chegava a ser muito meloso, mas em outras era fofo. Toda noite ele beijava a barriga de Hermione e dizia: "Dorme bem com a mamãe." ela se derretia toda ao ouvi-lo, e parecia que o bebê reconhecia a voz do pai.
Cuidaram com muito amor e carinho da criança, mesmo não estando nascida. Diziam que era bom estimular a criança ainda na barriga, o tornaria um adulto melhor. Imagine se Hugo nascesse um garoto rebelde, que briga com todos e desrespeita? Seria o fim da picada, ainda mais sendo filho de quem era.
No dia seguinte, Hermione acordara com o humor a mil. Retirou as coisas das caixas sem perceber que cantava alegremente. Rony a encarou com a testa enrugada. Ela não costumava cantar esse tipo de música. Músicas do DVD da galinha pintadinha? Hermione não estava em seu juízo normal. Devia ser de tanto assisti-lo com Rose...
– Mamãe, tá tudo bem? - a menina perguntou estranhando a atitude dela. Enquanto alimentava a ruiva - com "Olha o aviãozinho." – cantarolava"Borboletinha, está na cozinha, fazendo chocolate para a madrinha...”.
– Melhor impossível amor.
– Pai, "achu" que o nenêm fez mal "plá" cabecinha da minha mamãe!
Rony riu. Ela tinha um jeito tão inocente de falar.
Como prometido, Hermione, Rony e Rose foram almoçar na casa dos Weasley, Molly e Arthur. Perto das cinco horas, o casal saiu – deixando uma Rose chorosa – atrás do tão sonhado sanduiche de Hermione. Rodaram várias e várias ruas até encontrarem alguém que encomendava todo o tipo de comida...
– Não acredito que nós encontramos esse sanduiche. Que coisa mais surreal.
– Surreal ou não, eu vou comer!
– Cuidado para não sujar meu carro. - Hermione arqueou as sobrancelhas. - Que foi? Eu que lavo ele!
Ela rolou os olhos e riu.
– Ah, Rony você é único!
– Sim, por isso que nós somos perfeitos.
– Ninguém é perfeito.
– Você mudou de nome? Agora é a senhora "ninguém" Weasley? - brincou.
– Para Rony. - Hermione tentou fazer uma cara séria, mas não conseguiu.
– Vamos embora senhora ninguém.
– Antes, Ron, obrigada pelo sanduiche, você é o melhor marido do mundo!
– Todas elas me adoram! - falou e deu a partida no carro.
Mal eles sabiam que aquela não seria uma boa noite...
Uma forte chuva começou deixando os vidros do carro embaçados e um frio cortante.
– Amor...
– Fala. - Hermione sorria para o sanduiche.
– Tá com frio?
– Um pouquinho, por quê?
– Não, nada não, só queria saber...
– Preste atenção no trânsito! - ela advertiu.
Rony, que gostava de fazer gracinha, foi inventar de derrapar o carro na pista molhada. Hermione levou um tremendo susto.
– Ronald seu idiota! - na primeira oportunidade que teve - quando Rony foi encará-la - ela lhe acertou um tapa de marcar os dedos.
– Isso dói mulher! - ele passou a mão onde foi acertado.
– Isso não é coisa que se faça! Quer me matar? E além do mais... - ela fez uma expressão de incredulidade.
– O que? Hora, não vai terminar? Não foi para tanto, ou foi?
– Cacetada. - praguejou. - Não, não é isso... Eu acho que molhei o carro. Mais especificamente o banco...
– De que?
– Se não me engano, de liquido amniótico. Sabe, quando a bolsa da mulher estoura...
– Bol...? - Rony tentava entender o que ela dizia, e quando o fez sua boca formou um "Aaah..." de compreensão, seguido de uma leve freada. - Tá brincando né?
– Eu não brinco com isso! - falou arfando, pois as contrações estavam por começar.
– Tá, é... Calma, calma, eu... Respira...
– Eu não vou esquecer-me de respirar! - sua voz se alterou.
– Claro claro...
– Será que pode fazer o favor de dirigir para alguma droga de hospital? Ou você quer que seu filho nasça aqui no meio de lugar nenhum?
– Sem estresse...
– Sem estresse? Diz isso porque não é você que tá sentindo essas dores! Meus pés ficam inchados e eu devo ter ganhado uns 50 quilos nessa gravidez. Tudo por sua culpa! Porque você é um idiota, que ficou me mimando com comida! Comida! Eu não resisto a tortas, pipoca, refrigerante, e principalmente a chocolate. E o que você fez? Deu tudo isso pra mim!
– Até parece que você não gostou de ter tudo isso. - Rony tentou sobrepor sua voz a dela.
– Claro que gostei, e não grita comigo! - seus olhos se encheram de lágrimas. - Eu não gosto de gritem comigo!
– Ah não Mione... - "Que mulher dramática e difícil!" – Amor, olha não faz esse biquinho. A gente tá indo pro hospital, tá bom, mas não fica com raiva, tá?
– Tá...
– Avisa minha mãe o que aconteceu, que não podemos ir buscar a Rose, ok?
– Uhum. - Hermione revirou a bolsa procurando o celular. - Alô, senhora Weasley? Quer dizer, Molly.
Molly respondeu do outro lado da linha:
– Hermione, querida, já ia ligar, Rose está inquieta, quer que os dois voltem logo. Está bastante ansiosa e não para em um lugar só.
– Era exatamente sobre isso que ia falar. Surgiu um pequeno imprevisto...
– Que imprevisto? Posso saber?
– Sim, é que...
Hermione nem teve tempo de registrar o que aconteceu. Apenas sentiu um forte impacto ao seu lado e depois tudo se tornou escuro.
Rony levou um susto. O carro saiu deslizando pela rua molhada parando a quilômetros de distância. Quando conseguiu se recuperar concluiu que algum carro tinha batido na lateral de seu carro, no lado do passageiro, ou melhor no lado da passageira, gravida indo para o hospital...
– Hermione?
Silêncio...
– Hermione! - diferente do outro chamado dessa vez ele estava quase a advertindo. - Hermione, responde!
O que ele esperava? Que ela começasse a rir - aquela risada que o deixava louco - falando "brincadeira amor!", mas instantaneamente lembrou que ela não fazia esse tipo de brincadeira.
– Hermione! - só havia silêncio a não ser por sirenes ao longe, que provavelmente anunciavam a chegada de ambulância ou algo do tipo.
As lagrimas molharam seu rosto. Hermione não o respondia. Seu coração se apertou como se alguém o tivesse em suas mãos e o exprimisse. Não queria pensar em nada, se não sua mente começaria a projetar pensamentos nada positivos, o que pioraria sua situação porque mesmo sem pensar o pior lhe ocorria.
A sirene foi se tornando mais alta a cada minuto e o desespero tentava dominá-lo por completo. Seu celular começou a tocar, mas não sabia onde ele estava, então nada pode fazer.
– Oi, alguém está me ouvindo?
– Sim, sim. Pelo amor de Deus pode ajudar a gente minha mulher está grávida e a bolsa estourou no carro quando bateram a gente estava indo pro hospital e... - Rony despejou tudo sem pausas. Estava nervoso...
– Se acalme moço, nós já vamos tirá-los dai. Ela está acordada?
– Não... - sua voz quase falhou.
– Certo, certo.
As gotas de chuva batiam no carro produzindo um barulho irritante, aliás, qualquer barulho para Rony era irritante. A única coisa que queria escutar era a voz de Hermione dizendo que tudo estava bem...
Por pedido de Rony a tiraram primeiro, imobilizada. Em seu rosto havia um corte profundo e alguns pequenos cortes em seu braço, causados pelo vidro da janela, que estava todo espatifado.
Respirando... "Eu não vou esquecer-me de respirar!"
Rony foi com a ambulância, não conseguiria ficar longe dela, não agora. Não pode evitar o pensamentos ruins. Se acontecesse algo a ela a última coisa que disse foi "Avisa minha mãe o que aconteceu, que não podemos ir buscar a Rose, ok?". Que idiota! Vivia dizendo para ela nos últimos meses que a amava como nunca amara ninguém. Se por acaso morresse deveria morrer sabendo que ele a amava incondicionalmente.
Deveriam ter avisado no hospital que uma paciente grávida, acidentada, estava prestes a chegar. Uma equipe de médicos e paramédicos esperava na frente do local.
– Precisamos fazer um parto as pressas, existe risco para sua mulher e o bebê, mas ele tem mais chances de sobreviver.
Rony viu toda sua vida passar em sua frente sem poder fazer nada. Foi impedido de seguir com Hermione, não haveria espaço para todos mais ele. Inconformado ele se limitou a ligar para os pais e explicar o que tinha acontecido. Molly ficou bastante chocado com o que escutou. Como preocupação de mãe perguntou se ele tinha sofrido alguma coisa. Nada, apenas alguns arranhões.
Harry, Gina, senhor Granger, senhor Weasley. Todos foram se juntaram no hospital para dar forçar a Ron. Molly testava cuidando dos netos. Harry não queria que Gina fosse por causa da gravidez era desaconselhável que ela se aborrecesse, mas foi por teimosia.
Ron precisava de alguém que lhe dissesse que tudo ficaria bem. Só isso.
Passou por tanta coisa para ficar com Hermione, será que não merecia um tempo de sossego? Poxa, por que quando as coisas estão indo bem, sem pessoas para atrapalhar e nada com o que se preocupar, a roleta da vida gira e tudo vai por água abaixo?
Injusto, injusto!
As lágrimas queimavam o rosto de Rony. Ele só queria poder abraçá-la. Sua simples presença faria um bem enorme.
Horas e horas se passaram desde sua entrada no hospital e nada.
Afinal, o que estaria acontecendo naquela sala! Maldito dia! Deveria ter virado o dia procurando o sanduiche de Hermione, pelo menos não teria saído hoje e esse acidente teria sido evitado, mas nada na vida é por acaso...
Rony andava de um lado para o outro mais que preocupado. O que aconteceria se por acaso perdesse Hermione? "Pare de pensar besteira Ronald!"seu subconsciente advertiu, mas era impossível. Tinha que pensar nas possibilidades. "Por que ela? Deveria ter sido eu!"
– Se acalme filho, vai ficar tudo bem. – Arthur tentava fazer o filho sentar, acabaria fazendo um buraco no chão.
Ele ignorou todo e qualquer conselho. Estava tenso demais, teve que se controlar três vezes para não socar o balcão de impaciência.
Sua tensão foi um pouco amenizada pela aparição do doutor – doutor Pierre.
Sua expressão não era a das melhores...
– Doutor, me diga que deu tudo certo. Que Hermione e Hugo estão bem, por favor. - Rony estava tão arrasado. Tão desacreditado. Se acontecesse algo a sua Hermione seriam poucas as razões de viver. Seria uma vida sem luz, sem perspectivas, dias frios, gelados, nublados...
– Se acalme primeiro. Hugo é um menino grande e forte, muito bonito. Bom, o fim da cirurgia que não nos agradou. Houve pequenas complicações e fatores que contribuíram para... Para seus resultados.
Rony prendeu a respiração. Não aguentaria uma notícia ruim. "Que não seja o pior." sua mente formulava.
– O que houve?
O doutor suspirou.
– Hermione está em coma, sem previsão para despertar.
Seu mundo mudaria com apenas três palavras. Teria de cuidar de Rose e Hugo sem Hermione. O pior? Não sabia por quanto tempo.
Quanto tempo?
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