Salazar Slytherin;
Escócia, primavera de 1010.
- SAAAAAAAAAAAAAAALAZAR SLYTERIIIN, VOLTE JA AQUI SEU PESTE. - O silêncio noturno foi quebrado por um grito histérico e raivoso vindo do primeiro piso da enorme mansão Slytherin, ou casa das serpentes, como era conhecida no vilarejo. O grito se espalhou pelo ar rapidamente, acordando os elfos domésticos e fazendo um belo loiro gargalhar com vontade. - Se eu te pegar moleque, você já era.
- Calma Dora. - gritou o loiro, no andar superior enquanto controlava o riso – Eles não mordem.
- Podem não morder. Mas se for preciso EU mordo, sua peste loira. TIRE JA ESSE BICHOS NOJENTOS DA MINHA CAMA. AGOOOOOOOOOOORA.
- Calma, calma. Não é para tanto. - reclamou o garoto descendo as escadas e indo calmamente eu direção ao quarto de Dora. Aquela mulher era a pessoa mais importante para ele desde os três anos de idade, quando começou a trabalhar na Mansão como sua tutora, e depois, aos sete quando sua magia começou a se manifestar, foi ela quem o ensinou tudo que ele sabia sobre magia. - Eles são todos muito bonzinhos, não tem razão para ficar tão brava. - resmungou O loiro, entrando no quarto, e vendo Dora em cima da cômoda, tentando se equilibrar e fugir dos pequenos ratinhos brancos que enfestavam o quarto.
- Ora Salazar, você ainda não cresceu não é? Você costumava fazer isso quanto tinha nove anos. Por acaso você não teve infância? - perguntou a mulher segurando firmemente o Robe de lã Javanesa em volta do corpo robusto.
- Tive, e gostei tanto que decidi prolonga-la. - riu o garoto recolhendo ratinho por ratinho e colocando-os dentro de uma caixa que estava embaixo da cama.
- Você tem muita sorte por seus pais não estarem em casa, se estivessem.
- Se estivessem eu nem teria feito isso, você sabe que meu pai iria treinar a mira dele na minha testa e de preferência com um feitiço bem doloroso. - Interrompeu o garoto sacudindo a cabeça, tentando eliminar aquela idéia da cabeça.
- Ele não muda não é? Mas as coisas vão melhorar. Você vai correr atrás dos seus sonhos, e tudo vai dar certo na sua vida Querido. - falou a mulher com uma voz bondosa, descendo da estante ao ver o garoto colocando o ultimo ratinho dentro da caixa.
- Espero que sim, amanhã mesmo eu vou para a casa daquele leãozinho descabelado e nós vamos sair por aí para fazer dos sonhos realidade. - falou o garoto com os olhos brilhando.
- Mas você nunca me disse o que você quer tanto construir Salazar? - perguntou a mulher se sentando na cama, e olhando-o com carinho.
- Um cabaré. -respondeu ele com naturalidade.
Dora arregalou os olhos e colou a mão no peito, tossindo sem folego.
- Como é?
- Brincadeira, sua dramática. Não é um Cabaré. Mas eu ainda não vou te contar. Quando tudo estiver pronto, eu irei te levar lá como convidada especial e te mostrar tudo.
- Muito bem, mas enquanto isso não acontece, nós precisamos dormir, afinal, amanhã sua jornada irá começar e antes dos mil passos, o primeiro precisa ser dado. Então já para a cama. - Falou a mulher empurrando-o para fora do quarto e fechando a porta na cara do loiro estupefato. - Boa noite querido, tenha bons sonhos.
Salazar subiu as escadas resmungando e voltou para a cama, dormindo quase instantaneamente.
A claridade da manhã entrava no quarto por pequenas frestas entre as pesadas cortinas de veludo verde escuro, em contraste com as paredes revestidas de mogno, o que não era suficiente para iluminar o quarto, mas deixava bem visíveis os contornos espalhados pelo chão, o quarto podia estar escuro, mas mesmo assim, toda aquela bagunça era bem visível.
Dora estava parada na porta do quarto ha alguns minutos, tentando se controlar para não trucidar o loiro que dormia tranquilamente em uma cama gigantesca no meio exato daquele quarto, que era digno de reis.
Caminhando até a janela lentamente, Dora quase foi ao chão duas vezes, enquanto desviava daquela bagunça imensa.
- Merlin, o que eu fiz para merecer isso? - perguntou a si mesma abrindo as pesadas cortinas iluminando aquele local por completo. Mas a visão que teve a fez soltar um gritinho bem agudo.
A situação do quarto era pior do que ela pensava.
Haviam roupas espalhadas por todo o canto, sapatos, livros, cartas, desenhos, e projetos. Varias coisas estavam manchadas com nanquim de um dos tinteiros quebrados e jogados em um canto qualquer.
A cama estava uma bagunça ainda maior, por cima do garoto, havia um fino lençol branco, e por cima do lençol, varias fotos e objetos pessoais. Era uma bagunça inigualável.
- Salazar, Salazar, SALAZAR SLYTHERIN ACORDAAAAAAA! - O loiro dormia calmamente imune aos gritos da mulher, que tentava acorda-lo de todo o modo. - Eu devo ter afogado o gato de Merlin em água fervendo, numa outra vida. SALAZAAAAAAAAAAAAAR. ARGH.
O loiro abriu um dos olhos e olhou em volta, fazendo uma careta, e voltou a fecha-lo com força. Sabia que Dora iria falar no seu ouvido até a língua cair.
- Levante agora mesmo menino, ou eu vou tomar sérias providências. - ameaçou a mulher em um tom nervoso, mas sem perder o ar maternal.
- Tipo o que?
- Tipo: você quer ver?
- Não. Eu quero dormir. Passa-me esse travesseiro nos seus pés? - perguntou o loiro abrindo um sorriso largo e apontando para o grande travesseiro branco, de penas de ganso aos pés da senhora.
- Eu já vou fazer sua bela cabecinha se deitar nele querido. - Respondeu a mulher com um sorriso falso e um tom doce de mais, antes de sacar a varinha e fazer o colchão se virar, jogando o garoto no chão, com a cabeça exatamente, em cima do grande e fofo travesseiro. - Prontinho.
- Obrigado Dora, esse travesseiro é muito bom. - Falou o garoto abraçando o travesseiro e voltando a dormir ali mesmo.
- Esse menino não tem mais jeito. - reclamou a mulher saindo do quarto e correndo para a cozinha, se demorasse mais o bolo que estava no forno à lenha iria queimar completamente.
- Há ninguém me tira da cama tão cedo. - resmungou o garoto antes de cair no sono novamente.
Salazar acordou sentindo seus músculos reclamarem por falta de uso. Ele devia mesmo ter dormido muito.
Levantou-se num pulo, correu para o banheiro e tomou um banho com a água fria que estava na grande banheira de porcelana persa, se vestiu rapidamente, e voltou para o quarto, dando um jeito naquela bagunça. Com um toque da varinha os objetos voaram pelo quarto, algumas coisas iam de volta para o grande armário detalhado com uma madeira nobre e escura e outras entravam em um malão que estava aberto perto da cama, ampliado magicamente.
Quando tudo estava em seu lugar, o garoto suspirou e deixou o malão fechado perto da porta. Deu mais uma olhada no grande quarto em que ele passou a maior parte de sua vida e saiu dali assoviando uma antiga canção gaulesa.
A noite se aproximava rapidamente, e com ela a hora de partir chegava. Era agora ou nunca. Seus pais nunca deixavam nem sonhar com tudo isso. E agora a satisfação era imensa. Não só por saber que ele quebraria todas as regras da poderosa e fria família Slytherin, mas também, por saber que os seus maiores sonhos se realizariam em breve.
- Salazar, você já arrumou seu quarto? - perguntou Dora, ao ouvir os passos pela escada.
- Não.
- Como não? Ainda não? - perguntou a mulher, enxugando as mãos num pano de prato, com os olhos arregalados.
- Não. Eu deixei lá para você arrumar para mim. - falou o menino calmamente pegando uma maçã em uma grande fruteira em cima de um console e colocando-a na boca, enquanto se jogava confortavelmente em um sofá fofo.
- COMO É? - A cara de Dora estava tão hilária que o garoto não conseguiu segurar a gargalhada, Dora olhou para ele com uma cara de poucos amigos, enquanto se aproximava lentamente. - Brincadeirinha. Eu já arrumei. Está tudo nos seu devido lugar. - respondeu o menino começando a ficar com medo ao ver a fisionomia da mulher assumir uma expressão psicopata.
- Bom mesmo mocinho. Bom mesmo. - respondeu ela voltando para a cozinha e deixando o loiro sorridente para trás.
- Salazar Slytherin, o que raios você pensa que está fazendo aqui, jogado dessa forma sobre o sofá ao invés de estar fazendo o seu trabalho? - Salazar sentiu todos os pelos de seu corpo se arrepiar de medo, ao ouvir a voz dura, fria e arrastada vinda da porta.
- P-pai, e-eu.. - Começou o loiro se virando para a porta e vendo a imagem de seu pai, mais imponente do que nunca, com os longos cabelos loiros, e o rosto normalmente frio, coberto por uma expressão de raiva quase assassina.
- Você o que? É um vagabundo que não sabe fazer nada além de gastar meu dinheiro e ficar sendo paparicado pelas empregadas? Ora, isso eu já sabia ha tempos. - Resmungou o senhor se aproximando do garoto e levantando-o pelo colarinho cá camisa. - Vá já para meu escritório e me espere lá. Teremos uma conversa definitiva dessa vez seu moleque imprestável. - A raiva estava presente em cada letra proferida pela boca daquele homem, e ficou ainda mais evidente ao jogar o garoto novamente no sofá com força, enquanto se virava para subir as escadas com uma bolsa de coro em mãos.
O olhar do garoto parou na bela mulher parada na porta daquele cômodo, e ele avaliou as feições da mãe ainda encolhido. Os longos cabelos loiros estavam presos em um coque sóbrio e austero, as roupas sérias, eram em tons escuros e bem recatados, a pele alva de seu rosto tinha um tom rosado pelo frio que fazia lá fora, os lábios vermelhos estavam em mais evidencia do que de costume.
- Não se atrase Salazar, sabe que seu pai não tolera falta de compromisso com horários. - falou a mulher com uma expressão torturada. Ela parecia dividida entre correr até o filho e abraça-lo apertado, ou trata-lo com formalidade.
Salazar entendia o dilema da mãe. Ela era uma boa mulher, mas foi forçada a se casar com um homem frio e machista. Ele sabia que se a mãe fizesse o que queria poderia apanhar de seu pai, ou coisa pior. Alistair Slytherin não aceitaria que a esposa trata-se o filho com carinho, já que desprezava esse sentimento com todas as suas forças. Na verdade aquele homem desprezava todo e qualquer sentimento que tivessem uma boa natureza.
- Eu já vou. - respondeu o loiro se dirigindo até onde a mãe estava. - Senti sua falta mamãe. - murmurou baixinho para ela, e pode ouvir o som sufocado de um soluço, escapar pela garganta da mulher, que abaixou a cabeça e se retirou dali tentando conter o choro que se aproximava.
Alguns minutos depois, Salazar se encontrava no escritório de seu pai. Ele tinha lembranças terríveis daquele lugar. Quando criança ele costumava frequentar muito aquele escritório, já que toda vez que aprontava e seu pai descobria, era mandado para lá. E os castigos aplicados por seu pai nunca foram nem de longe leves.
Seu pai já estava sentado na grande poltrona de couro negro de frente para a mesa de mogno escuro, repleta de papeis, documentos, e objetos de prata em cima.
As paredes eram revestidas da mesma madeira da mesa, dando um ar sério e clássico para a sala, na parede atrás da poltrona de seu pai, havia uma grande janela, a do lado esquerdo, era coberta por estantes cheias de livros de todas as cores e tamanhos, e a da direita, havia quadros de todos os tamanhos, contendo paisagens e alguns membros da nobre família.
- O senhor pediu que eu viesse. - começou o loiro sendo logo interrompido por seu pai, já sem paciência.
- Ainda não sou um velho, tenho memória boa e sei que lhe chamei, não precisa ser um idiota e ficar repetindo. Sente-se logo. - O garoto sentou-se quieto e de cabeça baixa, de repente suas mãos lhe parecerão tão interessantes. - Tens sorte por u ser um homem paciente moleque, caso contraio, já estarias se contorcendo no chão com a intensidade de minha raiva sendo liberada em um bom cruccio. - começou o homem. - Preste bem atenção, pois só vou falar uma vez. Os Slytherins são uma família ha anos respeitada, e infelizmente você é o meu herdeiro. É para você que deixarei todo o meu dinheiro, e propriedades quando me for. E com eles vêm responsabilidades. Mas você não faz o mínimo esforço para aprender a lidar com o condado que ira herdar. Você terá criações, plantações, propriedades, e deveres políticos nesse lugar garoto, como poderei descansar em paz, se não sabes nem como administrar essa casa? Quero saber, o que pretendes fazer de sua vida moleque?
- Pa.. Alistair, eu tenho planos de criar uma escola para..
- HA. Então é isso que pretendes? Seu um tutorsinho de merda? E o que vai ensinar? Como se uma vagabundo nos dias de hoje? - falou o homem com os olhos faiscando na direção do loiro. Ele parece se controlar para não saltar por cima da mesa e matar o filho com as próprias mãos.
- NÃO. Não é isso. Quero fundar uma escola de magia e bruxaria. - falou o garoto fazendo o pai retroceder um pouco. Salazar continuou ao ver que o pai prestava atenção no que dizia. - Quero ensinar a jovens bruxos como controlar seus poderes, e usa-los. Grandes famílias bruxas têm tutores de magia para seus filhos, mas é claro que seria bem melhor se todos pudessem aprender juntos. Assim haveria como praticar uns com os outros e interagir. Seria uma escola apenas para nobres. - O garoto agora falava abertamente, ao ver o pai encostar-se na poltrona e prestar atenção nos seus planos. O olhar do homem mais velho era quase conspirador, ao que parecia, ele estava gostando da ideia.
- Mas essa seu plano seria de ensinar apenas nobres e sangue puros não é? - perguntou Alistair.
- Sim, com certeza. Apenas grandes e poderosas famílias bruxas. - respondeu o Salazar, sabendo que se disse que seu plano inicial era ensinar todos que quisessem aprender, seu pai não toleraria a ideia de maneira alguma.
- sendo assim. - respondeu o homem.
Os dois ficaram mais de três horas trancados naquele escritório conversando sobre a escola. Salazar expôs suas ideias e seu pai, deu sugestões que foram bem aceitas pelo mais novo. Os dois planejaram tudo, e Salazar acabou gostando ode ter contado tudo a seu pai, já que ele lhe deu ideias maravilhosas. Afinal o homem já tinha mais experiência, com a magia, e com as pessoas. Quando saíram daquela sala. A escola já não era mais apenas um sonho infantil, mas sim, algo pronto para se tornar real.
Alistar Slytherin deu a seu filho uma quantidade gigantesca em dinheiro, para que o loiro pudesse construir a escola, e logo, a sua partida foi autorizada pelo pai, que depois de tudo penejado, se retirou para descansar em seu quarto, afinal, a viajem de volta dos pais de galês, onde estava fazendo negócios, foi exaustiva.
Salazar correu para seu quarto com a empolgação transbordando, juntou o resto das suas coisas, guardou o pouco que faltava, e levou tudo para o hall de entrada da casa com magia.
- Querido, você conversou com seu pai? - Perguntou Dora com um semblante preocupado.
- Conversei, e depois de muitas explicações, ele aceitou minha ideia. Ele deixou Dora, ele me deixou criar a escola. - respondeu o garoto feliz. A aura de felicidade em torno dele era bem visível.
- Isso é maravilhoso querido. - respondeu a mulher chorosa – espero que realize todos os seus sonhos.
- Obrigado Dora. - O garoto correu para os braços da mulher que cuidou dele por toda a infância, ao vê-la abrir os braços para acomoda-lo em um abraço confortável.
Salazar soltou a mulher ao ver sua mãe parada ha alguns metros, olhando-os com uma expressão indecifrável.
- Reendora, eu gostaria de conversar com meu filho, poderia nos dar licença? - perguntou a mulher de forma firme, mas sem deixar de ser educada. A voz suave e delicada num tom inexpressivo.
- Mas é claro Senhora Slytherin, eu vou deixa-los a sós. - respondeu a boa mulher fazendo menção de se retirar.
- Não é necessário, Salazar, venha comigo. - A mulher se virou e começou a caminhar em direção ao salão amarelo. Se o Senhor Slytherin tinha seu escritório, um lugar só seu, aonde ninguém o incomodava, a Senhora Slytherin tinha o salão amarelo, e era um dos lugares mais seguros para se ter uma conversa restrita, já que ninguém se atrevia a entrar naquela sala sem a permissão expressa da mulher, e o único que tinha poder para fazer isso, abominava aquele lugar mais que a própria morte.
A bela mulher sentou-se em um sofá de mogno com o estofado coberto por seda javanesa, e renda escocesa da mais pura qualidade, enquanto acenava para que o filho se sentasse na poltrona quase de frente para si.
- Deseja falar comigo mãe? - perguntou o garoto notando os olhos da mãe um pouco vermelhos.
A mulher o olhou e por um segundo, Salazar estremeceu por inteiro, nunca viu um olhar tão torturado e cheio de remorso quanto aquele. Mas a mulher logo abaixou a cabeça, antes de respirar fundo e voltar a fixar nele um olhar inexpressivo.
- Você vai embora de casa? - perguntou aparentando calma.
- Sim. Ha muito tempo planejava um futuro diferente daquele que papai queria para mim. Sei que isso não seria muito honrado de minha parte, mas eu pensava que ele fosse me proibir de fazer aquilo que eu quisesse, então, resolvi fugir. Mas vocês chegaram antes do esperado, e eu vi que teria que contar para ele.
- E seu pai aceitou?
- Sim. Ele me deu algum dinheiro para começar tudo e disse que no futuro vai querer ver se meu projeto se tornou realidade ou se gastei tudo com.. hãn.. você sabe.
- Mulheres, jogos e bebidas? - perguntou a mulher com uma expressão endurecida.
- Exatamente.
- Pois bem.
- Mais alguma coisa?
- Não, Não ha mais nada. Pode ir. - falou a mulher voltando a abaixar a cabeça, e levantando-a apenas quando sentiu o sofá se afundar com o peso de Salazar, que havia saído da poltrona e se sentado ao seu lado.
- Mamãe, algo lhe preocupa? - perguntou o garoto. Sua mãe mantinha a maior distância possível de todos dentro daquela casa. Mas ela nunca conseguiu esconder nada dele, por mais que o relacionamento deles fosse quase inexistente.
- É claro que não Slytherin. - murmurou a mulher. Ela ainda não havia perdido aquela mania ridícula de chamar o marido e o filho pelo sobrenome.
- Me chame de Salazar, mamãe, ou de filho. Como preferir. – falou o loiro de cabeça baixa.
- Filho. – a Mulher falou em tom de teste. – faz tanto tempo que eu não o chamo assim.
Yves Slytherin era uma bela e jovem mulher, que por ordem do pai, abandonou o homem que amava para se casar com o rico e bem sucedido senhor Slytherin. Mas ninguém sabia a dor que afligia aquela mulher. Ela tinha um bom coração, e não havia nada que ela amasse mais, no mundo inteiro, do que o filho, mas desde que o menino nascera, ela foi brutalmente afastada dele pelo pai da criança.
Segundo Alistair, uma criança precisa de força e independência e não de carinho e amor, assim, no futuro seria uma pessoa firme e honrada e não um bebê chorão agarrado às saias da mãe.
Yves resistiu no inicio, e foi exatamente ai que ela conheceu o marido que tinha. Alistair não admitia ser contrariado, principalmente por ela. Durante meses ela aguentou brigas, discussões e castigos físicos, calada para poder ficar com o filho, mas Alistair descobriu seu ponto fraco, e começou a ameaçar Salazar.
A partir dai, ele conseguia tudo o que queria da esposa. E tudo o que ele queria era vê-la longe do filho.
Desde essa época Yves só se aproximava do filho quando o marido viajava a negócios, e com o tempo, nem assim. Yves decidiu se afastar definitivamente do filho para sua própria proteção e com isso, ela mesma entrava em um estado cada vez mais decadente.
A voz de Salazar a tirou de seus devaneios.
- É bom ouvir você me chamar assim mãe. – O garoto viu o rosto de sua mãe se contorcer em dor e desespero. – Hey, o que houve? Eu disse alguma coisa errada?
- Não meu bem, só disse a verdade. Desculpe-me por isso Salazar, me desculpe. Sei que há muito tempo tenho negligenciado você, mas acredite meu filho...
- Foi necessário, eu sei. – Yves levantou a cabeça e ele pode ver seus olhos marejados. – Conheço bem o pai que eu tenho. Já ouvi muitas conversas de vocês, e muito mais SOBRE vocês. Sei de toda a história, e não te culpo. Muito pelo contrário.
- Quer dizer.. – Uma lágrima grossa riscou o belo rosto pálido, parando perto dos lábios avermelhados da mulher, que a enxugou com mãos tremulas.
- Quero dizer que eu te perdoo por ter ficado longe de mim, e ter perdido parte da minha infância e adolescência mãe. Só não continue persistindo no erro. Eu vou embora, mas quero continuar mantendo contato com você. Você é minha mãe, e eu te amo. Quero compartilhar todos os momentos com você, mesmo que sejam por cartas.
Sem esperar mais um segundo, a mulher irrompeu em lagrimas, e o sorriso em seus lábios finos e vermelhos tornava seu rosto radiante de uma forma que surpreendeu Salazar.
Há muito tempo ele não via a mãe tão feliz.
Salazar se levantou da poltrona e sentou-se no sofá, ao lado da mãe, que o abraçou com força. Como se não quisesse se separar dele nunca mais. Mesmo sabendo que aquilo era inevitável. Principalmente agora.
- Vai me mandar cartas não é? – Havia quatro pessoas na soleira da porta da mansão Slytherin, duas mulheres com a face banhada de lágrimas, um jovem sendo espremido entre dois pares de braços e um homem de meia idade e expressão fechada, que segurava um copo de uísque com força, tentando se controlar para não dar um fim aquela despedida dramática, que era absolutamente ridícula em sua opinião.
- vou sim mamãe. Pode deixar, vou lhe escrever toda semana.. – Salazar abraçou a mãe com força e depois se virou para Dora, a mulher que lhe criou com mais amor e carinho que a maioria das pessoas recebe durante a vida inteira - e para você também Dora.
- É bom mesmo menino, se não eu vou atrás de você só para cobrar. – Dora não perdia o tom maternal, e Alistair revirava os olhos toda vez que ouvia a mulher falar.
- Bom, está na minha hora. – Salazar encolheu suas malas magicamente e colocou-as no bolso interno do casaco que usava enquanto Dora enfeitiçava uma colher de prata, tornando-a uma chave de portal e entregando-a a Salazar.
O loiro só teve tempo de olhar em volta mais uma vez, e dar um tchau para Dora e Yves.
Uma sensação estranha tomou conta dele. Era como se puxassem seu umbigo de dentro para fora e der repente ele começasse a girar.
A sensação sumiu tão rápido quanto tinha aparecido. E quando ele abriu os olhos, se viu jogado em um jardim bem conhecido.
- Não acredito que eu vim parar aqui tão rápido. – Pior, ele não acreditava que Dora não houvesse ensinado aquele feitiço para ele antes.
O loiro se levantou e começou a se limpar, sua roupa estava cheia de grama. E em seguida foi em direção a mansão, que ele chamou de casa durante tantos verões.
- IUHUL, LEÃOZINHO SEDUZENTE, CADÊ VOCÊ? – Salazar gritou antes de bater na porta com a aldrava de prata três vezes.
- EU NÃO ACREDITO QUE AQUELA SERPENTE ALBINA ESTÁ AQUI. – Salazar tentou segurar a gargalhada ao ouvir a voz indignada do amigo, mesmo sendo abafada pela porta ele ainda podia escutar o grito de Gofric. Mas ele não conseguiu se conter ao ver o amigo abrindo a porta de sopetão com uma cara quase assassina - SEU MARICAS DOS INFERNOS, VOCÊ NÃO DISSE QUE VINHA.
- Bem, eu mesmo não sabia que vinha, estava passando aqui perto e resolvi dar um olá.. OLÁÁÁ. - Salazar prendeu o riso novamente e entrou na casa indo em direção a sala. - Hey, sua mãe está aqui? Ela sempre me serve um pedaço de bolo quando eu chego, e hoje eu estou faminto.
- Como assim? Dá para deixar de ser cara de pau por pelo menos um instante Rabudinho? - perguntou Godric com uma careta.
- Rabudinho? Olha só o juba falando de mim. - riu o loiro – mas e aê leãosinho, quais são as boas? - perguntou Salazar se sentando no sofá e colocando os pés em cima da mesinha de centro.
- A única boa é que eu vou te esganar sua serpente filha da..
- Olha os modos Godric. – Salazar levantou em um pulo e correu para a escada, ele sentia falta das tardes na mansão Gryffindor e das conversas com a matriarca da familia. Um exemplo da mãe que ele sempre quis ter. - Ora ora, quem é vivo sempre aparece, como vai Salazar querido?
- E aí tia Sue? Como vai? - perguntou Salazar beijando as costas da mão de Susan Gryffindor. - Ah qual é Juba, eu não vou roubar sua mãe, pode parar de fazer cara feia.
- Não enche serpente albina. - Respondeu Godric de braços cruzados, virando o rosto. - Vamos logo, a Gilby vai arrumar seu quarto, pode parar de jogar seu charme barato em cima da minha mãe, que caso você não tenha reparado, é uma mulher linda e maravilhosa, é claro.. para gerar alguém tão lindo quanto eu. - disse Godric como se aquilo fosse a coisa mais normal do mundo. - Mas não é para o seu bico, e ja tem um marido. Hunf.
- Deixa de ser bobo meu querido, Salazar é meu afilhado preferido e..
- É claro, ele é o único. - riu Godric deixando de lado todo o mau humor anterior. E fazendo os outros dois rirem também.
- Pois é caro Leão, mas mesmo se eu não fosse o único, eu seria o preferido. Eu sou fo..
- Se falar isso Salazar querido, eu te decepo. - Falou Sue, calmamente.
- Credo, vocês são uns loucos mesmo. - Falou Salazar debochado. - que bom que ja estou acostumado.
- Não enche e vem logo seu loiro aguado.
- Hey, você tem é inveja desse meu cabelo lindo, loiro, macio e sedozo. - respondeu loiro passando as mãos em seus cabelos para ilustrar suas palavras.
- eu vou te mostrar a inveja daqui a pouco se você não me seguir. Vou arrancar fio por fio até te ver sem nenhum. - Para a surpresa de Godric, Salazar correu atraz dele. Aquele lá era um caso perdido.
- Então, pensou na minha proposta? - perguntou Salazar, olhando-o de canto de olho, sentando-se na cama do quarto que sempre ocupava quando ia para lá.
- Pensei, e resolvi aceitar. Não há futuro aqui, além de me casar, ter filhos e envelhecer. Eu não nasci para isso. - Falou o moreno com um sorriso timido nos lábios.
- Eu sei. Você, meu caro amigo, é exatamente como eu nesse assunto. Quer sair desse fim de mundo, Viver aventuras, se divertir, e viver, ao invés de seguir essa vida rídicula que nossos pais escolheram seguir.- completou Salazar.
- Isso é para eles, não para nós. - Concordou Godric olhando para o medalhão que carregava no pescoço desde menino.
- E é para isso que eu vim para cá. Arrume suas coisas, e poderemos dar o fora amanhã a noite. E então será.. Boa vida, aí vamos nós. - Godric gargalhou com vontade da pose que Salazar fez ao fim da frase. Parecia mais um pombo, com as duas asas na cintura e peito estufado.
- Aí vamos nós. - concordou, tentando se controlar.
As horas passaram voando, o jantar foi banhado à risadas e velhas lembranças, algumas maravilhosas, outras, absolutamente constrangedoras. A noite foi tranquila e revigorante. Os dois jovens dormiram como pedras e acordaram bem cedo no dia seguinte.
Salazar ajudou Godric a arrumar as malas e guardar tudo que fosse necessário na viajem. O que não era pouco. E se deixassem, Godric levaria até sua cama.
- Desapega criatura. – Godric estava agarrado à um baú cheio de pequenas lembranças. Fotos bruxas, desenhos, documentos, pequenos brinquedos, e uma infinidades de outras coisas enquanto Salazar tentava tira-lo das mãos do moreno que já estava quase soltando o baú por não aguentar o peso.
- Mas eu não quero deixar tudo isso aqu...
- Mas vai. E vai já. Larga, solta DESAPEEEEEGA GODRIC. – Um grito foi ouvido por toda a mansão, depois de um barulho bem alto.
- Vai gritar no ouvido da velha seu abutre energúmeno filho de uma elfa manca. – gritou Salazar, tampando os ouvidos.
- Você largou essa porcaria no meu pé. O que queria que eu fizesse? – perguntou o moreno esfregando o pé esquerdo com as mãos, e fazendo uma careta de dor.
- Se é uma porcaria, porque você quer levar?
- Porque minha vida toda ta aqui. Eu não quero deixar para trás. Mas também não quero sentir o peso da minha vida, no meu pé seu tosco. Não precisava largar o baú do nada.
- Desculpa leãozinho, mas essa porcaria é pesada.
Com muito esforço Salazar conseguiu convencer Godric o deixar o baú, o guarda roupas, a cama e a escrivaninha em casa, mesmo com a insistência do moreno.
- Aonde os dois pensam que vão a essa hora? – Sue estava sentada em uma poltrona, lendo um pequeno livro, e nem ao menos levantou os olhos. Eles haviam ficado quietos de mais o dia inteiro, o que deixou a senhora em alerta, e o mínimo ranger do soalho, já a alertou da aproximação dos dois.
- Mas como é que ela... – A senhora sorriu levemente, ao ouvir o sussurro do afilhado.
- Como se você não soubesse Salazar. Essa aí é vidente. – Godric conhecia a mãe, e sabia que era uma mulher absolutamente atenta. Nada a pegava de surpresa.
- Muito bem, será que vão me explicar, ou vou ter que descobrir por mim mesma? – perguntou a mulher obstinada, se levantando da poltrona e encarando os dois rapazes.
- É... Bem, nós estamos... estamos fugindo da sua casa para fundar uma escola de magia. – Falou Salazar abrindo um grande sorriso em seguida, mas o sorriso durou bem pouco já que Godric enfiou o cotovelo nas suas costelas na intenção de faze-lo calar a boca. – Ai Juba. Isso dói. – resmungou o loiro massageando o local machucado.
- Vocês O QUE? Como assim fugindo de casa? Me expliquem isso já! – Godric passou as mãos pelo rosto, com uma expressão cansada ao ver a mãe ficar extremamente vermelha. A tensão era quase palpável.
- Viu só seu energúmeno descerebrado. Manter sua língua dentro da boca é tão difícil assim?
- Nossa Godric, assim você me magoa. Snif Snif – O loiro fingia chorar deixando Godric ainda mais raivoso.
- Olha mãe, nós planejávamos isso a muito tempo. É o nosso sonho. – começou o moreno.
- E não podia ter me contado? Mas não, ao invés disso ia fugir na calada da noite, como um ladrão.
- Okay, okay. Fizemos isso do jeito errado. Mas dá um desconto mãe. É nosso sonho, desde garotinhos.
- Eu deixo vocês irem... mas com uma condição.
- E qual é?
- Você dois vão me mandar noticias sempre. Quando se estabelecerem, irão me mandar o endereço e eu irei até lá inspecionar o lugar e fazer as mudanças necessárias. Vou ter aval para passar suas férias com vocês e não irão fazer objeções aos meus pedidos. – Os dois se entreolharam e acenaram com a cabeça, aceitando a proposta da mulher, que mantinha uma expressão severa, mas ainda assim, amável.
- Está certo mãe. Nós aceitamos, suas condições.
- É isso aí madrinha. Mas nada de querer opinar no nosso cardápio noturno. – falou Salazar.
- Você está querendo dizer que haverão mulheres duvidosas lá? – perguntou a mulher com os olhos tão arregalados que pareciam saltar da cara. E depois de seu comentário os olhos dos dois ficaram tão arregalados quanto os dela.
- Credo mãe. Você só pensa besteira. – rebateu Godric ao mesmo tempo em que Salazar se explicava.
- Claro que não madrinha, quero dizer REALMENTE do cardápio noturno. Desde pequenos, Godric e eu temos mania de lanchar de madrugada, e só comemos porcarias, como diria você. Então...
- Quer dizer que eram vocês que comiam todos os doces, e guloseimas que meus elfos preparavam? E pior, de madrugada? Quando e como isso começou? – perguntou a mulher.
- É uma longa história mãe, mas por alto, nós começamos isso com uns nove anos de idade, eu estava com vontade de comer adoce de abobora, e acordei Salazar que estava dormindo aqui em casa. Então depois de apanhar por acorda-lo, descemos e comemos tudo que podíamos. Depois, a gente acabou fazendo disso um habito, e pelo menos uma vez na semana fazemos isso quando estamos juntos. – explicou Godric.
- Essa relação de vocês é meio gay sabe. – comentou a mulher.
- CREEEEEDO. – Gritaram os dois juntos.
- Bem, é melhor a gente ir, antes que sua mãe fale que rosa combina comigo. – Falou Salazar, abraçando a senhora Gryffindor e seguindo em direção a porta. Godric, antes de sair abraçou a mãe fortemente e deu-lhe um beijo na face.
- Prometo me cuidar, e vou fazer o máximo para tira-lo das confusões que ela vai entrar. – murmurou no ouvido da mãe.
- Eu te amo querido, nunca se esqueça disso. – respondeu a mulher com a voz falha, tentando segurara as lágrimas que deixavam seus olhos marejados.
- Não vou. – ele se separou da mãe e seguiu o melhor amigo para fora da casa, em direção ao seu futuro, em direção a realização de seus sonhos. Seu maior projeto estava prestes a nascer.
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E aí galera, curtindo? Desculpa pelo atrazo, mas a minha vida anda muuuuito corrida, e tá dificil entrar aqui, escrever então... nem se fale. Mas finalmente, o cpítulo está ai. Por favor COMENTEM.
Comentários (1)
UHU. Salazar teve uma vida dificil coitado :/ Mas felizmente ele tem o Godric e no futuro as meninas... E também a Dora...E as loucuras dele kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk serio, esses dois são muito onda. Gostei bastante do capitulo e espero mais em breve *-*Beijoos!
2013-04-05