Entre as sombras



As palavras que ouvira durante a manhã e o gosto ardente da boca de Sophia ainda eram ouvidos e sentidos por Harry enquanto ele comia seu almoço sem nenhuma vontade, o grande buraco em seu estômago não era sinônimo de fome.



Voltou para a sala comunal, estava cheia já que a maioria dos alunos preferia ficar perto da lareira a ter que suportar o frio que fazia nos terrenos da escola. Sem vontade de conversar com ninguém, Harry foi para o dormitório, não havia nada a ser feito, se conseguisse recuperar as horas de sono perdidas durante a noite que passara acordado, já seria uma vitória. Simas e Dino eram os únicos ali.



- E ai Harry – Dino começou animado, mas conteve-se ao notar o olhar perdido e a expressão triste no rosto de Harry – aconteceu alguma coisa?

- Não, nada.

- Sabe Harry....eu me sinto meio sem graça em perguntar isso mas – disse Simas – a escola inteira está dizendo que você está saindo com a Neveu, é verdade?

- Não Simas, nós somos apenas amigos – respondeu pensando em como a possibilidade era remota.

- É uma pena, apesar de ser da Sonserina, ela é um arraso – Disse Dino com um olhar malicioso para Simas.



Harry os deixou conversando e deitou-se em sua cama, sua cabeça doía como se estivesse prestes a explodir, nunca se sentira assim antes. Pousou uma das mãos sobre sua cicatriz, não era dali que a dor vinha, como ele estava acostumado a sentir, aquela dor vinha de dentro.

Voltou sua mente, inesperadamente para uma pessoa que não via há muito tempo, dês de que chegara a Hogwarts, não havia tido nenhuma oportunidade de conversar com Hagrid fora das aulas. Levantou-se num salto e colocou um casaco, iria até o chalé vê-lo.



Era difícil caminhar entre a grossa camada de neve, mas faltava pouco para Harry chegar até o chalé. Não havia barulho algum e aquela caminhada curta estava demorando mais do que ele esperava. Sentia seus pés congelando e o vento cortante deixando seus cabelos mais bagunçados do que já eram.

Já se aproximava de algumas árvores na orla da floresta quando ouviu o farfalhar de folhas e um vulto passando ao seu lado. Virou-se para todos os lados, procurando-o, depois de andar desajeitado entre algumas árvores, o viu novamente, era alguém vestindo um longo casaco preto.



- Hei, você! – chamou em vão.



Tirou a varinha do bolso interno e fico a espreita, se o visse, o atacaria, poderia ser uma cilada. Não mais de um minuto transcorreu até Harry ouvir outro ruído atrás de si, virou-se rapidamente, pronto para atacar, porém, conteve-se, mesmo antes de levantar sua mão já havia um varinha apontando para ele.



- Por que você sempre aparece no meu caminho?

- Acho que é você quem aparece no meu caminho – disse ríspido, no fundo Harry sentia raiva pelo modo como ela o tratara no terraço, mas diante daqueles olhos, não conseguia ser pior que aquilo.

- Discordo, mas já que infelizmente você me encontrou, e provavelmente faz idéia de para onde eu vou, promete não contar a ninguém?

- E....para onde você vai? – perguntou confuso.

- Para a Floresta Negra, ou o que mais você acha que eu vim fazer aqui! – Aquele tom arrogante estava voltando, Harry sentiu que já era hora de agir antes que o humor de Sophia piorasse.

- Se você não gostou do beijo, não precisa falar desse jeito comigo só para me ver longe de você!



Ela não respondeu, passou a encará-lo de uma maneira a qual Harry já estava acostumado, seu triunfal olhar congelado, sem nada demonstrar, penetrante como o de uma víbora. Deu as costas e continuou seu caminho rumo a floresta, Harry ficou a observá-la, sua vontade era segui-la, mas e se alguma coisa desse errado e ela o visse?



- Hei Sophia! – Ela voltou-se para ele com um olhar de desdém

- Algum problema?

- Não, é só que...eu gostaria de ir com você? – sentiu seu rosto corar, Harry queria muito passar mais tempo a sos com ela.

- A caminhada vai ser longa e perigosa, você agüenta? – Perguntou com uma risada de deboche.

- Claro que agüento.



Harry nunca imaginara que acompanhar o passo de Sophia fosse tão difícil, ela andava com agilidade e rapidez surpreendentes, estavam caminhando a mais de meia hora, as varinhas em punho e nenhuma palavra pronunciada. De repente Sophia parou, Harry estava prestes a perguntar-lhe o motivo, mas ela fechou a mão sobre sua boca e o puxou para o chão próximo as raízes de um grande pinheiro.

O coração de Harry batia acelerado, as mãos quentes de Sophia, uma tampando-lhe a boca, e a outra o segurando pela cintura, mesmo naquela situação causavam pulsações quentes por todo o seu corpo.



- Alguém está nos seguindo – ela sussurrou ao pé de seu ouvido.



Depois de virar os olhos até onde conseguia enxergar, Harry constatou que realmente havia alguém rondando a área. A pouca luz solar que ultrapassava as altas copas das árvores, revelou uma silhueta não muito alta, provavelmente um homem. A sombra tomou outro rumo, pelo som dos passos estava voltando para o castelo, se é que de lá tinha vindo, logo após os passos se tornarem inaudíveis, Sophia soltou Harry e se pôs de pé.



- Vamos mais rápido, ainda falta muito.

- E para onde vamos? Você não liga para o fato de ter alguém atrás de nós?

- Para os Pântanos de Morva, e não ligo, quem quer que seja foi embora – disse limpando o casaco.

- Mas os pântanos ficam a 50km daqui!

- Por isso vamos pegar um atalho – ela já recomeçara a caminhada, e Harry não tinha escolha se não se calar e segui-la.



Ao consultar novamente o relógio Harry notou o quanto já haviam avançado, já haviam se passado mais duas horas, Sophia caminhava á frente sem demonstrar sinal aparente de cansaço, puxou-a pela manga do casaco, e surpreendeu-se ao notar o quanto ela era leve e como estavam próximos.



- Podemos parar um pouco? – perguntou soltando-a.

- Claro.

Os dois se encontravam numa pequena clareira morta pela neve, Sophia recostou-se numa arvore próximo e Harry sentou-se ao seu lado, queria tirar algumas coisas a limpo.

- O que vamos fazer em Morva?

- Pegar duas coisas e levá-las para Hogwarts, estarão mais seguras lá – respondeu em seu habitual tom gelado.

- Você acha mesmo que alguma coisa fica mais segura em Hogwarts do que num pântano isolado?

- E você realmente tem uma péssima memória, pensei que lhe mandar aquele bilhete serviria.

-

Harry lembrou-se do bilhete que recebera durante o jantar a algum tempo atrás “eles irão ao pântano para pegar o pequeno Gustave, já sabem dos nossos segredos. Se descobrirem a rosa, será o fim”. Dizia o final.

- Você não pode levar um bebê para Hogwarts! – Exclamou entendendo o que ela faria.

- Posso, se for isso que eu quiser, eu farei! – gritou, Harry não sabia o que a estava deixando tão irritada, mas não conseguiu se segurar e revidou.

- Você só pode estar louca, como vai cuidar dele sem ninguém notar, além do mais metade dos sonserinos vão tentara por as mãos nele, se é que Voldemort está atrás dele e não de você!

- Cale essa boca, você não sabe de nada! – Levantou-se num salto e começou a caminhar, Harry pulou a sua frente e a parou, segurando-a pelos braços.

- Não faça isso Sophia – encarou-a num olhar suplicante.



Sophia não disse mais nada, seus olhos umedeceram e ela se pos a chorar, Harry a abraçou, não esperava retribuição, e surpreendeu-se ao sentir os braços quentes dela circularem seu pescoço.

- Não agüento mais, juro que não agüento. – ela sussurrou – eles querem matá-lo...vão matar o meu bebê.



A arrogante e petulante Sophia Neveu havia desmoronado, foi a certeza que Harry teve ao vê-la chorando, se havia alguma coisa que conseguia deixá-la daquele jeito era seu filho, talvez fosse a única pessoa com que ela se importasse. Harry abraçou-a ainda mais forte, lembrou-se de seus pais, não queria que o pequeno Gustave tivesse o mesmo fim que o seu, precisava ajudar Sophia a mantê-lo a salvo.



Depois dela se recompor, os dois voltaram para o castelo, Harry não sabia por quanto tempo ela desistiria daquela idéia, só esperava que não a retomasse tão cedo. Se o bebê era mesmo o que Dumbledore e Voldemort queriam, e Sophia estava se recusando em cooperar a favor da Ordem, Harry era o único a entender suas verdadeiras intenções, e não as contaria para ninguém.





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