Garotas X Garotos
Garotas X Garotos
Lily POV:
Sabe o que eu fui fazer depois daquele momento de irritação com Potter naquela noite? Depois de receber a pior notícia da minha vida?
Fui pra biblioteca.
Afinal, isso nem era de tudo uma novidade, sendo que agora eu passava mais tempo lá do que em qualquer outro lugar. Pelo fato de eu adorar aquele ambiente, de ter vários livros disponíveis para mim e, agora, pelo fato daquele garoto continuar na seção das enciclopédias. Era bem divertido conversar com ele; era mais inteligente do que eu imaginava. E também não me bombardeava de perguntas sobre mim: só sabia que eu era Lily Evans, Grifinória, monitora-chefe. Mais nada. É claro, minhas matérias e livros preferidos também. E era o mesmo que eu sabia dele, e isso que era interessante. Deixava certo ar de mistério, ainda mais por ele ser da Sonserina. Era raro achar sonserinos amigáveis.
Depois de mais ou menos uma meia hora e meia, voltei para a Torre da Grifinória já tarde da noite. Tomei cuidado pra tão topar com Pirraça, Madame Nora ou Filch, os carrascos dos corredores. Não que isso seja um problema maior, posso muito bem dizer que estou fazendo ronda.
Cheguei à sala comunal vazia. Quero dizer, eu pensava que estava vazia, até um vulto se materializar perto da lareira, quase me sufocando de susto.
- AH! – gritei, tampando a boca para abafar o som. – Droga! Que susto, Potter!
Ele estava ali, de pé, braços cruzados. Até parecia meu pai quando estava emburrado, expressão totalmente incômoda. E ele estreitava os olhos pra mim, como se exigisse alguma coisa.
- O que você quer? – perguntei.
Ele simplesmente não respondeu. Parecia controlar a respiração, ou, pelo menos, a fala.
- Se foi por causa da música de hoje, fique sabendo que você bem que mereceu – falei, sem hesitar. – Ninguém mandou você entrar pro coral, foi totalmente estúpido da sua parte!
E não disse mais nada. Fitei-o tempo suficiente pra entender que tinha um louco ali na minha frente, então tomei a atitude sensata: dei as costas e fui embora. Nunca se sabe se a loucura dele era contagiosa.
- Quem é Jessie St. James? – perguntou, alto, quando eu estava prestes a por o pé no degrau da escada.
- Hein?
- Jessie St. James – repetiu, com o maxilar cerrado. É sintomas da loucura. Mas, espera... Como ele sabe?
- Como você...? – perguntei, ainda intrigada. Ele balançou a cabeça. – Maria? Maria te contou?
- Então é verdade? – ele parecia chocado, então ficou irritado de novo. – Como você pode? Ele é um sonserino!
- Já está na hora de parar com esse preconceito idiota – revirei os olhos.
- Você já tem muita experiência com contatos sonserinos, não acha não? E sempre vai sair arrependida...
- Escuta aqui, quem é você pra ficar falando abobrinhas sobre a minha vida? – soltei, aborrecida. – Primeiro que você não é lá flor que se cheire para falar dos outros. Segundo que você é um idiota. Terceiro que eu não gosto de você. Quarto que você jogou uma gosma em mim. Quinto que você é maroto. E outros motivos incontáveis, ou seja, você não tem direito de falar de ninguém!
- E nem você, pelo visto! – retrucou, andando até a mim apontando o dedo acusatoriamente. – Olha com quem está andando!
- Antes Jessie do que você! – gritei, dando as costas.
- Ah, claro! – ele respondeu a minhas costas, enquanto eu subia as escadas. – Não dou nem uma semana para você ser chamada daquilo de novo!
Argh, idiota. Além de ser um hipócrita retardado ainda tem a coragem de se intrometer na minha vida? Como é estúpido... E eu sou estúpida por ouvir e olhar na cara dele. Vou ter que voltar com meus dons de ignorância novamente, é o único jeito de manter aquele nojento longe de mim.
Remo POV:
O clima não estava muito bom no café da manhã naquele dia. E eu entendia tudo.
James havia chegado ao dormitório bem tarde ontem a noite, bufando e se segurando pra não quebrar o violão de Sirius no meio. Contou o que Maria havia contado a Sirius que havia contado a ele, e ainda que estava agora pouco na sala comunal brigando com Lily, antes de ver no mapa o pontinho indicando "Lily Evans" junto com o ponto "Jessie St. James" na biblioteca. Já entendi tudo, e a cena já veio na minha cabeça antes que eu previsse...
James parecia arrasado, e não falou nada no resto do tempo. Rabicho, como sempre, apenas dormia tranquilamente; quero dizer, tranquilamente pra ele, já que os roncos eram altos. Sirius não sabia se ria ou tentava consolar James, mas como isso não era típico dele, resolveu então ficar calado, assim como eu. Já estávamos acostumados com isso: Franco andara fazendo o mesmo, mas agora parecia estar melhorando. James ficou olhando um bom tempo para o teto, as vezes murmurando algumas coisas, outras fazendo uma cara de choro que eu vi Sirius morder um travesseiro para não rir. E depois passava pra raiva de novo, e assim continuou...
Mas agora estava bem crítica a situação. Por ironia do destino, Lily e James haviam se sentado de frente para o outro, já que quando ela chegou a mesa estava cheia o suficiente para só ter aquele lugar vago. Encarou longamente James, que fez o mesmo, cerrando os olhos com raiva, e depois baixou os olhos para o prato. Emelina e Alice, que estavam sentadas cada uma do lado de Lily, olhavam para nós questionadoras, enquanto Sirius apenas dava de ombros, de boca cheia. Ficou um longo silêncio, até Emelina suspirar.
- Dá pra parar com isso? É sério, está realmente desconfortante.
- Então diga para Potter se retirar – Lily rosnou, sem erguer os olhos.
- Aluado, diga para Evans que estou muito bem aqui, obrigado – James disse, igualmente irritado.
- Emelina, diga para Potter que sua presença incomoda todo mundo.
- Aluado, diga a Evans que eu acho que o sujo está falando do mal lavado – James agora encarou Lily, e ela fez o mesmo.
- Emelina, diga a Potter que eu não andei jogando gosmas verdes em ninguém.
- Aluado, diga a Evans que eu não andei falando com ninguém da Sonserina ultimamente – ele se curvou sobre a mesa.
- Emelina, diga a Potter que ele não deve tomar conta da minha vida – Lily também se curvou.
- Aluado, diga a Evans que ela está sendo uma traíra.
- Emelina, diga a Potter que traíra é ele que jogou aquela gosma nas pessoas da sua casa!
- Aluado, diga a Evans que ela é burra a ponto de não querer enxergar que não fui eu que fiz isso! – eles praticamente gritavam agora, e eu me entreolhava o tempo todo com Emelina, perdido.
- Emelina, diga a Potter que eu não sou da família dele.
- Aluado, diga a Evans que eu agradeço muito a Merlim por isso.
- Emelina, diga a Potter que ele é um babaca infantil!
- Aluado, diga a Evans que antes infantil do que uma cabeça dura!
- Emelina, diga a Potter que eu o odeio!
- Aluado, diga a...
- Ai, chega! – Alice bufou, impaciente. – Dá pra parar vocês dois ou tá difícil?
- Foi ele que começou! – Lily apontou para James, ao mesmo tempo em que ele apontava para ela, dizendo o mesmo: – Foi ela que começou!
- Francamente, vocês parecem casados, brigando feito dois babuínos! – Alice reclamou.
- Deus me livre! – Lily guinchou.
- Prefiro ir pro inferno – James ponderou, e Lily o fuzilou com o olhar, e ele a fuzilou com o olhar e ficou por isso mesmo.
David POV:
Para distrair da minha última discussão com Stanley – a qual eu a acusara novamente de ter planejado a gosma verde, após eu ouvir Lily acusar James -, fui para a sala de música conversar um pouco com o pessoal que estava lá. Ainda estava terminando as notas musicais para a próxima apresentação, que, na minha opinião, ficou realmente boa.
Ainda não acreditava que havíamos ganhado a competição, sendo que "Yeah!" foi completamente bem sincronizada e animada. Não era a toa que Stanley quase lançou uma maldição em alguns jurados... E isso me deixava com o medo de que a Lufa-Lufa – casa agora nossa competidora -, fosse tão boa quanto. Acho que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Mas mesmo assim eu estava esperançoso, pois, como eu tinha ouvido falar, a Lufa-Lufa não era um coral muito potente, e Stanley estava se esforçando apenas na afinação. Mas veremos isso daqui alguns dias...
Ainda divagando sobre como me vingar de Stanley pela gosma, ouço uma batida fraca na porta.
- Com licença, professor? – uma garota, roxa de tanto corar, apareceu na porta.
- Sim?
- Eu... – ela entrou, torcendo as mãos nervosamente. Era uma garota do terceiro ano da Grifinória, acanhada. – Eu...
Esperei. Ela então engoliu em seco.
- Eu queria entrar para o coral.
Perdi a conta de quantas vezes ouvi aquela frase naquele sábado. Primeiro foi essa garota, que depois de insistir muito cantou uma música qualquer do Justin Bieber para eu ouvir, desafinou e saiu de lá agora roxa de raiva. Depois veio outra, e mais duas enquanto eu caminhava pelo corredor, depois mais cinco quando voltei para a sala de música. Garotas do primeiro ao sétimo ano me abordavam, querendo desesperadamente entrar para o coral, e depois mais umas dez veio todas juntas, e quinze, até começar a surgir gente até da Corvinal, Lufa-Lufa e por vezes Sonserina. Todas as garotas – e raramente alguns garotos – praticamente imploravam para entrar no coral, o que me fez ficar trancado um bom tempo na minha sala.
Quando achei que estava tudo calmo, providenciei que em todos os quadros de avisos de todas as casas fossem pregados o anúncio que Grifinória não precisava mais de novos membros. Houve alguns insistentes, mas até a noite eu já tinha me livrado de todos, lembrando de ter uma longa conversa com Sirius e James sobre essa popularidade desesperada.
É muita ironia para mim, pensar que algum tempo atrás eu estava é desesperado por novos membros, e agora o desespero é de não querer mais nenhum.
Sophie POV:
- Ei, Jason! – cumprimentei meu querido irmão enquanto ele lia meio sonolento seu livro de Poções. A sala comunal estava cheia naquela hora, o que não me agradou muito.
- Olá, So – cumprimentou sorrindo. – Alguma carta da mamãe?
- Como assim, alguma carta da mamãe? – revirei os olhos. – Ela só escreve pra você!
- Isso é seu ciúme de criança voltando? – seus olhos brilharam de malícia.
- Que nada, mas você não pode negar que ela só escreve pra você – dei de ombros.
Jason não respondeu mais. Peguei um livro dentro da minha mochila e comecei a ler também. Sempre fazíamos isso, pois a senhora Marlene sempre insistia que lêssemos o máximo possível, e sempre tínhamos esse tempo de silêncio. Claro, aqui dificultava tudo pelo barulho estrondoso das conversas, mas mesmo assim a gente tentava.
- Ei, Sophie – ele me chamou uns quinze minutos depois.
- Hum.
- Eu estava pensando... – ergui os olhos pra ele, e ele parecia indeciso. – E se eu fizesse um solo na próxima competição? Moreau ainda está escolhendo...
Fitei-o por um instante, a fim de entender aquele estranho e repentino interesse em ganhar tanta atenção no coral.
- Jason, você está querendo uma namorada desesperadamente, não é? – perguntei, e ele corou.
- Não – respondeu depressa. – Só gosto de cantar, o que há de mal nisso?
- Ainda está com aquela história de "busca pela alma gêmea"? – fiz aspas no ar, e ele riu.
- Só queria saber se você me ajudaria de novo.
- Você não respondeu minha pergunta – fiz uma careta. – Sabe, as garotas já estão te secando demais ultimamente, e se você acabar como um Sirius Black da vida...
- Falando nisso... Pra que todo aquele choque porque ele e Potter entraram no coral? – ele investiu, e eu pigarreei. – É sobre o fato de você ter namorado Potter?
- Naaaaaan – balancei a cabeça freneticamente. – E você está tentando mudar de assunto.
- O que aconteceu afinal? – insistiu.
- Ora, cale a boca, Jason – suspirei, e ele deu uma risadinha. Puxei sua orelha. – Deixa de ser um mala. Só estou falando pra você tomar cuidado com essas corujentas que te rodeiam. Não quero você por aí com qualquer uma não...
- Deixe de ciúmes – ele apertou minha bochecha, o que eu não gosto como já havia dito. Pouca carne e muito osso, o que é bom afinal de contas... – Agora, vai me ajudar ou não?
Suspirei novamente.
- Tudo bem.
Emelina POV:
O fim de semana passou bem rápido pra falar a verdade. Quase não o vi passar, pois fiquei parte do tempo estudando. Mas teve algumas coisinhas que deu pra perceber, mesmo com a cara enfiada nos livros.
Sophie e Jason andavam conversando misteriosamente; alguma coisa relacionada com o coral, suponho. Ou melhor, supus, já que no coral de domingo nenhum dos dois manifestou alguma coisa. Apesar de Dorcas quase dar ataques para chamar a atenção dos dois – principalmente a de Jason – para saber o que eles tanto conversavam, Sophie apenas a ignorava. Claro, eu estava curiosa também, mas uma das coisas que eu me orgulho é da minha paciência, e eu tinha certeza que mais cedo ou mais tarde eu descobriria do que se tratava. Pena Dorcas não achar isso... Ela andava mais estressada como nunca, e adivinha quem recebeu a carga de raiva? Eu. Era o dia inteiro ouvir Dorcas falar mal de Lily, falar de Jason, perguntar o que ele falava com Sophie e essas coisas. Paciência, é o que me motiva.
Outra coisa que percebi foi Lily e James parecerem duendes, encarando você com aquela cara amarrada. Ou melhor, se encarando. Lily tinha aumentado seu sarcasmo para mil, e James jogava indiretas como nunca. Eu via a cara de desagrado de Alice, Maria, Remo e Franco. Sirius apenas ignorava, assim como Dorcas. E no coral de domingo Lily respondia com total falta de educação, que nem a repreensão de Moreau impedia.
E percebi outra coisa também. Quanto a mim. Eu estava realmente ruborizada por esses dias sem motivo aparente. Ainda me perguntava se eu estava com febre ou algo do tipo, mas a única coisa que me vinha a cabeça era Sean. Ok, confesso, não exatamente Sean. É aquele amigo dele. Tão... sei lá. Carismático? Acho que só de lembrar aquele sorriso charmoso eu já ficava vermelha. Simplesmente a toa. E eu estava me sentindo estúpida.
E, por fim, o principal de todos. Foi algo surpreendente por um lado, mas meio desagradável por outro. Foi no mesmo coral de domingo, onde o silêncio anormal enchia a sala, exceto por John ficar contando uma piada qualquer para Beth. Lily se mantinha afastada de James como se ele tivesse uma doença altamente contagiosa, enquanto os outros ficavam em silêncio, prevendo uma explosão de Lily a qualquer momento.
- Olá, pessoal – cumprimentou Moreau, entrando radiante na sala. Mas parou, deu uma olhada na cara de todos e ergueu as sobrancelhas. – Algum problema?
- Todo problema do mundo – foi Dorcas que respondeu, azeda. – Desculpe querido professor, mas colocar Potter e Evans num coral só foi o pior erro da sua vida!
- E por que? – ele questionou.
- Por quê? – Dorcas perguntou sarcástica, dando uma falsa risada. Não resistindo, se pôs de pé. – É uma pena que o senhor nunca tenha estado aqui antes para presenciar o que esses dois faziam para chamar a atenção. Era grito da Evans pra lá, azarações de Potter pra cá. Eles se odeiam, e é por isso que os dois num cômodo só é sinal de aborrecimento e completo desacordo! Não vê que os dois andam se fuzilando com o olhar e quase pulando no pescoço do outro? Simplesmente Evans quase morreu sufocada porque Potter entrou no coral e agora vai ficar esse clima pra sempre! E é isso.
E voltou a se sentar. Moreau ficou um tempinho absorvendo o discurso de Dorcas, até suspirar.
- Lily e James, se isso que Dorcas disse foi verdade, espero que essa... rixa entre vocês dois acabem de uma vez. Não há motivos para brigar – Moreau falou calmamente.
- Não há motivos? – Lily soltou um bufo. – Professor, Potter não tem talento! E nem vergonha na cara!
- Tenho vergonha suficiente para não andar por aí com o pessoal da Sonserina!
- Eu ando com quem eu quiser e você não se intrometa na minha vida! – Lily encarou James, apontando diretamente para ele.
- Ah, esqueci. Esqueci que você é – James fez uma careta e uns gestos com a mão – "a dona certinha, a dona da verdade"! Nunca escuta o que os outros dizem e acha que nós devemos!
- Não sei do que você está falando, Potter!
- A palavra "gosma" te lembra de alguma coisa? – James elevou a voz.
- Chega – Moreau disse, impaciente. – Vamos parar com isso, certo? Primeiro porque vocês estão sendo infantis agindo desse jeito, e segundo porque temos assuntos mais importantes a ser tratados.
Lily e James fizeram caras emburradas idênticas, cruzando os braços.
- Bom, quanto a música principal, como eu já disse, já está escolhida – Moreau andou até sua maleta e começou a remexer em alguns papéis. – Lily, você fará a voz feminina...
- Novidade! – exclamou Dorcas.
- E você fará a masculina, Sean.
- Eu? – ele arregalou os olhos muito claros. – Sério? Mas... Não sei.
- Nada mais justo! – Lily sorriu, abraçando Sean a ponto de quase sufocá-lo. – Mandamos bem em Defying Gravity, seja qual for essa música vai ser ótima!
- Mas Sean, pelo tom da música eu te aconselho a engrossar só mais um pouco sua voz – Moreau disse.
- E a outra música? – Sophie perguntou.
- Pendente – Moreau suspirou. – Por isso eu tenho uma coisa que vai animar vocês. Tanto isso quanto a descoberta de novas vozes para a outra música.
- O quê? – perguntamos.
- Foi uma ideia súbita que eu tive, na verdade não eu. Teve algo parecido com isso nos meus tempos de Beauxbatons – Moreau sorriu, relembrando-se. – Acho que aprovarão.
- Argh, fala logo criatura! – Dorcas exclamou, irritada. Por sorte Moreau ainda estava viajando pelas lembranças.
- Um confronto! – anunciou, contente. – Garotos versus garotas! O melhor desempenho vai ter um papel importante na próxima competição, seja homem ou mulher. Apenas deem o melhor de si.
A sala se encheu de murmúrios agitados, enquanto Dorcas reclamava não sei o que com Sophie, que por sua vez lançava um olhar enigmático para Jason. Cochichei com Remo que, infelizmente, viraríamos competidores. Eu sempre odiei quando amigos, mesmo por nada sério, acabavam virando competidores. Nunca consegui ver amigo nenhum como oponente, por mais tola a ocasião seja.
- Muito bem, muito bem! – Moreau balançou os braços para acalmar o falatório. – Garotas se apresentarão na sexta, garotos no domingo. Improvisem roupa, cenário, coreografia, o que quiserem, porém... tenho uma exigência.
- Me recuso a me maquiar – John falou de prontidão, e demos risadas.
- Não John, não – Moreau sorriu. – Terão que fazer um mash-up.
- O quê? – James perguntou.
- Mash-up, seu idiota – Lily falou rispidamente. – Uma mistura de duas músicas que formam um ritmo sincronizado.
- Da onde você pegou isso? De algum livro da biblioteca? – James retrucou.
- Pelo menos eu me ocupo com alguma coisa que preste, diferente de você...
- Por favor, vamos parar com isso – Moreau repreendeu. – Mas é exatamente como Lily disse, James. Uma mistura de duas músicas. Fiquem a vontade para escolher a música e os cantores.
Moreau deu o resto da aula para discutirmos, em sussurros, o que tínhamos em mente. Vi Sean lançar um olhar de desgosto ao separar de nós; ele preferia nossa companhia do que a dos garotos, talvez pela teoria de Dorcas... Mas nunca se sabe.
- É questão de honra – Lily ainda repetia ao sair da sala, lançando um olhar raivoso por sobre o ombro em direção a James. – Questão de honra ganhar isso.
- Na verdade nem é uma competição, não temos prêmios – Maria deu de ombros. – Moreau só vai nos avaliar.
- A vitória já é um prêmio – Lily ergueu a cabeça. – E ainda quero ver o vexame que Potter vai dar ao tentar cantar. E eu vou estar lá pra rir na cara dele.
Decidi me afastar um pouco de Lily depois daquelas palavras ameaçadoras. Estava na cara que ela não estava tendo um bom dia.
Lily POV:
Como sempre os dias passaram muito rápido. Minha segunda foi atolada com deveres e redações, mais monitoria e coral. Dorcas continuava a insistir que queria o "papel principal" do número, sendo que nem havíamos escolhido as músicas ainda. Habitualmente, Alice se encarregaria das roupas, enquanto Emelina e as outras tentavam pensar em algumas músicas que ficariam boas. Dorcas tentou novamente se intrometer nisso, mas por fim desistiu e disse que exigia apenas um solo. Pffff.
E tinha outras coisas paralelas acontecendo também, como por exemplo o fato de que eu e Jessie estávamos praticamente redescobrindo aquela biblioteca. Era um dos momentos mais divertidos do dia, onde passávamos horas ali, fazendo nossos deveres juntos.
- Como vai o coral, Lily? – ele me perguntou, enquanto o silêncio se prolongava enquanto ele havia sentado no chão encostado em uma prateleira próxima, enquanto eu buscava o livro que eu usaria para fazer a redação de Poções. Era a primeira vez, acho, que ele me perguntava algo diferente de nossos assuntos habituais. Demorei um pouco pra responder.
- Bem – falei, vagamente, passando os dedos nos títulos das enciclopédias.
- Só estou te perguntando isso porque aquele dia você chegou meio... explosiva – ele tombou a cabeça e sorriu. – Acho que você pensou que...
- Não pensei nada – cortei rapidamente, corada. – Está bem. Em partes.
Ele não voltou a falar nada. Eu já havia achado o livro que eu procurava, mas na verdade só estava esperando meu rosto voltar a tonalidade normal para voltar a conversar com ele. Quando achei já aceitável, fui me sentar a seu lado.
- Você se interessa em música, não é? – perguntei. – Quero dizer, quando eu te conheci uma das primeiras coisas que você me perguntou foi sobre a primeira apresentação.
- Sim, foi – ele falou, relembrando-se. – Me interesso muito, mais do que devia. Minha mãe é cantora.
- Sério?
Foi as portas para mais uma outra longa conversa. Jessie me contou sobre sua mãe, Jessica (bela coincidência de nomes), que era uma cantora bastante popular nas regiões da França e Alemanha, além de fazer outras participações paralelas. Assim também começamos a falar sobre músicas, bandas, cantores, peças e clássicos por horas, o que me fez lembrar de quando comecei a fazer amizades com Sean também. Quem diria que um dia o coral me impulsionaria a isso...
E em uma piscar de olhos já eram quase meia-noite e Madame Pince estava quase se descabelando quando viu que ainda estávamos ali, e nos expulsou a ponto de acordar Hogwarts inteira com seus gritos alvoraçados.
Quando a porta bateu a nossas costas fazendo um estalo alto e agudo, nos entreolhamos e caímos na gargalhada. Acredite, não há coisa melhor do que ser expulsa da biblioteca por Madame Pince.
Continuamos rindo mal lembrando de ter cautela quanto a Filch, nossas risadas ecoando nos corredores vazios e pouco iluminados. Só me lembrei desse detalhe quando vi uma sombra se aproximar. Cotovelei Jessie para que parasse de rir e apontei para a sombra no corredor prestes a no encarar. Ele ficou sério repentinamente, e, calados, aguardamos a nossa sina. Podia ser Filch, Madame Nora, Pirraça, o que for, menos McGonagall. Aquela lá não poupa autoridade.
Porém, quando a varinha do cidadão apontou diretamente na minha cara, me deixando momentaneamente cega, suspirei de alívio. Mas ao ver o cidadão, eu bufei alto.
- Potter! Mas o que é que você está fazendo aqui a uma hora dessas? – perguntei, irritada.
Ele apontou a varinha pra mim, depois pra Jessie, repetidas vezes, até estreitar os olhos.
- Pergunto o mesmo.
- Ora, nem me venha com essa. Sou monitora-chefe e tenho o direito de fazer ronda por aí! – ah, nada melhor do que um belo distintivo de monitor no peito. – E você não!
- Certo, mas e ele? – ele apontou a varinha em direção a Jessie, sua voz em tom de nojo como se falasse de uma barata morta amassada. Isso me irritou.
- Ele está comigo. Agora vá pra cama agora mesmo, senão...
- Vai falar para McGonagall? Me dar uma detenção? Ora, veremos se você vai fazer isso se eu deixar escapar que está por aí com esse daí – falou rispidamente.
- Idiota! – xinguei, então me virei para Jessie, com uma voz mais calma. – Jessie, acho melhor você ir pra sua sala comunal.
Jessie parecia meio perdido, mas não deixando de lado sua pose madura. Era disso que eu gostava nele, ele era maduro. Ao contrário de certas pessoas que pareceram ter parado no quinto ano...
- Certo – falou, sorrindo apenas para mim. – Tchau, Lily.
- Tchau – sorri de volta. Acompanhei Jessie se afastar até virar o corredor próximo, e depois me voltei para o jumento na minha frente, irritada. – Seu... estúpido! O que você está fazendo aqui?
- Não te interessa. Pois nada é pior do que você e seu... namorado ou sei lá ao quê estavam fazendo! – ele falou, aborrecido. – Não vê que você e esse sonserino é uma vergonha a Godric Gryffindor?
- Eu não faço a mínima ideia do significado dessas baboseiras que você está falando, Potter! – balbuciei, cruzando os braços. – O que Gryffindor tem a ver com isso? E quem disse que eu e Jessie estamos namorando?
Ele ficou sério.
- Não estão? – ergueu as sobrancelhas, como se começasse a sentir uma sensação de alívio.
- Não, e se estivesse isso absolutamente não seria da sua conta – rebati. – Agora não me amole! Fique bem grato de que eu não te dê uma detenção.
Saí apressada antes que ele me acompanhasse até a sala comunal. Não queria andar ao lado desse energúmeno.
- Ei, Lily! – ele me chamou.
Me virei, sem parar de andar.
- Fala. E é Evans.
- Tem certeza, não é? De que vocês não estão namorando...
- Cale a boca, Potter – revirei os olhos, e agradeci que ele não tentara me seguir. Apenas fiquei intrigada que vi de relance um sorrisinho presunçoso aparecer naquela cara de jegue dele.
James POV:
Ouvir: Lucky
- Do you hear me? I'm talking to you, across the water, across the deep blue ocean under the open sky, oh my, baby I'm trying – Jason começou após ele e Sophie anuciarem que estavam treinando. Pegou seu violão e começou a cantar ao lado da irmã, que ainda parecia indecisa sobre estar ali.
- Boy I hear you in my dreams, I feel your whisper across the sea – a voz de Sophie preencheu a sala, e como eu tinha dito antes, é calma e macia, o que dava certa tranquilidade. – I keep you with me in my heart, you make it easier when life gets hard.
- Lucky I'm in love with my best friend, lucky to have been where I have been, lucky to be coming home again… - cantaram juntos, enquanto Jason sorria, meio acanhado. Sophie olhou de relance para minha direção, até eu me lembrar de quem está sentado ao meu lado.
Sirius, sentado desajeitadamente na cadeira como sempre, olhava para a cena com uma expressão neutra, como se pensasse. E parecia meio deprimido as vezes, o que era muito incomum.
- They don't know how long it takes – Sophie cantou ao lado do irmão, ainda mais entusiasmada depois de olhar para Sirius. – Waiting for a love like this, every time we say goodbye… I wish we had one more kiss. I'll wait for you, I promise you I will…
Os outros também pareciam aprovar, e as garotas balançavam as mãos no alto, entrando no ritmo. Lily, sorrindo ao lado de Maria, acabou encontrando com meu olhar, então ficou séria e virou a cara. Suspirei.
- Lucky I'm in love with my best friend, lucky to have been where I have been, lucky to be coming home again – continuaram. – Lucky we're in love in every way, lucky to have stayed where we have stayed, lucky to be coming home someday…
É claro que eu esperava que Lily ao menos entrasse no clima da música e pelo menos sorrisse pra mim. Quero dizer, sei que isso não significa nada, mas pelo menos ia quebrar essa tensão chata...
- Oh, oh, oh! – os irmãos finalizaram, e palmas altas e assobios agudos seguiram o fim da última nota. Moreau pôs-se de pé, aprovando.
- Isso foi ótimo! Jason, fico feliz que teve a coragem de cantar para todos nós! – Moreau segurou seu ombro. – É incrível como suas vozes batem bem. Talvez por ser irmãos, quem sabe...
- Justamente por isso – Dorcas interpôs-se com um ar desafiador. – Não é esquisito que irmãos cantem músicas de amor?
- Isso não foi música de amor – Jason retrucou. – Talvez você devesse parar de querer causar.
- Ah, claro, é sempre eu – Dorcas disse secamente. – Ou talvez isso não tenha sido uma garantia que vocês ganhariam uma voz a mais na próxima competição!
- Dorcas, eu deixei isso para a competição de mash-up... – Moreau correu a explicar, mas Dorcas não deixou.
- Isso pra mim é conversa pra boi dormir – bufou. – Se Sophie queria uma música decente, porque não escolher, por um bom exemplo, Sirius Black?
Fez-se um momentâneo silêncio, ao qual Emelina olhou aterrorizada para Dorcas e Sophie ficou totalmente escarlate, olhando depressa pra baixo. Os demais, sem entender, olharam para Sirius, que tentava parecer ausente ao assunto.
- Dorcas, pare de causar discussões – Moreau quebrou o silêncio. – Eu decido as coisas por aqui. Estão dispensados.
Foi uma correria pra fora da sala, onde Lily foi a mais rápida a se precipitar porta a fora. Peguei minha mochila e corri para ao menos tentar acompanhá-la.
- Lily! Lily! – chamei, e ela parou e virou, sua expressão mostrando contragosto. – Dá pra parar de fugir de mim?
- Estou evitando maus momentos – ela disse rispidamente. – Eu pararia de me esquivar de você se você parasse de tentar falar comigo!
- Eu só... – me aproximei lentamente, sem jeito. – Queria me desculpar.
- Pelo quê? Por ter nascido? – ela ergueu as sobrancelhas. – Se for por isso, não precisa. Você tem é que se desculpar com o mundo, porque...
- Não, não é por isso – fiz uma careta. – É por... segunda.
- Ah – falou, sem alterar sua expressão.
- Eu achei que...
- Não precisa se desculpar e não estou a fim de saber de nada – cortou rapidamente. – Sabe, Potter, eu poderia muito bem ser sua amiga, mas...
- ... você não é porque você não quer.
- Mas sua presença anda sendo muito incômoda. Saiba que ainda não me conformei com o fato de que você entrou para o coral sabe Merlim porque.
- Porque eu queria provar que não sou o culpado por aquela gosma...
- Ah, a maldita gosma! – ela exclamou, então apontou o dedo acusatoriamente. – Também não me esqueci desse.
- Lílian Evans, quantas vezes vou ter que te dizer que eu não fiz aquilo? – exclamei. – Simplesmente não fiz! Desde quando eu minto sobre o que eu fiz ou não? Tudo o que eu sempre fazia eu nunca mentia a respeito. Nunca menti sobre os chicletes na porta do banheiro feminino ano passado...
- Então foi você?
- ... ou desatarraxar a maçaneta da porta da aula de Feitiços...
- Flitwick não ficou muito contente.
- ... ou azarado qualquer um! Viu, eu revelo, fiz tudo isso. Mas porque eu mentiria sobre a gosma?
- Não sei – deu de ombros. – Não sei o que se passa nessa sua cabeça oca.
- Nem eu o que se passa nessa cabeça dura! – retruquei.
- Opa, então estamos quites – ela deu leve tapinhas no meu ombro e se afastou, cantarolando baixo.
Fiz o mesmo, tendo certeza que um dia ela vai se desculpar comigo, quando eu finalmente provar que estou falando a verdade.
Sophie POV:
- Dorcas! Dorcas, espera! – gritei para ela quando estava prestes a virar o corredor. Ela se virou, séria, e esperou até eu ter distância suficiente para conversar.
- Oi – falou sem emoção.
- Eu – parei um pouco para respirar fundo e regular a respiração. – Queria falar com você, sobre...
- Sobre?
- O que você disse hoje no coral. Sobre Black – falava cautelosamente, esperando que ela não me dissesse o que eu tinha medo de ouvir.
- Ah sim, Black – ela sorriu, estreitando os olhos. – Eu sei.
- Sabe o quê? – perguntei, temerosa.
- Tudo. Eu sei de tudo – falou sem cerimônia, tão tranquilamente que até estranhei. – Sobre seu namoro de fachada com James, sobre o beijo, sobre tudo...
- T-tudo? – gaguejei, temerosa, lembrando dos momentos no banheiro. Provavelmente disso ela não sabia, não envolvia Black... Não diretamente.
- Sim – assentiu.
Fiquei parada ali por alguns segundos, corando, nervosa, desejando esconder minha cara em algum lugar.
- Dorcas, eu... – fechei os olhos, me controlando. – Me desculpa... eu sei que deveria ter te contado, mas eu fiquei com... com medo! Você sabe. Você é amiga da Gravelle e tudo o mais, você é a fofoqueira número um do castelo, sem ofensas, eu...
- Tudo bem, Sophie – ela suspirou, cruzando os braços, mas continuando com uma expressão calma e totalmente... gentil? – Eu entendo, e confesso que as vezes piso na bola.
- É. Isso aí – falei, atordoada.
- Mas Sophie, quero que prometa que você nunca mais vai esconder as coisas de mim. Apesar de as vezes eu dar com a língua nos dentes, continuo sendo sua amiga, assim como Emelina – falou, agora séria. Eu já esperava por isso. – Porque mesmo que eu seja uma víbora, eu sempre estarei ali pra você desabafar comigo, ok? Isso acaba fazendo com que eu pense que não sou boa o suficiente, ou amiga suficiente, entende?
Balancei a cabeça, contendo as lágrimas de arrependimento ou remorso. Eu e a minha mania de me colocar no lugar das pessoas... Fico imaginando se Emelina tivesse sérios problemas e contasse somente para Dorcas e não me detalhasse nada, ou vice-versa... Ficaria furiosa. Diferente da Dorcas na minha frente.
- Então, você me promete? – ela perguntou.
- Prometo – respondi, engolindo em seco. – E me desculpe.
- Tudo bem – ela sorriu. – Agora vem cá.
Ela me abraçou calmamente, como se ela fosse uma irmã mais velha ou algo do tipo. Agora entendem porque eu continuava amiga dessa víbora? Tudo explicado.
Emelina POV:
Fiquei satisfeitíssima quando Dorcas e Sophie entraram no dormitório mais tarde aos risos, significando que tudo estava certo. Afinal, Sophie não precisava saber que eu havia contado a história a Dorcas com a promessa de que ela não ficaria brava e brigasse com ela.
A semana passou num piscar de olhos, e nesse período de tempo eu continuava a fazer os deveres, e, ineditamente, planejando junto as garotas a música para sexta-feira. Alice já fizera sua encomenda de vestidos para sua mãe – o que me fazia perguntar como ela conseguia ser tão rápida; mas se bem que com a ajuda dos ótimos desenhos dela e mais um pouco de magia, acho que não era tão difícil. As músicas já foram decididas e com a ajuda de Brad, o pianista, tinha ficado melhor que esperávamos. Só Dorcas que não gostou muito, pra variar. Mas em geral, tinha ficado ótimo e ensaiamos a coreografia mais tarde naquele dia e na quinta também, e mais um pouquinho na sexta, com a presença dessa vez de Sean. Não foi tão incômodo por ele estar em "time adversário", ele até nos ajudou um pouco.
Sean me faz lembrar daquele garoto... O que foi uma bela coincidência, quando topei com o mesmo depois da última aula de sexta, quando estava indo em direção ao meu dormitório pegar meu vestido e correr pra sala de música.
- Ei você! Oi! – ele cumprimentou depois de um segundo me avaliando. – Lembro de você! Amiga do Sean, certo?
- Sim – falei, sorrindo e corando. – Emelina.
- Claro, Emelina – ele sorriu, e me deti um pouco naquele sorriso. – Posso te chamar de Emma? É o nome de uma prima minha, então já sou familiarizado...
- C-claro – falei rapidamente.
- Foi bom te ver, Emma. A gente se vê por aí – disse, e antes de continuar a caminhar deu uma rápida piscadela.
E eu fiquei pra trás, feito boba, totalmente atordoada, ainda me perguntando o que foi aquilo.
David POV:
Eu mal saí da minha sala em direção a sala de música para ver a apresentação das meninas quando sinto aquele perfume enjoado; reconheci prontamente, e me apressei a andar mais tarde para evitar aborrecimentos, mas foi tarde demais. Lá estava aquela massa lisa de cabelos loiros parado perto de uma estátua de pedra perto da entrada da minha sala. Decidi ignorar, mesmo sabendo que de nada adiantaria.
- Olá, Moreau – ela sorriu. – Faz tempo que não conversamos. Senti saudades.
- Sabia que sua ironia não tem tanto efeito assim? – falei irritado.
- Ironia? Que nada – ela bufou, balançando a mão. – É a pura verdade.
- O que você quer, Stanley? – olhei para o teto, pedindo paciência a Merlim.
- Na verdade, só quero te dar um conselho – falou com um sorriso enviesado. – Sabe, eu não gosto de ganhar facilmente. Gosto de adversários realmente difíceis.
- E?
- E que isso não vai acontecer se ao invés de você treinar sua equipe ficar fazendo desafios bobos que mais cedo mais tarde vão resultar em confrontos desnecessários – disse subitamente, alternando a voz um pouco.
- Espera um pouco – franzi a testa. – Você está me dizendo como dirigir meu coral, é isso?
- Entenda como quiser. Mas o que eu sei é que eu não quero vitória mole. Quero adversário a altura, então, por favor, trate de ensaiar logo – respondeu, e deu as costas, caminhando e balançando aquele cabelo irritantemente.
- Você é simplesmente impossível! – exclamei, fazendo-a parar de andar. – Já não basta me irritar, espionar, fazer planinhos envolvidos com gosma, ainda tem que me dar ordens? De que mundo você veio?
- De um mundo em que as pessoas são mais responsáveis e que com certeza tem corais mais decentes! – retrucou, raivosa.
- Ora, vai cuidar do seu coral e pare de espionar o meu!
- Não estou espionando, apenas verificando – ela piscou.
- Então me faça o favor de parar de verificar – falei, irritado, dessa vez dando as costas a ela. – É só um pedido, Stanley.
- Você vai se lembrar disso quando for derrotado na competição, Moreau! – a ouvi gritar longe, seguido por outras palavras.
Sinceramente? Eu nem estava ouvindo.
Remo POV:
- Olá rapazes – Moreau nos cumprimentou quando entramos na sala. Onde nossas habituais cadeiras sempre foram postas, agora tinha apenas o pequeno palco desocupado, e as cadeiras estavam do lado oposto. – Sente-se ali. As garotas logo vem.
- Que coisa ridícula – Sirius resmungou.
- Pensa por um lado bom. As garotas provavelmente estarão de vestido e... – John começou a comentar, mas ao ver nosso olhar incrédulo, parou no meio da frase. – O que foi? Sou um garoto também...
Rimos baixo, altura em que as garotas entravam pela sala. Estavam com as vestes pretas de Hogwarts, para o momentâneo desapontamento de Sirius e John, já que elas começaram a tirar as vestes pretas. Por baixo havia um vestido não muito curto, azul claro com uma faixa branca da cintura. Vi Sirius se empertigar na cadeira ao ver Beth. Quase não dava pra ver seu quase-excesso-de-peso, assim como Lina dizia. Mas, pelo menos, agradava a Sirius. James também havia ficado vermelho ao ver Lily, os cabelos ruivos destacando no vestido claro. E Emelina, bem... estava fantástica. Tentei não corar tanto assim como James.
- Ótimo garotas, vejo que capricharam no visual! – Moreau riu, seguido por elas. – Agora, veremos seu desempenho musical. Tenho certeza que vão se sair bem – e apontou para o palco, pra onde elas se posicionaram rapidamente.
Algumas de costas, outras de frente, foi assim que ficaram, de mãos na cintura, ponta para o número, que logo começou ao som do piano. Vi Lily lançar um longo olhar desafiador para James antes de começar a cantar.
Ouvir: Halo / Walking on Sunshine
- Remember those walls I built, well baby they're tumbling down, and they didn't even put up a fight, they didn't even make a sound – Lily começara a cantar, afinadamente como sempre, junto a uma corografia animada. – It's like I've been awakened, every rule I had you breaking! It's the risk that I'm taking, I ain't never gonna shut you out…
Eu e Sean ríamos ao ver que logo teríamos uma pequena enchente na sala de música devido às babas dos outros garotos, olhando a sua "paquera" com uma expressão hilária. Não era de se negar que elas estavam mandando bem.
- Everywhere I'm looking now, I'm surrounded by your embrace, baby I can see your halo, and don't it feel good! – cantaram. – I can feel your halo, halo, halo, I can see your halo, halo, halo…
Emelina estava mais radiante que o normal, o que a deixava ainda mais bonita…
- I used to think maybe you loved me, now baby I'm sure – era cabelo pra todo lado, o que me fazia perguntar como elas não destroncavam o pescoço ou algo do tipo. - And I just can't wait till the daywhen you knock on my door... Oh, now now!
James cochichara não sei o que com Sirius, que mal prestou atenção. Olhei para Moreau, que tinha os olhos brilhando.
- I'm walking on sunshine, wooah! I'm walking on sunshine, wooah!
E foi no final da música que eu descobri que se houvesse algum prêmio nessa competição, com certeza não ganharíamos. Por causa de Lily. Sem falar de Maria, é claro.
- I can feel your halo, halo, halo, I can feel your halo, halo, halo… - aí foi quando Lily desatou a cantar, ou gritar, depende do ponto de vista. – HALOOOOOOOOOOOOOO!
Sean ficou de pé, em aplausos, enquanto fazíamos o mesmo. Abismados, olhávamos pra Lily para certificar que as cordas vocais dela não estouraram ou ela morreu por falta de ar. As garotas a parabenizaram, exceto por Dorcas. Moreau já estava de pé também, contagiado.
- Excelente! Totalmente perfeito, garotas! – ele falava, ao mesmo tempo animado e surpreso. – Lily, você está bem?
Ela assentiu, respirando alto.
- Bom, garotos. Domingo... barrem-nas – Moreau nos falou, com um sorriso que dizia que seria praticamente impossível.
- Traduzindo o que Moreau nos disse antes: nunca chegaremos aos pés delas. Ainda bem que isso não vale prêmio – John comentou enquanto saíamos da sala, como se lesse meus pensamentos.
- O que me lembra que ainda não fizemos nada. Absolutamente nada – Sean lembrou, nervoso. – Não ensaiamos nenhuma vez.
- Pra quê? Coisa mais idiota e sem sentido que não tem nenhum prêmio sequer – Sirius deu de ombros. – Vamos inventar alguma coisa na hora e...
- Não – James cortou. – Vamos fazer alguma coisa sim. Já tenho algumas ideias na cabeça.
- Você Pontas? – perguntei, chocado. – Justo você?
- Viu o jeito em que Lily me olhou? Ela acha que não tenho talento. Mas eu vou provar pra ela que sim, eu tenho – ele falou, decidido, mais pra ele do que pra nós.
- Você enlouqueceu. Não sabemos cantar além de Jason e Remo – Sirius falou com descaso. – Em Billionaire ficamos boiando mais do que Rabicho na aula do Binns.
- Mais do que qualquer ser humano na aula do Binns, você quer dizer – Jason corrigiu, rindo.
- Não sei você Almofadas, mas eu vou cantar – James falou, convicto. – Mesmo que eu desafine.
Sophie POV:
- Foi ótimo garotas, até domingo – ouvimos Moreau falar antes de sairmos da sala, novamente com as vestes pretas de Hogwarts que vieram a calhar. Cá entre nós, sair por aí com essas roupas não eram lá boa coisa.
- Simplesmente arrasamos! – Emelina exclamou. – Nossa Lily, você realmente me surpreendeu com aquele grito seu, caramba!
- Obrigada, na verdade eu n...! – Lily se interrompeu, acariciando o pescoço; tossiu e se engasgou.
- Lily, você tá bem? – Alice perguntou, alarmada.
- ...! – mexeu os lábios.
- Lily? – Maria se adiantou. Olhávamos pra ela espantada. – Gente... acho que a Lily perdeu a voz!
- O quê? – exclamei.
- Deve ter sido por causa daquele grito dela, sei lá... – Beth sugeriu.
- Vamos levá-la pra ala hospitalar! – Alice falou pra Maria, e virou-se para nós. – Garotas, a gente se vê mais tarde.
- Não quer que vamos junto? – Emelina perguntou.
- Acho que Madame Pomfrey não ficaria muito contente – explicou, então assentimos. Lily estava roxa, e apenas ergueu a mão, se despedindo.
Logo suas sombras foram se distanciando, distanciando, até Dorcas gritar no meu ouvido.
- YES! – vibrou, batendo palmas freneticamente. – Minha praga deu certo!
- Credo, Dorcas! Acho que vou ficar bem longe de você – Beth falou, retirando um sapo de chocolate do bolso.
- Se Moreau não me der o solo na próxima competição, não dará a Lily também – Dorcas disse, contente, ignorando Beth completamente.
- Você é uma naja – Emelina falou com simplicidade. – Só espero que Lily fique bem...
- Que nada! Espero que ela nunca mais volte a falar, seria um bem a humanidade... – Dorcas falou, sonhadora.
- O feitiço pode se virar contra o feiticeiro, sabia? – falei, dando-lhe as costas junto com Emelina em direção ao Salão Principal. Estava morrendo de fome.
- O que você quer dizer com isso? – Dorcas perguntou longe.
- Nada Dorcas, nada.
- Está me jogando uma praga Sophie, é isso?
E lá se foi minha tranquilidade do jantar.
Sirius POV:
- Olá, garotos! – Dorcas fez questão de se sentar ao nosso lado, coisa inédita. Quem não gostou muito também foi Sophie, mas Emelina se sentou perto de Aluado. – Não sabem da última!
- Lá vem fofoca – Rabicho suspirou, mas Dorcas nem o escutou.
- Lily está na ala hospitalar...
- O QUÊ? – Pontas gritou, se engasgando com a comida, o que fez grande número de cabeças virar em nossa direção.
- Isso mesmo – Dorcas falou confiante.
- Cale a boca, Dorcas – Sophie interveio. Sua boa ação do dia. – James, não é nada demais. Lily apenas perdeu a voz, acho que por causa daquela última nota que ela cantou. Mas Madame Pomfrey logo dará um jeito e...
- Tenho que ir pra lá! – James começou a se levantar, mas Sophie o puxou de volta ao banco.
- Calma, foi só um problema com a voz dela. Não é nada sério! – ela insistiu.
- A senhorita McKinnon está certa, Pontas – comentei, dando garfadas de rosbife. – Fica relaxado.
- Será que é muito sério? – Aluado perguntou, interessado. – Coitada da Lily...
- Como Sophie disse, acho que Madame Pomfrey trata disso num piscar de olhos – Emelina disse positivamente.
- Mesmo assim – Pontas disse, pensativo. – Vou visitá-la mais tarde.
Decidi deixar pra lá, Pontas era tão insistente que era melhor não contestar. Apenas dei de ombros, olhando pra Sophie e percebendo que ela pensava o mesmo.
As vezes eu me amedrontava com nossa linha de pensamento. Assustador.
Lily POV:
- Não se preocupe Evans, não é nada grave – Madame Pomfrey repetiu, vendo meu olhar de súplica. – Mas, por ora, acho melhor que fique aqui.
Reclamei. Ou melhor, tentei. Minha voz que antes não saía agora parece um ruído horrível, dava até dor no pâncreas apenas ao ouvir. Merlim deve estar rindo da minha desgraça que eu sei.
- Mas por que ela tem que ficar aqui? – Alice, minha salvadora, perguntou em meu lugar. Ela me conhecia apenas pela minha indignação. – É só um problema de voz.
- O remédio que ela tomou ainda está em efeito. Ela tem que ficar em observação. O que não será possível – a enfermeira disse, rigidamente – se vocês duas estiverem aqui. Receio que é melhor vocês se retirar.
- E quando ela pode ir embora? – Maria perguntou.
- Amanhã, provavelmente. Agora, FORA.
- Mas...
- Já ficaram por tempo suficiente! Andem logo, já está tarde! – ela começou a expulsar as duas, que começaram a falar ao mesmo tempo, reclamando.
- Até amanhã, Lily! – Alice exclamou antes de Madame Pomfrey fechar a porta em sua cara.
Suspirei, me sentindo uma inútil. Agora, sem minha voz, era como se eu fosse um ninguém nesse mundo. Era horrível. Não sabia que se eu fizesse uma nota tão estendida de Halo ia acabar dando nisso, francamente.
Madame Pomfrey ficou mais um tempo ali, conversando comigo e ficando sem graça até se lembrar que eu estava impossibilitada de responder. Me deu um chocolate, disse para eu dormir logo e se recolheu para o seu quarto. Tão simples...
E então me veio a mente: e se minha voz não estivesse boa o bastante até a próxima competição? Ah, com certeza Dorcas faria questão de me substituir, o que, aliás, me lembra de que provavelmente ela deve estar soltando fogos de artifício por aí. Não é nada impossível.
Suspirei novamente, me acomodando mais no travesseiro. Odiava passar a noite ali, coisa que acontecera umas três vezes, duas delas quando eu torci o pé. Era algo muito comum sabe. Sempre me confundo com aqueles degraus soltos, dando um passo em falso. Coisa completamente comum. E na outra vez foi quando uma planta soltou um líquido horrível no meu braço que rendeu bolhas roxas cheias de pus que eu nem gosto de lembrar.
Decidi tentar dormir, afinal, eu estava sozinha ali sem nada pra fazer e sem a companhia de ninguém. E mesmo que tivesse alguém ali eu não conversaria com a pessoa de qualquer forma. A ala hospitalar estava muito escura e silenciosa, o que me deixava desconfortável. Até parecia que eu estava sendo observada de algum lugar...
Fechei os olhos, tentando dormir, mas abri rapidamente ao ouvir um ruído. Fiquei atenta, olhando para os lados. Passaram-se três longos minutos em silêncio sem nada, então voltei a me encostar no travesseiro. Devo ter escutado coisas, ou seria alguma coruja lá fora?
Outro barulho. Merlim, eu sei que sou da Grifinória onde a bravura prevalece, mas me proteja pelo amor das suas barbas!
- Lily? – ouvi um sussurro próximo ao ouvido.
Eu teria gritado, se eu tivesse voz para isso.
- Desculpe – uma voz conhecida disse baixinho, então uma vela próxima foi acendida, fazendo com que eu vesse claramente o rosto do indivíduo. – Você está bem?
O que Potter estava fazendo ali? Droga, e eu nem ao menos podia xingá-lo?
- O que você es... – minha voz morreu.
- Aah, não está conseguindo falar ainda? – ele perguntou, meio preocupado. Não idiota, estou poupando minha voz com você, o que seria de todo certo. – Tenho uma coisa aqui.
E me estendeu um caderno comum, capa dura e preta. Olhei do caderno pra ele, desconfiada.
- Não tem nada nele, só segure – disse.
Relutante, peguei o caderno e o abri. Só tinha folhas em branco. Potter então sacou a varinha, murmurou alguma coisa e apontou para o caderno.
- Pronto, agora tudo o que você quiser vai aparecer aí no caderno – ele falou, satisfeito consigo. – Eu já tentei usar isso pra forjar que eu fiz o dever de Poções, mas o feitiço é apenas para frases curtas. Ele falha totalmente quando você pensa em um texto muito grande.
Eu estava sem palavras. Quero dizer, desde quando esse feitiço existe? E agora que existe... quero dizer, que eu sei que existe, minha vida está feita! Até amanhã, pelo menos.
Entre grata e em dúvida se eu deveria confiar naquele ser ali, que dias atrás estava me desafiando e me atormentando, decidi optar pelo agradecimento. Segurei o caderno para testar se funcionava, até letras grandes preencherem o papel.
OBRIGADA.
Potter olhou para o caderno e sorriu.
- De nada. Mas você está bem?
NA MEDIDA DO POSSÍVEL.
- Espero que fique bem. Eu tinha que te visitar senão não ficaria sossegado – ele riu baixo.
Não disse nada, nem "transmiti" nada para o caderno.
- Amanhã já te liberam? – perguntou.
SIM, GRAÇAS A MERLIM.
- Que ótimo – ele sorriu. Estranhei essa gentileza mais do que a Madame Pince de bom humor. – Mas é uma pena que não vai poder ir ao jogo de amanhã.
TÁ DE BRINCADEIRA, NÉ?
Ele riu novamente.
- Lufa-Lufa contra Sonserina – ele disse, entre malicioso e irritado. – Vai torcer para seu amiguinho Diggory ou seu amiguinho St. James?
Estreitei os olhos.
VOU TORCER PARA QUE TE ACERTEM UM BALAÇO MESMO ESTANDO NA ARQUIBANCADA.
- Olha, se eu fosse você economizava nas frases. Sabe, pode fazer com que o feitiço acabe mais rápido, e nem sempre você tem a mim por perto para refazer – ele deu de ombros.
Fiz uma careta.
COM CERTEZA OUTRA PESSOA CONHECE O FEITIÇO.
- Se nem você, justo você não conhece, quem vai conhecer?
Ponderei por um momento.
POSSO IR A BIBLIOTECA.
- E como vai explicar para Madame Pince o que você procura? A biblioteca é enorme, sabe...
Ele já estava me irritando.
O JESSIE ME AJUDARIA.
- Aah é, esqueci que ele é um estagiário da Madame Pince – Potter revirou os olhos.
PELO MENOS ELE FAZ ALGUMA COISA ÚTIL.
- Você é muito mal agradecida, Evans. Eu te dei a possibilidade de se comunicar mesmo sem voz. E assim como eu dei... – ele falou, perverso. – Eu posso tirar.
E pegou o caderno da minha mão, indo até o outro lado da enfermaria. Maldito Potter, acha que só porque eu estava sem voz eu perdi os movimentos também?
Me coloquei de pé rapidamente e corri até o idiota, pronta para o ataque. Surpreso, ele tentou se esquivar, mas eu, como principiante em karatê baseado nos filmes do Jackie Chan, pulei em cima dele.
Foi uma luta silenciosa, enquanto eu puxava o nariz, a orelha, as vestes do Potter enquanto ele erguia o caderno no alto, longe do meu alcance. Tentei "escalar" o Potter, mas ele foi mais esperto. Virou-se de costas e me derrubou em uma cama próxima, fazendo um alto e sonoro rangido no colchão.
Olhamos simultaneamente para a porta do quartinho de Madame Pomfrey, mas não ouviu-se nada mais do que um pio distante lá fora. Nos entreolhamos rapidamente até cair na gargalhada.
JURO QUE EU TE MATARIA SE VOCÊ NÃO ME DEVOLVESSE O CADERNO.
- Nossa, que medo – ele zombou, quando eu já estava de volta na minha cama e ele sentado na ponta dela.
E EU ACHO MELHOR VOCÊ VOLTAR PRO DORMITÓRIO. JÁ ESTÁ TARDE.
- Está me dispensando? Eu estou aqui te fazendo companhia e você me expulsa assim? Nada bom, Evans...
AINDA SOU MONITORA, LEMBRE-SE DISSO.
- Ok, ok – ele pôs-se de pé. – A gente se vê amanhã então.
ESPERO QUE NÃO.
Ele revirou os olhos.
- Se eu fosse você eu me alimentaria melhor, sabe – ele disse, rindo. – Pra crescer e assim quem sabe alcançar lugares altos.
ESTÁ ZOMBANDO DA MINHA ALTURA, POTTER? PRA SUA INFORMAÇÃO TENHO 1,65, O QUE É MAIS QUE SUFICIENTE. NÃO TENHO CULPA SE VOCÊ CRESCE FEITO UMA MULA.
- Olha as frases compridas – ele me alertou, divertindo-se. – Homens altos são mais charmosos.
VOCÊ É QUE PENSA.
- Ah, então você não me acha charmoso?
Bufei.
NEM DE LONGE.
- Pois eu te acho muito charmosa – ele sorriu torto.
Para evitar que ele me visse corar, pensei depressa.
CAMA AGORA.
- Isso aí, economia de palavras.
FORA.
- Estou indo, estou indo! – ele reclamou, aos risos.
Foi só quando vi a porta fechar que soltei o sorriso que eu tanto segurava.
POR FAVOR, ME DEIXA IR EMBORA.
- Não sei da onde você tirou esse caderno, mas acho que ainda não pode sair – Madame Pince falou, autoritária. – Sua voz não está boa o bastante. Pelo visto a poção tem que ser mais forte.
TENHO MUITOS TRABALHOS ATRASADOS, POR FAVOR.
- Não, Evans. Ninguém mandou você ficar gritando por aí.
NA VERDADE, CANTANDO.
- O que foi desnecessário – reclamou.
POR FAVOR.
- Não – disse se virando.
Como eu tenho o poder de atormentar a pessoa até ela ceder, comecei a fazer gestos com o caderno, me balancei na cama, fazendo um ruído, comecei a fingir tosse, espirro, entre outras provocações convenientes.
Quinze minutos depois eu estava saindo da ala hospitalar segurando três poções precariamente entre os braços, com o caderno debaixo de um deles. Andava mais lentamente do que pretendia, com medo de deixar derrubar acidentalmente as poções que eu deveria continuar a tomar.
- Quer ajuda? – uma voz próxima falou. Me virei e me deparei com Jessie.
Fui responder, mas esqueci novamente da minha momentânea deficiência. Apenas sorri e assenti, e ele pegou duas das poções que eu segurava.
- Fiquei preocupado com você, Lily – ele disse, enquanto virávamos um corredor. – Não foi a biblioteca ontem. Só depois fui saber que havia ido parar na enfermaria. O que aconteceu?
Peguei o caderno e o segurei.
PERDI A VOZ.
- No coral, suponho.
SIM.
- Bom, melhoras – Jessie sorriu torto. – E achei bem eficaz esse feitiço do caderno.
Não respondi, não querendo desmerecer Potter e nem causar longas conversas com Jessie. Educadamente – ou tentando evitar constrangimentos, que é o mais óbvio – Jessie nunca citou o fato daquele pequeno desentendimento entre mim e Potter. Eu sou totalmente grata a isso.
- Bom, está aqui – ele me entregou as poções assim que chegamos a entrada do retrato da Mulher Gorda. – Tome tudo direito para se recuperar logo.
OBRIGADA, JESSIE POMFREY.
- Você só tem que cuidar da sua saúde – ele riu. – Só assim poderemos retornar a nossas noites na biblioteca. O excesso de pó dos livros pode te prejudicar.
MAS PODEMOS NOS ENCONTRAR EM OUTRO LUGAR.
Senti totalmente relutante ao "dizer" isso. Quero dizer, eu só o via na biblioteca onde não havia praticamente ninguém. Fora isso, era raro sairmos de lá, coisa que só acontece quando ocasionalmente ele me trás até a entrada pra Torre da Grifinória, situação que os corredores estão vazios. Ou seja, apenas Maria, Alice e, infelizmente, James e Dorcas sabem da existência dessa minha nova amizade.
E o que eu esperava? "Ahn, quem sabe outro dia". Sim, isso é o mais cabível. Mas o que veio a seguir eu não acreditei.
- Ótimo, por que não vai comigo dar uma volta pelos jardins hoje? – ele perguntou. – Está um ótimo dia.
Demorei alguns segundos pra responder, até ter certeza que ele disse aquilo mesmo.
OK.
- Combinado. Nos encontramos depois do almoço, pode ser? – ele parecia contente.
Ainda olhando pra cara dele como uma perfeita idiota...
CLARO.
- Certo – ele sorriu novamente. – Até mais, Lily.
TCHAU.
Eu tinha pilhas de trabalhos atrasados, mas quer saber, dane-se... Eu tinha um encontro com o Jessie! Quero dizer, uma espécie de encontro. Caminhar pelos jardins é... bem, romântico não é? E essa felicidade toda? Da onde eu tirei isso? Jessie e eu somos amigos... E ele é um amigo charmoso, devo acrescentar. Estou me sentindo uma idiota. Mas dane-se.
EU TENHO UM ENCONTRO COM O JESSIE!
Remo POV:
Estávamos na sala comunal um pouco lotada pelos alunos, exceto pelos que foram aproveitar o sol lá fora. Lê-se alunos do primeiro ao terceiro ano que não tinham tantos deveres quanto os anos seguintes. Eu relia minha redação de Herbologia meio que avoado, enquanto Sirius e James estavam jogados cada um em uma poltrona, querendo cochilar mais um pouco. Rabicho apenas comia uma caixa de Feijõezinhos de todos os sabores, meio avoado também. Do outro lado da sala Emelina, Alice e Maria conversavam animadamente, algo que eu supus ser sobre o coral e a apresentação de ontem e Dorcas e Gravelle conversavam – ou fofocavam, nunca se sabe – com mais um grupo de garotas. Era uma cena bem normal de sábado, tirando o fato da ausência de Lily, que se ocupava discutindo com James ou, pelo menos, sendo o assunto central do mesmo.
E por falar nela, logo ela entra cheia de frascos de poções nos braços, o que fez com que Lina e as outras se levantassem rapidamente e corressem em sua direção, enchendo-a de perguntas. O movimento chamou a atenção de dois marotos totalmente preguiçosos, e James ficou mais aprumado, tentando ouvir a conversa, o que, aliás, eu já estava fazendo.
- ... que bom que Pomfrey te liberou! – Alice se alegrou, ajudando Lily a segurar as poções. – E a sua voz?
Lily não respondeu, apenas pegou um caderno familiar – o qual James saiu com ele debaixo do braço ontem a noite – e fez com que letras aparecessem nele magicamente. "AINDA NÃO ESTÁ TÃO BOA, MAS TENHO QUE TOMAR AS POÇÕES SE QUISER VOLTAR A FALAR E A CANTAR NOVAMENTE".
- Ela e suas frases grandes – ouvi James comentar.
- O quê? – Sirius perguntou, sonolento.
- O que aconteceu ontem a noite? – perguntei interessado.
- Dei meu caderno pra ela com aquele feitiço, lembra? – James explicou.
- Só isso? – indaguei, me divertindo. – Porque, sabe, ela parece alegrinha demais, está até vermelha.
- Não aconteceu nada – James franziu a testa.
- Ela está olhando pra você – Rabicho falou.
- E vindo pra cá – completei.
OI GAROTOS. POTTER, QUERIA AGRADECER MAIS UMA VEZ PELO CADERNO.
- Não foi nada – James sorriu, satisfeito. – Quando o feitiço se esgotar, é só me chamar.
NÃO SERIA MAIS FÁCIL VOCÊ ME ENSINAR?
- Não, gosto de te ver dependente de mim – ele sorriu.
Lily não precisou responder, apenas revirou os olhos.
QUANDO MINHA VOZ MELHORAR, TE DEVOLVO O CADERNO.
- Se eu fosse você folheava o caderno, ruiva – Sirius zombou. – Vai saber se tem um declaração de amor do Pontas aí e você não percebeu?
Um som de dedos sendo amassados foi ouvido a seguir.
- Por pura curiosidade Lily, posso saber o motivo para tanta alegria? – James tentou mudar de assunto, enquanto Sirius reclamava, acariciando o pé.
Lily se ruboresceu um pouco.
NADA. VOU LÁ COM AS GAROTAS, TCHAU.
E, acenando, andou mais depressa que o necessário para perto das outras meninas, começando a cochichar do mesmo modo que Gravelle e Dorcas estavam fazendo.
- O que será que está acontecendo? – James perguntou, curioso.
- Sinto muito informar, mas – Sirius falou, ainda irritado com Pontas -, aquele assunto não te diz respeito.
James suspirou.
Pronto, era o que faltava para o sábado ficar completo.
Maria POV:
- VOCÊ TÁ FALANDO SÉRIO? – gritei, seguido por chiados de censura das outras. – Quero dizer, esse caderno aí...
NÃO TENHO CERTEZA SE É UM ENCONTRO, POR ISSO PRECISAVA DA OPINIÃO DE VOCÊS.
- Caminhar nos jardins, Lily? Fala sério, não há coisa mais romântica! – Alice exclamou, entusiasmada. – Mas espera, isso vai dar problema...
NÃO ME IMPORTO SOBRE ELE SER DA SONSERINA.
- Não é isso. Você pode até não se importar – Alice mordeu o lábio, olhando para o outro lado da sala -, mas vai ter alguém que se importa.
- James? – bufei, quando notei para quem ela olhava. – Já passou a época dele, não é?
POTTER NÃO TEM NADA A VER COM A MINHA VIDA. ELE É UM MERO CIDADÃO IDIOTA E IMBECIL QUE ADORA ATORMENTAR MINHA VIDA E EU PREFIRO MANTER TOTAL DISTÂNCIA. NÃO É DA CONTA DELE COM QUEM EU SAIO OU DEIXO DE SAIR, QUE ISSO FIQUE BEM CLARO! E SE ELE OUSAR SE INTROMETER NA MINHA VIDA, ELE VAI SE VER COMIGO!
- Não se esqueça de que foi ele que fez esse seu caderno que você "grita" com tanta violência – Lina riu.
MAS MESMO ASSIM ELE NÃO PDAFAÇLSMMDFÇSMAVIDA.
- Como é? – perguntei. – Lily, acho que o feitiço do caderno está acabando...
Lily olhou para o caderno, alarmada, e dele para o outro lado da sala onde os marotos deveriam estar, mas não estavam. No lugar disso tinha apenas poltronas vazias ali.
- E agora? Alguém conhece o feitiço? – Emelina perguntou.
- Se você e nem Lily conhece... – ponderei.
Lily parecia aterrorizada. Começou a fazer gestos frenéticos seguidos, e eu não entendi nenhum, para variar, até Alice tomar a decisão mais decente. Pegou um caderno e uma pena, onde Lily escreveu rapidamente:
PRECISAMOS ACHAR O POTTER.
Sophie POV:
Fui a última a acordar no meu dormitório, como sempre. Sorte a minha não ser algum dia de aula, pois seria mais correria atrasada. Mas as garotas sabiam que em fim de semana era totalmente perigoso me acordarem antes de meio-dia – horário máximo em que eu acordo. Afinal, é pra isso que servem os fins de semana.
Quando desci para a sala comunal, já de café tomado – lê-se alguns biscoitos que eu sempre mantinha guardados para esse caso -, já fui arrebatada pelos cochichos de Dorcas e Gravelle. Quando me avistou, Dorcas veio em minha direção e me puxou como uma boneca de palha até o outro lado da sala.
- Ai meu braço, Dorcas! O que foi? – perguntei, aborrecida. Mal estava acordada e já tinha que escutar Dorcas "tentar" fofocar comigo.
- Você não sabe o que eu escutei! – falou. Lá vem. – Primeiro, parece que Sirius Black está interessado em Beth novamente. Isso não é estranho? Black interessado numa garota?
- Estranho e não me interessa – bocejei.
- E segundo, como eu tenho uma audição muito boa, escutei Lily cochichar com as outras que ela vai sair com Jessie St. James!
- Quem é esse?
- "Quem é esse?"? Sophie, em que mundo você vive? – ela sussurrou com urgência. – É o gato sonserino que a Lily descobriu, entenda a gravidade da situação.
- Mas você ainda não gosta do Jason? – indaguei, perdida com Dorcas e sua falação entediante.
- Não – ela falou, embora tenha demorado para responder. – E agora Lily vai sair com ele! Tenho que impedir isso...
- Por quê?
- Porque ela não pode ficar com ele, oras! – ela pôs-se de pé, andando de um lado pro outro. – Tenho que bolar alguma coisa...
- Dorcas, por acaso você já cogitou a ideia de ir a um psicólogo?
- Um o quê?
- Médico trouxa que cuida da cabeça. Porque é isso que eu acho que você tem, problema de cabeça. Pra quê ficar "bolando planos" idiotas simplesmente porque Lily vai sair com um garoto que você nem conhece e nem está interessada!
- Aí é que você se engana! – ela disse, sorrindo perversamente. – St. James é o alvo perfeito para mim.
- Você é completamente louca – me rendi. – Só não entendo por que tem que ser eu a te ouvir.
- É porque eu sei que Veronica está de olho nele também – Dorcas deu de ombros. – Ah, já sei! Já sei um modo de Lily não sair com o Jessie!
- Que ótimo! Agora estou indo... – comecei a me levantar, mas Dorcas me sentou de novo.
- Já que eu não posso impedir, sei de alguém que pode! – ela sorriu. – James! Que bom te ver aí!
Na verdade James tinha acabado de entrar na sala comunal, e Dorcas correu a seu encontro me puxando novamente. Black e James não fizeram uma cara muito boa.
- O quê? – falou desconfiado, como se Dorcas estivesse segurando uma bomba nuclear.
- Só queria saber se você está triste...
- ... porque fomos bem no número ontem! – completei rapidamente, recebendo um olhar irritado de Dorcas.
Os dois se entreolharam, depois olharam fixamente para nós. Ignorei Black completamente.
- Na verdade estamos tratando disso agora – James finalmente sorriu. – Não achem que vamos deixar isso tão fácil pra vocês.
- Bom, na verdade eu ia falando da... – Dorcas começou novamente, então pulei em cima dela, segurando sua cabeça e tampando sua boca com a minha mão.
- Haha, ela não está falando coisa com coisa hoje! – ri falsamente, no que James ergueu a sobrancelha. – Até mais James!
Mas Dorcas infelizmente conseguiu se soltar, quase quebrando os ossos da minha mão.
- A Lily vai sair com o Jessie! – gritou.
Foi um silêncio profundo na sala; Dorcas gritara demais, então todos se viraram pra ela, mas não pareciam tão surpresos. Ah, claro, ela já havia dito a todo mundo. E pelo visto a reação de todos foram igual a minha; Dorcas estragava as fofocas.
Mas quem não sabia disso ainda eram James e Black, pois um ficou chocado e o outro surpreso. Enquanto todo mundo desviava o olhar da cena, evidentemente achando nada de interessante, James bufou, irritado, e saiu retrato a fora. Black continuou ali, encarando eu e Dorcas, até eu perceber que eu ainda segurava sua cabeça. Olhei para ela de um jeito irritado ao soltá-la e sem dizer mais nada comecei a caminhar de volta a poltrona em que eu estava anteriormente, seguida de Dorcas, mas que antes havia sussurrado para Black, tenho certeza:
- Fiquei sabendo de você e Beth, viu?
Suspirei ao me sentar.
- Prontinho – Dorcas sorriu contente.
- Você é horrível, Dorcas, simplesmente horrível.
- Eu sei – ela riu.
Como sabe.
Emelina POV:
Já fazia um tempo em que eu, Lily, Maria e Alice procurávamos por James; não havíamos o encontrado no Salão Principal, ou em algum corredor ou no saguão de entrada. É claro, os marotos tinham a fama de desaparecer misteriosamente quando eles queriam. Sabe-se lá como.
- Talvez desencontramos com eles – Alice supôs.
- Então vamos voltar para a sala comunal. É bom que aproveito e adianto os deveres – Maria disse a contragosto.
- Remo! – exclamei ao vê-lo virar o corredor em nossa direção, junto a Pedro. – Talvez ele saiba o feitiço...
Lily assentiu, como se dissesse "boa ideia".
- Oi, Remo! Oi Pedro! – saudei. – Remo, será que você podia nos ajudar? Ou melhor, ajudar a Lily...
- Sim? – ele sorriu para mim. Remo era um amigo tão fofo!
- O feitiço do caderno acabou – Alice explicou. – Você conhece?
- Claro, James perguntou para mim sobre ele – ele riu, então sacou a varinha.
Murmurou uma palavra desconhecida que eu anotei mentalmente e apontou para o caderno.
- Pronto, agora você é independente, Lily.
OBRIGADA REMO. TE DEVO ESSA!
- Que ótimo, agora vamos lembrar dos deveres? – Maria falou entediada. – Tem uma pilha nada pequena na sala comunal...
- Já fizeram o dever de Poções? – Pedro perguntou.
- Ainda não. Podemos fazer juntos.
- Eu já fiz o meu. Se quiserem pode pedir para Sophie, está com ela – informei.
- Digo o mesmo, só que o meu está com Sirius – Remo falou.
- Esqueci que estamos falando de dois nerds – Maria suspirou. – Milagre é Lily ainda não ter feito.
EU FIZ TAMBÉM, MAS O MEU ESTÁ MUITO BEM GUARDADO NO MEU MALÃO.
Maria e Alice se entreolharam no mesmo segundo, e no segundo seguinte já corriam desembestadas em direção a Torre da Grifinória.
- Ei, esperem por mim aí! – Pedro saiu atrás, gritando afobado.
Lily deu de ombros.
VOU NA COZINHA, ESTOU MORTA DE FOME E NÃO SEI SE MEU ESTÔMAGO AGUENTA ATÉ O ALMOÇO.
- Ok – falamos, e ela saiu na direção oposta.
- Então, o que vai fazer agora? – Remo me perguntou.
- Não tenho nada em mente. Mas o que acha de irmos para os jardins? O dia está lindo hoje, e temos que aproveitar porque o inverno está próximo.
Remo concordou, e logo estávamos desfrutando da grama fresca e do sol escaldante. O dia não estava tão quente, e sim batia um fraco vento que deixava tudo equilibrado. Havia algumas pessoas correndo por ali também, então quase não fomos notados; decidimos apenas deitar numa faia perto do lago.
Nem conversamos muito. Remo estava com um livro, lendo-o distraidamente. Mas eu precisava conversar, e sobre um assunto que eu estava relutante em tratar com qualquer outro.
- Er... Remo? – tentei.
Ele levantou os olhos e sorriu.
- Sim?
- Posso te pedir um conselho? – perguntei, sentindo meu rosto corar.
- Claro – sua voz era passiva, o que me deu a certeza que eu podia continuar.
Suspirei antes de falar.
- Você acredita em amor a primeira vista? – pretendi enrolar o assunto principal.
Remo franziu a testa.
- Acho que é possível, sim – respondeu. – Por que, você...?
- Eu não sei – escondi meu rosto nas mãos. – Não tenho certeza. Eu só o vi duas vezes pra falar a verdade...
Fiquei com medo de encará-lo, mas ele não estava com cara que queria rir, e sim que parecia ter levado um soco na cara.
- Bom, tente conhecê-lo primeiro... só assim pra ter certeza se foi realmente amor a primeira vista.
- É o óbvio né? – falei com um sorriso de desculpa.
Ele não respondeu, mas por fim deu um pequeno sorriso.
- É – disse depois de um longo tempo transcorrido.
- Obrigada Remo, foi mais fácil com você do que com Sophie ou Dorcas – eu ri tristemente. – Obrigada.
E me inclinei para beijá-lo no rosto. Ele assentiu, sorrindo mais abertamente dessa vez.
Realmente, estava um lindo dia.
Lily POV:
Caminhando distraidamente com meu inseparável caderno, ou melhor o inseparável caderno do Potter, cruzei com o mesmo quando já estava perto o bastante da cozinha.
Eu já estava meio aborrecida, por isso não foi bom ver o jumento ali. Tinha acabado de cruzar com Gravelle, que havia ouvido falar que eu estava sem voz e começou a falar do meu cabelo, do meu peso... Coisa de garota que não tem outro assunto no mundo. Então eu pensei num palavrão bem feito, o que fez ela fazer uma careta e começar a reclamar com aquela voz chata. Eu não sou muito de falar palavrão – fui muito bem criada por meus pais, ao contrário de Maria... -, mas eu não falei, e sim pensei e apareceu no papel. É diferente.
Então, quando o avistei ali, já ia abrindo a boca pra falar, mas eu não tinha voz – não sei até quando vou me esquecer disso. E antes que até mesmo eu transmitisse o que eu falaria para o caderno, ele veio até a mim depressa.
- Então, dessa vez, você tem um encontro com St. James?
Mas como é que ele já soube disso? Hogwarts tem ouvidos em suas paredes, só pode. Ou pode ter Dorcas em suas paredes, obviamente.
SIM. MAS ISSO NÃO É DA SUA CONTA.
Acho que ele nem leu o que estava no caderno; num piscar de olhos senti meu corpo pressionado na parede, Potter me cercando com os braços.
- Lily, por favor, não faça isso!
Me debati, lançando-o olhares furiosos.
- Ele é da Sonserina! Vai confiar em uma daquelas pessoas! – ele dizia enquanto eu o empurrava. Pena eu ser uma pobre pessoa fraca demais para um jogador de quadribol, mas como eu estava com raiva, tudo fica mais fácil.
- Você sabe como é se envolver com um deles!
- ME SOLTA! – gritei.
Peraí, eu gritei? Eu gritei! Minha voz saiu, ela voltou! E agora ninguém me segurava, nem mesmo o Potter.
- Me solta agora, Potter! Minha voz voltou e eu vou gritar pra todo o castelo ouvir, me solta! – me debati novamente, enquanto ele segurava meus pulsos com força.
- Calma, Lily, por favor... – ele fazia esforço. Nunca perturbe uma ruiva esquentada. Nunca.
- Então me solta!
Ele me soltou, mas continuou a me prensar na parede. Estava tão perto que eu até sentia sua respiração. Merlim me segura, fiquei tonta agora.
- Você vai ao encontro?
- Vou – falei, confiante.
Potter, então, olhou fixamente nos meus olhos, que eu desviei enquanto planejava acertar muito bem acertado em suas partes íntimas. Mas então seu olhar foi em direção a minha boca, e então...
Não! Não nos beijamos, credo! Simplesmente tudo se apagou e eu não me lembro de absolutamente mais nada.
Alice POV:
- Onde será que está Lily? – perguntei ao me sentar na mesa na hora do almoço. Finalmente tínhamos pelo menos passado da metade dos trabalhos pendentes.
- Deve estar se arrumando para o encontro! – Emelina riu.
- James não está aqui também. Acho que ele ficou nervoso demais e deve estar batendo em alguma coisa por aí – Remo comentou.
- Ou alguém – Sirius ponderou.
- Por quê? – Sean perguntou.
- Dorcas contou a ele que Lily tinha um encontro com St. James – Sirius contou.
- Mas que fofoqueira de uma figa! – Maria reclamou.
- Típico de Dorcas – Emelina deu de ombros.
- Eu tenho uma pergunta – Sirius começou, de boca cheia. – Encontros geralmente são em Hogsmeade, então...?
- Jessie apenas chamou Lily para dar uma volta nos jardins – Alice explicou.
- Ora, mas isso não é necessariamente um encontro! – Sirius retrucou. – Aluado e Emelina acabaram de dar uma volta nos jardins...
- Mas somos amigos, é diferente – Emelina corava, assim como Remo. – Jessie está mais pra namorado do que amigo, convenhamos.
- Exato. Está aí uma grande diferença – falei. – Só estou com pena do James...
- Ele já teve sua chance, não? – Maria falou.
Nesse momento uma coruja adentrou o Salão Principal. Algumas cabeças se viraram, curiosas, e eu fiquei assustada ao ver que era pra mim. Era pra mim! Em todos esses anos que eu estudo naquela escola nenhuma coruja me trouxe alguma coisa fora do horário.
- Correio atrasado? – Maria riu, curiosa.
Era um bilhete, que dizia:
Me encontre nas estufas. Franco.
Muito longo por sinal. Maria tinha espichado o pescoço pra ler, e riu a seguir.
- Er... tenho que ir – me pus de pé e saí o mais depressa que pude, antes de ouvir Maria dizer "É o Herbólogo dela".
Não sabia, na verdade, porque eu estava nervosa. Mas fazia um tempo que estávamos afastados e agora eu tinha uma nova sensação de ansiedade. O que será que Franco queria falar comigo? Ai, Merlim.
Lily POV:
Abri os olhos, calmamente. Demorei cinco segundos pra formular o que tinha acontecido e porque eu havia apagado. Apagado? Eu não havia dormido? Até lembrar da última coisa, o último lugar em que eu estava e com quem. Isso tudo veio num jato de mais três segundos, seguidos pelos quais eu me sentei rapidamente e deparei com um dormitório. Era bem parecido com o meu, exceto pela posição das camas e armários, alguns malões desconhecidos e coisas na parede que eu não estava nem um pouco interessada em saber o que era. Só queria sair dali, e matar certa pessoa, que, por acaso, vinha entrando no dormitório com um prato de comida.
- Oi, Lily – ele falou tranquilamente como se fosse normal eu estar ali e esperando pela refeição do meu garçom particular. Ele sorria, normalmente e sem nenhum pingo de vergonha na cara. Devo dizer que aquilo me irritou?
- O que você acha que está fazendo? – soltei, lembrando com felicidade que eu agora era capacitada para isso. – Quero dizer, aqui é seu dormitório?
- Em partes – ele disse, colocando o prato de sopa no criado-mudo. – A outra parte dele está dentro do guarda-roupa, se você me entende.
- Mas como eu fui parar aqui? Você me trouxe, e-eu...?
- Calma, por que você não relaxa e assim eu posso te explicar? – ele indicou uma cama próxima.
- Não quero relaxar! Quero saber o que aconteceu aqui! – gritei.
- Ruivas são tão esquentadas – ouvi ele murmurar antes de suspirar. Se ele pensou que eu não ouvi estava muito enganado. – Você desmaiou.
- Nossa, sério? – falei ironicamente. – Pensei que havia resolvido dar uma cochilada no meio do corredor!
- Acho que foi porque você não tinha se alimentado. Madame Pomfrey não te deu nada?
- Ela tentou, mas minha garganta impediu – respondi sem deixar de lado meu tom de desprezo. – E por que você me trouxe pra cá e não me levou pra enfermaria?
- Você odeia lá – ele falou tão naturalmente que era como se me conhecesse, e quando eu questionei com o olhar ele suspirou de novo – Era só ver sua cara ontem.
- De qualquer jeito, pra cá você não me traria, ficou louco? – falei me colocando de pé, o que me arrependi. O quarto girou ao meu redor e procurei precariamente algum apoio, que veio dos braços do jumento.
- Você precisa descansar e comer – falou preocupado. Mas que droga, ele já está abusando demais!
- Não! – olhei desconfiada para sopa, pensando se não tinha algum tipo de sonífero no prato e Potter me aprisionaria aqui pra sempre.
- Você não está bem...
- Claro que estou! – falei, já me direcionando porta afora. Ele me seguiu até a sala comunal, que por sorte estava vazia. Já passava da hora do almoço.
- Almoço! – gritei desesperada. – Jessie! Você planejou isso, não foi?
- Sim, eu pedi pra você desmaiar – ele girou os olhos.
- Você pode ter me estuporado.
- Sabe que eu nunca faria isso.
- De você eu espero tudo – retruquei. – Que droga, será que dá tempo?
- Acho que não – ele parecia vitorioso, e se jogou em uma poltrona, relaxadamente.
- Argh, você é um idiota! Idiota, idiota, idiota, idiota! – gritei com raiva.
- Ah, isso não é novidade pra mim, Lily.
- É Evans – respondi, já sentindo os nervos queimarem. – E eu juro que vou te matar, Potter, se continuar a se intrometer na minha vida!
- Vem cá, por que você me odeia tanto? – perguntou novamente natural.
- Por que você não me deixa em paz, simplesmente por isso! É pedir demais? – implorei, querendo minha vida livre dele. Esse era o sonho da minha vida.
- Tudo bem – ele deu de ombros. Alguém entende a mente dessa criatura?
Eu é que não perderia meu tempo tentando. Apenas subi para meu dormitório, chutando e odiando tudo. E, é claro, pensando numa desculpa para o Jessie.
Droga, eu me odeio.
E odeio o Potter em dobro.
Sophie POV:
Ainda não estou acreditando.
Caramba, é aquilo mesmo? Quero dizer, parece óbvio... Sim, é bem óbvio, tratando-se dele.
Então foi real. Mas, sinceramente, é horrível. Recapitulando...
Lá estava eu no corujal. Havia acabado de retornar a carta da minha mãe que ficou enchendo o saco falando sobre os NIEM's e outras coisas que eu realmente não me importo. Era uma daquelas cartas gigantes que dava até pra imaginar ela reclamando com aquele tom mandão dela. Bom, pelo menos a carta eu posso ignorar, então mudei de assunto completamente. Falei que a segunda competição já seria semana que vem, mesmo tendo completa certeza que ela nem estava interessada no assunto. Pra falar a verdade, seu desinteresse foi tão grande quando lhe contei tudo que havia acontecido no coral, que é como se eu nem tivesse escrito sobre aquilo. Mas eu nem importava. Eu a ignorava no mesmo ritmo.
Enfim, estava eu no corujal, observando o horizonte e acariciando uma coruja próxima. Eu amava quando tinha uma carta pra responder: era uma desculpa pra sumir por algumas horas e ficar ali. Eu nunca entendi porque aquele lugar me tirava tanto a atenção, mas era alto e claro, fresco, silencioso, então eu gostava mais do que qualquer outro lugar do castelo. Respondi minha carta e fiquei ali, escondidinha nas corujas, pra caso algum estraga prazeres aparecer eu ter onde me esconder, quem sabe.
E pior que isso aconteceu. Ouvi passos e logo me esquivei pra um poleiro mais alto, onde as corujas mais negras dormiam tranquilamente. Não queria conversa; era o que eu menos queria quando ia ali. Então a pessoa entrou com um papel em mãos, deu a uma coruja e ficou ali, observando. E eu apenas olhava, esperando-o ir embora. Era um garoto, dava pra notar, mas eu não sabia quem era porque estava de costas, e as corujas impediam minha visão, além de que qualquer movimento meu acabaria por me denunciar ali.
Decidi sair de fininho, era o melhor a fazer no momento. Mas, por meu infeliz azar, escorreguei nas fezes de algumas delas – nada anormal para um poleiro, digamos. Tentei me segurar depressa, até por fim conseguir apoio no poleiro, assustando uma coruja fazendo-a voar, causando um barulho que fez com que outras corujas voassem também e no meio da bagunça de corujas pra todo lugar e penas e tudo o que se pode imaginar, acabei correndo para o outro lugar, ponto em que o garoto já podia me ver, e eu vê-lo.
Sirius Black. Quando eu digo que sou a pessoa mais azarada do universo sempre dizem que sou exagerada.
Ele olhou para mim e eu para ele por longos segundos. Ele me encarou, eu encarei ele, até ele dizer simplesmente.
- Oi.
- Er... oi – respondi rouca.
- Tudo bom? – ele quase sorriu, pelo visto segurando o riso.
Conversa sem cabimento, era o que acontecia nessas situações. Além de tudo tenho que ouvir conversas desse tipo? Azar 3, Sophie 0.
- O que você acha? – perguntei sarcasticamente. – Fui atacada por corujas loucas, meu tênis está sujo de titica e estou aqui com você. Não acho que estou bem.
- Ah, sem falar nas penas do seu cabelo – ele apontou para mim, até eu sentir alguma coisa que não deveria estar ali. Bem que eu percebi que meu cabelo estava meio pesado.
Ele finalmente riu enquanto eu tirava as penas pretas do meu cabelo, mais nervosa do que o normal. Meu santuário da tranquilidade está falhando no serviço.
- Bom, não me leve a mal perguntar mas... O que exatamente você estava fazendo no meio dessas corujas? – ele perguntou, ainda com ar de riso.
- Fugindo de você – dei de ombros. – Não gosto de conversar com ninguém aqui.
- E por que não?
Suspirei impaciente.
- Porque sou antissocial. E não estou gostando de conversar com você agora, por exemplo.
- Eu sei que no fundo você me adora – ele sorriu torto, e meus olhos quase saíram das órbitas tal força eu os revirei.
- Eu não adoro pessoas sem caráter, indignos de respeito ou garotos que beijam outras a força por aí. E muito menos quem é as três coisas. Sabe do que estou falando, não é? – falei rapidamente. Não queria prolongar a conversa, não mesmo. Mas depois dessa eu precisava de paz, o que eu conseguiria apenas nesse lugar, então eu seria obrigada a expulsar alguém dali hoje...
- Não sei – ele respondeu naturalmente. Isso me irritou. – Não te conheço.
- Então espero que se retire – indiquei a saída do corujal. Black franziu a testa e sorriu.
- Estou bem aqui.
- Mas eu estou aqui.
- Por isso mesmo – ele piscou.
- Que nojo, nunca mais faça isso – fiz uma careta.
- Isso o quê? – ele pareceu interessado.
- Nada – suspirei novamente. – Bom, se você não sair, eu também não vou. Preciso de tranquilidade, o que será impossível se você continuar enchendo o saco e falando na minha cabeça. Então se vai ficar aí, fique em silêncio, por favor.
Dizendo isso, eu caminhei até o canto do corujal, sentando num banquinho de pedra improvisado, onde dava uma vista fantástica da propriedade e do lago. Black não disse mais nada, apenas se encostou na grade e começou a olhar o horizonte também.
Ficou o silêncio que eu tanto amava, durante longos minutos. Eu sabia que ele me olhava furtivamente as vezes, mas não queria nem ao menos encará-lo.
- Vai ficar aqui até quando? – ele perguntou quinze minutos depois.
- Até quando eu quiser.
- Ui – ele riu. – Está irritadiça?
- Só quero silêncio. E você está o tirando de mim – respondi friamente, no que ele parou de rir.
Black não falou mais nada por mais cinco minutos. E quando achei que finalmente ele ficaria quieto pra sempre, quem sabe, lá vem ele tagarelar de novo. Eu estava me segurando para não azará-lo ali mesmo, já sentindo a varinha no cós da minha calça.
- Por que gosta de vir aqui? – perguntou com uma voz distante, como se não quisesse brigar – pelo menos por enquanto.
- Como sabe que gosto de vir aqui?
- Já te vi aqui algumas vezes.
- Andou me espionando? – virei a cabeça em sua direção, mas ele não parecia envergonhado.
- Eu passei pelo corredor algumas vezes e te vi vindo aqui – respondeu simplesmente. – Mas você não respondeu minha pergunta.
- Gosto daqui simplesmente porque quase ninguém vem aqui. Gosto de silêncio e calma, só assim para eu conseguir pensar em paz.
- Pensar sobre o quê?
Demorei para responder.
- Acho que isso não é da sua conta.
Ele bufou.
- Adoro quando garotas são duronas – ele falou com ar de riso. – Você está andando muito com Lily.
- Devo estar.
Silêncio. Mas logo vem ele novamente.
- Também gosto de vir aqui. É como você disse, tranquilo.
Não respondi.
- Sem todas aquelas garotas me abordando pra todo lado – ele estremeceu, mas não como se reclamasse.
Agora que não respondi mesmo. Logo ele percebeu que estava sendo ignorado, e manteve-se calado. Já estava cantando vitória quando fui surpreendida por mim mesma, quando surgiu uma vontade súbita de perguntar o que faz tempo que estava atiçando minha curiosidade.
- Escuta, Black... – comecei, indecisa. – Vou te fazer uma pergunta, e quero que seja sincero.
- Você quer sair comigo? Não sei não...
- Haha – ri sarcasticamente. – Não é isso. Eu queria saber, bem, por que exatamente você fez aquela coisa horripilante comigo.
- Coisa horripilante?
- É. Aquela coisa nojenta – revirei os olhos.
Ele ainda não entendeu. Odiava usar aquela frase.
- Quero saber por que você me beijou! É disso que estou falando! – exclamei com impaciência. – Quero dizer, eu nem sou como aquelas garotas que babam em você ou do seu tipo. Eu não faço seu tipo, resumindo tudo. Eu só queria saber o motivo disso, sendo que eu ao menos mostrei interesse em você!
Ele ficou surpreso por um instante, piscou, e sorriu. Mas era um sorriso enviesado, como se divertisse com minha pergunta.
- Bom, digamos que gosto de desafios.
- Desafios? – perguntei atônita.
- Digamos que eu e James gostamos de garotas esquivas. Quero dizer, o caso dele é diferente, já que quando começou com Lily não parou mais e agora está apaixonado – ele bufou. – Mas é interessante quando a garota não te quer. Dá mais emoção.
Minha boca foi se abrindo a cada palavra que ele dizia, o horror dominando minha expressão. Ele olhou pra mim, esperando minha resposta. Tentei várias vezes dizer, mas não saiu nada. Eu o olhava como se ele fosse um ET falando em uma língua totalmente estranha e desconhecida. Bom, isso resumia tudo.
- Agora eu sei... – falei baixo, ainda divagando. – Agora eu tenho certeza.
- Certeza do quê? – ele perguntou, interessado.
- Você é completamente, absurdamente, totalmente e irrevogavelmente um idiota.
E depois disso me retirei de lá sem dizer mais uma palavra. Sinceramente, eu ouvi aquilo mesmo? Foi a coisa mais estúpida que eu ouvi depois de Dorcas dizer que a letra de Pettigrew era mais decente que a minha. Ainda não estava acreditando no que eu tinha ouvido, mas decidi ficar quieta e correr para meu dormitório para contar a conversa a Dorcas e Emelina. Dorcas achou interessante, e Emelina concordou comigo, que ele é um idiota.
Depois disso só me restou me olhar no espelho e sentir um novo sentimento de asco: eu beijei um idiota.
Alice POV:
- Ocupado? – perguntei ao avistar Franco fazendo não-quero-saber-o-que com uma planta grande e avermelhada. Eu já estava nervosa demais para ficar no meio daquelas plantas assassinas e malévolas, então fiquei apenas na porta da estufa, esperando que ele entendesse que eu não me sentia bem ali.
Franco se assustou um pouco, mas logo disfarçou, tirou o avental e caminhou até mim, meio ansioso. Pelo menos não vi sinal de sequelas por mexer com aquelas plantas homicidas.
- Então, o que queria conversar comigo? – perguntei, mas ele simplesmente disse:
- O que acha de darmos uma volta?
Ainda me questionava, entre sessões de curiosidade e nervosismo, o que Franco tanto queria falar. Ele mantinha-se quieto enquanto andávamos até o Saguão de Entrada e daí para os jardins. Pelo visto isso tinha virado moda; mas o dia estava lindo, bem ensolarado, os últimos dias assim do ano. Apesar daquele ambiente todo, quando anoitecia ficava bem frio. E Franco ainda ficava sem comentar nada. Só parou de andar quase na beira do lago, estreitando os olhos por causa do sol. Eu apenas esperei.
- Bom, Alice, eu nem sei por onde começar... – ele coçou a cabeça, desajeitado.
- Por que não se desculpa de uma vez? – falei, impaciente. – Diz que errou por me tratar daquele jeito, de tirar conclusões precipitadas sobre mim e Matt, e essas coisas.
- Por que está assim? – ele me olhou com receio.
- Ora, era assim que você estava me tratando, não é? – disse, incomodada pelo calor do sol. – E era isso que você queria me dizer... não é?
- Bem, é – ele hesitou, e senti uma vertigem. Aquele sol e aquele súbito nervosismo de ouvir o que estava por vir estavam me deixando maluca. Só espero que ele se adiante.
- Ok – suspirei, tudo de acordo com a dramaturgia – digamos que eu era boa nisso, apesar de uma vontade louca de começar a rir ali mesmo. – Estou fervendo aqui, vou voltar para o castelo.
Franco segurou meu braço.
- Não Alice, espere – ele olhou para mim fixamente, como se procurasse algum sinal de raiva.
Voltei a encará-lo, no que ele olhou rapidamente para outra direção. A vontade de rir era muita, eu não ia aguentar.
- Fala – disse bocejando.
- Olha, eu sei que fui estúpido. Muito estúpido. Eu n-não sei o que me deu na hora, mas foi uma coisa que me impediu de pensar direito. De agir direito, entende? – ele mordeu o lábio. – Eu não queria que pensasse que nossa amizade está perdida, eu quero manter isso mais que tudo. Só queria que entendesse...
Ele parou de falar. Pelo visto precisava de uma ajudinha.
- Só quero que me responda uma coisa – falei, medindo as palavras. – O que aconteceu com você em relação a Matt... por que te incomodou tanto eu me aproximar dele?
Pelo visto essa era a pergunta que ele menos queria responder. Corou ligeiramente, debatendo-se antes de falar.
- Não sei.
- Ciúmes? – fui clara. Ele franziu a testa.
- C-claro – falou, sem graça. Era visível que eu estava o forçando muito, mas Merlim, eu já estava cansada de tanta espera! – Nós somos amigos... é normal, não é?
- Sim – dei de ombros.
Ele não respondeu. Ficamos nos encarando por um longo período de tempo, ao qual eu não sabia mais o que dizer. A situação estava mais difícil do que eu pensava, visto que Franco parecia cada vez mais hesitante.
- Era só isso? – perguntei finalmente.
- Acho que sim – ele suspirou.
A vontade de rir tinha passado, e no lugar me deu certa raiva. Dei as costas pisando forte, enquanto eu sabia que ele não estava me seguindo. Resolvi contar até dez.
- Alice! – ouvi ele gritar, quando eu já estava no 2,75. Virei e vi Franco andando rápido, até começar a correr de um jeito meio arfante.
Nem deu tempo de falar nada, eu já tinha perdido todo meu raciocínio. Quem diria que Franco tomaria essa decisão daquele jeito, mas, pelo menos, eu gostei, e muito. Lá estava Franco me beijando, meio constrangido, mas eu logo correspondi e tudo estava certo. Quero dizer, até a parte que eu comecei a rir.
- O que foi? – ele perguntou, hesitante.
- Desde o quarto ano, Franco! Tem ideia do que é isso? – gargalhei. Ele pareceu não entender.
Só sei que nos beijamos mais um pouco, até eu começar a rir novamente até o castelo. Com certeza ele estava pensando que eu sou uma louca ou que ele tinha feito algo hilário, como, por exemplo, ter beijado mal – caramba, longe disso. Mas era tudo engraçado no meu ponto de vista.
Quero dizer, ele não precisa saber que andei pedindo alguns conselhos para ninguém mais ninguém menos do que Dorcas Meadowes e que eu tinha virado amiga de Matt de propósito. Não, ele não precisava saber disso.
Lily POV:
Tenho três fatos importantes no meu fim de sábado e meu domingo.
Assim que eu reapareci na sala comunal (depois de perceber com orgulho que emagreci quase quinhentas gramas, meio quilo! Apenas por ficar esse período de tempo sem comer eu consegui tal feito... decidi repetir isso uma vez ou outra, mesmo que eu tenha certeza que meu estômago está se alimentando dos meus órgãos), fui tomada por perguntas apressadas das meninas sobre meu paradeiro, e expliquei tudo. E sabe o que elas fizeram? Não, não ficaram preocupadas ou coisa do tipo, ou então ficaram bravas por Potter ter me levado pro dormitório dele. Nada disso... elas me xingaram! Por eu esquecer da minha alimentação, vê se pode! Mas logo mudei de assunto, porque Dorcas estava quase vomitando de tanta ansiedade pra contar o alto babado logo. Esse foi um dos acontecimentos mais chocantes do meu fim de semana, descobrir que, finalmente, Alice e Franco estavam juntos. Foi um ataque de gritos histéricos quando Alice adentrou o buraco do retrato seguida por Franco. Ele parecia satisfeito, e Alice estava até vermelha com toda aquela recepção. Tivemos que carregá-la para o dormitório, deixando Franco pra trás meio desnorteado. Mas precisávamos saber de todos os detalhes! O que aconteceu nos jardins tinha que ser analisando em todos os ângulos, visões, comentários, opiniões de todas e por aí vai. Isso durou muito tempo, ao qual eu já havia surrupiado algumas barras de cereal que Alice guardava estrategicamente debaixo do travesseiro.
Eu nunca tinha visto o dormitório tão cheio, além de eu, Maria e Alice, tinha Emelina, Sophie, Dorcas, Beth, Louise, Geovana Kummer, Audrey Johnson e outras duas garotas que eu não sabia da onde tinham surgido. Pra você ver o tanto que uma fofoca bombástica fazia com um grupo de garotas... E se Alice tinha se cansado, enganou-se. Quando descemos para o jantar, tivemos que repetir toda a conversa para Sean, dessa vez acompanhado de um tal de Benjamim ou Ben Chapman, um amigo dele da Lufa-Lufa. Na verdade, não o achei muito amigável. Apenas tinha acenado, e nada mais, apesar de que eu o vi sorrir para Lina, que corou fervorosamente, e logo os dois começaram a conversar, enquanto Sean continuava a ouvir a história, entusiasmado.
E logo tinha chegado domingo, e eu só me lembrava de acordar meio zumbificada, ver Alice e Franco juntinhos numa das poltronas da lotada sala comunal, (muito fofos por sinal) e ir para o Salão Principal pra comer alguma coisa – com moderação, é claro. Dei a sorte de estar sozinha, pelo visto fui abandonada por Maria, que foi andar por aí com Dorcas. Emelina provavelmente está adiantando os deveres, Sophie deve estar dormindo ainda... Não há muito o que fazer. A não ser rebater Gravelle, que estava mais metida e irritante do que o normal, quando saiu no Profeta Diário que seu pai tinha ganhado uma promoção no Ministério... Pff. Isso foi mais um motivo pra ela me atormentar.
- E seu pai Evans, o que ele faz? – perguntou com aquela voz de privada entupida. – Jardineiro? Serviços domésticos? Quero dizer, para os trouxas não existem elfos...
- Hum, na verdade isso não te interessa nenhum pouquinho Gravelle – respondi naturalmente. – Mas tenha certeza que o serviço do seu pai é muito mais escravo de qualquer um que meu pai pode fazer. Sabe como é, Ministro da Magia ele não é, e sempre vai ter que trabalhar pra alguém... Seu pai pode subir, mas nunca estará no topo. Acho que você puxou isso dele.
Saí correndo antes que ela respondesse. Nem conhecia o pai dela, mas já devo ter alguma imagem em mente. Mas nunca sabia se, sei lá, ele aparece no castelo e quisesse me processar. Nunca se sabe, já que estamos falando de Gravelle...
Mas minha fuga não foi tão bem sucedida, quando o segundo fato ocorreu assim que eu virei para fora do Saguão de Entrada. Topei com Jessie.
- Ah, oi Jessie! – falei, nervosa. Meu Merlim, meu Merlim, meu Merlim, meu Merlim! O que eu ia dizer pra ele? Quero dizer, eu praticamente dei um cano nele, e ele deve estar furioso por eu nem tentar dar alguma satisfação... Tudo culpa daquele babuíno do Potter! Sempre estragando minha vida, de todas as maneiras possíveis.
- Olá, Lily – ele sorriu sem nenhum ressentimento, e em seguida suspirei. – Fiquei preocupado por você não aparecer nos jardins ontem, como tínhamos combinado.
Eu já teria corrido novamente se a voz dele não estivesse tão calma. Doeu um pouco quando ele foi direto no assunto, mas decidi responder de uma vez.
- Ahn, mil desculpas Jessie – mordi o lábio, incomodada. – Sabe como é, aconteceu umas coisas...
- Tudo bem, só queria saber se estava tudo bem – ele respondeu gentilmente. Merlim, abençoe a educação e a compreensão da pessoa da minha frente. Bem que todo mundo podia ser assim. – Não tem algum problema, tem?
- Não, só lamento não ter aparecido – consegui finalmente sorrir. – Mas prometo que não vou mais fazer isso... Isso se nenhum imprevisto acontecer novamente.
- Claro – ele respondeu. – O que você acha de nos encontrarmos na biblioteca hoje de novo? Quero dizer, se sua voz e garganta já não tiver melhorado...
Resisti muito para não o abraçar ali mesmo... Só abraçar! Não, não estou pensando em coisas além disso! Jessie é meu amigo... Meu Amigo de Biblioteca, é isso. E nada mais.
- Sem dúvidas estarei lá – respondi animada. – Mesmo horário?
- Pode ser – ele sorriu mais abertamente. O dia em que eu tiver aquele sorriso eu juro que nunca mais vou parar de sorrir na minha vida. Bom, não é isso que ele faz? – Combinado então?
- Combinadíssimo – respondi.
Então ele se afastou, logo se juntando a outros amigos que logo iam saindo pela porta. Um deles olhou por cima do ombro para me ver, e eu, já pensando que ele faria uma careta por ser um sonserino, sabe como é, o garoto apenas sorriu. Sabe, eu acreditava cada vez menos nessa história de Sonserina e Grifinória serem "inimigas mortais".
Saí caminhando de volta para Torre da Grifinória, quando encontro com Beth saindo do buraco, meio atrasada. Até eu perceber que estava tão atrasada quanto ela. O coral!
Tinha me esquecido completamente! Hoje é a apresentação do mash-up dos garotos, e isso eu não perco nem por decreto.
Mais curiosa que o normal, segui diretamente para a sala de música. Mal eu sabia que lá eu teria o terceiro, último e mais chocante fato do meu fim de semana.
Maria POV:
Ouvir:It's My Life/Confessions
- This ain't a song for the broken-hearted! – PARA TUDO!
Era James, James Potter que estava cantando ali? Era ele? Ele mesmo? Aquela voz era dele? Quero dizer, desde quando ele canta? E canta tão bem? Será que aquele feitiço pra melhorar a voz que Alice tinha me acusado de usar existia? Era impossível, ele realmente estava ali cantando! Voz principal e tudo, mas... Era ele? Espera, era ele?
Não tinha uma só pessoa que não estava boquiaberta, até mesmo Moreau! Mas, é claro, a que mais estava com o queixo se arrastando pelo chão era Lily que parecia não acreditar no que estava vendo e ouvindo. Parecia aquela raça de peixes olhudos, estava realmente hilário.
Todos os garotos estavam de preto, jaqueta de couro, bota estilosa – influência de Black (que geralmente usava o mesmo em seus passeios de Hogsmeade, o que deixava as garotas babando até morrer), e, quem sabe, Sean. Ele realmente entendia do assunto. E, é claro, estavam sexys. Não há como negar, eu sou uma reles mortal e solteira, e precisava fazer meus comentários mentais. Coisa que Dorcas não estava fazendo; parecia cochichar rapidamente com Sophie, que não prestava atenção. Ela fazia isso ao mesmo tempo em que olhava para alguém único que dançava e cantava no palco que estávamos alguns dias atrás...
- No silent prayer for the faith-departed – James continuou, assim como os outros, numa dança completamente contagiante. – And I ain't gonna be just a face in the crowd, you're gonna hear my voice when I shout it out loud!
Não prestava atenção em mais nada, só naquele garoto que era um dos melhores, um de cabelo loiro bem escuro, quase castanho... MERLIM, É O MCKINNON! Desvia o olhar Maria, agora...
- It's my life, it's now or never! I ain't gonna live forever! I just want to live while I'm alive… It's my life!
Nessa hora eu sabia que Dorcas se levantaria e correria a fim de abraçar o primeiro que viria pela frente, mas Sophie parecia a olhar justamente para que não fizesse isso. Todas ainda pareciam surpresas, exceto por Sophie e Emelina, uma tentando não se interessar e a outra desinteressada, apesar de estar curtindo o som. O resto, tenho certeza que já estava pensando em outra coisa... Bom, exceto a mim também, é claro! McKinnon só estava dançando bem... Mas não chega aos pés de John, afinal, quem chega? Vamos nos concentrar nele, hum... Não, novo demais.
- These are my confessions – os garotos cantaram, e nossa! Estava realmente incrível, acho que já batiam com a gente.
- Just when I thought I said all I can say, my chick on the side said she got one on the way – Remo cantou. Estava mais radiante, uma expressão mais jovem, pra variar um pouco. Sempre estranhei que ele sempre vivia meio desanimado, quase doentio. Mas tenho certeza que ele é um daqueles garotos que tem um segredo que faria uma garota se apaixonar. Essa garota seria eu, mas acho que ele não faz o meu tipo. – These are my confessions! If I'm gonna tell it then I gotta tell it all, damn near cried when I got that phone call! I'm so throwed! I don't know what to do, tut to give part 2 my!
- Better stand tall when they're calling you out, don't bend, don't break, baby, don't back down! – e nessa parte Dorcas não resistiu e gritou. Acho que isso era algo em comum que me fazia ainda conversar com ela, apesar de ela e Lily se odiarem: a carência. - These are my confessions! It's now or never! I ain't gonna live forever! These are my confessions! I just want to live while I'm alive…
Dorcas e Beth foram as únicas que tiveram coragem de demonstrar mais entusiasmo que o normal. Eu não podia negar que eles estavam mandando muito bem, e dança, a música, o estilo, a roupa...
- It's my life! Just when I thought I said all I can say, my chick on the side said she got one on the way! – e John mandava bem. Que tipo de dança era aquela? Eu tinha certeza que ele tinha inventado, mas não deixava de ser muito legal e, sem dúvidas, original. Franco também dançava bem, mas agora ele era fruto proibido. – These are my confessions! I just want to live while I'm alive…It's. My. Life!
A música finalizou com um rock bem feito, e aplaudimos, ainda chocadas com a performance. Nunca em nossas vidas imaginaríamos que eles seriam capazes de fazer isso. E nem Moreau, que parecia querer pular feito Dorcas e Beth.
- Rapazes, eu nem sei o que dizer! – ele ainda aplaudia, enquanto os garotos desciam do palco com certo tom de autoridade, ainda arfando. – Vocês estão de parabéns!
- Ganharam da gente! – Dorcas aplaudiu mais um pouco, mas foi silenciada por uma cotovelada de Sophie.
- Obrigado, obrigado – Sirius se adiantou, sorrindo torto. – Créditos das roupas a mim, dança por John, voz por Aluado e Pontas.
Lily bufou alto, virando a cara. Pelo visto sua expressão de peixe havia sumido.
- Muito bem, acho que já tenho tudo resolvido – Moreau se apressou a pegar sua prancheta, ainda contagiado pelo número dos garotos.
- Vai me dar um solo? – Dorcas pulou na cadeira, no que Lily bufou pela segunda vez.
- Eu já tenho todo número pra nossa competição de sábado anotado aqui – ele sorriu, enquanto os garotos se acomodavam nas cadeiras atrás de nós. Vi Lily e James trocarem olhares desafiadores.
- Mas quem vai cantar? – Dorcas perguntou, ansiosa.
- Primeiro, comentários do mash-up das garotas – ele começou. – Vocês foram incríveis! A coreografia, voz, vestuário, tudo...
- Adiante-se, adiante-se – Dorcas interrompeu, fazendo com que vários "shhhhh" ecoassem pela sala.
- Percebi que Maria teve uma influência incrível no número, e acho que podemos usar isso na apresentação também. Maria, você ganhou uma parte da música.
Os aplausos sucederam. Eu? Bom, não sei se me daria bem... Já não era a primeira vez que me ofereciam um "solo", mas dessa vez resolvi aceitar.
- Tudo bem – dei de ombros, sorrindo. Dorcas parecia que ia enfartar.
- Os garotos também foram ótimos! – Moreau falou com certo orgulho. – James, o que posso dizer sobre você? Pelo visto tive sorte de colocar você no coral!
Lily pigarreou um "fale isso por você", antes que os garotos batessem nas costas de James, aprovando-o.
- E Lily, apesar da sua perda de voz, você foi perfeita em Halo com Walking on Sunshine. Você foi brilhante – Moreau tinha certo brilho nos olhos. Pelo visto minha linha de raciocínio bateu com a de Lily, e o pensamento veio na mesma hora que Moreau falou. – Você fará um dueto com James.
Lily caiu da cadeira. Os demais riram, enquanto eu me dividia entre gargalhar e ajudar Lily a se levantar do chão. James parecia explodir de felicidade, ou de vingança, seja lá o que se passa na cabeça desses pombinhos.
- Você não pode estar falando sério! – Lily reclamou, alto. – M-mas... eu não quero!
- Lily, você é boa, tenho certeza que se sairá bem... – Moreau sorriu, se divertindo.
- Mas com ele? Um dueto justo com ele? – Lily apontou para James como se este fosse algum inseto nojento grudado na parede. – Isso é injusto! Já não basta colocar ele no coral tem que me fazer cantar com ele?
Lily quase chorava, mas não era a única revoltada dali.
- Você vai dar um dueto pra ela? E pra mim, o que sobra? – Dorcas estava vermelha, já de pé. – Eu também ganhei um solo, assim como ela. Também quero um dueto!
- Dorcas, por favor... Poderemos te arranjar outra coisa nos outros números, ok? Ainda tem muitos pela frente...
- Isso é injusto! – Dorcas xingou, até Emelina e Sophie puxarem ela pra se sentar.
- É só isso, professor? – Alice perguntou, olhando pra Lily preocupada. Parecia que ia vomitar.
- Bom, precisamos de mais uma voz nessa mesma música – Moreau falou, pensativo. – Remo, você foi igualmente bom. Topa ter um verso somente para você, com o auxílio de Maria?
Remo deu de ombros, e vieram mais palmas. Eu não sabia se ria de Lily enjoada, de James e Sirius trocarem olhares marotos que era como um código, de Dorcas que bufava de raiva, ou de John imitando Lily cair da cadeira.
- Bom, esqueci de mencionar que decidi implementar com mais uma música – Moreau anunciou, até tudo voltar – quase – ao seu devido lugar. – Outros dois me chamaram atenção, acho que mais merecem o dueto.
Dorcas se empertigou, atenta às palavras de Moreau.
- Irmãos McKinnon, vocês farão um dueto.
- O QUÊ? – uma veia saltou do pescoço de Dorcas. – Essa foi a maior injustiça que eu já ouvi na minha vida! Eles não... eles não podem!
- Por favor Dorcas, pare de reclamar – Moreau suspirou.
- Eu disse! Eles cantaram Lucky com essa intenção! Não estava dentro dos mash-ups, por isso não conta! – Dorcas continuava a reclamar.
- Bom, eu disse que uma música seria baseada no que vocês me mostrariam no mash-up. Mas nunca disse que seriam as duas músicas – Moreau sorriu, como se fosse parte dos marotos. – Você tem que aceitar os fatos, Dorcas. Quanto mais drama você fizer em relação a conseguir um solo, mais demorado vai ser um novo solo pra você.
Dorcas não disse mais nada. Apenas saiu da sala, pisando forte, empurrando Sean pro lado.
Moreau suspirou, quando a viu sumir de vista, mas não parecia se importar muito.
Só sei que passamos o resto do dia ajudando Lily, que estava numa momentânea crise de depressão, ainda mais com algumas provocações dos marotos, como a de Sirius: "Vocês vão formar um belo par, Lily!".
O pior foi que muitas pessoas ouviram, e o resto do domingo foi tomado por boatos falsos que Lily e James estavam namorando, o que a fez se trancar no dormitório o dia inteiro.
Coitada da Lily, mal sabe ela que isso não era nem o começo.
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