As duas noites



- Hermione? Até que enfim você acordou!


Eu abri os olhos devagar. Por que minha cabeça doía tanto? Bem, a última coisa que eu lembro, foi do ataque do Norton, e... Espera! Por que eu ainda tô viva?!


- Hermione? Você acordou mesmo?
- Oh Rony! - respondi rápido, tinha esauecido da presença dele ali. E de outras coisas também, sinto que há alguma coisa que preciso lembrar... Alguma coisa importante... Acho que, acho que estou...


- Hermione?


- Droga Rony! - Reclamei. Um pouco acima do tom, devo dizer, mas eu estava quase lá... - Desculpa, é que eu tava lembrando de algo importante.


- Ah Mione! Que bom que você tá bem... - ele me abraçou com força. Rony não me abraçava assim desde que nós terminamos... Não, ele não só não me abraçava, como evitava ao máximo qualqer tipo de contato corporal. Tudo bem que ele tá melhorando isso desde que eu abençoei o namoro dele com a Luna. É, eu tive que abençoar pra eles não se sentirem mal, dá pra acreditar? Acho que vou me candidatar pra papa...


- Hermione, tem certeza de que você tá bem?


- Foi mal Ron. Minha mente tá muito confusa. Você sabe que quando fico confusa eu começo a tagarelar, mesmo que seja mentalmente... - expliquei com um sorriso fraco. Por que não conseguia rir mesmo? Ah! - Rony, o que aconteceu com ele?! Como... Como ele...


- Bem, o Norton conseguiu fugir, mas você foi salva por...


- Não tô falando do Norton, Ronald! - Minha bipolaridade entrou em ação: de confusa e tagarela pra chorona e histérica, em um piscar de olhos. E o Oscar vai para... - Tô falando do Harry! É mentira não é? Aquela carta... Foi tudo uma brincadeirinha de vocês não foi? Já sei! Vocês se aliaram com o Malfoy e ele deu a ideia né?


- Ah...


- NÃO É RONALD?


- Eu sinto muito. - foi tudo o que ele disse, e baixou a cabeça.


- Não... Não! Ele não tá morto... O HARRY NÃO TÁ MORTO! Não pode ser...


Rony me abraçou mais uma vez, enquanto eu chorava e tentava encontrar forças pra falar... Pra interrogar, saber o que aconteceu... Afinal, era o meu trabalho. Isso devia fluir naturalmente, mas... Droga, era o Harry... O meu melhor amigo.


Dois segundos depois e eu abandonei a face chorona pra face histérica/desesperada.


- Por que ele... Como ele... Ronald! Você tava lá! FALA ALGUMA COISA! - eu comecei a sacudi-lo feito louca, até uma enfermeira entrar e administra um calmante. Acho que ela colocou no soro, não sei, só sei que fez efeito rapidinho.


- Hermione, você não tá em condições de falar desse assunto...


- Eu quero saber! Rony, por favor! Por favor, me fala... Eu... Eu quero saber... - e adormeci.


Rony não veio mais me visitar. Passei mais dois dias naquele lugar deprimente, chorando minhas mágoas e contrabandeando sapos de chocolate. Só aconteceu uma coisa interessante naquele período... Bem, duas, mas bastante semelhantes. A primeira foi ainda naquele dia, naquela noite. Eu acordei assustada, terminara o efeito do calmante, e vi um vulto passando por mim. Fiquei arrepiada da ponta dos pés à ponta da cabeça, o que não era normal, já que como bruxa, já havia visto muitos episódios halloweenísticos. Enfim, fiz de conta que era o meu subconsciente, o que deu certo, até eu me virar para pegar uns chocolates escondidos debaixo do travesseiro, e sentir uma leve e rápida brisa passar pelas minhas costas. Me virei depressa, e não havia nada ali. A pior parte? Janela e portas fechadas. Até o sistema de refrigeraçã eu tinha desligado porque tava com frio! O segundo caso muito tenso, ocorreu no dia seguinte. Como não tinha muito o que fazer além de comer os chocolates que restaram do primeiro contrabando, e chorar dava sono, dormi a tarde inteira, e quando acordei... Surpresa! A fada dos dentes tinha me visitado: havia uma sacola cheia de chocolate debaixo do meu travesseiro. Sempre achei que a fada dos dentes dava moedas, mas... Perguntei às enfermeiras se alguém havia me visitado, e todas as respostas foram negativas. Claro que eu dei uma trapaceada, pra ver se elas não estavam me enganando, e  invadi suas mentes bem rapidinho. Vi umas coisas que prefiro não comentar, mas não havia sinais de visitas para mim. Claro que não ia perguntar se havia sido uma delas, e correr o risco de perder a única coisa boa que tinha conseguido ali, então me certifiquei de vasculhar todos os indícios de chocolate na mente delas. Nada. Umas vegetarianas sem graça, falo mesmo!


Ok, podem achar que tô ficando paranoica, mas os chocolates não me deixam duvidar de minha sanidade. Afora isso, nada de interessante. Saí o mais rápido que pude dali, e passei minhas semanas chorando sozinha em casa, com direito a comida chinesa e bebidas alcoólicas à vontade. Parei de ir ao Ministerio, me mudei pra um apartamento popular em um bairro trouxa...
Até que um belo dia, resolvi fazer algo que as pessoas legais fazem... Pensei.


Estava tomando meu café da manhã, encarando a paisagem nebulosa pela janela, quando me veio o momento "eureka".


 

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