Bons sonhos
Sophia se sentia como se o mundo ao seu redor tivesse parado, e só houvessem os dois naquele momento, penetrou fundo nos olhos dele, como que a procura de uma resposta, de uma saída. Ficaram se encarando por vários minutos, até que ele desviou seu olhar e caminhou até o retrato caído no outro extremo da sala, não precisava nem olhar para saber o que ele diria.
- É ele – os passos dele se aproximaram outra vez – é com Nickolas que você quer sair daqui – parou na frente dela, desprezo em seus olhos – então faça bom proveito, eu vou embora, com ou sem você.
Harry jogou mais uma vez o retrato no chão, e começou a caminhar em direção ao lugar por onde tinha entrado. Puxou uma cadeira, deixando-a logo abaixo do alçapão para que pudesse subir. Sophia apenas o olhava, perplexa.
De repente, a porta da sala se abriu, ele que já estava dependurado no teto, quase conseguindo subir, caiu quando virou-se, tentando ver o que era.
- O que temos aqui, Harry Potter! – a voz desdenhosa de Lucio Malfoy disse quando entrou acompanhado de mais dois comensais que Harry não conhecia – Sophia, como é bom vê-la – voltou-se para ela com cinismo na voz.
- Malfoy – acentiu com a cabeça, cínica, pareciam duas cobras se fitando, discretamente Sophia se moveu para trás, parando na frente de Harry, a postura ameaçadora.
Malfoy apontou a varinha para ela, seu sorriso rapidamente se desmanchou em um olhar sério e amedrontador.
- Saída da frente, Sophia!
- Não mesmo – ela disse com um sorriso sinistro, Harry apenas observava, o coração acelerado
- Sua atrevida – ele começou a caminhar na direção dos dois, a varinha em punho – Crucius! – um raio vermelho saiu de sua varinha, Sophia ergueu a mão, e quando o raio a alcançou, desipou-se como se entrasse pela palma de sua mão, deixando Harry perplexo.
- Não seja tolo Sr, Malfoy – ela disse, zombeteira depois de uma longa risada.
Malfoy e os outros dois comensais se projetaram para a frente, Malfoy e um deles agarrou Harry, o outro segurou Sophia com força pelos braços. Sem conseguir desvencilhar-se dos dois homens, Harry tentava encontrar algum modo de sair dali, estava sem varinha, e apesar de Sophia ser imune a feitiços, ele ainda era um alvo fácil.
Foram arrastados pelo comprido corredor do segundo andar até uma porta dupla no outro extremo. Harry já conhecia aquele corredor.
As portas se abriram sozinhas assim que eles se aproximaram, mas mesmo a pouco distancia o impedia de ver o que havia no cômodo a frente. Aquele caminho fatídico parecia ser feito em câmera lenta, e a medida que se aproximavam, sua cicatriz ardia cada vez mais. Passaram pela porta e ela se fechou logo atrás deles. A escuridão era total, o coração de Harry batia tão rápido que parecia furar suas costelas fazendo a dor se misturar, deixando sue corpo inteiro em estado de alerta.
De repente várias velas se acenderam, uma a uma, o lugar parecia mais um calabouso do que uma sala. Haviam correntes e jaulas de metal nas paredes, o odor era como se algo podre ainda estivesse se decompondo ali. O chão era sujo e molhado, e num canto, quase impossível de destinguir havia alguém parado de costas para eleS, uma figura alta e esguia numa comprida capa preta.
- Meu Lord, Potter e Sophia estão aqui – disse Lucio, e os comensais os soltaram.
- Saiam – ele apenas fez um gesto com a mão, no mesmo instante os comensais saíram – então o que temos aqui, minha querida Sophia, como tem passado?
Ele se aproximou a passos lentos e duros. Harry apertou os olhos na escuridão para conseguir destinguir as formas de seu rosto; suas feições assemelhavam-se as de uma cobra, e seus olhos vermelhos e brilhantes miravam Sophia com um ar estranhamente gentil.
- Melhor impossível – ela respondeu com um sorriso desafiador, Harry estava parado ao seu lado, alerta.
- Sabe porque eu a trouxe pra cá, não sabe? – ela nada respondeu, manteve-se calma, encarando-o do mesmo modo o qual Harry já estava tão acostumado. Voldemort deu mais alguns passos para frente seu olhar voltou-se para Harry – Harry Potter, sempre se intrometendo em meu caminho até quando não preciso de você.
- Se não precisava de mim então por que mandou seu servozinho me trazer até aqui? – disse com escárnio nos lábios.
- Eu não mandei, você foi enganado mas não por mim. – Voltou-se para Sophia – Nickolas é um jovem esperto, pena que caiu na própria armadilha.
- O que você fez com ele seu maldito! – Sophia gritou, escárnio e ódio misturados em sua voz.
- Eu? Nada – Abriu um grande sorriso sinistro – Seu pai esta cuidando dele pessoalmente pra mim.
- Seu miserável – ela sussurrou entre dentes cerrados, de forma que Voldemort não ouviu.
- Olhem um para o outro, Harry apaixonado por Sophia Neveu, confesso que nem eu esperava uma atitude tão estúpida vinda de você. E você Sophia, iludindo o pequeno Harry, devo admitir que também me surpreendeu, analisando o seu histórico não encontrei nada perto disso.
- Você não sabe nada sobre mim! – ela gritou com lagrimas mortas nos olhos, as palavras dele a feriam por dentro.
- Não sei? – soltou um sorriso desdenhoso - Acredita mesmo que você veio ao mundo simplesmente porque seu pai e sua mão se descuidaram em uma noite qualquer? – Encarava Sophia com seus olhos de víbora, puro prazer em vê-la desconcertada – Se não fosse pelo meu poder, você nem se quer estaria viva hoje. Tudo isso começou a 18 anos atrás, eu estava no inicio de minha guerra, as forças de dumbledore pareciam estar se multiplicando. Precisava tomar uma medida drástica para caso tudo saísse errado. Descobri, por acaso em alguns livros de Magia Negra sobre a maldição de Salazar Slytherin e depois de rever cuidadosamente a linhagem de sangue dele, cheguei a apenas duas famílias que tinham chance de possuir sangue totalmente puro, os Neveu e os Ogden. Confesso que foi um grande alivio já que ambas as famílias eram minhas seguidoras. E assim você e Nickolas nasceram, e se não fosse pelo nosso amigo Harry Potter, já estariam mortos.
- O que quer dizer com isso? – ela gaguejou, incrédula.
- Que se eu não tivesse tentado matar-lo, não teria perdido meus poderes, e teria triunfado. Sendo assim vocês dois se tornaria inúteis ao meu propósito pelo menos por uns bons anos. Mas o que eu não esperava que conseguissem, por mais que meus Comensais tentassem mate-los separados, o que era inevitável aconteceu, não foi por amor ou um simples desejo carnal, vocês nasceram para servir a este propósito, e ele se cumpriu.
- Se você queria tanto que Gustave nascesse, porque quer mata-lo agora? – Perguntou Harry juntando todas as suas forças para falar.
- No final das contas eu recuperei meus poderes antes que ele nascesse, o que não era previsto, então agora ele é só um incomodo do qual preciso me livras, assim como você, Harry.
Ele levantou a varinha antes que um dos dois tivesse tempo de se esquivar, “Crucius!”, Harry sentiu instantaneamente todos os órgãos e ossos de seus corpos se contorcerem numa dor agoniante, sua cabeça parecia explodir. Perdeu todas conhecimento do que acontecia ao seu redor, conseguiu ouvir somente alguns gritos distantes “Pare com isso”, “Está vendo, Sophia”.
Alguns minutos depois a dor foi se descipando, encontrou-se deitado no chão sujo, Sophia sentada ao seu lado com as mãos ao redor de seu abdomem. Levantou os olhos para Voldemort, um sorriso de triunfo e prazer em seus lábios finos e quase inesistentes. Estavam indefesos, sem varinha, sem nada que pudesse protege-los dele.
- Você sabe que não pode protege-lo Sophia, basta tornar as coisas mais fáceis, beba a poção e eu a poupo de vê-lo morrer.
Harry voltou-se para ela, assustado quando a viu baixar o os olhos e suspirar tentando manter a calma.
- Não faça isso Sophia! – sussurrou, desespero em sua voz, tinha quase certeza do que ela faria a seguir.
Ela se levantou com o ar de uma velha cansada, como se não conseguisse sustentar o peso do próprio corpo. Lançou um ultimo olhar para Harry, que pela primeira vez conseguiu ler em seu breu impenetrável uma mensagem tão clara quanto qualquer palavra, “isto é apenas um jogo, te mostrarei o que fazer” franziu o cenho e os lábios num minúsculo sorriso malicioso. Certamente tinha errado achando que ela se entregaria assim tão fácil.
- Onde está a poção? – disse ela com os olhos cheios de lágrimas, ser dissimulada certamente era um talento que ela possuía.
- Eu já esperava! – disse ele com um olhar triunfante – Está bem ali – apontou para um dos cantos escuros, ao olhar mais atentamente Harry viu um pequeno frasco brilhando na escuridão.
Sophia soltou um longo suspiro, encarou Voldemort com um falso “tenha piedade”, este apenas lhe devolveu uma gargalhada sinistra que deixava transpirar o quanto ele estava se deliciando com a situação. Ela pegou o pequeno frasco com as mãos trêmulas, caminhou de volta para o centro do cômodo. Lagrimas geladas como seu coração escorriam por sua face branca. De frente para Harry, olhou para Voldemort por cima do ombro sorrindo descaradamente, abriu a tampa do frasco, seu liquido azul fosforescente começou a borbulhar conforme seu braço foi levando-o em direção á boca.
Aquilo aconteceu tão rápido que Harry só se deu conta do que estava acontecendo quando ouviu a voz dela gritar.
- Harry!
Virou o conteúdo o mais rápido que pode para dentro de sua garganta, tinha um gosto extremamente azedo. Quando o liquido atingiu, rápido demais, seu interior, suas mãos se abriram involuntariamente e o frasco de despedaçou no chão ao seu redor.
- Nnnnnnnnnnnnnnaaaaaaaaaoooooooooo !!!!!!!!! – Voldemort deixou escapar um grito quando pareceu entende o que estava acontecendo.
Sua cabeça estava leve, mas o restante de seu corpo parecia arder em chamas, não sentia mais as mãos nem os pés, apertou os olhos para ver o que estava acontecendo ao seu redor, tonto de mais para conseguir levantar, viu Sophia, seus joelhos cederam e ela caiu lentamente no chão enquanto gritava agoniada, apertando a cabeça com as duas mãos como se tentasse impedir algo de sair dali de dentro. Antes que sua mente conseguisse entender o que fazer em seguida, os sons cessaram, tudo escureceu, sua cicatriz doendo mais do que era possível suportar.
Virou os olhos pela enfermaria procurando algum sinal de outra pessoa nas camas, mas não havia mais ninguém, Madame Pomfrey revirava um armário próximo procurando alguma coisa, se não fosse por esse pequeno fato, teria levantado da cama e ido a procura dela.
A porta se abriu devagar, e aos poucos a silhueta borrada de Dumbledore foi se tornando clara, a medida que ele caminhava na direção de sua cama, exaustão era mais do que clara em seus olhos.
- Esta se sentindo melhor Harry?
- O que aconteceu lá? – perguntou atordoado, sentindo-se envergonhado, o diretor o havia alertado.
- Você quase morreu Harry, você e Sophia podiam estar mortos agora, sabe disso não sabe! – Sua voz baixa, porem ríspida – Se Hermione não tivesse me contado que você tinha ido, quem sabe em que estado as coisas estariam agora! O que o impediu de parar por um segundo e pensar nas conseqüências dos seus atos! Ir para a França com Nickolas Ogden, onde você estava com a cabeça Harry!?
- Desculpe. – foi a única coisa que conseguiu dizer.
- E sabe do que adiantou arriscar o seu pescoço por ela? Nada.
- O que o senhor quer dizer?
- Ela e Nickolas fugiram antes que os aurores pudessem pegá-lo.
- Pra onde ela foi? – disse entre dentes cerrados, ódio e tristeza em sua voz, não se importava com mais nada.
- Não sabemos. Tudo aconteceu muito rápido, Voldemort e alguns comensais conseguiram escapar, por sorte não conseguiram levar o pequeno Gustave com eles, e por mais sorte ainda não enfiaram uma faca em seu pescoço enquanto estava desacordado, sinceramente não sei explicar como você ainda esta vivo!
- Mas...mas...quando eu...eu...não consigo me lembrar – levou as mãos á cabeça, a ultima coisa que conseguia se lembrar era de ver Sophia desabar no chão depois que ele bebeu a poção. – Por que...por que ele não me matou? – sussurrou incrédulo, mais para si do que para Dumbledore.
- Não faço idéia Harry, mas deve existir algo por trás disso, você foi encontrado no chão da sala de estar, deitado no centro de um grande círculo de rosas.
- O que! Mas...como?
- É isso que estamos tentando entender. – disse ele já indo em direção a porta – agora é melhor você descansar – virou-se e saiu, estranhamente frio, havia algo muito estranho com Dumbledore.
A noite caiu lentamente, e horas depois, ainda atordoado e confuso, Harry conseguiu pegar no sono. O que havia realmente acontecido na Mansão dos Neveu?
Remexeu-se na cama tentando encontrar uma posição agradável para voltar a dormir, mas um fisgada em suas costas o forçou a abrir os olhos. Perplexo, a principio pensou que aquilo se tratava de um sonho, “Não pode ser, ela fugiu com ele!” disse para si mesmo, piscou como se aquilo fizesse a imagem se discipar, revelando uma enfermaria vazia, mas isso não aconteceu, Continuava a mesma coisa. Levantou-se da cama ignorando a dor intensa em suas costas.
E lá estava ela, parada a sua frente, imóvel. Como num flash de luzes, viu cada um dos momentos junto dela passarem por seus olhos, de costas para o por do sol, naquela enfermaria, seus olhos envoltos em um nada. Sophia Neveu, seu nome representava perfeitamente bem quem ela era. Tão misteriosa, sensual, indefesa, cruel, dissimulada, uma pessoa que certamente ele não esqueceria tão cedo, seu incidente, sua perdição, seu amor e sua sorte. Todos os bons e ruins sentimentos possíveis se encontravam dentro dela naquele momento. Por mais que quisesse sabia que era impossível lhe dar as costas, seu orgulho simplesmente se despedaçava quando ela se aproximava.
Sophia andou até ele a passos silenciosos e delicados, encarando-o profundamente, mas sem nada insinuar, como se estivessem se vendo pela primeira vez. E frente a frente, a poucos centímetros um do outro, Harry inclinou o rosto para lhe dar um ultimo beijo. Seus lábios se tocaram suavemente, paralisados e desejosos, como se quisessem tornar aquele momento eterno; podia sentir sua respiração contra seu pescoço. Uma lagrima fria escorrer pelo rosto dela em contato com o seu.
Ela lhe deu as costas e saiu da enfermaria sem dizer uma só palavra. Dentro de Harry, raiva, dor, culpa, desilusão e esperança se misturavam. Sabia que devia odiá-la pelo resto de sua vida por aquilo, mas não conseguia. Foi somente então naquele momento que entendeu o porquê das palavras.
- Minha, minha garotinha triste, você foi tudo aquilo que eu amei e odiei.
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