Detenção

- Com licença, professor.

Perséfone adentrava a sala do Professor de Poções, Horace Slughorn, o qual ela não podia deixar de associar a um leão marinho, mas admirava-o pela destreza em preparar poções.

- Pode entrar! Eu estava a sua espera, srta Green. E então, como está?

Perséfone havia deixado a enfermaria naquela tarde e como combinado com o Diretor Dumbledore, fora cumprir a primeira de suas cinco noites de detenção. Já fazia 7 dias que voltara a Hogwarts e não assistira nem uma aula por causa do incidente no trem envolvendo Severus Snape e Sirius Black.

-Recuperada, professor, obrigada por perguntar – disse secamente.

-Desferir um feitiço daqueles....Não esperava isso de você, srta Green. Dumbledore deve ter ficado decepcionado, seu pai também... – O professor falava mais para si mesmo do que para Perséfone e parecia um pouco embriagado, segurando um copo de cerveja amanteigada e mastigando alguns abacaxis cristalizados - Mas não há como fugir de quem você é, não? Deve ser mais forte do que você...Green...

-Professor! Obrigada pela sua opinião, mas eu gostaria de saber qual será a minha detenção! – Perséfone percebeu que fora ríspida pelo olhar que recebeu assustado do professor, de modo que completou – Por favor!

-Oh sim! Bem, ainda não são 19h00min e precisamos esperar o outro aluno chegar. Será interessante, pois o sr Black lhe fará companhia.

Nesse momento, Sirius adentrou a sala, porém estacou assim que viu Perséfone Green, fazendo uma careta de desagrado. Apesar de ter percebido a careta do jovem, Perséfone não pode deixar enrubescer, pois durante os sete anos em que esteve em Hogwarts desejara intimamente poder dividir uma hora que fosse com Sirius Black, mesmo que o fosse em uma detenção. Enquanto pensava nisso, pode ouvir a voz irônica do professor Slughorn:

-Sr Black! Acabava de falar a srta Green que o senhor a acompanharia na detenção de hoje. Ela estava ansiosa para começar...

Sirius olhou para Perséfone e seus olhos cruzaram-se brevemente. Desde a discussão na enfermaria a três dias não haviam mais se falado.

-Bem! Agora que ambos estão aqui podemos começar. Vocês terão duas horas para limpar aqueles caldeirões. Quero-os lustrados para a aula dos alunos do primeiro ano amanhã. E sem usar magia. Ok? Estarei em meus aposentos, caso precisem. – Dizendo isso, afasta-se, deixando os dois jovens sozinhos. Perséfone não conseguiu deixar de pensar que a noite seria bem longa.

 

 

 

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Já se passara mais de uma hora desde o começo da detenção e quase todos os caldeirões já se encontravam limpos. Não trocaram uma palavra em todo o tempo. Porém Sirius não deixou de notar que Perséfone estava tensa, pois mordia o canto do lábio inferior de tempos em tempos. Isso a deixava incrivelmente sexy, Sirius observou para si mesmo. Nesses sete anos em Hogwarts, Sirius e Perséfone já haviam se cruzado várias vezes, no ano anterior estudaram Feitiços juntos, no quinto ano estudaram Herbologia, e talvez tenham estudado Poções juntos no quarto e terceiro ano, pois se lembrava de que a Grifinória estudara a matéria com as Corvinal, mas não se lembra de Perséfone. Esse ano fariam Feitiços juntos, e talvez mais matérias, dependendo de como fora o resultado da garota nos NOMs. Não podia deixar de reparar em como ela era bonita, com o rosto fino  e os cabelos compridos e cacheados. Ela usava uma calça jeans colada ao corpo e uma blusa de alças, que, conforme o movimento que ela fazia, deixava parte de sua barriga a mostra. Aos ombros, caíam-lhe as madeixas castanho-claras, que esporadicamente ela tentava empurrar para trás com as costas da mão. Apesar de estar com o rosto abaixado, Sirius podia vislumbrar seus olhos, e eles o hipnotizavam, havia algo naqueles olhos que ostentava poder e ambição, mas ele não sabia o quê. Enquanto pensava nisso, Perséfone levantou o rosto e seus olhos cruzaram-se, de modo que ela ficou encarando-o. Sirius não soube precisar quanto tempo ficaram assim, talvez segundos. Ela mantinha uma feição calma e com um leve sorriso no rosto, perguntou:

- Por que você está aqui?

Sirius assustou-se com a pergunta, mas manteve o olhar:

-Fui pego andando no castelo de madrugada, ontem.

Apesar das poucas palavras, Perséfone compreendeu o que havia acontecido. Sabia sobre os passeios da lua cheia.

- Você estava sozinho?

- Sim. Por quê? - Sirius intrigou-se com a pergunta dela, mas queria deixar bem claro que não estava acompanhado dos amigos ou de qualquer outra pessoa, fosse isso que ela estivesse pensando.

Perséfone talvez tenha adivinhado os pensamentos do rapaz, de modo que abaixou o olhar e falou em voz quase inaudível:

-Pensei que estivesse com os demais, Potter, Lupin e Pettigrew...

Sirius fez uma careta, mas ao mesmo tempo sentiu-se aliviado.

-Eu estava sozinho – disse sem muita convicção – e você, o que faz aqui?

-Cinco dias de detenção por causa do que aconteceu no trem.

- Mas e a minha detenção?

- Bem, para todos os efeitos, quem desferiu o “sectusempra” fui eu. Você só se defendeu, Black.

Ao ouvir isso, Sirius instantaneamente largou o caldeirão que estava lustrando e aproximou-se de Perséfone.

- Eu gostaria de me desculpar com você pelo que disse na enfermaria – Perséfone corou subitamente e abaixou o rosto. Sirius pegou-lhe no queixo e suspendeu-o, seus olhos à mesma altura, os olhos mais lindos que Sirius já vira, de um azul claro que poderia fazê-lo esquecer-se de tudo. Estavam tão próximos que pôde sentir um leve perfume de jasmim exalando dela e invadindo sua mente. – Desculpe-me Green. Eu não queria chamá-la de maluca ... eu só fiquei, sei lá, confuso com a sua atitude e com toda essa história de namorados...

Ao ouvir essa palavra, Perséfone se sobressalta, “então estão dizendo mesmo isso?”. Sua respiração começa a ficar pesada e apesar de tentar pensar em alguma justificativa, só consegue pensar na palavra namorados. Sequer ouve o que Sirius continua a dizer, só consegue olhar para seus lábios, agora tão próximos de si.

Subitamente, Sirius parou de falar e começou a respirar descompassadamente. Ainda segurava seu queixo com as mãos, olhando-a, encarando-a. Sem perceber, começou a aproximar-se, trazendo-a consigo. Já próximos, colocou o braço ao redor de sua cintura e sentiu-a estremecer ao toque. Pôde vê-la cerrar os olhos e já estava fechando os seus próprios quando viu o professor Horace adentrar a sala. Imediatamente afastou-se da garota. Perséfone assustou-se, abriu os olhos e não pode deixar de lançar a Sirius um olhar de desapontamento, o qual só desfez quando se virou e viu o professor de poções já ao seu lado, levemente alterado.

- Bom, garotos! Já terminaram? – Perguntou olhando os cinco caldeirões que permaneciam sujos à mesa – Só faltam esses? Podem limpá-los com magia e então estão liberados.

Perséfone rapidamente sacou a varinha e com um leve movimento da mão, limpou-os e empilhou-os com os demais.

- Muito bem, nos vemos amanhã, então, srta Green! – E virando-se para Sirius -  Sr Black, até a próxima detenção!

Assim que ouviu essas palavras, Perséfone retirou-se da sala apressadamente, deixando um atônito Sirius Black para trás. Porém não havia se afastado muito e ouviu passos atrás de si:

-Perséfone! Espere!

Perséfone virou-se assim que o mesmo alcançou-a. Ele estava ofegante e os cabelos estavam levemente desarrumados, mas ainda caíam graciosamente sobre seu rosto, Perséfone notou.

-Eu...nós...nós não terminamos nossa conversa – Sirius dizia, já aproximando-se dela.

-Não se preocupe! Não fiquei chateada, afinal você tinha razão, eu não tinha nada que me intrometer na sua discussão com o Snape. E sinto muito pela detenção, Black, e por dizerem que estamos namorando – nesse momento, a voz dela fraquejou e a firmeza com a qual interrompera Sirius, afastando-o, já não era tão presente. – Pode ter certeza que essa história será esquecida, assim como os seus outros namoros...Boa noite, Black! – Disse isso e partiu à direção oeste do castelo, com os olhos marejados e pensando que em nenhuma vez que desejou ficar numa detenção com Sirius Black ela terminava desse jeito.

 

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