A Segunda Competição

A Segunda Competição



A segunda competição




Obs.: Desse capítulo em diante vou mudar um pouco no modo de como postar as músicas. O nome delas vai estar no final, por ordem que elas aparecem. Espero que aprovem :D




Lily POV:


Eu estava definitivamente exausta. Primeiro porque eu estava lotada de deveres, serviços e reuniões de monitoria, e, o principal causador, o coral. Agora que a competição já é no próximo fim de semana, tínhamos que ensaiar todos os dias, assim que acabam as aulas. E eu, como monitora-chefe, tinha que fazer a ronda depois do coral. Além de arranjar um tempo pra adiantar os deveres e ajudar Alice com os vestidos. É, minha vida não estava fácil.


E agora eu estou aqui, na mesa do jantar, tentando manter os olhos abertos enquanto todos jantavam ao redor. Nesse momento Maria discutia com Jason de novo; o motivo certo eu não sei, mas parece que a causadora da briga foi Dorcas, sabe-se lá como.


Alice e Franco namoravam do outro lado da mesa, ou seja, eu estava sozinha. Os marotos comentavam de quadribol, Sophie conversava com Emelina sobre um assunto que pelo visto não é da minha conta, Sean estava na mesa da Lufa-Lufa conversando com Chapman, fazendo com que eu não tenha ninguém para conversar no momento.


Por parte era bom, as vezes gosto de ficar em silêncio. Mas por outro lado era ruim; ficar quieta e sem falar muito me deixava ainda mais sonolenta.


- Ei, ruiva! Acorda aí! – Sirius joga um pedaço de pão na minha cara. Impertinente. – Está sonhando com o número romântico entre você e Pontas?


- Sim. Aí bem na hora que ele canta cai um machado pendurado por uma corda bem em cima dele, e corta o corpo dele em dois, e faz voar tripas e pedaços do pulmão e do fígado pra todo lado...


- Estou comendo, Lily – Pedro resmungou, indignado.


- Isso foi muito carinhoso, Lily – Potter falou ironicamente.


Nesse momento escutei um "splash" do meu lado. Pelo visto Maria havia se descontrolado novamente.


- Eu estou falando que não é culpa minha se você só desafina! – Maria segurava um copo com ferocidade, enquanto Jason segurava uma bandeja encharcada por suco de abóbora.


Isso nem é de tudo novidade. Dorcas e Maria usava essa arma contra Jason toda vez que acontecia alguma discussão.


Voltei minha mente a meu "cochilo", ausente a conversa de todo mundo. E só agora eu notei que toda essa correria me fez com que eu nem pudesse ir à biblioteca e passar um tempo com Jessie, sendo domingo a última vez que fizemos isso. Eu sentia falta, mas tenho certeza que se eu fosse pra lá eu acabaria dormindo no meio das prateleiras. Só ia esperar essa segunda competição passar, assim vou ter paz. Quero dizer, duas competições em um único mês é pra matar qualquer um.


Talvez, exceto os marotos. Eles que sempre pareciam cansados uma vez ou outra dessa vez não estavam desse jeito, ao contrário. Não sei como conseguiam ficar animados com tantas coisas, ainda mais Remo que também era monitor... Não entendia. E quando ao Potter, idiota e nojento, evitei o máximo contato com ele. No nosso número tínhamos que dar as mãos em uma parte, o que eu recusei, é claro. Moreau demorou muito para me convencer, mas acabei aceitando a fazer isso somente se usasse luvas. Eu odiava cantar com ele, minha voz chegava a desafinar de nojo. Mas nos últimos dias estávamos ficando bons. Dói muito, mas tenho que reconhecer que sim, ele canta bem. E a voz dele fica boa com a minha (!) como Moreu mesmo disse. Ai, isso não é bom.


Só agradeço a Merlim que não vamos ter tanta dança dessa vez, senão eu teria certeza que ia ficar quebrada. Quero dizer, não dá pra fazer muita coisa em uma única semana.


Acho que vou dormir, mereço isso. Além do mais amanhã já é sexta, último dia e mais pesado dia do treino. Sabia que ia desmaiar lá mesmo, é normal. Ainda mais porque estou controlando mais o que ando comendo. Funciona, sabe.


Terminei de jantar e fui sozinha para o dormitório. Maria continuou a xingar Jason, Alice estava por aí com Franco... Não tinha muito que fazer mesmo.


Dormi bem rápido até, só que acabei sonhando. Um sonho muito esquisito, na verdade. Algo envolvido com Potter, o coral de Flitwick e uma árvore de natal.


...


Bah, isso não faz sentido. O coral de Flitwick faz tempo que não toca, sem falar que não sei o que aquele descarado está fazendo nos meus sonhos. Era melhor esquecer isso e acordar para um novo dia corrido.


Era o melhor a se fazer.




David POV:


Eu já havia decidido. Eu tenho que barrar aquela mulher.


Nos últimos dias, depois de mais uma rodada de provocações perto de Dumbledore ou não, eu já estava irritado demais com Stanley.


O que aquela mulher tem na cabeça que não consegue agir como uma adulta normal? Por que ela simplesmente não age de forma madura e correta, que aceite competições como algo bom e não como se valesse a vida de alguém?


Mas não, ela insiste de poluir o ar com seus venenos, provocando de todas as maneiras possíveis, tais como essas:


- Sabe Dumbledore, acho que o coral da Grifinória não está indo muito pra frente, quero dizer, acho que por eles terem ganhado a primeira competição – o que foi injusto, porque se for comparar o quesito dança a Corvinal com certeza ganha de dez a zero – eles acham que vão conseguir dessa vez!


Detalhe: eu estava sentado do outro lado de Dumbledore.


- Acho horríveis esses professores que não cuidam de seus alunos direito. Sabe, quando dá pra se perceber que tem alguma intriga acontecendo, devemos interferir! – ela dizia em alto e bom som na sala dos professores. Isso fora no mesmo dia em que Lily brigara por conta de cantar com James no ensaio de terça-feira. – Nós temos que precaver isso, o que eu tenho certeza que muitos professores não fazem...


São mais outras inúmeras e incontáveis provocações, que principalmente incluem comentários indiretos para os outros professores. Minha sorte é que eles sim são maduros o suficiente para ignorar isso completamente, mas é impossível não se irritar.


Por isso resolvi descobrir o porquê de tudo isso. Deve haver alguma explicação para ela agir desse jeito. Quem sabe ela não tem algum distúrbio ou problema mental? Ou até ela pode ser uma sociopata e ninguém sabe!


Por isso decidi investigar. E se não achasse nada, com certeza teria algo que eu poderia jogar contra ela. A melhor defesa é o ataque, não é isso que dizem? Bom, pois está na hora de atacar.


O melhor a fazer era usar todos os meus recursos a favor, a biblioteca e, principalmente, os arquivos da escola – lugar onde ficam os registros de alunos e estudantes de Hogwarts. Com certeza eu acharia alguma coisa.


Certo. Farei isso depois do coral.




Alice POV:


Devo dizer que estou namorando o cara mais fofo do mundo?


Não, não sei se isso é necessário, eu posso guardar toda a fofura dele pra mim.


Finalmente nesses últimos dias eu pude contar a ele tudo o que eu sempre quis dizer; o tanto que ele me irritava quando só jubilava todas aquelas amáveis plantas dele, o tanto que eu me irritava quando ele não percebia todas as indiretas que eu lançava pra ele e ele não percebia – até fiquei com pena da cara de bobo que ele fez quando ouviu isso, pedindo desculpas sem parar... Fora isso agora fazíamos mais coisas juntos, como algumas redações (ele me ajuda com Herbologia), caminhar pelos jardins, namorar na sala comunal perto da lareira, essas coisas. Lily e Maria, é claro, já começaram a criticar dizendo que eu havia me esquecido delas. Bobinhas. Mal sabem elas que tem um candidato no topo da lista e andam perdendo oportunidades. James e Jason, respectivamente, eram tipos diferentes de casos, mas se elas quisessem, obviamente já teriam entrado para o grupo dos que namoram.


Lily ignorava toda vez que eu tocava no assunto de James, bufando e dizendo que ele é um hipócrita, cretino, desalmado, infantil, idiota, retardado, imbecil e todos os outros xingamentos que veio na cabeça da ruiva. Maria ainda não tem uma opinião formada sobre isso, mas ela diz que prefere o Jessie – que, aliás, as vezes tomava café com a gente, conversando entusiasmado com a gente como se já fossemos amigos a muito tempo.


Maria e Jason são os mais difíceis. Aos olhos de todos, é como se eles fossem inimigos mortais. Isso é bem parecido com Lily e James, mas pelo menos James dizia gostar de Lily. Dessa vez Maria e Jason parecem que odeiam um ao outro. Parece, mas eu sei que não é. Sabe aquela história de amor que vira ódio? Então, estou apostando nisso.


E a segunda competição estava cada vez mais próxima e cada vez aquele habitual nervosismo começou no meu estômago. Meu namorado, fofo como sempre, começou a me acalmar, dizendo que nós nos sairíamos bem. Eu acreditei em sua palavra, já que as longas horas de ensaio estavam dando resultado e que as vestes estavam completamente prontas.


Agora é só respirar, relaxar, terminar os exercícios, treinar bastante as notas vocais, comer direito, dormir bem, e, é claro, beijar muito o Franco.




Sean POV:


- Sabe Sean, eu ando meio incomodado – Ben comentou vagamente, brincando com sua pena enquanto eu terminava meu dever de Poções.


- Sobre o quê? – pergunte fingindo desinteresse.


- Sobre nós.


Engoli em seco, mas ele continuou.


- Quero dizer, somos amigos desde sempre e, de repente, teremos que competir um contra o outro! – ele bufou, meio divertido e nervoso. – Já notou o quanto isso é estranho?


- Uma hora ou outra isso aconteceria. Quero dizer, o chapéu seletor decidiu nos colocar em casas diferentes – dei de ombros, virando lentamente a página do meu livro. – Mas então, como vão os ensaios da Lufa-Lufa?


- Não vem querer me espionar, a não ser, é claro, que você queira me dar umas informações também.


- Aceita a troca? – sorri.


- Claro – ele piscou, animado. – Me responda, como está indo a dança de vocês?


- Nesse número não estamos apostando na dança.


- Não? Mas pelo que assistimos da primeira competição a dança foi incrível! Aquele garoto do segundo ano, como é mesmo...?


- John – respondi.


- Esse mesmo. Caramba, aquele lá tinha alguma coisa nas pernas, não é? – Ben riu. – E aquela garota... Emma...


- É, ela dança bem – cortei, mas ele não respondeu, apenas continuou sorrindo.


- Incrivelmente bem – completou, suspirando. – Mas enfim, achei que a dança melhoraria dessa vez.


- Estamos com pouco tempo – falei. – Mas agora é a sua vez de dizer. Como está indo a sua dança?


- Bom, estamos apostando tanto na dança quanto no vocal. Estamos nos saindo bem – ele respondeu.


- Então que vença o melhor – falei com humor.


Mas logo Ben foi impedido de responder, pois escutamos risadas de duas garotas se aproximando de nós. De princípio pensei que fosse Jenny com alguma amiga, mas logo notei uma massa de cabelos espessos e ruivos e logo Lily se materializou ao lado de Emelina. Me senti repentinamente incomodado.


- Oi, Sean! – Lily me cumprimentou, sorrindo. – Olá, Benjamin.


- Ben – ele corrigiu olhando apenas para Emelina, que sorria de volta para ele. – Olá, Emma.


Lily fez uma cara de desprezo, mas mesmo assim sentou ao meu lado; Emelina fez o mesmo, mas ao lado de Ben.


- O que faz de bom aí? – Lily me perguntou, jogando sua mochila em cima da mesa. – Eu e Lina estávamos planejando alguns passos extras pra competição de amanhã, você acredita que já é amanhã? Então, eu estava pensando que na hora em que o Potter for cantar eu meio que giro pro lado pra não ter que ficar perto dele e...


Pigarrei alto o bastante para dois alunos sentados na mesa do lado se assustarem, e Lily e Lina me olharam questionadoras. Olhei diretamente pra Ben, que assentia.


- Er... acho que se eu fosse você não continuaria com esse assunto, Lily – sorri, sem graça.


- Por quê não? – Lily olhou de mim para Ben, depois pra Emelina.


- Porque eu estou na equipe que vai competir com vocês amanhã – Ben foi direto, e as bocas de Lily e Lina foram se abrindo lentamente.


- M-mas... – Emelina começou.


- Achei vocês! – uma voz familiar gritou no meu ouvido, e me virei e vi Jenny, sorrindo. – Olá Evans, Vance.


- Olá – cumprimentaram, ainda chocadas com a notícia de Ben.


- Procurei você por toda parte, Sean – Jenny se ajoelhou ao meu lado, ficando entre mim e Lily. Começou a sussurrar, mesmo com o fato que todos ali podiam ouvi-la por estarmos numa biblioteca silenciosa – isso até Madame Pince perceber o movimento e vir nos expulsar. – Preciso de contar uma coisa!


- O quê? – corei ao ver todos os olhares da mesa dirigidos a mim.


- Tem uma garota, acho que o nome dela é Mika, se não me engano. Nome estranho né? Bom, eu sei que o sobrenome dela é Hayley, e ela está no quarto ano. Disse que se interessou por você quando te viu cantar naquele negócio lá.


- Coral, Jenny. E pare de fazer isso de novo – voltei minha atenção ao livro, arranjando uma forma de escapar do assunto. – Não vê que eu nã...


- Cale a boca, deixa eu terminar – falou rispidamente, como se aquilo dependesse de uma vida. Suspirei, vendo Lily e Lina trocarem olhares. – Ela é muito bonita, e disse que te achou o máximo quando viu você lá no palco. Afinal, aquela porcaria de coral serviu pra alguma coisa...


- Vem cá, o que foi que você disse? – Lily ficou vermelha, e Jenny olhou-a de um modo irritado por interromper a fofoca. – Do que você chamou o coral?


- Porcaria – Jenny falou sem hesitar. – Você achava isso também, não é? Todo mundo sabe que no início você não se inscreveu porque quis.


- Não, mas as pessoas mudam de ideia! – Lily reclamou. – E desde quando você fala assim com Sean?


- Eu falo com ele do jeito que eu quiser, Evans – ela revirou os olhos. – Conheço ele a muito mais tempo que você, muito mais tempo que você pensa. O conheço desde que ele nasceu.


- Isso não importa, se ele não quer seja lá o que for que você está falando, então não insista!


- Em primeiro lugar, quem te chamou na conversa? – Jenny cortou, e vi Benn se acomodar na cadeira, pronto para o pior.


- Gente, isso não é necessário – Emelina falou baixinho.


- Concordo – Benn falou rapidamente.


Jenny o fuzilou com o olhar por um momento, mas Lily ignorou o que eles disseram.


- Eu também sou amiga de Sean. E não importa quanto tempo que você o conhece, isso é simplesmente uma questão de educação! – Lily continuou.


- Ai, Evans, seu discurso me dá dor de cabeça – Jenny pôs-se de pé, acariciando as têmporas. – Se você não fosse monitora-chefe também eu...


- Você faria o quê? – Lily perguntou. Eu estava sem palavras. Como foi parar nisso mesmo?


- Te daria uma detenção.


- Uma detenção por te repreender por falar desse jeito com as pessoas?


- Eu já disse que eu falo do jeito que eu quiser, e na verdade eu nem sei porque estamos tendo essa discussão sem cabimento, francamente – ela revirou os olhos.


- Simplesmente por você tratar meu amigo desse jeito rude e mal educado.


- Eu sou amiga dele também. Tenho certeza que você trata seus amigos desse jeito!


- O que está acontecendo aqui? – os olhos de coruja de Madame Pince apareceram repentinamente antes que Lily respondesse. Elas visivelmente não perceberam que estavam falando alto demais e haviam chamado a atenção da maioria das pessoas ali. – Por acaso querem ser expulsos? Todos vocês?


- Não, já estou de saída – Jenny sorriu falsamente, e antes de lançar um olhar irritado pra Lily e sussurrar um "conversamos mais tarde" pra mim, pegou Benn pelas vestes e foi carregando-o até a saída da biblioteca.


Madame Pince nos olhou por um momento, e eu, Lily e Lina fingimos voltar a ler nossos livros. Apenas quando tínhamos certeza que ela não voltaria, voltamos a conversar.


- Ok, agora alguém pode me explicar o que foi isso? – Emelina perguntou. – Por favor, façam isso antes que minha cabeça exploda com tantos choques de uma vez.


- Vamos perguntar para Sean, o por que de ele ter uma amiga daquelas que fica tentando arranjar namoradas sem que ele queira, que fale tão rudemente daquele jeito. E explicar porque ele é amigo de um lufano que posteriormente será nosso competidor.


Elas me encararam por longos segundos, até eu finalmente suspirar.


- Ok, vou contar a história pra vocês.




Sophie POV:


- E NUNCA MAIS OUSE ESBARRAR EM MIM DE NOVO! – Maria gritou, e carregando sua mochila furiosamente a ponto de atingir a cabeça de alguém, sentou-se a meu lado na sala comunal, bufando.


- Ahn, tá tudo bem? – perguntei me sentindo idiota por fazer essa pergunta. Pelo visto mais uma briga entre ela e Jason havia se sucedido, coisa normal dos últimos dias.


- Não, não está nada bem! – ela falou, irritada. – Seu irmão já está acabando com toda a minha paciência!


- Me desculpe por isso – respondi, me esforçando pra não soltar uma risada. – Ainda é por ele ter sem querer encostado em você durante o ensaio de hoje?


- Encostado? Ele quase me derrubou! – Maria dizia enquanto retirava os livros da mochila com ferocidade. – E foi de propósito que eu sei. Ele estava muito longe de mim para esbarrar daquele jeito.


- Não, ele que é desastrado mesmo – fiz um gesto com a mão. – Pergunte para minha mãe, evitamos muitos objetos de vidro lá em casa.


- Não me importa – ela rosnou, mas por fim suspirou. – Desculpe, você não tem culpa de ter um irmão daquele.


- Mas por que vocês brigam tanto? – não resisti em perguntar. – Quero dizer, são motivos tão bobos...


- Pra você ver! – Maria levou as mãos ao alto. – Até os motivos mais bobos com o seu irmão viram o inferno!


Dei uma leve risada.


- Podia você pedir a ele para que esquecesse que eu existo? – Maria implorou.


- Acho que já está tentando.


- Hã?


- Nada não. Eu aviso – sorri rapidamente.


Depois disso não falamos mais sobre o assunto, apenas sobre aulas e sobre o coral, sobre a competição de amanhã. Enquanto Maria relatava o tanto que Jason dançava feito uma minhoca com choque elétrico, eu observava os marotos em um canto próximo. Remo e Pedro liam, concentrados, o livro de Transfiguração. Não é a toa, era uma das matérias mais puxadas ultimamente. James ria de alguma piada de Black, ainda com um curativo na cabeça. Causado por Lily, é claro. Durante o ensaio hoje ela se estressou porque ele "a trazia perto demais", e jogou a coisa mais próxima na cabeça dele – roubou a baqueta do baterista. É claro que não esperava encontrar tanta força. Foi meio divertido ver James caído no chão e Lily, chocada, não parar de pedir desculpas. Black correu pra levá-lo pra enfermaria, e eu tenho certeza que Lily não sabe que aquele curativo é falso, e James apenas encenou um machucado grave pra ver Lily acariciar seus cabelos...


Balancei a cabeça e voltei a escutar o que Maria dizia, dessa vez comparando o jeito que Jason anda como um tronquilho com dor nas costas. Nem queria imaginar o que viria a seguir.




David POV:


E isso era tudo que eu havia reunido:


Nome: Agostina Baiocchi Stanley.


Data de Nascimento: 18/08/1945


Nasceu em: Verona, Itália.


Espera aí, Stanley é italiana? Desde quando isso? Ela nem ao menos tem sotaque ou coisa assim... Bom, eu ainda não tinha lido o resto do que eu havia encontrado.


Pelo visto, Stanley é filha de pai italiano com mãe inglesa. Eles se conheceram em Roma, "a cidade do amor", casaram-se por lá e depois mudaram para Verona. Quando ela tinha dois anos mudaram-se para o Reino Unido depois de muita insistência da mãe, que sentia falta da sua terra natal. Na verdade ela tinha um amante por aqui, e quando seu pai descobriu abandonou-as e voltou para Itália, deixando pra trás apenas um dinheiro pra filha viver. Sua mãe juntou esse dinheiro com o dinheiro de seu amante, agora marido, e juntos mudaram-se para a terra natal dele, Bulgária, quando Stanley tinha cinco anos. Ela cresceu por lá, vendo as brigas entre sua mãe e o padrasto, sentindo falta do pai. Durante uma briga feia entre eles, Stanley se descontrolou e quebrou todos os vidros da casa. Quando descobriu que era uma bruxa e estava matriculada em Durmstrang, Stanley ficou mais feliz que nunca de sair de perto do padrasto, que não chegava a ser violento nem nada, apenas a maltratava. E ele ficou louco quando descobriu sobre bruxaria e queria expulsar Stanley de casa, mas sua mãe a defendeu até o último segundo. Tudo isso aconteceu a tempo de ela se formar na escola, até partir de volta para Inglaterra com a mãe, abandonando seu padrasto – claro, não antes de modificar sua memória. Stanley continuou a viver com a mãe, e decidiu seguir o ramo das artes no mundo trouxa, até, enfim, ser chamada para ocupar o cargo de Estudo dos Trouxas em Hogwarts.


Caramba, que história mais... estranha. Stanley estudou em Durmstrang? Bom, a fama daquela escola bate certo com ela. Aí me perguntam como eu consegui tanta informação. Bom, eu revirei todos os arquivos possíveis, biblioteca, contatos fora de Hogwarts e outras coisas eu usei a suposição mesmo, mas está na cara que é isso.


Mas em nenhum momento diz que ela foi internada com problemas mentais e fugiu para dar aulas numa escola de bruxaria. Será que eu deixei isso escapar?


Só sei que usei isso a meu favor ao máximo que pude.


- Buongiorno, Agostina! – cumprimentei quando passei por ela num corredor lotado por alunos.


- O que foi que você disse? – ela ergueu as sobrancelhas entre espanto e surpresa.


- Buongiorno. Bom dia em italiano. E Agostina é seu nome, não é? – perguntei com uma inocente expressão.


Stanley congelou, me olhando fixamente como se quisesse explodir meu corpo em milhares de pedaços. Até que eu estava me divertindo com isso.


- Você... você... – ela começou, e eu apenas bufei.


- Pra que todo esse mal humor, colega? – coloquei a mão sobre seu ombro. – Amanhã teremos competição, temos que relaxar.


Ela continuou sem responder, me olhando de um jeito nada amigável.


- Bom, nos vemos por aí! – exclamei, me agarrando a minha maleta e continuando meu caminho.


Ah, a vingança nunca foi tão doce.




Lily POV:


- Então quer dizer que seus pais são super amigos dos pais de Benjamin e de Schain? – repeti a informação.


- E por isso vocês se conhecem desde que nasceram, cresceram juntos e são como irmãos? – Lina falou.


- E por isso Schain se acha no direito de te tratar como um qualquer? – falei com um tom de nojo, e Sean suspirou.


- Isso mesmo. Quero dizer, não! Jenny não é bem assim... – Sean mordeu o lábio. – É o jeito dela sabe.


- As pessoas as vezes tem que mudar – comentei, revirando os olhos. – Francamente, como você suportou viver com ela durante toda sua vida?


- Bom, Benn e Jenny são meus melhores amigos, claro, sem contar com todos vocês do coral agora. Então aprendemos a nos acostumar com o jeito do outro. Jenny sempre foi assim, por isso não me incomodei como ela falou hoje.


- Mas eu me incomodei. Ela é uma vaca – falei, e Sean suspirou novamente. – Desculpa, mas é a verdade! Na minha opinião, é claro...


- E você Lina, vai xingar Jenny... e Benn? – Sean meio que hesitou, e Emelina balançou a cabeça.


- Acho legal isso de vocês crescerem juntos como irmãos, mas não posso negar que o jeito que Schain falou com você estava longe de ser amigável... – Emelina murmurou.


- É como eu disse, esse é jeito dela. E já estou acostumado – Sean disse.


- Pois não deveria! – reclamei. – Sabe, ela já fez isso antes, eu lembro quando escutei aquela conversa de vocês atrás da prateleira quando ainda não éramos amigos.


- Ah. Aquilo – Sean abaixou a cabeça. – Eu achava que gostava de uma garota... mas me arrependi ao contar pra ela.


- Viu, sinal que ela não é sua amiga... – comecei.


- Lily, nada que você disser mudará o fato que eu sou amigo da Jenny. E ponto final – Sean falou, cansado. – Acho melhor irmos dormir, temos que estar bem preparados para amanhã.


Não prolongamos o assunto, apenas continuei a cochichar com Lina sobre minha opinião. Eu infelizmente era assim, quando colocava alguma coisa na cabeça, simplesmente não conseguia ficar calada.


Sean me ignorou completamente durante o caminho até a Torre da Grifinória, mas assim como ele deveria ter se arrependido por ser amigo de Schain que é uma completa vaca, ele também vai se arrepender de ser meu amigo, porque eu não vou deixar esse assunto morrer jamais.




James POV:


- Eu já disse o quanto está linda, Lily? – perguntei sorrindo, e como não era pra deixar de ser, Lily revirou os olhos.


- Eu já disse o quanto você é estúpido, Potter?


- Mas é sério! Você está incrível nesse vestido – continuei, e já que ela dera as costas e começou a caminhar em outra direção, comecei a segui-la. – E eu já falei também que estou muito ansioso para cantar com você?


Estávamos nos bastidores, e a conversa de tensão era alta. Eu já havia colocado minha roupa, na qual eu fiquei muito desconfortável por estar tão acostumado com as vestes de Hogwarts. Lily... bem, eu estava tentando explicar pra ela o tanto que estava perfeita, mas era mesma coisa que falar com uma parede. Uma parede dura que sempre rebate o que você diz.


- Eu nunca pensei que ficaria com tanto nojo em cima daquele palco. Cantar com você é a coisa mais nojenta que já me aconteceu, mais nojenta que aquela gosma que você jogou na gente! – ela disse, mas antes que eu protestasse ela continuou – E espero que não faça isso novamente hoje!


- Por Merlim Lily, quantas vezes vou ter que dizer que não fui eu?


- O número não altera a mentira. E é Evans pra você – falou, se afastando.


- Pontas, você é masoquista? – Sirius se aproximou com Aluado.


- Não, ele só é insistente, Almofadinhas – Aluado riu.


- Só não desisto muito fácil das coisas – sorri, olhando para Lily conversando animada com Maria e Sophie.


- É... dá pra perceber. Já vai fazer três anos que você ainda insiste – Sirius comentou. – E quanto a essas roupas, hein? Gostei, me deixou com o corpo definido, e assim Beth pode me notar...


- Mas agora, por que você ainda insiste nela, Almofadas? – perguntei, interessado. – Você já saiu com ela. O que mais que você quer?


- É como você e a Lily, meu caro – Sirius riu, olhando diretamente para Beth que se acalmava devorando sapos de chocolate. – Beth é difícil. Ela quase se recusa a me beijar, e o serviço não estará completo até ela se render completamente.


- Você é louco – Remo balançou a cabeça.


- Como assim, eu e Lily? – questionei, e Sirius fez um gesto com a mão.


- Ora, Lily sempre recusou seus convites para ir para Hogsmeade, ela é como um desafio pra você.


Demorei muito pra responder, pensando numa resposta que se encaixasse.


- Acho que no começo sim, eu a achava um desafio – franzi a testa. – Mas depois...


- Acabou se apaixonando e blábláblá – Sirius suspirou. – Essas coisas não existem. E quando é que vamos para o palco? Quero ouvir Hogwarts inteira gritar meu nome.


- Fique esperando Almofadas – Aluado disse, rindo e batendo em seu ombro. – Fique esperando.


Pensei direito no que Sirius havia dito. Será, realmente, que Lily ainda era um desafio pra mim? Eu não a via desse jeito mais, é bem diferente... Me sinto feliz ao vê-la, na verdade. E ela continuava ali com suas amigas, treinando alguns passos, a voz, rodando o corpo com o vestido e rindo. Estava linda.


Suspirei. Só de pensar que foi nessa mesma sala que aconteceu todo aquele problema, pois se não fosse... Era pra estarmos juntos, quem sabe. Ela até havia me abraçado antes...


Droga. Acho que vou lá socar o Sirius um pouquinho pra descontar minha raiva.




Emelina POV:


Seríamos os primeiros a nos apresentar, e depois a Lufa-Lufa. Confesso que me arrependi um pouco de contar a Dorcas sobre isso, porque logo toda a escola sabia. Benn deveria ter se encrencado muito com os colegas... Mas enfim, estávamos bem nervosos, embora confiantes de que sabíamos todos os passos, as notas e as letras. Moreau tentava acalmar a gente, mas era impossível fazer isso. Ainda mais quando começamos a ouvir as vozes de toda a Hogwarts do lado de fora.


Decidi ir tomar um ar, o que seria bem difícil considerando que estávamos nas masmorras. Apenas saí um pouco da sala, onde Lily gritava com James por ele ter tentado acalmá-la do mesmo modo que Franco estava fazendo com Alice. Maria também xingava Jason por alguma coisa, não me lembro o que é, mas é relacionado a tronquilhos.


Saí para o corredor, e dei de cara com quem eu menos queria encontrar, e ao mesmo tempo esperava por isso: Benn.


- Emma! – ele exclamou quando me viu caminhar meio a esmo pelo corredor, tentando me concentrar. – Ei!


- Olá! – cumprimentei corando subitamente.


- Então... nervosa? – perguntou. Ele estava lindo, meu Merlim que me proteja. Usava uma roupa do mesmo estilo que os garotos da Grifinória, só que sua gravata tinha uma cor mais vibrante de amarelo, e o tecido da roupa parecia mais fino. Sem contar com as mangas que eram mais curtas, e mostrava seus lindos braços...


Balancei a cabeça antes de responder. Não sei por que ao menos eu estava pensando nessas coisas!


- Muito, na verdade – sorri meio boba. – E você, pronto pra estrear?


- Sou calmo com essas coisas. Sei que somos competidores, mas... acho que nós lufanos vamos arrasar – ele piscou, e eu não resisti a rir.


Escutamos um sinal, o que significava que em breve teríamos que nos apressar para ir ao palco.


- Bom, boa sorte Emma – ele sorriu.


- Pra você tamb... – não terminei a frase porque ele simplesmente me beijou! No rosto. Mas beijou. E eu fiquei tão chocada que nem me lembrei quando ele foi embora, só de Lily aparecer na porta.


- Lina, vamos logo! Temos que combinar tudo pela última vez!


Assenti depressa e entrei na sala. Eu mal sabia o que ia fazer agora Merlim, a dança simplesmente me fugiu da cabeça! Será que essa era a intenção dele? Me dar um beijo no rosto para que eu seja um fracasso total? Não, isso era impossível.


Realmente impossível, pois quando treinamos os passos pela última vez na salinha apertada, eu me lembrava de tudo. Ufa. Pelo menos, eu acho, Benn é uma pessoa de confiança.




Sophie POV:


- Boa sorte, maninho! – o abracei antes de irmos para nossos lugares. Logo as músicas começariam, e eu estava nervosa, por isso precisava daquilo.


- Você também, So. E obrigado – ele sorriu. – Sabe, consegui esse dueto graças a você.


- Não foi nada. Mas agora você tem que confessar que isso teve um propósito – lancei-lhe um olhar desconfiado.


Ele me fitou por um momento, até suspirar.


- Não consigo guardar nada de você, não é? – ele disse meio irritado e divertido. - Estou tentando... impressionar alguém.


- Quem é ela? – perguntei interessada, arregalando os olhos. Espere só Dorcas saber disso!


- Isso eu não posso dizer – ele piscou. – A gente se vê no palco.


Droga. Agora vou ter que cantar com uma curiosidade na cabeça. Odiava isso, nem conseguiria dormir pensando em quem será a sortuda.


Bom, fiquei ali esperando a música começar. Deve ter acontecido algum problema...


- Consigo sentir seu nervosismo daqui – uma voz sussurrou em meu ouvido, me fazendo sobressaltar.


- Seu... que susto! – exclamei, batendo no ombro do meu carma, Sirius Black. Por que esse garoto insiste em me atormentar, Merlim? Por que?


- Desculpe, só queria te dizer boa sorte – ele sorriu charmosamente.


- Obrigada, agora vaza. Vou ter que cantar daqui a pouco.


Mas não. Ele bem que poderia me escutar alguma vez, não é? Logo tudo ficou mais escuro, mais do que o ambiente ali atrás da cortina. Eu sentia sua boca esmagar meus lábios como das outras vezes, eu sentia ele me segurar com força, como se tivesse se precavido contra mim. Me rebati furiosamente, até que depois de alguns segundos ele finalmente me soltou.


- Seu idiota! Eu não acredito que você... você fez isso de novo! – falei, cuspindo e limpando minha boca. – Eu...


- É pra dar sorte. Acredite – ele piscou.


- E quanto àquela conversa que tivemos? Pelo menos naquela vez você parecia mais controlado! Eu só queria que você me explicasse porque continua a insistir em fazer essas coisas, seu idiota! Nunca se cansa de me beijar desse jeito, eu... Tá me ouvindo?


Ele havia sumido. Tipo fumaça, desaparecido. Olhei ao me redor para ter certeza que não tinha me enganado. Eu teria sonhado? Mas por que eu sonharia com isso? Não, eu ainda sentia aquele gosto horrível dele na minha boca... Eca.


Eu ainda me perguntava sobre isso, até eu ouvir a música começar e me lembrar da onde eu estava.


Ia começar.




David POV:


Me sentei propositalmente ao lado de Stanley para assistir a competição, e ela sorriu falsamente – talvez por causa das outras pessoas ao nosso redor.


- Como está, Agostina? – sussurrei para ela, enquanto esperávamos.


Ela se curvou para mim.


- Não sei como você descobriu a respeito disso Moreau, ou quanto você soube. Mas saiba que depois dessa noite você vai sair como um cachorrinho com o rabo entre as pernas e as orelhas tão caídas quanto sua moda.


- É o que veremos.


- É, veremos – ela respondeu, piscando.


A música, então, começou. E junto a ela as vozes de fundo tão bem preparadas e treinadas com pressa durante toda essa semana. A seguir, a voz de Jason, excelentemente afinada.


"Now I've had the time of my life


No, I never felt like this before


Yes, I swear it's the truth


and I owe it all to you"


Logo Sophie cantou, com sua voz doce e meiga, a que tanto eu sempre me orgulho de ter conseguido convencê-la a tentar uma nota mais alta.


"'Cause I've had the time of my life


and I owe it all to you"


Imperceptivelmente, sua voz chegava a estar meio trêmula, mas acho que eu fui o único a perceber isso. Nem mesmo Stanley havia percebido. Sua expressão continuava séria como sempre, prestando atenção ao número.


"I've been waiting for so long


Now I've finally found someone to stand by me"


Jason cantou, e ao mesmo tempo ele andava entre as fileiras, emparelhado com a irmã, que finalmente sorrira e havia conseguido normalizar a voz.


"We saw the writing on the wall


As we felt this magical fantasy"


E cantaram juntos:


"Now with passion in our eyes


There's no way we could disguise it secretly


So we take each other's hand


'Cause we seem to understand the urgency"


- Oh – Sophie cantou, altura em que ambos já estavam no palco.


- Just remember!


- Não acha meio estranho colocar dois irmãos pra cantar uma música como essa, Moreau? – Stanley logo veio sussurrando.


- Parentescos a parte num musical, Stanley – revirei os olhos, e ela apenas soltou um muxoxo de descaso.


"You're the one thing


I can't get enough of


So I'll tell you something


This could be love because..."


As cortinas se abriram atrás deles, e uma dança simples, porém sincronizada, formava um ritmo bem feito atrás dos dois, que continuavam a cantar, agora com o fundo dos outros.


"I've had the time of my life


No, I never felt this way before


Yes, I swear it's the truth


And I owe it all to you!"


As pessoas ao redor pareciam aprovar, e olhei para Stanley de um jeito desafiador. Ela apenas sorriu torto, mostrando nenhuma preocupação.


Sophie e Jason continuavam a cantar, as mãos dadas deixando claro o "amor fraternal". Talvez isso tenha calado a boca de Stanley.


- And I've had the time of my life, no, I never felt this way before – Jason cantou, sorrindo mais do que nunca.


- Never felt this way…


- I swear it's the truth, and I owe it all to you!


"'Cause I had the time of my life


And I've searched through every open door


Till I've found the truth


and I owe it all to you!"


A essas alturas muitos já haviam se levantado, batendo palmas contagiadas pelo ritmo da música e da dança no fundo. Como estava a meu alcance, fiz o mesmo, trazendo Stanley junto a mim como forma de provocação.


Bom, eu também havia esquecido de comentar sobre como Maria estava ótima. Seus gritos exaltavam no meio das outras vozes, com certeza se aquecendo pra próxima música, e cumprindo o que dissera nos bastidores, que "cada grito que ela daria seria em homenagem a Jason".


- Now I've had the time of my life… - finalizaram, e quando a última nota chegou ao fim, vários aplausos e assobios altos preencheram o auditório. Apenas os alunos da Lufa-Lufa e Sonserina vaiavam. Alguns da Corvinal pareciam ter guardado ressentimentos da competição passada. E eu, é claro, apenas sorria para Stanley, que continuava a sorrir mesmo com o barulho aplaudindo sua casa competidora.


E o número mais aguardado estava prestes a começar. Todos já tomavam seus lugares enquanto a plateia se sentava. Da onde eu estava sentado, eu podia enxergar a cara de desconforto de Lily.




Lily POV:


Droga, é nessas horas que me arrependo de não ter trago minha varinha e conjurado uma luva pra mim agora. Tomei logo meu lugar, evitando não olhar para aquele imbecil, que sorria satisfeito. Merlim, por que você não fez Potter nascer com uma voz de taquara rachada? Assim ele não estaria aqui e eu podia ficar sossegada. Mas não... Ele tem que ser... bom em tudo. Argh! Dói em mim até em admitir isso!


Então a música já ia começar, e Potter começou a cantar.


- Can!


- Anybody! Find me… Somebody to love… - cantamos, e nossas vozes misturadas estavam ótimas, como Moreau havia dito.


Depois do piano seria minha vez, e eu já estava nervosa de cantar com Potter, e agora piorou toda situação. Vamos lá, Lily, se acalma...


- Oh, oh, oh! – cantei. Eu te amo, minha voz. Nunca vai me desapontar novamente... espero. – Each morning I get up I die a little, can barely stand on my feet!


- Take a look in the mirror and cry, lord what you're doing to me? – Potter cantou, sorrindo. Idiota, idiota, idiota.


Mas lembrei do que Moreau disse: "Lily, sei que não está gostando dessa ideia de cantar com James, mas, por favor, nunca se esqueça de duas coisas: de olhar para ele e de sorrir. Essa competição depende disso!". Mas como ele quer que eu faça isso? Isso é impossível, olhar para Potter e sorrir. Impossível. Mas eu tentei.


- I have spent all my years believing in you, but I just can't get no relief Lord! – cantei, caminhando ao lado do energúmeno. A pior parte estava por vir.


- Somebody (somebody) ooh somebody (somebody)! – Potter-energúmeno cantou junto com o fundo. Diferente de mim, todos os outros estavam se saindo bem na dança. E sorrindo. Claro, nenhum deles tem que fazer dueto com a pessoa que você mais detesta nesse mundo.


Ai. A parte crucial havia chegado. Com relutância, segurei em sua mão, sorri e caminhamos pelo palco. Ai que horror, a mão dele estava suada! Não... era a minha. A dele estava sequinha. Argh.


- Can anybody find me somebody to love? – cantamos juntos, e seus olhos até brilharam ao me ver sorrindo pra ele. Mas espero que meus olhos passassem a mensagem de que na verdade eu o odiava. A não ser que Moreau quisesse que eu o olhasse carinhosamente também. Pffff.


E depois dessa parte nojenta, corri a cantar com Remo, e dessa vez foi fácil, agradável, legal e animador. Diferente de certas pessoas.


"I work hard everyday of my life


I work till I ache my bones


At the end (at the end of the day)


I take home my hard earned pay all on my own"


E depois eu cantei sozinha, parte em que eu corei um pouco por ver a plateia olhando para mim; pelo menos a maioria parecia aprovar.


"I get down (down) on my knees (knees)


And I start to pray (praise the Lord)


Till the tears run down from my eyes, Lord"


E depois tive que ir a tortura: cantar, dar as mãos e sorrir para o Potter-energúmeno.


"Somebody (somebody) ooh somebody (please)


Can anybody find me somebody to love?"


Potter-energúmeno cantou uma parte só dele também. Invejoso, querendo roubar meu momento de glória. O pior foi alguns gritinhos histéricos das garotas, assim como aconteceu quando Sirius dava alguns passos da dança. Pffff.


- Got no feel I got no rhythm , I just keep losing my beat! – o energúmeno cantou.


- I'm OK I'm alrigh, ain't gonna face no defeat! – foi minha vez de cantar, e logo nos demos as mãos novamente. Merlim, eu mereço isso?


- I just gotta get out of this prison cell, someday I'm gonna be free Lord!


Essa foi a minha parte preferida da música, quando Moreau mostrou como seria pra gente. Foi como num daqueles corais profissionais.


"Find me somebody to love find me somebody to love…


Find me somebody to love find me somebody to love…


Find me somebody to love find me somebody to love…"


- Can anybody find me... – dei as mãos para Potter-energúmeno de novo, e me surpreendi quando não doeu tanto e como meu sorriso saiu automático. Ah não, isso não é nada bom.


Demos espaço pra Maria passar, e fazer o que fazia de melhor.


- Somebody to... looooo-ooooooove!


Maria conseguiu me fazer arrepiar até o cérebro, e naquele momento eu tinha certeza que aquela nota estendida tinha nos garantido a vitória. Quase dei um pulinho ali, mas me controlei; a música ainda não tinha acabado.


"Find me somebody to love


Find me somebody to love


Find me somebody to love"


- Find me, somebody, to, looove! – minha voz se sobressaltou, e se juntou com a Maria, e depois eu não me lembro direito porque a alegria era muita. Na última batida da bateria (pelo menos o carinha havia recuperado a baqueta que eu sumi com ela), a plateia foi a loucura, as palmas sem intervalos. Até alguns sonserinos aplaudiram! Quando fui ver Jessie estava no meio deles. Como é fofo. Alguns corvinais e lufanos também aplaudiam, e agora é que eu não conseguia mais parar de sorrir mesmo.


Eu amava aquilo, cantar, ser aplaudida e tudo o mais. Eu sentia que nunca mais ia parar de sorrir, nem mesmo que o Potter-energúmeno aparecesse na minha frente.




Maria POV:


- Maria, o que foi aquilo? – Sean gritou, em meio aos nossos outros gritos ao chegar aos bastidores. Estava uma bagunça, na verdade eu estava até meio tonta. – Que voz é essa, garota?


- Treinei muito – falei, modesta.


Muitos vieram me parabenizar, até mesmo o eca-McKinnon. Francamente, aquele menino é muito cara de pau. Mas mesmo assim agradeci, pois ele parecia sincero apesar de tudo.


Quando Moreau entrou na sala voamos pra cima dele, comemorando como se tivéssemos ganhado – mesmo que praticamente não ajam dúvidas.


- Gente, calma, calma! – ele riu, quando os marotos o colocaram no chão. – Não temos certeza se vamos ganhar!


- Fala sério, Moreau! – John exclamou. – Sempre querendo nos por pra baixo. Depois da Maria berrar com certeza já ganhamos!


- Bom, não podemos saber. Ainda não vimos a apresentação da Lufa-Lufa, não sabemos como é.


- Sean, já que você é amigo de um deles, por que não nos conta o que sabe? – Lily se virou para ele, que corou. – Chapman canta bem?


- Nunca ouvi – ele respondeu, mas ao perceber todos os olhares direcionados a ele pedindo mais, suspirou. – Mas ele me contou que vão apostar na dança.


- Droga! Justo por que não dançamos muito! – Dorcas reclamou.


- Mas cantamos muito, vamos nos lembrar – Emelina sorriu.


- É gente, vamos ter o pensamento positivo – Sirius se aproximou, com seu ar metido de sempre. – Eu estava na equipe, com certeza é vitória na certa.


- Por favor, me arranjem um balde que vou vomitar! – Sophie disse.


Nossas conversas continuavam altas, enquanto esperávamos pela Lufa-Lufa. Lily me parabenizava ao mesmo tempo em que dizia que precisava limpar suas mãos com bombril por ter dado as mãos com o "Potter-energúmeno" dela. Todos comentavam sobre o número, até ser anunciado que os lufanos estavam em seus lugares.


Foi uma correria pra espiarmos numa visão boa o suficiente o palco, coberto por suas enormes cortinas vermelhas. Todos esperavam para ver finalmente o que Stanley havia nos preparado.


A música começou, e vozes masculinas tomaram conta do auditório, mas apenas uma única voz – afinada, e, oh Merlim, muito boa – se destacava no meio das outras.


- Hey, hey, hey...


Era Chapman. Caramba, eram muitos e... todos homens. O que Stanley tinha contra em misturar os sexos? Mas estavam bonitos e elegantes, e eu não conhecia nenhum deles.


"Your lipstick stains


On the front lobe of


My left side brain


I knew I wouldn't forget you


And so I went and let you blow my mind"


- Ops, eles são bons – John comentou, e ninguém mais falou outra coisa.


"Your sweet moonbeam


The smell of you in every single dream I dream


I knew when we collided


You're the one I have decided


Who's one of my kind."


Chapman continuava a cantar, e como fundo as vozes masculinas tão bem colocadas e afinadas. Não erravam nada, e não paravam de sorrir. Eu ainda me perguntava onde estava a dança até ali, mas ainda não tinha chegado no refrão.


"Hey, soul sister


Ain't that Mr. Mister


On the radio, stereo


The way you move


Ain't fair you know"


Era sincronizada, a dança deles. Acho que minha expressão estava igual a dos outros: boquiaberta e amedrontada. Realmente não se podia contar pontos antes da vitória. Stanley sabia mesmo o que estava fazendo, e não estava para brincadeiras.


"Hey, soul sister


I don't wanna miss


A single thing you do


Tonight!"


Era uma dança bonita sabe? Encantadora, diferente da Corvinal. E isso parecia encantar os jurados. Urgh.


"The way you can cut a rug


Watching you is the only drug I need


You're so gangsta


I'm so thug


You're the only one


I'm dreaming of you see


I can be myself now finally


In fact there's nothing I can't be


I want the world to see you be


With me"


Olhei para Lily, e ela fez uma cara meio desapontada/amedrontada/chocada. Acho que todo mundo esperava que já garantíssemos a vitória com minha performance, e pelo visto estão se desapontando.


"Hey, soul sister


Ain't that Mr. Mister


On the radio, stereo


The way you move


Ain't fair you know


Hey, soul sister


I don't wanna miss


A single thing you do


Tonight"


É, não tinha como negar. Eles são bons. Realmente bons. E Chapman era o que mais se destacava ali. Até ouvi Emelina soltar um suspiro involuntário.


"Hey, hey, hey


Tonight


Hey, hey, hey


Tonight"


A multidão ficou de pé, aplaudindo entusiasmadamente. Todos nós nos entreolhávamos com a mesma cara tristonha, e foi assim que voltamos a nossa humilde sala. Quando chegamos lá, as palmas ainda continuavam.


- E agora? – Beth foi a primeira a se manifestar.


- Gente, qual é! – Dorcas disse repentinamente. – Eles foram bem? Foram. As vozes deles são boas? Sim. As roupas deles são de marca? São. Eles são bonitos? Sim. Mas isso não significa que eles vão ganhar!


- Valeu, Dorcas – James falou com sarcasmo.


- Ei, Dorcas tem razão! – Lily concordou, no que todo mundo estranhou. – Você não presta Dorcas, mas dessa vez tem razão. Maria foi ótima! Todo mundo ficou louco com a voz dela! E o dueto da Sophie com o Jason? Imbatível!


- E o seu com James também! – Alice exclamou, sentada a um canto junto com Franco.


- Que seja – Lily suspirou, evitando olhar para James. – Nós fomos tão bons quanto eles, quem sabe melhor.


Ficamos indecisos, mas por fim concordamos. Lily se juntou a mim e Emelina depois do seu breve discurso e depois de Moreau elogiá-la. Beth continuava a comer, Remo parecia com a cabeça nas nuvens e John se divertia com James e Sirius. Alice e Franco namoravam, e Jason e Sophie conversavam.


Ficamos assim até sermos chamados até o palco para saber do resultado.




Alice POV:


Nossa equipe estava posicionada junto a Moreau, enquanto Stanley estava com a dela. Eu via Chapman, o que mais brilhou no grupo, sorrir alternadamente para nós. Agora não se sabe se estava debochando ou tentando ser amigável. Eu aposto mais na primeira opção.


Estávamos de mãos dadas, até Dumbledore chegar com o envelope. Nunca o vi sorrir tanto, parecia amar mais do que qualquer um esse negócio do coral. O nervosismo foi subindo da cabeça aos pés, e Franco me segurou pela cintura, tentando me acalmar.


- Mais uma vez, é com grande prazer que estou aqui pra anunciar mais um vencedor! – Dumbledore falou, contente. – Lembrando que Grifinória já tem um ponto, e como Nina apenas mudou de casa, continua com nenhum ponto.


Ninguém comentou nada. Meus dentes trincavam e minhas pernas tremiam. De nervosismo e de frio, na verdade; o inverno já se aproximava, e as masmorras eram realmente muito frias, ainda mais para uma pobre reles mortal como eu usando um vestido de seda.


E agora Dumbledore ia dizer o resultado. Tínhamos muitas chances de ganhar, mas a Lufa-Lufa foi igualmente boa...


- E a casa vencedora da primeira competição de novembro, é... – Dumbledore falou, entusiasmado. Pegou o papelzinho dentro do envelope, olhou para as duas equipes pelas lentes dos seus óculos de meia-lua, e anunciou: - LUFA-LUFA!


A multidão amarela na plateia vibrou, Sonserina também, alguns da Corvinal. No palco, nossos atuais competidores faziam a festa e abraçavam Stanley...


Todos nos entreolhamos arrasados, ainda culpados por não ter feito melhor. Me controlei para não chorar, o que foi bem difícil. Os olhos de Lily já estavam quase lacrimejando, e meu coração doía com a derrota.


Moreau logo nos levou até os bastidores, para que chorássemos lá. Foi o que aconteceu mesmo, mas só eu, Dorcas, Lily e Emelina. O resto manteve-se calado.


Ficamos um longo tempo quietos, escutando a multidão comemorar lá fora. Moreau suspirou.


- Garotas, parem de chorar, agora – ele falou, impaciente. – E os outros, vamos parar com essa cara de enterro. Nós perdemos uma competição, apenas uma. E havíamos ganhado a outra, estamos empatados. Se vocês ficarem assim toda vez que perdermos, qual será o espírito de competição?


Ninguém respondeu, mas pelo menos minha vontade de chorar passou um pouco. Alguém pra consolar ou animar sempre fazia a diferença.


- É isso aí professor, perdemos uma batalha, mas não a guerra – Sirius comentou.


- Exato Sirius, exato! – Moreau falou, animado. – Agora porque vocês não se levantam e descansam na sala comunal? E lembrem-se de que treinaremos muito mais para a competição do fim do mês, dessa vez vamos ganhar, ok?


Assentimos, ficando de pé. Aos poucos fomos nos animando, conversando, rindo do nosso choro, e de John imitando comicamente a dança da Lufa-Lufa. Depois de trocados, caminhamos com uma conversa agitada em direção a sala comunal, porém nossa risada foi parada por uma multidão lufana ainda comemorando a vitória, liderada por Stanley. Foi um momento longo de silêncio de ambas as equipes, até Stanley falar:


- Garotos, por que não vão aproveitar a incrível comemoração que os esperam na sala comunal de vocês? – falou, ainda sorrindo para nós com um ar de pena. Argh.


Os garotos a obedeceram, e logo tinham virado o corredor, comemorando agitados. Stanley fez um barulho de deboche.


- Boa derrota, a de vocês – ela sorriu perversamente. – O melhor teve de vencer.


- Parabéns, Stanley, fez um ótimo trabalho – Moreau se adiantou, com um sorriso em desafio. – Nos veremos da próxima competição, assim espero.


- Com certeza – ela estreitou os olhos. – Ah, e devo dizer que fiquei realmente ofendida por você, Moreau, ter escolhido justo uma música do Queen para apresentar. Minha banda preferida não é digna da sua derrota.


- Quem sabe na próxima não conseguimos acertar uma música, não é Stanley? – Moreau parecia tranquilo. Queria ser tão


- Quem sabe, na próxima – ela riu.


- Bom, pelo menos agora que ganharam você não precisará mudar de casa de novo, não é? – John perguntou, e rimos baixo. Stanley apenas nos ignorou.


- E é realmente uma pena que dessa vez eu não tenha tido tempo de bolar uma coisa pra comemorar a derrota de vocês – Stanley inclinou a cabeça. – Quero dizer, na primeira competição eu tinha certeza absoluta que vocês perderiam, e foi por isso que preparei aquele presentinho gosmento pra vocês. Mas agora que realmente perderam...


- Eu sabia que foi você – Moreau riu com desdém, enquanto todos soltavam sonoras exclamações. Olhei imediatamente pra Lily, e a mesma parecia ter levado um tapa na cara. Em seguida olhei para James, que parecia ter ganhado na loteria.


- Mas já que não deu pra colocar em cima do palco hoje... – ela falou com um sorriso. – Bom, agora me deem licença que tenho muito o que comemorar.


E dizendo isso saiu, o barulho do seu salto alto ecoando no assoalho, e os cabelos loiros batendo daquele modo metido de ser.


- O que ela quis dizer com aquilo? – Jason perguntou.


- Nem quero saber – Dorcas falou, tomando o caminho.


Bom, descobrimos isso mais tarde. Moreau seguiu pra sua sala, dizendo que já ia pensar em boas músicas para as próximas competições, e nós seguimos direto para a Torre da Grifinória. Eu via Lily se afastar o mais possível que conseguia de James, além de ter ficado muito calada desde a declaração de Stanley. Ah, esses dois... Ainda vou viver pra ver o casamen...


BLOSGH.


Nem tivemos tempo de pensar, a gosma já estava empapando nossa visão, e eu podia escutar algumas vozes masculinas rirem.


- PERDEDORES! – repetiam entre risadas roucas, e enquanto as garotas faziam um barulho estranho com o nariz, os marotos logo sacaram a varinha, mas os idiotas jogares de gosma na nossa cara já haviam sumido.


- Covardes! – Sirius gritou.


- Ah não, de novo não... – Sophie resmungou, e foi a frente, correndo pra chegar ao retrato.


Ainda reclamando da gosma, e ignorando o silêncio constrangedor na sala comunal, caminhamos correndo para o dormitório. Tudo o que eu precisava era de um banho e uma cama bem quente e acolhedora. Mais nada.




Lily POV:


Ai, Merlim.


Ai Merlim, ai Merlim, ai Merlim, ai Merlim!


Não estava acreditando, simplesmente não estava. Aquilo realmente estava acontecendo, de verdade? Não pode ser, é cruel demais... Eu não quero!


Mas agora já era. A cagada foi feita, e eu estou condenada pra sempre.


Se eu me matar vai ser válido? É claro, por que pelo menos eu dei a chance pela metade.


Vou me matar, é isso. Vou amarrar uma corda numa pedra e no meu pescoço e jogar no lago. Assim a Lula Gigante não vai poder me recolher! Ou então entrar na Floreta Proibida desarmada e esperar que alguma criatura que viva lá me coma viva...


Já sei! Vou provocar Você-Sabe-Quem. Aí ele me dá uma Avada Kedavra e resolveu-se o problema. Eu posso também me jogar da Torre de Astronomia, matar alguém pra ir pra Azkaban e ser beijada por um dementador, dormir no meio das plantas malucas da Sprout, pedir algum bicho assassino emprestado pro Hagrid, tomar uma Poção envenenada, me afogar naquela banheira imensa do banheiro dos monitores... Caramba! Hogwarts tem mais meios de suicídio do que eu pensei. E isso é ótimo.


Porque eu precisava me matar naquele instante, depois do que eu fiz.


Precisava mesmo, de verdade.


Porque minha vida não merece ser vivida, pobre vida miserável. Eu só faço merda, e eu sou solteira. Tudo se vira para que eu me mate, e é assim que deve ser.


Ainda mais depois DISSO. Meu Merlim, eu mereço morrer sem sombra de dúvidas. Porque eu sou uma desprezível que não merece habitar esse mundo.


Agora vou parar de enrolar e contar o que aconteceu.


Tomei meu banho, evitando ao máximo espantar Potter e a gosma verde da cabeça; todas as garotas já haviam tomado banho e com certeza estavam fofocando deitadas em suas camas. Mas depois que eu soube a verdade... eu precisava fazer alguma coisa a respeito. Não podia simplesmente me calar e fingir que está tudo bem, que eu errei e só. Eu precisava me redimir.


Ainda estava pensando no que fazer quando saí do banheiro. Todas as garotas me encararam, esperando que eu dissesse alguma coisa do tipo "nossa, que delícia de banho!". Eu tinha total certeza que eu era o assunto enquanto estava no banho, e agora esperavam uma atitude de mim.


Maria pigarreou, e pelo visto foi pra me acordar um pouco.


- Er... eu vou descer – apontei pra porta, e Alice simplesmente assentiu com um pequeno sorriso.


Eu não tinha outro plano, outra escolha, outra coisa a dizer. Apenas esperar que ele estivesse lá em baixo. Eu tinha que me desculpar, pelo menos. Se eu não o fizesse, não ia conseguir dormir tranquila essa noite.


O que tinha ajudado um pouco foi o banho. Além de tirar aquela gosma de mim, ainda me relaxou e me deixou cheirosa. Tomar banho é o segredo para a calma. E era o que eu mais precisava agora.


Mas o que é que eu estava pensando? Merlim, é só o Potter! Desde quando eu sinto medo de falar com ele? Ok, eu me sinto envergonhada por ter o acusado de uma coisa que ele não fez, e eu fui injusta. Sem falar que era pra estarmos bem amigos hoje, pois estávamos bem antes de eu o acusa-lo. E agora... será que ele me perdoaria?


Só vendo pra saber. E eu senti o nervosismo ao vê-lo na sala comunal, sentado perto da lareira junto com Sirius, ambos de banho tomado também. Eu nem sabia por onde começar, então decidi ser natural. Mas é claro que eu não conseguiria! Logo eu estaria desmaiada de tanto nervosismo, e minha sorte é que a sala estava vazia exceto por eles, assim ninguém mais veria meu mico.


- Er... Oi Sirius. Oi Potter – falei, minha tentativa de naturalidade indo por água abaixo.


- E aí ruiva, como você tem passado? – Sirius falou, divertido.


- Bem, obrigada – falei, parecendo seca mas não querendo. Não queria parecer mal educada! Por isso completei. – E você Sirius, como está?


- Estou ótimo – ele piscou, rindo.


Ninguém comentou nada; Potter nem ao menos havia olhado pra mim! Apenas encarava a lareira, ignorando minha presença.


- Er... Sirius? Posso conversar com Potter, a sós? – falei relutantemente, e Sirius gargalhou.


- Será que deixo? – ele colocou a mão no queixo teatralmente.


- Ora, sai logo daí! – reclamei, dando um tapa na sua cabeça. Minha paciência não estava lá em seu auge. Sirius apenas saiu rindo, acariciando sua cabeça, e eu sentei onde ele estava anteriormente.


- Er... oi – comecei, corando.


- Oi – falou simplesmente.


Ai, já era. Ele me odiava agora. Meu Merlim, que situação mais complicada! Antes eu queria que ele me esquecesse, e agora queria que ele me perdoasse? Mas qual é o problema comigo?


- Ok, pode falar – soltei depressa, fechando os olhos. – Você está bravo comigo e por isso nunca mais vai falar comigo, e vai jogar na minha cara que eu estava errada e estava sendo injusta com você, e vai dizer que eu não era a Lily que você pensava que eu era, e agora você vai tentar me esquecer como eu sempre quis, e eu vou ter que dizer que não quero que você me esqueça mesmo que isso não seja total verdade, e você vai dar uma risada e dizer "você me desapontou Lily" com um tom todo tristonho, e eu vou começar a chorar e correr atrás de você e todo mundo vai rir, e dizer que invertemos os papéis sendo que isso é mentira!


Parei um pouco pra respirar direito, ao mesmo tempo que eu abria os olhos. James me olhava de um jeito meio amedrontado. Será que eu tinha dito o que não era pra ser dito? Isso é realmente normal comigo...


- Lily... – ele começou. Me chamou pelo nome, bom sinal. – Você fugiu do St. Mungus?


Ops, essa ele pegou pesado. Na verdade eu não sabia se havia fugido, talvez sim e apagaram minha memória.


- As vezes desconfio – falei com sinceridade, e ele riu.


- Se eu fosse você verificava – ele se espreguiçou na poltrona. – Mas não se preocupe, não estou bravo com você. Só queria que você deixasse de ser orgulhosa, dissesse que errou e me pedisse descul...


- Me desculpa, por favor – implorei rapidamente, e ele ergueu as sobrancelhas. – Eu errei e fui injusta, e não acreditei em você. Mas você tem que levar em conta que a fama era muita, por isso me confundi!


- É, por esse lado está certa. Mas nada era motivo pra me acusar daquele jeito.


Eu suspirei, deixando meus ombros caírem.


- Eu sei – falei, desanimada. – Sou tão cega as vezes que sempre cogito a possibilidade de pegar seus óculos emprestados.


Ele riu novamente, ajeitando os mesmos no rosto.


- Você realmente está culpada? – ele perguntou depois de um tempo. – Nunca imaginaria que ia ceder assim, tão fácil.


- Eu fui horrível com você. Acho que eu estava tão acostumada a por toda a culpa em você, de dar broncas em você, a odiar você, que de repente eu passei a achar que você era o único desordeiro do mundo – dei de ombros.


- Mas você se esqueceu de Sirius também.


- Ele é um caso a parte. Meu alvo de ódio sempre foi você – confessei, mordendo o lábio. – E por falar em Sirius...


- Sim? – ele se moveu, incomodado. Eu sabia que tinha chegado lá.


- Já que o que você escondia aquela vez não era a gosma... o que era? – perguntei, curiosa, fitando-o bem.


Eu já estava relaxada por ele ter me perdoado e estarmos ali, tendo uma conversa normal. Agora a curiosidade tinha substituído tudo, até mesmo meu nervosismo e meu momento suicida.


- Se você prometer não contar a Sirius... – ele falou vagamente.


- Minha boca será um túmulo – prometi.


Ele sorriu torto antes de responder.


- Ele roubou o sutiã da Beth.


Não respondi a princípio. Mas depois comecei a gargalhar.


- Então era isso? – eu disse, ainda rindo. – Caramba, não acredito!


- Acredite. Ele me mataria se eu contasse então...


- Seu idiota, por que não me contou? – dei um leve tapa em seu braço. – Tudo isso foi... o sutiã...


Era incontrolável minha vontade de rir. Merlim, como coisas tão tolas e estúpidas podem vir a acarretar um problemão daqueles? Inacreditável.


Potter também ria.


- Pra você ver. E certamente você não iria acreditar se eu te dissesse.


- Ai, ai – acariciei minha barriga, dolorida de tanto rir. – Bem que Beth deu por falta do sutiã mesmo...


Ele não fez outro comentário. Apenas bagunçava os cabelos sem mesmo perceber, e olhava a lareira. Eu não sabia mais o que fazer, portanto decidi tomar a decisão mais óbvia.


- Ahn... acho que eu vou dormir – falei, voltando ao momento desconfortável. – Sabe como é, estou cansada...


- Tudo bem – ele sorriu, parecendo sem graça e indeciso. – Er... Boa noite Lily.


- Boa noite – me coloquei de pé rapidamente. – E me desculpa novamente. Prometo ser mais boazinha com você daqui pra frente.


Ele bufou.


- Eu duvido muito, mas vou pagar pra ver.


Sorri novamente, nervosa, então andei ligeira em direção as escadas espirais com o receio de uma nova conversa começar. Eu também estava meio desapontada com alguma coisa... Só não sei o que é. Bom, suponho que seja o cansaço. Eu já estava aliviada por não me sentir tão culpada assim, e agora eu podia dormir bem e ficar bem longe das plantas assassinas da Sprout.


Quando eu coloquei o pé no terceiro degrau da escada, ouvir Potter gritar às minhas costas.


- Lily!


Congelei ali mesmo, respirando alto. Tentei colocar um sorriso no meu rosto antes de me virar.


- Sim?


- Eu estava pensando... – ele mordeu o lábio, novamente indeciso. – Estava pensando se não você não queria ir a Hogsmeade comigo no passeio da semana que vem.


Ai, droga. Eu não podia hesitar, nem evitar.


- Sim, eu quero – respondi. MERLIM, O QUE FOI QUE EU ACABEI DE DIZER?


Ele pareceu tão surpreso que eu jurei que seria ele que desmaiaria. Mas logo seu sorriso se estendeu de orelha a orelha, e seus olhos brilhavam como nunca.


- Marcado então – ele disse.


- Marcado – sorri novamente, mas dessa vez não foi porque eu quis.


Só quando cheguei ao dormitório e comecei a contar tudo às garotas que eu me dei conta do que eu fiz:


EU VOU TER UM ENCONTRO COM JAMES POTTER!




Músicas:


1- (I've Had) The Time of My Life


2- Somebody To Love


3- Hey, Soul Sister

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