Floreios e Borrões

Te infernize

Te infernize

2012-04-23 Por Jubs Ricci


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Te infernize


Lily POV:


Foi uma semana inteira aguentando os comentários sobre o incidente da gosma verde. Passávamos pelos corredores e as palavras nos acompanhavam, não tinha como evitar. Mas também nos parabenizavam por termos ganhado, e, pra minha surpresa, algumas garotas da Corvinal que se apresentaram chegaram a falar conosco.


- Parabéns Lily, ótima vitória – uma delas se adiantou, cumprimentando com um aperto de mão. – Pena que não poderemos competir mais!


- Como assim? Vocês saíram do grupo? – perguntei, surpresa.


- Não, Stanley não está nos dirigindo mais – ela deu de ombros. – Mas até que é bom, ela era o inferno em pessoa...


- Mas então com quem competiremos? – Emelina perguntou.


- Ah, ela tem uma carta na manga, pode ter certeza disso – a outra garota respondeu. – Desistir não existe para ela. Com certeza vai coordenar outra casa...


A notícia correu mais rápido que o vento, junto com as mentiras que começaram a aparecer. A dúvida era: Sonserina ou Lufa-Lufa? Eu não tinha muitos palpites.


E quanto a Jam... Potter, o evitei o máximo que pude. Ele tentou falar comigo duzentas mil e quarenta e sete vezes, mas eu ignorei todas. E tive que ignorar Sean, Alice, Maria e Emelina também.


- Lily, isso é totalmente injusto! – Alice exclamou. – Como pode culpá-lo assim, sem provas?


- O que eles estariam fazendo no camarim aquela hora? Aquela história de Sirius ir ao banheiro não estava colando muito bem, sendo que tem banheiros disponíveis perto do auditório! – expliquei.


- Mas nada justifica... – Sean começou.


- E o que ele estaria escondendo de mim? Ele ficou todo vermelho! Cara de quem estava aprontando.


- Mesmo assim Lily, quem soltou aquela gosma tinha que ser muito bom em magia, magia avançada! – Maria insistiu. – Além de ter quilos de gosma tinha que ter treinado bastante para fazer o Feitiço Transportador para soltar a gosma em cima da gente.


- Os marotos não são conhecidos por serem ótimos em feitiços? Sempre explodindo e azarando todo mundo por aí? – falei com certa repugnância. – Então.


- Por que não pergunta pra Remo? Ele é um maroto e pode te dizer – Emelina deu a ideia.


- Não precisa. Eu sei que foi ele – tentei encerrar o assunto, e eles se entreolharam e suspiraram.


- Ainda acho que foi Stanley – Maria falou.


- Como? Ela estava do nosso lado o tempo todo e em nenhum momento a vi usar a varinha – Sean respondeu.


- Ela pode ter pedido para alguém – Maria disse.


- Quem? – perguntei. – Outro professor? Todos estavam ali.


- Assim como James – Alice instou.


- Ele pode estar com a varinha escondida, eu não sei! – falei, irritada. – E vamos mudar de assunto, por favor.


Mais uma vez, chuva de suspiros. Decidi ignorar, aliás, era o que eu mais estava fazendo no momento.



David POV:


- Eu sei que foi você – a abordei depois do jantar.


- Não faço ideia do que você está falando – Stanley sorriu.


- Será que se eu te jogar uma gosma verde você vai se lembrar?


- Está me ameaçando, Moreau? – ela riu. – Olha, a gente não vê isso todo dia.


- Foi você, não foi? – insisti.


- Como? Eu estava ali o tempo todo – seus olhos brilharam, e isso confirmava tudo.


- E sobre aquela história de ser "melecado pela derrota"? Faz algum sentido pra você?


- Mera coincidência – deu de ombros, sorrindo novamente.


- Você não presta – estreitei os olhos.


- E você é ótimo! – ela exclamou, dando um leve tapinha em meu braço, indo para a direção oposta. – Nos vemos por aí... gosminha.


- Você não presta tanto que deixou todas as garotas na mão porque perderam! – falei antes que ela virasse o corredor.


Ela parou e se virou, a cabeça tombada, olhar frio.


- Eu cumpri o que eu havia falado, mas elas não cumpriram a parte delas – deu de ombros novamente. – Mas não se preocupe. Não vou deixar você ter sorte mais uma vez. Ainda não se livrou de mim.


- Sorte? Aquilo foi merecimento – sorri de volta.


- Claro – disse com ironia e voltou a caminhar, balançando os cabelos daquele jeito irritante.


Queria entender o que se passa na cabeça daquela mulher.



Remo POV:


- Não adianta, Pontas – balancei a cabeça mais uma vez. – Já tentei falar com ela, explicar que você nunca faria isso... Mas ela sabe que você que me pediu pra falar com ela.


- Mas não fui eu! Isso é que me deixa irritado! – James bufou, quase entortando o garfo que segurava. – E tudo isso culpa de quem?


- Já parou com a TPM? – Sirius disse indiferente, suspirando.


- Eu estou dizendo que eu vou contar pra ela – James sorriu falsamente.


- Ah, claro. Fico imaginando como você faria isso – Sirius respondeu, e eu via o brilho malicioso em seu olhar. – "Olá Lily, só queria te contar o que eu realmente estava segurando. Era o sutiã da Beth!".


- Não é nada mal – James resmungou. – A não ser que você queira que depois eu tenha que fingir namorar Beth também.


- A vida amorosa sua não é problema meu – Sirius deu de ombros.


- O problema Pontas, é que você voltou à estaca zero – tentei ajudá-lo, já que Sirius estava fazendo o contrário. – Faça como no começo desse ano, tente fazer amizade com ela novamente.


James não respondeu. Parecia irritado demais. Sirius, por sua vez, mantinha uma expressão totalmente relaxada.


- Você tem que arranjar um jeito de se aproximar dela – concluí.


- Como? – James perguntou, desanimado. – Toda vez que me aproximo dela ela faz uma cara de nojo e se afasta.


- Bom, você vai ter que descobrir – sorri.


James ficou parado, olhando para o nada. Eu tive uma ideia, mas decidi deixar que ele descobrisse por si mesmo.



Lily POV:


- Lily, eu...


- Não quero ouvir sobre Potter. Não conheço nenhum Potter. Detesto qualquer Potter – interrompi brutamente, e Sean ergueu a sobrancelha.


- Calma, garota. Eu só ia te perguntar se você vai ao coral hoje.


- Claro, porque não iria? – perguntei.


- Por que eu vi no quadro de avisos que ia ter uma reunião dos monitores. Até achei que tinha sido você que havia marcado...


- Quê? Mas não marquei nada... – falei vagamente, então me lembrei. – Droga, deve ter sido Schain.


- Jenny?


- É – suspirei, nervosa. – Não é por nada não, mas essa sua amiga é muito das mandonas. Nem para me consultar primeiro! E agora tenho que faltar no coral hoje...


- Tudo bem, eu explico para eles – Sean sorriu.


E foi uma droga. Na verdade eu só queria que pelo menos dessa vez eu marcasse a droga da reunião, pra poder assim ter minha chance de falar com Amos. Mas vem Schain e estraga tudo. Francamente, como Sean convive com ela? Durante toda a reunião apenas ela falava com aquele seu tom autoritário, e nas poucas vezes que eu e os outros monitores diziam alguma coisa ela interrompia. Senti falta de Remo ali, pelo visto ele optou pelo coral...


Coisa que eu devia ter feito. Amos estava misturado com mais alguns monitores da Lufa-Lufa, e eu, apenas, estava ali, tendo que ouvir discursos monótonos de Schain.


E, pra completar meu dia, ainda encontro com ele na entrada do buraco do retrato.


- Oi, Li...


- Argh! Não vem me atormentar! – o empurro pro lado pra poder entrar na sala comunal. – Não tô podendo sabe...


- Algum problema? – ele perguntou calmamente. Conheço aquele jogo.


- Não – estreitei os olhos. – E não é da sua conta.


Pffff. Hoje não é meu dia.



Sophie POV:


- O que perdi no coral hoje? – Lily vem chegando, meio vermelha e estressada, sentando junto a nós no meio das poltronas.


- Foi marcada a próxima competição – Emelina diz, já nervosa. Aquelas duas explodiriam se juntasse o nervosismo delas. – A primeira dia quinze e a segunda dia trinta.


- Como é que é? – Lily falou, espantada. – Como assim?


- Fato inédito. Terá duas competições esse mês – Alice tremeu levemente. – O que eu acho totalmente inapropriado! Como ensaiaremos em apenas quinze dias?


- E por acaso Moreau já decidiu nossa música? – Lily perguntou com a voz trêmula.


- Ele nos deu algumas opções. Nada muito moderno – Maria deu de ombros.


- Era só o que me faltava. Duas competições em um mês – Lily bufou.


- Acho melhor já ir escrevendo pra minha mãe... – Alice comentou.


E era assim nossa rotina. Todo dia no coral era a mesma coisa: "Não é porque ganhamos a primeira competição que podemos desanimar" ou "Stanley não está pra brincadeiras, com certeza ela guarda um grande desafio pra gente".


E por falar nisso, era mistério completo e total sobre a escola, mas muitos chutam Sonserina... Típico. Mas não sei, aquela mulher adora mentir e esconder fatos...


E minhas notas também estavam agradando, pra minha surpresa. Poções perfeitas, feitiços perfeitos, redações feitas rapidamente... E acho que devo tudo isso ao coral, e também ao fato de que Black nunca mais me atormentara. Nem ele e nem ninguém. Voltei a ser a Sophie desconhecida de sempre, e isso era totalmente gratificante.


E parei de comer, graças a Merlim. Também estava gostando do meu peso, afinal, nada que uma alimentação balanceada não resolva.


- Você vai comer só isso? – Dorcas olha, espantada, para meu prato. – Só tem verdura aí...


- Preciso manter meu peso – dei de ombros. – Não posso exagerar.


- Exagerar? Exagerar? – Dorcas bufou. – Olhe pra você, está mais magra que um pau, se eu fosse você aproveitaria.


Tomei aquilo como um elogio. Ótima amiga eu tenho, não?



Sean POV:


- Olá, Sean – ouço uma voz atrás de mim. Me sobressalto, por pouco não gritando ali, no meio da biblioteca.


Era Ben. Com aquele seu sorriso de sempre...


- Olá – ele sorri. – Por que você insiste em estudar tanto?


- N.O.M.'s – resumo, e caminho até a mesa, e vejo que ele me segue. – Onde está Jenny?


- Por aí – ele respondeu, mexendo os dedos, indiferente. – Ei, Sean.


- Fala – respondi, com medo de encará-lo.


- Se eu te contar uma coisa, promete não contar a ninguém? – ele sussurrou. Ergui os olhos, alarmado. – Principalmente você, não pode contar a ninguém. Só não estou me segurando, e Jenny já sabe...


- O que? – engoli em seco.


Ele olhou ao redor.


- Seremos rivais – falou.


- Quê?


- Eu e você. Rivais – ele disse, meio desapontado. – Estou no coral da Lufa-Lufa.


Quase caí da cadeira.


- Lufa-Lufa vai ter um coral?


- Nina Stanley nos chamou desde o começo de tudo – ele explicou rapidamente. – Antes mesmo de chamar a Corvinal. Queria ter um coral reserva.


- Isso é totalmente estúpido! – exclamei.


- Shhhhh, fale baixo – reclamou.


- Mas Ben, desde quando você canta? – não podia acreditar no que estava ouvindo.


- Todo mundo sabe cantar. Treinando todo mundo sabe – ele deu de ombros. – E eu treinei. E consegui o solo principal.


- Você só pode estar brincando comigo – falei, com a esperança que seja mentira.


- Não, não estou – ele mantinha-se sério.


Nos encaramos por um tempo, tempo suficiente para eu sentir minha pele corar.


- Bom – pigarrei. – Acho que você deveria ter me contado antes.


- Mas o importante é que você não conte a nenhuma daquelas... amiguinhas suas do coral.


- Seu grau de diminutivo não me afetou em nada, se quer saber – respondi, irritado.


- Prometa que não irá contar, Sean – ele falou com seriedade.


Certo, esconder alguma coisa de Lily, Emelina e Sophie, ou pior, Maria e Dorcas, estava na faixa do impossível. Mas não custava tentar.


- Certo – suspirei.


- Ótimo, sabia que podia contar com você – ele piscou, então se encaminhou pra fora da biblioteca.


Suspirei novamente.



James POV:


- Cansei! Cansei, Sirius! – joguei uma almofada na sua cara, e ele apenas gargalhava. – Você é um completo idiota!


- Que medinho do Jay nervosinho! – ele zombou, e já ia pegar minha varinha quando Remo e Franco entram no quarto.


- O que está acontecendo? – Aluado pergunta nem tão interessado.


- James levou outro fora de Lily e está me culpando – Sirius volta a rir, e eu podia ter certeza que tinha uma veia saltando do meu pescoço.


- Por que será? Quem é que beijou uma garota a força e acabou sobrando pra mim? Quem é que quis roubar o sutiã de outra garota e por causa disso deu uma baita confusão? – gritei, fazendo com que Rabicho despertasse de seu longo sono.


- Quem será? – Sirius franziu a testa.


- James...


- O QUE FOI? – berrei, até perceber que era Aluado falando comigo. Ele ergueu as sobrancelhas.


- Fique calmo, não é o fim do mundo – ele suspirou. Aluado, sempre relaxado. – Por que não arranja... algo em comum com Lily para se aproximar dela?


- Algo em comum? Do que diabos você está falando? – falei, arfante.


- Alguma atividade, algum gosto... – ele parecia enigmático.


- Não sei do que você está falando – falei, aborrecido, me jogando na cama.


Sirius havia parado de gargalhar, parecia estar curioso no assunto.


- Você gosta de quadribol, certo? – ele disse, ganhando apoio de Franco. – Do que Lily gosta?


- Monitorar os corredores? – arrisquei.


Aluado suspirou, balançando a cabeça.


- Ler? Está dizendo para eu passar o dia inteiro na biblioteca? – perguntei, quase certo que havia acertado. – Não é uma má ideia, só que...


- Não, James! – Franco não aguentou. – Coral! Lily faz parte do coral! Gosta de cantar!


Fez-se um breve silêncio.


Então Sirius voltou a gargalhar. Eu ainda olhava atônito para Remo, que tinha um olhar neutro.


- Você está me falando para eu entrar no coral? É isso? – perguntei, chocado.


- Eu falei que eles iam ignorar – Franco fez descaso, falando com Aluado.


- Mas essa ideia é excelente! Como não pensei nisso antes? – exclamei, e Sirius parou de rir por um segundo, chocado, assim como Remo e Franco, e depois voltou a rir novamente. – É o único jeito, e ela não vai ter como fugir de mim!


- Você? No coral? – Sirius estava vermelho. – Ai, Pontas... Você é louco.


- É, não posso entrar assim, sozinho – falei, sorrindo perversamente. – Por isso eu posso contar com você, não é Almofadinhas?


Ele parou um pouco de rir, mas não totalmente.


- Aham, tá fácil – falou, irônico. – O dia que eu entrar pra esse coral...


- ... será hoje e agora! – interrompi, o olhar furtivo. – Qual é, Sirius? Você não é meu amigo? Você não faria isso por um amigo?


- Pontas... fala sério... – ele hesitou, ainda acariciando a barriga.


- Como é? Vou ser obrigado a te lembrar das coisas que você fez? – disse, irritado. – Sutiã, Sophie...


- Isso não tem nada a ver com nada – Sirius ficou repentinamente sério.


- Não vejo por que não – dei de ombros. – A não ser que eu tenha que te forçar...


Sirius repentinamente pareceu despreocupado, mas pelo menos parara de rir.


- Isso é uma bobeira. A pior bobeira que já ouvi – falou simplesmente, e Franco estava prestes a discordar, quando o interrompi.


- Beth está participando também.


- E?


- Ótima oportunidade pra... não sei, roubar mais um sutiã dela, sei lá – respondi com indiferença, e Sirius franziu a testa. – Não sei o que passa por essa sua cabeça canina.


- Nunca – resmungou.


- Certo, então eu vou conversar com minha amiga Cox ali na sala comunal – me levantei da cama. – Mas tenho que tomar cuidado para não deixar escapar pra ela ou pra qualquer um o que você andou aprontando em Hogsmeade...


- Isso é uma chantagem?


- Nunca se sabe – dei de ombros, enquanto Remo e Franco riam baixo.


- Pontas, você está louco. Nós somos os marotos e nada mais. Entrar para o coral? Francamente... – ele bufou. – Primeiro porque é uma tolice, segundo porque eu não quero e terceiro porque não temos talento algum para isso.


- Ah, é? E o que é aquele violão ali? – apontei para o objeto jogado perto de seu malão. – E mesmo assim, Franco não tem talento nenhum...


- Ei! – Franco protestou.


- Quero dizer, qualquer um pode entrar – finalizei, e Sirius bufou mais uma vez.


- Estou surpreso apenas ao ouvir você ter essa ideia ridícula...


- Afinal – me aproximei de Remo, dando um leve soco em seu braço. – Temos que fazer companhia a nossos amigos para que não fiquem totalmente solitários no meio das garotas.


Sirius não respondeu. Parecia ignorar completamente meus argumentos, e eu, Remo e Franco paramos para encará-lo. Rabicho havia voltado a cochilar.


- Você vai entrar – falei.


Espero que aquele ditado "quem cala consente" estivesse valendo agora.



Sophie POV:


- Oi maninho! – avistei Jason sentado em um ponto distante na mesa da Grifinória, e decidi lhe fazer companhia. Estava completamente concentrado em seu livro de feitiços.


- Olá, So – ele me beijou no rosto. – O que conta de bom?


- Caramba, estou com um ótimo humor! E isso é tão... bom – dei de ombros, trazendo pra perto uma tigela de pães. Não podia exagerar. – E você?


- Na medida do possível – ele suspirou, então se virou para mim. – Sophie, lembra uma vez que estávamos nas férias de natal e eu fui tomar banho...?


Estranhei o comentário, mas fiz sinal para ele prosseguir.


- Eu cantava no chuveiro – ele continuou, hesitante.


- Sim – confirmei.


- E era muito ruim? – ele hesitou ainda mais, deixando de lado seu livro. – Quero dizer, eu fico vendo você e principalmente Maria e Lily cantarem tão bem no coral que... as vezes me pergunto se eu sou tão desafinado.


- Acredite, mais do que John e Franco você não é – dei uma risadinha. – Mas por que essa pergunta?


- Só queria... sei lá, treinar mais. Para quem sabe, futuramente, eu poder fazer algo do tipo.


- Aaaaaaaah – exclamei, com um sorriso presunçoso. – Você está querendo fazer um solo?


- Não exatamente – ele mordeu o lábio. – Quero ganhar mais destaque. Me sinto meio inútil na parte do tempo.


- Você não é inútil – corri a dizer, mesmo que isso tinha lá sua parte de mentira. – Toca violão...


- Temos os músicos pra isso – ele parecia incomodado.


- Então, afinal, acabou gostando do coral também? – falei com uma risada marota, e ele corou.


- É legal, ainda mais quando ganhamos – ele falou, vagamente. – Tirando o fato de que MacDonald é a pior presença do mundo.


- E por falar nisso, vocês nunca vão parar de brigar?


- Ela que me incomoda e atormenta. E reclama de tudo. E é mandona, e completamente insuportável – ele suspirou. – Acredite, não temos lá muita afinidade.


- Os opostos se atraem – murmurei.


- O quê? – ele perguntou.


- Nada – sorri rapidamente. – Mas você reclama tanto dela... Ela chega a ser pior que Dorcas?


Jason franziu a testa, pensando.


- As duas são totalmente irritantes. Dá empate – ele comenta e eu começo a rir.


"Os opostos se atraem". Pensando agora, essa foi a frase mais ridícula que inventaram.



Franco POV:


Depois de Sirius entrar em seu transe, James decidiu sair por aí pra tentar pela quinquagésima vez falar com Lily. Remo parou para estudar, e eu, como não tinha mais o que fazer já que estava com os deveres em dia, decidi ir procurar por Alice.


Desci para a Sala Comunal, mas não a encontrei. Devia estar no Salão Principal. Estava indo caminhando até a saída do buraco do retrato quando ele gira e eis que entra Alice.


Mas acompanhada.


Ela ria absurdamente sobre algo desconhecido junto com Matheus Tyler, sextanista, e quando me viu sorriu.


- Oi, Franco! – falou, animada. – Como você vai?


Ainda olhava para a cena, me sentindo estranhamente incomodado.


- Bem... – respondi mais baixo que pretendia.


- Que bom, mais tarde você me prometeu que ia me ajudar no dever de Herbologia, lembra? – ela piscou. – Mas agora eu é que tenho que ajudar Matt em Transfiguração.


O garoto sorri, mas não retribuí. Matt? Matt?


- Até mais – ela acenou, com o "Matt" nos calcanhares. Francamente, que ridículo!


Saí da sala comunal o mais depressa possível, andando por aí sem rumo, ainda me perguntando que estranho comportamento meu foi aquele.



Lily POV:


Meia hora. Meia hora era o tempo que eu ainda procurava pelo livro de Poções que Slughorn me recomendou, mas não achei ele em lugar algum! E sem a ajuda de uma bibliotecária decente era impossível, já que Madame Pince ainda estava furiosa comigo por que acabei trombando com ela na entrada na biblioteca. A culpa não foi minha se ela decidiu virar guarda ainda por cima! Cogitei a possibilidade do livro, chamado As Poções mais famosas do mundo e seus criadores, ser localizado na Seção Reservada, mas Slughorn me garantiu que não. Mas bem que poderia, talvez ele deve ter se confundido... Se eram as poções mais famosas do mundo com certeza teria poções completamente das trevas ou coisa pior.


Quarenta minutos. Já estava ficando cansada de vagar pelas prateleiras. Já tentei duas vezes falar com Pince, mas a mulher decidiu me ignorar completamente, e partiu para o outro lado para xingar algumas garotas da Corvinal que insistiam em cochichar.


Desisto. Volto em outro dia, algum em que Madame Pince tenha esquecido as mágoas do passado, que aliás são muitas. Tenho certeza que ela ainda me reconhece de U Can't Touch This, mesmo que eu não tenha tido culpa de participar da dança...


- Você não se cansa daqui não, hein? – ouço uma voz conhecida enquanto eu devolvia alguns livros que não era os que eu pretendia encontrar nas prateleiras mais baixas. Ergo os olhos e vejo um par de olhos ladeados por óculos me encarando, um sorriso simpático. Francamente Merlim, você está de mau humor hoje?


- Argh, mas o que é que você quer? – pergunto já impaciente. – Você não cansa de me atormentar não?


- Não estou te atormentando, Lily – ele mexe dos cabelos. Aquele gesto me dá nos nervos, já disse? – Se não se lembra costumávamos ser amigos...


- ... até você jogar uma gosma em mim, estou lembrada – sorri falsamente.


- ... até você me acusar injustamente por algo que eu não fiz – ele continuou, sério. – Que eu me lembre era você que não gostava de injustiças.


- Mas você foi injusto! – apontei meu dedo em sua direção. – Foi injusto comigo e com os outros também!


- E como você tem certeza disso? Tem provas?


- Nem venha com esse papo de novo – ri, desdenhosa, recolhendo minha mochila do chão. – Eu já disse que não é preciso de provas para justificar atos marotos.


- Tudo é culpa dos marotos, não é?


- É, é sim – confirmei, e ele bufou.


- De qualquer modo, não é sobre isso que vim aqui falar com você – ele sorriu misteriosamente. – É sobre uma notícia que tenho que te dar.


- Não estou nem um pouco interessada – volto a passar os olhos pelas prateleiras. E quem disse que meu tom frio resolveu alguma coisa?


- Lily, por favor, só escuta o que eu...


- Achei! – exclamei. Seu livro estúpido, como você se camufla desse jeito? Peguei o livro e quase perco o equilíbrio. Quantas páginas tinha isso? – Ai...


- Ajuda? – ele se adiantou, mas eu lhe lanço um olhar fulminante, e acho que ele entendeu o recado.


Com dificuldade consigo endireitar o livro nos meus braços. Acho que era por isso que eu não estava conseguindo encontrá-lo, pensei que ele fosse cinco juntos! Mas não era tão pesado agora, acho que só o peguei de mal jeito...


- Como eu estava dizendo... – ele continuou, mas o interrompi novamente.


- Escuta Potter, ou você some da minha linha de visão eu pego esse livro – levanto o tijolo – e jogo ele bem no meio da sua cara.


- Você anda mais violenta do que...


- Estou avisando.


- Mas só queria contar que...


- Quer arriscar?


- Lily, eu...


- Potter! – exclamei, e ele suspirou, irritado, mas deu as costas. Sucesso!


Mal estava vibrando internamente por ter o livrado com uma ameaça de livrada na cara quando ele vira para trás para falar não sei o que, e me descontrolo.


Foi força do momento, eu juro! Em um momento ele se vira, as primeiras palavras saindo, quando num único impulso eu lanço o livro em sua direção. Primeira reação: da onde eu tirei essa força sobrenatural? Segunda reação: choque ao ver o garoto caído. Ouço um baque alto, barulho bastante para tremer o castelo, quando o livro se choca no chão. E James se choca no chão.


- Mas o que... – lá vem a Madame Pince. Hoje não é meu dia. Aliás... qual é meu dia?


- Acho que os alunos do primeiro ano derrubaram a última estante! – exclamei rapidamente , então Madame Pince olha para James caído, mas decide verificar minha mentira. Caramba, não acredito que ela caiu nessa.


Mas agora eu ainda olhava chocada para James, que gemia do chão, as mãos cobrindo seu rosto.


- Ah! Ah, meu Merlim, o que foi que eu fiz! – corri até ele, me ajoelhando rapidamente a seu lado. – J-James, você tá bem?


- Tianu fau que oe ae eou inha aa, im – sua voz saiu abafada pelo fato de ainda estar ajoelhado, escondendo o rosto.


- Quê? – perguntei.


Ele se virou, e para meu alívio estava todo intacto, apesar de ter uma mancha meio avermelhada na testa.


- Tirando o fato que você quase quebrou minha cara, sim – ele repetiu, ainda acariciando o rosto.


- Merlim... Me desculpa, eu não queria ter feito isso... – murmurei ainda desesperada, pegando seu rosto entre minhas mãos para examiná-lo. – Nada machucado, cortado... nada?


Ele não respondeu. Ainda olhava fixamente para mim, até eu perceber o que estava fazendo.


- Seu idiota! – xinguei, colocando-me de pé rapidamente e recolhendo meu livro. – Sempre querendo se aproveitar da situação, não é?


- Lily, eu não... – ele se pôs de pé também, me seguindo até a saída da biblioteca. – Eu... tinha visto uma... sujeira no seu olho, é isso!


- Desculpa, mas eu tomo banho! – falei irritada.


- Droga, vocês mulheres distorcem tudo! – ele reclamou, então me virei brutamente, novamente apontando o dedo para ele.


- E você sabe muito sobre mulheres, não é? Escuta bem aqui! – ameacei. – Você vê se pare me infernizar, ou eu vou te infernizar! Vou te infernizar a cada minuto da sua vida!


Ele não mostrou reação.


- E some da minha frente! – terminei, dando-lhe as costas, pisando forte até o Salão Principal. Precisava comer para desestressar.



Dorcas POV:


- Dorcas, mas o que é que você está fazendo? – Emelina entrou no quarto, olhando assustada para a pilha de pergaminhos amassados a minha volta.


- Listas – respondi apressada, sem tirar os olhos do papel.


- Listas, que listas?


- Depende – falei, ainda anotando. – Listas dos defeitos de Jason, lista de vinganças contra Jason... E tem listas dos garotos disponíveis em Hogwarts. Os bons estão fora de estoque.


Emelina parou, abobada, para me encarar. Mesmo assim não ergui os olhos.


- Fora de estoque? Dorcas, você é louca? – perguntou com veemência.


- Fora de estoque, Emelina! Ou estão namorando, ou com outra garota, ou com má fama, ou com más notas, essas coisas.


Emelina olhou para o teto. Já sabia o que passava por sua cabeça, mas eu não estava interessada.


- Dorcas – Emelina chamou, com serenidade. – Você ainda quer ficar com Jason, não é?


Encarei-a, surpresa.


- Não.


- Aah, sim – ela riu calmamente. – Eu sei que sim.


- Ah é? E como você pode ter certeza disso?


- Simples – ela deu de ombros, então caminhou até a mim, porém se abaixou. Não acredito que ela ia fazer isso.


E fez. Tirou uma tábua do assoalho próximo, e de lá tirou meu famoso caderno verde-água empoeirado.


- Eu não acredito! – gritei, tirando o caderno com brutalidade de sua mão. – Você andou lendo meu diário? Justo você, Emelina? Como...


- Foi Sophie que descobriu – ela deu de ombros. – Já estava na hora de você saber que sabemos.


- E desde quando vocês começaram a lê-lo? – meus olhos estavam prestes a sair da órbita. Mas que cretinas...


- Lemos o bastante – ela tinha um sorriso culpado. – Mas Dorcas, entenda, tudo que está aí você poderia contar para nós...


- NUNCA! – berrei. – E NUNCA MAIS OUSA RELAR A MÃO NELE, NUNCA MAIS! SUAS... ARGH!


Corri para o banheiro e me tranquei lá. Não, não chorei. Só estava me segurando para não socar tudo pela frente. Eu precisava urgentemente de um novo esconderijo...



Remo POV:


Sirius ainda gargalhava. James o fuzilava com o olhar. Rabicho olhava a cena meio dividido, e Franco estava decididamente meio quieto aquela noite, mais tarde, no dormitório.


- Lily jogou um livro na sua cara! – Sirius já estava chorando de rir, e James tinha o olhar estreitado. – Cara, ela é incrível, não é?


- Mais um motivo para entrarmos no coral – James resmungou, aborrecido. – Viu a gravidade da situação?


- Tenho tanta pena de você... – Sirius colocou a mão no ombro de James, quase se engasgando de rir. – Isso é hilário.


- Amanhã falaremos com o Professor Moreau – James sorriu, e entendi seu jogo. Estava aproveitando a oportunidade de que Sirius não parava de rir para persuadi-lo.


Sirius riu pelo resto da noite. James também parecia satisfeito agora, pois parecia ter concluído que havia convencido Sirius. Franco continuava muito calado, e decidi fazer o mesmo.



Lily POV:


Milhões de reclamações de Maria, Alice e Sean depois, consigo finalmente me isolar um pouco da sala comunal, numa das poltronas perto da janela. Só assim podia abrir meu livro em paz e...


E...


Mas que droga é essa? Estava todo em japonês! E espera aí... Esse não é meu livro. Era de Trato das Criaturas Mágicas! Como fui burra a ponto de pegar o livro errado? Culpa do Potter...


Resultado: tive que voltar até a biblioteca, naquela hora tão tarde. As vezes era tão bom ser monitora. Mas ruim foi realmente chegar até a biblioteca com aquele livro gigante nos braços. Com certeza se eu resolvesse aquilo com magia seria um alarme disparado para Filch e aquela gata dele...


Cheguei até a biblioteca praticamente vazia. Olhei para os lados, atenta a qualquer movimento de Madame Pince. Ela ainda devia querer me matar depois da minha mentira.


Voltei para o corredor e devolvi o livro. Agora até encontrá-lo seria séculos, mas decidi ficar ali o máximo de tempo possível. Era questão de honra encontrar esse livro.


- Se eu fosse você procuraria na seção das enciclopédias – uma voz falou às minhas costas.


Não, graças a Merlim não era Potter dessa vez, mas, talvez, coisa pior. Olhei para o garoto que me encarava, um sorriso torto e charmoso. Minha boca se abriu ligeiramente, mas tentei disfarçar. Ele tinha olhos castanhos claros, mas seus cabelos loiro escuro deixava-o incrivelmente bonito. Tinha um sorriso de todos os dentes, o corpo atlético, postura descontraída...


Mas era da Sonserina. Tudo bem, posso ser meio preconceituosa, mas aquela era a realidade. Todos sonserinos me odeiam – pelo menos os que eu conhecia.


- Er... – comecei, meio perdida e corada. – Obrigada.


Fui até as enciclopédias, única seção que eu ainda não havia procurado. Quero dizer, era completamente óbvio. As vezes minha lerdeza me pega desprevenida.


Então, por incrível que pareça, o garoto loiro me seguiu.


- Eu conheço você – ele me fitou com aqueles olhos meio profundos que pareciam me avaliar completamente.


- Pois eu não conheço você – respondi, novamente passando os olhos pelos milhões de livros. Me dê paciência, Merlim.


- Era de se esperar. Não ando muito por aí – ele respondeu, ainda me encarando. Sinceramente, isso já está incomodando.


Depois de longos cinco minutos procurando, em total silêncio em que o garoto desconhecido ainda me fitava, encontrei finalmente o livro. E depois disso a preguiça tomou conta de mim, então decidi ler por ali mesmo, até a hora que Madame Pince decidisse fechar a biblioteca.


E o garoto loiro me seguiu, e se sentou junto a mim na mesa.


Suspirei alto, impaciente, e ele sorriu.


- Vai continuar me perseguindo, me encarando feito idiota? – reclamei, abrindo o livro. Dessa vez, pelo menos, eu havia acertado. O índice era extenso, e pelos títulos e subtítulos pareciam ser bem interessante.


- Só estou... te admirando – ele deu um sorriso gigante.


Corei fervorosamente, mas continuei com o tom irritado.


- Que seja – foi o que consegui soltar no momento, e decidi ignorá-lo. Esses sonserinos são piores que Potter, francamente.


Comecei a folhear o livro, e eu sentia o olhar dele. Ergui os olhos, estreitos. Ele sorriu novamente. Era só isso que ele sabia fazer? Tudo bem, ele tinha dentes brancos e perfeitos, mas não precisava ficar mostrando isso o tempo todo.


- Você faz parte do coral, não é? – ele perguntou, adquirindo uma expressão animada.


- Aham – respondo, seca.


- Da Grifinória.


- É.


- Bom, sua interpretação da última batalha foi incrível! – ele comentou, sorrindo mais e mais uma vez. – Nunca vi alguém cantar daquele jeito.


Bufei, impaciente.


- Vem cá, quem é você? – bato as mãos no livro, estressada.


Ele pareceu assustado, então sorriu. Caramba, para de sorrir pelo menos um minuto na sua vida!


- Merlim, esqueci de me apresentar – ele riu baixo. – Meu nome é Jessie (N/A: diante da história, foi impossível não ter usado esse nome). Jessie St. James.


"James". Ah, que novidade.


- É um prazer – ele estendeu sua mão para mim, e eu a apartei, receosa.


- Você é ótima, assim como sua voz – ele elogiou novamente. Era impressão minha ou esse cara estava me bajulando?


- Obrigada – falei, rouca, fechando o livro e me levantando. – Estou indo.


- Tudo bem. Espero que nos vejamos por aí – ele piscou. – Ah, e não se esqueça. Em todo caso, vá até a seção das enciclopédias.


Não pude deixar de sorrir.


- Sim. Obrigada – falei, e dei-lhe as costas.


Eliminando toda a raiva repentina, me sentia meio estranha. Como... Sei lá, só estava estranha.


Tudo isso era estranho. Muito, muito estranho...



David POV:


- Deixa ver se eu entendi – tentei recapitular, quando fui abordado mais tarde por James Potter e Sirius Black, quando o sinal de fim da aula de DCAT havia tocado. – Vocês querem entrar para o coral?


Potter assentiu, mas Black parecia estar contrariado.


- Sim, depois da primeira competição, achamos bem interessante – James disse, sorrindo, seguido por um pigarro indignado de Sirius.


- Ah, certo... – falei indeciso, recolhendo minha maleta. – Mas vocês ao menos sabe cantar?


- Sirius toca violão – ele apontou para o amigo, um pouco mais afastado com uma cara meio irritada. – E mesmo assim, eu já ouvi falar que muitos do coral não cantam.


- Claro, Sr. Potter, mas isso foi na época em que estávamos precisando de novos membros, tínhamos que ter o time completo – expliquei. – Agora só entra quem canta.


- Nós cantamos – ele falou rapidamente, com uma expressão nítida de ansiedade. Já tinha ouvido falar sobre os dois, os professores sempre comentam sobre eles. Alunos inteligentes, mas que usavam seu potencial para armar confusões por aí.


- Tudo bem. Apareçam amanhã, depois das aulas, na sala de música – sorri, e me dirigi para a porta. Me virei, vendo James fazer um gesto de vitória e Sirius bufando algum palavrão.


Decidi não fazer outro comentário, imaginando o que aqueles dois estavam tramando.



Sophie POV:


- Muito bem, mostra-me o que sabe fazer – sorri o incentivando. Puxei meu querido irmão para o jardins, livrando-o dos olhos de gaivotas das montanhas daquelas garotas. Sentamos embaixo de uma árvore qualquer na beira do lago, não antes de eu roubar o violão no seu dormitório – já que sou meio acostumada de passar por lá de vez em quando – e, finalmente, consegui convencê-lo a tentar, ao menos um pouco, cantar.


- Sophie...


- Jason – assenti, animada. – Anda! Tenta cantar! Impossível você ser muito desafinado.


Ele me encarou profundamente, os mesmos olhos do nosso pai. Pelo menos era isso que eu me lembrava de meus quatros anos, antes de ele morrer com aquela droga de doença misteriosa. Eu, por outro lado, havia herdado os olhos azuis da minha mãe, que apesar de ser insuportavelmente chata quando quer, acima de tudo é minha mãe. Mas eu sentia falta do meu pai, dos passeios que geralmente fazíamos... Da vez em que ele me trouxe para Hogsmeade pela primeira vez. Acho que fui uma das poucas bruxas do mundo que conheceu Hogsmeade e também Hogwarts, antes de ser mandada pra cá. Quero dizer, pra mim foi uma honra, e nunca tinha ficado tão feliz na vida. Jason, é claro, não lembrava muito dele, ainda mais porque mamãe fazia que eles pouco se vissem, somente a mim, que insisti muito com ela. E também pelo fato de que ela prefere o Jason – não sou ciumenta nem nada, são fatos – e papai adorava mais brincar comigo. Eu sabia que Jason sentia falta de uma presença masculina na nossa família, mas a bajulação de mamãe em cima dele faz com que isso seja realmente pouco comparado a todo o resto.


- Jason, estou te avisando que eu vou... – comecei, ameaçadoramente, então ele pigarreou.


E me encarou mais uma vez. Já vi que ele ficou intimidado pelo meu olhar meio matador, então começou a bater os acordes no violão.


Algo que, a propósito, herdara do meu pai. Ele era ótimo, e pelo visto Jason também. Aliás, o violão era do meu pai também, e eu via o orgulho de Jason apenas ao tocá-lo.


E tocou, tocou, tocou... Até eu perceber o que pretendia.


- Canta logo! – protestei.


- Every rose has its thorn – ele se atrapalhou, meio engasgado. A corda falhou, mas ele logo se recompôs. – Just like every night has its dawn… Just like every cowboy sings his sad, sad song… Every rose has its thorn…


E foi isso. Jason parou de tocar, pigarreou mais uma vez e me encarou, esperando minha reação.


- Só essa partezinha mixuruca? – falei meio desapontada. Jason não respondeu, esperava outro comentário.


- Fui bem? – perguntou, ansioso. – Quero dizer, bom o bastante para... sabe, ter uma voz a mais no coral?


Deixei o vento bater mais um pouquinho, os pássaros cantarem aqui e ali, e eu via a hesitação de Jason. Era hilário.


- Sophie! – me cutucou, e eu bufei, soltando a risada.


- Foi ótimo! – dei o abraço do urso. Aquele que meio abraça, meio sufoca. Ainda fazia isso com ele, coisa de criança. – Pelo visto é de família o talento.


- Seu ego me admira – ele riu. – Mas não desafinei?


- Bom, pelo menos eu não percebi – dei de ombros, e ele imediatamente adquiriu um ar pomposo. – Mas não é por causa disso que você vai ficar se amostrando por aí, fazendo melodias para qualquer piriguete.


- Não sinta ciúmes, minha maninha fofa – ele brincou, apertando minha bochecha com mais força que o necessário. Geralmente aquilo me incomodava, já que eu tinha mais osso do que pele ali.


- Tá bom, tá bom – acariciei o rosto. – Não estou com ciúmes. Só acho que você não pode se gabar tanto assim.


- E o que é que você acabou de fazer, hein? – ele disse, sarcástico.


- Eu não fico espalhando pra Deus e o mundo que, supostamente, eu canto bem. Eu canto bem? – perguntei.


Jason bufou.


- Me recuso a responder a obviedade – ele disse, num jeito formal de ignorância digno de Marlene. – Mas devo dizer que não foi preciso você sair se gabando por aí pra ter James Potter como namorado.


Até aquele ponto tinha me esquecido totalmente que nunca eu havia nem comentado meu "namoro" com Jason. Ele parecia meio aborrecido, talvez menos por isso já ter passado. Na realidade, eu nunca falava de garotos com ele, e só sobre garotas certas para ele, mas nada que me envolva. Assim, estava provado que ele também se incomodava com isso do mesmo jeito que eu me incomodava com ele.


- Felizmente, acabou – suspirei, me deitando na grama.


- Felizmente? Ele por acaso te fez alguma coisa? Te maltratou, te traiu? – Jason não deu ao trabalho de se deitar também, tal aborrecimento.


E, de repente, veio aquela vontade súbita de desabafar. Quero dizer, não que eu já não faça isso com Emelina, mas é que geralmente é meio chato julgando o fato de que Dorcas sempre pode estar por perto, o que faz a gente ficar numa paranoia complicadíssima.


E por sorte a vontade foi na mesma velocidade que veio, e logo eu estava tossindo para disfarçar meu rosto totalmente corado.


- Não, é... – não seria sensato contar a teoria de Dorcas de que "James me traiu com Lily", mesmo que seja de conhecimento mundial que ele sempre tivera uma queda por ela. Mas era injusto com ele, ainda mais por ele ter me ajudado daquele jeito. – Ele é legal. Melhor namorado do mundo, só que eu não gostava dele o bastante.


Jason franziu a testa, como se questionasse a verdade. Rezei para que ele não achasse outro argumento, até que por fim ele deu de ombros e finalmente se deitou ao meu lado.


Ficamos mais um tempo conversando sobre assuntos meio familiares que sempre conversávamos quando estávamos sozinhos, e por vezes eu dava algumas dicas sobre o treino da voz – mesmo que eu seja meio suspeita pra falar.


Mas pelo consegui tirar a promessa de Jason que mais cedo ou mais tarde ele mostraria seu talento para todos, ou, pelo menos, para Moreau. E isso já me deixou bastante animada.



Alice POV:


- Jessie St. James? – Maria quase estourava os músculos da testa de tanto que a franzia, e Lily apenas enchia a boca de pudim, ansiosa. – Não conheço nenhum Jessie. Mas James...


- Já entendi – ela olhou para o teto. – Ele é da Sonserina, vi em seu uniforme. Mas nunca o tinha visto por aqui.


- Não está no Salão agora? – perguntei, e então nós três demos uma de girafa e ficamos esticando o pescoço a fim de achar algum desconhecido, e, no caso de Lily, algum rosto familiar.


- Ali! Ele está ali! Também podia, camuflado no meio dos seus colegas... – ela disse, apontando com o garfo discretamente.


Era um garoto meio arrogante de vista, ar metido, conversando distraidamente com outros sonserinos. Eu não podia negar que ele era extremamente bonito, mas mesmo assim...


- Por que todo esse interesse nele, Lily? – Maria perguntou já maliciosa.


- Ele veio me perturbar na biblioteca – ela deu de ombros. – Pensei que fosse conhecido de alguém. Um mala. Sinceramente, eu tenho que parar de frequentar aquela biblioteca, só encontro gente que não quero.


- Mas ele é incrivelmente... – Maria buscou a palavra, espiando-o mais uma vez. – Jeitoso.


- Jeitoso? – Dorcas, repentinamente, apareceu na conversa. Lily se engasgou, corada, enquanto Maria dava tapinhas em suas costas. – Filé de primeira! Como é que eu não tinha visto? Obrigada, Evans, mesmo sendo a pessoa que é, você acabou por salvar minha vida.


- Como assim... – Lily disse abafadamente, ainda recuperando-se do engasgo. – Sendo a pessoa que eu sou?


- Sabe como é, meio ignorante e metida a popular – ela puxou um prato de sopa. – Entre outros defeitos físicos que prefiro não comentar.


- Francamente! – Lily reclamou, indignada, afastando-se de Dorcas como se ela estivesse com uma doença altamente contagiosa. – Primeiramente, quem é que te chamou nessa conversa?


- O banco é público, querida. Os incomodados que se retirem – disse com um sorriso sínico. Lily suspirou, impaciente.


- Pelo visto você foi abandonada por suas colegas, Meadowes. Pra você ver como nem elas te suportam – comentei, dando meu apoio a Lily. Esta sorriu, aprovando.


- O problema, Brown, querida, é que eu não preciso respirar o tempo todo o ar que minhas colegas respiram. Eu posso viver independente, e não sou totalmente solitária para estar somente com elas! – Dorcas retrucou.


- Não é o que parece – Lily tossiu.


Trocamos xingamentos por longos minutos, enquanto eu percebia Maria novamente olhar para a mesa da Sonserina com grande curiosidade. Pelo que eu a conheço, ela estava aprontando alguma. Não, ela não está interessada nele como aparentemente está acontecendo. Não. Ela gosta é de desempenhar sua função de cupido uma vez ou outra.



Remo POV:


Mal entro no dormitório e recebo um bombardeio de perguntas vindas de James e Sirius. Enfim, eles me contaram que já haviam falado com Moreau, e Sirius parecia prestes a vomitar com a ideia de participar de algo como aquilo. Afinal, foi ótimo o conselho que Emelina me deu, dizendo que foi mais ou menos assim que ela trouxe Dorcas e Sophie para o coral também. E, agora, tenho que dar os créditos a ela.


- Como é que canta?


- Que música?


- Quais cantores?


- Quem toca?


- Dói?


- Calma, calma – falei, rindo, ainda mais com as perguntas de mal gosto de Sirius. – Respondendo uma de cada vez... Você canta com as cordas vocais, o óbvio. E não adianta negar, Pontas, já te ouvi cantar no chuveiro. Sua voz é legal até – falei, e ele bufou. – A música e os cantores é você que escolhe, mas eu sugiro bandas trouxas, coisa que todo mundo conhece. Bandas bruxas são meio superficiais...


- Você é que pensa. Adoro o som de Os Hipogrifos – Sirius tocou uma bateria imaginária.


- Quem toca são os músicos e instrumentistas que foram contratados por Dumbledore, aqueles hospedados em Hogsmeade – ignorei Sirius completamente. – E não, não dói cantar. Ao menos que você tente gritar até suas cordas vocais estourarem.


Sirius arregalou os olhos, um sorriso se abrindo.


- Não, Almofadas – balancei a cabeça. – Não adianta fingir que canta mal. Moreau percebe e Lily tentou fazer isso...


- Eu não vou conseguir cantar – James disse meio preocupado. – Nunca cantei na frente de alguém em toda minha vida!


- Pontas, você enfrenta um lobisomem todo mês e a TPM da Lily. Agora está com medo de um simples coral? – Rabicho riu, seguido por mim e Sirius.


- Concordo com Rabicho, não é tão ruim assim – me joguei na cama, meio cansado. – Afinal, por que não entra no coral também Rabicho?


Ele me olhou profundamente, bufou, e encheu a boca de chocolate. Já entendi a resposta.


- Ei Aluado, por que você não ajuda a gente? – James sugeriu, mordendo o lábio. – Sei lá, meio como Sophie e as outras...


As gargalhadas de Sirius poderiam acordar o castelo inteiro.


- Fico imaginando nós três cantando e dançando daquele jeito! – ele se balançava, quase se engasgando. – Vamos lá Pontas, vamos cantar I Say a Little Prayer...


- Nossa, que engraçado – James disse, irônico. – Então, o que você acha?


- Não é uma má ideia – respondi, bocejando. – Vou falar com os outros garotos também.


- Mas por favor, nada de Dionne Warwick – James falou, o que causou mais risos a Sirius.


- Você... sabe... o nome... da cantora! – ele disse, tossindo e gargalhando ao mesmo tempo. Me entreolhei com James.


- Minha mãe escuta e consequentemente eu acabo sabendo, seu idiota – James disse, vermelho de raiva. Sirius zombou ainda mais, e James suspirou, desistindo.


- Sendo assim, vou falar com eles. Quero dizer, menos com Franco...


- O que tem eu? – o mesmo acaba de entrar no quarto, meio irritado. Bateu a porta com força, tirou o suéter com mais força que necessário, quase rasgando o pano.


- Er... falávamos... Por que você está assim, cara? – James perguntou, fugindo estrategicamente do assunto.


Franco, de cara amarrada e sem mesmo vestir os pijamas, já foi entrando nas cobertas, falando palavras entrecortadas, raivoso.


- Alice... com aquele tal de... – ele disse, quase esmurrando o travesseiro ao tentar amaciá-lo. – Matt.


- E você está com ciúmes? – Sirius perguntou com desdém. Nem nos demos conta de que ele havia parado de rir idiotamente. – Sendo que nem está com ela?


- Não é ciúmes – Franco corou tão rápido quanto Lily fugindo de James hoje depois da aula de Poções. – Eu só...


- Gosta dela e mesmo que não tenha nada se sinta incomodado por qualquer garoto estar próximo demais dela – foi James que completou, o olhar vago. Era claro a coincidência daquele comentário, e isso fez Sirius revirar os olhos.


- É – Franco concordou, baixo.


Não teve mais assunto aquela noite. Sirius porque, em sua opinião, esse papo de gostar de alguém de verdade era uma completa perda de tempo. James porque pensava em Lily como sempre. Franco porque ainda controlava sua raiva pelo tal garoto amigo de Alice. Pedro porque já estava do décimo quinto sono. E eu... Bem, eu porque eu ainda tentava me encaixar em um dos motivos acima.


Acho que estou no time de James, apesar da pessoa referente não ser a mesma.



Sean POV:


Eu ainda ouvia a reclamação de Ben com Jenny sobre o fato de ela ter o forçado a ir para a biblioteca no almoço. De acordo com ele, parecia estar prestes a morrer por falta de alimento no estômago.


- Mas que diabos você quer fazer aqui? – Ben reclamou, acariciando a barriga com uma careta estranha.


- Esqueci de uma redação de McGonagall! Para o próximo tempo! – ela disse, escrevendo rapidamente. Sua letra, pelo que eu vi, estava num garrancho total, além do fato dos grandes espaçamentos entre as palavras para dar a impressão de gastou todos os centímetros pedidos.


- Pois não é por causa disso que eu e Sean temos que ficar aqui com você! – ele se pôs de pé, finalmente. – Você não precisa da gente pra fazer essa redação idiota! Sean está no quinto ano, eu no sexto, você no sétimo. Impossível te ajudar.


- Vocês vão ficar aqui! – Jenny insistiu, mandona, mas mesmo assim sem tirar os olhos do pergaminho. – Somos amigos, lembra?


- Não precisamos provar nossa amizade morrendo de fome! – ele protestou. Outro cabeça-dura. Quando esses dois se juntam para discutir é sinal de furacão se aproximando.


- Mas... – ela falou, decidindo entre esgarranchar a redação ou nos enfrentar.


- Mas nada! Vamos, Sean – Ben me puxou pela toca das vestes e me arrastou pra fora da biblioteca. Sempre sobrava pra mim, o que eu já havia me acostumado. Nem queria ver a expressão assassina e a bronca de Jenny mais tarde.


Ouvi mais reclamação de Ben durante todo o caminho, mas fui salvo do falatório por uma garota conhecida vindo em nossa direção, meio atrapalhada com seu material, remexendo em sua mochila.


- Olá, Lina! – interrompi Ben bem a tempo dele soltar um de seus mais longos palavrões.


Ela se assustou, visivelmente não notando eu ali. Então sorriu.


- Ah, olá Sean! Desculpa, não te vi aí... – ela se desculpou, até seu olhar cair em Ben.


- Este é Benjamim Chapman – apresentei-os, aliviado que ele tenha parado de falar pelo menos um pouco. – Ben, essa é Emelina Vance. É do coral também.


Eles apertaram as mãos, e Emelina sorria bobamente, as maçãs do rosto rosadas.


- P-prazer – ela gaguejou, e Ben sorriu, galanteador.


- Bom, então vamos – falei depressa, repentinamente incomodado. – Estávamos indo para o Salão, sabe...


- Tudo bem. E eu para a biblioteca – ela disse, apontando para os livros que segurava em um braço.


- Cuidado, hein? – Ben alertou. – Tem uma garota meio estressada por lá. Eu ficaria longe dela se eu fosse você.


Emelina riu, como se os dois tivessem esquecido que eu estava ali.


- Você não estava com fome, Ben? Vamos! – disse, impaciente.


- Até mais, Emelina – Ben disse gentilmente.


- Até – ela acenou para nós, embora olhasse apenas para um de nós.


Ben ficou sorrindo por um grande período do tempo, ao qual eu fingia o ignorar com todas minhas forças reunidas.


Aquilo me deixou extremamente chateado. E eu nem sei por quê.



Maria POV:


As aulas passaram mais depressa do que eu previra, e isso me deixou feliz. Quero dizer, tirando o fato de milhões de exercícios de Flitwick e McGonagall nas costas. Francamente, não poderia nem dar um descanso? Eu sei, eu sei... Os N.I.E.M.s estão próximos e tudo o mais, mas mesmo assim, somos humanos e não máquinas movidas a Feitiços para Animar.


- Tenho que devolver esse livro na biblioteca – Lily disse, tirando da mochila um livro mais grosso que meu braço. – Encontro com vocês mais tarde.


- Vai encontrar com o loiro bonitão, Lily? – brinquei, mas ela não riu.


- Espero que não. Por mais que ele tenha me ajudado a encontrar o livro não fui muito com a cara dele não. É meio que uma mistura de James Potter com Dorcas Meadowes e Veronica Gravelle. Imagina tudo isso junto – Lily estremeceu, fazendo uma careta.


- Digamos que James seria o antídoto e a mistura ficaria perfeita! – Alice riu, seguida por mim. Lily revirou os olhos.


- Até mais – despediu-se, sumindo na carreata de alunos indo até o Salão.


- Maria, viu o Franco por aí? – Alice perguntou, pondo-se na ponta dos pés para ter uma visão melhor.


- Andou perdendo o namorado, é? – bocejei. – De qualquer modo, não. Não o vi.


- Ele anda meio afastado – Alice murmurou, torcendo as mãos. – Meio que foge de mim nas aulas e me evita nos outros lugares. Será que eu fiz alguma coisa pra ele estar com raiva de mim?


- Bom, o melhor é você perguntar isso pra ele, não é? – sugeri. Ela assentiu, ainda confusa.


Mas me arrependi de ter dito isso. Alice anunciou procurá-lo nas estufas, lugar que ele sempre costumava estar, e me deixou sozinha. Minhas amigas são tão ótimas que as vezes até me surpreendo.


Solitária, cheguei ao salão. Sempre eu era uma das primeiras a chegar pra jantar, enquanto outros optavam por ir para o dormitório devolver o material, ou os nerds como a Lily e Emelina corriam para a biblioteca.


- Está sozinha? Que peninha... – ergui a cabeça para ver o McKinnon idiota se sentar ao meu lado. Segurei o garfo com mais força que o necessário.


- Nem vem me atormentar, seu mequetrefe arrogante e miserável – rosnei, e ele ergueu as sobrancelhas.


- Boa tarde para você também – ele sorriu.


Fiquei o encarando, ainda tentando por na cabeça que ele não estava ali. Esperava que ele explodisse e tudo ficasse normal e tranquilo, tal como eu estava momentos antes de sua chegada. Mas ele não sumiu. Ao contrário, encheu a boca de arroz e sorriu, de propósito, mostrando uma grande quantidade de comida nos dentes.


- Que nojo – murmurei. – Escuta aqui, você viu quantos lugares vagos tem nessa mesa? Por que é que você foi se sentar justamente do meu lado, seu retardado?


- Por que te infernizar é divertido – ele deu de ombros com uma indiferença absurda.


Me levantei, saquei minha varinha e conjurei uma cadeira, aproveitando meus ótimos resultados na aula de Transfiguração. Pra sorte do indivíduo, eu tinha escolhido uma cadeira de madeira fina e flexível. Guardei a varinha casualmente de volta na minha mochila e segurei a cadeira fortemente. McKinnon se virou a tempo de me ver socar o objeto na sua cabeça. Ele cai de lado, inconsciente, os pedaços de madeiras em fiapos caindo das minhas mãos para se juntar a seu corpo no chão. Volto a me sentar e continuo a jantar tranquilamente, muito mais calma.


Mas, é claro, isso não aconteceu de verdade. Mas queria que tivesse, queria mesmo. O máximo que consegui fazer é lhe lançar um olhar mortal do tipo "cala-sua-boca-se-não-quiser-morrer", e voltei a meu jantar com um tanto de relutância.


- Sabe, hoje estou de bom humor – ele falou, tomando um gole de seu suco de abóbora. Tomara que esteja envenenado.


- Pois eu não – falei, aborrecida e com um quê de sinceridade. Ele deu uma risadinha. Argh.


- Você é extremamente engraçada – ele me deu uma cotovelada de brincadeira, e quase eu devolvo na mesma moeda, mas com a intenção de atingir seus órgãos internos.


Comecei a comer com mais pressa, totalmente me segurando para não sair dali chutando aquele idiota. Ele percebeu, e colocou mais comida no meu prato.


- Você está muito magra. Precisa se alimentar melhor – disse, seriamente.


Ele estava bêbado.


Não tenho dúvidas. Ele estava sim.


- Sabe McKinnon, se eu fosse você tomaria um banho de água bem gelada – rebati, afastando de mim o prato que ele havia preenchido com mais comida.


- Por quê?


- Dizem que cura as pessoas da loucura – peguei minha mochila e joguei sobre o ombro. – E você está precisando. Urgentemente.


Ele riu, uma risada meio falsa.


- A não ser que você queira tomar banho comigo também – falou.


Essa eu não consegui responder. Mas o que foi isso?


- Ah é? – uma ideia bateu na minha cabeça, e me surpreendi de isso ter saído de mim. – Pois tenho certeza que com você – olhei-o de cima a baixo -, vou me decepcionar muito.


Ele ergueu as sobrancelhas, e quando me dei conta já havia me sentado novamente.


- Não me subestime, senhorita – ele deu um sorriso malicioso. – Posso ser melhor do que você pensa.


- Desculpa, mas sou muita areia para seu caminhãozinho de brinquedo – soltei uma risada pelo nariz. MAS QUE CONVERSA ERA AQUELA?


- Eu posso te provar – ele se inclinou pra mim, e eu fiz o mesmo.


- Duvido – desafiei.


Ele olhou bem nos meus olhos, por um longo período de tempo.


Então gargalhou. Ficou ali, rindo feito uma hiena descontrolada, e eu esperei, surpresa.


- Eu nunca ficaria com... alguém... feito você! – ele soltou, assustando os alunos próximos. – Te enxerga!


A essas alturas eu já tinha ficado da cor das roupas vinho do Professor Slughorn, então num pulo peguei o suco de abóbora mais próximo e entornei em sua cabeça. De novo.


Bom, pelo menos ele parou de rir, mas as outras pessoas que assistiam à cena tomaram seu lugar.


- Quando eu disse sobre seu caminhãozinho de brinquedo... – xinguei, irritada. – Eu não estava brincando.


E coloquei o copo no topo da sua cabeça e saí caminhando, meio indignada e meio estupefata.


Bem feito, Maria, sua idiota. Brincadeiras idiotas de conversas idiotas com pessoas idiotas consequentemente te levam a ser uma pessoa idiota!


Idiota!



Sirius POV:


Era a primeira vez que eu entrava naquela sala. Pra falar a verdade, acho que é a única sala daquele castelo que eu nunca havia entrado, quero dizer, pelo menos até ela se tornar a sala de música. Mas o motivo de nunca ter ido até lá era por falta de interesse.


Era um lugar legal até. Cheio de uns instrumentos lustrosos que com certeza ficaria incrível no meu quarto – me fazendo imaginar, com hilaridade, a cara que minha mãe faria. Tinha cadeiras ali, pergaminhos anotados ali, CD's, livros... Era até agradável.


No momento alguns homens que eu já vira por aí, mas também nunca tive curiosidade de saber quem é, estavam postos em seus instrumentos, por vezes conversando entre si, animados ou nos observando. Pareciam amigáveis, e também com um jeito de estrangeiro.


Eu e James chegamos na sala um pouco em cima da hora, pois eu estava com Patrícia Sewood, Corvinal. Acabamos nos atrasando um pouco, altura em que James reclamava na minha cabeça.


Remo já nos esperava, junto a Jason McKinnon e um garoto que eu lembrava que estava junto com eles no dia da primeira competição – e que deu aquele mortal que me fez ficar surdo com a gritaria. Parecia aquelas pessoas que estavam sempre rindo, seja porque ele parecia incrivelmente risonho ou pelo fato de ter aparência oriental. Nunca se sabe.


- Se perderam, foi? – Remo perguntou, brincando.


- Almofadinhas atrasou – James resmungou, mal humorado.


- Quem? – o garoto perguntou.


- Eu – falei, entediado.


- Almofadinhas? Esse era o apelido meu tio Germando, ele tinha um traseiro enorme e tinha mania de dormir de bruços. Assim os gatos adoravam usar seu traseiro como cama – ele contou, e Remo e James riram descaradamente. Não achei tanta graça assim, e nem McKinnon. Visivelmente ainda estava tentando entender a piada.


- Legal – falei, irônico, já que Remo e James continuavam a rir.


- O ruim era de noite. Os gatos mexiam muito e acabavam arranhando o traseiro dele. Por isso ele sempre acordava dizendo estar com dor no...


- Já entendemos – Jason riu, e dessa vez foi impossível não me juntar a James e Remo. Ficamos um bom tempo rindo.


- Bom, conheçam o palhaço e mascote do grupo. Esse é John Khan – ele se adiantou e cumprimentou-nos.


- Prazer. Eu já conheço vocês de vista, e devo dizer que quando eu crescer quero ser igual vocês – ele disse em tom de brincadeira.


- Obviamente vocês conhecem Jason também – Remo apontou para ele, que acenou brevemente.


- E cadê os outros? Não tem outros garotos que vinham? – James perguntou, sentando-se numa cadeira próxima.


- Franco não apareceu, o que é bom, já que... bom, ele não é lá dos cantores – Remo mordeu o lábio. – E Sean disse que tinha muitas redações para fazer.


- Certo, então vamos começar – James logo pôs-se de pé, com uma animação ridícula em minha opinião.


- Ok – Remo sorriu. – Eu escolhi uma música, acho que agrada a todos. Mas vou precisar de uma segunda voz principal além da minha...


- Voz principal? – perguntei, odiando tudo aquilo.


- Voz que se destaca, Almofadas – Remo explicou. – James...


- Mal comecei a cantar e você quer que eu tenha voz principal? – James reclama, surpreso.


- Eu canto – uma voz ausente da conversa falou. – Andei me aquecendo.


Remo e John olharam admirados para Jason, que anteriormente só estava olhando para seu violão. Ainda me pergunto por que James me forçou a trazer o meu. Pareci um idiota andando com isso pra lá e pra cá, e quase Sewood me pediu para que eu tocasse pra ela. Fala sério!


- Acha que consegue? – Remo perguntou, meio hesitante.


McKinnon assentiu mais uma vez.


- Tudo bem – Remo deu de ombros. – Eu faço o rap.


Idiota. Tudo aquilo era muito idiota e meu desejo era sair dali o mais depressa possível. Eu não acredito que o veado do James estava me forçando a fazer isso.


- Olá, garotos. Desculpem a demora – o Prof. Moreau entra na sala, sorridente, depositando sua maleta em cima do piano. – Vejo que já estão se organizando.


- Sim, está tudo certo – Remo informou, dando-nos a letra. Eu conhecia a música, assim como James e os outros. Pelo menos ele não escolheu Madonna ou algo do tipo.


- Então, podem começar – Moreau falou.


Eu e McKinnon ajeitamos o violão, enquanto Remo ia até mais próximo dos músicos. James parecia mais perdido do que cego em tiroteio, meio desconfortável.


Ouvir: Billionaire


- I wanna be a billionaire so fricking bad, buy all of the things I never had – McKinnon começou, mandando ver no violão. Era um dos modelos mais antigos, percebi, e por isso realmente incrível. Vi Remo se entreolhar assustado com John, e não entendi o porquê. – I wanna be on the cover of Forbes magazine, smiling next to Oprah and the Queen…


Moreau também parecia boquiaberto, e olhei para James, que perguntava o mesmo que eu.


- Oh every time I close my eyes, I see my name in shining lights… Yeah, a different city every night oh, I swear the world better prepare, for when I'm a billionaire!


- Yeah I would have a show like Oprah, I would be the host of everyday of Christmas, give a wish list – Remo chegou cantando, entusiasmado. Para ele é fácil, afinal, já estava acostumado. Eu sentia a pressão entre mim e James nos perguntando que horas poderíamos cantar, e enquanto isso Aluado cantava familiarizado com os músicos. Enquanto isso, Khan dançava com passos totalmente nunca vistos por mim, o que, por incrível que pareça, estavam me surpreendendo.


Eu, sem saber o que fazer, agradeci a Merlim que eu sabia os acordes. Até, novamente o refrão, fiz sinal para Pontas, e cantamos.


- Oh every time I close my eyes, I see my name in shining lights… yeah! A different city every night oh, I swear the world better prepare, for when I'm a billionaire! – cantávamos, e, Merlim o que é isso, foi uma experiência divertida. – Ooh ooh…


- When I'm a billionaire! – McKinnon sorriu.


- Oh oooh… for when I'm a Billionaire!


Khan, a essas Alturas, já estava dançando break meio improvisado. Os olhos de Moreau pareciam lanternas de tanto que brilhavam.


- I wanna be a billionaire so fricking bad – finalizamos, com o último acorde de nossos violões.


Moreau colocou-se de pé em meio a palmas, sorriso de orelha a orelha. Apesar de ter apreciado aquele momento, ainda torcia para que ele não nos aceitasse.


- Jason! Jason! – ele bateu no ombro do garoto. – Quem diria! Tínhamos uma voz secreta no clube e não sabíamos!


Minhas questões, enfim, foram explicadas. Jason parecia satisfeito, e pelo visto nem ele mesmo acreditava que havia cantado e tocado tão bem.


- Isso foi incrível! Por que não tentou cantar antes?


- Estava com um pouco de medo – ele explicou. – Mas Sophie me convenceu a cantar.


Sophie. Tinha que ser.


- Perfeito da parte dela! Vou providenciar notas mais altas para você nas canções. Mas agora... – ele se virou para mim e para James. – Vocês dois.


- Fomos ruins? – James perguntou imediatamente, e Moreau sorriu.


- Gostei da voz de fundo. Percebi bem e são bem afinados – ele disse. – Quem sabe até não saibam cantar como nosso amigo Jason aqui!


Nós dois rimos, nervosos. James porque queria entrar e eu porque queria sair dali.


- Sejam bem-vindos. Precisávamos de vozes masculinas. Próxima reunião será amanhã.



Lily POV:


Como de costume, fiquei uns bons quinze minutos na biblioteca, tempo o suficiente para devolver o livro, levar uma bronca da Madame Pince, ler um pouquinho, levar outra bronca da Madame Pince, procurar outro livro interessante, levar novamente uma bronca de Madame Pince...


Essa mulher me odeia.


Escutando meu estômago implorar por comida, devolvi um livro meio macabro de Defesa Contra as Artes das Trevas em sua respectiva prateleira, e me dirigi à saída. Antes, porém, lembrei-me daquele garoto, o loiro impertinente e metido.


Só por curiosidade – somente curiosidade! – fui até a seção das enciclopédias. É claro que ele não estaria ali... Quando disse "qualquer dúvida procure na seção das enciclopédias" ele se referia aos livros, e não a ele próprio! Não sei da onde eu tirei essa ideia, e mesmo assim isso não seria motivo para eu ir até lá. Quero dizer, se eu soubesse que ele supostamente estaria ali eu não ia até lá! Mas como eu tenho certeza que ele não está eu vou lá, porque seria improvável que ele estivesse.


Caminhei meio lentamente até a fileira que começava a seção e... Viu? Vazia. Não havia ninguém ali. E nem na segunda, e nem na tercei...


Tinha um garoto em pé na terceira fileira. Folheava interessado um livro qualquer; coçava a cabeça, negava, devolvia o livro. Fez isso mais duas vezes até me ver ali, parada, ainda chocada que ele realmente estivesse ali.


Pareceu surpreso de início, mas então sorriu.


- Lily! – ele cumprimentou, caminhando até a mim. Quem tinha dado tanta intimidade a ele? Eu não me lembro... – Então nos vimos novamente!


- Er... oi – falei, constrangida. Desconfiaria ele que eu estava quase meio que mais ou menos ou não procurando por ele? Estou enrolando tudo, Merlim. – Eu estava...


- ... me procurando? – seus olhos brilharam de satisfação. Balancei a cabeça rapidamente.


- Procurando um livro. Como sempre – respondi, tentando deixar minha droga de voz firme. – E você?


- O mesmo – ele acenou com o polegar para a estante. – Que livro está procurando?


- Algum que me ajude na redação de Feitiços – dei de ombros, fingindo indiferença. Então o testei. – Sabe de algum bom?


- Claro! – disse, sorridente – de novo -, me conduzindo até a quarta fileira. Eu não esperava por isso. Pelo visto a seção das enciclopédias era a morada dele ou algo do tipo.


O que se sucedeu foi: fiquei mais meia hora ali, na biblioteca, com um estranho. Ele me chamava de Lily o tempo todo e eu me mordia para não dar um belo de um xingo nele, mas me controlei. Ele estava me ajudando e mostrando livros que eu nunca imaginaria que tivesse em Hogwarts. Tinha milhares de livros escritos por nascidos trouxas, que com a ajuda de trouxas que posteriormente teriam a memória removida, faziam comentários no canto da página sobre cada feitiço. Nunca tinha visto nada de interessante, e pelo visto o garoto loiro achava isso também. Dizia ele que, mesmo sendo sangue puro, era um dos poucos sonserinos que não tinha preconceito com esse tipo de coisa, e é por isso, inclusive, que ele estava conversando comigo. Quase deixei escapar que os amigos dele não mostravam isso, mas guardei pra mim.


Minha fome tinha passado. Pouco depois eu já estava o chamando de Jessie, porque saía totalmente involuntário. Conversávamos de tudo que é matéria, livros, professores, feitiços, nada muito privado. E eu estava me divertindo. Com um sonserino. Que eu mal acabara de conhecer. E isso estava me assustando.


E, quando dei por mim, já eram quase dez horas da noite e quando Madame Pince nos descobriu ali alegando que estávamos "atuando com total falta de vergonha na cara", fazendo eu corar até não poder mais, fomos expulsos de lá aos xingos. Eu e Jessie não resistimos, e começamos a rir.


- Bom, foi divertido – ele comentou, ainda rindo.


- Sim – concordei, então consultei o relógio. – Tenho que ir, Jessie. Muita coisa pra fazer, e acabei me esquecendo de comer.


- Certo. Volte qualquer dia até a seção das enciclopédias. Eu estarei lá – ele piscou com um sorriso travesso.


- Ok – acenei, e o vi afastar.


Quem diria Lily Evans? Quem diria? Você, monitora responsável, pura grifinória, criando laços com um sonserino metido? Quero dizer, metido aparentemente. Ele não é tão mal...


Balancei a cabeça, sorrindo. Eu devo estar realmente louca.



Franco POV:


Mal saio das estufas e dou de cara com Alice. Não era o que eu esperava ou pretendia, mas aquilo me deixou meio espantado.


- Oi – ela sorriu, nervosa. – Ainda bem que te encontrei, Franco.


Senti aquele djavú, e agora ferrou tudo.


- Pode falar – comecei a caminhar pelo corredor, e ela me acompanhou.


- Pode falar digo eu! – ela começou, já protestando. – O que eu fiz de errado? Você anda se afastando de mim, me evitando! Até parece Lily com o James!


- Não é isso. Só ando ocupado – respondi, amarrando a cara.


- Sei – ela não acreditou, e eu suspirei. – Seja o que for que eu te fiz, me desculpa.


- Você não fez nada, absolutamente nada – falei, falando com rispidez ao lembrar do "Matt". – Não fique se culpando a toa.


- Olha aqui – ela entrou na minha frente, segurando meus braços. Me recusei a olhá-la. – Você está escondendo alguma coisa de mim, e que eu não sei o que é, mas vou descobrir, e essa coisa está te impedindo a ficar comigo!


- Ficar com você? – perguntei com desdém, soltando suas mãos. – Eu mudaria essa frase se fosse você.


- O que quer dizer com isso? – ela franziu a testa.


- Pelo que eu fiquei sabendo... você... v-você está namorando com Tyler – acusei, voltando a caminhar com mais pressa que o necessário.


- Você ficou louco? – Alice exclamou, correndo atrás de mim. – Eu só o estava ajudando com Transfiguração!


- Sempre a mesma desculpa que todos usam – ri com sarcasmo. – James vivia nos contando que adorava ajudar Lily!


- Por que está dizendo isso? Você por acaso está com ciúmes?


Parei de súbito, e por pouco Alice não esbarra em mim. Olhei para ela, sentindo o fulgor em meu rosto.


- Por que todo mundo diz isso? – reclamei, indignado. – Saiba que isso não tem nada a ver!


- Ah é? Não é o que parece! – ela também havia ficado vermelha. – Por que não diz logo o que está sentindo?


- Raiva, muita raiva, é isso que eu estou sentindo! – respondi, até eu me dar conta que estávamos ali gritando no corredor.


- Só isso? Não tem nada mais? Algo que explicaria o porquê desse seu ciúme idiota? – seus olhos começaram a umedecer, mas sua voz mantinha-se inabalada.


- Eu não estou com ciúmes! – gritei em resposta, e saí disparado, pisando forte, em direção a Torre da Grifinória.


Não estava com vontade de jantar, nem ver ninguém. Cheguei ao dormitório, irritado, e por sorte estava totalmente vazio. Saí chutando tudo pela frente, tirei os sapatos e me deitei.


Dormir para mim era o único remédio, e eu espero que isso me curasse.



Emelina POV:


Voltando do jantar, com mais alguns outros alunos que também se dirigiam até a Torre da Grifinória, tive que aturar novamente a discussão de Sophie e Dorcas.


- Ainda não te perdoei por ter fuçado nas minhas coisas, se quer saber! – Dorcas replicava, enfurecida. – Você gostaria que fizéssemos isso com você?


- Você já fez isso comigo – Sophie retrucou. – Lembra no segundo ano? Quando você remexeu no meu malão e achou meu sapo de pelúcia, o Prouch?


- Mas eu te fiz um favor! Coisa mais idiota...


- Eu não achava! – Sophie falou, indignada. – Era uma lembrança da infância! E você fez o favor de espalhar para que todos do castelo soubessem que eu ainda o tinha...


- Foi engraçado, confesse – Dorcas riu maldosamente.


- E com certeza seria tão engraçado se eu espalhasse por aí que você tem um diário – Sophie desafiou.


- Shhhhh! – quase vi as mãos de Dorcas voar para o pescoço de Sophie, que riu. – Mesmo que você conte, ninguém vai acreditar. E mesmo se acreditarem, eu posso espalhar coisas bem piores de você!


- Vem cá, mas que tipo de amizade é essa? – perguntei, ainda tonta com o nível da conversa.


- Só estamos negociando – Sophie disse indiferente, e Dorcas concordou, acenando com a cabeça.


- Mas eu ainda não estou acreditando que você não desistiu de Jason – Sophie balançou a cabeça, reprovando, por pouco não tropeçando num degrau de uma das escadas que se moviam. – Quero dizer, sinceramente! Ele fugiu de você em Hogsmeade!


- Porque é um idiota!


- Porque é inteligente! – Sophie riu novamente. – Deve ser estranho pra você. Pela primeira vez não sair agarrando um garoto de quem está interessada. Pra você ver como, afinal, Dorcas Meadowes pode falhar também.


Dorcas bufou.


- Quer saber de uma coisa? – ela apontou o dedo acusatoriamente para Sophie, altura em que já estávamos em frente a entrada do retrato da Mulher Gorda. – Eu não desisti! Ainda vou ficar com o seu irmão!


- Há! Duvido! – Sophie bufou, falando a senha para uma Mulher Gorda interessada no assunto, e que não queria nos deixar entrar para ouvir a conversa. – Se ele fugiu de você, acredite, ele não quer nada. Sem falar que ele pode estar interessado em outra...


- Como assim? – Dorcas se esganiçou, enquanto eu convencia a Mulher Gorda a abrir o retrato; entramos na sala, atualmente meio lotada pelas conversas.


- Vi e ouvi coisas, escutei boatos... – Sophie falou metodicamente.


Me ocupei fazendo alguns exercícios atrasados, enquanto Dorcas insistia com Sophie para que ela revelasse quem seria a pessoa supostamente envolvida com Jason. Sophie apenas ria, e Dorcas dizia que mais cedo ou mais tarde ela descobriria isso falando com Gravelle, mas Sophie rebatia, dizendo que ela provavelmente também não sabia, e que se Dorcas perguntasse Gravelle suspeitaria e espalharia para todo o castelo que ainda estava interessada em Jason. Ainda me pergunto como a história de que Jason havia fugido dela ainda não caiu nos ouvidos de todos, mas Dorcas, digamos, era insignificante de atenção para os outros, que, na maioria, foi atingida por ela mesma com algum boato.


Só sei que continuei avoada, pensando naquele garoto com Sean.


Olhos cor de mel, cabelos escuros e penteados para o lado...



Remo POV:


Não posso esconder o fato de que estou totalmente satisfeito por Sirius e James terem entrado no coral. Sirius insistia que queria sair o mais rápido possível, dizendo que é uma idiotice, perda de tempo, coisa de gay etc... Só as mesmas baboseiras que saem da boca dele. James, por outro lado, estava satisfeito também, supondo como seria a reação de Lily ao saber que ele está no coral também.


Coisa, que aliás, ninguém sabe ainda. Sirius pediu segredo absoluto para todos que sabiam, dizendo que queria aproveitar a boa reputação pelo menos até sexta. Eu sabia que seria o boato mais escandaloso de todo o castelo nesse ano, pois, afinal, eram os marotos. Rabicho, que era o único daquele dormitório que não participava do coral agora, ficava meio perdido no assunto. E Franco mal sabia da novidade; chegamos do jantar e ele já dormia – ou, pelo menos, parecia que dormia.


James continuava a fazer seus comentários enquanto Rabicho já dormia, e Sirius já estava deitado em sua cama, não sabendo se acompanhava o que James dizia ou não. No momento ele comentava sobre John, que parecia totalmente um maroto promissor. Depois de sairmos da sala de música, James, Sirius e ele ficaram um bom tempo conversando sobre armadilhas nos corredores e passagens secretas, assim como John perguntava, interessado, como é que eles conseguiam escapar de tudo o que faziam. Visivelmente ele parecia um fã deles, ou melhor, nosso, quando John incluiu eu e Rabicho entre seus "ídolos", disse ele.


Sirius também parecia ter gostado de John, apesar de que foi por causa dele que agora James o apelidou de Germando. Ele não ficou agradado com isso, então preferia comentar sobre o motivo de ter chegado na mesa do jantar hoje com a boca meio avermelhada. "Aproveitando o fato de que amanhã não vou desfrutar dos bônus que a popularidade me propõe".


E o resto da noite passou assim. Acabou que fui o último a dormir; James ficou falando até cair no sono, coisa que Sirius havia feito faz tempo. Franco e Rabicho continuaram imóveis em suas camas, e eu, apenas dei mais uma lida no livro que Flitwick mandou e olhei pela janela. A lua nova brilhava fraca no céu, portanto ainda faltava um bom tempo até a lua cheia, o que me animou um pouco. Fiquei sabendo que Dumbledore se encarregava de marcar as competições do coral para dias diferentes da lua cheia, e isso me fez ficar ainda mais admirado pelo diretor.


Suspirei, evitando pensar naqueles dias. Joguei o livro pro lado e me enfiei nos cobertores. O sono veio rapidamente, junto com imagens embaçadas de um rato, um cervo e um cachorro.



Maria POV:


- Aah, aí está ela! – exclamei assim que Lily veio entrando no quarto. Consegui convencer Alice a ficar acordada por mais tempo para esperá-la voltar ao dormitório, e, assim, tirar-lhe algumas perguntas.


- Olá garotas – Lily cumprimentou sem encarar ninguém, colocando o livro em cima dos outros em cima da mesinha, e tirando os tênis. – Está tarde para estarem acordadas, hein?


- E está tarde pra você chegar nessas horas. Onde estava? – perguntei, sem rodeios. Lily não alterou sua expressão; apenas começara a colocar o pijama.


- Fazendo ronda – respondeu.


- Mentirosa – acusei, e Lily suspirou altamente. – Quinta não é dia de você fazer ronda.


- Mas se der na telha, eu faço – ela deu de ombros.


- Você vive reclamando que odeia fazer ronda, que te cansa demais e blábláblá. Por que você faria ronda assim, do nada? – falei. – Sabe, quando você diz que estava fazendo ronda sem ser sua vez de fazer ronda, é sinal de que está mentindo. Isso já aconteceu antes, né Alice?


Ela havia dormido. Mas é uma traíra mesmo...


- Argh, tá bom! – Lily rendeu-se, se deitando. – Estava na biblioteca.


- Eu sabia! Com o tal de St. James né? – perguntei interessada, me aprumando na cama.


- Ele me mostrou alguns livros. Não é tão desagradável.


- Isso vai dar namoro – balancei a cabeça, rindo. – Mas sabe, até aprovo.


- Não vai dar namoro... – mesmo não vendo seu rosto claramente, dava pra sentir o calor do seu rosto daqui. – E como assim, aprova?


- Já estou cansada do seu rolo com James. Francamente, são três anos de tentativas dele e negações suas! E quando eu finalmente pensei que ia finalmente dar certo... BLOSG.


- Blosg? – Lily perguntou de sobrancelha arqueada, rindo.


- Sim. Blosg. A gosma verde da primeira competição e o fato de que você esteja acusando James sem saber se foi ele ou não. Eu sei – cortei, quando ela suspirou -, você é cabeça dura e tudo o mais, mas essa é minha opinião. E por causa desse incidente parece que tudo foi por água abaixo e agora o jeito é partir pra outra.


- Eu nem conheço o garoto direito. E ele é da sonserina. E entenda Maria, eu não vou namorar com um qualquer que acabei de conhecer!


- Mas St. James não é um qualquer – apontei para ela. – Ele é bonito e carismático, o que você anda precisando.


- Um James versão estendida – Lily resmungou, mas pelo visto se arrependeu de ter dito. – Quero dizer, James não é bonito. Assim, bonito... bonito. Ele é, mas... enfim, isso é idiota. Só faltava você me forçar a namorar com Sean!


- Não, não. A não ser que você aceite ser papa anjo – falei, e ela estreitou os olhos. – E Sean parece meio...


- Meio...?


- Afeminado.


- Ele é tímido – Lily defendeu, embora tivesse ficado pensativa. – Você acha que ele é...


- Gay? Não sei. Mas não importa, ele é uma graça – dei de ombros, e Lily riu.


Ficamos um tempo em silêncio. Lily apenas ficava ali, navegando em pensamentos, enquanto eu navegava nos meus.


- Já percebeu que todo o garoto que tem probabilidades de ter algum relacionamento romântico com você geralmente te irrita primeiro? – comentei. Lily ergueu os olhos, expressão de discordância; balançou a cabeça, deu boa noite e fechou o acortinado da sua cama.


Fiz o mesmo, embora eu soubesse que dei a Lily muita coisa pra pensar. E foi assim, pensando em garotos, que tive um sonho estranho naquela noite. Sonhava que eu e Lily estávamos voando no campo de quadribol quando, de repente, eu me desequilibro e começo a cair. E adivinha o que aconteceu?


Fui salva por um guaxinim gigante. Agora eu me pergunto: o que diabos um guaxinim gigante estava fazendo nos meus sonhos? E como ele me salvou? Francamente...


Decidi averiguar depois, dando uma boa olhada nos meus livros de Adivinhação.



James POV:


Acordei anormalmente animado hoje. Afinal, hoje era oficialmente o dia em que eu e Almofadinhas entraremos no coral, para que assim eu finalmente mostrasse a Lily que eu não era idiota e que não fui eu que joguei aquela gosma verde neles. Ainda me pergunto por que ela insiste em desconfiar tanto de mim. Certo, confesso que eu aprontava mais do que devia, mas nada justifica e comprova que eu fiz aquilo. Apesar de eu ser a principal suspeita, reconheço, ainda assim há milhões de outros alunos no castelo que ama tirar onda por aí e que provavelmente fizeram isso para se divertir.


Mas não fui eu.


E a culpa é do Sirius. Que me fez segurar uma droga de sutiã da Beth Cox, que ele fez questão de guardar na sua "gaveta de recordações preciosas". Já imagino o número de peças íntimas femininas que tem naquela gaveta.


E por falar nele, diferentemente de mim, acordou com um mau humor do cão, literalmente. Não falou muito quando acordou ou quando nos dirigíamos para a mesa do café, ou até mesmo no café; não fez algum tipo de comentário. Quando falávamos com ele, ele simplesmente rosnava alguma coisa e fingia ignorar. Achei muito engraçado e Aluado também, que estava tão bem humorado quanto eu.


Seguimos as primeiras aulas assim, as quais Lily mantinha máxima distância de mim e quando me olhava parecia esperar que meu cérebro começasse a derreter e saísse pelas narinas. Achei engraçado.


Eu e Aluado ainda zombávamos de Sirius até a hora do almoço.



Maria POV:


Sonhar com guaxinim é sinal de bom humor e limpeza. Sonhar que está caindo é sinal de indecisões. Sonhar com quadribol é sinal que alguém não gosta muito de você...


McKinnon. Tentei absorver as monótonas aulas de Adivinhação para constatar que: McKinnon, de bom humor, me odeia e também odeia limpeza porque é meio indeciso.


Não faz muito sentido... Mas que Jason me odeia isso eu sei. Assim como eu odeio ele.


E odeio aula da História da Magia, francamente.


E odeio quando sou abordada de novo por uma mão que sai do além. Isso é realmente insuportável.


- O que você quer? Me encher o saco sobre ela de novo? Mas vocês já não saíram? – falei, indignada, soltando tudo de uma vez.


Desde o começo desse ano comecei a ganhar puxões doloridos no braço por Sirius Black, que continuava a insistir sobre Beth Cox. Perguntar quais são suas preferências, se fala dele ou de outro alguém etc. Até que eu dei a dica crucial sobre os sapos de chocolate que ela tanto amava e eles saíram, se agarraram até não querer mais e ponto. E agora eu estava ali de novo, ter que ouvir ele de novo.


- Achei que meus serviços haviam acabado – resmunguei com desdém, e ele sorriu.


- E acabaram.


- Então o que você quer? – perguntei, então entrei em choque. – Não venha me dizer que está me chamando pra sair!


- Não, calma, embora... – ele sorriu, aprovador. Meus olhos faiscaram e ele riu. – Enfim, só queria te agradecer. Só agora me lembrei disso.


- Traduzindo, você quer que eu não conte pra ninguém – deduzi.


- É... Também.


- Ótimo – falei, me afastando. – Adeus.


- Ei MacDonald! Espera aí! – ele gritou antes que eu me afastasse o suficiente e desse meu pulo da vitória. Olhei para ele, e ele sorria como se tivesse tido uma ideia súbita.


- Fala – falei a contragosto. Lá vem bomba.


- Pode fazer outro favor pra mim? Quero dizer, não pra mim diretamente, pra outra pessoa.


- Não – cortei, e ele me segurou de novo.


- Por favoooor – fez uma cara de cachorro pidão, então gargalhei.


- Nem vem. Não sou igual essas garotinhas bobas do castelo que se derretem por tudo que você diz.


E caminhei novamente tentando fugir, até ele gritar de novo.


- Nem por uma amiga sua?


Me virei lentamente, vendo sua expressão mentirosa. Mas não era mentirosa, e sim de júbilo. Droga e droga. Amigas são meu ponto fraco.


- Fala logo – respondi entre os dentes, já me atrasando pra aula de Adivinhação – não que seja tão agradável assim.


- É sobre James. E Lily – ele parecia sem graça. – Já estou cansado de ouvir aquele cara falar nela todo dia e se preocupar tanto com ela. Você daria um jeito?


Levantei as sobrancelhas com tanta rapidez que tenho certeza que elas se misturaram com meu cabelo. Por essa eu realmente não esperava.


Ainda captando o que ele havia falado, comecei a rir.


- Sinto muito, mas... – falei, planejando. Isso ia dar o que falar. – Lily já está em outra. Ou melhor, em outro.


- O quê? – seus olhos se arregalaram, e sua boca se abriu. Foi bem engraçado. – Evans está namorando?


- Não exatamente – pisquei. – Digamos como você e Beth.


Sua expressão mostrou que ele caiu direitinho. Eu havia dito aquilo para que ele pensasse que eu estava me referindo ao fato de que eles estavam se agarrando, mas não falei da época. Falei da época em que ele apenas estava de olho em Beth, interessado nela. Não é? Não foi totalmente mentira.


- Caramba... – ele coçou a cabeça, mal acreditando.


- Bom, adeus – falei depressa, aproveitando seu momento de choque pra picar o pé dali. Ah Merlim, finalmente não ouvi nenhum chamado depois disso.


Era como eu tinha dito antes. Isso ainda vai dar o que falar.



Lily POV:


A última aula do dia era Herbologia. Tive que correr para as estufas, ou melhor, voar. Atrasei mais que o necessário, barrando alguns alunos do sexto ano que estavam jogando a Gosma Verde na cara de alguns calouros. Era de se esperar que isso virasse moda; depois daquele incidente na primeira competição não tinha um único dia que você não passava pelos corredores e via alguém melecado com aquilo, e, quero uma novidade, os "atiradores" principais eram os sonserinos. Outro dia Alice foi atingida e chegou no dormitório mais irritada que o normal – mais do que ela já anda – e mesmo assim insiste em esconder de mim e de Maria. Mas, é claro, ainda vou descobrir isso.


Entrei correndo e dei de cara com Sprout, olhando e aprovando o trabalho de todos. Havia algumas plantas laranjas esquisitas sobre as mesas, que batiam os galhos violentamente. Parecia um Salgueiro Lutador em miniatura, porém nem tão agressivo quanto o original.


- Ah, olá Srta. Evans – ela cumprimentou. – Aconselho a pegar os equipamentos de proteção, essas pestinhas estão nervosas hoje!


Só hoje?


Corri para uma mesa afastada e me equipei tudo com o necessário. Procurei por alguém para fazer par, mas todos estavam ocupados; Maria fazia com Alice, já que ela ainda estava brigada com Franco, o que, fácil de descobrir, era o motivo de sua irritação contínua.


- Evans, ali! – Sprout apontou para um lugar mais afastado da estufa. – Pettigrew, Potter e Lupin estão de trio. Escolha um deles para fazer par com você...


Remo. Remo. Remo. Remo. Remo. Remo. Remo. Remo. Remo. Remo. Remo. Remo.


Droga. Lá vem o Potter na minha direção, triunfante.


- Vamos Lily, eu faço com você – ele sorriu. – A não ser que você saia correndo de novo né?


- Obrigada, mas prefiro fazer com Remo mesmo – virei a cara, irritada.


- Ele preferiu fazer com Pedro – seus olhos brilharam atrás dos óculos de proteção.


- Preferiu, é? Ou você que preferiu sair do grupo? – perguntei, e ele simplesmente deu de ombros. – Ah, vamos fazer isso logo.


Pegamos uma das plantas nervosas e puxamos para perto. A tarefa era aparar seus galhos, atualmente grossos demais para quebrar um osso de uma criança.


- Sirius está matando aula. Não foi sorte a sua? – Potter perguntou, enquanto eu me ocupava em tentar segurar um dos galhos. Fingi não ouvir.


Quando finalmente consegui agarrar um galho, outro veio na direção do meu olho, e me desviei por pouco.


- Cuidado – ele me alertou. – Vamos fazer o seguinte, eu seguro o galho e você corta, ok?


Assenti com a cabeça, me recusando a dizer outra coisa. Potter era bem ágil, nada estranho pelo fato de ser um jogador de quadribol. Logo havia agarrado dois galhos de uma vez e afastando outros, então cortei rapidamente os dois, até ele ter pego mais três e eu cortar novamente. Para não desanimar meu trabalho, decidi não contar os números de galhos ainda restantes.


- Hoje você vai ter uma surpresa – ele comentou subitamente, enquanto eu jogava os pedaços de galhos reparados dentro de uma grande bacia.


- Ah, é? – perguntei, seca. – E o que é?


- Se eu contar vai perder a graça.


Bufei, irritada.


- Ainda não acredito que você ainda acredita que eu joguei aquela gosma em vocês – ele insistiu em conversar, me fazendo querer terminar aquilo o mais rápido possível.


- E eu ainda não acredito que você ainda insiste em conversar comigo.


- Éramos amigos, Lily. E foi você que quis mudar isso – instou, meio amargurado.


- Eu? Quem jogou aquela droga de gosma em mim? Em nós? – frisei a última palavra, e Potter revirou os olhos, quase perdendo a atenção e libertando um dos galhos.


- Eu vou dizer pela quadragésima sétima vez. Não. Fui. Eu – disse, impaciente.


- Prove. O que você escondia atrás de você? O que você estava fazendo no camarim?


- Pergunte para Sirius. É coisa dele.


- E se somos, ou melhor, éramos amigos, você deveria me contar! – rebati, e ele pareceu incomodado.


- O que você faria se eu quisesse saber de um segredo de Maria ou de Alice? – ele perguntou.


- Te contaria. Pois se você fosse meu amigo de verdade não contaria a ninguém – falei.


- Simplesmente eu... Não posso – ele mordeu o lábio, e eu já entendi tudo: foi ele.


- Então, sinto muitíssimo. Não posso confiar em você.


- Mas...


- Agora fecha essa boca antes que eu corte sua língua com essa faca – ameacei, e ele deu uma risadinha desdenhosa.


- Certo – falou, e, por milagre, não fez tantos comentários assim ao longo da aula. Tínhamos criado um bom ritmo onde ele passava simultaneamente os galhos para eu ir cortando, e assim terminamos rápido, deixando a planta bem aparada.


Não me despedi dele quando a sineta tocou, simplesmente corri pra perto de Maria e Alice, que pediam detalhes da conversa. Aliás, Maria pedia. Alice continuava meio emburrada. Eu não quis detalhar muito, porque 1- Conversas com Potter tinham importância zero e 2- Ainda estava intrigada com a tal surpresa que ele havia mencionado. Mas o que é que ele estava aprontando? Será que ia jogar litros de gosma em cima de mim de novo?


Maria estranhou muito enquanto eu olhava repetidamente para o teto.



Alice POV:


Acho que fui uma das últimas a entrar na sala de música depois das aulas. Fui dar uma volta nos jardins para refrescar um pouco a cabeça, pensando que ainda tinha que ficar em uma mesma sala com Franco de novo. Droga, eu não entendo porque ele insiste em complicar as coisas!


- Olá, Alice, era a última que faltava – Moreau confirmou assim que apareci no portal. Me acomodei numa cadeira o mais longe possível de Franco, um lugar onde Lily e Maria tinham guardado para mim.


- Professor, não quero ser chata nem intrometida nem nada... – Dorcas começou. – Mas acho que já devemos escolher nossas músicas para a próxima apresentação! Faltam poucos dias!


- Exato. E as músicas já foram escolhidas, Dorcas, só precisamos saber quem irá cantá-las – Moreau disse, sorrindo. – Além de que já tenho toda a coreografia preparada.


Dorcas se empertigou na cadeira ao ouvir o "só precisamos saber quem irá cantá-las". Já vi tudo.


- E quando vamos decidir isso? – Jason perguntou, anormalmente interessado.


- Em breve, mas agora – Moreau interrompeu, como se quisesse contar algo desde o começo da aula. – Temos uma novidade no coral.


- Receberemos galeões a cada aula? – John falou, interessado, para o riso geral.


- Não, não John. É outra coisa – Moreau sorriu. – Vocês já perceberam que temos um número desigual de garotos e garotas, portanto decidi mudar isso.


- Vá direto ao ponto, professor – Maria bocejou.


- É com prazer que anuncio a vocês nossos dois novos membros! – Moreau caminhou até a porta, animado, chamando alguém invisível. – Sejam bem-vindos...


E dois garotos apareceram no portal. Ambos meio malhados, apesar de magros, um de cabelos negros e despenteados, de óculos; o outro tinha certa elegância, meio disfarçado pela sua carranca de contragosto.


- Sirius Black e James Potter!


- O QUÊ! – Lily e Sophie berraram juntas, tão alto que Emelina, meio alienada no assunto, pulou pra fora da cadeira.


- Deem boas vindas aos nossos...


- NEM PENSAR! PROFESSOR! – Lily reclamou, raivosa e indignada. Sophie continuava boquiaberta em seu lugar, sendo amparada por Sean.


- Qual o problema, Lily? – Moreau ergueu as sobrancelhas.


- QUAL O PROBLEMA? – ela gritou, então percebeu o que estava fazendo e respirou fundo. – Professor, eles... eles jogaram aquela gosma na gente... eles são marotos!


- Vou levar isso como um elogio – James sorriu. Aliás, era só o que ele fazia. Parecia ter ganhado o troféu de quadribol, tão triunfante que estava. Maria ria da situação ao meu lado.


- Ora Lily, não sei da onde você tirou essa ideia de que foram eles – Moreau parecia intrigado. – Mas seja o que for, é muito útil a entrada deles no coral.


- Mas eles nem ao menos cantam!


- Opa, não me subestime – James cantou vitória de novo.


- Cale a boca, não estou falando com você – Lily retrucou, irritada. – Professor Moreau, eu suplico que não tome essa atitude horripilante. Não vê que eles estão tramando alguma coisa?


- Lily, Lily, isso já está virando paranoia – Moreau riu-se, abraçando-a pelos ombros e levando-a de volta a sua cadeira. – Agora teremos um time completo.


- Já estava compleeeeto – Lily birrou como uma criança, e Maria ainda gargalhava. – E eu não gosto deles.


- Caramba, Lily! – agora foi Sirius que falou, meio ofendido.


- Nada contra Sirius, mas é que... – ela parou na frase, querendo eletrocutar James com os olhos.


- Não acredito que você canta, Sirius! – Beth exclamou.


- Pois é – ele deu de ombros, agora mudando sua cara emburrada para uma de pura expressão metida.


Sophie ainda parecia em estado de choque, e Sean a abanava continuamente com um leque conjurado.


- E agora com novos membros teremos uma coreografia em par totalmente correta. Queiram se acomodar, por favor – Moreau acenou com a varinha fazendo surgir outras duas cadeiras onde Sirius e James se sentaram.


Lily olhou a aula inteira para James como se fosse pular em seu pescoço a qualquer momento. Só por precaução fiquei segurando seu pulso, enquanto Moreau explicava tudo a James e a Sirius, o que ocupou um pouco de tempo. Enquanto Sophie recuperava-se do transe, já havíamos começados a aquecer a voz novamente, coisa que Lily nem se deu ao trabalho de fazer. Bom, pelo menos até os cinco últimos minutos de aula.


- Professor – ergueu a mão no ar rapidamente, como fazia nas aulas. – Eu estava pensando que fomos muito mal educados.


- Como assim Lily? – Moreau ergueu os olhos de sua pasta.


- Os dois novos membros chegaram e nós nem ao menos fizemos um número para eles. Isso foi totalmente imprudente – Lily replicou de uma forma estranha.


- Quando eu entrei ninguém fez um número pra mim – Sean comentou baixo, mas calou-se rapidamente ao ver Lily virar a cabeça furiosamente em sua direção.


- Ahn... Ok Lily. Providenciaremos isso noutro dia – Moreau parecia perdido.


- Ah, deixa disso! Podemos fazer um aqui e agora – prontificou-se Lily, colocando-se de pé e caminhando até o famoso centro da sala, ganhando o olhar de todos.


Cochichou alguma coisa com os músicos, e eu ainda me perguntava o que estava aprontando, até a música começar, e Lily cantar com uma voz esganiçada.


Ouvir: Gives You Hell


- I wake up every evening with a big smile on my face, and it never feels out of place – Lily cantou de mãos na cintura, olhar estreito. – And you're still probably working , at a nine to five pace, I wonder how bad that tastes.


E quando achei que ela já tinha extravasado, caminhou até James e ficou cara a cara com ele.


- When you see my face, hope it gives you hell, hope it gives you hell. When you walk my way, hope it gives you hell, hope it gives you hell.


Todos a olhavam de sobrancelhas erguidas, e Moreau tinha uma visível expressão de arrependimento.


- Now where's your picket fence, love? And where's that shiny car? And did it ever get you far? – Lily andava de um lado da sala ao outro, com uma cara desafiadora. - You've never seemed so tense, love! I've never seen you fall so hard. And do you know where you are?


E quando eu menos previ, lá estava Lily perto de James de novo, e pra surpresa total dele, Lily acariciou seu rosto com um sorriso falso.


- And truth be told, I miss you – cantou, e então o empurrou, fazendo com que quase tombasse da cadeira para cantar: - And truth be told, I'm lying!


Não deu outra. Lily já tinha puxado minha mão e a de Maria, a de Sean, a de Emelina, e Sophie levantou por vontade própria, cantando o refrão com a ajuda de Lily já que nem eu sabia a letra direito.


- When you see my face, hope it gives you hell, hope it gives you hell! When you walk my way, hope it gives you hell, hope it gives you hell! – quem visse nunca saberia que era Lily, cantando e dançando daquele jeito. – When you find a man that's worth a damn and treats you well, then he's a fool,you're just as well, hope it gives you hell. I hope it gives you hell!


Remo e Jason também haviam se levantado, junto com Beth e Dorcas.


- Now you'll never see what you've done to me! You can take back your memories, they're no good to me! – Lily cantava enquanto John fazia seus "irados" passos de dança. – And here's all your lies, you can look me in the eyes! With the sad, sad look at you wear so weeeeell!


E estava já ali todo mundo dançando e cantando, sobrando apenas James e Sirius sentados, observando meio incomodados.


- When you hear this song and you sing along oh, you'll never tell! Then you're the fool you're just as well hope it gives you hell! – cantávamos, recebendo um olhar desaprovador de Moreau. – When you hear this song


I hope that it will give you hell! You can sing along I hope that it would suit you…


- Well – finalizou Lily, com os braços cruzados e certa expressão de triunfo. Olhou para James, desafiadora, e ele apenas engoliu em seco.


- Pessoal, pessoal! – Moreau chamou enquanto terminávamos de rir. Evitei olhar Franco nessa hora. – Sinto muito cortar a festa de vocês, mas...


- É hora da janta! – interrompeu John, correndo pra fora da sala. Seguimos o mesmo percurso, e vi Lily lançar um último olhar irritado para James antes de seguirmos o caminho para o Salão Principal.


E, porém, quando fui fazer o mesmo com Franco, ele sorria para mim. Não tive outra escolha a não ser fazer o mesmo.


Droga, odeio quando sou vencida assim.



Sirius POV:


- Gives you hell? – James perguntava ainda indignado, levando as mãos ao ar enquanto saíamos da sala de música. – Gives you hell?


- Acho que isso foi pra você, Pontas – ri, enquanto ele bufava.


- Esse é o prêmio que eu recebo por tentar me aproximar dela? Tentar provar que eu não tenho nada a ver com aquele maldita gosma? – James falou, irritado.


- Eu disse que você ia se arrepender de fazer isso – falei com expectativa, segurando seu ombro. – Agora o que você acha de desistir já que seu planinho fracassado não deu certo? Hein?


James fez um som estranho com a boca.


- Não podemos sair.


- O quê? Por quê não? – perguntei, espantado.


- Uma vez dentro, não pode sair do coral.


Quase o soquei naquela hora, mas me controlei muito. Descontaria depois no treino de quadribol de amanhã; vou lançar todos os balaços possíveis na direção da sua cabeça.


- Quer saber? Essa foi a coisa mais estúpida que você já fez! E você está fazendo tudo isso a toa, sabe porquê? – minha voz foi saindo antes mesmo que eu me segurasse. – Lily está com outro.


James parou de súbito.


- O quê?


- Lily está com outro. Não namorando, mas se agarrando por aí – mordi o lábio, arrependido de já ter contado. – MacDonald me contou.


- Você não está falando sério – James riu e balançou a cabeça, voltando a andar.


- Tudo bem. Fale com MacDonald. Ela me confirmou, e eu não sei porque ela mentiria a respeito disso.


- E desde quando você conversa com ela? – James perguntou com desdém.


- Desde que pedi algumas informações de Beth para ela – expliquei. – Estava com o saco cheio de você falar e falar sobre Lily então decidi pedir alguma ajuda de Maria para juntar vocês dois quando ela disse que Lily estava em outra, ou melhor, em outro. Essas foram as exatas palavras dela – franzi a testa. – E quando perguntei para ela se Lily estava namorando ela disse que não, que estava como eu e Beth, totalmente aos amassos com algum cara por aí.


A medida que eu falava cada palavra, a cara de James se contorcia cada vez mais. Primeiro de choque, depois para incredulidade e por fim raiva.


- Tem certeza?


Assenti.


James simplesmente bagunçou o cabelo, mas não daquela sua mania idiota; parecia se controlar para não socar alguma coisa. Começou a arfar baixo, e sem falar mais nada saiu em disparada pelo corredor.


Suspirei, querendo não supor nada o que aconteceria a seguir. Simplesmente segui meu caminho para o Salão Principal, mas me arrependi.


Tive que aguentar zoações de sonserinos e outros idiotas por aí, além de abordagens de várias garotas – não que isso não seja bom, mas incomoda saber que é por causa de um coral estúpido. Pelo visto a notícia que eu e James entramos no coral tinha rodado o castelo inteiro.


Só entendi o que Aluado e os outros tinham passado quando vi várias cabeças virando em minha direção, e, mais uma vez, tive vontade de socar um grande número de pessoas.

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